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Diários do Mundo de Janus

SWITCHER

Não tenho medo de confessar coisas sobre os "grandes temas" da sexualidade e me


pasmar quando há tanto estranhamento acerca de coisas óbvias como gostar-se de vastidões, de
possibilidades, de oportunidades de viver e (literalmente) gozar a vida.
Pensar que alguns processos são tranquilos simplesmente porque se encara de uma
forma despreocupada a vida é ignorar que , por mais que não nos preocupemos com outros,
vivemos e convivemos onde as pessoas fazem julgamentos de valor à partir da opção sexual, da
cor da pele, do gênero etc., emprestando para essas subdivisões considerações positivas ou
negativas dependendo do que concebam fatos e atitudes individuais.
Talvez eu seja mais tranquilo quanto a opção sexual do que quanto a minha condição de
switcher apesar de ser respeitado pela maioria daquelas pessoas com as quais tenho o prazer de
conviver.
Fico aqui pensando que se já vivemos em um mundo de tanta repressão, tanta
segregação, tanta discriminação, porque seremos nós, praticantes do BDSM, os opressores de
outros que compartilham conosco a mesma preferência pelo Bondadge, Dominação/submissão,
sadomasoquismo e seus derivados? Para mim, um BDSMista que discrimina é alguém que não
entende muito bem onde está , com todo o respeito.
Acredito, mais uma vez, que há uma grande confusão nesse mundo: não é necessário
sequer aceitar alguém ou algo que seja derivado de uma opção que não ameace a liberdade de
viver e amar como queiramos mas sim, devemos aceitar como legítimas as manifestações e as
opções das pessoas, dentro dos parâmetros de respeito pela vida e pelo direito de existir de cada
um de nós.
Fico me perguntando se o switcher assusta porque sabe fazer uma leitura mais integral
do mundo do BDSM ou , ainda, dê um certo grau de indefinição que confunda as mentes mais
cartesianas de muitos de nós. Não encontrei a resposta mas senti já olhares e falas que me
indicam não ser incorretas nenhuma das duas hipóteses.
O que me inquieta é uma tentativa de se enquadrar as pessoas e os casais (trincas,
quadras, o que for) em termos como "verdadeiros", "falsos", "adequados", "inadequados" e por aí
vai. Isso é admissível entre as pessoas que não têm o direito sequer de sair com seu(sua) bottom de
coleira na rua? Parece-me que não.
Desculpem o desabafo mas a cada dia que passa me parece mais necessário firmar
posição em direção a um mundo mais libertário e , porque não sonhar, libertino, Dentro de nossa
"parafilia" descobrir um universo que poucos mortais se dão o direito de viver e ser uma
vanguarda ao invés de agentes do regresso o que muitos que convivem entre nós insistem em ser.
Saudações!
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