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MODELO DE AUTOAVALIAÇÃO

DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES

Workshop

ACTIVIDADE 2

Se eu não morresse, nunca! E eternamente


Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas...

Cesário Verde, in O sentimento dum


ocidental

Percurso (em espiral) de melhoria da acção 1

MODELO DE AUTOAVALIAÇÃO DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES:


Metodologias de operacionalização (Conclusão)
Dina Menezes
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Metodologias de operacionalização (Conclusão)
Dina Menezes
ACTIVIDADE 2 – distinguir enunciados gerais de específicos.
Enunciados:
3. Reforçar o trabalho articulado.
4. Reforçar a produção de instrumentos de apoio a ser usados por professores e
alunos.

Esta tarefa deve, do meu ponto de vista, começar por uma breve reflexão sobre o
sentido de objectivo e de acção, pois é evidente que os enunciados apresentados
revelam a existência de alguma dificuldade em distinguir os conceitos subjacentes aos dois termos.

O termo objectivo diz respeito a um fim que se pretende atingir. Logo, na definição de objectivos há que
ter em conta onde queremos chegar e quando queremos lá chegar.

Por outro lado, consideramos acção no sentido de actuação, de procedimento, de construção, de opera.

Assim sendo, podemos afirmar que, para atingir um objecto, temos que saber como lá chegar, isto é, que
acções, que actuações, que procedimentos metodológicos nos devem orientar para esse fim desejado.

Passemos então à análise dos enunciados.

Atentemos no enunciado 1.

Começa este enunciado com o verbo reforçar. Ora reforçar é um verbo que significa tornar mais
forte, fortalecer, intensificar. É um verbo transitivo, o que indica que a acção a praticar pelo sujeito irá
recair sobre um objecto. Até aqui, nada a obviar.

No entanto, reforçar não objectiva qualquer acção, mas sim uma intenção. Por isso, perece-nos que não
temos aqui nem a definição de um objectivo, nem de uma acção concreta. O reforço não é um fim que se
pretenda atingir, nem um meio de atingir alguma meta. O fim que se pretende atingir é, isso sim, um
trabalho articulado.

O que aqui não está definido neste enunciado é:


- que tipo de articulação se pretende realmente?

- que tipo de trabalho (ainda que articulado) se pretende reforçar?

- com quem pretendemos concretizar essa articulação?

Parece-nos que deveriam estar indicadas as acções a praticar, recorrendo a verbos de acção directa,
como por exemplo: Planificar e realizar, em conjunto com (os) docentes, actividades diversificadas
de leitura: leitura recreativa, leitura para informação e estudo, leitura dramatizada, leitura
orientada, etc. (como forma de ir caminhando para a consecução de um objectivo concreto: melhorar
as competências de leitura).

Também o Enunciado 4, Reforçar a produção de instrumentos de apoio a ser


usados por professores e alunos, se nos apresenta formulado de forma
inadequada. É certo que a produção pode ser reforçada (mal fora se assim não
fosse!). Mas dúvida permanece: quais os “instrumentos” já produzidos? Como
foram avaliados? Que novos “instrumentos” há que produzir? Com que objectivos?
Ou será que o objectivo é que “professores e alunos” os usem? Ora “professores e
alunos” vão usá-los para quê?

Tratando-se de “acções para a melhoria” da “leitura e da literacia”, não seria mais


correcto referir os “instrumentos” a produzir e o fim a que cada um se destina?

Por exemplo:

• Construir (ou construção de) um guia de orientação de leitura do romance


XXX de XXX.

• Construir (ou construção de) fichas de leitura que permita a fácil


recuperação das linhas de força do texto e de impressões de leitura.

• Construir (ou construção de) um guia de orientação da produção de um


resumo.

Estes três exemplos poderiam perfeitamente ser elaborados em “articulação” (eu


diria colaboração) com o professor de Português da turma X e, desta forma, seriam
objectivados os “reforços” previstos nos dois enunciados em análise.

Em suma, os enunciados analisados não dão a conhecer o(s) objectivo(s) que se pretende(m) atingir e,
assim sendo, não se vislumbra qualquer possibilidade de desenho de um caminho a seguir, isto é, das
acções a praticar e dos procedimentos a usar. Mas também não se esperava aqui a definição de qualquer

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objectivo, uma vez que o enunciado apresentado está integrado no domínio da acção, uma acção
orientada para a melhoria.

De qualquer forma, estes enunciados estão, em certa medida, em consonância com alguns dos que são
apresentados no Modelo de Autoavaliação das Bibliotecas Escolares, como é o caso dos exemplos que
se seguem:

Exemplo 1: Consolidar o trabalho articulado com departamentos, docentes e a abertura a projectos


externos.

Exemplo 2: Sensibilizar a escola para a importância da leitura como suporte e progressão das
aprendizagens.

Ora estes dois exemplos aparecem enunciados no Modelo de Autoavaliação das Bibliotecas Escolares,
precisamente na coluna das “acções para a melhoria /exemplos” (pág. 20).

Haverá grande diferença entre o reforçar o trabalho articulado (enunciado 3) e o consolidar o trabalho
articulado?

Também o verbo sensibilizar, que introduz o 2.º exemplo retirado do Modelo de Autoavaliação das
Bibliotecas Escolares, não indica uma acção concreta e objectiva, nem o enunciado faz qualquer
referência às possíveis acções a praticar para sensibilizar a escola.

Aliás, o enunciado 1 (no quadro em análise), Sensibilizar a escola para a importância da leitura como suporte
às aprendizagens e à progressão nas aprendizagens, apresentado pelas formadoras, e por elas já comentado,
nas instruções para a realização desta tarefa, mais não é do que a transcrição integral de um dos exemplos de
“Acções para a melhoria” apresentado na pág. 20 (e que, sem ter reparado que se tratava desse mesmo
exemplo, também já comentei mais atrás).

Apresentando-se com um modelo, não terá sido a terminologia usada no próprio Modelo
de Autoavaliação das Bibliotecas Escolares a induzir este tipo de enunciações formuladas
como objectivos ou propósitos muitos gerais?

É óbvio que se torna muito mais fácil analisar e comentar o trabalho já realizado do que “desbravar” o
terreno. Mas fica a certeza que não devemos, se isso for possível em termos de disponibilidade, aplicar
cegamente qualquer modelo. Até porque, como sabemos, não há modelos perfeitos, tal como a perfeição
não existe. A perfeição é mera utopia.

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