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TOMADA DE POSIÇÃO aprovada pelo CONSELHO PEDAGÓGICO

do AgrupamentoVertical de Escolas de Azeitão

A avaliação do desempenho é um instrumento essencial para a valorização das boas práticas pedagógicas e
cientificas dos docentes, para a credibilização da carreira docente e, consequentemente, para a melhoria da
qualidade do sistema educativo.

Nesse sentido, é imprescindível a adopção de um modelo de avaliação capaz de implementar


diferenciações qualitativas entre as práticas docentes e de desenvolver condições que promovam um
verdadeiro sucesso educativo.

Tal modelo requer, por isso, ponderação, credibilidade e boa-fé. Tal como concluiu o Conselho Científico
para a Avaliação de Professores “ a complexidade e delicadeza da avaliação de desempenho dos
professores e a novidade de muitas soluções definidas no modelo instituído recomendam que a concepção e
a elaboração dos instrumentos se façam de forma participada e com conhecimento fundamentado". No
mesmo documento se acrescenta que: "o Conselho considerou, ainda, que a credibilidade e a eficácia de um
modelo de avaliação de desempenho – que tem como finalidades principais o desenvolvimento profissional
dos docentes e a melhoria das aprendizagens dos alunos – requerem tempo e reflexão, de modo a permitir a
desejável apropriação e participação por parte de avaliadores e avaliados".

Não foi esta, no entanto, a via seguida: na ânsia de avaliar a toda a pressa, o ME impõe um modelo por
testar, anacrónico, pouco rigoroso e repleto de incongruências, cuja regulamentação se vai fazendo de
forma errática e com frequentes atropelos.

Trata-se de um modelo complexo que estabelece como paradigma do “bom professor” aquele que passou
os últimos 7 anos no desempenho de cargos e funções; um modelo que não garante que um avaliador seja
mais qualificado do que o avaliado; que obriga que professores avaliem professores de outras áreas
curriculares cuja especificidade científica e didáctica difere da sua.

Neste modelo de avaliação, os avaliadores concorrem com os seus avaliados para o preenchimento das
mesmas quotas, pondo em causa o princípio da imparcialidade; nele se imputa ao docente a
responsabilidade individual pelo abandono escolar, desprezando uma panóplia de variáveis que escapam ao
controle da escola e dos professores. Transforma a avaliação dos alunos num instrumento de avaliação dos
professores, quando parece incontestável que os resultados dos alunos visam avaliar tão só os próprios
alunos.

Este modelo impõe critérios de avaliação subjectivos, tais como relacionamento com a comunidade
educativa, empenhamento, disponibilidade ou equilíbrio, que permitem a arbitrariedade do avaliador, de
acordo com interesses do momento; apresenta confusão ou ausência de definição de conceitos,
nomeadamente o de abandono escolar; admite “a priori” situações de injustiça garantida, como a
comparação dos resultados de uma disciplina com os do conselho de turma ou com os do ano anterior, sem
cuidar da multiplicidade de condicionantes que o professor não pode controlar, como a circunstância de as
turmas serem constituídas por alunos com diferentes motivações e especificidades e a obtenção do sucesso
estar mais facilitada numas disciplinas do que noutras.

Este modelo admite que uma avaliação mesmo desencadeada no terceiro período incida sobre um ano
lectivo, sem prévia preparação e sem que os docentes tenham tido conhecimento dos aspectos sobre os
quais a avaliação iria recair e impõe a avaliação de parâmetros absurdos, como a adequação dos materiais
usados ao nível etário e a promoção da auto-avaliação dos alunos de educação especial.
É ainda inadmissível que os professores contratados sejam colocados na situação de reféns para constranger
as escolas a executarem os mecanismos conducentes à avaliação, explorando sem pudor a situação de
fragilidade da relação laboral desses docentes. E nem o carácter simplificado da solução que agora se
perfila retira o sentido discricionário e injusto ao modelo adoptado.

Acresce a circunstância de as recomendações relativas à elaboração e aprovação, pelos Conselhos


Pedagógicos, de instrumentos de registo normalizados, previstos no Decreto Regulamentar nº2/2008 e
procedentes da Senhora Presidente do Conselho Científico de Avaliação dos Professores, se encontrarem
sob efeito suspensivo, por força de providências cautelares intentadas pelas organizações sindicais.

Finalmente, realça-se o facto de este modelo de avaliação, excessivamente burocratizado, ter provocado o
caos e desestabilizado as escolas, convertendo a avaliação dos professores no centro da sua actividade e das
suas preocupações.

Tendo em conta o que foi exposto e também o respeito que merece o muito trabalho já realizado na escola e
que pôs em evidência todos os constrangimentos referidos, o Conselho Pedagógico do Agrupamento
Vertical de Escolas de Azeitão, em reunião realizada em 10 de Abril de 2008, decidiu:

1. Solicitar junto da tutela:

a. a suspensão da aplicação do Decreto Regulamentar nº2/2008 e o consequente adiamento de


todos os procedimentos relacionados com a avaliação para o próximo ano lectivo, para que
possam ser modificados os aspectos mais controversos do citado diploma;

b. que seja testado o modelo de avaliação a adoptar antes da sua generalização, sem que daí
advenham consequências para a progressão na carreira;

c. que os professores a que se refere a circular nº B08000211G sejam enquadrados, para


efeitos de avaliação, na legislação anterior à publicação do Decreto Regulamentar nº2/2008.

2. Não proceder à aprovação de quaisquer documentos relacionados com a avaliação do desempenho


dos professores enquanto se aguarda resposta ao referido requerimento.

Tendo em conta a seriedade e a gravidade das matérias implicadas no novo modelo de avaliação do
desempenho, os professores deste Conselho Pedagógico reservam-se o direito de divulgar publicamente
esta tomada de posição.

Azeitão, 10 de Abril de 2008

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