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Bases biológicas do

Comportamento Social
Explicações de Psicologia
2021
Bases biológicas do comportamento social

• Uma pergunta clássica da Filosofia é saber o que é, na natureza humana, fixo e aquilo que é
modificável (e passível de ser melhorado).

• Podemos entrever respostas a essas questões ao considerar algumas das raízes biológicas do
nosso comportamento social.
• Serão os seres humanos feitos de tal forma
que a interação social é parte intrínseca da
sua constituição? Ou serão apenas uma
espécie de criaturas solitárias que apenas se
interessam pelos outros para os explorar de
A natureza forma egoísta?

social dos
humanos e • Thomas Hobbes, um filósofo inglês
interessado pela sociedade humana
animais defendeu a segunda hipótese. Na sua
opinião, os humanos eram bestas
autocentradas que, abandonadas a si
próprias, procurariam o autobeneficio sem
se preocupar com o sofrimento dos outros.
• Não fossem as rédeas civilizadoras impostas
pela sociedade, as pessoas viveriam
eternamente muna guerra "de todos contra
todos“.
A natureza
social dos • Os pontos de partida psicológicos de Hobbes
são bastante simples: as pessoas são, por

humanos e natureza, antissociais, destrutivas e vorazes.

animais • A sociedade é uma forma de prender as feras


que potencialmente somos, impondo
proibições rigorosas contra os nossos maus
impulsos e leis que tornam possível que
vivamos em conjunto de forma civilizada.
• Se se aceitar esta posição, tem de se
admitir que os vários motivos que nos
A natureza ligam uns aos outros - amor, lealdade -
têm de ser impostos pela cultura e pela
social dos convenção social.

humanos e • Nesta visão do homem, estes motivos


animais não poderiam fazer parte da sua
constituição e teriam de ser aprendidos.
• Charles Darwin (1809-1 882) formulou o
mecanismo que procurava para explicar a
evolução dos seres vivos.

• Tal como alguns outros antes dele, Darwin


Seleção acreditava que todos os animais (incluindo
o homem) e plantas atuais descendiam de
Natural e formas anteriores.

Sobrevivência • Os dados que apoiavam esta ideia


provinham de várias fontes, por exemplo,
do registo fóssil que mostrava a
transformação gradual de formas há muito
extintas para as formas atuais.
• Mas o que teria provocado essas
modificações evolutivas? No seio de cada
espécie há variações entre os indivíduos e,
em muitos casos, essas variações dão ao
indivíduo uma vantagem importante na luta
pela sobrevivência e reprodução.
Seleção
Natural e • Muitas dessas variações são função da
Sobrevivência constituição genética do indivíduo e
podem, assim, ser transmitidas aos seus
descendentes. Em que medida é que um
animal deixa descendência? Na medida em
que consegue vencer na luta pela
existência.
• O cavalo rápido tem maior probabilidade de fugir aos
predadores do que o cavalo lento e, em consequência,
tem maior probabilidade de se reproduzir e deixar
descendência que herdou essa rapidez. Note-se que a
rapidez do cavalo não garante a sobrevivência e a
Seleção reprodução. Apenas as torna mais prováveis.

Natural e
Sobrevivência • Além disso, e contrariamente aos seus predecessores,
Darwin começou a compreender que a evolução não
implicava progresso no sentido de que os
descendentes eram "melhores" do que os seus
antepassados.
Seleção Natural e Sobrevivência

• Isto ocorria porque o mundo está em perpétua mudança. Essa instabilidade


ambiental significa que os traços - rapidez, ferocidade ou esperteza -
selecionados num momento podem não o ser em outro.

• No mesmo espírito, as espécies atuais não são mais "perfeitas" ou


"avançadas" do que as espécies anteriores; encontram-se apenas mais
adequadas ao ambiente atual - que mudará sem dúvida continuamente.
• Este processo de selecção natural conduz à
"sobrevivência dos mais aptos" num determinado
Sobrevivência ambiente. Mas o que significa ser "apto"?

individual e
genética • O exemplo inicial de aptidão traduzia-se em
atributos que tornavam a sobrevivência imediata
mais provável: um cavalo mais rápido tem maior
probabilidade de fugir aos predadores. Mas a
evolução não depende só da sobrevivência
individual.
• É necessário, sim, ter sucesso reprodutivo - ter
descendência que transmita os genes para as outras
gerações. Um cavalo que sobreviva a todos os seus
competidores mas que não deixe descendência não tem
sucesso evolutivo algum. A sobrevivência individual é um
Sobrevivência pré-requisito da sobrevivência genética mas, em si, não é
suficiente.
individual e
genética • Nesta perspetiva, é evidente que a aptidão é determinada
por todas as características que aumentam o sucesso
reprodutivo, independentemente de essas características
tornarem mais provável a sobrevivência individual.
• Consideremos as magníficas penas da cauda do
pavão. Essa cauda, longa e pouco cómoda,
pode até diminuir as suas probabilidades de
fugir aos predadores, mas contribui, apesar
disso, para a sua aptidão evolutiva. Isto porque
o pavão tem de competir com os outros machos
Sobrevivência pelo acesso às fêmeas.

individual e
genética • Quanto maior e mais espetacular for a sua
cauda, maior probabilidade há que a fêmea
responda às suas propostas sexuais. Do ponto
de vista evolutivo o ganho potencial é
evidentemente maior do que o custo; é por isso
que as penas são compridas.
Predisposições de comportamento herdadas

• Muitas das características que promovem a sobrevivência e a reprodução implicam estruturas


corporais como os cascos do cavalo ou as galhadas do veado.

• Mas Darwin e os seus sucessores chamaram a atenção para o facto de a seleção natural também
se aplicar ao comportamento. Os esquilos enterram as nozes e os castores constroem barragens.

• Os padrões de comportamento que subtendem essas atividades são característicos da espécie e


dependem dos genes - as unidades básicas da hereditariedade - do animal.
• Se esses genes proliferam ou não depende do
valor adaptativo - a contribuição para a
sobrevivência e subsequente reprodução - dos
comportamentos a que dão origem.

Predisposições • Um esquilo que tem uma predisposição genética


para enterrar avelãs no Outono tem mais
probabilidade de sobreviver do que um esquilo
de que o não faça.

comportamento • Em consequência, tem maior probabilidade de ter

herdadas descendência que herde o gene ou genes


responsáveis por essa predisposição de
comportamento. O resultado - desde que haja
alguma estabilidade no ambiente do esquilo - é
um aumento do número dos esquilos que
enterram avelãs.
• Sabendo que o comportamento pode mudar
em consequência da seleção natural, que
tipo de comportamento poderíamos esperar
que resultasse? E, o que é mais importante,
que tipo de predisposições inatas se
Predisposições poderiam esperar no homem?

de
• Muitos dos pensadores do século XIX
comportamento responderam de acordo com Hobbes.
herdadas
• Pensavam que as pessoas eram animais e
que, na difícil luta pela existência, todos os
animais são egoístas por pura necessidade.
• No fundo, diziam, todos os animais são e têm de
ser, solitários e egoístas, e os seres humanos não
Predisposições são exceção.

de • Na medida em que os humanos são sociáveis ou


comportamento mesmo altruístas - o acasalamento, os cuidados
parentais, o trabalho e a vida com outros - fá-lo-
herdadas iam apenas para satisfazer um motivo egoísta
como a fome ou a luxúria.
• Superficialmente, esta visão hobbesiana parece
estar de acordo com a teoria evolucionista.
Mas, se o problema for examinado com maior
detalhe, a teoria darwinista não tem essas
implicações.

Predisposições • Defende que há "sobrevivência dos mais


de aptos", mas "mais aptos" apenas significa
"maior probabilidade de ter descendência
comportamento viável.

herdadas • Nada diz sobre ser­-se solitário ou egoísta. Pelo


contrário, Darwin pensava que certos instintos
sociais aumentariam a sobrevivência e a
reprodução e que seriam enfatizados pela
seleção natural.
Predisposições de comportamento herdadas

• Sabemos atualmente que isto corresponde, de alguma forma, à verdade tanto com os
animais quanto com os humanos.

• Como veremos, há muitos dados que mostram, apesar do que pensava Hobbes, que os
humanos e vários animais são, por natureza, mais sociais do que associais, e que a maior
parte do comportamento social tem bases inatas, em vez de ir à revelia dos genes.

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