Objetivos:
Criar um espaço acadêmico para discutir o processo de elaboração de uma
dissertação e de uma tese, tomando A ordem das disciplinas para uma análise
crítica, de modo a apontar seus pontos fortes e fracos. Ao mesmo tempo, apresentar
e discutir questões educacionais envolvidas com as disciplinas.
Súmula/ementa:
Dissertação de Mestrado e Tese de Doutorado. Análise crítica de A ordem das
disciplinas. O movimento pela interdisciplinaridade no Brasil. Genealogia da
disciplinaridade. Escola moderna. Disciplina e controle.
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A ordem das disciplinas 20 anos depois
Programa:
Dissertação de Mestrado e Tese de Doutorado em Educação: diferenças,
modalidades, formatos, abrangências, focos.
Análise crítica de A ordem das disciplinas: um rio e suas margens; entre a seca e a
enchente; transbordamentos.
O movimento pela interdisciplinaridade no Brasil: transposição cultural e
pedagógica, limites.
Genealogia da disciplinaridade.
Escola moderna; sujeito.
Disciplina, controle (para além do lugar-comum). Dispositivos de segurança.
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A ordem das disciplinas 20 anos depois
Bibliografia:
BEAUD, Michel. A arte da tese. São Paulo: Bestbolso, 2014.
ECO, Humberto. Como se faz uma tese? São Paulo: Perspectiva, 2014.
VEIGA-NETO, Alfredo. A ordem das disciplinas. Porto Alegre: PPG-Educação/UFRGS,
1996.
VEIGA-NETO, Alfredo. Mais dicas... In: VEIGA-NETO, Alfredo et al. Pesquisas em
Educação: experimentando outros modos investigativos (Coleção Cadernos
Pedagógicos da EaD). Rio Grande: FURG, 2013. p. 25-40.
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A ordem das disciplinas 20 anos depois
Assim, uma coisa é uma Tese em Ciências Naturais e outra coisa é uma
Tese em Ciências Humanas. As diferenças se dão na circunscrição do
tema, problemas, metodologia utilizada, abrangência dos resultados
etc.
Por quê?
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Perspectivas e desafios da pesquisa em Educação
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Perspectivas e desafios da pesquisa em Educação
Um “infelizmente” interno
O campo da pesquisa educacional ainda está amplamente ligado ao
megaparadigma das Filosofias da Consciência. Trata-se de uma ligação
que trava o pensamento.
Para compreender tal ligação, é preciso examinar as origens da
Pedagogia Moderna.
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Perspectivas e desafios da pesquisa em Educação
Os dois megaparadigmas
Filosofias da Consciência
Necessitaristas – Contingência como função da necessidade
Representacionais – o ideal e as cópias do ideal
Dualistas, metafísicas – dois mundos: ideal e sensível
Filosofias da Prática
Contingentes – o único a priori é histórico
Não-representacionais – tudo é representação, tudo é cópia
Monistas, pós-metafísicas – tudo é deste mundo, tudo está aqui
Perspectivas e desafios da pesquisa em Educação
Essencialismo
Fundacionismo
A ordem das disciplinas 20 anos depois
veemência arrogância
humildade coitadismo
Materialidade Realidade
O fato de que o sentido seja dado pela linguagem não implica que a
realidade se reduza à linguagem.
A questão da realidade
nem materialismo tosco, nem idealismo tosco
mas . . .
sentido (pela linguagem)
Relação
de realidade
imanência
materialidade
A ordem das disciplinas 20 anos depois
Tipologia
• Quanto ao foco, há 3 “tipos” de teses:
monográficas/pontuais
panorâmicas
mistas
logo . . .
• Não há tese – assim como não há pesquisa – que não tenha uma ou
mais teorias subjacentes, explícitas ou não. E é absolutamente
necessário sempre explicitá-la(s).
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A ordem das disciplinas 20 anos depois
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A ordem das disciplinas 20 anos depois
Precauções genéricas
O quanto antes, deixar claro qual é a tese principal da Tese.
Estar sempre atento para a questão do “quem fala?”. Eu é diferente de
minha bibliografia, de meu leitor, de meus dados empíricos, de meu
orientador etc. Assim, nunca assumir a autoria daquilo de que não se é
autor e, principalmente, daquilo com o que não se concorda. Fora isso,
sempre assumir a autoria!
Tudo o que chamamos de realidade resulta da combinação entre uma
materialidade externa e os sentidos e representações que conferimos a
tal materialidade. E os sentidos e as representações são sempre
produzidos na combinação entre a memória e um intrincado e imenso
conjunto de símbolos e códigos que aprendemos pela educação; eles
compõem a cultura na qual estamos imersos. Por que isso é
importante?
Porque tais códigos se organizam segundo uma “gramática profunda”,
cuja emersão se faz pela linguagem que, por sua vez, vem “à tona” na
forma de um discurso cujo conjunto de normas, regras gramaticais e
princípios enunciativos obedecem a uma ordem.
A ordem das disciplinas 20 anos depois
- primeira mão
- segunda mão – apud
Armadilhas
• Quem fala? Quem disse?
• Não citar as fontes para conhecimentos triviais.
• Evitar tanto a falsa modéstia quanto a arrogância.
• Manter a coerência interna é mais importante do que seguir as
normas externas.
• O tempo é nosso inimigo.
• Trate bem seu equipamento (textos, computador, anotações).
• Na dúvida, não ultrapasse, seja sóbrio, temperado e contido. Afinal,
quase sempre, o menos é mais.
• Trabalhar 3 horas por dia durante 5 dias é muito melhor do que
trabalhar 15 horas num único dia.
• O ótimo é inimigo do bom.
Dicas
a. A apresentação não é uma aula. Principalmente numa defesa de Tese,
deve-se abandonar pretensões pedagógicas (querer ensinar o público).
b. A apresentação pode ser lida ou de improviso (improviso mesmo não
existe, pois todos sempre se programam antes...). No caso de ler um texto,
faça uma leitura calma, em voz alta, bem postada, ritmada, procurando
(sempre que possível) olhar para o público. Tomar água, na metade do
caminho, ajuda muito.
c. A banca já leu o trabalho. Logo, a apresentação não é para a banca, mas
principalmente para o público. A apresentação pode ser vista muito menos
como uma festa e muito mais como uma prestação pública de contas dos
recursos e esforços investidos na pesquisa.
d. Pode-se aproveitar a oportunidade e fazer algumas explicações
complementares e correções para a banca. Depois de tudo impresso,
sempre surgem correções, acréscimos etc. Esse é um trabalho infinito.
e. Na apresentação, deve-se usar no máximo 30 minutos; o público começa a
cansar e a desviar a atenção depois de 20 minutos. E a banca já conhece seu
trabalho.
f. A apresentação deve ser sóbria, técnica, cordial e leve: evitar palavrório
derramado demais, frases longas demais, agradecimentos demais.
g. Sempre é bom avisar os “não-habituados” a tais sessões: não se deve
aplaudir a apresentação! Aplausos (se houver...), só ao término da sessão.
Mas se algum desavisado “puxar as palmas”, paciência...
h. Se a apresentação for lida, a preparação do texto deve obedecer aos
seguintes parâmetros: cada página A4, com margens de 2,5 cm, espaço 1,5,
fonte TimesNew Roman 12, leva 3 minutos para ser lida. Cada página tem de
30 a 33 linhas; demora-se 1 minuto para ler cada 10 linhas. Logo, 10 páginas
demoram 30 minutos para serem lidas, num ritmo cadenciado e numa voz
clara. Use tais medidas na preparação do texto; depois, para lê-lo, imprima
na fonte e tamanho que quiser. Sempre é bom numerar as páginas e
grampeá-las, pois páginas soltas ganham vida e se deslocam sozinhas, fogem
da mesa, se escondem em locais misteriosos.
i. Na preparação/ensaio: se for cronometrar a leitura, não leia em voz
baixa!!! A diferença de tempo entre uma leitura em voz baixa e uma leitura
em voz alta é grande.
j. Se usar power-point, seja muito parcimonioso: os slides servem de apoio e
não devem, sob nenhuma hipótese, concorrer com o discurso ao vivo. Em
geral, o menos é mais...
k. Se um slide contém material que não vai ser referido, explicado ou lido, ele
é completamente dispensável. Em geral, o menos é mais...
l. Slides com muita informação não servem para nada. Em geral, o menos é
mais...
m. Mais de 6 slides em 30 minutos, em geral é sinal de perigo à vista. Claro
que isso dependerá do caráter do trabalho (se ele trata da análise de
imagens, se há fotos, tabelas e gráficos necessários ao entendimento etc.).
Em geral, o menos é mais...
n. Os slides não devem ser feios, mas também não devem ser rebuscados,
animados demais, enfeitados demais, coloridos demais. Em geral, o menos é
mais...
o. Escolha sempre fontes legíveis e cores contrastantes. Fontes sem serife
são mais garantidas; não use script. Gótica? Nem pensar! Letras verdes sobre
fundo roxo (ou vice-versa) dá sempre errado! Lembre-se daqueles contratos
comerciais que, para nos enrolar, usam letras minúsculas cor-de-rosa sobre
fundo verde; fica tudo dançando... Letras brancas sobre fundo preto (ou vice-
versa) dá sempre certo! E não esqueça que projetores com lâmpadas
cansadas mudam tragicamente as cores dos nossos slides...
p. Cortam-se antes os excessos de qualquer natureza (para não ter de cortar
no dia...).
q. Em caso de dúvida, seja minimalista. Em geral, o menos é mais...
r. Em caso de ensaios, NÃO seja minimalista, pois ensaios nunca são em
excesso. Nos ensaios, o muito é sempre pouco e o mais é sempre menos.
s. Chorar não ajuda; só atrapalha.
t. Regra de ouro: frente ao público, quase sempre o menos é mais...
u. Regra de platina: Evite o ridículo!
Primeira
Murphy: (e
puder dar1977, — magnífica...)
“Se
errado, alguma Lei
coisa
dará” (Bloch, de
p. 21).
Leis (muito)
trabalho”.
Corolário 1: —gerais:
“O “Tudo
que — é “Tudo dá
difícil”.
parece fácil
será difícil;
Corolário o que parece
dificílimo”.
2: “Desista difícil
do que será
parece dificílimo”.
— “Tudo
Corolário: toma tempo”.
inimigo”. é nosso
“O tempo
— “Nada
parece”
Corolário: é tão
(Bloch,
Tudo fácil
1977, quanto
p. 21).
não teméde fácil para quem
fazer.
— “Por quê?(Fernandes,
pretensão” É435).
filosofia. Porque
1994, é
p.
Corolário:do
Corolário “Pergunte
corolário:
sempre”. sempre”.
“Duvide
Corolário
“Duvide
Corolário do
do corolário
até de você
corolário do
do corolário:
mesmo”.
corolário
do corolário:
deste livro, desta Tese”.texto,
“Duvide deste
— “Não há nada mais equivocado do que a certeza”.
— “Os problemas de pesquisa não estão vagando por aí, soltos no mundo e à
nossa espera; eles têm de ser construídos, alimentados, tecidos, cultivados”.
— “Alguém com um relógio sabe que horas são. Alguém com dois
relógios nunca tem certeza”.
— “Há tuas tragédias na vida: uma é não obter o que o seu coração
deseja; a outra é obter”.
— “De nada adianta guardar se, mais tarde, você não lembrar que
guardou. Idem, se você não lembrar o que guardou. Ibidem, se você
não lembrar onde guardou”.
Corolário 1: Etiquetas, índices e listagens nunca estão em excesso.
Corolário 2: Ponha a etiqueta na hora; quanto mais tarde, mais
perdido você ficará.
Corolário 3: Escreva sempre.
Inteligência (e falta de...)
— “Deus errou: limitou a inteligência, mas deixou a burrice infinita”.
— “Os cientistas dizem que o Universo e a inteligência têm limites. Sobre o
Universo, eu não tenho certeza”.
— “O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias
de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certeza”.
— “O mundo é bem maior e mais complicado do que os simples sim ou não,
isso ou aquilo, certo ou errado, bom ou ruim”.
— “O Positivismo odeia a polissemia”.
— “Se algo é indecidível é porque está fora do pensável”.
— “O cérebro é um órgão maravilhoso. Começa a funcionar assim que você
se acorda de manhã e só para de funcionar quando você se senta à mesa
para escrever”.
— A quantidade de inteligência no Universo é uma constante. A população
está crescendo.
— Nunca discuta com um tolo, pois os outros não verão a diferença.
A ordem das disciplinas
SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT APRESENTAÇÃO
PRIMEIRA PARTE – Olhares
SEGUNDA PARTE – A questão disciplinar
Capítulo 1 – PRELIMINARES
Um cenário discursivo
Palavras, linguagem, discursos
Dek e Arkhé
Capítulo 4 – DISSONÂNCIAS
TERCEIRA PARTE – Foucault
Capítulo 10 – NEXOS
As dobradiças
A maquinaria
O objeto-de-si-mesmo
Governamentalizar
Capítulo 11 – APRISIONADOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÍNDICE REMISSIVO
A ordem das disciplinas
Apresentação
• O caminho seguido na determinação/construção de um problema
de pesquisa deve guardar correlação com as experiências do autor.
• Quanto menor e mais sóbria for a autonarrativa, melhor será.
• O quanto antes se anunciar o escopo – problema, foco(s),
objetivo(s), perspectiva teórica –, melhor será.
• “A disciplina é um campo de estudo e um sistema de controle”. (p. 4)
• Disciplina + dade = disciplinaridade.
• Análise foucaultiana do movimento contradisciplinar, em suas
manifestações discursivas.
• É preciso ir às raízes ou origens daquilo que se problematiza. Em
termos foucaultianos, para isso é importante recorrer à genealogia.
• É preciso anunciar a estrutura da Tese.
A ordem das disciplinas
Primeira Parte - Olhares
• Toda investigação se apoia num processo progressivo de
diferenciação. Para Montaigne, “distinguo é o elemento mais
universal da minha lógica”.
• Cuidado com as “promessas”: em primeiro lugar..., em segundo...
• 1 - O caráter interacionista e linguageiro do que se chama a
realidade. Afinal, os fatos não falam por si; não há fatos, mas
apenas versões.
• 2 - “Não existe nada parecido com um ponto de partida meramente
dado, ou simplesmente disponível”. (E. Said)
• 3 – A caminhada não é errática nem determinada previamente.
Assim...
• “Uma análise pós-estruturalista dos discursos começa pelo
reconhecimento de que os objetos dessa análise são constituídos
pela própria análise”. (James Ladwig)
A ordem das disciplinas
Primeira Parte
• Vale a pena marcar as diferenças entre o que se vai fazer e o que
não se vai fazer. Assim, explicar sucintamente as diferenças
(epistemológicas, teóricas) entre a perspectiva adotada e outras
perspectivas e o(s) objeto problematizado(s) e outros objetos.
• No caso da Tese, não interessam:
Reflexão epistemológica, marcando fronteiras
Hermenêutica
Análise semântica e lógica
Estudo sociológico
Análise pedagógica (sucessos ou não das disciplinas)
• Transbordamentos:
olhar – Pós-modernidade – marxismo
A ordem das disciplinas
Segunda Parte – A questão disciplinar
Capítulo 1 - preliminares
• Um cenário discursivo (sobre as Ciências)
discursos laudatórios X discursos críticos
simplórios mal-humorados/persecutórios
conspiratórios
• Dek e arkhé
Segunda Parte
Capítulo 2 – duas famílias
• Parentescos (entre discursos)
determinar os topoi e as regularidades/repetições
não aderir ao representacionismo, mas ater-se ao dictum
• A primeira família
transposição França Brasil
acento filosófico, essencialista e teleológico
caráter taxonômico/classificatório (multi, pluri, inter, trans)
• A segunda família
inspiração na primeira família
acento pedagógico, prescritivista, idealista
caráter psicológico-comportamental-atitudinal
A saturação como recurso para mostrar a repetição e monotonia.
• Topoi
mitos judaico-cristãos
A ordem das disciplinas 20 anos depois
Os mitos, as pragas
fundamentalismo
cunho filosófico transcendentalismo
finalismo
catastrofismo
denuncismo
cunho militante prometeísmo
salvacionismo
redentorismo
prescritivismo
cunho operacional metodologismo
reducionismo
messianismo
Segunda Parte
Capítulo 3 – descompassos e contrapontos
Há discordâncias intrafamiliares e interfamiliares, mas semelhanças
suficientes para que os discursos sejam reconhecidos como
pertencentes a uma das duas famílias.
Semelhanças de família (Wittgenstein) e não hierarquização por tipos
Capítulo 4 – dissonâncias
Colocam-se na contramão das duas famílias principais, pois não são
nostálgicos (de um suposto paraíso perdido) e reconhecem as
limitações da educação como instrumento de transformação do
mundo. Estão fora do movimento pela interdisciplinaridade. Mesmo
assim, mantêm a totalidade como um datum (natural e transcendente).
Na sua expressiva maioria, fazem uma leitura marxista da
(inter)disciplinaridade. Afinal, a totalidade talvez seja a principal
metanarrativa a sustentar o marxismo...
A ordem das disciplinas 20 anos depois
Há método em Foucault?
A grande pergunta: “que é método?”
• A virada disciplinar
Juan Vives: De disciplinis (1531)
Estabelecimento de uma nova ordem no e para o mundo.
Conexões: Nova Ciência; expansão europeia; novas paisagens;
laicização; descentralização do conhecimento; mais prática e menos
retórica; representação (e não a identidade ou a semelhança) como conexão
entre o Homem e a Natureza; o signo deixa de ser e passa a mediar.
Ex.: Lineu como ser no e do tempo.
O nome representa a coisa e suas relações com as outras coisas.
A nomenclatura binominal estabelece um regime de verdade, qual um
retículo ou grade de inteligibilidade.
As disciplinas foram imanentes à episteme da ordem e representação.
A virada disciplinar não aconteceu no século XVII, nem de uma só vez
(como pensou Foucault), mas “aos poucos” e na primeira metade do
século XVI.
A ordem das disciplinas 20 anos depois
saberes
• A maquinaria
Não pensar as disciplinas num registro apenas natural, epistemológico
ou psicológico, mas sim histórico (genealógico). A visão disciplinar é a
visão (Weltanschauung) que na Modernidade se tem no e sobre o
mundo (Lenoir) e que, ao mesmo tempo, institui o “estar no mundo”
segundo uma determinada “forma de vida” (Lebensform) (Wittgenstein).
A escola constituiu-se na principal maquinaria (conjunto de máquinas)
a construir tais Weltanschauung e Lebensform.
Duas questões cruciais: - o que a máquina produz?
- como a máquina produz?
– O que ela produz depende de: a serviço de que e de quem ela fun-
ciona? Para compreender melhor, é preciso abandonar a causalidade
eficiente e pensar em termos da causalidade imanente (Deleuze).
– Como ela produz? Fazendo da disciplinaridade “o ponto central da
estruturação da moderna pedagogia”. (Narodowski)
A ordem das disciplinas 20 anos depois
A Modernidade
• A Modernidade é essa forma de vida (lebensform) em que os
mecanismos histórico-rituais de formação da individualidade se
deslocam para mecanismos científico-disciplinares; em que o
normal toma o lugar do ancestral; em que o homem memorável é
substituído pelo homem calculável.
• Cada um é pastor e ovelha ao mesmo tempo. Talvez se possa falar
em autopastorado . . .
• “O sujeito moderno é esse indivíduo dividido no seu interior e
dividido dos outros, num processo que faz dele um objeto”.
• Produtividade do poder disciplinar:
a) menos custoso (sem resistência, quase invisível, pouca despesa)
b) intenso, amplo, geral (“democrático”)
c) eficiente (alto ganho) e eficaz (produz muito)
• O poder disciplinar aumenta a força economicamente e dispensa a
força política.
• O poder se sustenta na verdade
A ordem das disciplinas 20 anos depois
• Governamentalizar
- Disciplinaridade e Estado Moderno
- O Estado Moderno substitui o Estado Soberano.
- A democracia, no Estado Moderno, depende da maioridade dos
sujeitos, ou seja, da capacidade de cada um se autogovernar
(disciplinadamente) e saber fazer as escolhas do que é melhor para si e
para o grupo a que pertence.
- A soberania tinha os seus próprios códigos. Os códigos do Estado
Moderno se baseiam nos códigos de normalização. Assim, é preciso
compreender as normas numa perspectiva histórica e funcional (ver o
curso Os anormais).
- A governamentalidade designa uma forma de governar em que as
tecnologias do eu se cruzam com as tecnologias de dominação sobre os
outros.
- O Iluminismo (Aufklärung) é o coroamento, no plano teórico-político-
cultural, da governamentalidade.
A ordem das disciplinas 20 anos depois
Capítulo 11 – aprisionados
Recapitulação panorâmica
- virada disciplinar – séc. XVI
- explosão disciplinar – séc. XIX
- a Ciência toma para si a disciplinaridade
- apropriações da interdisciplinaridade (pela esquerda e pela direita)
- a construção artificial dos opostos (“vícios de pensamento”, Witt.)
- alegorias: Em Alice..., ao condenar o Valete, o Rei não era mau; era só burro . . .
- campo discursivo pode ser melhor do que contexto (Popkewitz)
- o jogo-de-espelhos, os avessos dos avessos (Veloso)
- a mosca na garrafa (Wittgenstein) e a impossibilidade de um lugar de
todos os lugares, de uma teoria das teorias, de uma teoria do tudo.
A ordem das disciplinas 20 anos depois