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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE


SUBSECRETARIA DE SAÚDE
COORDENAÇÃO DE VIGILÂNCIA AMBIENTAL EM SAÚDE
DIVISÃO DE FATORES DE RISCOS BIOLOGICOS

MANUAL PARA MANEJO DE MORCEGOS


E CONTROLE DA RAIVA

APRESENTAÇÃO

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APRESENTAÇÃO

Este pequeno manual tem como objetivo mostrar a importância ecológica


do morcego e seu impacto na vida do Homem, bem como orientar seu manejo, de
maneira a não quebrar o equilíbrio ambiental decorrente de sua existência,
mesmo sem haver o convívio direto.

É fruto de um árduo trabalho de campo e de consultas da equipe citada


que é coordenada por Paulo Roberto Almeida Barbosa SES/RJ, Drª. Phyllis
Catherina Romijn Médica Veterinária pesquisadora da PESAGRO e Walace
Guimarães Osório SES/RJ.

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MORCEGOS

São animais de hábitos noturnos. Iniciam suas atividades ao entardecer


(crepúsculo) prolongando-se por toda noite. O morcego é o único mamífero com
capacidade de vôo, graças à membrana que envolve quatro dos seus cinco dedos,
transformando assim, seus braços em asas.

Há aproximadamente 1.070 espécies diferentes de morcegos, e


representam ¼ de toda a fauna de mamíferos.

O morcego pertence à ordem Chiroptera, que é dividida em duas


subordens e 18 famílias, da seguinte forma:

• MEGACHIROPTERA – 1 família

• MICROCHIROPTERA – 17 famílias

No Brasil existem cerca de 150 espécies de morcegos, e nas Américas,


300 espécies, todas da ordem Microchiroptera.

Durante o dia, seus abrigos são locais tranqüilos e escuros, como:


cavernas, fendas de rochas, bueiros, casas abandonadas, forros de casas, copas e
ocos de árvores.

Equipe de Zoonoses / SES-RJ

Só não existem morcegos em algumas ilhas oceânicas muito afastadas do


continente, e em regiões polares.

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Os morcegos não são cegos como muitos pensam, possuem excelente
visão. Para auxiliá-lo na sua localização, utiliza além da visão um sistema
chamado ecolocalização, que consiste em emitir ultra-sons, ecoando no que
estiver a sua frente. Este eco é captado pelos seus ouvidos que são muitos
sensíveis. Desta forma, calculam a que distâncias estão os obstáculos e seus
alimentos. Podem voar em locais completamente escuros. Só os morcegos da
subordem microchiroptera têm o sistema de ecolocalização.

Fonte: Embrapa

O aumento populacional dos morcegos, nas áreas domésticas, deve-se


principalmente ao fato do Homem estar de uma forma direta ou indireta,
fornecendo abrigo e alimento.

Alimentação
Os morcegos são os mamíferos mais versáteis quanto ao tipo de
alimentação. Cerca de 70% das espécies alimentam-se de insetos, são os
morcegos insetívoros. São úteis ao Homem por eliminar insetos que lhe são
nocivos e representam uma praga para a agricultura, assim esses morcegos
permitem a utilização de menos inseticida.

Fonte: Instituto Pasteur Fonte: Instituto Pasteur

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Poucas espécies são carnívoras, alimentam-se de anfíbios, lagartos, ratos e
camundongos, podendo ainda complementar sua dieta com insetos e frutas.
Nesta categoria podemos incluir os morcegos pescadores.

Fonte: www.icb.ufmg.br Fonte: www.universe-review.ca Fonte: www.fst.com.br

A espécie nectarívora ou polinívora alimenta-se do néctar das flores que


se abrem à noite, ajudando assim na polinização e produção de alimentos.

F o n t e : www.bdt.fat.org.br F o n t e : www.flickr.com

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A espécie frugívora alimenta-se de frutas, espalhando assim as sementes
por onde passa. O frugívoro contribui de forma direta no reflorestamento de
áreas atingidas por queimadas e destruídas pelo Homem. Podem espalhar
milhares de sementes em uma só noite.

Fonte: www.batcon.org Fonte: www.batcon.org

Fonte: www.Geocites.com

Basicamente os morcegos mais comuns nas cidades são:

• Insetívoros, os Nectárivoros e os Frugívoros.

Obs.: Apesar de terem hábitos alimentares diferentes, com exceção dos


hematófagos, todos podem complementar sua dieta com insetos.

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MORCEGO HEMATÓFAGO

Fonte: Equipe de Zoonoses / SES-RJ

O morcego hematófago só se alimenta de sangue. Isso nos coloca em risco? Sim.

Portanto eu posso capturá-lo? Não. Só os técnicos das Secretarias de


Saúde ou da Agricultura treinados, submetidos devidamente ao tratamento anti-
rábico e autorizados podem fazê-lo, isso nos termos da lei, Nº 5197 de 03 de
janeiro de 1967, que protege os animais silvestres.

Mais à frente você aprenderá o que é feito quando um técnico das


Secretarias de Saúde ou Agricultura captura e identifica um morcego
hematófago.

Na cidade, em residências próximas as matas (áreas silvestres) e meio


rural os morcegos que podem nos causar problemas são os morcegos
hematófagos, popularmente chamados de vampiros. É representado por três
espécies, que são: Desmodus rotundus, Diphylla ecaudata e Diaemus youngi.

www.fst.com..br www.morcegolivre.vet.br www.morcegolivre.vet.br

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Das três espécies de morcegos hematófagos, só o Desmodus rotundus
alimenta-se de sangue de mamíferos. O Diphylla ecaudata e o Diaemus youngi
alimentam-se de sangue de aves, e raramente completam sua dieta com
mamíferos.

Os dois últimos não devem sofrer controle dos órgãos oficiais, pois por se
alimentarem quase que exclusivamente de sangue de aves que repousam em
árvores, não tem importância epidemiológica. Para evitar que causem
problemas, basta prender as aves em galinheiro fechado, caso contrário às aves
podem morrer de anemia.

Os morcegos hematófagos são maus reguladores térmicos, não suportando


baixas temperaturas por muito tempo.

Deve-se atentar que, como qualquer mamífero, todo morcego doente ou


infectado pelos vírus da Raiva, seja hematófago ou não, pode transmitir a
doença. No Brasil, tem-se conhecimento de que, em várias espécies foi
confirmada a presença do vírus rábico.

A incidência de mordidas ao Homem, deve-se ao fato do mesmo estar


invadindo o ambiente silvestre ou de transição. De um modo geral os morcegos
hematófagos só mordem o Homem quando não encontram animais silvestres ou
domésticos para se alimentar, já que somos fonte secundária. Os morcegos não
hematófagos só mordem em defesa própria ou se estiverem doentes.

Fonte: Fonte: Fonte:


www.Library.Thinkquest.org www.Library.Thinkquest.org www.Library.Thinkquest.org

Instituto Pasteur

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O morcego hematófago faz uma pequena incisão na pele do animal e
lambe o sangue que vai escorrer (conforme foto acima). Como ele possui uma
substância anticoagulante na saliva, o sangue flui do ferimento por mais tempo.
A característica de um animal mordido pelo morcego hematófago é a marca de
sangue escorrido que fica evidente no animal. Se o morcego estiver infectado
por vírus da Raiva, vai transmitir pela saliva, por onde os vírus são eliminados.
O morcego faz a incisão no animal, localizando um vaso capilar através do calor
que é detectado por sensores localizados no nariz (termorecepção). Não morde
em qualquer lugar, vai ao local certo. A mordida nas aves não tem importância
epidemiológica na transmissão da Raiva, porque as aves não são suscetíveis à
virose, porém a perda constante de sangue pode levá-las á morte por anemia.

Hábitos

O morcego hematófago tem o hábito de voltar ao mesmo animal para se


alimentar, aproveitando a ferida já aberta. Por isso, deve-se passar a pasta
vampiricida no ferimento feito por ele no animal. O uso da pasta não faz mal
aos herbívoros (cavalo, boi, carneiro...) considerando a sua massa corporal.

Fonte: Instituto Pasteur

Obs.: Não se deve nunca colocar pasta vampiricida em animais de estimação ou


aqueles que têm o hábito de se lamberem constantemente.

9
Fonte: Instituto Pasteur

Ao sair do abrigo em busca de sangue, o morcego hematófago seleciona


sempre o animal mais dócil e calmo que está mais acessível, geralmente os
animais das extremidades. Faz seu vôo rasteiro utilizando o espaço entre a
vegetação, que chamamos de rua, pousando próximo do animal. A característica
do vôo deve ser levada em consideração ao realizarmos a captura da espécie.

Ao capturar, identificamos a espécie e separamos os não hematófagos dos


hematófagos em gaiolas ou sacos diferentes. Os não hematófagos são soltos ao
final da ação e nos hematófagos, fêmeas, passamos no dorso, uma pasta
vampiricida (composta de warfarina a 2% em vaselina sólida) com propriedades
anticoagulante, que vai ser repassada a outros morcegos da colônia por contato
corporal, causando paralisia devido à hemorragia, que o leva a morte.

Fonte: Equipe de Zoonoses / SES - RJ


Fonte: Equipe de Zoonoses / SES-RJ

O morcego tem o hábito de lamber-se, ingerindo assim a pasta que o leva


a morte por hemorragia (figuras abaixo), já que a pasta aplicada no morcego
contém produto anticoagulante.
10
:
Fonte: Dr. Clayton B. Gitti
Instituto Pasteur

O morcego transmite várias doenças, sendo a principal delas a Raiva. São


transmissores de vírus, bactérias, parasitas unicelulares e fungos.

Abrigos

Os abrigos diurnos representam os locais onde os morcegos repousam


durante o dia. Por passar cerca de metade de seu tempo diário nesses locais, os
abrigos devem oferecer condições físicas mínimas que permitam a sobrevivência
dos morcegos. Geralmente, fatores como estabilidade da temperatura ambiente,
a umidade relativa do ar e a luminosidade determinam à sua ocupação, ou não.

Fonte: Instituto Pasteur

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Fonte: Instituto Pasteur

Devem oferecer condições que permitam o acasalamento, o parto e a


criação de filhotes, as interações sociais e a digestão do alimento consumido
durante a noite, e, ainda, proteção contra intempéries ambientais (chuva, vento e
insolação) e de possíveis predadores.

A evolução do sistema de ecolocalização é apontada como o fator


determinante na diversificação dos tipos de abrigos utilizados pelos morcegos.
Por causa disso, os morcegos da subordem microchiroptera obtiveram sucesso
em ocupar o interior de cavernas e fendas de rocha, onde a ausência de luz é
total. De modo geral, podemos classificar os abrigos de internos (cavernas,
fendas de rocha, ocos de árvore e edificações) e externos (folhagem, ocos de
tronco de árvores).

Os morcegos podem fazer uso de abrigo também durante os períodos


noturnos, sendo estes denominados de abrigos noturnos, abrigos noturnos
temporários, pouso noturno ou digestório. Os abrigos noturnos são locais para
onde os morcegos levam o alimento (frutos, artrópodes e pequenos vertebrados)
para serem consumidos. No chão desses abrigos, podem-se encontrar restos
alimentares e fezes.

O morcego hematófago pode viver até 20 anos, e sua gestação é de sete


meses. Tem um filhote por gestação. A fêmea alimenta seu filhote através das
mamas que ficam entre a asa e o peito, carregando-o onde for grudado em seu
corpo até não poder mais transportá-lo, quando então traz o alimento até ele.

Não se deve entrar em cavernas à procura de colônias de morcegos sem


equipamento adequado, pois ali estão presentes grandes quantidades de fungos e
bactérias nocivas ao Homem.

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Em casas que tenham forros ou não, as entradas de ar não podem ficar sem
tela. No caso de haver morcego, deve-se expulsar a colônia, sem mortes
(conforme orientação técnica) para não haver desequilíbrio ecológico. O
morcego, quando acometido de Raiva na fase paralítica, não obrigatoriamente
perde a capacidade de morder, já que a paralisia nem sempre atinge a sua
mandíbula.

Métodos de Captura

Para que possamos aumentar a eficiência de uma captura é necessário que


a equipe chegue com antecedência ao local, para melhor planejar a estratégia de
ação, como, por exemplo, prever os equipamentos a serem utilizados, sua
quantidade e o método mais adequado para a situação.

Existem três métodos de captura:

Captura manual: Esse método é utilizado, principalmente, em locais


onde os morcegos ficam alojados em pequenas frestas (cumeeiras, beirais, rufos,
pedras, etc). Em algumas situações, utilizam-se instrumentos flexíveis (tipo
arame), que possibilitem desalojar os morcegos de seu abrigo. A captura se faz
com o auxilio de pinça e com a mão protegida por luva de couro.

Captura com puçá ou coador: Esse método é empregado para capturar


morcegos em seus abrigos diurnos, (cavernas, minas, bueiros, sótãos, em
folhagens, etc), ou quando abandonam o abrigo para atividade alimentar (ocos
de arvore, juntas de dilatação, frestas de edificações, etc).

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Captura com redes-de-espera (tipo mist-met): Esse método é utilizado
para capturar morcegos em frente a Abrigos (cavernas, edificações, bueiros,
etc), junto de fontes de alimentação (currais, casas, chiqueiros, galinheiros,
árvores, cursos de água, etc.) e rotas de vôo (clareiras, trilhas, estradas, cursos
de água, etc.).

Fonte: Equipe Zoonoses / SES - RJ Fonte: Equipe Zoonoses / SES - RJ

O morcego hematófago realiza vôo rasteiro, a fim de alimentar-se do


sangue do animal que se encontra no solo. Deste modo, após ter escolhido o
local, a rede para captura deve ser armada o mais próximo do chão; para a
captura dos não hematófagos, a rede deve ficar mais no alto, próximo à sua
fonte de alimentação. As redes devem ser afixadas em estacas, onde os cordões
guias devem ficar esticados horizontalmente e as malhas soltas, formando
bolsas, onde os morcegos, após se chocarem contra a rede, ficam emaranhados.
Se as malhas ficarem muito esticadas a rede funcionará apenas como anteparo,
não permitindo o enredamento dos morcegos.

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RAIVA

A Raiva é uma doença infecciosa de curso agudo, causado por vírus da


Família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus, levando a inclusive no homem.

É transmitida pela saliva de um animal infectado, geralmente através de


uma mordedura. O vírus da Raiva ao infectar o Homem, penetra no organismo
do hospedeiro através da inervação periférica (antes, porém, é replicado no local
da lesão). Atingindo o sistema nervoso central, causa a ¹encefalomielite aguda,
vindo a causar paralisia dos membros que progride em direção à cabeça. Leva o
indivíduo à morte por parada cárdio-respiratória. Pode ainda difundir-se pelos
nervos periféricos até as glândulas salivares dentre outros órgãos.

RAIVA HUMANA

O principal transmissor é o cão. A doença manifesta-se após um período


de incubação usualmente compreendido entre 20 e 60 dias, o que depende da
quantidade de vírus inoculado pela mordedura, bem como da distância da zona
de inoculação ao sistema nervoso central.
Cérebro

• Cab e ça ± 30 d ias

• Memb ros sup er ior es ± 40 d ias Medula


Replicação viral
• Memb ros inf er ior es ± 60 d ias

Nervo motor

Replicação viral
Glândula salivar

Saliva de animal
contendo vírus rábico

Ilustração: Luana Maria – Equipe de Zoonoses / SES-RJ

1
Encefa lo mielite Aguda
ƒ I n f l a ma ç ão g en er a l i zada n o c ér eb r o
ƒ N ervos per if ér icos – Nervo s d a mu sc u la tur a

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A RAIVA CANINA

No cão a doença inicia-se após uma incubação de 3 à 6 semanas,


provocando um comportamento anormal, tornando-se arredio e desobediente.

Cérebro

Medula

Saliva
Infectada

Glândula
Salivar

Replicação Viral

Nervo Motor

Replicação
Viral Músculo

Da agressão (infecção) à doença.

O cão é o animal que mais infecta o Homem na cidade e no campo, porém,


o morcego é o transmissor de vírus Rábico que mais infecta os animais no meio
rural.

www.jilo.turmadobar www.unimedara

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A RAIVA BOVINA
Nos bovinos, a Raiva assume a forma paralítica, sendo extremamente rara
ou acidental a contaminação direta do Homem. Nos herbívoros a fase excitativa
geralmente é curta ou ausente, passando da fase prodrômica para a paralítica.

Instituto Pasteur

CICLOS DE TRANSMISSÃO

Didaticamente existem quatro ciclos de transmissão de vírus rábico que


podem atingir o Homem, que são:

Aéreo - morcego para morcego.

Silvestre - morcego para mico, macaco, raposa e etc.

Urbano – morcego para seres humanos, cachorro, gato e etc.

Rural - morcego para cão, boi, cavalo e outros animais de criação e


eventualmente seres humanos.

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FASES

Classicamente a Raiva é descrita em três fases, Prodrômica, Excitativa


e Paralítica:

Prodrômica é quando ocorre o período de incubação, podendo levar de


dois a três dias, com manifestação de pequenas alterações comportamentais,
tais como hiperexcitabilidade aos estímulos externos (luz, ruídos,
deslocamentos de ar, etc...).

Excitativa é a fase em que o animal torna-se agressivo, investindo


contra outros animais, pessoas que estejam próximas a ele e até contra objetos
inanimados. Diz-se estar o animal acometido pela Raiva, na sua forma
furiosa. Essa fase pode durar em torno de três a sete dias (nos herbívoros,
essa fase geralmente é curta ou ausente).

Paralítica é a fase que ocorre após a excitativa, caracterizada por


paralisia progressiva, geralmente desenvolvendo-se dos membros inferiores
em direção à cabeça. A morte por asfixia ocorre quando a paralisia chega à
musculatura respiratória.

Instituto Pasteur

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SINAIS
A infecção do sistema nervoso central pelos vírus rábicos manifesta-se
no Homem e nos animais por alterações de comportamento, agitação intensa e
falta de coordenação motora, resultante da paralisia progressiva da
musculatura do corpo. Com a paralisia dos músculos da mandíbula, não se
consegue ingerir alimentos, beber água ou engolir a própria saliva, por isso o
indivíduo baba. Quando o paciente tenta beber água, ocorrem contrações
intensas na musculatura da garganta, acompanhadas de dor. Por isso se fala
em “hidrofobia”, medo ao ver ou ouvir o ruído de líquido escoando. Pequenas
correntes de ar causam dor, espasmos, e ele desenvolve “aerofobia”. Ocorrem
convulsões e a morte se dá por parada respiratória.

A confirmação da suspeita de Raiva obrigatoriamente passa pelo


diagnóstico laboratorial, através das provas de imunofluorescência direta e
biológica.

Imunofluorescência Direta: É uma técnica que utiliza anticorpos


marcados com a Fluoresceína que determinam à presença de vírus. É
pesquisada a presença de “corpúsculos de Negri”, que são inclusões contendo
proteínas virais no citoplasma da célula nervosa.

Na prova biológica prepara-se uma solução com materiais suspeitos,


que é inoculado em camundongos, ficando estes em observação por vinte e um
dias. Se há vírus rábico no material inoculado, os camundongos geralmente
adoecem em cerca de cinco a dez dias, apresentando paralisia entre sete a
quinze dias (prazo médio), morrendo em seguida.

MATERIAL GENÉTICO

Uma fita de RNA e Proteínas que caracterizam a Partícula Viral, e as


glicoproteinas, que permitem a adsorção dos vírus de se ligar à célula que vai
infectar, e que estimula o organismo infectado a produzir anticorpos.

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Prevenção
A prevenção da ocorrência de casos de Raiva se dá com a vacinação de
todo animal doméstico susceptível à Raiva e com o combate ao morcego
hematófago, quer seja na cidade ou no meio rural. A vacinação deve ser da
seguinte forma:

Área Epidêmica – de seis em seis meses;

Área Endêmica e Esporádica – uma vez ao ano.

A vacina usada é a “inativada”, que deve ser acondicionada a uma


temperatura que varia de dois a oito graus Celsius.

O estudo sobre a Raiva começou em 1880 e sua vacina foi criada em


1885 por LOUIS PASTEUR, sendo usada pela 1ª vez em Paris, chegando ao
Brasil em 1888. A descoberta da virose em morcegos foi do médico Italiano,
ANTONIO CARINI, no início do século XX, em Santa Catarina, Brasil.

Só é possível à profilaxia antes da infecção chegar ao sistema nervoso


central. Após, o individuo estará condenado à morte.

Se agredido por cão, morcego ou qualquer animal silvestre lave


imediatamente a ferida com água e sabão. As partículas virais ficam no local
da lesão para se replicar e o sabão desfaz a gordura do envelope viral,
destruindo-os e impedindo que penetrem na célula.

São aplicados: a vacina + o soro anti-rábico.

A vacina tem como objetivo a formação de anticorpos.

Os soros já têm anticorpos prontos.

Animais silvestres como: macaco, mico, raposa e outras espécies


também são importantes transmissores dos vírus rábicos para outros animais,
inclusive ao Homem. Por isso é desaconselhável tirá-los de seu ambiente
natural. Quando mordido por um cão, este deve ficar em observação por 10
dias.

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CONSIDERAÇÕES GERAIS

O objetivo deste manual é facilitar a compreensão da relação entre o


Homem e o meio em que vive, nos aspectos epidemiológicos, sócio-
econômico, político, cultural e ecológico, especificamente em relação aos
MORCEGOS.

1. Na relação entre seres humanos e o meio em que vivem temos como


objetivo transmitir e ajudar no desenvolvimento do individuo quanto a sua
responsabilidade para com a saúde pública, sempre preservando a ecologia;

2. No aspecto epidemiológico, a proximidade entre o Homem e o


morcego nos espaços urbano e rural, deve ser compreendida como parte
integrante do meio ambiente em transformação. Considerando-se a dinâmica
dos fatores e os processos produtivos implantados pelo Homem, a integração
entre as espécies animais muda e pode trazer consigo desequilíbrios que
propiciam o surgimento de doenças;

3. Os seres humanos mais diretamente expostos aos riscos de contato


com morcegos são aqueles de baixa renda, por viverem em condições muito
precárias, embora todos possam sofrer as conseqüências, indiferentemente da
classe social a que pertençam. A maior freqüência de mordidas por morcegos
hematófagos ocorre aos animais domésticos e de criação, ao redor das casas,
que são geralmente abertas ou permitem fácil acesso aos morcegos
hematófagos. Os seres humanos entram como fonte secundária de alimento, já
que o morcego só o morde quando há escassez de animais;

4. Na forma política, tem o governo (federal, estadual e municipal)


como obrigação, inserir em seus quadros na área de saúde e agricultura
profissionais especializados, submetidos devidamente à profilaxia anti-rábica
(pré-exposição) e com resposta imunogênica satisfatória. O órgão atuante
deve ter como objetivo, em especial, orientar a comunidade e obter
informações quanto a abrigos e ocorrências de morcegos encontrados, assim
como agressões ao Homem e aos animais, fazer a identificação de morcegos
para eventualmente encaminhá-los ao laboratório para exames de
identificação de vírus rábico entre outros;

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5. Culturalmente nenhum outro grupo de mamífero parece estar tão
envolvido em mistérios, mitos, folclore e desinformação. Para uns representa
o mal, como chupadores de sangue, para outros o bem, como nos manuscritos
dos povos astecas, onde eram considerados deuses e estavam associados à
cultura do milho e aos rituais de fertilidade. Quanto à desinformação, fica por
conta de que muitos acham que o morcego é o rato velho que voa, pelo fato de
os morcegos insetívoros da espécie Molossus molossus ter a cauda semelhante
à do rato e habitar os cantos de forros e telhados.

6. Os morcegos representam ¼ das espécies dos mamíferos e é o grupo


mais versátil quanto a sua alimentação, podendo explorar uma grande
variedade de tipos, como frutos, néctar, pólen, partes florais, folhas, insetos
(mariposa, besouro, pernilongos e percevejos), outros artrópodes (como
escorpiões), pequenos peixes, anfíbios (rãs e pererecas), lagartos, pássaros,
pequenos mamíferos (roedores e morcegos) e sangue.

Desta forma, podemos afirmar que os morcegos têm um papel de grande


importância no meio ambiente.

Os morcegos vêm recuperando as florestas degradadas pelo Homem,


pela dispersão de sementes, aumentando a produção de alimentos, através da
polinização e diminuindo de forma considerável o uso de inseticidas, já que
70% dos morcegos alimentam-se basicamente de insetos.

Podemos afirmar, com toda segurança, que sem os morcegos haveria um


grande desequilíbrio ecológico.

Cabe ao IBAMA a fiscalização do cumprimento da lei no. 5.197 de 03


de janeiro de 1967, que protege os animais silvestres da fauna
Brasileira, bem como dar autorização aos órgãos oficiais para seu
manejo, através da portaria no. 332.

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ELABORAÇÃO

Jorge Cerqueira Querino, SES/RJ Siape 1428923.

Almir Soares de Brito, SES/RJ Siape 1430402.

Nilson Juvenal de Melo, SES/RJ Siape 1430942.

Jorge Maximiano da Silva, SES/RJ Siape 1429168.

Luana Maria P.N. Cavalcante, SES/RJ Siape 1428088.

João Junior Alves de Moraes, SES/RJ Siape 1428356.

Claudemir dos Santos Souza, SES/RJ Siape 1428813.

Celso da Silva Melo, SES/RJ Siape 1428641

Luciane da Costa Pereira, SES/RJ Siape 1430241

Helena Regina dos Santos, SES/RJ Siape 1428039

APOIO ADMINISTRATIVO

Paulo Roberto de Almeida Barbosa, SES/RJ;

Walace Guimarães Osório, SES/RJ;

ASSISTÊNCIA TÉCNICA E REVISÃO

DrªPhyllis Catherina Romijn,Médica veterinária e pesquisadora da PESAGRO.

Agradecimento especial
Ao Dr. Clayton Bernardelli Gitti, Médico Veterinário, Professor de Doença
Infecto-contagiosas na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que
muito colaborou na nossa formação além de nos fornecer vasto material
didático.

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Referências Bibliográficas

1. Ministério da Saúde, MORCEGOS EM ÁREAS URBANAS E RURAIS:


Manual de Manejo e Controle, 1998. 2. a Edição;

2. Publicações e vídeos do Instituto Pasteur:

2.1 Manual Técnico–Controle da raiva dos herbivoros Nº1,novembro de 1998;

2.2 Manual Técnico – Orientação para projetos de centros de controle de


zoonoses (CCZ) Nº 2, agosto de 2000;

2.3 Manual Técnico – Vacinação contra a raiva de cães e gatos Nº 3,


novembro de 1999;

2.4 Manual Técnico – Profilaxia da raiva humana Nº 4, novembro de 1999,


atualizado em 2000;

2.5 Manual Técnico – Educação e promoção da saúde no programa de


controle da raiva Nº 5, agosto de 2000;

2.6 Manual Técnico – Controle de população de animais de estimação Nº 6,


agosto de 2000;

2.7 Manual Técnico – Manejo de quirópteros em áreas urbanas Nº 7;

2.8 Video – Vídeos Morcegos e Raiva, julho de 2000.

3. Sites da internet:

3.1 www.batcon.org;

3.2 ARDEA ADRIAN WARREN;

3.3 www.morcegolivre.com.br;

3.4 www.embrapa.com;

3.5 www.flickr.com;

3.6 www.fts.com.br;

3.7 www.library.thinkquest.org;

3.8 www.icb.ufmg.br;

3.9 www.geocites.com;

3.10 www.universe-review.ca;

3.11 www.bdt.fat.org.br;

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