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Isabel estava à espera de um filho. A expectativa tinha sido muita porque desde
que casara com o João, ambos agora com trinta e oito anos, tinham decorrido dez anos
de malogradas esperanças. Mas quando – finalmente! – se confirmou o diagnóstico da
gravidez, todas as agruras de uma aflitiva espera se transfiguraram na alegria do
nascimento iminente.
Todos os dias eram todos para a criança a nascer. Enquanto o João andava já à
procura de cadeirinhas acopláveis ao assento do carro, a Isabel só tinha olhos para as
montras das lojas de bebés, onde namorava todo o tipo de vestimentas para todas as
estações, sempre indecisa na opção mas decidida em dar ao tão esperado filho o melhor
enxoval.
Isabel sentiu como que uma tontura, enquanto o João a abraçou sem saber
muito bem o que dizer. Na dolorosa confusão do momento, engasgou umas quantas
frases, na ilusão de que o diagnóstico pudesse não ser confirmado, mas a médica foi
peremptória no seu veredicto. Esmagados por aquele antecipado luto, os dois
regressaram a casa em silêncio, apenas intervalado pelos seus soluços.
Naquela noite, houve festa na casa do João e da Isabel porque o seu filho, que
estava perdido, foi encontrado e, estando morto, ressuscitou. Deus acendera no fogo do
seu Espírito aqueles dois corações, quais círios pascais, porque quando o amor e a vida
vencem o pecado e a morte é Páscoa. Outra vez.