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Universidade Rovuma
Nampula
2021
Rosilota Pinto
Universidade Rovuma
Nampula
2021
Índice
Introdução........................................................................................................................................4
Conclusão......................................................................................................................................11
Referências....................................................................................................................................12
Introdução
A estrutura deste trabalho envolve elementos pré textuais, textuais e pós textuais. Contendo
assim capa, folha de rosto, índice, introdução, desenvolvimento (o essencial conteúdo), a
conclusão e as referências bibliográficas.
Conceptualizando políticas educacionais
Nesta secção procuraremos brevemente conceptualizar política e políticas públicas, bem como
abordar a questão da alteração dos contextos como factores de mudança nas políticas
educacionais.
Começamos a nossa discussão teórica corroborando com Archer (1979) quando afirma que os
interesses de classe e as relações de poder estão reflectidos no processo de construção dos
sistemas educativos. No caso moçambicano é evidente como as políticas educativas acabam
reflectindo essas dinâmicas, fazendo a análise partindo da situação colonial para a de um país
libertado e em rápidas transformações socioeconómicas e políticas.
O uso corrente do termo política, para Shiroma, Moraes & Evangelista (2007, p. 7), prenuncia
uma multiplicidade de significados, presentes nas múltiplas fases históricas do Ocidente e que,
na sua acepção clássica, deriva de um adjectivo originado de polis - politikós - e refere-se a tudo
que diz respeito a cidade, ao urbano, ao civil e ao social. Na modernidade, o termo refere-se
fundamentalmente à actividade ou ao conjunto de actividades que, de uma forma ou de outra são
imputadas ao Estado moderno capitalista ou dele emanam (Ibid.)
Para Heywood (2002), a ideia de que a política equivale ao que diz respeito ao Estado é a visão
tradicional da Disciplina (Ciência Política), reflectida na tendência dos estudos se concentrarem
no pessoal e na máquina governamental e, ainda afirma que estudar política é, em essência,
estudar o Governo, ou mais amplamente, estudar o exercício da autoridade.
não existe apenas uma definição para a interpretação do conceito de políticas públicas. Ao longo
das décadas o conceito foi sendo ressignificado. A definição instituída por Thomas Dye (1984) é
sempre citada como aceitável quanto ao que seria uma política pública, ‘o que o governo escolhe
fazer ou não fazer’ (2015, p. 15).
De acordo com Reis e Máximo (s/d) é possível definir o conceito de política educacional como,
política pública de carácter social destinada à educação, que sofre transformações constantes. É
construída na correlação entre as forças sociais que buscam assegurar seus próprios interesses e,
para compreendê-la, é preciso perceber o projecto político do Estado e as condições históricas de
um determinado período (p. 4).
Portanto, existem várias razões para mudar políticas, estratégias e programas da educação. Uma
das razões está associada às mudanças políticas e, porque não, ideológicas. Foi o que aconteceu
em Moçambique em 1975, com o advento da Independência e, posteriormente, com as mudanças
Constitucionais de 1990 e 2004, que provocaram transformações substanciais no ordenamento
político do país.
(i) criar uma organização muito mais depurada do que a que existia antes, excluindo um
grande número de antigos militantes e simpatizantes da Frente e movendo-se para um
sistema onde as escolhas políticas eram ditadas pela ideologia; e
(ii) desmantelar as formas participativas de organização política que faziam parte da
tradição da Frelimo (Ottaway, 1988, p. 217).
Segundo Ottaway (ibid), a Frelimo tentou criar uma economia planificada e centralizada, numa
base socialista, embora seja questionável o sucesso desse empreendimento, devido a dois
principais motivos:
(i) a Frelimo não era forte o suficiente para capturar a população politicamente, por
exemplo, através de um processo de colectivização forçada; e;
(ii) o Governo estava também falido economicamente para lançar um processo de
desenvolvimento bem-sucedido, expandindo machambas5 estatais e empresas
industriais, absorvendo mais a população no sector socialista.
O país juntou-se ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no final de 1984
(Ottaway, 1988). A razão de Moçambique para se juntar ao FMI foi a crise económica que se
manifestou de várias maneiras como, por exemplo: (i) a incapacidade da economia nacional para
atender às necessidades do mercado interno; e (ii) a incapacidade do Estado cumprir com as suas
obrigações internacionais. Três anos depois, em 1987, foi introduzido o Programa de
Ajustamento Estrutural designado PRE (Programa de Reabilitação Económica).
assegurar o pagamento da dívida e transformar a estrutura económica dos países de forma a fazer
desaparecer características julgadas indesejáveis e inconvenientes ao novo padrão de
desenvolvimento (neoliberal): proteccionismo, excesso de regulação, intervencionismo, elevado
grau de introversão, entre outras. A ideia central que passou a vigorar é que parte das dificuldades
desses países se encontra neles próprios, sobretudo na rigidez das suas economias.
Consequentemente, reformas profundas em suas instituições e políticas passaram a ser
consideradas mais importantes do que o alívio da dívida (Soares, 2009, p. 23).
No que tange à educação, durante este período, portanto nos primeiros anos do pós-
independência, dois caminhos distintos, porém relacionados, foram seguidos, simultaneamente:
(i) foi decidido construir o sistema educacional moçambicano sobre as práticas educativas
desenvolvidas nas zonas libertadas6 durante a guerra (1964-1974), baseadas em novas formas de
organização do processo docente-educativo, considerando o papel do professor e do aluno no
contexto revolucionário, a participação na produção escolar e a ligação da escola com a
comunidade circundante; (ii), foi dada ênfase ao desmantelamento do sistema educacional
herdado da sociedade colonial (Barnes, 1982).
Com base na ideologia de Marx e de Lenine e orientado por princípios e valores socialistas,
esperava-se que o sistema educacional pudesse proporcionar uma espécie de Revolução Cultural,
que alteraria a mentalidade do povo, contribuindo para erradicar as práticas culturais tradicionais
negativas, como a superstição, as crenças mágicas, obscurantismo, etc. (Cross, 1993).
Assim, acreditava-se que somente um Homem Novo seria capaz de transformar o país numa
“sociedade moderna”, livre do legado colonial e da influência da “sociedade tradicional” vista
como um potencial “perigo” para a revolução. Ao sistema de ensino competia uma grande
responsabilidade na formação do Homem Novo (Bastos, Duarte e Guro, 2016).
Como nos referimos anteriormente, com a adesão de Moçambique ao FMI/ Banco Mundial, o
país iniciou a adopção da cartilha neoliberal, isto muito antes da abertura política ao
multipartidarismo. Queremos afirmar que, apesar de a I República se ter estendido entre 1975-
1990, ela não foi linear, pois ocorreram transformações, sobretudo de índole económica, que
começaram a ter lugar num contexto monopartidário. Em 1990 entra em vigor uma nova
Constituição da República (MOÇAMBIQUE, 1990a), num período em que a Guerra-Civil
(1976-1992) ainda estava a decorrer, com incalculáveis efeitos devastadores para todo o país. É
com esta Constituição que o liberalismo político passa a ser um direito constitucionalmente
consagrado (Bastos, Duarte e Guro, 2016).
Tendo em conta este novo ordenamento político, o Estado deixa de ser o único provedor dos
serviços de educação, facto que ocorria desde as nacionalizações registadas em 1975. Assim, as
disposições legais para o surgimento e a abertura de escolas privadas em Moçambique são
estabelecidas a 1 de Junho de 1990, através do Decreto n° 11/90 do Conselho de Ministros
(MOÇAMBIQUE, 1990b). Trata-se do Decreto que autoriza “actividades do ensino privado e
explicações”, que revogou um anterior, o Decreto 12/75, que proibia as actividades do ensino
privado. A parceria entre o Estado e o sector privado tinha em vista aliviar o Governo dos
encargos financeiros e permitir a participação da comunidade nos programas educacionais.
Com a introdução da Lei 6/92, que reajusta o SNE, o Estado permite a participação no processo
educativo de outras entidades, incluindo comunitárias, cooperativas, empresariais e privadas
(MOÇAMBIQUE, 1992). Foi neste contexto que o Estado moçambicano, a partir desta Lei,
abriu portas para que o sector privado participasse nas actividades de educação, tendo culminado
com o surgimento das escolas privadas ou particulares em Moçambique. Numa primeira fase,
surgiram na capital do país, Cidade de Maputo, nos anos de 1990 e, desde então, foram-se
expandido para as outras províncias. Na mesma Lei (6/92) é retirada a carga ideológica
relacionada com o marxismo – leninismo e o Homem Novo e sua formação.
Agum, R., Riscado P. & Menezes M. (2015) Políticas Públicas: Conceitos e Análise em
Revisão. In: http://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/viewFile/
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Cross, M. (1993) Curriculum policies and processes in Mozambique, 1930-1989: The colonial
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1990a