Você está na página 1de 70

A arte barroca na

Europa
A arte barroca desenvolveu-se no século
XVII, período de grandes mudanças na
Europa da Idade Moderna. Para melhor
entender os acontecimentos daquele século,
precisamos buscar suas origens em fatos
do século XVI, dos quais um dos mais
importantes foi a Reforma Protestante, que
se expandiu por muitos outros países
AReforma e a
Contra-Reforma
A Reforma Protestante, movimento de
contestação à doutrina da Igreja Católica,
teve como principal líder o alemão
Martinho Lutero. Apesar de ter sido um
movimento religioso, provocou mudanças
em setores da cultura européia. Favoreceu,
por exemplo, a formação dos Estados
nacionais, ao propor que cada nação se
libertasse do poder do papa.
A Igreja Católica, porém, logo se organizou
contra a Reforma. Na verdade, desde o
início do século XVI havia dentro dela um
movimento que visava fortalecer a vida
espiritual, mas apenas no século XVI essa
reação viria a constituir a Contra-Reforma.
Com a ação das grandes ordens religiosas,
como a Companhia de Jesus, a igreja
Católica retomou sua força e construiu
novas e grandes igrejas. A arte voltava a
ser vista como um meio de ampliar a
influência católica.
Afresco no teto da Capela Sistina - Gênesis e os profetas

No século XVI a pintura, a arquitetura e a escultura já manifestam um novo estilo,


como podemos observar em muitas obras; por exemplo, a pintura de Michelangelo na
Capela Sistina.
Detalhe do Afresco no teto da Capela Sistina – Criação da Eva
Detalhe do Afresco no teto da Capela Sistina – Criação de
Adão
Detalhe de “O juízo final, de Michelangelo”

Pintada por Michelangelo Buonarotti entre 1536 e 1541, na Capela Sistina, essa obra
está entre as que melhor demonstram a preocupação da Igreja em fortalecer sua
doutrina. A intensidade das expressões e o vigor das figuras fazem de Michelangelo,
sem dúvida, o precursor do Barroco.
Detalhe de “O juízo final, de Michelangelo”

O juízo final, de Michelangelo. Dimensões: 13,7 m X 12,2 m – Capela Sistina,


Vaticano.
Detalhe da Capela Sistina, Vaticano.
Origens e
características gerais
do Barroco
A arte barroca originou-se na Itália, logo
se espalhou por outros países da Europa e
chegou à América. Porém, apresentou
características bastante diferentes nos
vários países. O Barroco italiano do início
do século XVII, por exemplo, difere
muito do Barroco holandês da mesma
época.
Origens e
características gerais
do Barroco
Ainda assim, há aspectos comuns às obras
desse período: o predomínio da emoção, e
não da razão, que prevaleceu no
Renascimento; acentuando contraste entre
tons claros e escuros, que intensifica a
expressão dos sentimentos. Os temas são
variados: religiosos, mitológicos e na
forma de retratos.
A Pintura

Os pintores italianos Caravaggio,


Tintoretto e Andréa Pozzo estão entre os
mais representativos do Barroco.
Caravaggio: a beleza além da
aristocracia
Caravaggio (1573-1610) não se interessava
pela beleza clássica – a dos deuses da
mitologia grega ou dos membros
aristocracia -, que tanto encantou os
artistas do Renascimento. Para ele, não
havia ligação entre beleza e aristocracia, e
seus modelos eram vendedores, músicos
ambulantes, ciganos; enfim, gente do povo.
Sacrifício de Issac, de Caravaggio.
Caravaggio: a beleza além da
aristocracia
O que melhor caracteriza sua pintura é a
utilização original da luz: ela não aparece
como reflexo da luz solar, mas é criada de
modo intencional para direcionar a atenção
do observador. Isso é tão fundamental em
sua obra que ele é considerado importante
pintor da luz, como você pode ver no
quadro Vocação de São Mateus.
Vocação de São Mateus (1599), de Caravaggio.

Observe como a luz que ilumina a cena vem da direita e não da janela que está no
fundo, como seria natural. Essa luz dirige a atenção do observador para o grupo
sentado em torno da mesa.
O contraste de luz e sombra valoriza a pintura, pois os corpos ganham volume: veja
Vocação de São Mateus (1599), de Caravaggio.

Vocação de São Mateus (1599), de Caravaggio.


Dimensões: 3,22 m X 3,40 m – San Luigi dei Francesi, Roma.
David, de Caravaggio.

São Gerônimo, de Caravaggio.


Incredulidade de São Tomé, de Caravaggio.
Tintoretto: a expressividade no
corpo

A extensa produção artística de Tintoretto


(1518-1594) tem dois aspectos marcantes:
o corpo mais expressivo que o rosto; a
intensidade da luz e da cor. Para ele, um
quadro devia ser visto inicialmente em seu
conjunto e só depois percebido em seus
detalhes.
Descendo da Cruz, Pietá, de Tintoretto.
Cristo em casa da Marta e Maria, de Tintoretto.

Note em primeiro plano a


mulher de vestido azul e manto
vermelho; um pouco mais atrás
estão Cristo e uma outra mulher
– de vestido preto com detalhes
claros. Essas três figuras
refletem uma luz intensa,
enquanto as que se encontram
em segundo plano estão
envolvidas em sombra e pouco
iluminadas. Depois de aprender
o conjunto da cena, nossos olhos
começam a deter-se nos detalhes
das vestes e do cenário que
compõe o ambiente da casa.
Dimensões: 2 m X 1,32 m. Alte Pinakothek, Munique.
Ariadne, Venus and Bacchus, de Tintoretto
Casamento em Canãa, de Tintoretto
Andréa Pozzo: a abertura para o
céu
A pintura barroca desenvolveu-se também
no teto de igrejas e palácios. Embora com
finalidade predominantemente decorativa,
apresenta algumas obras em que a
perspectiva é trabalhada de forma
audaciosa. É o caso do afresco A glória de
Santo Inácio, de Andréa Pozzo. (1642 –
1709).
A glória de Santo Inácio (1691-1694), de Andréa Pozzo.

Este afresco foi pintado no teto da Igreja de Santo Inácio, em Roma. Ele impressiona
pelo número de figuras e pela ilusão – criada pela perspectiva – de que as paredes e as
colunas da igreja continuam no teto. Este parece, ainda, abrir-se no alto, de onde santos
e anjos convidam os fiéis a irem para o céu.
Afresco de uma igreja jesuíta em Viena, de Andréa Pozzo.
Trompe-l'oeil na igreja jesuíta de Viena, de Andréa Pozzo.
Luta dos anjos, igreja jesuíta de Viena, de Andréa Pozzo.
A Escultura
Nos gestos e no rosto das figuras
representadas, a escultura barroca exprime
emoções: alegria, dor, sofrimento. Por
vezes, um grupo de esculturas compõe uma
cena dramática. As formas sugerem
movimento e apresentam efeitos
decorativos. Predominam linhas curvas,
drapeados das vestes e tons dourados.
Entre os artistas do Barroco italiano,
Bernini (1598 – 1680) foi, sem dúvida, o
mais importante e completo: foi arquiteto,
Êxtase de Santa Teresa (1645-1652), de Bernini.

Essa obra procura despertar a emoção religiosa de quem a observa. Com intensa
dramaticidade, reproduz o momento em que Santa Teresa é visitada por um anjo que
lhe fere várias vezes o peito com uma flecha.
Êxtase de Santa Teresa (1645-1652), de Bernini.

Segundo a crença religiosa da época, suportar com coragem uma dor ou um sofrimento
era um meio de se aproximar de Deus. Repare no trabalho do escultor para representar
o drapeado das vestes das personagens.
Medusa, de Bernini.

Rapto das Sabinas, de Bernini.


A Arquitetura
Como a igreja Católica queria proclamar a
importância da fé, criou obras que impressionam
pelo esplendor. A arquitetura expressou, ainda, o
desejo dos governantes de demonstrar poder por
meio de seus palácios. Assim, os arquivos do
Barroco deixam de lado a simplicidade e a
racionalidade do Renascimento e investem na
grandiosidade das igrejas e dos palácios e nos
efeitos decorativos. Nessa época firmou-se
também a idéia de que o espaço em torno da obra
arquitetônica era importante para a beleza da
construção. Daí a preocupação com os projetos
da praça das igrejas como a da basílica de São
Praça de São Pedro (1657-1666), projetada por Bernini
Esse é um dos exemplos mais significativos da arquitetura e do urbanismo do século
XVII na Itália. Em forma de elipse, a praça é cercada por duas grandes colunatas –
Seqüência de colunas dispostas simetricamente formando um conjunto arquitetônico –
cobertas. Elas se estendem em curva tanto para a esquerda como para a direita, mas
estão ligadas em linha reta aos dois extremos da fachada da igreja.

Praça de São Pedro (1657-1666), projetada por Bernini


É uma obra de grande porte, pois a colunata circular tem 17 metros de largura, 23
metros de altura e é composta por 284 colunas. Sobre estas, assenta-se uma imensa
cornija com 162 estátuas de 2,70 metros de altura. Também nesse período criaram-se
projetos paisagísticos de grandes jardins de palácios como os de Versalhes, na França.
Jardim do Palácio de
Versalhes
Esse é um dos conjuntos de palácio e jardim mais
famosos do século XVII na Europa. Construído
por ordem de Luís XIV, o palácio funcionou
como sede da corte e do governo da França e, em
1837, passou a abrigar um museu dedicado à
história francesa. Os jardins, planejados por
André lê Nôitre (1613-1700), localizam-se em
um parque de 80 quilômetros quadrados, com
inúmeros canteiros, fontes, esculturas, bosques e
um canal.
Além da imponência e grandiosidade da construção, a beleza dos jardins concretiza a
idéia presente até hoje entre os arquitetos de que os arredores de uma obra arquitetônica
também merecem um projeto cuidadoso.

Jardim do Palácio de Versalhes


Jardim do Palácio de Versalhes
Jardim do Palácio de Versalhes
Burle Marx, um paisagista
brasileiro
Pode ser que você, sem saber, já tenha visitado
algum jardim projetado pelo paisagista Roberto
Burle Marx (1909-1994). Autor de belíssimos
projetos, ele obteve prestígio internacional e foi
também escultor, ceramista, pintor, desenhista e
tapeceiro, entre outras atividades. Estudou em
detalhes a flora brasileira. São dele os projetos do
Aterro do Flamengo, e do Parque da Cidade, em
São José dos Campos, interior de São Paulo. Para
ele, um jardim “é uma obra viva, que resulta da
combinação de diferentes formas e cores, como
na pintura ou nos sons musicais”.
Aterro do Flamengo,Burle Marx
Aterro do Flamengo,Burle Marx
Aterro do Flamengo,Burle Marx
O Barroco na Espanha
Do século XVII até a primeira metade do século
XVIII o Barroco expandiu-se da Itália para toda a
Europa e ganhou, em cada país, características
próprias, como é o caso da Espanha e dos Países
Baixos, que veremos adiante.
Um traço original do Barroco espanhol encontra-se
na arquitetura, principalmente nas portadas dos
edifícios civis e religiosos, decoradas em relevo. A
pintura espanhola foi muito influenciada pelo
Barroco italiano, principalmente no uso expressivo
de luz e sombra, mas conservou preocupações
próprias: o realismo e o domínio da técnica. Entre os
Cristo expulsando os vendilhões do Templo, de El Greco.
El Greco: as formas alongadas
El Greco (1541-1614) nasceu na ilha de Creta,
Grécia, e mais tarde foi para Roma. Após um breve
período em Madri, partiu para Toledo, na Espanha,
onde se instalou definitivamente. Seu nome
verdadeiro era Domenikos Theotokopoulos, mas seu
apelido – El Greco – reuniu as três culturas que o
influenciam: o artigo “el” do espanhol, o substantivo
“greco” do italiano, e o significado “o grego”, que
indica sua origem. Sua pintura é marcada pela
verticalidade: figuras esguias e alongadas que
deixam de lado o ideal de beleza do Renascimento
italiano, em que o corpo humano é representado com
formas perfeitas. É o que pode ser observado no
Espólio, de El Greco.

Nesse quadro pintado para a


catedral de Toledo, Cristo aparece
cercado por uma multidão.
Olhando atentamente as figuras
notamos suas linhas verticais. Em
primeiro plano, à esquerda, três
mulheres observam o trabalho do
carpinteiro que prepara a cruz.
As lanças e as fisionomias
grosseiras das figuras opõem-se à
expressão serena de Cristo, cuja
túnica vermelha contrasta
fortemente com as cores cinzentas
ou pálidas das
Dimensões: 2,85outras
m X personagens.
1,73 m. Sacristia da Catedral de Toledo.
Cristo carregando a cruz, de El Greco.

São Sebastião, de El Greco.


Velázquez: retratos da corte
espanhola

Velázqugez (1599-1660), assim como


Caravaggio, trabalhou a luz em contraste com
a sombra. Tornou-se famoso por retratar a
corte espanhola do século XVII. Entre esses
retratos está As meninas, uma de suas obras
mais importantes.
As meninas (1656-1657), de Velázquez.

Essa pintura é
considerada uma das
obras-primas de
Velázquez. Vejamos
algumas das razões para
isso. Primeiro, observe o
contraste entre luz e
sombra que o pintor
constrói para criar o
ambiente. Note a
impressão de
profundidade obtida pela
distribuição dos 3,18
Dimensões: objetos,
m X 2,76 m. Museu do Prado, Madri.
As meninas (1656-1657), de Velázquez.

O próprio Velázquez
aparece na cena,
pintando o rei Felipe IV
e sua esposa Mariana, da
Áustria. O casal real
aparece apenas refletido
no espelho ao fundo. É
como se ambos
estivessem de costas para
o observador e de frente
para o pintor, que os
observa atentamente.
Dimensões: 3,18 m X 2,76 m. Museu do Prado, Madri.
As meninas (1656-1657), de Velázquez.

Vemos ainda a filha do rei, a


infanta Marguerita,
acompanhada de outras
pessoas, e um cachorro,
formando um grupo em
primeiro plano, sob luz mais
intensa, próximo de uma janela
aberta. Outra área de luz mais
forte está ao fundo, onde
aparece, através da porta
aberta, um funcionário do
palácio. Note a postura de
saudação do grupo das
meninas diante do3,18
Dimensões: casalmreal.
X 2,76 m. Museu do Prado, Madri.
As meninas (1656-1657), de Velázquez.

Por fim, é possível notar


que a composição da cena
desperta duas curiosas
impressões no observador:
a de que o espaço do
quadro continua na sala do
museu em que está
exposto e a de que ele
mesmo também faz parte
da cena: as pessoas que
olham para os reis e os
saúdam parecem olhar e
cumprimentar também
Dimensões: 3,18 m X 2,76 m. Museu do Prado, Madri.
O triunfo de Baco, de Velázquez.
Vênus e o seu espelho, de Velázquez.
O Barroco nos Paises
Baixos
Nos Países Baixos o Barroco desenvolveu-se
em duas grandes direções, sobretudo na
pintura. Na Bélgica manteve as linhas
movimentadas e a forte expressão emocional.
Já na Holanda ganhou aspectos mais
próximos do espírito prático e austero do
povo holandês; daí a pintura apresentar uma
tendência para a descrição de cenas da vida
doméstica e social trabalhadas com minucioso
Rembrandt: a gradação da
claridade
A pintura de Rembrandt (1606-1669) revela
um pintor que trabalha com precisão os
efeitos da luz. O que dirige nossa atenção não
é propriamente o contraste entre luz e sombra,
mas os diversos graus de claridade, os meios-
tons, as penumbras que envolvem áreas de
luminosidade mais intensa. É isso, por
exemplo, o que se vê no quadro Lição de
anatomia.
Aula de anatomia do doutor Tulp, de Rembrandt.

Aqui Rembrandt parece surpreender o professor e os estudiosos em plena atividade de


dissecação. Se observarmos bem esse quadro, notaremos que o trabalho do pintor com
a penumbra torna os espaços indefinidos.
Aula de anatomia do doutor Tulp, de Rembrandt.

Além disso, o uso da luz – intensa no corpo do cadáver e suave no rosto atento e
curioso dos ouvintes – transmite o clima de descoberta e de pesquisa que a cena
representa.
Prissão de Sansão, de Rembrandt.
Meditação, de Rembrandt.
O guarda noturno, de Rembrandt.
Vermeer: a delicadeza da vida
comum
Diferentemente de Rembrandt, Vermeer
(1632-1675) trabalha os tons em plena
claridade. Seus temas são sempre os da
vida das pessoas comuns da Holanda
seiscentista. Seus quadros documentam
com delicada beleza os momentos simples
da vida cotidiana.
Mulher de azul lendo uma carta, de Vermeer.

Observe o quarto cheio


de luz e a suave
harmonia de cores e
formas. Como essa,
muitas outras pinturas
de Vermeer que
retratam ocupações
domésticas em
interiores mostram um
belo trabalho com os
efeitos de luz.
Dimensões: 46,6 cm X 39,1 cm. Rijksmuseum, Amsterdã.
Mulher de brinco de pérola, de Vermeer.

O Geógrafo, de Vermeer.
Mulher lendo carta com a janela aberta, de Vermeer.

Tocadora de Guitarra, de Vermeer.

Você também pode gostar