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Meu tipo inesquecível

Fui leitor de números atrasados das "Seleções de Reader’s Digest”. A secção "Meu tipo
inesquecível", era a minha preferida.

Dela me lembro de um artigo, em especial. Versava sobre um dos Luízes, reis da


França. Não sei se o IX, X, XI, ou um desses algarismos romanos qualquer.

Sei que ele labutava na tarefa da unificação da França. Alvorecer dos tempos
modernos... Naqueles tempos, os reis participavam das batalhas.

O texto das "Seleções" dizia que o tal Luís, nas vésperas das batalhas, borrava-se de
medo. Mas, depois, no momento mesmo da luta, tomava as rédeas de seu cavalo e
partia, sozinho, à frente de seu exército. Os soldados o seguiam e ele vencia a batalha.

Esse Luís, durante muito tempo, foi o meu tipo inesquecível. Para mim, nesse tempo, a
verdadeira coragem não era ter medo, mas superá-lo. O verdadeiro ato de coragem era
ser capaz de, no momento mais perigoso ou mais crítico ou mais decisivo, engolir o
medo e seguir em frente e na frente de todos.

Acho que a influência do tal Luís, tipo inesquecível, durou até o fim da juventude.

Um dia, uma imagem me veio à mente. Os exércitos estão acampados, frente a frente.
Passo a noite morrendo de medo. De manhã, na frente do meu exército, tomo as rédeas
de meu cavalo, salto sobre a sela, fustigo o garanhão e parto em direção do inimigo.

No meio da exaltação mais alta, vento forte soprando no rosto, olho para trás. O
exército não se moveu. Me ferrei!

Não sei se perdi ou se ganhei com o esfumaçar do tipo inesquecível. Sei que, apesar de
insistentes convites, mesmo agora podendo, não assino a revista "Seleções". Nunca mais
li o "Meu Tipo Inesquecível”.

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