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fio Fereira dos Santos, fésofo humani- zante, buscau reconelar a Filosofia com a religiio cristé, representando Cristo como o Bern Verdadeiro, Neste Cristanismo: a vl homer, desen- volve uma Axioantropologia fundada na melhor Filosoia cléssica tomista, ao descrever 0s ho- mens diversos das pedras, das plantas e dos ai sais (§ 10), como obras de nds mesmos (§ 21), pois temos uma oréxs (§ 29) que nos impele a0 Supremo Bem (§ 33), oréxis que é um dover-ser com direitos e obrigagbes (§ 50), implica em ustiga (§ 54), valores humanos (§ 58), Etica @ Moral (§ 60), fundados em virtudes cardeas (§ 76), € cultivo das virtudes como dever-ser ético do Homem (§ 80) Destas premissas retra 0 saudaso Mestre as conclusdes do titulo: a partir da miséra humana, encontrar ohomem sua savacao(§ ¥/s), porque (quar em sia trindade da Vontade,Inteligencia & Amor (§ 104), que the permite religar-se a Deus, pois “esta € a vossa religido, porque ea esté em 6s" (§ 120), concuindo com palavras de Crist, “eu sou o apice da pirdmide” (§ 135) Dos titimos escritos do ilustre fldsofa pais 1a, Cristinismo expressa a sintese de seu filosofat classic, com fortes tragos teol6gicos, a0 estilo tomista de apresentagio de teses ou proposigdes enlacando Razdoe Fé Carlos Auréio Mota de Sot Cristianismo: a religiao do homem EDUSC ema eduseedunccomn Ne Sutos Mi Fence de Apresentagao Capitulo 1 23. Cristanismo: a teligito do homem Capitulo IT 65. Cristianismo: a reli isin Ti. Série xiao do homem Apresentagao “Por que reler Mario Ferreira dos Santos hoj Autor de uma Enciclopédia de Cigncias Filoséificas ¢ So- querer o bem, por que © bem queremos determinadamente. Aqueles que guiseram construir uma idéia falsa da nossa liberdade = porque nunca a entenderam devidamente, ju nde que era (otal e absoluta isengao de qualquer lago, a es pontan idade totalmente livre de qualquer determina lo e conexio ~ construiram da liberdade um verda deiro monstro, um efeito sem causas; consteuiram ‘uma entidade sem uma razio e sem principio, Entio cera facil depois destruir esta i fem porque era ums imagem que nao tinha consisténcia, porque nao tinha principio, nem tinha razio de ser. Mas desde © mo: mento em que compreendemos 0 verdadeito sentido de nossa liberdade, como aqui esti dito no texto, enti podemos compreender que ela consiste apenas em po: der a nossa vontade, quando assistida pelo nosso en: tendimento, preferir este bem ¢ preterir aquele, ni porém preterir total ate o bem, Por isso a lil plenituade. E con cexige entendimento, ¢ este em sua pode o entendimento dar assistencia & vontade se ele nao for capaz de advertir 0 que esté em exame, se nao puder estudar com cuidado o que convém ‘au ndo convénr, se nio estiver 0 homenn livre de coagdes que 0 cerceiam, se nao estiver desobrigado das paixies 939 Cristianismot a religise do homem {que o avassalam? Por isso a liberdade da vontade impli ca a cooperagio eficiente e decisiva do entendimento, ‘sim, € preciso nunca esq) er isto, que a nossa liber dade estara viciada se nao formos capazes de estudar com cuidado 0 que convém ou nao convém, se nao ti- ver 6 homem liberto, isento de coagdes que 0 cer- ceiam, se nao estiver também desobrigado, afastado das paixdes que o avassalam e que escrevem sua pro- pria mente. Aquele que nao sabe ainda distinguir en tre 0 que convém e © que nao convém, ainda nao é li- vie; aquele que ainda esta obstaculizado pelas coagdes que cerceiam a sua agao, ainda nao é livre; aquele que é dominado pelas suas paixdes, ainda nao é livre. Por isso € que a vontade cristamente considerada implica 2 cooperagio eficiente © decisiva do entendimento com a vontade, Como 0 entendimento e a vontade tém o seu principio e a sua raiz no amor, a liberdade dda vontade implica a cooperagio eficiente e decisiva do entendimento impulsionado pelo amor a verdade € a vontade pelo amor ao bem. Eo entendimento, porque é perfectivo,exige que o conhe~ cimento seja 0 mais seguro e rigoroso. Consegilentemen. te, sem sun saber cuidado e profundo nao saberemos comparar para compreender as diferengas eas semelhan~ gas. Como poderd atuar com liberdade a nossa voutade se Ihe obstaculizar 0 empecitho da ignordncia? A vontade livre, portant, exige entendlimento claro, ciéncia, afasta- mento constante da ignorincia. Ora, & bem claro o sen- lido cristo que ¢ a elevagdo do homem nas pertcigdes do homem. O entendimento ¢ perfectivo, porque o en- tendimento pode cada ver entender mais, pois ele xi: {g¢ conseaqientemente que o conhecimento seja 0 mais seguro € rigoroso, cada vez mais © nosso entendimen- to busca a verdade e quer té-Ia na sua expressiio mais pura, mais nitida, Portanto, nao saberemos compreen: der suficientemente as diferengas ¢ as semelhangas en- tre as coisas ¢ no saberemos compari-las se no tive mos um saber ctidado € aprofundado, Como a nossa liberdade poderé atuar se for obstaculizada pelo empe- cilho da ignorincia, e mesmo que nao seja obstaculiza~ da pola snorincia, que nao nos permite qule saibamos quais meios devemos usar para poder agit, ela tam- bem, pela ignorincia, pode nos desviar do bem melhor fazendo-nos cair no bem menor, ou as vezes num mall maior para nés. A vontade livre, para que atinja a ple- nitude da sua liberdade, cendimento claro, exi ge ciéncia, exige 0 afastamento constante da ignoriin: cia, De onde se vé que a liberdade crist isengio, que esta pode té-Ia os proprios animais, o pés- saro solto da sua gaiols, ele conhece a liberdade de isengo, mas nao tem a liberdade de especificagio, nto tem a liberdade de saber especificar, isto é, de distin guiras coisas segundo as suas espécies,e saber para que servem as coisas, A verdadeira liberdade surge comple: ta, portanto, pelo desenvolvimento da perfeigio maxi- ma do homem, que é também 0 entendimentos € ne- cessirio que ele se afaste cada vez mais da ignorancia, que cada vez mais entenda e saiba, para que a sua men- tee tome clara, Nao era de admirar, portant, que no mundo cristo fosse desenvolver-se cada vez mais a cultura, fo esenvolver-se cada vez mais o conheci 40 Cristianismo: a religide do homem mento, ¢ que esse conhecimento se democratizasse de modo como se democratizou, de maneira que o mime ro de analfabetos foi reduzindo-se cada vez mais, ¢ 6 rntimero de homens cultos foi aumentando também, cada vez mais, Isso se deve também ao espirito cristo. Sabemos que houve obsticulos que impediram que © cristianismo realizasse com plenitude aquilo que 0 cristianismo tragava como o seu destino, mas se esses obsticulos se deram através dos séculos, eles deverso ser afastados, para que os verdadeitos cristaos realizem © cristianismo em toda a sua plenitude, E uma das ais piedosas agées cristis ¢ precisamente disseminar 6 conhecimento, mas 0 conhecimento so, 0 conheci- mento justo, o conhecimento bem fundado, o conheci- mento positive, ¢ nao aguele conhecimento perturba- dor, corruptor que poe a davida, abre as brechas do de- sespero e Langa o homem no satanismo. E tudo isso 36 0 hontem pode realizar, nao 0 animal. Vé ¢ assion que 0 entendimento tende para a verdade, ea mn, O entendimento & assim a vontade temde para 0 b oréxis intelectual da verdade, ¢ a vontade, a oréxis inte lectual do bem. Ein ambos, tanto no entendimento como nna vontade, hd nnn igual raizs a or€xis, 0 inipeto para 0 que & conveniente & naturcea humana, Essa raiz € 0 principio também da oréxis intelectual da verdade, ‘como da oréxis intelectual do bem, ¢ Ga tendéncia, é 0 anelo, € 0 impeto para alguma coisa, Everdade que o mor depois se distingue e toma diver- sos aspectos e pode-se distinguir nele diversas maneiras, de amar, mas 0 entendimento € 0 amor da verdade, a 542 Mario Ferreira dos Santos vontade € 0 amor do bem. Vontade, entendimento e amor esto sempre unides, esto sempre constituidos partes da mesma natureza, da mesma ago. Eeste é um ponto importantissimo porque é uma revelagio do ho- mem, no homem, daquilo que de mais supremo existe natureza, como veremos depois. E como a natu mana tende anelar 0 que the & conveniente (0 bem), anela, portanto, também a ve dade, porque ela € tambein conveniente a sua nature za, Assim’ a verdade ainda bem, 0 bem & a verdade. De onde se v8 que Ini a mesina natureza en ambos, mas dois papéis diferentes, pois a vontade & a mesma oréxis que tende intelectualmente para o bem, € 0 ¢ tendimento, a oréxis que quer a verdade, também um bem, A pouco e pouco se vai vendo, se vai sentindo que hi uma sé natureza no nosso amor, na nossa vontade ¢ 10 nosso entendimento, no que constitui 0 nosso psiquismo superior, o mais alto da mente hw mana, Essa oréxis é 0 amor. Hi nessa oréxis un impeto afetiv, umm anelar o que é de- sejaudo com amor. Assim o entendimento é 0 anor da ver dade, ea vontade 0 amor do bern. Mas 0 amor éda mes rma natureza dessa oréxis, emby 1 wis papel 2 repre diferente. Hi, assim, no homem uma trindade: vontade, centendimento ¢ amor. Os trés tém a mesma natureea, mas representam papéis diferentes. ste & um ponto inv portante do cristianismo. Em muitos surgiré uma obje- «io de que nao é possivel que, no ser humano, o amor; o entendimento ¢ a vontade tenham a mesma natureza 96 su Cristianismo: a religido do homem Mas tem, porque hi no ato de entender uma diregio amorosa para a verdade, que vai transparecer quando descobrimos que alguma coisa € aquilo que julgivamos ‘ow quando tems a solugao de um problema que a nbs se colocava, Aquele instante de vitéria é semethante a vitoria do amante q vontade amor, ha no entendimento amor. © ato da indo tem a posse da amada, Haina vontade é um ato assistido sempre pelo entendimento, como 0 ato do entendimento nao deixa de estar assist do pela presenga da vontade, e esta é a razdo por que cles funcionam, embora com trés aspectos diferentes, & © funcionar de uma mesma natureza no homem, que & ‘alma humana na sua maxima espiritualidade, © amor pode ser 88 amor em sua fimgao, como também no entendimento s6 entendimento, ¢ a vontade s6 vonta de, Contudo,s6 hd vontade humana onde hid amor ¢ en tendimento, $6 hd entendimento onde ha amor e vonta de; $6 hd amor onde hi entendimento e vontade, porque amor tem de nitidamente conhecer 0 que ama e inten: samente queré-lo. E este, em poucas palavras, a sintese cdo que acabamos de dizer: € uma mesma natureza que tem trés papéis. Assim se di no homem. Portanto, podem eles atuar de certo modv separada: rente, mas @ sua nature: outros, Deste modo sao trés papéis de uma mesma na Assim & 0 homem. E nisto ele se distingue pro- fundamente dos aninais, E wn ser anelante de verda- 546 Mario Ferteiea das Santos ‘mento para escolher com verdade, ¢ 0 amor os une, po {que o amor é a raiz eo principio deles. Assim, 0 anor & oréxis que quer a verdade do bem elei- 10 (escolhido): a vontade, a oréxis que aspira com amor a verdade do bem eseolhidl; 0 entendimento, a oréxis que aspira com amor ao bem da verdade, Assint, 0 amor é vontade intelectual da verdade do bem; a vortau ‘amor intelectual do verdadeiro bem; 0 entendimento, © ‘amor intelectual do bem da verdade. A vortade aspica nor a verdade do bem escolhido e o entendimen: to aspira com amor ao bem da verdade, Dai ser 0 amor ‘uma vontade intelectual da verdacle do bem; a vontade, ‘amor intelectual do verdadeiro bem, ou do bem verda deito e o entendimento, o amor intelectual do bem da verdade, Distingue-se em suas fiangdes, mas sempre um ‘apresenca do outro para a sta perfeta inteligencia e compreensio. Sao tr fungoes és papéis importantes dda mente superior humana, Assim 6 0 homey, quer queiram quer nao, as que nao 0 compreenderam bem. E é fiurdamentade nesta realida omen, como 0 homem & em sua concregao, que 0 cristianismo se cimentou. Nao é uma religiao imposta 0 homer, mas una religito que brota do homem ¢ marcha para o Ser Supreme, Por isso Cristo foi também um homem, Esta é a afirmativa suprema, 0 cristianis smo é uma religido fundada na realidade do homem, do homem em sua conctegdo, e como é uma religiio ten: de conseqilentems fe para a parte mais perfectiva do ser humano, ¢ a parte mais perfectiva ¢ o intelecto st 948 Cristianismo: a religido do homem perior: amor, vontade ¢ entendimento. Conseqdente: mente, é através dessas supremas perfeigdes que o ho: ‘mem pode novamente religar-se » Ser Supremo. Cris to teve que ser um homem porque era preciso salvar 0 homem dentro do proprio homem; porque o homem, desconhecia, no queria notar, nao queria perceber € ino podia perceber a grandeza que ele tinha na revela- 20 trinitéria do seu proprio psiquismo superior que participa da Trindade Suprema. Fra preciso que Cristo vviesse revelar esta verdade para que novamente religas seo homem| » Ser Supreme, Das coisas que sucedent, umas sucedem necesséria ¢ in frustravelmente por sus natureza, come as dguas que corremt para os ros, seguinde as leis da natureza, Contu: do, o homer pode represi-las, por um digque que as rete- nila e dar-the outro destino que 0 mar. Aquela folha seca rola, volteia, segundo os impulsos do vento, mas o ser hu mano nao, Hé, no thomem, wma frustrabilidade, que é uma propriedade da sua esséncia racional, O. homem, por ser inteligente, pode escolher entre possiveis futuros, som que a sua escolha modifique ao que quer que seja a ordem natural, Pode, pela vontade, mudar © rumo de seus atos ¢ estabelecer outros. Pode frustar um aconteci- mento e realizar outro que o anteriormente desejado. Ha satos que o homes faz e poderia nao fazer, sem perturbar a orien césmnica, He também ars que 0 homem nao faz que poderia fazer: Entre os atos que 0 homem pode realizar, hd aquelescuja realizagao & indiferente ao bem do homer, ou 5 99 prejudicam, nem favorecem @ natureza humana cousi: derada estética, dindmica e cinematicamente, Tais atos indiferentes nao provocam males nem beneficios, quan do realizados. Compreemsde 0 homem, desde logo, qu: tais atos podem ser realizadas ou nao, contude nao v por que terd de fazé-los, Estamos aqui examinando um problema fundamental da ética que & 0 problema do dever-ser frustrivel, daquele dever-ser que € um impe- rativo para o homem, que o homem deve realizar, ele tem de realizar, mas tem a liberdade a0 mesmo tempo de nao realizé-lo, de frustar a sua reatizagio, dat ele responder por este ato de frustragio que vai depender da sua vontade Do latin, de habeo, ter de, surgiu o verbo debeo, ew devo, do nosso verbo dever. Quando dizemos: devenes fazer isto ou aquilo, queremos dizer que tems de fazer isto ou aquilo, Mas, quando dizemos tal coisa, quando falamos do dever, falamos de un ato que deve ser reali: ilo, que temos de realizar, cuja frustragao & inconve: niente. Mas quem estabeleceria um dever-ser suspenso no ar e sem razio qualquer? Um dlever-ser dessa espéce seria apenas una ordem de comando e nada mais, O de ver-ser tem de ter wina razao, tem de ter ui porqué para ser cumprido, Mas 0 dever nao & apenas uma ordem de comando, E algo que nite convémn frustrar o sew acontecer, par algu: ‘ma razao digna de respeito. Assim, 0 que é conveniente & nossa natureza estitica, dindmica © cinematicamente considerada, ndo gostamos que nos frustrem, Ju Cristianismo: a religido do hemem todos que 0 que é conveniente, 0 que nds apetecemos, aquilo para © qual se dirige a nossa oréxis, quer a sens vel, como a intelectual, nds temas direito, cabe-nos com justica, com retidao, [Assim pensamos 6s, mas nem sempre assim © que é conveniente a nossa natureza é umn bem para nds, ¢ esse bem dele precisams para nosso equilibrio vi tal, Ele nos cabe porque é nosso bem. E reto que o descje mos, éreto que 0 possuamos, éreto que dele nos apropri mos. E 0 nosso dircito. O direito, assim em sew funda- mento natural, baseia-se no que nos deve ser dado ow atribuido, porque corresponde & conveniéncia da nossa natureza, segundo for ela considerada. O direito, assim, nao se separa do dever-ser dla obrigagiie, Vé-se que a concepsao do direito crista & a concepgaio natural. O dircito surge da propria natureza, surge das nossas 1e- lagdes com os nossos semelhantes, com a Divindade e com as coisas, e das relagBes que as coisas possam man- ter conosco, E reto para nés tudo aquilo quanto corres- ponde & nossa natureza, segundo for ela considerada na sua estaticidade, na sua dinamicidade, no desenvol vvimento das suas possibilidades na sua cinematicida- wadas 8s intera- de, isto é nas atualizagies proporcie twagdes sofridas pela acao de outros no decorrer de to: dos esses lances do caminho. Tudo aquilo que é conve niente, realmente conveniente, benéfico, realmente be- néfico a nossa natureza, nos é devido e nao é em exces: 0, porque o excesso pode perturbar a conveniéneia da nossa natureza, € no & no minimo, porque o minimo ror Mario Ferreira dos Santos pode nos trazera caréncia que poe em risco o bem des. st nossa natureza, Portanto, tudo aquilo que é conve- niente para nés ¢ do nosso direito, tomado em relagoes a9 nossos semelhantes, jf que no somos entidades per se e.a se, independentes absolutamente de outras, mas decorremos do proprio conjunto social do qual fazemos parte. Por isso, onde hui direito, hd obrigagae. A cada obviga- ‘iio corresponde umn diveito, como a cada direito corres- ponde as suas obrigagaes. Mas 0 homent nao é um indi- viduo s6 que exista, Hi homens, e homens, que tarnbéwr tém 0 seu dircito e também tém as suas obrigagdes. Ofenderd o diveito de outro aquele que ndo respeitar 0 que & conveniente a natureza de seu semelhante, Por isso 0 direito tom de ser solidério ¢ universak um 86 para todos ¢ de todos. O direito de cada um nao colde, sendo justo, coms 0 di- reito de nenlium outro, porque os direitos sao 0s mesmo pois sao seres da mesma espécie, que aspiram aos bens ‘que sto coneniemtes e proporcionados a natureza de cada umn, que éa mesina ent todos. As colisbes de direito s6 podem surgir quando alguéo lesa 0 direito albeio, ou io cumpre a obrigagae que corresponde ao seu dircito, Por isso, onde se lesa a lei, ha injustiga. Palavras elaras «que nao precisam de interpretagao. Justica 6 reconhecer em cada um, nitidamente, 0 seu di reito e assegur-to, bem como nitidamente a sua ebriga ‘do, e exigir 0 seu curprimento, Nao ha justiga onde se Cristianismo: a religide do homem lese 0 direito alheio, nem tampouco onde se afrouxe 0 de- ver do cumprimento das obrigagbes, Els sao correlativos necessivios porque sao simultincos, porque se de alguém se exige uma obigaao & porque se Ihe dé urn direito, ese Ihe dé un diteito 6 porque se the exige uma obrigagao. Onde o direito se separa e se independent da obriga- 0, nao hd justica, Onde os homens nao reconhecen er te si os seus direitos as suas obrigagdes ndo ha justiga Ui dircito desligado totalmente de abrigagao nao é di- sito, uma obrigagao totalmente desligada do direito nao € obrigacao, Devem ser proporcionados um ao outro porque toda a disparidade que houver aftonta 0 direito A obrigagao, portanto, a justiga. Ao ser humano cabe a frustrabilidade de certos atos, que poste ee fi ‘ou nda, Os aninnais dizer sempre sim ‘urea, © homenr, poréen, pode dizer nite. Nesse ni es «indice de sua grandeza, a abertura de sua elevagio, mas tambénn o primeira passo para os seus erros. O omen! pode frustrar 0 dever-ser. O deve porque eles obedecem aos instintos. Mas 0 do home & dos animais ¢ fatal frustrdvel, porque ele ¢inteligentee dispde da vontade. E por que se dio tais coisas? As ri ssa simples: 0 ho- ‘ment nao é um ente imutdvel e eterno. E um ente mute vele temporal, Sua vida & wm longo itinerdrio, um longo drama, porque ele atua e sofre sucessivamente uma lon ‘ga realizasio dramtica, porque ele age e faz. E como age f faz, ele profere e pretere, Por isso, ao longo do drama Inumano, ao longo da sua prixis, da sua prética, 0 ho- ‘mewn avalia valores 959 $60 sel srio Petseira dos Santos En toda vida pritica do homer he a presenga tls valo res que sao julgados, preferilos e preteridos. Onde hi ‘acdo humana, hd a presenga do valor, ¢ 0 que o homer faz ou sofre € conveniente mais ou menos ow mio a sta natureza estitica, dindinica e cinematicamente conside- radla, Em tulo, portanto, ha valores, maiones ow menore , adeinais, ¢ homem dd suprimento de valor ao que the convénn, como tambéin Ihes retira, Supervaloriza ou de valor ica, Todas estas caracteristicas do homem sao preci- samente 0 que the dé o caréter da sua peculiaridaute Mas esses valores 10 valores do hiomem, por isso sito ve lores Inumanos (em grego, valor & axids ¢ o homem & em-se esses valores de axioantte- ‘antropos, dai chans polégicos). Toda vida ativa e factiva de homem (a vida técnica) esté cheia da presen dos valores e dos desvale 1s do honten. Por essa razao, cada ato lnumano € ai ou menos digno, segundo tena mais ou menos valor. 4 dignidade dos atos continuados marca o seu valor. Osatos continuados constituen o costume (o que os gre gos chamavam ethos ¢ 0s latinos mos, moris, de once vem Etica e Moral). Os ates éticos ou morais sio ates que tim valor, sto atos, portanto, que tém dignidade. E cticamente valioso o dever-ser que corresponde a justiga como antes expusemos:& eticamente vituperdvel, indie. no, 0 ato que ofende a justiga, ou seja, 0 direito, 0 que é devido a conveniéncia da natureza humana, na mult plicidade em que ela pode ser considerada, Assim, toda a vida pritica do homem gira ent toro ¢ rica. Realmente a vida pritica do homem € a vide at 02 963 Cristianisme: a religiag de bomem va e a vida factiva, ¢ naturalmente essa vida gira em_ tomo do que é conveniente ou desconveniente. Na asao ¢ na realizagao da vontade, hi apreciagdes de va- lores de que convéme do que mn, conseqt temente, do dever-ser frustrado por isso, ram todas em torno da Ftica, que tem de estar presente em todas: ‘0s atos da vida pritica. E prosse le 0 texto: como dis- ciplina filosofica, esta tem por objeto formal a ativida- de humana em relagio ao que € conveniente ou no & sua natureza, Os 10s podem ser assim éticos ou antiéticos, ou entio anéticos. Eticos, os que devem set realizados; antiéticos, os que axio deveriam ser re: do; e anéticos, os que nos parecem indiferentes. Portanto, toda vida ativa ¢ factiva (téeniea, ar ica) do homem se dé dentro da esfera étiea. Razao tinham, pois, 6s ildsofos uncigos gue puniam © Ditto, a Economia, a Sociologia, a Téenica e a Arte como inclusas e subordina. das a Etica, porque 0s atos hunanos esta sempre mar cailos de eticidade, Esta a vazito por que se deve distinguir Erica de Moral, Esta distingao nao ¢ arbitraria, Ora, os antigos, ao distinguirem essas diseiplinas ¢ as eoloca- rem subordinadas & Etica, mio subordinavam total: vorquie hi uma parte de cada uma dessa disciplinas, que € tipicamente propria das mente e absolutamente, disciplinas, que € sua parte especifica. A Etica, entdo, fancionava em relacdo a esas dsciplinas na mesma re- lagao de género para espécie A Btica estuda 0 dever-ser humana, a Moral descreve ¢ prescreve como se deve agir sar este dever-sr: A Moral é variante, mas a Etica é invariante. Poder os 0 Ferreira dos Santos homens, mal assistides pela intelectualidade, errarem quanto a eticidade de um ato e estabelecer um costume (moral) que nem sempre & conveniente ou & exagerado, Podem errar, porque o home pode errar, mas se der ele ‘o melhor de sua atengao a Etica ele nao errard e pode ria evitar os erras na Moral. F essa a razio por que inuitas vezes encontra nos diferencas entre a moral ea Atica, E muitas vezes vimos que certos costumes de certos povos ofendem a principios de justiga, porque nem sempre o homem escolhe como modo de proce der (seria © modo moral) aquele que melhor corres ponde a realizagao do dever-ser ético,¢ as vezes é mo- vido por certas citcunstancias histéricas, ambientais, que determinam agi desse modo ¢ nio doutro, por- que, apesar de nao ser benéfico como seria de desejar, 6 menos maléfico do que de outros modos de proce- der, Assim pode-se compreender que certas tribos, em determinadas circunstancias, se vissem forgadas a ti- quidar os elementos invélidos que a constituiam, para {que sobrassem alimentos suficientes para manut 0 dos que tinham maior capacidade de sobrevivéncia, Este ato eticamente considerado é falho, mas moral- mente considerado ele tem uma desculpa, dada as cir cunstincias ambientais e histéricas daquela tribo. Por isso, muitas vezes a moral pode chocai coma ética, e nem sempre a moral conheceria a melhos posta ou a melhor solucao ao dever ético, Nés hoje estamos numa crise, nao de ética, estamos numa crise de mo- ral, ¢ esta crise na moral esti por uma mi visualizagao da dlferenga entre moral ¢ tica. Como a moral decal como a moral ndo consegue manter as suas normas, sor 965 Porque ela j4 mio correspond & realidade da vida tual entio quem sofre as conseqdéncias é ética, pa reeendo 40s olbos daqueles que nao esto preparados, que fazem confusio entre ética € moral, que a ética também se ders, como se esta derruindo a morale sito € verdade:a ica permanece em pé a ética € in destruivel, ica & eterna; a moral & hum a, fi vel, caduca, ¢ por isso ela pode ertar. Se a mente hu- mana for bem agi 1, ela poderd evitar os erros da moral pela criasio de costumes que correspondam melhor ao dever ser Aquees que dizen que a Evca é vévia porque a Moral é varia, confurndivan a Moral com a Etica, Ess co provocaram inimeros: mual-entendios € muita agitagio eure os que desejavam atacar a Erica fsdes Ha costumes convenientes © inconvenientes apenas a uma parte da hnmanidade mas o que é ico é universal ce deve ser aplcaio tod A Bien deve ser consagrada 40 universal. Tens assim a explanagao dos diversos aspectos importntes que ji salientamos, mas o texto continua € nos ai esclarecendo a pouco e pouco este aspecto genuinanente erstio, Assim, da mora gue surge na vida prética do homem, a ‘mente espectilanio sobre ela chega a Et peculativa dog ' prtca, porque nela hd prineipios eter nos, enguanto Wa nela ha regras de valores histéricos ortanto, mutins, Dar a cada um o que é de seu dire- 10 é uma normestica, mas 0 modo como se proce, se- sudo a comeniicia humana obediente a esta norma, 566 Mario Ferreira dos Santos ser uma regra moral, Porque errant os homens na Mo- ral, nao se deve negar a Etica 0 seu valor, porque esta se ria wna violentagao da intligéncia Nao somos apenas animais, mas homens. E como hi mens, femos entendimento, vontade ¢ antor. O animal indo tem ua vide ética, nds tennos, porém O arsimal no precisa estabelecer regras moras, nis, porém prec- samos, Nao cabe ao animal escolhir entre o sim ¢ 0 nA, porque diz sempre sim aos seus instintos que 0 regem: Mas 0 hones tem de empregar a sua inteligéncia ¢ a sta vontade, edirigir 0 seu amor, por isso 0 homemn é funda: mensalmente ético na sua agi, Estes paragrafos contic ‘mam as nossas palavras Porque somos homens ¢ nao animus, tensos le conside- tar 0 testemunhe da nossa situagao, Nao podemes pela animalidade, renuuciar a humanidade, que € perfectiva ‘afirmar wna i mente superior. E nao podemos també custa da outra, enquanta viventos. O animal em nds nao impede que nos eleven, pois a nossa vida pratica mos: tra que podemos erguer-nos até produair os mais ¢ dos exemplares humanos. Esta é realmente uma verda de que induzimos na nossa pritica. En les e mentem quando dizem que nés nao poems er- guer-nos elevar-nos porque somos animais. A anima- inde: lidade em nés nao impede a de nossos atos. Nao podemos atingir a uma perfeigao, que seria como que sem limites ¢ sem o menor grau de deficiéncia, porque somos humanos, somos deficientes, somos, portanto, passiveis de erro, Mas podemos sim, cada vez 108 508 $09 $70 mais, erguer-nos em nossa vida, em nossa vida psiqui- ca superior, desenvolvendo cada vez mais 0 nosso amor. Eo que veremos a seguir, ¢ esta € a verdadeira pritica crista Somos capazes dle progredir, mas es animais nie. As abe Ihas de hoje ager come as abelhas que nos descreve Aris tételes, mas ¢ homemt nito, Crescem nossos conhecimen: tos, ampliannos os nossos instrumentos sécnicos, invadi ‘mos o dmago da terrae escalan 8 08 espagos. Constr ‘nos novidos pela nossa vontade, pela nossa inteligencia, la vontade¢ pelo amor Se 0 amor, a vontade e a inteligéncia sao capazes de nos erguer acina dos aninais ¢ os elevarem a estigios cada vez mais altos, tambént tem sido pelo desvirtuamento da inteligencia, mal usada pela vont Vieiasa e pelo anor desregrado, que cainnos nas mais énfimas situagdes. So- mos grandes apenas quando nos erguentos e nao quando caimos, E mais fel destruir do que construir. Este pars grafo fala por si Sabemos que ampliar 0 alcance da nossa inteligencia, aumentado 0 nosso saber, custa-nos esforgos; também custa-nos esforgos purificar a nossa vontadlee acrisolar 0 nosso anor. E mais fil permanecer indiferente,e dificil é vencer os estégiose alcangar o mais alto A ascensao do homem exige esforgo e sobretuulo coragem, Sabemos, sim, realmente, que toda nossa elevagio & ine- gavelmente wna tarefa de gigantes, mas nao é uma tare 109

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