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Género, Pobreza e Direitos Humanos

Género, pobreza e direitos humanos

Manuela Góis
As mulheres sempre trabalharam
dentro e fora de casa.

O seu trabalho tem sido


desvalorizado.

A revolução industrial necessitou


da força de trabalho das mulheres,
que entraram na grande produção.
Os sindicatos opuseram-se à entrada de
mulheres nas empresas industriais, dizendo
que provocavam a descida dos salários.

As mulheres travaram uma luta contra o


capital e contra os companheiros. Fundaram
associações de classe próprias.
Maria José (1829-1894), lavadeira nos lavadouros
públicos de Lisboa.
É das primeiras vozes que se levanta contra a
discriminação exercida sobre as mulheres pelos
operários, que nelas viam apenas concorrentes.

D´Armada, Fina, As Mulheres na Implantação da República, Lisboa: Esquilo (2010), p. 170


Hubertine Bertine Auclert no 3º Congresso Operário
em Marselha (1879):
Que podereis acusar aos governantes que vos
dominam e exploram, se vós sois partidários em
manter na espécie humana as categorias de
superiores e inferiores? (…) A mulher é como o
homem um ser livre e autónomo.

Battagliola, Françoise, Histoire du travail des femmes, Paris, éditions La Découverte, 2008, p. 42
Hostilidade sindical ao trabalho das
mulheres

Os trabalhadores do sexo masculino, nomeadamente


através dos seus sindicatos, tiveram um papel
importante na manutenção da divisão do trabalho
segundo o sexo e na subalternização das mulheres no
mundo do trabalho.

Battagliola, Françoise, Histoire du travail des femmes, Paris, Éditions La Découverte, 2008, p. 40
Uma das reivindicações de
Carolina Beatriz Ângelo:

Igualdade salarial
entre mulheres e
homens
Em 1930, a feminista
Elina Guimarães
denunciava na
imprensa as terríveis
condições de vida
das operárias em
Portugal.
Redação de uma rapariga de nome Maria Adélia nascida no Carvalhal e educada
num asilo religioso em Beja:

As tarefas
Há muitas espécies de tarefas e cada pessoa tem de
cumprir a sua tarefa. As tarefas dividem-se em duas
espécies: as tarefas do homem e as tarefas da
mulher. As tarefas do homem são aquelas da
coragem, da força e do mando. Quer dizer: serem
presidentes, generais, serem padres, soldados,
caçadores, serem toureiros, serem futebolistas,
juízes, etc, etc. (…)
Depois há as tarefas das mulheres, que acima de todas está a de
ter filhos, guardá-los e tratá-los nas doenças, dar-lhes educação
em casa e o carinho; é também tarefa da mulher ser professora e
mais coisas como costureira, cabeleireira, criada, enfermeira. Há
também mulheres médicas, engenheiras, advogadas, etc., mas o
meu pai diz que é melhor a gente não se fiar nelas que as
mulheres foram feitas para a vida da casa, que é uma tarefa
muito bonita e dá muito gosto ter tudo limpo e arrumado para
quando chegar o nosso marido ele poder descansar do dia que foi
tanto, a fim de arranjar dinheiro para nos sustentar e aos filhos.
Como a vida está muito cara e ninguém pode com ela, diz a minha
mãe, que a mulher tem de trabalhar para ajudar o marido (…).
Barreno, Maria Isabel; Horta, Maria Teresa; Costa, Maria Velho da; novas Cartas Portuguesas, Lisboa:
D. Quixote, 2010
Em Portugal, foi a partir da década de 1960
que as mulheres entraram em maior escala
para o mercado de trabalho, com a
instalação de grandes empresas
multinacionais no país.
Até aí, apenas 16 mulheres em cada 100
trabalhavam fora de casa.
25 DE ABRIL DE 1974
Após o 25 de abril de 1974, a taxa de
atividade das mulheres teve uma evolução
muito positiva.
As mulheres puderam também assumir
novas profissões, que até aí lhe tinham
sido vedadas, e puderam exercer atividade
comercial sem autorização do marido.
Maria de Lourdes Pintasilgo

Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004) – Foi a primeira mulher ministra (dos Assuntos
Sociais, em 1974) e a primeira mulher primeira-ministra (1979), em Portugal.
Novas profissões desempenhadas
por mulheres
População residente – 2007

Fonte: INE
Nível Educacional da População Portuguesa com mais de 15
anos (em percentagem) relativamente ao ano de 2005

Nível Homens Mulheres Total % de


Educacional mulheres
Nenhum 8,7 17,7 13,4 68,9

Ensino 69,7 57,8 63,5 47,4


Básico
Ensino 13,6 13,6 13,6 52,2
Secundário
Ensino 8,0 10,9 9,5 59,8
Universitário
Total 100,0 100,0 100,0 52,1

Fonte: Perfil de Género, INE


População analfabeta – 2005

Fonte: Perfil de género, 2005,INE


Nível de escolaridade completo

Fonte: INE
Diplomadas no Ensino Superior

Fonte: GPEARI, MCTES in CIG, Igualdade de Género em Portugal, 2009


Frequência de realização de tarefas domésticas
Pelos Tarefas Pelas
homens mulheres
5º Preparar refeições 3º

6º Fazer limpeza regular da casa 2º

7º Cuidar da roupa 1º

3º Realizar compras esporádicas 7º

4º Realizar compras habituais 4º

1º Serviços administrativos 6º

2º Trabalhos de jardinagem 5º
Fonte: INE, 2002
“Tu ajudaste-me a quê? Ajudaste-
-me a vestir? Ajudaste-me a lavar?
Isto é que podia ser uma ajuda a
mim.
Fizeste coisas de casa que é onde tu
vives e eu vivo também, portanto, a
mim não me ajudaste nada.”
Teresa, empregada de escritório, 40 anos, in Torres, Anália Cardoso,
Vida Conjugal e Trabalho - Uma perspetiva sociológica, Oeiras: Celta Editora,
2004
Taxa de feminização – 2008 (%)

Fonte: Estatísticas do Emprego, 2008, INE


Fonte: Estatísticas do Emprego, 2008, INE
Participação das mulheres

Lugares no parlamento – 28 %
Ministras – 13%
Lugares de legislação, alto funcionalismo,
altos quadros – 32 %
Trabalhos profissionais e técnicos – 51%

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano, 2009


Desigualdades
EM 2007, A REMUNERAÇÃO MÉDIA MENSAL DE BASE
RECEBIDA PELAS MULHERES FOI:
€ 712,7 E A DOS HOMENS € 876,8.

Fonte: Quadros de Pessoal, Estatísticas em síntese, 2007, GEP do Ministério do Trabalho e da Solidariedade
Social in A Igualdade de Género em Portugal, 2009, CIG
Desigualdades

EM 2007, A REMUNERAÇÃO MÉDIA DAS MULHERES CORRESPONDIA A


81,3% DA DOS HOMENS.

Fonte: Quadros de Pessoal, Estatísticas em síntese, 2007, GEP do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social in A Igualdade de Género em Portugal, 2009, CIG
Desigualdades
EM 2009, NO SETOR PRIVADO ENQUANTO OS HOMENS
GANHAVAM € 100, AS MULHERES GANHAVAM € 76,5.

Virgínia Ferreira
Pensionistas

Fonte: Estatísticas da Segurança Social in CIG, Igualdade de Género em Portugal,


2009
Valor médio por
pensionista

Fonte: Estatísticas da Segurança Social in CIG, Igualdade de Género em Portugal,


2009
Taxa de desemprego de mulheres e de homens
(2008 – 2009 – 2010)

Fonte: INE
AS MULHERES VIVEM NUMA SITUAÇÃO
DE DÉFICE DE DIREITOS
As suas pensões de reforma são baixas, porque houve
múltiplos fatores que contribuíram para a
desvalorização dos seus descontos: desigualdades
salariais entre mulheres e homens, diferente
integração das mulheres no mercado de trabalho,
maior peso das mulheres nos contratos precários,
interrupções nos seus percursos profissionais
devido aos cuidados a prestar à família.
Pereirinha, José António (coord.), Nunes, Francisco; Bastos, Amélia; Casaca, Sara Falcão; Fernandes, Rita; Machado, Carla
(2008), Género e Pobreza, Impacto e Determinantes da Pobreza no Feminino, Lisboa: CIG
RISCO DE POBREZA NA POPULAÇÃO
FEMININA
As mulheres são mais atingidas pela
pobreza.
O grau de pobreza das mulheres é
superior ao dos homens.
Em geral, as mulheres têm trajetórias
de pobreza mais longas.
Pereirinha, José António (coord.), Nunes, Francisco; Bastos, Amélia; Casaca, Sara Falcão; Fernandes, Rita; Machado, Carla
(2008), Género e Pobreza, Impacto e Determinantes da Pobreza no Feminino, Lisboa: CIG
Grupos mais vulneráveis
- Idosas
- Jovens
- Reformadas
- Portadoras de deficiência
- Mulheres há mais tempo desempregadas e
economicamente inativas
- Habitantes das zonas rurais
- Famílias monoparentais
- Mulheres que abandonaram a escola cedo demais ou que
não têm formação profissional.

Pereirinha, José António (coord.), Nunes, Francisco; Bastos, Amélia; Casaca, Sara Falcão; Fernandes, Rita;
Machado, Carla (2008), Género e Pobreza, Impacto e Determinantes da Pobreza no Feminino, Lisboa: CIG
Risco de pobreza na população feminina

As famílias monoparentais são maioritariamente


constituídas por mulheres (80%, em 2001) que têm à sua
guarda as crianças; são mães solteiras, divorciadas ou
viúvas com filhos. Sem transferências sociais cairiam na
pobreza mais profunda.
Pereirinha, José António (coord.), Nunes, Francisco; Bastos, Amélia; Casaca, Sara Falcão; Fernandes, Rita;
Machado, Carla (2008), Género e Pobreza, Impacto e Determinantes da Pobreza no Feminino, Lisboa: CIG
Atual crise e políticas neoliberais

- Maior ameaça aos direitos das mulheres


- Maiores discriminações no mercado de trabalho
- Acentuação da feminização da pobreza, que está a
atingir níveis extremamente elevados
- Aumento de todos os tipos de violência contra as
mulheres
El País, 7 de Março de 2009
Patriarcado/ Dominação masculina

Mulheres e homens diferentemente posicionadas(os) nas hierarquias


do poder.

Reprodução social das relações assimétricas do poder patriarcal


através de várias formas, algumas delas muito subtis.
Patriarcado/ Dominação masculina

Estrutura patriarcal acentuada pelo modelo capitalista neoliberal:


- reproduz os papéis e a estereotipia de género
- perpetua as desigualdades em função do género
- impede o fim da pobreza
A IGUALDADE É UMA
QUESTÃO DE JUSTIÇA
SOCIAL!
A REALIDADE SOCIAL PODE
SER TRANSFORMADA!
MOVIMENTOS
EMANCIPATÓRIOS CONTRA A
EXPLORAÇÃO CAPITALISTA E O
DOMÍNIO PATRIARCAL
POR UM MUNDO SEM
DISCRIMINAÇÕES E
OPRESSÕES
FEMINISMO:
É O CONCEITO RADICAL
QUE CONSIDERA QUE AS MULHERES
SÃO PESSOAS

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