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O S É C U L O 21
EDITORA
EXPRESSÃO POPULAR
Copyright © 2002, by Editora Expressão Popular
Tradução do original:
El Siglo ETC - Erosión, Transformación Tecnológica y Concentração Corporativa em el
Siglo 21 (Edição realizada em janeiro de 2002, co-publicação de Grupo ETC, Dag
Hammarskjöld Foundation y Editorial Nordan-Comunidad. Montevidéu – Uruguai).
Tradução e revisão:
Ana Corbisier
Geraldo Martins de Azevedo Filho
Ilustração da capa
Diego Rivera, detalhe de O homem, controlador do universo (1934), afresco, Museu del
Palacio de Bellas Artes, Cidade do México - México.
Impressão e acabamento
Cromosete
APRESENTAÇÃO ......................................................................................... 7
EROSÃO ...................................................................................................... 27
Erosão ambiental ........................................................................................... 29
Erosão cultural .............................................................................................. 35
Erosão da eqüidade ....................................................................................... 42
então, surpreendem, não pelo muito que fizeram, mas pelo que
deixaram de fazer em favor do progresso social. Cada vez a
tecnologia é mais potente e a possibilidade de catástrofe é maior.
As transnacionais controlam um terço dos ativos produtivos do
mundo e três quartos do comércio mundial. Neste contexto,
conclui que aos governos nacionais resta o papel de manter o
mito da democracia, uma rede mínima de segurança social e ga-
rantir a legalidade dos contratos.
O texto também preconiza que a emergente hegemonia do
poder da Erosão, da Tecnologia e da Concentração está funda-
mentada na estratégia que compreende: a fusão das empresas
visando a concentração da produção e da distribuição de bens e
serviços; as alianças entre empresas para compartilhar e contro-
lar os mercados, fugindo das normas antitrustes dos Estados na-
cionais; e a regulamentação da propriedade intelectual mediante
licenças e patentes, inclusive sobre a vida, objetivando a apropria-
ção dos benefícios econômicos.
O processo analisado neste livro está presente e em acelerado
avanço na vida do Brasil: marcos determinantes foram a “Revo-
lução Verde”, implementada no campo, nas décadas de 1960-
70, e a reestruturação do setor produtivo e do Estado, ainda em
curso, iniciada no final dos anos 1980.
A implantação da “Revolução Verde”, sob a égide do governo
militar, acompanhou o processo de intensificação da urbaniza-
ção e da industrialização. Políticas de financiamento condicio-
nado à adoção de pacotes tecnológicos (sementes híbridas, de-
fensivos, máquinas) promoveram a subordinação da produção
agrícola aos setores financeiro e industrial e a concentração da
produção agrícola e a da terra, expulsando famílias. Parte dessas
famílias passou a fornecer a mão-de-obra requerida pelas indús-
trias emergentes e pela construção civil do processo de urbaniza-
10
1
Palast, G. “IMF’S FOUR STEPS TO DAMNATION, how crises, failures, and
suffering finally drove a Presidential adviser to the wrong side of the barricades”, The
Observer, Londres, 29 de abril de 2001.
12
INTRODUÇÃO AO SÉCULO 21
Sobre a RAFI
Esta edição de Development Dialogue marca uma transição. A
RAFI sempre assinalou, como momento de seu nascimento, uma
reunião internacional de ativistas da alimentação, convocada por
membros da RAFI em Fort Qu'Appelle, Saskatchewan (Canadá),
em novembro de 1977. Naquela ocasião, as “sementes”, a erosão
genética, a concentração empresarial em agrotóxicos e sementes
22 Pat Roy Mooney
Nos bastidores
Embora possa parecer o contrário, este trabalho levou mais de
um ano e meio para ser elaborado e foi beneficiado por muitos
conselhos. No entanto, a responsabilidade pelo resultado é exclu-
sivamente de Pat Mooney. Todos os membros da RAFI tentaram
melhorar este documento durante o processo e não é culpa deles
se algumas vezes o autor não ouviu seus conselhos ou não enten-
deu seus comentários. Como sempre, Hope Shand fez todo o pos-
sível para evitar erros científicos ou políticos, enquanto Jean
Christie, Julie Delahanty e Silvia Ribeiro preencheram lacunas e
esclareceram pontos onde era necessário. Kevan Bowkett, valioso
voluntário da RAFI, realizou um trabalho excelente na identifica-
ção e no resumo de informações e idéias sobre tecnologia e socie-
dade. Em especial, Beverly Cross em várias ocasiões resgatou o
texto inteiro, funcionando como editora científica e de texto, ao
mesmo tempo em que administrava a RAFI. Para tanto chegou a
ponto de recrutar sua família para o trabalho, a fim de cumprir
prazos sempre mutantes. Qualquer erro subsistente deve ser atri-
buído unicamente ao autor, que continuou modificando palavras
e parágrafos, às vezes até o momento de imprimir.
Produção
Este texto foi escrito durante o ano de 1999, enquanto todos
estávamos fazendo outras coisas. Começou nas férias de Natal,
no Canadá, em 1998-1999, na Agência “central” da RAFI em
24 Pat Roy Mooney
Em primeiro plano
Este trabalho é dedicado a Sven Hamrell, primeiro e único
presidente da RAFI (uma vez que estamos mudando de nome).
Sven foi o primeiro a propor o marco ETC, em 1988, e foi a
inspiração eclética da RAFI desde What Now. Com seu afasta-
O Século 21 25
Olle Nordberg
Pat Roy Mooney
EROSÃO
A erosão no meio ambiente e na cultura contribui para uma
profunda erosão nos direitos humanos
• Quase a quarta parte dos solos irrigados foi afetada pela ero-
são;
• Estamos destruindo os solos pelo menos 13 vezes mais rapida-
mente do que o tempo necessário para recuperá-los;
• Trinta e sete por cento dos 1,5 bilhões de hectares de terra
cultivada foi erodido desde a Segunda Guerra Mundial, e a
cada ano de 5 a 12 milhões de hectares sofrem erosão grave, a
um custo de substituição de nutrientes/fontes de irrigação de
pelo menos 250 bilhões de dólares por ano;
• O consumo de água doce é quase o dobro de sua renovação
anual;
• Cinqüenta e dois por cento dos estuários costeiros dos Estados
Unidos estão tão contaminados pela água que chega carregada
de elementos químicos das terras cultivadas, que a produção
marinha está seriamente ameaçada;
• A cada ano são movimentadas vinte toneladas de terra por ser
humano do planeta;
• A cada ano se extinguem 2% das línguas do planeta;
• Mais de 80% de todos os livros traduzidos são traduzidos para
apenas quatro línguas européias;
• Por volta de meados do século XXI, quase todos os ecossistemas
do mundo estarão ocupados por pessoas de língua não indígena,
incapazes de descrever, usar e conservar a diversidade
porventura ainda existente;
• O direito de usar e desenvolver a diversidade está sendo erodido
pela propriedade intelectual e pelo controle dos governos pelas
empresas;
• Existe uma erosão planetária não quantificável da participa-
ção e da inovação culturais;
• E o mais trágico é que, junto com a erosão do conhecimento,
há uma erosão da consciência social e da esperança.
O Século 21 29
Erosão ambiental
rada uma das mais perigosas – não representava nenhum perigo, a menos
que fosse ingerida por longos períodos durante a gravidez. Um ano depois a
organização de Defesa Civil dos Estados Unidos chegou à conclusão que o
“lado positivo” de uma guerra nuclear é que aliviaria a pressão demográfica
e reduziria enormemente a contaminação indústrial. E os benefícios
terapêuticos do fumo? Quando, em 1996, o governo estadunidense tentou
regulamentar os cigarros como “um sistema de distribuição de droga”, os
produtores de cigarro alegaram que os “efeitos farmacológicos” da nicotina
“não são substanciais”. Três anos mais tarde, uma das companhias anun-
ciou sua intenção de desenvolver drogas baseadas na nicotina e, no final de
1999, a Philip Morris, a companhia que 37 anos antes declarara que fumar
era benéfico, confessou que a nicotina é uma ameaça à saúde humana.
Erosão cultural
Música mundial?
A indústria, é claro, nega a erosão cultural e até a UNESCO
indica os 80 grupos de Gamelan (música folclórica da Indonésia)
que atuam nos Estados Unidos, e o crescimento da “música
mundial”.30 No entanto, a UNESCO também reconhece que o
mercado da música mundial é minúsculo e que seis companhias
multinacionais (todas do Norte) controlam 80% do mercado
mundial de música gravada (40 bilhões de dólares anuais). Cinco
multinacionais – duas das quais controlam quase a metade das
vendas – dominam o negócio da publicação de música no mundo
(controlando os direitos autorais).31 De fato, nos primeiros dias
do novo milênio houve fusões nessa indústria que aumentaram
de forma espetacular sua concentração. Quando baixar a poeira,
quatro companhias determinarão as opções musicais do mundo
inteiro.32
Acaso essas “multinacionais musicais” se interessam pela
música mundial multicultural? Há dez anos, entre 33 e 40% da
música gravada alemã provinha da Grã-Bretanha (em inglês).
Outro terço da música ouvida pelos alemães vem dos Estados
Unidos. Apesar do ingresso da MTV e da Sony no cenário musi-
cal da Europa continental, as decisões são tomadas em Londres e
Nova Iorque e os artistas são empurrados para o inglês.33 As
O Século 21 41
Rede mundial?
A indústria indica também a democratização das comunica-
ções que a Internet oferece, porém, mais de 80% da informação
na Internet está em inglês, apesar de apenas 8% da população
mundial falar inglês como primeira língua. Longe de ser o gran-
de denominador comum, a Internet serve aos ricos – onde quer
que estejam no mundo – e marginaliza ainda mais os pobres, as
mulheres e as minorias étnicas.34 Na realidade, a Rede Mundial
(www) não é muito mundial quanto a seu próprio controle.
Calcula-se que 85% da renda gerada pela Internet e 95% do
capital da Internet pertencem aos Estados Unidos.
Entre outros, os lingüistas começaram a reconhecer a gravi-
dade da homogeneização, especialmente para os pobres. Pelo
menos 70% da população do Sul recebe atenção médica de mé-
dicos e curandeiros tradicionais. Junto com suas línguas, os po-
bres estão perdendo seu conhecimento dos preparos tradicionais
que costumavam aproveitar da natureza. O idioma espanhol é
um substituto, não apenas insuficiente, mas empobrecedor do
quéchua, quando o professor e a escola não estão acompanhados
pelo médico, o dentista, o hospital e a farmácia. E, ainda assim,
se não há um equivalente espanhol do nome quéchua da parte
da planta (ou até da própria planta) necessária para curar um
mal estar, a cura morre com o quéchua. Falando de “uma des-
truição da diversidade cultural e intelectual similar à que os bió-
logos dizem que está ocorrendo nas espécies vegetais e animais”,
os lingüistas advertem que apenas 5% das línguas que ainda exis-
tem no mundo não estão em “perigo”.35 E, ainda, os falantes
daquelas línguas “em perigo” também estão em perigo.
42 Pat Roy Mooney
Uma das histórias que mais são contadas e que mais nos ale-
gram sobre a globalização é a história de quando Nelson
Mandela conheceu umas crianças inuit no Ártico canadense,
enquanto seu avião era abastecido, e com assombro ouviu-os
dizer que tinham visto sua saída da prisão pela TV. Mandela
poderia ter se espantado também se soubesse que essas crian-
ças lhe falavam em inglês porque já não podiam falar sua pró-
pria língua e, por conseguinte, tampouco podiam compreen-
der o conhecimento de seus antepassados sobre a proteção dos
frágeis ecossistemas do alto Ártico.
Erosão da eqüidade
E=TC2
Não é preciso ser um Einstein para reconhecer a nova equa-
ção do poder. A erosão exponencial de nossa biosfera – somada à
O Século 21 43
A erosão da confiança
Hoje, a indústria da biotecnologia e muitos governos nos
garantem que todos os organismos geneticamente modificados
podem ser liberados no meio ambiente sem nenhum risco, e que
todos esses alimentos transgênicos podem ser consumidos sem
preocupação por animais e seres humanos. Talvez seja verdade.
Mas a história de seus defensores é terrível. Considerando a evi-
dência histórica, não temos outra opção razoável senão supor
que estão equivocados. Que, na realidade, não sabem do que
estão falando.
No seminário de Bogéve, chegamos à conclusão de que é
preciso uma geração humana inteira para que se possa compre-
ender as implicações de uma nova tecnologia importante. Pode-
ríamos acrescentar, em conseqüência, que, como não estamos
diante de uma emergência humana, não há nenhuma razão cor-
reta para introduzir tecnologias novas até que tenhamos com-
provado sua utilidade e segurança.
A “carruagem sem cavalos” de um século atrás é um bom
exemplo. É difícil imaginar que a sociedade se opusesse ao motor
de combustão interna. Mas, com doses razoáveis de previsão e
planejamento, o mesmo poderia ter sido introduzido em um
contexto que enfatizasse o transporte público e minimizasse
O Século 21 47
Notas
1. Bean, William, The Royal Botanic Gardens, Kew, Historical and Descriptive, Londres,
Cassell and Como., 1908, p. 22.
2. Our Creative Diversity, UNESCO, 1996, p. 178.
3. “Plant Genetic Resources”, Development Education Exchange Papers, United Nations
Food and Agriculture Organization (FAO), setembro de 1993, p. 3.
4. Walter, K.S. e Gillett, H.J. (eds.), 1998. 1997 IUCN Red List of Threatened Plants,
comp. pelo World Conservation Monitoring Centre, IUCN – The World
50 Pat Roy Mooney
30. Roberts, Martin D., “World Music: The relocation of culture”, in World Culture
Report – Culture, Creativity and Markets, UNESCO, 1998, p. 204.
31. Ibid, p. 195-196.
32. “The record industry takes fright”, in The Economist, 30 de janeiro de 2000 (edição
Internet).
33. Negus, Keith, “Global Harmonies and Local Discords: Transnational Policies and
Practices in the European Recording Industry”, in Sreberny-Mohammadi, Annabelle
et al. (eds.), Media in Global Context – A Reader, Arnold, 1997, p. 271-277.
34. Human Development Report 1999, PNUD, p. 62.
35. Associated Press, “Languages: Modernization threatens cultural diversity”, 17 de maio
de 1999, distribuído por UN Wire.
36. World Information Report, UNESCO, 1997-1998, Quadro 1, p. 345.
37. A maior parte da informação contida nestes parágrafos provém de um esboço de
estudo para o Fórum Global sobre Pesquisa Agrícola, realizado em Dresden, Alema-
nha, em maio de 2000. Esse estudo, de autoria de Filemón Torres, Martín Piñeiro,
Eduardo Trigo e Roberto Martinez Nogueira, se intitula Agriculture in the XXI Century:
Agrodiversity and Pluralism as a Contribuition to Adrdress Issues on Food Security, Poverty,
and Natural Resource Conservation, Roma, GFAR, abril de 2000.
38. Freeman, Larry, The Merry Old Móbiles, Nova Iorque, Century House, 1944, p.111.
Esta informação foi obtida por Kevan Bowkett, que trabalha regularmente como
voluntário para a RAFI e hoje é imprescindível.
39. MacKenzie, Debora, “Global Infection”, in New Scientist, 10 de junho de 2000, p. 4.
40. New York Times, 29 de janeiro de 2000 (da edição Internet).
41. Paterson, Christopher, “Global Television News Services”, in Sreberny-Mohammadi,
Annabelle et al. (eds.), Media in Global Context – A Reader, Arnold, 1997, p. 151.
TRANSFORMAÇÃO TECNOLÓGICA
O aumento de poder e a complexidade ocorre
justamente quando as “matérias-primas” estão se erodindo
*
A versão em espanhol usou o termo "utileria".
54 Pat Roy Mooney
Biotecnologia
Transferência de cromossomos
Em 1998, pesquisadores japoneses nos mostraram que é
possível enxertar cromossomos inteiros – vários deles por vez
– em outras espécies. Os cientistas japoneses enxertaram três
cromossomos humanos inteiros (de nossa dotação de 23) em
um roedor. A possibilidade de mesclar e combinar cromos-
somos inteiros que possam ser enxertados em qualquer coisa,
dos fungos aos granjeiros, poderia não ter limites. Em 1999, a
O Século 21 59
Epigenética
Enquanto os cientistas britânicos e estadunidenses esta-
vam se felicitando por seu mapa do genoma humano, come-
çava um debate enorme, mas muito menos divulgado, sobre
as leis da herança genética e o papel incerto do chamado “DNA
silencioso”, ou seja, os 97% do genoma humano que Venter e
Collins consideraram que não valia a pena incluir em seu mapa.
Estão aparecendo indícios de que este material genético silen-
cioso (material que se tornou irrelevante no longo período da
evolução, à medida que nos formávamos em micro-organis-
mos, nas aberturas termais das profundidades marinhas, nas
alturas das realizações dos mamíferos), na realidade continua
tendo um papel importante em nossa evolução e em nossa
adaptabilidade imediata. Estão sendo revistas até as esqueci-
das teorias evolutivas ambientais do justamente desprestigiado
Lysenko (maligno e maníaco czar das ciências de Stalin). Mui-
60 Pat Roy Mooney
Modificação intragênica
Em parte em função da reavaliação do DNA, os cientistas
estão começando a pensar que a era das manipulações
transgênicas ou “GM” (geneticamente modificadas) poderia es-
tar chegando ao fim, quando apenas acaba de começar. Até
agora, o movimento de genes específicos, que mantêm traços
úteis ao serem transferidos de uma espécie para outra, foi
atraente para os cientistas porque estes podem ver, por exemplo,
a característica de tolerância ao frio ou a resistência a determi-
nada doença, visivelmente manifestas em uma espécie. Portan-
to, sabem que teoricamente podem isolar esta característica e
transferi-la para outra espécie que considerem que necessita
dela. Há algum tempo, os cientistas observaram também que o
gene que confere resistência a determinada doença a uma espé-
cie pode ser igual ao gene de resistência à doença de outra espé-
cie muito diferente. Enquanto isso, os epigeneticistas nos lem-
bram que temos a metade dos genes em comum com uma ba-
nana e que estamos a um punhado de genes de distância de uma
salamandra. Os cientistas especulam que estudando nosso
DNA silencioso e ativando ou silenciando diversos genes, po-
deremos obter a maior parte da diversidade genética de que ne-
cessitamos para plantas, aves ou pessoas dentro da espécie. Não
são necessários transgênicos.
Se isto está certo – e a RAFI aposta que sim – de todo
modo não diz absolutamente nada sobre a segurança do meio
O Século 21 61
A peça “Terminator”
É grande a tentação de agregar a tecnologia Terminator
ou Traitor à lista das grandes mudanças científicas que estão
dando forma ao futuro da biotecnologia. Na realidade, a
estratégia Terminator da indústria se baseia em algumas das
62 Pat Roy Mooney
Guerra biológica
Etnobombas
Todos estes problemas subsistem, mas em 1993 a RAFI
acrescentou à lista uma nova preocupação: a coleta global de
O Século 21 69
Terrorismo Terminator
A RAFI expressou pela primeira vez em Bogève, em 1987,
sua preocupação com a possibilidade de armas biológicas serem
dirigidas contra culturas agrícolas; nossas advertências não
provocaram maior interesse até que, em 3 de março de 1998,
O Século 21 71
3000000
2500000
2000000
1500000
1000000
500000
0
1 Mt Bomba de hidrogênio 1.000 kg Sarin 100 kg Anthrax
Fonte: Grupo Ad Hoc dos Estados Participantes da Convenção sobre Proibição de Desenvolvimento,
Produção e Armazenamento de Armas Bacteriológicas (Biológicas) e Toxinas e sobre sua Destruição, “Plan
Pathogens Important for the BWC”, Working Paper da África
Ataque à traição
Então, em junho de 1999, Scientific American publicou
um relatório assombroso, de pesquisadores da Universidade
de Bradford, na Grã-Bretanha, que descrevia a pesquisa em
guerra biológica vegetal e animal, não apenas na África do
Sul, mas também nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Rússia
e Iraque. Parte dessa história remonta à Segunda Guerra Mun-
dial ou à Guerra do Vietnã, mas o trabalho do Iraque ocorreu
na década de 90 e incluiu a bioengenharia de agentes
patogêncios do trigo, que poderiam ter devastado a segurança
alimentar do Oriente Médio.11
Na realidade, o agroterrorismo, como tática entre as gran-
des potências, não é a exceção, mas a regra. Na Primeira Guerra
Mundial, os franceses desenvolveram agentes patogênicos para
aniquilar os animais da cavalaria alemã e os alemães lançaram
uma elaborada estratégia que arrasou o gado da Romênia, assim
como o gado e o trigo armazenado (para ser exportado aos alia-
dos na Europa) na Argentina e possivelmente em outros países
da América do Sul. A campanha alemã também foi dirigida
contra embarque de cavalos de guerra e de tiro no leste dos
Estados Unidos e ao longo de toda a frente ocidental.12
É amplamente reconhecido que os Estados Unidos destruí-
ram a colheita de trigo do Vietnã do Norte na década de 60 e
tentaram disseminar doenças entre as culturas de exportação da
O Século 21 75
Terminator e Genocídio
A tecnologia Terminator ameaça a vida e a subsistência de
1,4 bilhões de pessoas, cuja segurança alimentar depende das
sementes guardadas pelos pequenos agricultores. A exporta-
ção de sementes Terminator deveria ser questionada em fun-
ção da Convenção de Armas Tóxicas e Biológicas e também
em função do Art. 2o da Convenção sobre o Genocídio. A
O Século 21 83
Nanotecnologia
Que é a nanotecnologia?
A nanotecnologia é, para a matéria inanimada, o que a
biotecnologia é para a matéria animada. Enquanto os que usam
a biotecnologia lutam para obter o controle de 40% da eco-
nomia mundial baseada em biomateriais, os defensores da
nanotecnologia buscam novas maneiras de controlar o resto
da Terra: não apenas os 60% de matéria inanimada, mas to-
dos os recursos baseados no carbono As biotecnologias se ba-
seiam no carbono, mas, embora a pesquisa em nanotecnologia
se concentre por enquanto nos átomos de carbono, ela englo-
ba potencialmente toda a Tabela dos Elementos; a vida se ba-
seia no carbono. Os átomos que compõem as moléculas que
estruturam o DNA são de carbono.
Claro que é possível conectar a biotecnologia e a
nanotecnologia, o que, aliás, está sendo feito. O desenvolvimento
O Século 21 85
Mito ou monstro?
Interesse científico
Um bom indicador do interesse e do compromisso cientí-
ficos é o número de referências à nanotecnologia na literatura
científica. Se não há referências, significa que não há interesse.
Em 1988, os títulos que incluíam a nanotecnologia no vene-
rável ISI Citation Index eram menos de 250. Dez anos de-
pois, segundo Michael Cross, autor de Travels to the
Nanoworld, o número de citações nos primeiros oito meses
de 1998 chegou a cerca de quatro mil e já era muito maior
que o total de citações sobre o assunto em 1997.26 Tudo faz
supor que desde o estudo de Cross até agora, a taxa de acelera-
ção do interesse aumentou.
O Século 21 93
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98
500
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300
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100
0
1198 1999 2000 2001
Patrocinadores comerciais
Mas a nanotecnologia não é reserva exclusiva de governos
e acadêmicos. Diferentemente da biotecnologia em seus
primeiros tempos, algumas empresas muito grandes estão
investindo também nesta tecnologia. Como a chave do êxito
da nanotecnologia está em sua capacidade de auto-reprodução,
não deveria nos surpreender que um dos líderes da pesquisa
seja a Xerox, a empresa que encabeçou a indústria global da
fotocópia. Em seus laboratórios de Palo Alto, a Xerox conseguiu
certo êxito no desenvolvimento de robôs modulares que se
auto-ajustam.31 Outra antiga participante do negócio das
máquinas de escritório, a IBM, também está examinando
formas de nanomáquinas se construírem a si mesmas – e
projetar novos computadores. Cientistas da IBM pensam que
poderiam desenvolver máquinas muito mais poderosas do que
os supercomputadores de hoje. Esses computadores poderão
ser postos no bolso, e trabalhar com o calor do corpo. A IBM
especula que seria possível injetar nanocomputadores
superinteligentes na corrente sanguínea, operados por baterias
minúsculas, de vida mais longa que a do paciente, para
possibilitar diagnósticos instantâneos sobre a saúde do cliente.32
Esta pesquisa pioneira, excepcionalmente chegou ao
conhecimento da revista Nature, o que é indício seguro de
que a ciência convencional está levando a sério a nanotecno-
logia. Além das empresas previsíveis, como a Xerox e a IBM,
analistas industriais sugerem que grandes companhias
96 Pat Roy Mooney
140
120
100
80
60
40
20
0
89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99
O Século 21 97
A nova revolução
De acordo com um estudo patrocinado pela UNESCO,
em 1996, “a nanotecnologia será a base de todas as tecnologias
no próximo século”. O estudo prevê que “em 2010 ou 2020”
a nanotecnologia poderá ter um impacto maior que o da Re-
volução Industrial e afirma com entusiasmo que “a nanotecno-
logia é a conseqüência lógica e o destino final de nossa busca
de domínio e manipulação da matéria.”33
Não-não tecnologia?
Assim como no caso da biotecnologia, não estou querendo
dizer que é preciso abandonar este campo de pesquisa. Mas
agora – antes que o entusiasmo comercial e as pressões
empresariais sejam demasiado grandes – a sociedade deveria
estabelecer as regras e as normas básicas para esta pesquisa. E
seria preciso ter o máximo cuidado para que – diferentemente
do que aconteceu com a biotecnologia – a sociedade não perca
o controle desta tecnologia.
Em 1o de janeiro de 2000, o Wall Street Journal começou o
novo milênio apresentando a seus leitores “o atrativo do
liliputiano”. Em um artigo que resumia o potencial social e
comercial da nanotecnologia, o Journal terminava com uma
reflexão: “e finalmente, devemos perguntar-nos se é desejá-
vel”.34 Em 21 de janeiro de 2000, Bill Clinton respondeu a
esta pergunta, quando foi a Palo Alto, na Califórnia, para anun-
ciar sua National Nanotechnology Initiative, com 497 milhões
de dólares de fundos disponíveis para o ano fiscal de 2001.
98 Pat Roy Mooney
Ficçãocientífica:nãofuncionaráforadolaboratório.Estaengenhariadesafiaasleisnaturais.
Nadécadade80,cientistasconvencionais,tantona AlgunscientistaspensamquemanipularaTabelados
agriculturaquantonamedicina,advertiram Elementosprovocariaumchoquecomasteoriasdaenergia
freqüentementequeaengenhariagenéticachocar-se-ia ecomleisnaturaisaindadesconhecidas.Noentanto,os
comainfinitacomplexidadedanatureza;queoque átomossãoopassológicodepoisdosgenes.Épossívelque
funcionanolaboratóriofracassarianavidareal.Talvez ananotecnologianãosejaseguraeaté quenãofuncione
tivessemrazão... mashojehá55milhoesdehectares bem;maschegaráaomercado.
semeadoscomOGMeproliferamasexperiênciascom
biodrogaseterapiagenética.
Progressolento.Estáageraçõesdedistância.Estamosapenascomeçando.
Nadécadade80,amaioriadoscientistaspensavaqueos Construirmáquinasoualimentosátomoporátomoparece
produtosdabiotecnologiaestavammuitodistantes. lentohoje,masasmontadorasmolecularesestãoa
Estavamredondamenteenganadoscomrelaçãoaoavanço caminhoeoscontínuosprogressosdainformáticalevarão
dastecnologiasdoscomputadoresedaseqüenciaçãodos ananotecnologiaaomercadomuitomaisdepressadoque
genes,quereduziramenormementeoscustoseaceleraram levaramabiotecnologia.
muitoapesquisaeodesenvolvimento.
Hipérbole:ÉpropagandadeWallStreet.Empresasdesesperadastentamconvencerpossíveisinvestidores
de que ao dobrar a esquina há novos produtos capazes de resolver todos os problemas do mundo.
Nadécadade80,as“butiques”debiotecnologialutavam Osqueaproveitamo“nicho”dananotecnologiaestão
parasobrevivereprometiamestemundoeooutro.Muitas surgindoagoradamesmaformaqueantessurgiramas
morrerameasdemaisestãodesaparecendo,absorvidas biobutiques.Temosomesmotipodepublicidade
pelosGigantesGenéticos.Depoisdeumcomeçolento,os exageradaestilo“soluçãoparatudo”.Noentanto,
novosprodutos(bonsoumaus)estãosaindorapidamente. diferentementedabiotecnologia,asempresasmaioresa
Noentanto,omundonãopareceestarmaispróximodo estãoadotandodesdeoinício.
Nirvana.
Nicho de mercado: pode funcionar bem em casos especiais, mas não terá grande efeito sobre a forma
comoproduzimosascoisas.
UmdosGigantesGenéticosgarantia,nadécadade80,que Algunsgarantemqueananotecnologiaéumanovidade;
atolerânciaaherbicidasapenasseriaviávelparacombater queapenasseráusadaparapropósitosmuitoespecíficos,
ocapim“Johnson”sgrass”,noTexas.Hoje,trêsquartas devidoaseucustoecomplexidade.Narealidade,oalcance
partesdaáreatransgênicamundialestádedicadaa dananotecnologiaémuitomaiorqueodabiotecnologia.
variedadestolerantesaosherbicidas.Asempresasde Comojásepodeverclaramente,pelavariedadede
genomahumanoestãoseqüenciandoomapadegenomas empresasenvolvidas,ananotecnologiadominarátodosos
deplantas,buscandoapropriar-sedenichosespecíficosde aspectosdaeconomiaglobal.
mercado.Umadascaracterísticasmaisprofundasda
biotecnologiaéoamploespectrodeaplicaçãona
agricultura,indústriafarmacêutica,produtosdehigiene
pessoalemanufaturasindústriais.
O Século 21 99
Nanodólares: São diminutos e frágeis. Não têm o poder necessário nem para a ciência, nem para o
mercado.
Nadécadade80,as“butiques”debiotecnologiaeram Osqueestãohojenananotecnologiatambémsão
pequenas,raraserelativamentepobres.Osgrandes pequenosefrágeiselutampelasobrevivência.Adiferença
gigantesagroquímicosefarmacêuticospareciam équeos500maisricosdarevistaFortune–os
desinteressadosemuitospreviamquetodososque “nanobabos”–estãomuitointeressadosnanova
estavamcomeçandoiriamsefundir. tecnologia.
Patenteseregulamentações:osgovernosnãoconcederãoaspatenteseaflexibilidadenormativa
necessárias.
Conseguiramambas.Nofinaldosanos80,aAgênciade Vãoobtê-las.Hápoucasbarreirasdepatentesparaa
MarcasePatentesdosEstadosUnidosanunciouque nanotecnologia.Abiotecnologiajáestabeleceuprecedentes
autorizariaaspatentessobreplantaseanimais,assim desolicitaçõesmuitoamplas.Aslimitaçõesnormativasao
comosobremicro-organismos.Asregulamentaçõesdo “poderatômico”serãomanipuladasatéquesetornem
DepartamentodaAgricultura,dosInstitutosNacionaisde ineficazes.
SaúdeeaFDA(FoodandDrugAdministration)foram
manipuladaspararesponderàsnecessidadesdaindústria.
Outras tecnologias
A maioria das tecnologias resumidas brevemente a seguir
tem relação com a nanotecnologia e com a biotecnologia.
Embora cada uma delas seja importante por si mesma, as
tecnologias “centrais” do próximo século são as que governam
as minúcias da matéria viva e inerte.
Computadores
A sociedade está mais a par das mudanças tecnológicas nas
ciências da computação do que na biotecnologia. A transfor-
mação dos últimos vinte anos é impressionante. Consultado
100 Pat Roy Mooney
Sensores
Alguns dos complexos tecnológicos mais poderosos estão
associados a sensores capazes de detectar e transmitir imagens,
sons, cheiros, composição química e variações de pressão. Na
agricultura seria possível “semear” sensores em campos de cul-
tivo e recuperar a informação obtida por meio de satélites em
órbitas baixas ou por maquinaria agrícola que passe sobre eles.
Isso poderia permitir aos grandes empreendimentos empresa-
104 Pat Roy Mooney
Robótica
Pelo menos desde a década de 50, a indústria vem anuncian-
do que os robôs vão se encarregar da maioria das tarefas da
manufatura, excluindo a força de trabalho. Demorou, mas é
possível que esteja chegando. Vinculados a redes neurais e a
biosensores, os robôs poderão funcionar com inteligência
cognitiva. Assim, podemos imaginar um robô agricultor, ca-
paz de realizar todas as tarefas importantes, da semeadura à
colheita, prestando atenção minuciosa ao solo, às pragas e ao
clima. De acordo com a SAIC, existe uma terrível probabili-
dade de que os micro – ou nano – robôs inteligentes cheguem
antes de 2020. O micro-robô, capaz de esgueirar-se sem ser
notado por trás das linhas inimigas, poderá enviar, não neces-
sariamente apenas informes sobre movimentos de tropas e
munições: poderá também acionar as munições. Não apenas
informar sobre as conversas dos generais no salão do estado
O Século 21 107
Biomimética
A forma é mais barata do que os materiais. Tal é a razão de
ser essencial da biomimética. Nossa compreensão da biologia
e nossa crescente capacidade de miniaturização estão criando
este novo campo cientifico. Os pesquisadores buscam cons-
truir uma réplica da carapaça de um besouro capaz de supor-
tar a força de um automóvel rodando a mais de 100 km por
hora. Outros cientistas estão examinando a concha de um
marisco que consegue sobreviver às esmagadoras profundida-
des do fundo do oceano. Em cada caso, a idéia é imitar a es-
trutura da carapaça viva, molécula por molécula, com mate-
riais inertes.57 Uma mosca que se extinguiu há 45 milhões de
anos agora está sendo usada como modelo para melhorar a
eficiência dos painéis solares em até 10% no decorrer de um
dia. Essa mosca, encontrada incrustrada em um pedaço de
âmbar exposto em um museu de Varsóvia, tem um olho com-
posto com sulcos que traçam retículas sobre os diferentes seg-
O Século 21 109
Tecnologias multimídia
A optoeletrônica e a fotoeletrônica, junto com os compu-
tadores e os satélites, estão contribuindo para criar um ambi-
ente novo nos meios de comunicação. Os consumidores dos
países industrializados já conhecem bem produtos de
tecnologia multimídia, como o laser empregado pelos equipa-
mentos de disco compacto e a medicina, assim como as telas
dos computadores laptop e a televisão digital de alta resolu-
ção. Só o uso comercial da optoeletrônica está saltando de
cerca de 50 bilhões de dólares anuais em todo o mundo, em
meados dos anos 90, para 200 bilhões de dólares, projetados
para o começo do novo milênio. O governo japonês diz que,
no próximo ano, as tecnologias multimídia (incluindo a
optoeletrônica) vão gerar 6% de seu PNB (cerca de 1,2 bi-
lhões de dólares estadunidenses): o triplo do que produz a
enorme indústria automobilística japonesa.64
Há três décadas, Marshall MacLuhan anunciava que “o
meio é a mensagem”. Naquele momento, suscitou um grande
debate, mas hoje poucos discutiriam a importância esmaga-
dora das comunicações multimídia. Coletivamente, a misce-
lânea de tecnologias oferece uma oportunidade enorme de fa-
cilitar as comunicações efetivas e de melhorar tudo, da enge-
nharia à pesquisa médica. As mesmas tecnologias permitem
também esmaecer as distinções entre ilusão e realidade, e pa-
cificar, adormecer e dirigir o pensamento social. Nos meios
populares de comunicação, muito se falou sobre isso e não
temos muito a acrescentar.
Tecnologias aero-espaciais
Os avanços na exploração do espaço também influirão nas
realidades sócio-econômicas em nossos lares. A General Electric
vem desenvolvendo tecnologias muito precisas de GP (Global
O Século 21 111
Neurociências
A pesquisa nas neurociências vincula a biologia à informatica.
Sua atenção se volta para o sistema nervoso, em nível molecular
e celular. O entusiasmo comercial e militar chega ao máximo
em relação ao potencial de “reconhecimento de padrões” no
desenvolvimento de redes neurais. O interesse do reconheci-
mento de padrões está na possibilidade de automatizar o
monitoramento e o manejo de sistemas complexos. Nos meios
de comunicação populares, isso pode se traduzir por “computa-
dores inteligentes”, mas implica raciocínio cognitivo em má-
quinas; suas aplicações poderiam incluir o controle de grandes
usinas químicas, o cultivo de enormes extensões de terra, ou
algo tão bobo, mas tão útil quanto “ouvir” – e erradicar – o
desenvolvimento do mofo em cereais armazenados.72 As redes
neurais poderão também dirigir o sistema de trânsito de Nova
Iorque, ou ouvir (e entender) todas as conversas telefônicas de
um país inteiro.73 O Canadá, junto com a Grã-Bretanha, os
Estados Unidos, a Nova Zelândia e a Austrália, estabeleceu o
sistema de monitoramento das comunicações por satélite, que
permite a seus órgãos de segurança monitorar simultaneamente
centenas de milhares de conversas telefônicas internacionais e
selecionar as que empregam determinadas palavras e frases.74
Por que existe uma palavra para os que são vistos como
opositores das mudanças tecnológicas mas não para os que nos
impõem tecnologias não testadas? Aqueles que, como nós, ques-
tionam a biotecnologia são “vidi-stas”?
AvisãodosEli-tistas ArespostadosLuddistas
2.Conexão(tecnologiasemcadeia)
Somososespecialistasemnossaciênciae,portanto, Oscientistasdeumaespecialidadecostumamnãoteridéia
podemosdizerqueavançarámaislentamente/mais deprocessostecnológicosarticuladosaoutros(impactoda
rapidamentedoquepensamosluddistasequenãoteráas microeletromecânicanamicrobiologia,daextraçãode
implicaçõesqueelesmencionam. petróleonaindústriaautomobilística,daindústriade
foguetesnosmateriaisetc.),quepossamafetaroritmoda
mudança.
3.Contexto(otimista/pessimista)
Estatecnologiapodefazermaravilhas.Osluddistasnão Éprecisopelomenosumageraçãoparacompreenderas
vêemasvantagensdeeconomizartrabalhoeenergia/ implicaçõesdequalquertecnologianova(motorde
buscaralimentos/benefíciosparaasaúde/reduçãoda combustãointerna,materiaissintéticos,energianuclear,
contaminação/criaçãoderiqueza. eletricidadeouasnovasbiotecnologias).Oquenão
significaestarcontraaciência,massimrecomendar
humildadeecautela.
4.Controle(propriedadeeosmose)
Ogovernoeaindústriaconhecemseuseleitores/clientes Astecnologiascomerciaispassamrapidamenteaser
edefendemseusinteresses.Alémdisso,existemleis propriedadeprivadaecontribuemparanovas
antimonopólioedeproteçãoaoconsumidor. concentraçõesdepodereconômico(estradas-de-ferro,
petróleo,meiosdecomunicação,biotecnologia).Háum
efeitodeosmoseàmedidaqueaforçairresistíveldolucro
pressionaomóvelobjetodalegislação/regulamentação
governamentalparaadequá-loasuasnecessidades(por
ex.,cercarasáreascomunsnaInglaterra,certificar
sementes,requererpatentessobreavida).
5.Conseqüência(tecnologiaseguraousuicida?)
Osluddistassãoalarmistas.Omundonãovaiacabar. Digamissoaostrabalhadoresferroviáriosdocomeçodo
Sabemoscomocontrolarestatecnologia. séculoXIX,aosmineirosetrabalhadoresdaindústria
químicadaprimeirametadedoséculoXXouaos
trabalhadoresnuclearesdehoje.Éprecisoumageração
paraentenderasconseqüências(positivasenegativas)de
umanovatecnologia.
O Século 21 125
6.Contribuição(subindoougotejando)
Senãobeneficiadiretamentetodaasociedade,pelomenos Qualquertecnologianovaintroduzidanumasociedadeque
teráumefeitodegotejamentodevidoàcriaçãodeuma nãosejajustaaumentaráofossoentrericosepobres.Se
novariqueza,quefinalmentebeneficiaráospobres. nofinalvaibeneficiarospobresdependedemuitosfatores
sociais.(ARevoluçãoagrícolaproduziuocercodosterrenos
comunais,aRevoluçãoindustrialproduziuefeitosnocivos
sobreasaúde,aRevoluçãoVerdeproduziumuitomais
pobrezaruraletc.)
7.Conflito(pugilistasepolemistas)
Osluddistaspintamtudoinexoravelmenteempretoe Oseli-tistasmandam.Osluddistastêmumaoportunidade
branco,simplificandotudo,anunciandoatodososmeios quandoasnovastecnologiasaparecempelaprimeiravez.
que ofimchegouenegando-seafazerconcessões.Por Aoposiçãotravaumalutacontraacorrente,comuma
quenãopodemsermaisrealistaserazoáveis? mídiaacríticaefascinada.Ofórumpolíticoétalque
qualquercompromissoéumpassoemdireçãoaopoder
total.Amensagemtemdeserclaraetodocompromissoé
suspeito.
Notas
1. A Lei de Mendel foi formulada na década de 1860, mas esteve perdida para a ciência
até seu redescobrimento, em 1900.
2. Tang, Ya-Ping, Shimizu, Eiji, Dube, Gilles R. Rampon, Claire, Kerchner, Geoffrey
A., Zhuo, Min, Guosong, Liu, y Tsien, Joe Z., “Genetic Enhancement of learning
and memory in mice”, http://www.nature.com/server – java/pro-pub/nature/
401063AO.abs frameset
3. Knight, Jonathan, “Junk AND helps females avoid double trouble”, New Scientist,
17 de junho de 2000, p. 21.
4. Chicurel, Marina, “Live and let die”, New Scientist, 29 de janeiro de 2000, p. 7.
(N.E. esta nota não consta indicada no texto no original)
5. Fox, Maggie, “Scientists on Verge of Creating Artificial Life from Genes”, Reuters,
24 de janeiro de 1999.
6. Taylor, Robert, “All Fall Down”, New Scientist, 11 de maio de 1996 (disponível no
site da revista na Internet, como informe especial).
7. Cit. em The British Medical Association, Biotechnology: Weapons and Humanity,
Harwood Academic Publications, 1999, p. 54.
8. Ibid. p. 20.
9. Ibid. p. 53.
10. Schrope, Mark, “Expanding life”s alphabet”, New Scientist, 8 de abril de 2000, p. 12.
11. Rogers, Paul; Simon Whitby e Malcolm Dando, “Biological Warfare Against Crops”,
Scientific American, junho de 1999, p. 70-75.
O Século 21 127
12. The British Medical Association, Biotechnology: Weapons and Humanity, cit., p. 12-
13.
13. Entrevista de Edward Hammond, 6 de agosto de 1999, baseada em sua pesquisa e
em um trabalho em preparação. Este trabalho estará disponível na Internet.
14. Goldstein, Steve, “US could face new terror tactic: Agricultural Warfare”, Inquirer,
Washington Bureau, 22 de junho de 1999.
15. Entrevistas com Simon Whitby e Malcolm Dando, por telefone, na Universidade de
Bradford, 22 e 24 de junho de 1999.
16. Entrevista com Edward Hammond.
17. Landes, David S., The Health and Poverty of Nations, W.W. Norton Como., Nova
Iorque, 1999, p. 181.
18. Mander, Jerry, In the Absence of the Sacred: The Failure of Technology and the Survival
of the Indian Nations, São Francisco, Sierra Club Books, 1991. Mander também
cunhou o termo que utilizamos, “sonâmbulos tecnológicos”.
19. Kurzweil, Ray, The Age of Spiritual Machines – When Computers Exceed Human
Intelligence, Viking Press, 1999, p. 138.
20. Carta convite do Presidente, de 27 de abril de 1999, tal como foi retirada da Internet.
21. Brooks, Michael, “Drawing a fine line”, New Scientist, 26 de junho de 1999, p. 11.
22. Voss, David, “Nanomedicine nears the clinic”, site na Internet do MIT, notícias,
janeiro-fevereiro de 2000.
23. “Biotechnology Future World Parameters”, Science Applications International
Corporation, SAIC, janeiro de 1996, p. 9.
24. Smithll, Richard H., “Molecular nanotechnology: Research Funding”, Science &
Technology Policy, Virginia Tech Graduate School Science and Technologies Studies,
6 de dezembro de 1995.
25. “Nanotechnology”, site na Internet: www.zyvex.com/nanotech/howlong.html
26. Cross, Michael, Travels to the Nanoworld, Nova Iorque, Plenum Trade, 1999, p. 220.
27. Ibidem, p. 219-220.
28. Testemunho prestado no Comitê do Congresso sobre “Nanotechnology - Statement
and Supplemental Material”, de R.E. Smalley , Rice University, 22 de junho de
1999.
29. Business Week, 30 de agosto de 1999.
30. Crawford, Mark, “White House Eyes Major Nanotechnology Initiative”, New
Technology Week, 11 de junho de 1999.
31. Bains, Sunny, “Xerox studies self-assembling modular robots”, in EE Times, 10 de
janeiro de 2000 (edição na Internet).
32. Piller, Charles, “A Glimpse of Atomic-Scale Computing”, in Los Angeles Times, 3 de
fevereiro de 2000 (edição na Internet).
33. Kaoundes, Lakis O., “Materials science and engineering”, World Science Report,
1996, UNESCO, p. 292.
34. Aeppel, Timothy, “Think Small: Imagine changing a chair into a table at the flick of
a switch. Welcome to Nanotechnology – Call it the lure of the Lilliputian”, Wall
Street Journal, 1o. de janeiro de 2000 (edição na Internet).
128 Pat Roy Mooney
68. Andreopa, Nellie, “Wee Rockets That Pack a Big Wallop”, Business Week, 22 de feve-
reiro de 1998, p. 147.
69. “A personal eye in the ski”, The Economist, 9 de janeiro de 1999, p. 73. V. referências
semelhantes e relacionadas em “The Surveillance Society”, The Economist, 1o de maio
de 1999, p. 21-23. Há informação adicional em “A bug”s lift”, Scientific American,
abril de 1999, p. 51 e 54.
70. Brin, David, op. cit., p. 286.
71. The Economist, 1o de maio de 1999, p.1, editorial principal p.15, nota nas p. 21-23.
72. Walker, Matt, “Moaning Mould”, New Scientist, 17 de abril de 19999, p. 11.
73. Science Applications International Corporation, SAIC, p. 16-18.
74. “The Suveillance Society”, The Economist, 1o de maio de 1999, p. 22.
75. “Biotechnology – Projections”, The Strategic Assessment Center, Science Applications
International Corporation, SAIC, novembro de 1995, p. 14-15.
76. Hundley, Richard e Eugene Gritton, “Future Technology – Driven Revolution in
Military Operations, Results of a Workshop”, RAND, 1994, p. 49.
77. Motluk, Alison, “Grow your own”, New Scientist, 12 de fevereiro de 2000, p. 25-28.
78. Coghlan, Andy, “Nowhere to hide”, New Scientist, 11 de março de 2000, p. 12.
79. Cohen, Philip, “Forget me not”, New Scientist, 1o de julho de 2000, p. 12.
80. Cit. por Karl Marx, Capital: A Critical Analysis of Capitalist Production, vol 1, George
Allen & Unwin, Londres, 1949, p. 432.
81. Zerzan, John e Paula, “Industrialism a=nd Domestication”, in Zerzan, John, e Alice
Carnes (eds.), Questioning Technology – Tool, Toy or Tyrant?, Philadelphia, New Society
Publishers, 1991, p. 199-207.
82. Citado em Bolts, William, Consideration on Indian Affairs, Londres, 1772, p. 73, 83,
191-192 e 194 sobre a seda em Bengala, mas as organizações da sociedade civil ingle-
sas falam disso como algo contínuo, com a seda e o algodão, até bem entrado o
século XIX.
83. Em maio de 1967, Roland Michener, Governador Geral do Canadá, deu esta infor-
mação a um público de membros da Igreja Anglicana de Ottawa.
84. Há uma breve descrição dos problemas de Eli Whitney com o sistema de patentes
em Joel Mokyr, The Lever of Riches, Oxford University Press, 1990, p. 249.
85. É impossível confirmar se os mosquetões de Whitney foram usados. Há indicações
de que naquela época os britânicos os estavam utilizando na Índia, mas não há prova
concludente de que estas armas tenham sido empregadas para quebrar dedos.
86. O custo em trabalho e em capital do rolo em linha (40 meadas por libra) caiu de 14
shillings em 1779 para 1 shilling em 1812, segundo S.D.Chapman, The Cotton
Industry and the Industrial Revolution, MacMillan Education, 2a. ed. 1987, tabela V,
p. 37.
87. “Height and Welfare – Bigger is Better”, The Economist, 28 de fevereiro de 1998, p.
83-84. Um estudo recente da Universidade de Oxford, também citado no artigo,
mostra que os salários reais dos trabalhadores manuais no Reino Unido caíram (por
membro da família) entre 1780 e fins da década de 1850. Em troca, os suecos – que
se industrializaram lentamente – perderam altura de 1850 a 1900, mas depois cres-
ceram constantemente, superando tanto a Grã-Bretanha, quanto os Estados Unidos.
130 Pat Roy Mooney
CONCENTRAÇÃO DO
PODER EMPRESARIAL
A futura República do Binano
A Grande Fusão?
3,5
2,5
1,5
0,5
0
1996 1997 1998 1999
Fonte: Financial Times e material da RAFI
80000
70000
60000
50000
40000
30000
20000
10000
1979 1985 1990 1997 1999
Fonte: estatísticas do Relatório sobre Desenvolvimento Humano 1999, PNUD – Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento e OMPI – Organização Mundial da Propriedade Intelectual.
600
500
400
300
200
100
0
1990 1998 2005
Fonte: Rivette, Kevin G. e David Kline, Rembrandts in the Attic, Boston, 2000.
142 Pat Roy Mooney
Pirataria intelectual
No final de 1992, a RAFI uniu-se a uma série de indivíduos,
membros de governos, indústrias e ciências, em um processo de
diálogo sobre recursos fitogenéticos e propriedade intelectual. O
Grupo Crucible, como se deu a conhecer, horrorizou-se quando
foram aprovadas duas patentes sobre “espécies” (soja e algodão),
que dariam o monopólio do desenvolvimento biotecnológico
destas culturas à empresa Monsanto. Além do mais, o grupo viu-
se obrigado a organizar consultas para questionar a concessão,
aparentemente sem controle, de patentes sobre genes e conheci-
mento indígena. Ao insistir para que se travasse o diálogo, a RAFI
advertia que os regimes de propriedade intelectual haviam se tor-
nado cruéis e incontroláveis, e que já não havia “regras do jogo”.
Afirmamos que as patentes já não eram incentivo para a inova-
ção, e sim fichas de troca que as grandes empresas estavam utili-
zando para negociar espaços entre si, excluindo as empresas me-
nores. O custo de um litígio sobre patentes – calculado então em
US$ 225.000 por reclamante – convertera a propriedade inte-
lectual em uma barreira (não alfandegária) para impedir a entra-
da no mercado dos inovadores menores. Especulamos que, se
essas tendências continuassem, chegaríamos a ver as patentes
convertidas em ativos negociáveis na bolsa – capazes até de de-
senvolver sua própria “plataforma de intercâmbio” – e que os
embargos, considerados sagrados, contra patentes para ciência
pura, métodos para fazer negócios e matemáticas, perderiam seu
O Século 21 143
Novos confinamentos
Em meio ao alvoroço sobre as patentes da vida, é essencial
que não percamos de vista o propósito principal da indústria, ou
seja: a propriedade intelectual não é um fim, mas um meio. A
146 Pat Roy Mooney
Janeiro de 2000
Reputação no chão: Enquanto as delegações se preparavam para a
reunião de biossegurança a realizar-se em Montreal, pesquisadores
estadunidenses e venezuelanos confirmavam (contrariamente às pro-
messas da indústria) que a toxina Bt no milho transgênico pode disper-
sar-se no solo, matando larvas até 25 dias depois de ter sido libera-
da...19
Fevereiro de 2000
Irresistível? Cientistas canadenses reconheceram que os herbicidas
Roundup (da Monsanto), Pursuit (da Cyanamid) e Liberty (da Aventis)
perderam sua efetividade para exterminar o mato apenas dois ou três
anos depois que um agricultor de Alberta semeou pela primeira vez as
sementes de canola que essas empresas modificaram geneticamente.20
Março de 2000
Vocalizando: Um memorando do governo dos Estados Unidos, censu-
rado por muito tempo, com data de 1993, revela uma experiência em
que 4 de 20 roedores alimentados com FlavSavr (um tomate genetica-
mente modificado que, atualmente, é propriedade da Monsanto) sofre-
ram lesões sérias no estômago.21
Conspiração contra a sariguéia. Cientistas da Nova Zelândia propu-
seram o desenvolvimento de uma cenoura geneticamente modificada
para esterilizar a sariguéia. Estes mamíferos ameaçam os cultivos da-
152 Pat Roy Mooney
Abril de 2000
A guerra dos gorgulhos: Descobriu-se que algodão geneticamente
modificado chegou “voluntariamente” a campos semeados com soja
geneticamente modificada e que pode ser a causa do temível gorgulho
algodoeiro ter se tornado novamente uma das maiores pragas dos Es-
tados Unidos.24
Uma batata quente: Os produtores de milho estadunidenses evitam o
uso de semente geneticamente modificada, já que suas exportações
para a Europa caíram estrepitosamente, de 2 milhões de toneladas em
um ano, a 137 mil toneladas no ano seguinte.25 O anúncio tornou-se
público quando meios importantes informaram que as principais em-
presas dedicadas a processar batata e as principais cadeias de fast
food notificaram os plantadores do tubérculo para que evitassem o uso
de batatas geneticamente modificadas.
Maio de 2000
“Seguras”... onde quer que estejam? Rotineiramente – ainda que
acidentalmente – empresas forrageiras estadunidenses e canadenses
embarcaram sementes geneticamente modificadas para a Europa. Pa-
rece que essas empresas não conseguiram manter separadas as se-
mentes convencionais das geneticamente modificadas.26 Nos meses
seguintes, este descuido no manejo de estoques se espalhou por toda
a Europa Ocidental, pois um país atrás do outro viu seus campos conta-
minados com culturas geneticamente modificadas proibidas e indesejadas
O Século 21 153
Junho de 2000
Homem aranha: Um “gene saltador” utilizado na engenharia genética
rompeu a barreira entre as espécies pelo menos sete vezes, inclusive
uma entre as moscas e os seres humanos. Se forem liberados organis-
mos modificados que contenham este gene promíscuo, corre-se o pe-
rigo de outros saltos inesperados27 (foi assegurado aos neozelandeses
que o gene não seria utilizado para desenvolver a cenoura transgênica).
“Seguras”... seja lá o que forem: O governo neozelandês admitiu
que em seu país há pelo menos 100 culturas geneticamente modifica-
das em ensaios de campo ilegais...28 Depois de revistar a metade dos
campos experimentais, o governo anunciou (assim como a Monsanto)
que tudo vai bem (e que nenhuma das experiências envolvia sariguéias
nem cenouras).
Julho de 2000
Não existe refúgio seguro: As plantações “refúgio” de milho conven-
cional, que os agricultores semearam perto dos campos com milho ge-
neticamente modificado, com o objetivo de diminuir a resistência destes
campos a uma toxina bacteriana, simplesmente fracassaram. Os inse-
tos vulneráveis das plantações “refúgio” recusaram-se a cruzar com os
insetos resistentes, provenientes dos campos geneticamente modifica-
154 Pat Roy Mooney
Agosto de 2000
E continua a loucura: Segundo um relatório do Reino Unido, durante
o ano 2000 aumentou significativamente o número de mortes em con-
seqüência da doença da vaca louca. Até agosto daquele ano já haviam
sido detectadas 15 mortes, em contraste com as 19 durante todo o ano
de 1999.31
O verdadeiro arroz dourado: Um estudo realizado por uma universi-
dade dos Estados Unidos, que compreende diversas variedades de ar-
roz, na China e nas Filipinas, mostrou que se forem cultivadas paralela-
mente diversas variedades de arroz, o rendimento aumenta 89%, en-
quanto que as doenças reduzem-se 98%. O estudo conclui que: a
diversidade ultrapassa amplamente o desempenho das variedades ge-
neticamente modificadas e homogêneas.32
Muda de ramo, borboleta! Pesquisadores do Estado de Iowa, nos
Estados Unidos, confirmaram os resultados de um controvertido estudo
feito em Cornell. Segundo este estudo, o milho geneticamente modifi-
cado é uma ameaça para determinada espécie de borboleta. A indústria
questionara os resultados do estudo feito em Cornell.33
Sariguéias etiquetadas? Devido à pressão pública, a Nova Zelândia
e a Austrália anunciaram que ambas exigirão que todo o material gene-
O Século 21 155
Setembro de 2000
Corridas de “tacos”: Uma variedade de milho geneticamente modifi-
cado (Starlink), proibida para consumo humano, mas permitida como
forragem nos Estados Unidos, apareceu nas panquecas com que pre-
param comida rápida nos restaurantesTaco Bell. Esta situação fez com
que surgissem novas preocupações com relação à capacidade da in-
dústria e dos governos de controlar os produtos geneticamente modifi-
cados.
O velocino de ouro: No mês de maio, a tecnologia do arroz dourado,
propriedade do setor público, foi cedida à gigante AstraZeneca; dizia-se
que este arroz, modificado geneticamente para conter vitamina A, viola-
va 105 acordos de propriedade intelectual. No entanto, tratava-se de
uma informação falsa. Havia no máximo 11 patentes implicadas e, ao
que parece, os donos destas patentes estariam dispostos a cedê-las
caso fossem solicitadas.
“Segura”... não importa em que parte? Pesquisadores estaduni-
denses fizeram um alerta ante um possível vácuo nas normas para a
biossegurança de plantios geneticamente modificados. Consideraram
os casos do tomate e da batata, em que a regra de “equivalência subs-
tancial” só é válida para a parte comestível da planta, fazendo caso
omisso das mudanças que possam ocorrer nas raízes e folhas. Adverti-
ram que as alterações genéticas da parte não comestível poderiam re-
presentar riscos para o meio ambiente.35
Outubro de 2000
Hipodérmicas com a cara de Power Ranger: O escândalo da ca-
deia Taco Bell se estendeu aos corn flakes da Kellogs. Com efeito, a
gigante produtora do cereal fechou uma fábrica, com medo de que um
tipo de milho não permitido e geneticamente modificado (Starlink) tives-
se infectado os cereais produzidos. Devido ao pânico gerado, a Casa
Branca se apressou em enviar emissários ao Japão e à Europa, para
156 Pat Roy Mooney
Novembro de 2000
Monopolizar não é ético: A primeira reunião da mesa redonda sobre
ética (um grupo de respeitados agrônomos e especialistas em ética),
dependente da FAO, concluiu que os plantios geneticamente modifica-
dos são perigosos, que a tecnologia Terminator (de esterilização de se-
mentes) é imoral, e que a patente sobre genes e outros materiais gené-
ticos conduz à erosão genética dos plantios e a monopólios
incaceitáveis.40
O erro biotecnológico de um bilhão de dólares: Tendo-se compro-
vado que o escândalo do milho Starlink se estendera a centenas de
produtos alimentícios e empresas, a Aventis calculou que os custos de
O Século 21 157
Dezembro de 2000
A Montpellier tenta resgatar a Monsanto: A “biocracia” mundial se
reuniu na França para debater a normatização da biossegurança e
resgatar a Monsanto. Nunca antes tantas pessoas se reuniram para
debater algo tão importante como a biossegurança, em benefício de
tão poucos! Basicamente, o mercado de sementes geneticamente
modificadas, com operações de 2,5 bilhões de dólares americanos,
envolve quatro grandes culturas industriais (soja, milho, algodão e colza-
canola), que crescem em 3 países (Estados Unidos, Argentina e Ca-
nadá possuem, no ano 2000, 98% da área total de culturas genetica-
mente modificadas). Em 1999, as sementes da Monsanto represen-
taram mais de 4/5 da área cultivada em todo o mundo, com produtos
geneticamente modificados.42 A demanda por sementes geneticamente
modificadas aumentou apenas 8%, o que significa uma brusca que-
da, depois de anos em que duplicou ou quadruplicou. Os analistas
prevêem que pelo menos até 2003 a demanda permanecerá igual ou
até menor. Em outras palavras, a reunião de Montpellier aconteceu
para resgatar de seu próprio engano a Monsanto, os Estados Unidos,
a Argentina e o Canadá!
Genealogia da agrobiotecnologia
A primeira geração se refere a sistemas de controle de caracteres
relacionados a insumos, muito rentáveis para a indústria de sementes e de
agroquímicos. Trata-se de cultivos geneticamente manipulados para tolerar
herbicidas químicos ou para expressar genes inseticidas. O objetivo é modi-
ficar o uso dos insumos químicos aplicados aos cultivos e ampliar ou prolon-
gar as vendas de herbicidas e inseticidas das empresas.
A segunda geração se refere a sistemas de modificação de caracteres
do produto pós-colheita, orientados pelo interesse dos processadores de
alimentos. Isso implica na manipulação das plantas, a fim de reduzir a ener-
gia e os custos associados ao processamento, ao transporte e ao
armazenamento. Um exemplo clássico é o tomate de decomposição lenta
da Calgene, modificado para que dure mais, depois de colhido. A segunda
O Século 21 159
Manipulações genéticas
A tendência à privatização do sistema de saúde deveria pro-
vocar alarme público. A Merck, por exemplo, comprou a Medco,
o maior fornecedor de remédios de venda com receita dos Esta-
dos Unidos. Em menos de um ano, o número de clientes da
Medco aumentara 14% e o número de receitas escritas da em-
presa crescera 30%. Podemos imaginar que proporção deste au-
mento se converteu em vendas da Merck.
As companhias farmacêuticas estão entrando também em
certos tipos de serviços clínicos associados a suas principais
tecnologias e medicamentos patenteados. Por exemplo, em 1997,
a Zeneca (agora Astra-Zeneca, depois de sua fusão com a sueca
Astra), segundo fabricante do mundo de drogas contra o câncer,
assumiu o controle de 11 centros de tratamento de câncer nos
Estados Unidos.54 E informa-se que outras indústrias farmacêu-
ticas estão seguindo seu exemplo.
Nesse processo, as companhias farmacêuticas e do sistema de
saúde dos Estados Unidos estão “espremendo” os idosos para
tirar-lhes tudo o que têm. Os preços dos 50 principais remédios
utilizados pelos idosos aumentaram em média 3,9% em 1999,
enquanto a inflação foi de apenas 2,2%.55 Os consumidores
estadunidenses viram duplicar seu gasto anual com remédios
vendidos com receita, desde 1995, de uma média de menos de
250 dólares por pessoa para quase 500 em 2000, e existem pro-
jeções de quase 700 dólares para 2002.56 Enquanto isso, as com-
168 Pat Roy Mooney
Do berço ao túmulo
A terceira área de expansão da indústria está mais relacionada
à seleção genética e à eugenesia. Já desde 1999, era possível dis-
tinguir uma corrente de patentes de genoma humano que come-
ça antes da concepção (patentes relacionadas com óvulos e
espermatozóides humanos), passa pelo cordão umbilical e pelas
patentes de células T, pelas patentes de genes de doenças, pelos
kits de diagnóstico de DNA e pela terapia genética. Há uma
série de empresas que já oferecem aos futuros pais a “oportuni-
dade” de armazenar criogenicamente células troncais do feto em
gestação, para que o futuro filho ou filha possa dispor de tecidos
e órgãos que seriam reconstruídos para serem usados durante a
vida. Há empresas farmacêuticas que se preparam para oferecer
aos pais a possibilidade de conhecer as principais propensões
genéticas e patológicas da criança por nascer e proporcionar à
família, desde o nascimento, um estudo do possível destino ge-
nético do filho. Com base nesse conhecimento, as empresas po-
derão proporcionar às famílias seu potencial para fabricar “dro-
gas de projetista”, derivadas da informação celular da criança,
que poderão ser manufaturadas em levedura, estômago de inse-
tos, trigo ou leite de vaca, como for necessário. Além disso, as
O Século 21 171
Será prudente tudo isso? Uma vez mais é preciso ter presente
que os gigantes farmacêuticos são também os gigantes genéticos
da agricultura, os “gênios” que inventaram a primeira geração de
transgênicos. E são também as mesmas empresas, com a mesma
filosofia científica e lógica empresarial, que inventaram as indús-
O Século 21 173
Teatro do adquirido
A pressão para atravessar as plataformas de informação é tre-
menda. Em 1996, os membros do bloco não eram apenas as
principais redes de televisão e de rádio dos Estados Unidos. As
transações em todo o negócio dos meios de comunicação e da
telecomunicação chegaram a quase 140 bilhões de dólares. Em
1997 houve nos Estados Unidos 24 fusões, no valor de mais de
um bilhão de dólares cada uma. Entre os maiores acordos de
1997 ficou a compra pela Westinghouse (agora Viacom) da
American Radio Systems, por 2,6 bilhões de dólares.64 De fato, a
Viacom entrou num frenesi de compras e agora é dona da
Paramount Pictures, da Blockbuster Vídeo e de redes a cabo que
incluem a MTV, a ShowTime e a Nickelodeon.65
178 Pat Roy Mooney
* O nível de sua fortuna e seus rendimentos, em todo caso, está significativamente desatualizado e
subestimado devido às fusões ocorridas em 1999 e 2000.
Nota: os nomes das empresas constam apenas como exemplo.
Fontes: Numerosos documentos incluindo “How AOL Time Warner deal may affect other players”, in Wall
Street Journal, 11 de janeiro de 2000, p. B12.
Fonte: “The Record industry takes fright”, in The Economist, 30 de janeiro de 2000.
Pluralismo privado
Tão irritante quanto tudo o mais é a homogeneização maciça
e a monopolização global dos instrumentos de informação, que
está ocorrendo sob a bandeira do pluralismo dos meios de co-
municação e da democratização da informação. Até a década de
1990, as empresas que agora se fundem sob a pressão da
globalização e da privatização, e atravessando fronteiras nacio-
nais, eram (na maioria dos casos) redes de telefone, de rádio ou
de televisão financiadas ou administradas pelo Estado. O nítido
resultado dessa liberalização comercial foi a apropriação barata,
por monolitos multimídia transnacionais, de meios de comuni-
cação de tendência nacionalista e culturalmente sensíveis. En-
quanto em outros tempos, na Europa Ocidental, por exemplo,
havia dezenas de fontes de transmissão pública (notoriamente
independentes), agora a tendência é sua absorção por um peque-
no grupo de empresas globais mundiais. Isto está muito longe
do pluralismo, ou da Nova Ordem Mundial da Informação e da
Comunicação do começo dos anos 80, ou ainda da Nova (e per-
missiva) Estratégia de Comunicações da UNESCO, criada mais
recentemente.72
Telecomunicações
A maioria das pressões em favor das fusões na indústria da
informação teve origem do lado dos canais, ainda que a
transformação ocorrida do lado dos conteúdos tenha sido muito
O Século 21 183
Do “material” ao “imaterial”
Em 1972, o Clube de Roma publicou Os limites do cresci-
mento, que marcou um tento na avaliação (com ajuda dos com-
putadores!) da existência finita de matérias-primas no mundo.
De acordo com o informe, em 1975, as conseqüências combina-
das do crescimento da população, da degradação ambiental, da
escassez de alimentos e do desaparecimento de recursos não
renováveis de energia e metais levariam ao colapso, a menos que
medidas fossem tomadas imediatamente. Um quarto de século
depois de expirado o prazo, o mundo ainda está muito longe de
tomar medidas políticas, conforme recomendado pelo Clube de
Roma. Também parece ter-se complicado nossa relação com os
recursos renováveis e não renováveis. A RAFI – e muitas outras
organizações da sociedade civil – pensam que, embora os pressu-
postos básicos da análise do Clube estejam corretos, se a
nanotecnologia for comercializada com êxito, é possível que seja
preciso rever as previsões.
Embora esta possa ser uma boa notícia para os que dominam
o PIB planetário, poderá ser uma má notícia para as empresas de
energia e mineração, a menos que elas próprias consigam con-
trolar as novas tecnologias. A nanotecnologia poderá marcar o
fim da era de milhares de anos de escavações na terra e dos terrí-
veis riscos que correm os mineiros para trazer-nos pedras precio-
sas e metais. Da agilidade e da energia das empresas dependerá
que isso represente o fim das companhias mineradoras ou que
estas passem a ocupar um lugar central na nova economia.
Uma razão que deteve o colapso prognosticado pelo Clube
é que, há três décadas, a pesquisa científica dos materiais e da
biomimética modificou radicalmente a demanda mundial de
188 Pat Roy Mooney
Notas
1. Masters, Roger D., Fortune is a River, Plume Books, 1998. O tema deste livro é a
relação entre Da Vinci e Maquiavel e sua conspiração para controlar a Itália central
2. Kaplan, Robert D., “Was Democracy Just a Moment?”, in Atlantic Monthly, dezem-
bro de 1997, p. 71.
3. Bridgstock, Martin, et al., Science, Technology, and Society: An Introduction, Cambridge
University Press, 1998, p. 227.
4. Corrigan, Tracy, “Cross-border M&A deals at record levels”, in Financial Times, 5 de
abril de 1999, p.16. O artigo situa a cifra, para os primeiros três meses de 1999, em
855 bilhões de dólares – um pouco menos do recorde global de 1996 – mas há razões
para crer que esta cifra aumentará um pouco nos ajustes finais. O mesmo artigo situa
o total global de F&A em 1998 em 2,5 trilhões de dólares. Tanto o artigo da Financial
Times quanto a RAFI utilizam como fonte principal o site de Securities Data na
Internet.
5. Our Creativity Diversity, UNESCO, 1995, p. 138.
6. Para um exame mais completo do ambiente estadunidense e global no que se refere
às fusões, no período 1974-1997, v. Development Dialogue, Número especial de 1996,
da revista da Fundação Dag Hammarsjöld, “The Parts of Life”, capítulo 7, “Private
Parts”, p. 134-137, de Pat Mooney, da RAFI.
7. “Business this Week”, in The Economist, 8 de julho de 2000, p. 5.
8. Human Development Report 1999, PNUD, p. 67.
9. “Business this Week”, cit., p. 5.
10. Pilling, David, e Adrian Michael, “Pfizer seals Warner-Lambert deal”, in Financial
Times, 8 de fevereiro de 2000 (a nota sobre o negócio está em ft.com, na Internet).
11. “Business this Week”, cit., p. 5.
12. “Mergers and Alliances hold my Hand”, in The Economist, 15 de maio de 1999 (da
biblioteca de The Economist na Internet).
13. Human Development Report 1999, PNUD, p. 67 e 57, respectivamente.
O Século 21 199
Erosão
Tecnologia
CIENT
Proposta para uma Convenção Internacional de Avaliação de
Novas Tecnologias
Concentração
O Fórum Internacional sobre Globalização e todos os orga-
nismos que lutaram tão bem contra o Acordo Multilateral sobre
Investimentos (AMI) parecem perceber claramente que têm uma
oportunidade e um papel importante na oposição às empresas
transnacionais. Mas precisarão de mais aliados, de mais dados e
de mais recursos. Também necessitarão da participação enérgica
do movimento sindical. Uma vez mais, iniciativas nacionais e
internacionais poderão ajudar em muito a definir o marco ne-
cessário para defender a sociedade contra a concentração do po-
der empresarial. Entre as possíveis ações concretas estão:
• Maior desenvolvimento dos pontos de referência e dos
mecanismos legais necessários para monitorar a democra-
cia e as instituições democráticas, com especial ênfase na
inclusão e na informação.
• Maior desenvolvimento legal do direito à dissidência e dos
mecanismos de monitoramento e imposição necessários
para salvaguardar este direito.
• Em uma iniciativa relacionada com a anterior, moderniza-
ção da legislação que protege o indivíduo e a comunidade,
não apenas de novas invasões tecnológicas, mas também
de novas demandas empresariais e estatais.
• Desenvolvimento de leis sobre monopólios e sobre con-
corrência com base nas novas tecnologias que facilitem o
monitoramento da tecnoconcentração e assegurem a ca-
pacidade reguladora para impedi-la.
• Ressurreição de políticas e leis sobre a concorrência, assim
como códigos de conduta.
O Século 21 213
Quem decide?
Sul Norte
700
600
500
400
300
200
100
300
250
200
150
100
50
baixa (ver Gráfico 12). Organismos da ONU que têm recursos e de-
dicação podem fazer muito, pressionando os governos para acabar
com essa desigualdade. E também as organizações da sociedade ci-
vil têm um papel a desempenhar neste caso.
Entre as medidas concretas que poderiam ser tomadas pelas
Secretarias da ONU estão:
Notas
1. Naydler, Jeremy, Goethe in Science – An Anthology of Goethe”s Scientific Writings, Floris
Books, 1997, p. 44.
2. Bengtsson, Bo, e Carl-Gustaf Thornström, “Biodiversity and Future Genetic Policy:
A Study of Sweden”, ESDAR, Special Report no 5, The World Bank and Sida, abril
de 1998. V. também: Collins, Wanda, e Michel Peit, “Strategic Issues for National
Policy Decisions in Managing Genetic Resources”, ESDAR, Special Report no 4,
The World Bank, abril de 1998.
3. PNUD, Human Development Report 1999, p. 60.
4. Our Creativity Diversity, Relatório da Comissão Mundial sobre Cultura e Desenvol-
vimento, UNESCO, 1996, p. 107.
5. PNUD, Human Development Report 1999, p. 58.
6. Harding, Sandra, e Elizabeth McGregor, “The Conceptual Framework”, World Science
Report 1996, UNESCO, Quadros das p. 305, 312 e 319.
7. Makhubu, Lydia, “Global Perspectives” World Science Report 1996, UNESCO, p.
330.
8. Cohn, David, “Combustion on Wheels – An Informal History of the Automobile
Age”, Boston, Houghton Mifflin, 1944, p. 58. Esta pesquisa foi feita por Kevan
Bowkett, voluntário da RAFI.
9. Bois, D., “The 1980’s and 1990’s Microelectronics Logbook: Guidelines for the Future”,
in Luryi, Serge, Jimmy Zu e Alex Zaslavsky (eds.), Future Trends in Microelectronics –
The Road Ahead, Nova Iorque, John Wiley and Sons Inc., 1999, p. 10.