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THE

FOXHOLE COURT

NORA SAVKAVIC

TRADUÇÃO: POR MIM :)


Capítulo 1

Neil Josten deixou seu cigarro queimar até o filtro sem tragar uma única vez. Ele
não queria a nicotina; ele queria a fumaça acre que lembrava sua mãe. Se ele inalasse
devagar suficiente, ele quase conseguia sentir o cheiro fantasma da gasolina e do fogo
queimando. Era ao mesmo tempo revoltante e reconfortante, e causou um arrepiou
em sua espinha. O choque foi até a ponta dos seus dedos, derrubando um punhado
de cinzas que caiu na arquibancada entre seus sapatos e foi levado pelo vento.

Ele olhou para o céu noturno, mas as estrelas foram apagadas pela luz do estádio.
Ele se perguntou - não pela primeira vez – mas se sua mãe estava olhando para ele.
Ele esperava que não, ela o teria espancado até o inferno e de volta se o visse sentado
lamentando daquele jeito.

Uma porta se abriu atrás dele, assustando-o de seus pensamentos, Neil puxou sua
mochila para mais perto do seu lado e olhou para trás. O treinador Hernandez passou
pela porta do vestiário e sentou-se ao lado de Neil.

“Eu não vi seus pais durante o jogo” Hernandez disse.

“Eles estão fora da cidade” Neil respondeu.

“Ainda ou de novo?”

Nenhum dos dois, mas Neil não diria isso. Ele sabia que seus professores e
treinador estavam cansados de ouvir a mesma desculpa toda vez que perguntavam
por seus pais, mas era uma mentira tão fácil quanto usada exageradamente. Explicava
por que ninguém nunca via os Jostens pela cidade e por que Neil tinha opção de
dormir no terreno da escola.

Não era que ele não tivesse um lugar para morar, era mais que sua situação de vida
era ilegal. Millport era uma cidade moribunda, o que significava que havia dezenas
de casas no mercado que nunca eram vendidas, ele se apropriara de uma no verão
passado em um bairro tranquilo habitado principalmente por idosos. Seus vizinhos
raramente deixavam o conforto de seus sofás e sabonetes diários, mas cada vez que
ele entrava e saía corria o risco de ser pego. Se as pessoas percebessem que ele estava
entrando sorrateiramente começariam afazer perguntas difíceis. Geralmente era mais
fácil arrombar o vestiário e dormir lá. Por que Hernandez o deixava escapar e não
notificava as autoridades, Neil não sabia, ele achou melhor não perguntar também.

Hernandez estendeu a mão. Neil passou-lhe o cigarro e observou Hernandez


esmagá-lo nos degraus do concreto. O treinador jogou a bunda amassada de lado e se
virou para enfrentar Neil.
“Eu pensei que eles teriam feito uma exceção está noite” Ele disse.

“Ninguém sabia que seria o último jogo” Neil disse, olhando para a quadra.

A derrota de Millport esta noite os tirou do campeonato estadual a dois jogos da


final, estavam tão perto, porém muito longe. A temporada acabou assim. A equipe
técnica já estava se desfazendo do estádio, desmontando as paredes de acrílico e
rolando astrotuf (uma superfície de grama artificial, usada para campos de atletismo ou
futebol de campo) sobre o piso duro. Quando terminassem, será um campo de futebol
novamente, não sobrará nada de Exy até o outono. Neil sentiu-se mal vendo isso
acontecer, mas não conseguia desviar o olhar.

Exy era um esporte bastardo, um esporte evoluído de lacrosse em uma quadra do


tamanho de um futebol com violência do hockey no gelo (hello Garrett!) e Neil amava
cada parte disso, desde sua velocidade até sua agressividade, era a única parte de sua
infância que ele não nunca tinha sido capaz de desistir.

“Eu ligo para eles mais tarde contando o placar”, ele disse, porque Hernandez ainda
estava de olho nele, “Eles não perderam muito.”

“Ainda não, talvez” Hernandez disse. “Tem alguém aqui para ver você.”

Para alguém que passou metade de sua vida fugindo de seu passado, eram palavras
de um pesadelo. Neil levantou-se de um salto e pendurou a bolsa no ombro, mas o
ruído de um sapato atrás dele o avisou que era tarde demais para escapar. Neil se
virou para ver um grande estranho parado na porta do vestiário. A camiseta que o
homem usava exibia mangas com tatuagens tribais de chamas. Uma das mãos estava
enfiada no bolso jeans, a outra segurava uma pasta grossa. Sua postura era casual, mas
o olhar em seus olhos castanhos era intenso.

Neil não o reconheceu, o que significava que ele não era local. Millport tinha menos
de novecentos residentes, este era uma local onde todos se conheciam e sabiam de
tudo que acontecia. Aquela intromissão enraizada tornava as coisas desconfortáveis
para Neil e todos os seus segredos, mas ele esperava usar essa mentalidade de cidade
pequena como um escudo. A fofoca sobre um estranho deveria ter chegado a ele antes
deste estranho. Millport tinha falhado com ele.

“Eu não te conheço” Neil disse.

“Ele é de uma universidade” Hernandez disse. “Ele veio para te ver jogar essa
noite.”

“Besteira” Neil disse. “Ninguém recruta de Millport. Ninguém sabe onde é.”

“Existe essa coisa chamado mapa” o estranho disse. “Você deve ter ouvido falar.”

Hernandez lançou a Neil um olhar de advertência e se levantou. “Ele está aqui


porque eu enviei sua ficha para ele. Ele colocou uma nota dizendo que estava com
pouco atacantes, e imaginei que valia a pena tentar. Eu não te contei porque não sabia
se isso daria em alguma coisa e não queria te dar esperanças.”

Neil o encarou. “Você fez o que?”

“Eu tentei entrar em contato com seus pais quando ele pediu para te ver hoje à noite,
mas eles não retornaram as minhas mensagens. Você disse que eles tentariam vir.”

“Eles tentaram” Neil disse. “Não conseguiram.”

“Não posso esperar por eles,” o estranho disse, descendo para ficar ao lado de
Hernandez. “É estupidamente tarde na temporada para eu estar aqui, eu sei, mas eu
tive algumas dificuldades técnicas com meu último recruta. Treinador Hernandez
disse que você ainda não escolheu uma faculdade para outono. Funciona
perfeitamente, não é? Eu preciso de um substituto para atacante, e você precisa de um
time. Tudo que você precisa fazer é assinar a linha pontilhada e você será meu por
cinco anos.”

Demorou Neil duas tentativas para achar sua voz. “Você não pode estar falando
sério.”

“Muito sério, e muito fora de tempo,” o homem disse.

Ele jogou seu arquivo na arquibancada onde Neil estava sentado. O nome de Neil
estava rabiscado na frente em marcador preto. Neil pensou em abrir a pasta, mas de
que adiantava? O homem, esse treinador, pesquisou tão cuidadosamente, não era real
e não existiria por muito tempo. Em cinco semanas Neil se formaria e em seis seria
outra pessoa em algum lugar muito longe daqui. Não importava o quanto ele gostava
de ser Neil Josten. Ele ficou muito tempo aqui com esse nome.

Neil já deveria estar acostumado com isso, ele passou os últimos oito anos fugindo,
criando mentira após mentira para deixar um rastro tortuoso atrás de si. Vinte e dois
nomes ficavam entre ele e a verdade, e ele sabia o que aconteceria se alguém ligasse
os pontos. Assinar com um time universitário significava mais do que ficar parado na
quadra. Significava que ele estaria entrando em um holofote. Prisão não poderia parar
seu pai por muito tempo, e Neil não sobreviveria a uma revanche com ele.

A conta era simples, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Aquele contrato era
uma passagem só de ida para um futuro, algo que Neil nunca poderia ter, e ele queria
tanto que doía. Por um momento ofuscante, ele se odiou por ter tentado entrar para o
time de Millport. Ele sabia melhor do que pisar em uma quadra outra vez. Sua mãe
disse que ele nunca mais jogaria. Ela o advertiu para ficar obcecado à distância, e ele
a desobedeceu, mas o que mais ele deveria fazer? Ele encalhou em Millport após a
morte dela porque não sabia como continuar sem ela. Esta foi a única coisa que restou
que era real. Agora que experimentou novamente, não sabia como se afastar disso.
“Por favor vá embora” ele disse.
“É um pouco repentino, mas eu realmente preciso de uma resposta está noite. O
comitê está me perseguindo dede que Janie foi internada.”

O estômago de Neil foi até o chão com a menção desse nome. Ele desviou o olhar
da pasta para o rosto do treinador. “Foxes,” ele disse. “Palmetto State University.” (não
irei traduzir o nome do time ou da facu pq perde a essência).

O homem – que Neil agora sabia que era o treinador Davis Wymack – ficou
surpreso com a rapidez com que ele fez a ligação. “Eu acho que você viu as notícias.”

Dificuldades técnicas, ele disse. Era uma boa maneira de dizer que sua última
recruta Janie Smalls tentou se matar. Sua melhor amiga a encontrou sangrando em
uma banheira e a levou para o hospital a tempo. Última coisa que Neil ouviu foi que
a garota estava em vigília de suicídio em uma ala psiquiátrica. O âncora tinha falado
grosseiramente de lado, e ele não estava exagerando.

O Palmetto State University Foxes era um time talentoso de rejeitados e drogados


porque Wymack só recrutava atletas de lares defeituosos ou com passado complicado.
Sua decisão de transformar o Time Foxhole em uma espécie de casa de recuperação
era boa na teoria, mas significava que seus jogadores eram isolacionistas
fragmentados que não conseguiam se dar bem o suficiente para terminar um jogo.
Eles eram notórios na NCAA (Associação Nacional Atlética Universitário) tanto por seu
tamanho minúsculo quanto por ser classificado como um time morto nos último três
anos consecutivos. Eles se saíram significativamente melhor no ano passado graças à
perseverança de sua capitã e à força de sua nova linha de defesa, mas ainda eram
considerados uma piada pelos críticos. Até mesmo o ERC, O Comitê de Regras e
Regulamentos da Exy, estava perdendo a paciência com seus maus resultados.

Até que o ex-campeão nacional Kevin Day se juntou à linha. Era a melhor coisa que
poderia acontecer ao Foxes e significava que Neil nunca poderia aceitar a oferta de
Wymack. Neil não via Kevin há quase oito anos, e ele nunca estaria pronto para vê-lo
novamente, algumas portar tinham que se manter fechadas; a vida de Neil dependia
disso.

“Você não pode estar aqui” Neil disse.

“Mas aqui estou,” Wymack disse. “Precisa de uma cante?”

“Não” disse Neil. “Não, eu não irei jogar para você.”

“Eu não te ouvi.”

“Você assinou com Kevin.”

“E Kevin está contratando você, então...”

Neil não ficou para o resto.


Ele subiu as arquibancadas do vestiário. Metal retiniu sob seus pés, não suficiente
para abafar a pergunta surpresa de Hernandez. Neil não olhou para trás para ver se
eles o estavam seguindo. Tudo o que ele sabia, tudo o que importava, era ficar o mais
longe possível daqui. Esqueça a formatura. Esqueça Neil Josten. Ele iria embora esta
noite e correra até que ele se esquecesse de Wymack alguma vez ter dito aquelas
palavras para ele.

Neil não foi rápido o suficiente.

Ele estava no meio do vestiário quando percebeu que não estava sozinho, havia
alguém esperando por ele na sala entre ele e a porta da frente. A luz cintilou em uma
raquete amarela brilhante quando o estranho deu um golpe, e Neil estava indo rápido
demais para parar. Madeira bateu em seu estômago com força suficiente para esmagar
seus pulmões em sua espinha. Ele não se lembrava de ter caído, mas de repente ele
estava sobre as mãos e os joelhos, lutando inutilmente no chão enquanto tentava
respirar. Ele vomitaria se pudesse dar aquele primeiro suspiro, mas seu corpo se
recusou a cooperar.

O zumbido em seus ouvidos era a voz furiosa do Wymack, mas ele parecia a mil
quilômetros de distância. “Mas que droga Minyard! É por isso que não podemos ter
coisas boas.”

“Oh treinador,” alguém disse por cima da cabeça de Neil. “Se ele fosse legal, não
seria útil para nós, não é?”

“Ele não terá utilidade para nós se você o quebrar.”

“Você prefere que eu o deixe ir? Coloque um band-aid nele e ele ficará como novo.”

O mundo ficou preto, então entrou em foco muito nítido quando o ar finalmente
atingiu os pulmões torturados de Neil. Neil respirou fundo com tanta força que
engasgou, e cada tosse forte ameaçava despedaçá-lo. Ele passou um braço ao redor de
sua cintura para se manter unido e lançou um olhar feroz para seu agressor.

Wymack já disse o nome do homem, mas Neil não precisava. Ele tinha visto esse
rosto em muitos recortes de jornal para não o reconhecer à primeira vista. Andrew
Minyard (meu bebê) não parecia muito pessoalmente, era loiro e um metro e meio, Neil
sabia melhor. Andrew era o goleiro calouro do Foxe e seu investimento mais mortal.
A maioria dos Foxes eram autodestrutivos, enquanto Andrew parecia interessando
em danos colaterais. Ele havia passado três anos em um reformatório e mal evitou um
segundo mandato.

Andrew também foi a única pessoa a recusar a primeira classificada Universidade


Edgar Allen. Kevin e Riko marcaram um encontro e saudação para recebê-lo na linha,
mas Andrew recusou e se juntou aos Foxes. Ele nunca explicou essa escolha, mas todos
presumiram que era porque Wymack estava disposto a assinar também sua família -
o gêmeo de Andrew, Aaron, e seu primo Nicholas Hemmick se juntaram à linha no
mesmo ano. Seja qual for o motivo, Andrew foi culpado pela transferência recente de
Kevin.

Kevin jogou para os Ravens de Edgar Allen até que ele quebrou sua mão dominante
em um acidente de esqui em dezembro passado. Uma lesão como essa custou-lhe o
contrato da faculdade, mas ele deveria ter se recuperado onde teria o apoio do ex time.
Em vez disso, mudou-se para Palmetto para ser o treinador assistente informal de
Wymack. Há três semanas, ele foi oficialmente contratado como titular do próximo
ano.

A única coisa que um time sombrio como os Foxes poderia oferecer a Kevin era o
goleiro que uma vez o rejeitou. Neil passou a primavera desenterrando tudo que
pudesse encontrar sobre Andrew, querendo entender o homem que chamou a atenção
de Kevin. Encontrar-se e ficar cara a cara era tão desorientador quanto doloroso.

“Neil,” Hernandez disse, pegando Neil pelo braço para ajudá-lo a se levantar.
“Jesus, você está bem?”

“Andrew é um pouco rude nas maneiras,” disse Wymack, colocando-se entre Neil
e Andrew. Andrew não teve problemas para ler aquele aviso silencioso. Ele jogou as
mãos para cima em um encolher de ombros exagerado o observou ir antes de olhar
para Neil. “Ele quebrou alguma coisa?”

Neil pressionou as mãos cuidadosas nas costelas e respirou, sentindo a maneira


como seus músculos gritavam em protesto. Ele havia fraturado ossos o suficiente no
passado para saber que teve sorte desta vez. “Estou bem. Treinador, estou saindo. Me
deixe ir.”

“Não terminamos,” disse Wymachk.

“Treinado Wymack,” Hernandez começou.

Wymack não o deixou terminar. “Nos de um segundo?”

Hernandez olhou de Wymack para Neil, então disse “Já volto.”

Neil ouviu seus passos ao sair. Houve um barulho quando ele chutou o suporte da
porta para fora do lugar e a porta dos fundos se fechou com um rangido agonizante.
Neil esperou que ele fizesse um clique antes de falar novamente.

“Eu já dei a minha resposta. Eu não vou assinar com você.”

“Você não ouviu toda a minha oferta,” disse Wymack. “Se eu paguei para três
pessoas vê-lo, o mínimo que você poderia fazer é me dar cinco minutos, não acha?”

O sangue deixou o rosto do Neil tão rápido que o mundo girou. Ele deu um passo
cambaleante para trás de Wymack, uma busca desesperada por equilíbrio e espaço
para respirar. Sua mochila bateu em seu quadril e ele amarrou a mão em sua alça,
precisando de algo para se segurar. “Você não o trouxe aqui.”
Wymack olhou fixamente para ele, “Isso é um problema?”

Neil não sabia dizer a verdade, então ele disse, “Eu não sou bom o suficiente para
jogar na mesma quadra que um campeão.”

“Verdade, mas irrelevante,” uma voz disse, e Neil parou de respirar.

Ele sabia que não devia se virar, mas já estava se movendo.

Ele deveria ter adivinhado quando viu Andrew aqui, mas ele não queria pensar
nisso. Não havia razão para um goleiro encontrar um atacante em potencial. Andrew
só estava aqui porque Kevin Day nunca ia a lugar nenhum sozinho.

Kevin estava sentado no topo do centro de entretenimento ao longo da parede dos


fundos. Ele empurrou a TV de lado para ter mais espaço e cobriu o espaço ao seu redor
com papéis. Ele assistiu a todo esse espetáculo e, a julgar pela expressão fria em seu
rosto, não ficou impressionado com a reação de Neil.

Fazia anos desde que Neil ficou na mesma sala que Kevin, anos desde que eles
viram o pai de Neil cortar um homem gritando em cem pedaços sangrentos. Neil
conhecia o rosto de Kevin tão bem quanto conhecia o seu próprio, a consequência de
ver Kevin crescer aos olhos do público a mil ou mais quilômetros de distância. Tudo
nele era diferente. Tudo era o mesmo, desde seu cabelo escuro e olhos verdes até o
número 2 preto tatuado em sua bochecha esquerda. Neil viu aquele número e teve
vontade de vomitar.

Kevin tinha esse número na época também, mas ele era muito jovem para tê-lo
permanentemente. Em vez disso, ele e seu irmão adotivo Riko Moriyama escreviam o
número 1 e 2 em seus rostos com marcadores, traçando-os repetidamente sempre que
começavam a desaparecer. Neil não entendia na época, mas Kevin e Riko estavam
mirando nas estrelas. Eles seriam famosos, prometeram a eles.

Eles estavam certos, eles tinham times profissionais e jogavam para os Ravens. No
ano passado, eles foram indicados para a seleção nacional, o US Court. Eles eram
campeões, e Neil era uma confusão de mentiras e becos sem saída.

Neil sabia que Kevin não o reconheceria. Fazia muito tempo, cresceram com um
mundo à parte. Neil disfarçou ainda mais sua aparência com tintura de cabelo escuro
e lentes de contato marrons. Mas por que mais Kevin Day estaria aqui procurando por
ele? Nenhuma escola de Classe I se rebaixaria tanto, nem mesmo os Foxes. Os registros
de Neil diziam que ele jogava Exy há apenas um ano. Ele tinha sido muito cuidadoso
este ano para agir como se não soubesse nada do jogo, até mesmo carregando e
arrastando livros de instruções no outono passado. Foi fácil fingir no começo, já que
ele não pegava uma raquete há oito anos. O fato de ele estar jogando na linha do
atacante esquerdo ajudou, já que ele teve que reaprender o jogo de uma nova
perspectiva. Ele teve uma curva de aprendizado invejável e inevitável, mas ele ainda
lutou muito para não brilhar.
Ele deu na cara? Teria sido muito óbvio que ele tinha uma experiência anterior da
qual não estava falando? Como ele chamou a atenção de Kevin Day, apesar de suas
melhores tentativas de ficar escondido? Se era tão fácil para Kevin, que tipo de farol
ele estava enviando para os homens de seu pai?

“O que você está fazendo aqui?” Ele perguntou com os lábios dormentes.

“Por que você estava saindo?” Kevin perguntou.

“Eu perguntei primeiro.”

“O treinador já respondeu essa pergunta,” disse Kevin, um pouco impaciente.


“Estamos esperando você assinar o contrato. Pare de perder nosso tempo.

“Não,” disse Neil. “Há milhares de atacantes que agarrariam a chance de jogar com
você. Por que você não os incomoda?”

“Vimos seus arquivos,” disse Wymack. “Nós escolhemos você.”

“Eu não vou jogar com o Kevin.”

“Você vai,” Kevin disse.

Wymack encolheu os ombros para Neil. “Talvez você não tenha notado, mas nós
não iremos embora até que você diga sim. Kevin diz que precisamos de você, e ele está
certo.”

“Devíamos ter jogado fora a carta do seu treinador no segundo em que abrimos,”
disse Kevin. “Seus arquivos são deploráveis e não quero ninguém com sua
inexperiência em nossa quadra. Vai contra tudo o que estamos tentando fazer com os
Foxes este ano. Felizmente para você, seu treinador sabia que era melhor não nos
enviar suas estatísticas. Ele nos enviou uma fita para que pudéssemos vê-lo em ação.
Você joga como se tivesse tudo a perder.”

Era literalmente o oposto. Neil jogava como se tivesse perdido tudo.

Se Kevin se lembrasse dele, ele saberia que o arquivo era uma mentira. Ele saberia
sobre os times da liga infantil de Neil. Ele se lembraria da luta interrompida pelo
assassinato daquele homem.

“É por isso,” Neil disse calmamente.

“Esse é o único tipo de atacante com quem vale a pena jogar.”

Alívio fez Neil enjoar de estômago. Kevin não o reconheceu e isso foi apenas uma
coincidência horrível. Talvez fosse a maneira do mundo mostrar a ele o que poderia
acontecer se ele ficasse no mesmo lugar por muito tempo. Da próxima vez pode não
ser Kevin. Da próxima vez pode ser seu pai.

“Na verdade, funciona a nosso favor que você esteja totalmente aqui,” Wymack
disse. “Ninguém fora do nosso time e do conselho universitário sabe que estamos
aqui. Não queremos a sua cara nas notícias deste verão. Temos muito com que lidar
agora e não queremos arrastá-lo para a bagunça até que esteja seguro e instalado no
campus. Há uma cláusula de confidencialidade em seu contrato, que diz que você não
pode contar a ninguém que é nosso até o início da temporada em agosto.”

Neil olhou para Kevin novamente, procurando seu nome verdadeiro no rosto de
Kevin. “Não é uma boa ideia.”

“Sua opinião foi devidamente anotada e rejeitada,” disse Wymack. “Mais alguma
coisa, ou você vai começar a assinar as coisas?”

A coisa mais inteligente a fazer era meter o pé dali. Mesmo que Kevin não soubesse
quem ele era, era uma péssima ideia. Os Foxes passavam muito tempo no noticiário e
só piorava com o Kevin em campo. Neil não deveria se submeter a esse tipo de
exposição. Ele deveria rasgar o contrato de Wymack em mil pedaços e partir.

Partir significava viver, mas a forma de vida de Neil era sobreviver e nada mais.
Eram novos nomes e novos lugares, sem nunca olhar para trás. Estava fazendo as
malas e indo embora assim que ele começasse a se sentir acomodado. Neste último
ano, sem a mãe a seu lado, significava estar completamente sozinho e à deriva. Ele não
sabia se estava pronto para isso. Ele não sabia se estava pronto para desistir de Exy
novamente. Foi a única coisa que o fez se sentir real. O controle de Wymack era a
permissão para continuar jogando e a chance de fingir que era normal por mais um
tempo. Wymack disse que era por cinco anos, mas Neil não precisava ficar por tanto
tempo. Ele podia se abaixar e correr sempre que precisasse não era?

Ele olhou para Kevin novamente. Kevin não o reconheceu, mas talvez alguma parte
dele se lembrasse do garoto que conheceu há tantos anos. O passado de Neil estava
trancado nas memórias de Kevin. Era a prova de que ele existia, igual a este jogo que
ambos jogavam. Kevin era a prova de que Neil era uma mentira. Talvez Kevin também
fosse a melhor chance de Neil saber quando partir novamente. Se ele vivesse,
praticasse e jogasse com Kevin, saberia quando Kevin começaria a suspeitar. No
segundo em que Kevin começasse a fazer perguntas ou olhasse para ele engraçado,
Neil iria fugir.

“Então?” Wymack perguntou.

Os instintos de sobrevivência brigavam com a necessidade e se transformava em


um pânico quase debilitante. “Eu tenho que falar com minha mãe,” Neil disse, porque
ele não sabia o que dizer.

“Porque?” Wymack perguntou, “você é legal, não é? Seu arquivo diz que você tem
dezenove.”

Neil tinha dezoito anos, mas não iria contradizer o que dizia seu papel falso. “Eu
ainda preciso perguntar.”

“Ela ficará feliz por você.”


“Talvez,” Neil concordou baixinho, sabendo que era uma mentira. Se sua mãe
soubesse que ele estava pensando nisso, ela ficaria furiosa. Provavelmente era uma
coisa boa que ela nunca saberia, mas Neil achava que a coisa certa deveria sentir como
uma faca cravada em seu peito. “Vou falar com ela esta noite.”

“Nós podemos te dar uma carona para casa.”

“Estou bem.”

Wymack olhou para seus Foxes “Esperem no carro.” Kevin reuniu seus papeis e
desceu de seu poleiro. Andrew esperou que Kevin o alcançasse e o conduziu para fora
do vestiário. Wymack esperou até que eles fossem embora, então voltou um olhar
sério para Neil.

“Você precisa de um de nós para falar com seus pais?”

“Estou bem,” Neil disse novamente (sim ele diz muito essa palavra mesmo não sendo
verdade)
Wymack nem mesmo tentou sutileza com sua próxima pergunta. “São eles que te
machucaram?”

Neil olhou para ele completamente perdido. Era rude o suficiente para ser rude em
tantos níveis que não havia um bom lugar para começar a respondê-lo. Wymack
parecia perceber isso, porque ele insistiu antes que Neil pudesse responder.

“Vamos tentar de novo. Estou perguntando porque o treinador Hernandez acha


que você passa várias noites por semana aqui. Ele acha que está acontecendo alguma
coisa, já que você não se troca com os outros e nem deixa ninguém conhecer seus pais.
É por isso que ele nomeou você para mim; ele acha que você se encaixa no meu time.
Você sabe o que isso significa certo? Você conhece as pessoas que procuro.”

“Não sei se ele tem razão,” ele disse, “mas algo me diz que ele não está
completamente errado. De qualquer forma, o vestiário será fechado assim que o ano
letivo terminar. Você não poderá vir aqui durante o verão. Se seus pais são um
problema para você, vamos transferi-lo para a Carolina do Sul mais cedo.”

“Você vai fazer o que?” Neil perguntou surpreso.

O grupinho de Andrew fica na cidade durante as férias de verão,” disse Wymack.


“Eles ficam na casa da Abby, nossa enfermeira do time. A casa dela está cheia, mas
você poderia ficar comigo até o dormitório abrir em junho. Meu apartamento não é
feito para duas pessoas, mas tenho um sofá um pouco mais macio que uma pedra.
Diremos a todos que você está lá em condicional para praticar antecipadamente. As
chances são de que metade deles irão acreditar. Você não será capaz de enganar o
resto, mas isso não importa. Foxes são raposas por um motivo e sabem que não
assinaríamos você se você não se qualificasse. Isso não significa que eles saibam os
detalhes. Não cabe a mim perguntar e tenho certeza que não vou contar a eles.”
Foram necessárias duas tentativas para falar. “Porque?”

O treinador Wymack ficou quieto durante um minuto inteiro. “Você achou que eu
fiz a equipe desse jeito porque pensei que seria uma boa jogada de publicidade? É
sobre segundas chances Neil. Segunda, terceira, quarta, seja o que for, desde que você
receba pelo menos uma a mais do que qualquer outra pessoa gostaria de lhe dar.”

Neil tinha ouvido Wymack ser referido como um idiota idealista por mais de uma
pessoa, mas era difícil ouvi-lo e não acreditar que ele era sincero. Neil estava dividido
entre a incredulidade e o desdém. Porque Wymack se preparou para ficar
desapontado repetidas vezes, Neil não sabia. Neil teria desistido dos Foxes anos atrás.

Wymack deu a ele um segundo para pensar antes de perguntar novamente, “seus
pais serão um problema?”

Era muito para se arriscar, mas muito para se afastar.

Doeu quando ele acenou com a cabeça, mas doeu mais ver aquele olhar cansado
nos olhos de Wymack. Não era a pena que ele pensava que podia ver em Hernandez
de vez em quando, mas algo familiar que dizia que Wymack entendia o que custava
ser Neil. Ele sabia o que era ter que lutar para acordar e continuar se movendo todos
os dias. Neil duvidava que o homem pudesse realmente entender, mas mesmo aquela
pequena parte era mais do que ele já havia conseguido em sua vida. Neil teve que
desviar o olhar.

“Sua cerimônia de formatura é dia 11 de maio, de acordo com seu treinador,”


Wymack disse à distância. “Mandaremos alguém buscá-lo no aeroporto regional do
norte do estado na segunda-feira, dia 12.”

Neil quase apontou que ainda não havia concordado com nada, mas as palavras
morreram em sua garganta quando ele percebeu que realmente estava indo.

“Fique com os papéis hoje à noite,” Wymack ofereceu, empurrando sua pasta para
Neil novamente. Desta vez, Neil pegou. “Seu treinador pode enviar por fax as cópias
assinadas para mim na segunda-feira. Bem-vindo ao time.”

Obrigado, parecia apropriado, mas Neil não conseguiu. Ele lançou seu olhar para o
chão. Wymack não esperou muito por uma resposta antes de sair em busca de
Hernandez.

A porta dos fundos bateu atrás dele, e os nervos de Neil quebraram. Ele correu para
o banheiro e chegou a uma cabine bem a atempo de vomitar no vaso sanitário.

Ele podia imaginar a raiva de sua mãe se ela soubesse o que ele estava fazendo. Ele
se lembrava muito bem do puxão selvagem das mãos dela em seu cabelo. Todos esses
anos passados tentando se manter em movimento e se escondendo, e agora ele iria
destruir seu trabalho árduo. Ela nunca o perdoaria por isso e sabia disso, e isso não
ajudava em nada para melhorar a sensação de aperto em seu estômago.
“Sinto muito,” ele engasgou entre tosses molhadas. “Me desculpe, me desculpe.”

Ele tropeçou até a pia para enxaguar a boca e olhou para os espelhos pendurados
acima dele. Com cabelos pretos e olhos castanhos, ele parecia simples e normal;
ninguém para notar na multidão, ninguém para ficar na memória. Isso era o que ele
queria, mas ele se perguntou se isso era o suficiente na frente das câmeras e noticiário.
Ele fez uma pequena careta para seu reflexo e se inclinou para mais perto do espelho,
puxando com força mechas de cabelo para verificar suas raízes. Estavam escuras o
suficiente para que ele relaxasse e se recostasse um pouco.

“Universidade,” ele disse calmamente. Parecia um sonho; tinha gosto de


condenação.

Ele abriu o zíper de sua mochila o suficiente para guardar a papelada de Wymack.
Quando ele voltou para a sala principal, os dois treinadores estavam esperando por
ele. Neil não disse nada a eles, mas passou por eles em direção à porta.

Andrew abriu a porta preta do SUV de Hernandez quando Neil passou e deu a Neil
um sorriso astuto e zombeiro. “Muito bom para jogar com a gente, muito bom para
andar com a gente?”

Neil lançou um olhar frio acelerando os passos. No momento em que ele alcançou
a última extremidade do estacionamento, ele estava correndo. Ele deixou o estádio e
os Foxes e suas promessas muito boas para trás, mas o contrato não assinado em sua
bolsa parecia uma âncora em seu pescoço.
Capítulo 2
Neil há muito tempo perdeu a conta de quantos aeroportos ele viu em sua vida.
Qualquer que fosse o número insano que fosse, ele nunca se sentira confortável com
eles. Havia gente demais para ficar de olho, e voar com passaportes falsificados
sempre era arriscado. Ele herdou as conexões de sua mãe após sua morte, então ele
sabia que o trabalho era bom, mas seu coração para ver seus papéis.

Ele nunca tinha passado por Sky Harbor (é o aeroporto internacional de Phoenix) ou
Upstate Regional, mas havia algo familiar sobre seu ritmo frenético. Ele ficou parado
ao lado de seu portão em Upstate por quase um minuto depois que todos os outros de
seu voo correram para as Chegadas ou suas transferências. A multidão girando em
torno dele parecia a mistura usual: turistas, empresários e estudantes voltando para
casa no final do semestre. Ele não esperava ver ninguém que ele reconhecesse, já que
nunca tinha estado na Carolina do Sul antes, mas não doía ser cauteloso.

Finalmente, ele seguiu as placas por um corredor e subiu um lance de escadas para
o desembarque. Na sexta-feira à tarde significava que o pequeno saguão estava
confortavelmente lotado, mas localizar a carona que o treinador Wymack prometeu a
ele foi mais fácil do que Neil esperava.

Foi o peso do olhar de seu colega que trouxe o olhar de Neil quase direto para ele.
Era um dos gêmeos. A julgar pelo olhar calmo em seu rosto, Neil apostou que não era
Andrew. Aaron Minyard era frequentemente referido como o “normal” dos dois,
embora isso geralmente fosse seguido por um debate sobre se ele poderia ou não ser
sano ao compartilhar genes com Andrew.

Neil cruzou a sala para encontrá-lo. Neil era o jogador mais baixo da liga em
Millport, mas tinha uns bons dez centímetros a mais que Aaron. A roupa toda preta
não fez nada para fazê-lo parecer mais alto, Neil se perguntou como ele poderia
suportar usar mangas compridas em maio. Neil sentia-se quente só de olhar para ele.

“Neil,” Aaron disse em vez de olá, ele apontou. “Reclamação de bagagem.”

“É só isso,” Neil bateu na alça da mochila pendurada em seu ombro. A bolsa era
pequena o suficiente para ser uma bagagem de mão e grande o suficiente para
carregar tudo o que Neil possuía.
Aaron aceitou sem comentários e começou a se afastar. Neil o seguiu por portas de
vidro deslizantes que davam para uma tarde abafada de verão. Uma pequena
multidão estava esperando na faixa de pedestres pelo semáforo, mas Aaron passou
por eles direto para a rua. Os freios guincharam quando um táxi parou a centímetros
do corpo baixinho de Aaron. Aaron pareceu nem notar, estava mais interessado em
acender o cigarro entre seus lábios. Ele prestou ainda menos atenção às palavras
grosseiras que o motorista gritou para ele. Neil fez um gesto de desculpas para o
taxista e correu para alcançá-lo.

Um carro preto lustroso estava estacionado seis filas atrás, na garagem de curta
duração. Neil não sabia muito sobre carros em geral, mas sabia que eram caros quando
os via. Ele pensou por um momento que devia haver um carro menor fora de vista
atrás dele, mas Aaron o destrancou com um botão no chaveiro.

“Bolsa no porta-malas”, disse ele, abrindo a porta do motorista e sentando-se de


lado no banco para fumar.

Neil obedientemente colocou sua mochila nas costas antes de subir no banco do
passageiro, Aaron não foi a lugar nenhum até que seu cigarro tivesse acabado. Ele
amassou o resto no concreto a seus pés e fechou a porta. Uma torção da chave na
ignição fez o motor ligar, e Aaron olhou para Neil novamente. O fantasma de um
sorriso apareceu no canto de sua boca, mas era uma expressão decididamente hostil.

“Neil Josten,” disse ele novamente, como se testando o som. “Aqui pro verão,
hein?”

“Sim.”

Aaron girou o botão do ar condicionado o mais alto que pôde e colocou o carro em
marcha rá. “Isso faz cinco de nós, mas dizem que você vai ficar com o treinador.”

O treinador Wymack avisou Neil que os primos Andrew, Aaron e Nicholas


estariam na cidade, mas ainda não fazia sentido. Neil sabia quem era a quinta pessoa.
Ele não queria acreditar, mesmo sabendo que deveria esperar por isso. Kevin estava
colado ao lado de Andrew desde sua transferência. Mesmo assim, Neil precisava ter
certeza.

“Kevin fica no campus?” ele perguntou.

“Onde a quadra está é onde Kevin está. Ele não pode existir sem.” disse Aaron com
escárnio.

“Não achei que fosse pelo estádio que Kevin estava ficando,” disse Neil.

Aaron não respondeu. Foi uma curta viagem de carro até a saída do estacionamento
e Aaron tinha dinheiro pronto em suas mãos para a senhora na cabine. Assim que a
barra se levantou para deixá-los sair, ele pisou no acelerador. Uma buzina soou para
eles em advertência quando eles cortaram direto para o tráfego e Neil discretamente
se segurou na maçaneta da porta. Aaron não percebeu ou não se importou. Quando
eles estavam na estrada, ele lançou um olhar de soslaio para Neil.

“Ouvi dizer que você não se deu bem com Kevin no mês passado.”

“Ninguém me avisou que ele estaria lá,” respondeu Neil observando a paisagem
passar do lado de fora da janela. “Talvez você me perdoe por não reagir bem.”

“Talvez eu não vá. Eu não acredito em perdão, e não fui eu que você ofendeu. Essa
é a segunda vez que um recruta diz a ele para se foder. Se fosse possível amassar
aquela arrogância dele, seu orgulho teria se despedaçado. Em vez disso, ele está
perdendo a fé na inteligência doa atletas do ensino médio.”

“Tenho certeza que Andrew teve seus motivos para recusar, assim como eu.”

“Você disse que não era bom o suficiente, mas aqui está. Você acha que um verão
treinando fará muita diferença?”

“Não,” disse Neil. “Só era muito difícil dizer não.”

“O treinador sempre sabe o que dizer, hein? No entanto, torna as coisas mais difíceis
para o resto de nós. Nem mesmo Millport deveria ter se arriscado com você.”

Neil encolheu os ombros. “Millport é muito pequeno para se preocupar com a


experiência. Eu não tinha nada a perder tentando e eles não tinham nada a ganhar me
recusando. Era uma questão de estar no lugar certo na hora certa, eu acho.”

“Você acredita em destino?”

Neil percebeu o leve desprezo na voz do outro homem. “Não. E você?”

“Sorte, então,” Aaron disse, ignorando a pergunta.

“Apenas o tipo ruim.”

“Estamos lisonjeados por sua alta opinião sobre nós, é claro.”

Aaron puxou o volante deslizando o carro de uma pista para a outra sem se
preocupar em verificar o tráfego ao seu redor. Buzinas soaram atrás deles. Neil
observou pelo retrovisor os carros desviarem para evitar atingi-los.

“É um carro muito bom para destruir,” disse ele incisivamente.

“Não tenha tanto medo de morrer,” disse Aaron enquanto o carro deslizava pela
estrada de quatro pistas até uma rampa de saída. “Se for, você não tem lugar no nosso
time.”

“Estamos falando de um esporte, não de uma luta mortal.”

“Mesma diferença,” disse Aaron. “Você está jogando por um time de classe I com
Kevin na sua linha. As pessoas estão sempre dispostas a sangrar por ele. Você viu as
notícias, eu suponho.”
“Eu vi,” Neil disse.

Aaron estalou os dedos como se isso provasse seu ponto de vista. Neil teria
dificuldade em dizer que estava errado, então deixou passar.

Kevin Day e seu irmão adotivo Riko Moriyama foram considerados os filhos do
Exy. A mãe de Kevin, Kayleigh Day, e o tio de Riko, Tetuji Moriyama, criaram o
esporte há cerca de trinta anos, enquanto Kayleigh estudava no exterior em Fukui, no
Japão. Oque começou com um experimento se espalhou de seu campus para as
equipes de rua locais e, em seguida, através do oceano para o resto do mundo.
Kayleigh o trouxe para casa com ela, na Irlanda, depois de terminar seu curso, e os
Estados Unidos começou a jogar logo depois.

Kevin e Riko foram criados no Exy. Quando o enorme Castelo Evermore deo Edgar
Allen, o primeiro estádio NCAA de Exy nos Estados Unidos, era pouco mais do que
uma impressão em papel, Kevin e Riko tinham raquetes personalizadas. Depois do
acidente de carro fatal de Kayleigh, Tetsuji acolheu Kevin, mas o novo treinador dos
Ravens não tinha tempo para criar as crianças. Riko e Kevin passaram seus anos
fundamentais com os Ravens e foram considerados os mascotes não oficiais da equipe.
Quando não eram treinados por Tetsuji, eram treinados pelo time, e tutores eram
trazidos para o local para que não tivessem que deixar o estádio para ir à escola.

Kevin e Riko cresceram na frente das câmeras, mas sempre com Exy como pano de
fundo e sempre juntos. Até Kevin ser transferido para o estado de Palmetto, ele e Riko
nunca foram vistos em salas separadas. Suas infâncias não convencionais levaram
muitos a se preocuparem com seus bem-estares psicológicos, mas também alimentou
uma obsessão raivosa pelo par. Riko e Kevin eram o rosto dos Ravens. Para muitos,
eles foram considerados o futuro de Exy.

Em dezembro passado, Riko e Kevin desapareceram dos olhos do público por


semanas. Quando o campeonato da primavera começou em janeiro, nenhum dos dois
integrantes da equipe titular dos Ravens estavam presentes. Não foi até o final de
janeiro que Tetsuji Moriyama abordou o assunto em uma coletiva de imprensa, e a
notícia foi um golpe cruel para os fãs de Exy em todos os lugares: Kevin Day quebrou
a mão jogadora em uma viagem de esqui. De acordo com Tetsuji, Kevin e Riko
estavam muito devastados para encarar seus colegas de equipe e seus fãs ainda.

No dia seguinte, o treinador Wymack disse à imprensa que Kevin estava se


recuperando na Carolina do Sul. Ouvir que Kevin nunca mais jogaria era ruim;
descobrir que ele deixou de ser um Raven foi de alguma forma pior para seus fãs
obsessivos. Se Kevin foi relegado para segundo plano como assistente técnico, ele
deveria pelo menos emprestar seu prestígio e conhecimento para o time de casa. Os
fãs se ofenderam em nome de seu amado time, mas quase todos presumiram que ele
seria transferido de volta assim que sua mão terminasse de curar. Exceto que Kevin
Day assinou com os Foxes em março - não como um treinador, mas como atacante.
Seus fãs deixaram de sentir o coração partido para se sentirem traídos. O estado de
Palmetto havia sofrido o impacto dessa raiva desde então. A universidade e o estádio
foram vandalizados mais de uma dúzia de vezes e houve inúmeras brigas no campus.
Isso só iria piorar quando a temporada começasse e as pessoas vissem Kevin vestindo
as cores dos Foxes. Neil não estava ansiosa para entrar no meio dessa confusão.

O complexo de apartamentos onde Wymack morava ficava a 20 minutos de carro


do aeroporto. O estacionamento estava quase vazio, já que era meio da tarde de um
dia de semana, mas havia três pessoas esperando na calçada. Aaron foi o primeiro a
sair e ele jogou o chaveiro na parte de trás do carro. Neil ouviu as fechaduras lacrarem
ao sair do carro. Aaron foi encontrar os outros no meio-fio enquanto Neil pegava sua
mochila do porta-malas. Neil pendurou-o no ombro, relaxando um pouco com o peso
familiar e fechou o porta-malas. Quando ele olhou pra frente ele era o centro das
atenções.

Os gêmeos estavam um de cada lado do Kevin, vestidos de forma idêntica, mas


facilmente distinguíveis pela expressão em seus rostos. Aaron parecia entediado (ele
não tem outra expressão ou emoção kkkk brincadeira lê ai) agora que ele cumpriu seu dever
de trazer Neil aqui. Andrew estava sorrindo, mas Neil sabia que isso não significava
que ele iria se comportar. Ele estava sorrindo quando quebrou uma raquete no
estômago de Neil também.

Nicholas Hemmick foi o único que parecia genuinamente feliz em ver Neil, e ele se
aproximou do meio-fio quando Neil chegou mais perto. Neil ficou feliz com a
distração, já que o impedia de olhar para Kevin, e ele prontamente aceitou a mão de
Nicholas ofereceu.

“Hey,” disse o outro homem, segurando a mão de Neil para puxá-lo para cima da
calçada. “Bem-vindo à Carolina do Sul. O voo foi tudo bem?”

“Foi bem,” disse Neil.

“Sou Nicky.” Nicky deu outro aperto forte na mão de Neil antes de soltá-la. “Primo
de Andrew e Aaron, extraordinário na defesa.”

Neil olhou dele para os gêmeos e de volta para ele. Onde os gêmeos eram claros,
Nicky era moreno, com cabelos negros, olhos castanhos escuros e pele dois tons mais
escura para ser bronzeada. Ele também tinha a melhor parte de uns trinta centímetros
a mais que eles. “Por sangue?”

Nicky riu. “Não pareço, certo? Puxei minha mãe. Papai a ‘resgatou’ do México
durante uma viagem ministerial lá-di-dah.” Ele fingiu revirar os olhos, então apontou
para os outros. “Você já os conhece certo? Aaron, Andre e Kevin? O treinador deveria
estar aqui para deixá-lo entrar, mas ele teve que ir para o estádio bem rápido. O ERC
ligou para ele, provavelmente com mais besteiras sobre como nós não divulgamos
ainda nosso substituto. Enquanto isso você está preso a nós, mas temos as chaves do
treinador. Malas no porta-malas?”
“É só isso,” disse Neil.

Nicky ergueu uma sobrancelha para ele e olhou para os outros. “Eu gostaria de
poder viajar assim, mas inferno seu eu não for materialista.”

“Materialista é a penas o começo,” disse Aaron.

Nicky sorriu e segurou o ombro de Neil, guiando-o além do resto em direção à


porta da frente. “É aqui que o treinador vive,” disse ele desnecessariamente. “Ele
ganha todo o dinheiro, então ele consegue viver em um lugar como este enquanto nós,
pobres, ficamos apenas com um sofá.

“Vocês têm um belo carro para alguém que pensa que é pobre,” disse Neil.

“É por isso que somos pobres,” disse Nicky secamente.

“A mãe de Aaron comprou para nós com o dinheiro do seguro de vida dela,”
explicou Andrew. “Não é nenhuma surpresa que ela teve que morrer para valer
alguma coisa.”

“Fácil,” disse Nicky, mas ele estava olhando para Aaron quando disse isso.

“Fácil fácil.” Andrew ergueu as mãos em um encolher de ombros descuidado. “Por


que se preocupar? É um mundo cruel, certo Neil? Você não estaria aqui se não fosse.”

“Não é o mundo que é cruel,” disse Neil. “São as pessoas nele.”

“Oh, é verdade.”

Eles subiram até o sétimo andar em silêncio. Neil observou os números marcando
acima da porta para não olhar para o reflexo de Kevin. A inquietação por estar tão
longe do chão era quase uma distração suficiente. Ele preferia ficar em níveis mais
baixos para que pudesse escapar facilmente se necessário. Ele fez uma anotação
mental para encontrar toda e qualquer saída de incêndio.

O apartamento de Wymack era o número 724. Eles se reuniram em torno da porta


para que Aaron pudesse tirar a chave de seu bolso. Ele precisou de duas tentativas
para lembrar em qual havia colocado. Neil não percebeu quando o encontrou e
destrancou a porta. Ele estava muito ocupado olhando para os bolsos da calça de
Aaron. Eles eram muito lisos para esconder um maço de cigarro, mas Neil viu Aaron
guardar o maço no bolso antes de atravessar a rua no aeroporto.

“Aqui está, Neil,” disse Nicky, e Neil forçou seu olhar para a porta aberta. Nicky
fez um gesto para que ele entrasse primeiro. “Lar doce lar, se é que algo envolvendo
o treinador pode ser chamado de doce.”

Neil sabia desde abriu que iria dormir no sofá do treinador Wymack por algumas
semanas. Ele sabia, nos dias que se seguiram à visita de Wymack, que seria
desconfortável. Ele ainda não estava preparado para a forma como seu estômago
revirava dentro dele agora. Ele estava sozinho dês que sua mãe morreu, e o último
homem com quem viveu foi seu pai. Como ele deveria deixar Wymack trancar a porta
todas as noites com os dois sob o mesmo teto? Ele não poderia dormir aqui; cada vez
que Wymack respirasse, Neil acordaria e se perguntaria se tinha alguém atras dele.
Talvez ele devesse explicar isso a Wymack? Ele teria que explicar? Wymack achava
que os pais de Neil eram abusivos, então talvez ele entendesse a reticência de Neil.

Ele não esperava se sentir assim, e ele hesitou por muito tempo. Ele viu o olhar que
Nicky enviou a Aaron, curioso e confuso, e sabia que tinha cometido um erro. Ainda
assim, não foi até Andrew se aproximar dele para ver o que o estava impedindo que
Neil conseguiu se mexer novamente. Andrew estava sorrindo, mas seu olhar pálido
era intenso. Neil encontrou seus olhos por apenas um momento e soube que era pior
ficar aqui com eles do que cruzar aquele limite. Ele daria um jeito, mas não aqui e não
agora, não com Andrew e Kevin como testemunhas.

Neil ultrapassou a soleira e começou a andar pelo corredor. A primeira porta se


abria para a sala de estar em que Neil dormiria. O sofá que Wymack havia mencionado
foi limpo e ainda tinha um bilhete colado nele dizendo que os cobertores estavam na
gaveta da mesa de centro. Era a única limpa da sala. Todo o resto estava coberto de
papelada e canecas de café vazias. Cinzeiros transbordando também eram prejudiciais
à saúde.

Neil estava no meio da sala olhando pela janela quando Nicky falou atrás dele.

“Sobre o que era tudo aquilo?”

O sangue de Neil se transformou em lama. Não foram as palavras que o pegaram,


mas a língua que Nicly usou. Alemão era a segunda língua de Neil graças aos tres
anos que morou na Áustria, Alemanha e Suíça. Ele se lembrava mais da Europa do
que gostaria; na maior parte do tempo, havia uma confusão. Ele sabia que o cheiro
forte de sangue em sua boca era apenas sua imaginação, mas era forte o suficiente para
sufoca-lo. Ele podia sentir o batimento cardíaco em cada centímetro de sua pele, indo
tão rápido que o fez tremer da cabeça aos pés.

Como eles sabiam que ele falava alemão?

Neil teve vontade de fugir, mas Aaron respondeu, e Neil percebeu com uma pressa
doentia que Nicky não estava falando com ele. Não, eles estavam falando sobre ele,
não pretendendo que ele entendesse. Neil se forçou a se mover, terminando sua ida
até a janela. Ele empurrou as cortinas para trás e colocou as mãos no vidro, precisando
de algo para firmá-lo enquanto seu coração tentava voltar ao ritmo normal.

“Talvez ele estava saboreando o momento,” disse Aaron.

“Não,” Nicky disse. “Aquilo foi pura luta ou fuga. O que diabos você disse para ele
Andrew?”
Neil olhou para eles. Nicky não estava olhando para Andrew, talvez já sabendo que
não obteria uma resposta, mas estava observando Neil do outro lado da sala. Quando
Neil se virou, Nicky deu um sorriso brilhante e voltou para o inglês. “Que tal um
tour?”

Neil considerou dizer algo, mas ele já havia revelado muito. “Certo.”

Não havia muito para ver. Um banheiro e uma cozinha ficavam um em frente ao
outro, e os quartos ficavam no final do corredor. Wymack havia convertido o segundo
quarto em um escritório. O escritório composto pelas paredes nuas da sala de estar:
estava coberto de artigos de jornal, fotos da equipe, calendários desatualizados e
diversos certificados. Duas estantes de livros cobriam a parede, uma cheia de livros
de Exy, a outra uma mistura de tudo, de guias de viagens a literatura clássica. A mesa
de Wymack estava enterrada em papelada, nem um centímetro de madeira visível, e
o arquivo de Neil estava em cima. Em um canto estava um frasco pesado de remédios.
Nicky pegou a garrafa triunfante e girou a tampa.

“Isso não é seu,” disse Neil.

“Analgésicos,” disse Nicky, ignorando a acusação implícita. “O treinador quebrou


o quadril alguns anos atrás, você sabia? Foi assim que ele conheceu a Abby. Ela era
sua terapeuta e ele conseguiu o emprego para ela aqui. A aposta do time está meio a
meio sobre se eles estão se pegando ou não. Andrew se recusa a apostar, o que
significa que você é o desempate. Informe-nos o mais rápido possível. Tenho muito
dinheiro nisso.”

Ele colocou alguns comprimidos em sua mão, fechou a tampa e colocou o frasco de
volta. Neil olhou para ver o que os outros pensavam disso, mas Andrew e Kevin
haviam desaparecido. Apenas Aaron permaneceu, e ele não parecia nem um pouco
preocupado.

“Você vai conhecer Abby hoje à noite no jantar,” disse Nicky, enfiando os
comprimidos em seu bolso. “Temos algumas horas para matar antes disso, então
talvez nós podemos te levar para a quadra e deixá-lo boquiaberto. Agora temos o
número perfeito para jogos amistosos. Kevin provavelmente está mijando de
empolgação.”

“Duvido,” disse Neil, pensando na expressão desapaixonada de Kevin lá embaixo.

“Kevin não fica animado,” Aaron concordou, “mas como Exy é a única coisa com
que ele se preocupa, ninguém quer você em nosso time mais do que ele.”

A resposta de Neil ficou presa em algum lugar em sua garganta enquanto ele
processava isso. Foi a mesma coisa que Aaron disse no carro, quase, exceto que esse
Aaron agora parecia apático enquanto antes ele tinha sido desdenhoso. Entre essa
mudança repentina de atitude, o desaparecimento do maço de cigarro e as roupas
combinando, Neil estava começando a duvidar sobre o que estava acontecendo aqui.
Essas eram apenas pequenas coisas, mas Neil aprendeu a sobreviver prestando
atenção aos pequenos detalhes.
“É difícil jogar com ele?” ele perguntou, mudando o que estava prestes a dizer.
“Quero dizer, com ele sendo um campeão e tudo mais.”

“Tecnicamente, ainda não jogamos todos nós com ele,” disse Nicky. “Ele começou
a treinar conosco no mês passado. Se ele é alguma coisa na quadra como ele é como
assistente técnico, você terá o ano mais terrível de todos.” Apesar de suas palavras
sinistras, Nicky parecia se divertir com isso. “Mas ele vale a pena.”

“Vale a pena a lutar também?” Neil perguntou. “Como aquelas duas semanas atrás
que Aaron disse que saiu completamente fora de controle. Quantas pessoas ficaram
feridas naquilo mesmo?”

Houve uma ligeira pausa enquanto Aaron pensava, e por um momento Neil
decidiu que havia imaginado as coisas. Então Aaron respondeu: “Onze”.

Era a resposta certa; Neil tinha lido sobre a briga em um artigo. Mas ele e Aaron
não tiveram essa conversa no carro e Aaron deveria saber disso. Tarde demais, Neil
lembrou da acusação provocante de Nicky na sala de estar: ‘O que diabos você disse
para ele, Andrew?’ Neil presumiu que Nicky estava se referindo ao primeiro encontro
em Millport, mas Nicky estava falando sobre a viagem de carro do aeroporto. Afinal,
não foi Aaron quem pegou Neil no aeroporto.

Neil ficou irritado com o truque bobo e aliviado por ter percebido, mas a cautela
surpreendeu os dois. Andrew não ficava alegre naturalmente; sua mania era unduzida
por drogas e regularmente pela quadra. Dois anos atrás, alguns homens atacaram
Nicky fora de uma boate. Andrew estava em seu direito de defender Nicky, mas ele
quase matou os quatro. (meu bebê é mortal 😍). O tribunal considerou sua violência
uma reação exagerada e grosseira e tentaram o prender. Em vez disso, seus advogados
fecharam um acordo: Andrew passaria algum tempo em terapia intensiva, faria
aconselhamento semanal e tomaria medicamentos.

Depois de três anos assim, eles o deixaram interromper a medicação por tempo
suficiente para avaliar seu progresso. A sobriedade em qualquer momento anterior
era uma violação de sua condicional. Se a enfermeira da equipe, a atual psiquiatra de
Andrew ou o psiquiatra do tribunal que administrou a liberdade condicional de
Andrew suspeitasse que ele não estava seguindo as regras, eles podiam solicitar um
exame de urina. Se Andrew falhasse, ele seria preso.

Andrew só teve que aguentar durante a primavera, mas aparentemente ele não
podia esperar tanto tempo. Neil não conseguia acreditar que Andrew arriscaria a
sobriedade quando as consequências eram tão profundas. Ele se perguntou se sua
chegada tinha a ver com isso, se Andrew queria conhecer seu mais novo companheiro
de equipe sem uma mente nebulosa, ou se Andrew apenas odiava passar suas férias
de verão drogado até as guelras.

Como se fosse uma deixa, Andrew apareceu na porta com uma garrafa de uísque
em uma das mãos e Kevin em suas costas. “Sucesso.”
“Pronto, Neil?” Nicky perguntou. “Provavelmente deveríamos sair antes que o
treinador apareça.”

“Porque?” Neil apontou para a garrafa. “É um roubo em andamento?”

“Talvez seja. Você contará ao treinador sobre nós?” Andrew perguntou, parecendo
entretido com a ideia. “Tanto para ser um jogador da equipe. Eu acho que você
realmente é uma raposa”

“Não,” disse Neil, “mas eu perguntaria a ele por que você não está medicado.”

Houve um minuto de silêncio assustador. O único que não reagiu foi Andrew; até
Kevin pareceu surpreso.

Nicky foi o primeiro a encontrar sua língua, mas voltou a falar em alemão com
Aaron: “Estou louco? Acabei de ver isso acontecer?”

“Não olhe para mim,” disse Aaron.

“Prefiro uma resposta em inglês,” disse Neil.

Andrew colocou o polegar no canto da boca e arrastou ao longo dos lábios para
apagar o sorriso. “Isso soa como uma acusação, mas eu não menti para você.”

“Omissão é a maneira mais fácil de mentir,” disse Neil. “Você poderia ter me
corrigido.”

“Poderia, mas não fiz,” disse Andrew. “Descobriu sozinho.”

“Sim,” disse Neil. Ele bateu dois dedos em sua têmpora, copiado a saudação
zombeteira de Andrew de seu primeiro encontro. “Mais sorte da próxima vez.” (a
criança é ousada 😎)

“Oh,” disse Andrew. “Oh, você pode realmente se tornar interessante. Por um
tempo, pelo menos. Não acho que a diversão vai durar tanto. Nunca dura” (😊 ohh
como vai)

“Não mexa comigo.”

“Ou o quê?”

Houve um barulho quando alguém forçou a maçaneta da porta da frente. O sorriso


de Andrew voltou em um piscar de olhos, brilhante e vazio. Ele se virou para Kevin,
e Kevin se mexeu ao mesmo tempo. O uísque desapareceu em algum lugar entre eles
em um movimento praticado.

“Oi treinador,” Andrew chamou por cima do ombro.

“Você tem ideia do quanto eu odeio voltar para casa e encontrar vocês no meu
apartamento?” Wymack exigiu fora de vista.
Andrew ergueu as mãos vazias em um gesto inocente que ninguém acreditou e saiu
para o corredor. Aaron e Kevin foram atrás dele, provavelmente com o álcool entre
seus corpos, e deixaram Nicky e Neil no escritório.

“Não quebrei nada dessa vez,” disse Andrew.

“Vou acreditar nisso depois de verificar tudo o que tenho.” A porta bateu no
corredor, e não demorou muito para o treinador pisar na porta do escritório. Vestido
com shorts jeans e uma camiseta desbotada, Wymack parecia mais um roqueiro de
banda de garagem do que um treinador universitário. Neil imaginou que ele não
precisava parecer apresentável em sua própria casa, mas ainda assim era
desorientador.

Wymack deu uma olhada em Neil e acenou com a cabeça. “Vejo que você fez tudo
certo. Eu tinha certeza que a direção de Nicky faria com que você morresse.”

Neil sentiu que Nicky o observava e disse: “Já sobrevivi a coisas piores.”

“Não há pior sobrevivência do que dirigir com aquele idiota,” disse Wymack. “Há
apenas caixão aberto ou fechado.”

“Ei, ei,” disse Nicky. “Isso não é justo.”

“A vida não é justa idiota. Supere isso. O que vocês ainda estão fazendo aqui?”

“Saindo,” disse Andrew. “Adeus. Neil vem também?”

“Indo para onde?” Wymack perguntou, parecendo desconfiado.

“Caramba treinador que tipo de pessoa você acha que somos?” Perguntou Nicky.

“Você realmente quer que eu responda isso?”

“Vamos levá-lo para quadra,” disse Aaron. “Podemos dar uma carona a Abby
depois. Você não precisa dele, não é?”

“Só para dar isso a ele,” disse Wymack, e Neil agarrou as chaves que foram jogas
em sua direção. Havia dois anéis enrolados juntos, duas chaves em um e três no outro.
Neil olhou para eles enquanto Wymack os assinalava com os dedos. “A chave longa é
para quando o portão da frente fecha à noite. A pequena abre a porta da frente. As
outras são para o estádio: porta externa, sala de musculação e porta do ginásio. Kevin
tem um conjunto correspondente, então faça com que ele mostre qual é qual. Espero
que você faça tanto uso deles quanto ele.”

“Obrigado,” disse Neil, cerrando os dedos com força suficiente ao redor delas, ele
podia sentir os dentes cravando em sua palma. Ele se sentiu mais estável com eles em
suas mãos. Não importava onde ele estava dormindo ou quais truques Andrew
estavam fazendo. Havia uma quadra aqui e ele tinha permissão para jogar nela. “Eu
vou.”
“Favoritismo, treinador,” disse Andrew.

“Se você alguma vez fosse a quadra por sua própria vontade, talvez eu também lhe
desse um conjunto de chaves,” disse Wymack. “Já que não vejo isso acontecendo nesta
vida ou na próxima, você pode calar a boca e compartilhar com Kevin.”

“Oh, alegria, alegria,” disse Andrew. “Meu rosto animado começa agora. Podemos
ir?”

“Fora,” disse Wymack, e Andrew desapareceu. Kevin e Aaron o seguiram. Quando


Nicky chegou à porta do escritório, Wymack colocou a mão em seu caminho para
detê-lo. “Não se atreva a traumatizá-lo em seu primeiro dia aqui.

Nicky olhou de Wymack para Neil. “Neil não está traumatizado, certo?”

“Ainda não,” disse Neil.

Depois de um momento de debate, ele tirou a bolsa do ombro. A ideia de deixá-la


para trás fez sua pele arrepiar, considerando o que estava escondendo dentro dela,
mas ele não confiava nas intenções de Andrew. Neil não sabia por que Andrew estava
sóbrio ou por que ele o pegou no aeroporto quando agora parecia que Wymack havia
encarregado Nicky com essa responsabilidade, mas ele não achava que Andrew tinha
acabado de brincar ainda. Neil confiava em Wymack mais do que em Andrew nesse
momento e esperava que não tivesse cometendo um erro.

“Você tem um lugar seguro onde eu possa esconder isso?” ele perguntou.

“Há espaço na sala de estar,” disse Wymack.

Neil olhou para Nicky, perguntando-se como ele poderia elaborar sem torná-lo
curioso o suficiente para bisbilhotar. Ele nunca se afastou de sua bolsa a menos que
estivesse trancada em algum lugar, geralmente em seu armário no estádio de Millport.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Wymack deu a Nicky um olhar
impaciente. “Por que você ainda está aqui? Saia.”

“Rude,” disse Nicky, mas passou por Wymack e desapareceu no corredor.

Wymack olhou para Neil novamente. “Quão seguro é seguro?”

Neil nunca foi de ser ler fácil antes, mas então, ele nunca deixou a situação ficar
completamente fora de controle. Na estrada, sua mãe sempre manteve o controle,
tecendo as histórias perfeitas e escolhendo as marcas ideais para ajudá-los. Neil havia
se atrapalhado em sua transição para Millport, mas ele poderia ter cortado e fugido a
qualquer momento se ele não gostasse da maneira como as coisas estavam indo. Isso,
ele queria desesperadamente fazer funcionar, pelo tempo que pudesse conseguir.

“É tudo o que tenho,” disse Neil por fim.


Wymack fez um gesto para que Neil saísse de seu caminho. Neil observou enquanto
ele destrancava a última gaveta de sua mesa. Estava cheio de arquivos jogados, mas
Wymack puxou todos para fora e os empilhou no chão próximo. A pilha tombou
assim que ele a soltou, papéis e pastas deslizaram para todos os lados. Wymack nem
pareceu notar, estava muito ocupado tirando uma chave minúscula de seu chaveiro.

“Esta é apenas uma solução temporária,” disse Wymack. “Quando você se mudar
para os dormitórios, você vai ter que descobrir outra coisa.”

Ele estendeu a chave para Neil. Neil olhou dele para a gaveta aberta, para a pilha
de papéis e de volta para ele. Ele abriu a boca, fechou-a, e tentou novamente. Ele só
conseguiu dizer “Por que” antes de Wymack se cansar de esperar por ele e colocar a
chave em sua palma.

“Melhor se apressar antes que Andrew mande alguém procurar por você,” disse
Wymack. Neil engoliu o resto da pergunta em favor de enfiar a mochila na gaveta.
Felizmente, a maior parte do que estava na bolsa eram roupas, então ela cabia no
espaço apertado com alguns empurrões. Neil fechou a gaveta e trancou-a. Ele tentou
devolver a chave, mas Wymack lançou lhe um olhar de pena.

“O que diabos eu iria querer com isso?” Wymack disse. “Devolva quando você se
mudar.”

Neil olhou para a chave na palma da mão, para a segurança que Wymack lhe dava
com tanta facilidade sem questionamentos. Talvez Neil não conseguisse dormir esta
noite e talvez passasse as próximas semanas acordado toda vez que Wymack roncasse
um pouco mais alto, mas talvez Neil realmente estivesse bem aqui por enquanto.

“Obrigado,” disse ele.

“Anda logo,” disse Wymack.

Neil saiu do escritório. Os outros haviam deixado a porta da frente aberta e estavam
esperando por ele no corredor. Neil colocou a chave em seu chaveiro enquanto
caminhava para encontrá-los. Andrew levou seus primos e Kevin até o elevador
enquanto Neil fechava a porta e trancava-a atrás de si. O elevador chegou segundos
depois de Neil se juntar a eles, e eles entraram.

A fugaz sensação de segurança de Neil desapareceu no segundo em que as portas


se fecharam atrás dele, porque os outros se organizaram em um círculo ao redor das
paredes do elevador: Nicky e Aaron ao seu lado e Andrew e Kevin em frente a ele.
Todos os olhos estavam em Neil.

O sorriso de Andrew desapareceu quando o elevador começou a descer lentamente.


Neil devolveu o olhar, todos os músculos tensos para uma luta. No quinto andar,
Andrew se afastou do parapeito e partiu para cima de Neil. Ele pegou as chaves de
Neil, mas Neil moveu o chaveiro para fora de alcance (provavelmente ele levantou o braço
pra cima e Andrew não alcançou kkkkkk). Andrew tentou novamente, e Neil teve que
recuar para se esquiar de sua mão. Ele recuou até a porta de metal e percebeu um
momento tarde demais que Andrew não se importava nem um pouco com as chaves.
Ele enterrou o chaveiro no bolso, sentindo-se preso dentro. Que estúpido que alguém
tão baixo pudesse ter tal presença.

“Que bom conhecê-lo, Neil,” Andrew falou lentamente. “Vai demorar um pouco
antes de nos vermos novamente.”

“De alguma forma, não acho que tenho tanta sorte.”

“Assim,” esclareceu Andrew, gesticulando entre seus rostos. “Vai ter que esperar
até junho. Abby ameaçou revogar nossos direitos na quadra para o verão se
quebrarmos você antes disso. Não podemos permitir isso, podemos? Kevin choraria.
Não se preocupe, vamos esperar até que todos estejam aqui aí Abby terá muitas outras
raposas com que se preocupar. Então, iremos te dar uma festa de boas-vindas que você
não irá esquecer.”

“Você precisa repensar suas técnicas de persuasão. Elas são péssimas.”

“Não preciso ser persuasivo,” disse Andrew, colocando a mão no peito de Neil
enquanto o elevador diminuía a velocidade e parava. “Você apenas aprenderá a fazer
o que eu digo.”

As portas se abriram atrás de Neil. Assim que se separaram o suficiente, Andrew


deu um pequeno empurrão em Neil. Neil tropeçou para dentro do saguão. Andrew
passou por ele, batendo-o do ombro ao quadril, e se dirigiu a porta. Kevin estava a
meio passo atrás dele, e Aaron nem mesmo olhou para Neil no caminho. Apenas
Nicky ficou para trás tempo suficiente para sorrir para Neil.

“Pronto para isso?” ele perguntou, e seguiu em frente.

Neil ficou para trás por mais alguns segundos para olhar eles saindo do prédio. Ele
estava começando a achar que Kevin não era seu único problema em Palmetto State.
Foi quase um alívio. Neil não conseguia antecipar Kevin; ele não poderia perguntar o
quanto Kevin se lembrava de seu passado e ele não saberia até tarde demais o que
finalmente fizesse com que Kevin se lembrasse dele. Mas Andrew era apenas um anão
psicótico e Neil cresceu em meio à violência. Lidar com ele seria fácil. Neil teria apenas
que ser cuidadoso.

“Pronto,” disse Neil, e começou a seguir seus companheiros.


Capítulo 3

Neil avisto o Foxhole Court muito antes de chegarem ao estacionamento do estádio.


Construído para acomodar sessenta e cinco mil fãs, ele foi levantando nos arredores
do campus, onde poderia se poderia se elevar dos edifícios de serviço públicos mais
baixos nas proximidades. A pintura só fazia com que se destacasse mais: as paredes
eram de um branco ofuscante com detalhes em laranja extremamente brilhante. Uma
gigantesca pata de raposa foi pintada em cada uma das quatro paredes externas. Neil
se perguntou quanto custou a construção para a universidade e como eles
lamentavam desesperadamente o investimento, considerando o retorno miserável dos
Foxes.

Eles passaram por quatro estacionamentos antes de entrarem em um quinto. Já


havia alguns carros lá, provavelmente para funcionários de manutenção ou alunos do
curso de verão, mas nenhum estava estacionado na calçada mais próxima do estádio.
O próprio estádio foi cercado por uma cerca de arame farpado. Portões foram
colocados equidistantes ao longo da cerca para lidar com a multidão na noite de jogos,
e todos eles eram fechados com correntes.

Neil foi até a cerca e olhou através dela para o terreno externo. Estava deserto agora,
as barracas de souvenires e de comida fechadas com tábuas até a temporada começar
novamente, mas ele podia imaginar como seria em alguns meses. Isso fez com que
todos os pelos de seu corpo se arrepiassem, e seus batimentos cardíacos ecoassem em
seus ouvidos, soava como uma bola de Exy ricocheteando a parede da quadra.

Nicky colocou a mão no ombro de Neil. “Toda a laranja cresce em você,” ele
prometeu.

Neil agarrou as barras de metal desejando poder entrar. “Me deixe entrar.”

“Vamos lá,” disse Nicky, e o conduziu pela cerca.

Eles chegaram ao fim dos portões - eles estacionaram na 24, e o próximo era 1. Entre
os dois portões havia uma porta estreita lacrada com um teclado eletrônico. A porta
levava a um corredor que cortava o terreno externo em dois; quem quer que
conseguisse chegar até o portão 24 teria que entrar no estádio e passar pelas
arquibancadas para chegar ao portão 1. Os outros estavam esperando por Nicky e Neil
do lado de fora daquela porta. Aaron trouxe o uísque com ele.

“Esta é a nossa entrada,” disse Nicky. “O código muda a cada dois meses, mas o
treinador sempre nos avisa quando isso acontece. Agora é 0508. Maio e agosto,
entendeu? Os meses de aniversário do treinador e da Abby. Eu disse que eles estavam
se pegando. Quando é seu aniversário?”
“Foi em março,” Neil mentiu.

“Oh, nós perdemos. Mas nós o recrutamos em abril, então isso deve contar como o
maior presente do mundo. O que sua namorada deu para você?”

Neil olhou para ele. “O que?”

“Qual é, um rosto fofo como o seu deve ter uma namorada. A menos que você jogue
no meu time, é claro, nesse caso, por favor, me diga agora e me poupe do trabalho de
ter que descobrir.”

Neil olhou para ele, perguntando-se como Nicky poderia se importar com essas
coisas quando o estádio estava bem ali. Eles sabiam o código para entrar, mas estavam
parados como se sua resposta fosse a senha secreta. Neil olhou de Nicky para o teclado
e de volta para Nicky.

“Qual a importância?” ele perguntou.

“Estou curioso,” disse Nicky.

“Ele quer dizer intrometido,” disse Aaron.

“Eu não jogo em nenhum time,” disse Neil. “Vamos entrar.”

“Besteira," disse Nicky.

“Eu não,” Neil disse, e a impaciência colocou um tom em sua voz. Não era bem
verdade, mas estava perto o suficiente. “Vamos entrar ou não?”

Em resposta Kevin digitou o código e abriu a porta. “Vá,” disse ele.

Neil não precisava ser avisado duas vezes. Ele atravessou o corredor, já virando o
chaveiro nas mãos. O corredor terminava em outra porta marcada com FOXES. Ele
mostrou o chaveiro para Kevin em uma pergunta silenciosa. Kevin tocou a chave
apropriada.

Foi estranho deslizar para dentro da fechadura e ouvir o clique dela destrancando.
O treinador Hernandez ocasionalmente deixava Neil dormir no vestiário em Millport,
mas nunca lhe ocorreu dar uma chave a Neil. Em vez disso, ele olhava para o outro
lado sempre que Neil entrava. Chaves significavam que Neil tinha permissão explícita
para estar aqui e fazer o que quisesse. Ele queria dizer que ele pertencia.

A primeira sala era uma sala de espera. Três cadeiras e dois sofás ocupavam a maior
parte do espaço, formando um semicírculo em torno de um centro de entretenimento.
A TV era obscenamente grande e Neil mal podia esperar para assistir a um jogo nela.
Postada acima da TV, na parede, havia uma lista de canais de esportes e notícias.

O resto das paredes estava coberto de fotos. Algumas delas eram oficiais: fotos da
equipe, fotos tiradas durante marcações de gols, e fotos recortadas de jornais de
notícias. A maioria das fotos parecia ter sido tirada por um dos próprios Foxes. Eles
estavam espalhados em qualquer lugar em que pudesse caber, presas por fita adesiva.
Ocupando um canto inteiro, havia um amontoado de fotos das três mulheres do time.

Exy era um esporte misto, mas poucas faculdades queriam mulheres em sua linha
titular. De acordo com a tradição da Fox, o Palmetto States se recusou a aprovar
qualquer uma das mulheres que Wymack escolheu em seu primeiro ano. Após a
primeira temporada desastrosa dos Foxes, eles estavam um pouco mais dispostos a
ouvir, e Wymack contratou três mulheres. Além disso, ele fez Danielle Wilds, a
primeira capitã do NCAA CLASSE I EXY.

Se os fãs de Exy não eram gentis com os Foxes, eles eram totalmente cruéis com
Danielle. Até mesmo seus companheiros de equipe estavam dispostos a destruí-la em
público durante seu primeiro ano. Os misóginos mais declarados culpavam-na pelas
falhas dos Foxes. Apesar da polêmica e com apenas Wymack a defendendo, Danielle
manteve sua posição. Três anos depois, era óbvio que Wymack fez a escolha certa. Os
Foxes ainda estavam uma bagunça, mas eles seguiram Danielle e lentamente
começaram a acumular vitórias.

A imagem mental de Neil sobre Danielle era a de uma mulher agressiva e


implacável, mas as fotos que estava olhando eliminou essa impressão. Danielle sorria
em todas as fotos, um sorriso largo que era em partes ameaçador e divertido.

Nicky percebeu sua distração e apontou para os rostos na fotografia mais próxima.
“Dan, Renée e Allison. Dan é gente boa, mas ela vai trabalhar você até os ossos. Allison
é uma vadia mimada e maldosa que você deve evitar a todo o custo. Renée é um amor.
Seja legal com ela.”

“Se não?” Neil perguntou, porque ele podia ouvir a ameaça no tom de Nicky.

Nicky apenas sorriu e encolheu os ombros.

“Vamos,” disse Kevin.

Neil o seguiu para fora da sala. O corredor saía da sala e passava por duas portas
de escritório com as placas DAVID WYMACK e ABIGAIL WINIFIELD. Uma porta
com uma cruz vermelha simples era a próxima. Mais à frente, duas portas opostas
uma à outra estavam marcadas SENHORAS e SENHORES. Kevin empurrou um
pouco a porta do SENHORES, mostrando a Neil um rápido vislumbre dos armários,
banco e piso de ladrilho laranja brilhante. Neil queria explorar, mas Kevin não
diminuiu a velocidade em seu caminho pelo corredor.

O corredor terminava em uma grande sala que Neil vagamente lembrava dos clipes
de notícias. Era a sala que dava para o estádio e o único local onde a imprensa poeria
se encontrar com os Foxes após os jogos para entrevistas e fotografias. Bancos laranjas
foram colocados aqui e ali, e o chão era de ladrilhos brancos com marcas de patas
laranjas. Cones laranjas estavam empilhados em um canto, três de profundidade e seis
de altura. Uma porta branca estava na parede à direita de Neil, e uma porta laranja
estava em frente a ele.

“Bem-vindo ao foyer,” disse Nicky (espaço onde os espectadores aguardam o início dos jogos
e a abertura das portas da quadra, ou tomam esperam durante os intervalos.) “Isso é o que nós
chamamos, de qualquer coisa. Por ‘nós’ quero dizer qualquer espertinho inteligente
que nos precedeu.”

Andrew sentou em um dos bancos e tirou um frasco de comprimidos do bolso.


Aaron entregou a Kevin o uísque que eles saquearam. Kevin trouxe para Andrew,
esperou enquanto Andrew engolia os comprimidos e trocou o uísque pelo frasco. O
frasco desapareceu em um dos bolsos de Kevin e Andrew engoliu a pílula com um
impressionante gole de uísque.

Kevin olhou para Neil e gesticulou para a porta simples do outro lado sala.
“Armários de equipamentos.”

“Podemos - ?” Neil começou.

Kevin não o deixou terminar. “Traga suas.”

Neil o encontrou na porta laranja e deixou Kevin escolher a chave certa. O outro
lado da porta estava escuro. Não havia teto, mas Neil podia ver as paredes se
erguendo de cada lado. Neil seguiu Kevin para as sombras. Dez passos depois, ele
percebeu que eles deviam estar no próprio estádio.

“Você consegue ver o Foxhole Court no seu melhor,” Nicky disse atrás dele.
“Ganhamos dinheiro suficiente com a presença de Kevin para reformar o piso e as
paredes. Este lugar está mais limpo desde o primeiro ano.”

A luz do vestiário entrou no estádio, o caminho para o pátio interno era muito longo
para ser de grande ajuda. A quadra interna era composta principalmente de sombras
escuras com contornos vagos. Neil fechou os olhos e tentou imaginar. Este espaço era
reservado para árbitros, líderes de torcida e equipes. Em algum lugar por aqui ficavam
os bancos da casa dos Foxes. As paredes de acrílico que cercavam a quadra eram
invisíveis no escuro, assim como a própria quadra, mas saber que estava lá fez o
coração de Neil disparar.

“Luzes,” Aaron chamou de algum lugar atrás deles.

Neil ouviu o zumbido da eletricidade antes das luzes acenderem, começando com
as luzes de emergência em seus pés nas escadas. O estádio ganhou vida diante de seus
olhos, fileira após fileira de assentos laranja e brancos alternados, desaparecendo em
vigas altas e a quadra iluminando-se à sua frente. Neil estava se movendo antes que
as luzes do teto se acendessem, cruzando o pátio interno até as paredes do pátio. Ele
pressionou as mãos no plástico grosso e frio e olhou para cima, onde os placares e as
TVs de replay pendiam do teto da quadra, depois para a madeira brilhante. Linhas
laranjas marcadas na primeira, metade e na quadra distante. Era perfeito, totalmente
perfeito, e Neil sentiu-se ao mesmo tempo inspirado e horrorizado ao vê-lo. Como ele
poderia jogar aqui depois de jogar na quadra de imitação patética de Millport?

Ele fechou os olhos e inspirou, expirou, imaginando como os corpos soavam ao se


chocarem na quadra, a forma como a voz do locutor só saía em rajadas abafadas e
dispersas, o rugido de 65 mil pessoas reagindo para um objetivo. Ele sabia que não
merecia isso, sabia sem sombra de dúvida que não era bom o suficiente para jogar
nesta quadra, mas ele queria e precisava tanto que doía por completo.

Por três semanas e meia, seriam apenas os cincos, mas em junho as raposas se
mudariam para os treinos de verão e em agosto a temporada começaria. Neil abriu os
olhos novamente, olhou para a quadra e soube que tinha tomado a decisão certa. Os
riscos não importavam; as consequências valeriam a pena. Ele tinha que estar aqui.
Ele tinha que jogar nesta quadra pelo menos uma vez. Ele tinha que saber a sensação
de ouvir a multidão gritando tão alto a ponto de o teto explodir. Ele tinha que sentir o
cheiro do suor e da comida de estádio. Ele precisava ouvir o som da campainha
quando uma bola batesse dentro das linhas brancas do gol e a luz vermelha brilhasse.

“Oh,” disse Nicky, encostando a uma curta distância de Neil. “Não é à toa que ele
escolheu você.”

Neil olhou para ele, sem realmente entender as palavras, sem realmente ouvir
quando sua mente ainda estava correndo com o tique-taque de um relógio de jogo em
contagem regressiva. Depois de Nicky, estava Kevin, que viu seu pai destroçar um
homem e depois foi assinar com a seleção nacional. Kevin estava olhando para ele,
mas no segundo que seus olhos se encontraram, ele apontou para o caminho por onde
tinham vindo.

“Dê a ele seu equipamento.”

Aaron e Nicky trouxeram Neil de volta ao vestiário. Andrew não os seguiu até a
quadra, mas também não estava no saguão. Neil não se importou o suficiente para
perguntar, mas seguiu os primos até o vestiário. A sala da frente estava forrada de
armários, cada um marcado com os números e nomes dos jogadores. Através da porta
nos fundos, Neil podia ver pias e presumiu que os chuveiros estavam na esquina, fora
de vista. Ele estava mais interessado no armário que tinha seu nome nele.

Os treinadores Hernandez e Wymack passaram as últimas semanas do último ano


letivo de Neil discutindo detalhes sobre que tipo de equipamentos Neil precisava.
Saber que tudo estaria aqui para ele não era tão bom quanto realmente ver. Havia
cinco uniformes para os treinos e dois conjuntos de uniformes, um para jogos em casa
e um para jogos fora. Montes de acolchoamento e armadura ocupavam a maior parte
do espaço em seu armário gigante, e seu capacete estava na prateleira de cima.
Embaixo do capacete havia algo laranja neon embrulhado em plástico e Neil puxou-o
cuidadosamente para examiná-lo. Ele abriu para revelar um blusão que era quase mais
brilhante do que a pintura do estádio. ‘Foxes’ e ‘Josten’ foram impressos nas costas em
material reflexivo.

“Os satélites podem detectar isso do espaço,” ele disse.

Nicky riu disso. “Dan os definiu em seu primeiro ano aqui. Ela disse que estava
cansada de todos passarem despercebidos por nós. As pessoas querem fingir que
pessoas como nós não existem, sabe? Todo mundo espera que sejamos problemas de
outras pessoas para resolver.” Ele estendeu a mão e tocou no material. “Eles não
entendem, então não sabem por onde começar. Eles se sentem oprimidos e desistem
antes de dar o primeiro passo.”

Nicky deu uma pequena sacudida em si mesmo e sorriu, a melancolia


instantaneamente substituída por alegria. “Você sabe que nós doamos uma parte das
vendas dos ingressos para a caridade? Nossos ingressos custam um pouco mais do
que os outros por conta disso. Ideia de Renée. Eu disse que ela é ouro puro. Agora
vamos, iremos te deixar sexy (pequeno trocadilho com raposa em geral, pq ele disse ‘foxy’ que é
uma forma de dizer sexy).

Ele se virou para encontrar seu próprio equipamento, então Neil puxou o que
precisava e trouxe para o banheiro. Se trocar em uma cabine era estranho e
desconfortável, mas ele já tinha feito tantas vezes antes que se tornou uma forma de
arte. Ele trocou uma camiseta por acolchoamento no ombro e no peito. Ele mexeu
algumas vezes para se certificar de que as alças estavam firmes o suficiente sem
ficarem muito apertadas e, em seguida, puxou a camisa para cima. Ele poderia colocar
shorts perto dos outros, então ele voltou para os armários para terminar de se vestir.

Ele trocou jeans por shorts primeiro, então se sentou em um dos bancos para
prender as caneleiras no lugar. Ele os cobriu com meias compridas e calçou tênis de
corrida novinhos. Ele colocou luvas de algodão finas, fechando-as logo acima dos
cotovelos, e prendeu as cotoveleiras. Ele deixou as luvas externas junto ao capacete,
onde poderia carregá-las até a quadra, e puxou a cabeleira para trás com uma bandana
laranja (juro que dps dessa saga o laranja cresceu até em mim). A última coisa a colocar foi o
protetor de pescoço, uma faixa fina com um fecho complicado. Era um saco de lidar e
às vezes o fazia sentir como se estivesse sufocando, mas valia a pena aguentar se isso
protegesse sua garganta de uma bola perdida.

Eles voltaram para o foyer, e Nicky fez Neil destrancar a porta de equipamentos
que Kevin indicou antes. Aaron pegou um balde de bolas enquanto Nicky desenrolava
o suporte das raquetes. As raquetes foram organizadas por números, um par para
cada jogador como Neil era o último o seu ficava no final. Neil desenganchou uma e
deu um giro lento, testando o peso e a sensação dela em sua mão. Era laranja escuro
com uma única faixa branca na base da cabeça e uma rede de cordas branca. Cheirava
a novo e parecia um sonho, e tudo o que ele pôde fazer foi evitar que a rede esticada
batesse em seu rosto. Em Millport, ele havia usado uma das raquetes da equipe mais
antigas. Essa foi encomendada especificamente para ele, e o pensamento por si só foi
suficiente para fazer seu coração disparar.

Kevin estava exatamente onde o haviam deixado, esperando por eles no anel
interno. Ele observou em silêncio enquanto eles puxavam os capacetes e as luvas, e
não disse nada quando Aaron abriu o caminho para a entrada da quadra. Neil usou
sua última chave para destrancar a porta e então enfiou as chaves em sua luva por
segurança.

Depois que a porta se fechou atrás deles, Neil olhou para Nicky e perguntou:
“Kevin não vai jogar hoje?”

Nicky pareceu surpreso por ele perguntar. “Kevin só tolera nosso time sobre duas
condições: ou ele entra na quadra sozinho ou com Andrew nela. Ele terá que superar
isso no outono, quando Renée estiver defendendo o gol, mas enquanto isso ele pode
se safar sendo esnobe.”

“Onde está Andrew?”

“Ele acabou de se medicar, então está inconsciente em algum lugar. Ele vai dormir
e reiniciar no modo louco,” disse Nicky.

“Você não acha que ele está louco agora?”

“Louco, nah,” disse Nicky. “Desalmado, talvez.”

Neil olhou para Aaron, esperando que ele defendesse seu irmão gêmeo, mas Aaron
apenas liderou caminho para o meio da quadra. Neil acompanhou Nicky, enfiando os
dedos preguiçosamente na rede de sua raquete. Ele olhou para Kevin, que ainda os
observava através da parede da quadra, e perguntou: “Kevin não consegue jogar de
verdade, não é? Disseram que seria um milagre se ele pegasse uma raquete de novo.”

“A mão esquerda dele está praticamente destroçada,” disse Nicky. “Ele está
jogando como destro de agora em diante.”

Neil o olhou. “O quê?”

Nicky sorriu, obviamente satisfeito por ter soltado aquela bomba. “Eles não o
chamam de gênio obsessivo por nada, sabia?”

“Não é gênio,” Aaron disse. “É ódio.”

“Isso também,” disse Nicky. “Eu gostaria de poder ver a expressão no rosto de Riko
quando ele vir nosso primeiro jogo. Rato desgraçado.”

Kevin bateu na parede exigindo que eles se mexessem. Nicky acenou alegremente
para ele. “Estamos fazendo isso em nosso tempo livre, você sabe!” Ele gritou, não que
Kevin pudesse ouvir através das paredes de acrílico da quadra.

“Obrigado,” disse Neil se sentindo mal.


“Huh? Oh, não. Não se preocupe com isso. Você pode me compensar outra hora,
quando os outros não estiverem por perto.”

“Você pode sair a caça por bundas quando eu não estiver bem aqui?” Aaron
perguntou. (eu só percebi no final, mas Aaron é muitooo homofóbico mds kkkk)

“Você poderia sair e deixar que eu e Neil nos conhecêssemos melhor.”

“Vou contar a Erik sobre isso.”

“Mentira descarada. Quando foi a última vez que você disse uma palavra civilizada
a ele?”

Neil não conhecia nenhum Foxes do passado ou presente com esse nome. “Quem é
Erik?”

“Oh, ele é meu marido,” disse Nicky alegremente. “Ou será, eventualmente. Ele foi
meu irmão de intercâmbio por um ano em Berlim e nós nos mudamos juntos após a
formatura.”

O coração de Neil deu um pulo. “Você morou na Alemanha?”

Ele tentou fazer as contas em sua cabeça, adivinhando a idade de Nicky contra
quanto tempo atrás ele estava no colégio. As chances eram de que Neil já tivesse se
mudado para a Suíça quando Nicky chegou a solo alemão, mas foi por pouco que Neil
não conseguia respirar.

“Já,” disse Nicky. “Você nos ouviu mais cedo balbuciando, certo? Aquilo era
alemão. (não me diga sherlock) Os pequenos punks estudaram alemão no colégio porque
sabiam que eu poderia ajudá-los a passar. Se você escolher cursar alemão como eletiva
aqui, só me avisar e eu te dou umas aulas. Eu sou bom com minha língua.”

“Chega. Vamos jogar,” disse Aaron, colocando o balde de bolas no chão.

Nicky deu um suspiro exagerado. “De qualquer forma, lembre-me de mostrar a


foto dele mais tarde. Nossos bebês serão lindos.”

Neil franziu a testa, confuso. “Ele não mora aqui?”


‘Oh não. Ele está em Stuttgart. Conseguiu um emprego que adora com grande
potencial de carreira, então não poderia me seguir até aqui. Eu deveria ficar apenas o
tempo suficiente para que essas crianças terminassem o ensino médio, mas quando o
treinador me ofereceu uma bolsa de estudos, Erik disse que eu deveria ir em frente. É
uma merda ficar separado por tanto tempo, mas ele veio aqui no Natal passado e eu
irei para lá este ano. Se as coisas ficarem desinteressantes por aqui, vou até mesmo
passar meu próximo verão lá.” Nicky lançou um olhar significativo para a parede
onde Kevin os observava.

Eles passaram a próxima hora e meia ensinando movimentos para Neil. Muitos
deles Neil já tinha feito antes, mas havia alguns que ele não reconheceu e ficou
empolgado em aprender algo novo. Eles terminaram com um amistoso curto, um
atacante contra dois defensores e um gol aberto. Aaron e Nicky não eram os melhores
jogadores de defesa da NCAA, nem de longe, mas eram muito melhores do que
qualquer um dos alunos do ensino médio que Neil estava acostumado a jogar.

Aaron finalmente os mandou parar e Neil pegou a bola em um rebote. Quando ele
o jogou no balde, os outros começaram a desamarrar os capacetes. Neil esmagou uma
onda de decepção por eles terem acabado tão cedo, mas ele não os pressionaria mais
a jogar; Nicky já havia dito que eles estavam desistindo das suas próprias férias para
jogar com ele.

Nicky esfregou a bochecha contra o ombro, tentando limpar o suor em sua camisa.
Ele sorriu para Neil. “Que tal?”

“Foi divertido,” disse Neil. “Vocês dois são muito, muito bons.”

Nicky sorriu, mas Aaron bufou. “Kevin se mataria se ouvisse isso.”

“Kevin acha que somos um desperdício de oxigênio,” disse Nicky, dando de


ombros.

“Pelo menos você não vai nos arrastar completamente para baixo,” disse Aaron.
“Irá levar boa parte da temporada para te colocar onde precisamos que você esteja,
mas posso ver por que Kevin escolheu você.”

“Falando nisso...” Nicky inclinou a cabeça em direção à parede. “Alguém está


pronto para colocar as mãos em você.”

Neil seguiu o gesto e olhou através da parede em direção aos bancos dos Fox.
Andrew havia reaparecido e estava deitado de costas no bando, jogando uma bola
para cima e pegando. Kevin tinha pegado sua raquete em algum momento e estava
girando enquanto os observava. Com metade da quadra e uma parede de meia
polegada de espessura entre eles, Neil ainda podia sentir o olhar de Kevin como um
peso físico.

“Tenha medo por sua vida,” disse Nicky. “Ele não é um professor que perdoa e não
sabe como ser legal. Kevin pode irritar qualquer um em uma quadra de Exy, até e
incluindo um Andrew medicado. Bem, qualquer um exceto Renée, mas ela não é
humana, então ela não conta.”

Neil olhou para Andrew novamente. “Achei que o remédio dele tornasse isso
impossível.”

“A primavera foi uma experiência de aprendizado.” Nicky apoiou a raquete no


ombro e se dirigiu a porta. “Eu gostaria que você tivesse visto. Andrew teria arrancado
a cabeça de Kevin se ele já não tivesse jogado a raquete de Andrew pro meio da
quadra. Mal posso esperar para ver como você irá lidar com isso.”
“Fantástico,” disse Neil, agarrando o balde de bolas e seguindo-os para fora da
quadra

Andrew se sentou quando a porta do tribunal se fechou atrás deles e jogou a bola
para Nicky. Ele trouxe uísque com ele e o deixou no chão a seus pés. Agora ele o pegou
e abriu a tampa.

“Já era tempo,” disse ele. “Nicky, é tão chato esperar você.”

“Terminamos agora,” disse Nicky, enganchando o capacete na ponta da raquete


para que pudesse pegar o uísque. “Já era hora de você parar com isso, não acha? Abby
vai me bater até eu perder os sentidos se perceber que você andou bebendo.”

“Não parece que é problema meu,” disse Andrew com um sorriso brilhante.

Nicky olhou para Aaron em busca de ajuda, mas Aaron foi na frente deles para o
vestiário. Nicky fingiu estourar seus próprios miolos e foi com dele. Neil pretendia ir
atrás deles, mas cometeu o erro de olhar para Kevin. Assim que encontrou os olhos de
Kevin, foi difícil desviar o olhar novamente.

A expressão de Kevin era indecifrável. Fosse o que fosse, não parecia


particularmente feliz. “Esta será uma temporada muito longa.”

“Eu disse que não estava pronto.”

“Você também disse que não jogaria comigo, mas aqui está.”

Neil não respondeu a essa acusação. Kevin ficou cara a cara e enroscou seus dedos
na rede da raquete de Neil. Quando ele começou a puxá-la, Neil segurou com força,
silenciosamente recusando-se a soltar. Kevin provavelmente poderia ter arrancado se
tentasse um pouco mais forte, mas parecia contente apenas em segurar.

“Se você não quer jogar comigo, você jogará para mim,” disse Kevin. “Você nunca
chegará lá sozinho, então dê o seu jogo para mim.”

“Onde é ‘lá’?” Neil perguntou.

“Se você não consegue descobrir isso, não há como ajudá-lo,” disse Kevin.
Neil olhou para ele em silêncio, certo que ‘lá’ não se aplicava a alguém como ele.
Kevin deve ter visto isso no olhar impressionado em seu rosto, porque ele estendeu a
mão e cobriu os olhos de Neil com a mão livre.

“Esqueça o estádio,” disse Kevin. “Esqueça os Foxes e sua equipe inútil do ensino
médio e sua família. Veja da única maneira que realmente importa, onde Exy é o único
caminha a seguir. Onde você vê?”

Imaginar a vida em termos tão simplistas era tão ridículo que Neil quase riu. Ele
manteve a torção cruel da boca longe do rosto apenas por pura vontade. Algo ainda
deve ter aparecido, porque Kevin deu um forte puxão em sua raquete.
“Foco.”

Neil tentou imaginar o mundo como se Neil Josten fosse realmente tudo que já
existiu e seria. Foi quase o suficiente para fazê-lo desprezar aquela pessoa quando ele
podia ver isso em termos tão fáceis, mas ele engoliu aquele desgosto e voltou seu olhar
mental para Exy.

O jogo alguma vez tinha sido dele ou tinha puxado a este ponto? Exy foi o único
ponto brilhante de sua infância despedaçada. Ele se lembrou de sua mãe o levando
para os jogos da pequena liga Exy, viajando uma hora para fora de Baltimore, onde
ninguém sabia que seu pai e os treinadores o deixariam jogar. Ele se lembrou dela
torcendo por ele como se cada movimento e palavra deles não fossem examinados por
guarda-costas armados. As memórias eram fragmentadas e oníricas, distorcidas pela
realidade sangrenta do trabalho de seu pai, mas ele se agarrou a elas. Foram as únicas
vezes em que ele viu sua mãe sorrir.

Neil não soube quanto tempo ele jogou com a liga infantil, mas suas mãos
lembravam do peso de uma raquete tão bem quanto de uma arma.

Esse pensamento foi preocupante, pois colocou de volta à estaca zero e ao fato de
que Neil Josten era uma existência passageira. Era cruel até mesmo sonhar que poderia
ficar assim, mas Kevin havia escapado, não foi? De alguma forma, ele deixou aquele
quarto sangrento para trás em Edgar Allen e se tornou isso, e Neil queria tanto o
mesmo que podia sentir o gosto.

“Você,” Neil disse finalmente. Kevin puxou sua raquete novamente, e desta vez
Neil soltou.

“Diga-me que posso ter o seu jogo.”

Não fazia nenhum bem, mas Neil não ia entrar nisso. “Pegue.”

“Ele entende,” disse Kevin, deixando cair a mão e enviando a Andrew um olhar
penetrante.

“Parabéns são necessários, suponho! Já que não tenho nenhum para dar, direi aos
outros para responderem apropriadamente.” Andrew ficou de pé e bebeu mais um
gole do uísque. “Neil! Olá. Nós nos encontramos novamente.”

“Nós nos conhecemos antes,” disse Neil. “Se este for outro truque deixe para lá.”

Andrew sorriu para ele com a boca na garrafada. “Não seja tão desconfiado. Você
me viu tomar meu remédio. Se não tivesse, eu estaria desmaiado em algum lugar
agora vomitando da abstinência. Do jeito que está indo aqui eu poderia vomitar de
tanto fanatismo que está tendo por aí.”

“Ele está chapado,” Kevin disse a Neil. “Ele me diz quando está sóbrio, então eu
sempre sei. Como você descobriu?”
“Eles são gêmeos, mas não são iguais,” Neil deu um encolher nos ombros. “Um
deles odeia sua obsessão por Exy, enquanto o outro não dá a mínima.”

Kevin olhou para Andrew, Andrew só tinha olhos para Neil. Andrew levou um
segundo para processar essas palavras antes de começar a rir. “Ele também é
comediante? Um atleta, um cômico e um estudante. Como é multitalentoso. Que
grande adição ao time Fox. Mal posso esperar para descobrir o que mais ele pode
fazer. Talvez devêssemos dar um show de talentos e descobrir? Mas depois. Kevin
estamos indo. Preciso de comida.”

Kevin devolveu a raquete a Neil e os três foram para o vestiário. Aaron e Nicky já
estavam no chuveiro quando chegaram. Neil ouviu água correndo e sentou-se no
banco do vestiário para esperar.

“Não vamos levar você para a casa da Abby assim,” disse Kevin. “Lave-se.”

“Não vou tomar banho com o time,” disse Neil. “Vou esperar, e se vocês não
quiserem me esperar podem ir. Vou encontrar o caminho até lá sozinho.”

“Nicky será um problema para você?” Andrew perguntou.

Neil não gostou da aparência de seu sorriso maníaco, mas gostou menos do aviso
velado de Andrew. “Não é sobre a sexualidade de Nicky. É sobre a minha
privacidade.”

Kevin estalou os dedos para Neil. “Supere isso. Você não pode ser tímido se vai ser
uma estrela.”

Andrew se inclinou na direção de Kevin e levou uma mão à sua boca, mas não se
preocupou em abaixar a voz. “Ele tem que se esconder Kevin. Eu invadir o gabinete
do treinador e li seus arquivos. Hematomas, você acha, ou cicatrizes? Acho que
cicatrizes também. Não pode ser hematomas se os pais não estão por perto para bater
nele, certo?”

Neil sentiu um frio por todo o corpo. “O que você acabou de dizer?”

“Eu não me importo,” disse Kevin a Andrew, ignorando Neil.

Andrew por sua vez, ignorou Kevin e gesticulou para Neil. “Os chuveiros não são
comunitários aqui. O treinador instalou portas quando construíram o estádio. A
diretoria não pagaria por isso por não verem o sentido, então saiu do próprio bolso
do treinador. Pode ver por si mesmo se não acredita em mim. Você não acredita em
mim, não é? Eu sei que não. É melhor assim.”

Neil mal o ouviu. “Você não tinha o direito de ler meu arquivo!”

Ele se arrependeu de não ter aberto e lido por si mesmo quando Wymack a mostrou
no estádio. Ele não conseguia acreditar que Hernandez havia escrito essas coisas para
Wymack. Ele sabia que Hernandez tinha que explicar sua situação, ou pelo menos
tanto quanto Hernandez sabia, para provar que Neil era adequado para a equipe dos
Foxes. Neil ainda se sentia traído, e estava furioso por Andrew ter lido aqueles
arquivos.

Andrew riu parecendo encantado por ter cruzado uma linha tão pessoal. “Relaxe,
relaxe, relaxe. Eu inventei isso. Estávamos trancados no escritório do treinador
Arizona para assistir seu jogo na estação de TV local, e ele disse que nosso encontro
secreto seria fácil, já que você sempre toma banho por último, sozinho. O treinado, ele
ainda não conseguiu encontrar seus pais, ele perguntou se eles seriam um problema.
Arizona disse que não sabia porque ele não tinha conhecido-os nenhuma vez. Disse
que eles passavam muito tempo indo e vindo de seus trabalhos em Phonexis e sem
tempo para checar você. Mas estou certo, não estou?

Neil abriu a boca, depois fechou antes de dar a Andrew um pedaço do que pensava.
Andrew queria que ele reagisse, então Neil teve que relaxar. Cerrou os dentes e contou
até dez. Só chegou a cinco antes que o sorriso de Andrew fosse insuportável.

Neil não acreditou em Andrew sobre os chuveiros, mas era melhor investigar do
que ficar aqui e dar um soco em Andrew. Ele levantou-se do banco e foi ao banheiro.
As pias com seus espelhos altos eram a seção de conexão entre os banheiros e os
chuveiros que ficam na curva fora de vista. Ele deu uma olhada rápida. Andrew estava
dizendo a verdade pela primeira vez. As paredes eram como um box, altas o suficiente
para proporcionar total privacidade e equipadas com portas com fechaduras.

“Estranho certo?” Andrew disse no ouvido de Neil. Neil não tinha ouvido sua
abordagem por causa do som da água escorrendo no chuveiro dos primos. Atacar foi
insistivo, mas Andrew segurou o cotovelo que Neil teria acertado em suas costelas.
Andrew riu e recuou alguns passos. “O treinador nunca explicou porquê. Talvez ele
tenha pensado que precisaríamos lamentar nossas perdas desastrosas em particular.
Ou para nos aliviarmos em segredo. Apenas o melhor para suas estrelas em ascensão,
certo?”

“Eu não acho que Wymack recruta estrelas em ascensão,” disse Neil, passando por
Andrew em direção ao seu armário.

“Não,” concordou Andrew. “Os Foxes nunca somarão a nada. Tente dizer isso a
Dan, porém ela dará um murro em sua cara.” Ele pegou o uísque e foi para a porta.
“Kevin, carro.”

Neil observou a porta se fechar atrás deles antes de pegar suas roupas e ir para o
chuveiro. Ele se lavou o mais rápido que pôde e fez uma careta ao se vestir novamente.
Os respiradouros mantinham o ar em movimento, retirando a umidade para reduzir
o mofo, mas a sala ainda parecia pesada e úmida. Neil se sentia pegajoso, enquanto
colocava suas roupas. Ele passou os dedos pelos cabelos ao se encontrar com os primos
na sala principal do vestiário. Eles lhe mostraram onde colocar sua armadura para que
pudesse secar ao ar e seu uniforme para ser lavado. Aaron apagou as luzes, Neil
trancou as portas e eles encontraram os outros dois esperando ao lado do carro.

Nicky pegou as chaves de Andrew e balançou-as para Neil. “É seu primeiro dia,
então você tem direito ao banco da frente novamente. Aproveite enquanto pode,
Kevin odeia sentar atrás.”

“Não preciso sentar na frente,” disse Neil, mas Kevin e os gêmeos já estavam
amontoando-se no banco de trás com Kevin no meio. A forma como eles se
organizaram colocou Andrew atrás do assento de Neil, então ele esperava que a
viagem fosse curta.

Abigail Winifield morava em uma casa térrea a cerca de cinco minutos do campus.
Nicky estacionou no meio-fio, pois já havia dois carros na garagem quando eles
chegaram. A porta da frente estava destrancada, então eles entraram sem bater e
foram recebidos pelos cheiros fortes de alho e molho de tomate quente.

O treinador Wymack e Abigail já estavam na cozinha. Wymack avistou os Fox


primeiro e apontou o dedo para Nicky.

“Hemmick, venha aqui e seja útil pelo menos uma vez na sua vida sarnenta. A mesa
precisa ser arrumada.”

“Awww, treinador,” Nicky reclamou quando Abigail se virou. “Por que você
sempre tem que pegar no meu pé. Você já começou, não pode terminar?”

“Cale a sua boca e comece a trabalhar.”

“Vocês dois não podem se comportar quando temos um convidado?” Abigail


perguntou, deixando de lado sua colher e indo cumprimentá-los.

Wymack percorreu o grupo com um olhar. “Não vejo nenhum convidado. Neil é
um Fox. Ele não vai receber nenhum tratamento especial só porque é seu primeiro dia.
Não quero que ele pense que esta equipe é tudo menos disfuncional ou em junho será
um baita susto.”

“David? Cale-se e certifique-se de que os vegetais não estão fervendo. Kevin,


verifique o pão que está no forno. Nicky, mesa. Aaron, ajude-o. Andrew Joseph
Minyard, é melhor que isso em suas mãos não seja o que eu penso que é.” Ela tentou
agarrar o uísque, mas Andrew riu e saiu para dentro do corredor com ele. Abigail
parecia querer ir atrás dele, mas Neil estava em seu caminho. Ele deu um passo
habilmente para o lado para deixá-la passar, mas ela se contentou em lançar um olhar
assassino para Nicky.

“O que eu deveria fazer?” Nicky perguntou, evitando seus olhos enquanto os três
se dirigiam a suas respectivas tarefas. “Tirar dele? De jeito nenhum. Eu prezo pela
minha vida.”
Abigail o ignorou e preferiu cumprimentar Neil. “Você deve ser Neil, então. Eu sou
Abby. Sou a enfermeira da equipe e proprietária temporária dessa república
problemática que temos aqui. Eles não estão incomodando muito você, estão?”

“Não se preocupe,” Andrew gritou, fora de vista. “Ele vai realmente trabalhar para
descansar. Dê-me até agosto, eu acho.”

“Se você se atrever a repetir o que aconteceu no ano passado....”

“Então Bee estará aqui para juntar os cacos quebrados” Andrew interrompeu, ele
reapareceu na porta ao lado de Neil, o uísque tinha sumido ao longo do tempo e com
as mãos vazias fez um gesto acalma-la. “Ela se deu tão bem com Matt, não é? Neil não
será nem um piscar de olhos em seu radar. Você a convidou, não é?”

“Eu convidei, mas ela recusou. Ela disse que acharia que isso tornaria as coisas
estranhas.”

“As coisas não são nada além de estranhas quando Andrew e Nicky estão por
perto,” disse o treinador.

Andrew nem mesmo tentou defender sua honra, mas olhou para Neil. “Bee é a
psiquiatra. Costumava trabalhar no sistema reformatório, mas agora ela está aqui. Ela
lida com os casos realmente sérios no campus: vigilância de suicídio, psicopatas em
formação, esse tipo de coisa. Isso torna nossa supervisora designada. Você vai
conhecer ela em agosto.”

“Eu preciso?” Neil perguntou.

“É obrigatório uma vez por semestre para os atletas,” confirmou Abby. “A primeira
vez é um encontro casual, para você conhecê-la e descobrir onde fica o escritório dela.
A segunda sessão é na primavera. Claro, você está livre para visitá0la quando quiser,
e ela falará mais com você sobre como agendar enquanto você estiver lá. Serviços de
aconselhamento estão incluídos em sua mensalidade, então você pode muito bem
fazer uso deles.”

“Betsy é incrível,” (ela é kkk, pra mim ela é aquela tia velha que sempre tem doce na bolsa e fica
ouvindo as reclamações dos afilhados, ngm consegue ficar bravo com ela pq ela é sempre zen e da paz.)
disse Nicky. “Você vai amá-la.”

Neil duvidou, mas deixou passar por enquanto.

“Vamos comer, podemos?” Abby perguntou, gesticulando para que Andrew e Neil
entrassem na sala.

Neil tinha quase perdido o apetite, mas ele se sentou à mesa o mais longe que pôde
de Kevin e Andrew. A conversa morreu quando todos se acomodaram e começaram
a se servir, mas começou novamente quando eles atacaram a lasanha fumegante. Neil
tentou p melhor que pôde para ficar de fora, estava mais interessado na maneira como
eles interagiam entre si.
De vez em quando, a mesa se dividia, enquanto Kevin e Wymack conversavam
sobre o treinamento de primavera e recrutas em outras escolas, Nicky deleitava a
outra metade da mesa com fofocas sobre filmes e celebridade que Neil não conhecia.
Andrew observou Kevin e Wymack, mas não tinha nada com que contribuir para a
conversa. Em vez disso, ele cantarolou para si mesmo e empurrou a comida pelo prato.

Já passava das dez quando Wymack decidiu que era hora deles irem, e Neil saiu
com ele. Entrar no carro sozinho com ele foi a coisa mais difícil que Neil fez durante o
dia inteiro. Andrew era louco, mas Neil tinha uma desconfiança profunda de homens
com idade para ser seu pai. (mano ele é muito traumatizado) Ele passou todo o trajeto
congelado em silencio no banco do passageiro. Talvez Wymack tenha notado a rigidez
de seus ombros, porque ele não disse nada a Neil até que estivessem de volta em seu
apartamento.

Quando Wymack trancou a porta da frente atrás deles, perguntou: “Eles serão um
problema?”

Neil balançou a cabeça e discretamente colocou mais espaço entre eles. “Eu ainda
vou descobrir.”

“Eles não entendem os limites,” disse Wymack. “Se eles cruzarem uma linha e você
não conseguir fazê-los recuar, você vem a mim. Entendeu? Não tenho controle perfeito
sobre Andrew, mas Kevin nos deve sua vida e posso chegar até Andrew por meio
dele.”

Neil assentiu e desceu o corredor para pegar sua bolsa na mesa de Wymack. Estava
trancado o dia todo, mas ele descarregou no sofá de qualquer maneira para verificar
suas coisas. No segundo em que suas mãos se fecharam sobre o fichário no fundo de
sua bolsa, seu coração disparou. Ele queria folheá-lo e ter certeza de que tudo estava
lá, mas Wymack estava observando-o da porta.

“Você planeja usar as mesmas seis roupas repetidas vezes durante este ano?”
Wymack perguntou.

“Oito,” disse Neil, “e sim.”

Wymack arqueou uma sobrancelha para ele, mas não forçou. “A lavanderia fica no
porão. O detergente está no armário do banheiro, embaixo da pia. Use o que precisar
e pegue o que quiser da cozinha. Isso vai me irritar mais se você agir como um gato
de rua nervoso do que se comer a última tigela de cereal.” (ironia, pq nas cenas extras do
blog, ela conta que ele adotou dois gatos, por recomendação da Bee para ser tipo aqueles bichos
terapêuticos kkkkk, eles se chamam “Rei Fofinho e Senhor Gato Gordo McCatterson”. Andrew ficou um
minuto inteiro só olhando para a cara dele. A ideia do nome foi de Nicky)

“Sim, treinador.”

“Eu tenho uma papelada para revisar. Você está bem?”

“Talvez eu saia para correr,” disse Neil.


Wymack acenou com a cabeça e saiu. Neil separou sua calça de corrida e enfiou sua
roupa de dormir embaixo do sofá para depois. Ele se trocou no banheiro e entrou no
escritório de Wymack para trancar sua bolsa novamente. Wymack nem mesmo
ergueu os olhos dos papéis que estava lendo, embora resmungou o que poderia ter
sido um adeus quando Neil saiu novamente. Neil trancou a porta a porta principal
atrás de si e enfiou as chaves no fundo do bolso e desceu as escadas até o nível solo.

Ele não sabia onde estava ou para onde estava indo, mas estava tudo bem. Se ele
desse uma direção a seus pés, eles o fariam corre por todos os seus pensamentos, e ele
ficaria feliz em deixá-los.

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