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CARTA ARGUMENTATIVA

» Maria Paula de Souza Turim


Pressuposto
• Quando temos definido previamente
quem é nosso interlocutor sobre um
determinado assunto, temos melhores
condições de fundamentar nossa
argumentação.
INTERLOCUTORES

• Texto dissertativo-interlocutor
genérico, universal – Diálogo é
pressuposto.
• Carta argumentativa– interlocutor
específico, determinado, para quem a
argumentação é dirigida – Diálogo
explícito.(MARCAS DE INTERLOCUÇÃO)
Argumentação e intenção

• A intenção é a de persuadir um interlocutor


específico (convencê-lo do ponto de vista
defendido por quem escreve a carta e
demovê-lo do ponto de vista por ele
defendido e que o autor da carta considera
equivocado).
Processo da escritura

• Durante a elaboração do seu projeto de texto, procure


representar mentalmente – fazer uma imagem - da melhor
maneira possível o seu interlocutor.

• É necessário estabelecer e manter a interlocução e usar


uma linguagem compatível com o interlocutor.

• Não basta dar ao texto a organização de uma carta, mesmo


que a interlocução seja natural e coerentemente mantida;
é necessário argumentar.
Estrutura formal da carta

• 1- CABEÇALHO
• Data ( ponto final)
• Local
• 2- VOCATIVO OU INVOCAÇÃO
( de que forma vou me dirigir ao outro: pronome de
tratamento correto e vírgula ou ponto e vírgula ou
dois pontos)
Estrutura formal da carta

• 3- CORPO DO TEXTO
• 4- SAUDAÇÕES ou DESPEDIDAS : USE FECHOS DE
CORTESIA: Autoridades
superiores:RESPEITOSAMENTE, ( use vírgula).
• Mesma hierarquia ou inferior: ATENCIOSAMENTE,
• 5- ASSINATURA
• Ver se a proposta pede se ela deve vir sob a forma
de iniciais, nome fictício...
AS CINCO PARTES
QUE COMPÕEM A CARTA DEVEM
SER SEPARADAS POR UMA LINHA
EM BRANCO.
ATENÇÃO!!!
• Nome da cidade e data escritos ao alto, à
direita.
• Vocativo abaixo, à esquerda.
• Texto.
• Saudações à direita.
• Iniciais do nome à direita.
EXEMPLO

Sorocaba, 30 de junho de 2006.


(espaço)
Excelentíssimo senhor presidente da República:
(espaço)
Meu nome é Maria Lucinda Gomes da Costa.......e resolvi
lhe escrever a fim de expressar meu repúdio às suas opiniões....
Na minha concepção.....
(espaço)
Respeitosamente,
(espaço)
MP
O CORPO DO TEXTO
Sugestão

• Introdução:
1- Apresentação: identificação do enunciador – de
quem escreve.
2- Objetivo: por que o remetente resolveu escrever.
3- Tese: resposta que ele dá ao tema depois de
problematizá-lo.
Desenvolvimento do corpo do texto

• Momento da escritura em que o autor relativiza


os argumentos –dois - que sustentam sua tese
com aqueles que a contrariam. Tenta convencer
o destinatário persuadindo-o de que seu ponto
de vista é o correto e, ao mesmo tempo,
refutando o dele, desmascarando-o.
• CONCLUSÃO – resumo da argumentação.
PRONOMES DE TRATAMENTO

• Vossa Alteza – Duques e príncipes;


• Vossa Eminência – Cardeais;
• Vossa Excelência ou Vossa Senhoria – Altas
autoridades ou pessoas de respeito;
• Vossa Magnificência – Reitores de universidades;
• Vossa Majestade – Reis, imperadores;
• Vossa Reverência – Sacerdotes;
• Vossa Santidade – Papa.
Um exemplo de carta!!!
• Trata-se da íntegra de uma carta de
reclamação de um passageiro de um voo da
Virgin, a cia. aérea de Sir Richard Branson, da
Índia para a Inglaterra.
• Bombaim a Heathrow, 7 de dezembro de 2008

• Prezado Sr. Branson,

• Eu adoro a marca Virgin, adoro mesmo, e é por isso que eu continuo


a prestigiar a marca mesmo depois de uma série de incidentes
desafortunados recentemente. Mas, este último incidente foi, digamos
assim, a cereja do bolo.

• Ironicamente, ao fim do voo eu teria pago de bom grado mais de


mil rúpias por uma única cereja, depois da viagem culinária ao inferno a
que fui submetido nas mãos da sua corporação.

• Olhe isso, Richard. Olhe isso.

• Eu imagino que as perguntas que percorrem a sua mente brilhante


são as mesmas que percorreram a minha naquele dia fatídico. O que é
isso? Por que me deram isso? O que eu fiz para merecer isso? E,
sobretudo -- qual é a entrada, e qual é a sobremesa?
• Vamos então retirar a tampa de alumínio do prato principal para
ver o que nos espera.

• Eu vou tentar explicar como me senti. Imagine que você é um


garoto de doze anos, Richard. Agora, imagine que é a manhã de Natal e
você está prestes a abrir o último dos presentes. É um presente grande,
e você sabe o que tem dentro: aquele aparelho de som que você
escolheu no catálogo e escreveu pedindo para Papai Noel.

• Só que você abre o presente e o que está lá dentro não é o som


que você pediu. É o seu hamster, Richard. É o seu hamster na caixa, e ele
não está respirando. É assim que eu me senti quando eu quando retirei
a tampa da marmita e vi isso.
É mostarda, Richard. MOSTARDA. Mais mostarda do que qualquer
homem pode consumir em um mês. Na esquerda temos um pedaço de
brócolis e algumas pimentas num óleo marrom grudento e na direita o
chef preparou algum purê de batata. O amassador de batatas estava
obviamente quebrado, então ele decidiu que a segunda melhor coisa
seria passar as batatas pelo trato digestivo de um pássaro. Uma vez
regurgitado, ele foi claramente então misturado com mostarda. Todo
mundo gosta de um pouco de mostarda, Richard.

• Mas, a essa altura eu já estava começando a me sentir um pouco


hipoglicêmico.

• Então foi isso, Richard. Eu não comi p***a nenhuma. Minha única
pergunta é: como você pode viver assim? Eu não consigo imaginar como
pode ser o jantar na sua casa. Deve ser algo digno de um documentário
científico.

• Como eu disse no início, eu adoro a sua marca, sério mesmo. É uma


pena que uma coisa tão simples possa estragar tudo.

• Atenciosamente,

• XXXX
Exemplo de carta argumentativa

São Paulo, 29 de novembro 1992.

Prezado Sr. E.B.M:

Sou professor universitário da área de Ciências Humanas


na USP.No dia 1.º de setembro, deparei com sua opinião expressa
no Painel do Leitor do jornal Folha de S. Paulo. Respeitosamente,
li-a e percebendo equívocos em suas opiniões quanto à
veracidade dos motivos que colocaram milhares de jovens na rua,
de maneira organizada e cívica, tento elucidar-lhe os fatos.
Em sua carta, o senhor assegura que
a juventude, de hoje, é absolutamente imatura e
incapaz de perceber a profundidade dos
acontecimentos que a envolve. Asseguro que tal
opinião não é a mais justa.
Nós já fomos jovens e sabemos perfeitamente
que é uma época de transição.
Mudamos nossos conceitos, nossos
desejos e nossa visão de mundo. Mesmo assim,
determinados valores que assumimos como
corretos persistem em nossas vidas de forma
direta ou não. Não sei se o senhor tem filhos,
mas eu invejo a concepção que os meus
assumem perante inúmeros acontecimentos.
São adolescentes, que se interessam pelos fatos
políticos e se preocupam com o destino da
nação, pois estão cientes de que num futuro
próximo serão as lideranças do país.
Outro aspecto relevante em sua carta é o
de dizer que a juventude, é indisciplinada. Tal
opinião não condiz com a verdade. Nas
manifestações pró "impeachment que
invadiram o país visando à queda do Presidente
Collor, não se viram agressões, intervenções
policiais ou outras formas de violência.
Fica, portanto, claro, que a
manifestação dos chamados caras-
pintadas não é vazia. Conscientes de que
uma postura pouco organizada não lhes
daria credibilidade, os jovens
manifestaram-se honrosamente.
Com isso, frente ao vergonhoso papel do
próprio Presidente da República, Fernando Collor
de Mello, a juventude demonstrou um grau de
maturidade e percepção maior que o do próprio
chefe de Estado.
Os jovens visam ao bem do país e o seu
processo de conscientização não se deu de uma
hora para outra. Assim, dizer que a juventude é
motivada pelo espírito da época, visando ao
hedonismo é errôneo. Nossos jovens, senhor
E.B.M., são reflexos da liberdade existente no
país e a sua evolução político-ideológica.

Sem mais, despeço-me.

OBS: NÃO ASSINE A CARTA


Outro exemplo de carta

Sorocaba, 12 de abril de 2001.

Prezado senhor Eduardo Suplicy.

Brasileira, 30 anos, divorciada e mãe de três filhos em idade


escolar, trabalho há 5 anos em uma grande editora na área de
produção.
Nos últimos três anos a situação tornou-se insustentável. Por
causa de um pretenso aumento nas exportações, temos sido
submetidos a uma rigorosa e coerciva prática de horas extras.
Vivenciando uma situação limite e de sérias
implicações à minha saúde, decidi recorrer ao senhor, que é
meu representante direto no Senado, para solicitar que se
empenhe, bem como divulgue para os outros senadores, a real
necessidade da aprovação do projeto de lei, que será votado
na próxima quinzena, que pretende acabar com as horas
extras.
Como se não bastassem as 8 horas diárias de
trabalho, com pausa de apenas uma hora para o
almoço, já nos adaptamos à “rotina” de estender as
nossas atividades para até 5 horas a mais, quase que
diariamente.
Desconhecemos o significado das palavras “final
de semana” e “feriado”. Tem sido muito comum sair
de casa às 6:30 h e voltar por volta das 23h.
A exaustão desse ritmo de trabalho levou-me a
rever uma série de questões relacionadas que
considero essenciais a minha vida.
Se anteriormente acreditava que, com a
prática de horas extras estaria complementando o
meu salário, hoje vejo que as coisas não ocorrem
bem assim.
Além de gastar financeiramente muito mais para manter o estilo de
vida da maioria dos trabalhadores da economia globalizada (pois tenho que
arcar com as despesas de alguém que cuide de meus filhos à noite e aos
finais de semana), tenho perdido algumas das mais preciosas
oportunidades que são o convívio em família, a possibilidade de gozar de
descanso decente diariamente, assim como de momentos de lazer, ou
ainda dar continuidade aos meus estudos cursando uma faculdade à noite.
No ambiente de trabalho é comum
ouvir de nossos superiores que todos devem
“vestir a camisa da empresa” e é aí que a
prática das horas extras se torna coerciva,
pois quem não adere não é digno de fazer
parte da equipe. Além dessa disfarçada
coerção, vivemos sob o signo do
desemprego, que agrava a tensão a que nós
trabalhadores estamos submetidos.
Não existe alternativa: ou trabalhamos
até o limite imposto ou engrossamos as
estatísticas de desemprego.
Mas como ir contra a prática de hora
extra se a própria legislação trabalhista é
totalmente favorável ao empregador?
Por outro lado a classe trabalhista
também favorece a atual situação, ao
encarar que as horas extras são uma
oportunidade de se “ganhar mais”.
Aqui apóio o projeto de lei que
pretende substituir as horas extras
pela participação nos lucros da
empresa de forma mais significativa.
Embora um ponto bastante polêmico,
indicadores econômicos mostram que o
empresariado não ficará em desvantagem.
Em países subdesenvolvidos ainda
existe a cultura no meio empresarial do
acúmulo de capital de forma egoísta e
insana, o que tem gerado as mais absurdas
estatísticas de distribuição de renda e
implicações diretas em crises sociais.
O projeto de lei que propõe que a extinção da
hora extra incentivará a criação de novos postos de
trabalho. Com índices de desemprego reduzidos é
possível reaquecer o mercado e se pensar numa real
inserção do Brasil na economia global.
Senhor Suplicy, gostaria de deixar o depoimento
de uma trabalhadora, no mercado desde os 13 anos de
idade, como intuito de comovê-lo verdadeiramente, a
fim de se esforçar pela aprovação do projeto.
Acredito que o homem só será um ser pleno
quando seus potenciais criativo, produtivo, emocional e
intelectual, não estiverem concentrados em um único
viés: o trabalho.
Sendo aprovado, o projeto abrirá um importante
espaço de discussão para repensarmos o
trabalho no mundo contemporâneo.
Essa discussão é mais do que oportuna, uma vez
que sinaliza para questões como
o aumento da produtividade, a diminuição dos
índices de doenças típicas como o estresse e a
depressão, assim como o aumento nos
índices de escolaridade.
Finalizo, desculpando-me pela letra que o forço a
decifrar. Contrariando ordem médica, escrevi
essa carta apesar
das dores horríveis que tenho sentido em meu
braço esquerdo, fruto de trabalho repetitivo e de
muitas “horas extras”.
Mas não se preocupe, porque daqui a um mês,
quando o projeto já tiver sido votado, terei sido
submetida a uma cirurgia que, segundo os médicos,
devolverá os movimentos naturais do braço e das
articulações.

Atenciosamente,

H.C.O.
Fotografia de Sebastião Salgado: escadas nas minas de ouro de Serra Pelada. Brasil, 1986.
• José Sabóia
José Sabóia
Tema: fim das horas extras.

CARTA ARGUMENTATIVA ABAIXO DA


MÉDIA
Marque uma hora extra para sua vida!
“Homem primata capitalismo selvagem”
Titãs

Já é sabido, que grande parte dos trabalhadores


empregados preferem fazer horas extras a fim de que ao final do
mês, o montante recebido pelo seu trabalho seja cada vez
maior, chegando até a dobrar. No mundo as horas extras são
usadas como soluções para alguns problemas, já no Brasil o uso
de horas extras, já faz parte do salário.
Ao estar fazendo horas extras, abre-se mão das suas
horas de lazer, descanso e até mesmo abre-se mão da compania
da sua família, tudo isso com o objetivo que ao final do mês o
salário seja um pouco maior do que o de costume, com isso
acaba “roubando” possiveis empregos que poderiam ser melhor
organizado para que pudéssemos reduzir os índices de
desempregos tão evidentes nos dias atuais.
As empresas preferem que seus
funcionários façam horas extras à ter que
contratar novos funcionários, é mais
viável incentivar com que os seus funcionários
façam horas extras do que ter de admitir novos
custos. Isso só atrapalha o
crescimento da econômia, pois cada vez mais,
haverá desempregados, e os mesmos não faram
com que a economia
continue crescendo e se desenvolvendo.
Com tudo isso fica evidente, que fazer horas
extras só trás problemas à economia e a nação, em
questões financeiras, proficionais e até de saúde.
Devemos aprender com os países grandes
como por exemplo os Estados Unidos da America,
para que possamos aprender como se deve crescer
para que um dia possamos ser finalmente um país
grande econômicamente.
A máscara na carta argumentativa
LEMBRETE AMIGO
• Não escreva só o óbvio (reprisado cotidianamente
nos jornais e nas revistas), mas alguma informação
adicional que convença o interlocutor para sua
causa.
• NÃO BASTA CONSTRUIR UMA MÁSCARA! É PRECISO
QUE A ESCOLHA CONTRIBUA EFETIVAMENTE PARA O
OBJETIVO DE PERSUADIR E CONVENCER O
INTERLOCUTOR!
A Perda da Compostura
Marta Suplicy

O país perdeu a noção do que


seja dignidade e compostura.
Temos o presidente da
República gritando para o povo
que tem "aquilo roxo",
erguendo o dedo em sinal
obsceno para a multidão,
destratando e humilhando
publicamente a primeira dama.
Rosane Collor, por sua vez, é acusada de
desviar enormes somas de dinheiro para firmas
fantasmas de sua família, ao mesmo tempo em
que, ato insólito, seu esposo e presidente diz que
ela de nada sabia. Enquanto esse exemplo circense
ocorre com o mais alto mandatário da nação, o
resto dela segue seus passos.
Exemplo, aliás, que já havia sido
inaugurado na campanha presidencial,
quando grosseiramente acusou seu
adversário no campo pessoal. A
evidência da falta de ética e compostura,
da confusão entre o público e o privado,
já começava para quem quisesse ver.(...)
Temos agora a ex-ministra da Economia
expondo a sua privacidade de forma grotesca. Conta
detalhes do seu relacionamento amoroso, como foi
enganada, que teria engravidado, se possível, para
assegurar o casamento, publica bilhetinhos do
amante com intimidades (...).
Não sei se a ex-ministra perdeu a noção
do ridículo, se é a fúria vingativa de
mulher abandonada que a está
cegando, ou se esta perda da realidade
já a acompanha há mais tempo e nos
ajudou a chegar ao caos econômico em
que vivemos. (... )
Meu Deus! Ficamos todos loucos?
Esquecemos onde acaba o privado e começa
o público?
A ferida feita por Collor de Mello em Luís
Inácio Lula da Silva criou um cancro na
nação, que se reproduz em todos os níveis.

Lurian Cordeiro
Até o Neto, ídolo do Corinthians, dá uma cusparada no juiz,
quando expulso de campo. Ele, pelo menos, pediu desculpas. E o
resto? E nós?
Como recuperar a dignidade e a compostura da nação e de
seus enfermos cidadãos? Não há mais o que esperar.
(Tendências/Debates, "Folha de S. Paulo", 19/10/91)
PROPOSTA:
O texto anterior discute episódios recentes da
história do Brasil em que se misturam assuntos
públicos e privados.
a) Caso sua posição seja semelhante à da
autora, escreva uma carta ao Sr. Fernando
Collor de Mello tentando convencê-lo de que o
exercício de funções públicas exige a
capacidade de separar os fatos que são
relevantes dos que não são relevantes para a
vida nacional
b) Caso você discorde da posição da autora,
escreva-lhe uma carta procurando convencê-la
de que sua análise é equivocada.
Qualquer que seja sua opção, você deve levar
em conta os fatos mencionados e analisados no
texto.
Santana do Agreste, 1 de dezembro 2003.

Ao Senhô presidente da República:

Aqui quem vos fala é um humirde trabaiadô


da roça. Me descurpe o mal jeito de escrevê mais é
que eu não pude estuda pruque o meu pai disse
que eu tinho “aquilo roxo”e como macho divia di
trabaiá pra ajuda em casa.
Um dia assistino a televisão, vi o senhô
dizê que o vosso pai disse que o senhô
tamém tem “aquilo roxo’, e o senhô além
disso ainda pode estuda, sabe fala bunito,
come bem, é atreta.
Por causa disso, deve di sê trabaiadô e
vai podê fazê muita coisa pur nóis.
Sabe excelença, eu trabáio i num tenho
tempo di assisti televisão i nem tenho
dinheiro pra pagá a conta de luis que a
televisão gasta, mais quando eu sei que
vosmecê vai fala eu largo tudo pra vê
vosmecê. Só que eu fico muito aperriado
quando vejo que o senhô féis nóis perdê o
nosso tempo pra expricá qui num vai si
separa da sua muié i qui oceis vivi bem.
Ixi Colo, isso é pobrema vosso, pur acaso
nóis dá satisfação da nossa vida particulá.
Então presidente cuide mais do Brasil e
guarde os seu pobremas com sua muié pra
resorvê em vossa casa.
Eu ispero qui memo com toda minha
inguinorança o senhô tenha intindido qui
o qui nóis qué é tê o que comê, o que
visti, inducação prus nossos filios pra
quando eles fô agradecê pru sinhô tê
atendido meu pidido, eles saibam escrevê
mio qui eu i então não dê trabaio pru
sinhô lê.
É isso qui nóis qué i não sabê da vida dus otros.
Aproveitano fala pra Zélia qui si ela tivessi si
preocupado mais cum Brasil qui nem cum o caso dela
cum ome casado nóis tava muito mio i qui já qui ela
feis essa bestera divia di pelo menos sê moça direita i
num falá pra ninguém.

Brigado, excelênça

J.C. (seu criado)


CARTA ARGUMENTATIVA COM
MÁSCARA

O Salário Mínimo
O salário mínimo é tão pequenininho que cabe até no
meu bolso. é por isso que ele é chamado de mínimo que
quer dizer que menor não tem.
Meu pai diz que o salário mínimo é um dinheiro que não
serve pra nada, mas na televisão o moço disse que só
pode ser isso mesmo, e está acabado. Meu pai quase
quebrou a televisão depois que o moço falou.
Meu pai anda chamando o salário mínimo de
um outro nome, mas eu não vou dizer aqui,
porque outro dia eu disse esse nome no recreio e
a professora me deixou de castigo.
O salário mínimo deve ser muito engraçado
porque quando falaram que ele tinha
aumentado, lá em casa todo mundo deu risada.
Meu pai disse que uma vez um homem que era
presidente falou que se ganhasse salário mínimo dava um
tiro na cabeça, mas eu acho que ele estava brincando,
porque quem ganha salário mínimo não tem dinheiro pra
comprar revólver.
O meu pai não ganha salário mínimo mas com o que ele
ganha também não dá pra comprar muitos revólveres a
não ser de brinquedo e só de vez em quando.
• O meu avô é aposentado. Ele não faz nada mas
parece que já fez. Ouvi dizer que o salário mínimo
não aumentou mais por causa dele. Eu não sabia
que o meu avô era tão importante. Minha avó não
é aposentada. Também, ela é muito velhinha, não
dá pra ser mais nada.
Lá em casa falaram que com esse salário mínimo não vai
dar mais pra comprar a cesta básica. Eu não sei muito bem
o que é a cesta básica, mas parece que tem comida dentro.
Se for, é só diminuir bastante o tamanho da cesta que aí
cabe tudo.
Ouvi meu tio desempregado dizendo que tem um livro
chamado Constituição, onde está escrito que com o salário
mínimo a pessoa tem que comer, morar numa casa, andar
de condução, se vestir e uma porção de coisas. Coitado do
meu tio. A falta de emprego está deixando ele doidinho.
Quando eu crescer não vou querer salário mínimo,
mesmo que seja o dobro. Parece que ele é tão
pequeno que mesmo que seja o dobro do dobro ele
continua mínimo.
A minha mesada é muito pequena, mas inda bem
que ninguém inventou a mesada mínima, porque
com o que minha mãe me dá quase não dá pra
comprar figurinha.
• Pronto. Isso é o que penso do tal salário
mínimo. Espero que a professora dê uma
boa nota porque ela é muito boazinha e
merece ganhar muito mais do que todos os
salários mínimos juntos.
• Só mais uma coisa: se eu fosse presidente da
República mudava o salário mínimo para um salário
bem grande e chamava ele de salário máximo.
Tiau
Luizinho
Senhora escrevendo uma carta com a criada, Vermeer, 1670, Dublin, National Gallery of Ireland
Soldado soviético escrevendo uma carta em 1942
Fiodor Moller - Tatyana escrevendo a carta para Oniêguin (1846). Palácio de Marly, em
Peterhof (Rússia).
Como escrever uma carta ao seu amigo aidético,
convencendo-o a não ter filhos.

Ao meu grande amigo, Guilherme Soares:

Guilherme, sei muito bem as dificuldades que


você está passando, a dor e o sofrimento, a
angústia e a tristeza. Mas saiba que não está
sozinho.
Sei que é difícil a discriminação da
sociedade e as dificuldades no tratamento e
na obtenção dos remédios. Foi por isso que
escrevi; para demonstrar a minha
solidariedade de amigo, mais que isso, a
solidariedade de um irmão.
Fiquei sabendo através de um jornal que você
está muito interessado em ter um filho com a Célia. Por
que não me contou?
Cara, desiste dessa idéia! Conselho de amigo,
Guilherme: isso não é lá das idéias mais inteligentes
que você já teve.
O pessoal do banco (que aproveita pra mandar
um abraço) concorda comigo. Você tem noção do que é
que essa atitude significa?
Pó, cara! Eu sei que você tinha um sonho que é
o de ser pai, de dar continuidade à vida, mas não
esperava que esse sonho continuasse. Isso é
realmente muito bonito, mas a partir do momento em
que seu filho poderá (e as chances são grandes) ter a
mesma doença que você, cara, isso é loucura!
Mas não é só isso!
A sua namorada não é portadora e se vocês
transarem para ter um filho, isto é, sem camisinhas,
ela vai pegar Aids.
Por isso, se resolver ter um filho, você
comprometerá com certeza a vida da Célia e
pode. ainda, comprometer a vida de seu
filho.
E claro que isso não é dar continuidade
à vida, mas assinar a sentença de morte de
duas pessoas inocentes.
Além disso, sejamos realistas, dentro
de alguns anos você morreria e mais tarde
(ou mais cedo), Célia. Mesmo que a criança
nascer saudável, será órfã muito cedo, pior
se nascer doente.
Já pensou? Seu filho, sangue do seu
sangue, órfão ainda criança e com
dificuldades financeiras para o tratamento,
sendo discriminado pela sociedade, crianças
da mesma idade e por escolas que se
recusam a matricular seu filho. Não terá
amigos, nem pais, nem felicidade alguma.
É melhor evitar tudo isso.
Se o amor que você tem por esse filho
que ainda não nasceu é realmente amor,
evite, então, que ele sofra a vida toda por
um breve momento de satisfação pessoal.
Há, ainda, a possibilidade de adoção,
você já pensou nisso?
• Tenho um amigo que pode facilitar o processo de
adoção na justiça. Você pode escolher o sexo, a cor dos
olhos, pele e cabelo e a idade.
• Apesar de não ser um filho legítimo, é o único meio de
se ter um filho saudável e sem colocar em risco a vida de
Célia. A criança pode viver com a Célia mesmo após sua
partida.
• Cabe, finalmente, a você, Guilherme, e à Célia a decisão,
uma vez alertados das implicações, mas confiar na sorte e
depois chorar por deixar seu filhinho sem condições de
lutar para viver é inadmissível.
Espero que tome a atitude correta e que possa
desfrutar ao máximo o restante da vida. Aliás, por que
não vem conosco no próximo domingo jogar uma
partida de futebol, ou você já se esqueceu de como se
faz gols?
Um abração

F. E. H.
Como você deve ter constatado, ele valeu-se de uma
máscara para cumprir a tarefa que lhe foi proposta
(escrever uma carta ao bancário Guilherme Soares
para convencê-lo a desistir da idéia de ter um filho).
UEL - A partir da leitura dos textos de apoio, escreva uma carta para um
jornal da cidade, sugerindo medidas para conter a violência em Londrina.

Londrina,
10 de setembro de 2002. Prezado editor,
O senhor e eu
podemos afirmar com segurança que a violência em
Londrina atingiu proporções caóticas. Para chegar a tal
conclusão, não é necessário recorrer a estatísticas.
Basta sairmos às ruas (a pé ou de carro) num dia de
"sorte" para constatarmos pessoalmente a gravidade
da situação. Mas não acredito que esse quadro seja
irremediável. Se as nossas autoridades seguirem
alguns exemplos nacionais e internacionais, tenho a
certeza de que poderemos ter mais tranqüilidade na
terceira cidade mais importante do Sul do país.
Um bom modelo de ação a ser considerado é o adotado em
Vigário Geral, no Rio de Janeiro, onde foi criado, no início de 1993, o
Grupo cultural Afro Reggae. A iniciativa, cujos principais alvos são o
tráfico de drogas e o subemprego, tem beneficiado cerca de 750
jovens. Além de Vigário Geral, são atendidas pelo grupo as
comunidades de Cidade de Deus, Cantagalo e Parada de Lucas.
Mas combater somente o narcotráfico e o problema do
desemprego não basta, como nos demonstra um paradigma do
exterior. Foi muito divulgado pela mídia - inclusive pelo seu jornal, a
Folha de Londrina - o projeto de Tolerância Zero, adotado pela
prefeitura nova-iorquina há cerca de dez anos. Por meio desse plano,
foi descoberto que, além de reprimir os homicídios relacionados ao
narcotráfico (intenção inicial), seria mister combater outros crimes, não
tão graves, mas que também tinham relação direta com a incidência de
assassinatos. A diminuição do número de casos de furtos de veículos,
por exemplo, teve repercussão positiva na redução de homicídios.
Convenhamos, senhor editor: faltam
vontade e ação políticas. Já não é tempo de as
nossas autoridades se espelharem em bons
modelos? As iniciativas mencionadas foram
somente duas de várias outras, em nosso e em
outros países, que poderiam sanar ou, pelo menos,
mitigar o problema da violência em Londrina, que
tem assustado a todos. Espero que o senhor
publique esta carta como forma de exteriorizar o
protesto e as propostas deste leitor, que, como
todos os londrinenses, deseja viver tranqüilamente
em nossa cidade.
Atenciosamente,

M.
Sebastião Salgado
Boa noite...e boa sorte!

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