Você está na página 1de 11

A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou

seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica
apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista.

Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a


linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o
cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.
Principais características
Narrativa curta.
Linguagem simples e coloquial.
Poucos personagens, se houver.
Espaço reduzido.
Acontecimentos cotidianos.
Existem muitos tipos de
crônica:
1- Crônica narrativa
Conta episódios cativantes cuja trama envolve muita ação, poucas
personagens e um desfecho imprevisível. Esse tipo de crônica pode
apresentar teor anedótico, crítico ou lírico.
2- Crônica lírica ou poética
Apresenta uma linguagem poética e metafórica. Nela predominam
emoções, os sentimentos (paixão, nostalgia, saudades), traduzidos
numa atitude poética.
3-Crônica reflexiva
O autor tece reflexões filosóficas, isto é, analisa os mais
variados assuntos do cotidiano através de impressões e inferências.
4-Crônica humorística
São sátiras da vida em sociedade, ampliando seus problemas de forma
caricatural para reduzi-los ao humor.
5- Crônica Dissertativa
Opinião explícita, com argumentos mais "sentimentalistas" do que "racionais" (em vez
de "segundo o IBGE a mortalidade infantil aumenta no Brasil", seria "vejo mais uma vez
esses pequenos seres não alimentarem sequer o corpo"). Exposto tanto na 1ª pessoa do
singular quanto na do plural.
6- Crônica Descritiva
É o tipo de crônica que explora a caracterização de seres animados e
inanimados num espaço. Preciso como uma fotografia ou dinâmico como um filme.
7 - Crônica Jornalística
É a crônica que apresenta aspectos particulares de notícias ou fatos. Pode
ser policial, esportiva ou política.
8 - Crônica Histórica
É a crônica baseada em fatos reais ou fatos históricos.
9 - Crônica narrativo-descritiva
Quando um texto alterna momentos narrativos com flagrantes descritivos,
temos uma abordagem narrativo-descritiva.
 
O diálogo

O texto vira uma “prosa à toa”, “uma conversa fiada”. Há crônicas totalmente escritas em
forma de diálogo. Na verdade, a reprodução do diálogo é a forma mais fiel de representação de
uma situação presente. O diálogo faz a cena acontecer em nossa frente. Na crônica a seguir,
além do recurso de diálogo, o autor usa do aspecto humorístico.

Ela: Você me ama mais do que tudo?


Ele: Amo.
Ela: Paixão, paixão?
Ele: Paixão, paixão mesmo.
Ela: Mais do que tudo no mundo todo?
Ele: No mundo todo e fora dele.
Ela: Não acredito.
Ele: Faz um teste.
Ela: Eu ou fios de ovos.
Ele: Você, fácil.
(...)
Ela: Fama e fortuna. A explicação do universo e do mercado de commodities, com
exclusividade. A vida eterna e um cartão de crédito que nunca expira.
Ele: Prefiro você.
Ela: Uma cerveja geladinha. A garrafa chega estalando. No copo, fica com um quarto de
espuma firme. O resto é ela, só ela, dizendo "Vem".
Ele: Hummm...
Ela: Como, hummm? Ela ou eu?

.... Silêncio de 5 segundos ...


 
Ele: Qual é a marca?
Ela: Seu cretino!
 
(trecho da crônica Amor, de Luís Fernando Veríssimo. Retirado do site:
http://www.gsdr.dc.ufscar.br/~wesley/verissimo_amor.html, capturado em 15/04/2005)
Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 30 anos
presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade,
permanecendo deitado na calçada durante 72 horas, para finalmente morrer de fome.
     Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e comentários, uma ambulância do Pronto
Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem,
que acabou morrendo de fome.
     Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso
(morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que
morrem de fome. E o homem morreu de fome.
     O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser
identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome.
     Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na
rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um
proscrito, um bicho, uma coisa - não é um homem. E os outros homens cumprem seu destino de
passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem
que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem
olhar nenhum. Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre
os homens, sem socorro e sem perdão.
Não é da alçada do comissário, nem do hospital, nem da rádiopatrulha, por que haveria de ser
da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.
     E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de
fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome,
pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover
o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens.
Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.
     E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição, tombado em plena rua, no centro mais
movimentado da cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, um homem morreu de fome.
O lixo, de Luís Fernando Veríssimo
O cronista pode trabalhar qualquer assunto,
basta que tenha talento para fazê-lo. Até a
falta de um assunto pode ser um assunto.
Cada cronista é singular pelo estilo que
apresenta. Portanto, a tentativa de classificar
a crônica deve ser vista como uma sugestão
para você criar seu próprio texto.

Você também pode gostar