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FIGURAS DE

LINGUAGEM
1.Metáfora

Por meio de uma


comparação, substituímos
uma palavra por outra com a
qual se percebe uma relação
subjetiva.

“Berna é linda e calma, a vida
cara e a gente feia; com a falta de
carne, com o peixe, queijo, leite,
gente neutra, termino mesmo
dando um grito. Falta demônio
na cidade”.
(Carta de Clarice Lispector a Fernando Sabino, fragmento)
• ❝ Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e
realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a
primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o
contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a
calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a
não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o
melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros,
embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-
se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é
um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que
desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a
capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se,
desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de
ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem
inimigos, nem conhecidos, nem estranhos, não há plateia.”

• — Machado de Assis, no livro “Memórias póstumas de Brás Cubas”. São Paulo: Ática,
1999.
2.Metonímia

• Substituímos uma
palavra por outra com a
qual se percebe uma
relação concreta,
objetiva.
Tipos de Metonímia
• 1. A parte pelo todo:
• Ex.: Tenho muitas cabeças de vaca na
minha fazenda.
• 2. O continente pelo conteúdo:
• Ex.: Ela comeu três pratos no almoço.
• 3. O autor pela obra:
• Ex.: Já li Camões muitas vezes.
• 4. A marca pelo produto:
• Ex.: Meu pai adora tomar Nescau com leite.
• 5. O efeito pela causa:
• Ex.: Consegui comprar o carro com meu suor.
• 6. O singular pelo plural:
• Ex.: O brasileiro precisa lutar por seus direitos.
• 7. O instrumento por quem o utiliza:
• Ex.: Ele sempre foi um ótimo pincel.
3.COMPARAÇÃO

• É uma figura de
linguagem caracterizada
pela analogia explícita entre
termos de um enunciado, já
que conta com a presença de
conjunção comparativa. 
4.ANTÍTESE

• É uma figura de
linguagem que
consiste na exposição
de ideias opostas.
• Oração de São Francisco
• Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve união
• Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz
• Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado
Compreender, que ser compreendido
Amar, que ser amado
Pois é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado
E é morrendo que se vive
Para a vida eterna
5.PARADOXO

• É uma figura de linguagem em


que se combinam palavras de
sentido oposto que parecem
excluir-se mutuamente,
gerando uma aparente
contradição.
• Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

• (O Operário em Construção – Vinícius de Moraes)


• Precisa-se
•  
• Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se,
vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude
uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar
sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto
por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é
fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram;
precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma
ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga
depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa
triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se
transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade
da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes
acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da
cozinha, e da sala de estar.
•  
• P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar
os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para
dar.

• LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.


•  
6.IRONIA

• Utilizada para dar ênfase


ao discurso, a ironia é uma
figura de linguagem que
consiste em se dizer o
contrário do que se pensa.
• “Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de
agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta
e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos
contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze
amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que
chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste e constante, tão
constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a
intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de
minha cova:
• _ Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que
a natureza parece estar chorando a perda
irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a
humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu,
aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo,
tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à
natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao
nosso ilustre finado.
• Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe
deixei.”
Observação:
• Ironia e sarcasmo
• O sarcasmo é um recurso estilístico
semelhante à ironia por também expressar
propositalmente o oposto do que se quis dizer.
No entanto, ao contrário da ironia, o sarcasmo
é notadamente mais agressivo e provocador,
muitas vezes zombando de algo ou de alguém.
A ironia, por sua vez, pode ser mais leve ou
menos óbvia e mais sutil no tom de deboche.
7.HIPÉRBOLE

• Consiste em exagerar
absurdamente uma
ideia, com finalidade
expressiva.
• EXAGERADO ( CAZUZA)

• Amor da minha vida


Daqui até a eternidade
Nossos destinos
Foram traçados na maternidade
• Paixão cruel, desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas
• Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
• Eu nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar
• E por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais
8.EUFEMISMO

• É a figura de linguagem
usada para tornar um
enunciado mais brando ou
agradável e menos
agressivo.
• Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro.
• Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai manso Cordeiro.
• Mui grande é vosso amor, e meu delito,
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor que é infinito.
• Esta razão me obriga a confiar,
Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.

• (Gregório de Matos Guerra)


9.GRADAÇÃO

• Consiste numa sequência de


ideias que se desenvolvem
num plano ascendente ou
descendente, conferindo
expressividade ao texto.
• Se sou pobre pastor, se não governo
Reinos, nações, províncias, mundo, e gentes;
Se em frio, calma, e chuvas inclementes
Passo o verão, outono, estio, inverno;

Nem por isso trocara o abrigo terno


Desta choça, em que vivo, coas enchentes
Dessa grande fortuna: assaz presentes
Tenho as paixões desse tormento eterno.

Adorar as traições, amar o engano,


Ouvir dos lastimosos o gemido,
Passar aflito o dia, o mês e o ano;

Seja embora prazer; que a meu ouvido


Soa melhor a voz do desengano,
Que da torpe lisonja o infame ruído.

• (Cláudio Manuel da Costa)


10. PROSOPOPEIA OU PERSONIFICAÇÃO

É a atribuição de
•  

características humanas
a seres não humanos ou
inanimados.
• Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado
retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

• (Hino Nacional Brasileiro)


11.SINESTESIA

• É uma associação de
palavras ou expressões em
que ocorre combinação de
sensações diferentes numa
só impressão.
• "Agora, o cheiro
áspero das flores leva-me
os olhos por dentro de suas
pétalas."(Cecília Meirelles) 
12.PERÍFRASE OU ANTONOMÁSIA
• Ocorre pela substituição de uma ou
mais palavras por outra expressão.
Essa substituição é feita mediante
uma característica ou atributo
marcante sobre determinado termo
(ser, objeto ou lugar).
A dama do teatro brasileiro foi indicada para
o Oscar.
13.CATACRESE
• É a figura de linguagem que consiste
no uso de uma palavra ou expressão
que não descreve com exatidão o
que se quer expressar, mas é
adotada por não haver uma outra
palavra apropriada - ou a palavra
apropriada não é de uso comum.
• A batata da perna está
dolorida por causa do
machucado.
• (batata da perna = panturrilha)
14.ELIPSE
• É uma figura de linguagem que ocorre
quando um termo é omitido em um
enunciado, mas fica subentendido pelo
contexto.
• Exs.: Ele fez isso e eu: “Você está louco?”
• Casa de ferreiro, espeto de pau.
Observação:
• Quando omitimos um termo que
já apareceu antes no texto,
ocorre um tipo de elipse
chamado de zeugma.
• Ex.: Eu gosto de vôlei. Renata, de
futebol.
15.HIPÉRBATO, ANÁSTROFE OU INVERSÃO

• É uma figura de linguagem que consiste na


troca da ordem direta dos termos da frase.
• “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.”

• (Hino Nacional Brasileiro)


16.PLEONASMO

• É uma figura de estilo que consiste


em usar uma expressão redundante
para reforçar uma ideia.

• Ex.: “As companhias da ralé, desprezou-as.”


• (Machado de Assis)
Observação:
• O pleonasmo também pode ser utilizado
como vício de linguagem.
• Exs.: Ela teve uma hemorragia de sangue.
• Senti a brisa matinal da manhã.
• Muito lindo seu pomar de frutas!
• Encarei você de frente.
17.SILEPSE

• Trata-se de uma figura de


linguagem em que se
realiza uma concordância
ideológica.
Tipos de silepse:
• a) de número: quando há discordância entre o
singular e o plural;
• Ex.: “Morreram Chico Anysio”.
• b) de gênero: quando há discordância entre os
gêneros (masculino e feminino);
• Ex.: A gente está muito cansado hoje.
• c) de pessoa: quando há discordância entre as
pessoas do verbo.
• Ex.: Os brasileiros somos passivos.
18.ANÁFORA

• É a repetição da mesma
palavra ou grupo de
palavras no princípio de
frases ou versos
consecutivos.
• Eu sou a que no mundo anda perdida,
• Eu sou a que na vida não tem norte,
• Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
• Sou a crucificada... a dolorida...
•  
• Sombra de névoa ténue e esvaecida,
• E que o destino amargo, triste e forte,
• Impele brutalmente para a morte!
• Alma de luto sempre incompreendida!...
•  
• Sou aquela que passa e ninguém vê...
• Sou a que chamam triste sem o ser...
• Sou a que chora sem saber por quê...
•  
• Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
• Alguém que veio ao mundo pra me ver
• E que nunca na vida me encontrou! (Florbela Espanca)
19.EPÍSTROFE

• É uma figura de linguagem que


consiste na repetição da
mesma palavra ou expressão
no final de cada oração ou
verso. 
• "Os animais não
são criaturas? As árvores
não são criaturas? As
pedras não são criaturas?" 
• (Padre Antônio Vieira – Sermão da
Sexagésima)
20.ALITERAÇÃO

• É a figura de linguagem
que estabelece efeitos
sonoros através da
repetição de
consoantes.
"Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas”.

(Cruz e Souza, Violões que Choram)


21.ASSONÂNCIA

• É a figura de linguagem
que estabelece efeitos
sonoros através da
repetição de vogais.
• A onda

a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda
•  
• BANDEIRA, M. A Estrela da Tarde, 1960.

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