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Lígia
percorreu seu corpo deixando-o atordoado, fazendo com que Lígia se lembrasse
das outras vezes, das tentativas inúteis, dos sofrimentos perdidos que
cômputo realizado.
sabe nada de mim... pensou Lígia, desviando seu olhar rapidamente para a sala,
para a sua harmônica composição exata, para o silêncio organizado que o espaço
devassadas pelo sol do fim da tarde. Mas a ansiedade, cada vez mais potente,
frias. Prevendo, Lígia abaixou os olhos para o assoalho, com pavor e teria fugido
antiga, já amassada, mas era a mesma... Impulsivamente, pegou uma revista, das
muitas exibidas à sua frente e segurou-a firme em suas mãos, forçando interesse
entanto, via avançar a noite do outro lado dos vidros das janelas, e, embora os
pelo asfalto... sem olhar para nada, tropeçando em latas de lixo e canteiros e nas
chão, não teve medo. Levantou-se e começou a caminhar cada vez mais rápido,
alcançando uma parte de uma praça repleta de árvores. Ficou ali, quietinha,
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o rosto e o corpo ao vento que se enredava por entre as árvores. Respirar e ouvir
o ritmo eterno da natureza, o vento nas folhas e mil pequenos ruídos ouvidos
profundo por tudo, devolvendo aos céus a sua existência pesada que ressecava
conseguia respirar mais. Seu rosto molhado no frio, a paralisia, a dor, o terror de
estar viva.
a levantar-se, governando-a. Como vai, Lígia? Boa tarde, Lígia, tudo bem?
Lígia?
sentiu imensa pena de si mesma. Quase conseguira. À porta. Agora era tarde
demais. Ela sabia que, mesmo por alguns instantes, se a mão a largasse, seu
janelas, ela podia ver o céu e a torre imensa e firme da igreja, os telhados, os
campos que se perdiam. Pôde lembrar-se dos passos lentos, arrastando os pés,
olharia complacente, com seu avental branco, retirando-se logo, com uma leve
reverência.