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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto


Departamento de Economia

Disciplina: REC0215 – Microeconomia I

Docente Responsável: Jaylson Silveira

2.1.4. Demanda individual: estática comparativa da escolha ótima do consumidor

Leitura básica: Varian (2006, cap. 6 e 8).

Análise estática comparativa: Estudo de como um equilíbrio econômico é alterado quando ocorre
uma determinada variação no ambiente econômico. Mais precisamente, procura-se determinar como
os valores das variáveis endógenas que caracterizam o estado de equilíbrio de um sistema ou de um
agente econômico são alterados por mudanças nas variáveis exógenas que parametrizam este
equilíbrio. Esta análise é feita sem a preocupação com o processo de ajustamento entre os
equilíbrios e supondo que este processo leva de fato ao novo equilíbrio.

Análise estática comparativa da escolha ótima do consumidor: Procura-se determinar como as


quantidades ótimas dos n bens demandadas pelo consumidor (ou seja, as variáveis endógenas do
equilíbrio do consumidor) são alteradas por mudanças na renda e nos n preços (as variáveis
exógenas) que parametrizam sua escolha ótima.

Impacto de variações na renda sobre a escolha ótima do consumidor: A depender da relação de


preferência sobre o espaço de mercadorias M, uma variação da renda de um consumidor em um
determinado sentido pode acarretar uma variação do consumo do i-ésimo bem no mesmo sentido ou
no sentido oposto. Quando a variação do consumo é no mesmo sentido, diz-se que o bem i é
normal. Por sua vez, caso a variação do consumo deste bem seja no sentido oposto à variação da
renda, o bem i é denominado um bem inferior. Em outros termos, se xi* = xi ( p1 , p2 , m) é a demanda
marshalliana pelo bem i, diz-se que este bem é normal ou inferior com relação à renda no ponto
∂xi ( p1 , p2 , m) ∂x ( p , p , m)
( p1 , p2 , m) se >0 e i 1 2 < 0 , respectivamente.
∂m ∂m

Figura 6.1 de Varian (2006, cap. 6)

Figura 6.2 de Varian (2006, cap. 6)

Curva de renda-consumo ou caminho de expansão da renda: Para dados preços p = ( p1 , p2 ) , as


funções demanda marshalliana dos bens 1 e 2, x1 ( p, m) e x2 ( p, m) , definem uma função vetorial

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R(m) ≡ x1 ( p, m) j + x2 ( p, m)k , na qual j = [1 0] e k = [0 1] são vetores. Portanto, a função

vetorial R (m) associa a cada nível de renda m um vetor [ x1 ( p, m) x2 ( p, m)] . O conjunto de pontos
( x1 ( p, m), x2 ( p, m)) gera um gráfico da função vetorial R (m) no espaço de mercadorias, que é
denominado curva de renda-consumo ou caminho de expansão da renda.

Curvas de Engel:1 Para dados preços p = ( p1 , p2 ) , a função demanda marshalliana do i-ésimo,

xi ( p, m) , define uma função que associa a cada nível de renda m a escolha ótima xi* . Esta função é
denominada curva de Engel do bem i.

Figura 6.3 de Varian (2006, cap. 6)

Fonte: Binger, B. R.; Hoffman, E. Microeconomic with calculus. 2nd ed. New York: Addison-Wesley, 1998.

1
A denominação é devida ao estatístico alemão do século XIX Christian Lorenz Ernest Engel que estudou está relação.

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Fonte: Binger, B. R.; Hoffman, E. Microeconomic with calculus. 2nd ed. New York: Addison-Wesley, 1998.

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Exemplos:

• Curvas de renda-consumo e de Engel de substitutos perfeitos:

Figura 6.4 de Varian (2006, cap. 6)

• Curvas de renda-consumo e de Engel de complementares perfeitos:

Figura 6.5 de Varian (2006, cap. 6)

• Curvas de renda-consumo e de Engel de preferências Cobb-Douglas:

Figura 6.6 de Varian (2006, cap. 6)

• Curvas de renda-consumo e de Engel de preferências quase-lineares:

Figura 6.8 de Varian (2006, cap. 6)

Bens de luxo versus bens necessários: Como já dito, para dados preços p = ( p1 , p2 ) , a função
demanda marshalliana do i-ésimo bem, xi ( p, m) , define uma curva de Engel para este bem. Assim,

a elasticidade da demanda do bem i com relação à renda no ponto ( p, m) , ou mais compactamente,


a elasticidade-renda da demanda pode ser definida como:
∂xi ( p, m) m
εxm ≡ .
i
∂m xi ( p, m)
∂x ( p, m)
Se o bem i é normal, ou seja, se i > 0 , então ε xi m > 0 . Além disso, se ε xi m > 1 diz-se que
∂m
este bem é de luxo, caso ε xim < 1 o bem i é classificado como necessário.

Preferências homotéticas: Uma relação de preferência f~ é homotética se as curvas de indiferença

são relacionadas por expansões proporcionais ao longo de raios partindo da origem, isto é, se
X ~ Y , então tX ~ tY para qualquer escalar t ≥ 0 . Isto pode ser posto em termos de utilidade da
seguinte forma, se u( X ) = u(Y ) , então u(tX ) = u(tY ) para qualquer t ≥ 0 . Note que relações de

preferência homotéticas apresentam TMS2por1 que dependem apenas da razão x2 x1 , ou seja, as


curvas de renda-consumo são lineares. Ademais, como a curva de Engel é também linear, para bens
normais tem-se ε xim = 1 .

Figura 6.7 de Varian (2006, cap. 6)

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Impacto de variações no preço do bem i sobre a demanda deste bem: A depender da relação de
preferência sobre o espaço de mercadorias, uma variação do preço de um bem i em um determinado
sentido pode levar o consumidor a mudar o consumo deste bem no mesmo sentido ou no sentido
oposto. Quando a variação do consumo do bem i é no sentido oposto à variação do seu preço,
ceteris paribus, o bem em questão é denominado bem comum. Por sua vez, quando a variação do
consumo é no mesmo sentido, ou seja, um aumento (diminuição) de pi gera uma expansão
(redução) da demanda pelo bem i, tal bem é denominado bem de Giffen. Em outros termos, se
xi* = xi ( p1 , p2 , m) é a demanda marshalliana pelo bem i, diz-se que este bem no ponto ( p1 , p2 , m) é

∂xi ( p1 , p2 , m) ∂x ( p , p , m)
comum se < 0 ou de Giffen se i 1 2 >0.
∂p1 ∂p1

Figura 6.9 de Varian (2006, cap. 6)

Figura 6.10 de Varian (2006, cap. 6)

Curva de preço-consumo: Para dados preço do bem j ≠ i = 1,2 e renda m, as funções de demanda

marshalliana dos bens 1 e 2, x1 ( p, m) e x2 ( p, m) , definem uma função vetorial


P ( pi ) ≡ x1 ( p, m) j + x2 ( p, m) k , na qual j = [1 0] e k = [0 1] são vetores. Portanto, a função

vetorial P ( pi ) associa a cada nível de preço pi um vetor [ x1 ( p, m) x2 ( p, m)] . O conjunto de

pontos ( x1 ( p, m), x2 ( p, m)) gera um gráfico da função vetorial P ( pi ) no espaço de mercadorias,


que é denominado curva de preço-consumo.

Figura 6.11 de Varian (2006, cap. 6)

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Fonte: Binger, B. R.; Hoffman, E. Microeconomic with calculus. 2nd ed. New York: Addison-Wesley, 1998.

Curvas de demanda: Para dados preço do bem 2 e renda m, a função demanda marshalliana do bem
1, x1 ( p, m) , define uma função que associa a cada nível de preço p1 e renda m a escolha ótima x1* .
O gráfico desta função é denominado curva de demanda do bem 1.

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Fonte: Binger, B. R.; Hoffman, E. Microeconomic with calculus. 2nd ed. New York: Addison-Wesley, 1998.

Exemplos:

• Curvas de preço-consumo e de demanda de substitutos perfeitos:

Figura 6.12 de Varian (2006, cap. 6)

• Curvas de preço-consumo e de demanda de complementares perfeitos:

Figura 6.13 de Varian (2006, cap. 6)

• Curvas de preço-consumo e de demanda de bens discretos:

Figura 6.14 de Varian (2006, cap. 6)

Impacto de variações no preço de bem j sobre a demanda do bem i ≠ j : A depender da relação de


preferência sobre o espaço de mercadorias M, uma variação do preço de um bem j ≠ i em um
determinado sentido pode levar o consumidor a mudar o consumo do bem i no mesmo sentido ou
no sentido oposto. Quando a variação do consumo do bem i é no sentido oposto à variação do preço

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do bem j, ceteris paribus, o bem i é um bem complementar do bem j. Por sua vez, quando a
variação do consumo é no mesmo sentido, ou seja, um aumento (diminuição) de p j gera uma

expansão (redução) da demanda pelo bem i, tal bem é um substituto do bem j. Em outros termos, se
xi* = xi ( p1 , p2 , m) é a demanda marshalliana pelo bem i, diz-se que este bem no ponto ( p1 , p2 , m) é

∂xi ( p1 , p2 , m)
complementar do bem j ≠ i = 1,2 se < 0 e substituto do referido bem se
∂p j

∂xi ( p1 , p2 , m)
>0.
∂p j

Fonte: Binger, B. R.; Hoffman, E. Microeconomic with calculus. 2nd ed. New York: Addison-Wesley, 1998.

Exercícios: Resolva todas as “Questões de Revisão” propostas por Varian (2006, cap. 6). Resolva
os problemas 1, 2, 3, 4, 5 e 6 dos “Exercícios” propostos por Pindyck e Rubinfeld (2006, cap. 4).

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Intuição fundamental sobre a separação analítica do efeito de uma variação de preço sobre o
consumo de uma mercadoria: Quando o preço de um bem i varia, há dois efeitos sobre as condições
que determinam a nova escolha ótima do consumidor por esse bem. O primeiro efeito é sobre a taxa
à qual o consumidor pode trocar o bem i por outro bem qualquer j ≠ i , ou seja, a taxa de troca
pi p j é alterada. O segundo efeito é sobre a renda do consumidor. Como veremos, estes dois

efeitos podem ser separados.

Efeito total: É a variação gerada no consumo (escolha ótima) de um bem i, ∆xi* , quando seu preço,

∆pi , varia, ceteris paribus. A variação da quantidade consumida pode se dar, a priori, no sentido

∆xi* ∆xi* ∆xi*


oposto ou não ao da variação do preço, ou seja, < 0 ou > 0 . Note que é a taxa média
∆pi ∆pi ∆pi

de variação da quantidade ótima do bem i com relação ao preço desse bem. Seja xi* = xi ( p1 , p2 , m) a
função demanda marshalliana (ou walrasiana) pelo bem i. O efeito total pode ser aproximado por:
∂xi ( p1 , p2 , m)
∆xi* ≅ ∆pi .
∂pi

∂xi ( p1 , p2 , m) ∆xi*
Portanto, pode ser visto como uma aproximação da taxa média de variação , que
∂pi ∆pi
fornece a média do efeito total por unidade de variação do preço do bem i.

Princípio fundamental: O efeito total pode ser decomposto em duas partes, a saber, o efeito
substituição e o efeito renda. Primeiramente, deixa-se que os preços relativos variem, mantendo o
poder aquisitivo ou nível de utilidade constante, e avalia-se o impacto sobre o consumo ótimo do
bem em questão. Em seguida, mantendo-se os preços relativos constantes, deixa-se que o poder
aquisitivo se ajuste e avalia-se o impacto resultante sobre o consumo do bem em análise.

Efeito substituição: É a variação na quantidade consumida do bem i devido à variação da taxa à


qual este bem é trocado com relação ao bem j ≠ i , mantendo o poder aquisitivo (renda real) ou
grau de satisfação (nível de utilidade) constante.

Compensação de Slutsky: Para uma dada situação ( p1 , p2 , m) o consumidor demanda as quantidades

x1* = x1 ( p1 , p2 , m) e x2* = x2 ( p1 , p2 , m) dos bens 1 e 2, respectivamente, gastando m = p1 x1* + p2 x2* .


Se o preço do bem 1 muda para p1′ , gerando uma variação ∆p1 = p1′ − p1 , o consumidor deveria

gastar m′ = p1′x1* + p2 x2* para continuar consumido a cesta ( x1* , x2* ) . Assim, sua renda monetária (ou

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nominal) deveria variar ∆m = m′ − m = p1′x1* + p2 x2* − ( p1 x1* + p2 x2* ) = ( p1′ − p1 ) x1* . Esta variação da
renda que mantém o poder aquisitivo do consumidor é denominada compensação de Slutsky.

Efeito substituição de Slutsky: É a variação na quantidade consumida do bem i devido à variação da


taxa à qual este bem é trocado com relação ao bem j ≠ i , quando o consumidor está sujeito a uma
compensação de Slutsky.
Efeito renda (do tipo Slutsky): É a diferença entre o efeito total e o efeito substituição de Slutsky.

Figura 8.1 de Varian (2006, cap. 8)

Figura 8.2 de Varian (2006, cap. 8)

Exemplos de efeito renda e substituição do tipo Slutsky:


• Bens inferiores e o caso Giffen:

Figura 8.3 de Varian (2006, cap. 8)

• Complementares perfeitos:

Figura 8.4 de Varian (2006, cap. 8)

• Substitutos perfeitos:

Figura 8.5 de Varian (2006, cap. 8)

• Preferências quase-lineares:

Figura 8.6 de Varian (2006, cap. 8)

Exemplo numérico: Na lousa.

Compensação de Hicks: Para uma dada situação ( p1 , p2 , m) o consumidor demanda as quantidades

x1* = x1 ( p1 , p2 , m) e x2* = x2 ( p1 , p2 , m) dos bens 1 e 2, respectivamente, atingindo um nível de

utilidade u * = u ( x1* , x2* ) . Se o preço do bem 1 muda para p1′ , gerando uma variação ∆p1 = p1′ − p1 , o

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consumidor para se manter na mesma curva de indiferença deveria escolher uma nova cesta de
consumo ( x1′ , x′2 ) tal que u ( x1′, x2′ ) = u * . É claro que o consumidor deveria fazer isto gastando o
menor valor possível, ou seja, deveria resolver o seguinte problema de minimização de gasto (ou
despesa):
Min p1 x1 + p2 x2 sujeito à restrição u ( x1 , x2 ) = u * .
X ≥0

Assim, sua renda monetária (ou nominal) deveria variar ∆m = p1 x1′ + p2 x2′ − m . Esta variação da
renda que mantém o nível de utilidade é denominada compensação de Hicks. A solução do
problema de otimização condicionada supra citado parametrizada pelo vetor ( p1 , p2 , u * ) é
denominada demanda hicksiana.

Efeito substituição de Hicks: É a variação na quantidade consumida do bem i devido à variação da


taxa à qual este bem é trocado com relação ao bem j ≠ i , quando o consumidor está sujeito a uma
compensação de Hicks.

Efeito renda (do tipo Hicks): É a diferença entre o efeito total e o efeito substituição de Hicks.

Figura 8.9 de Varian (2006, cap. 8)

Exemplo numérico: Na lousa.

Equação de Slutsky: Na lousa.

Curvas de demanda: Resumindo, há três tipos de curvas de demanda. A curva de demanda comum
(marshalliana ou walrasiana) é uma função que associa a cada preço de um determinado bem a
quantidade ótima desse bem, mantendo constante a renda monetária do consumidor e o preço dos
demais bens. Por sua vez, a curva de demanda slutskyana é uma função que associa a cada preço de
um determinado bem a quantidade ótima desse bem, mantendo constante o poder aquisitivo
(compensação de Slutsky) e o preço dos demais bens. Finalmente, a curva de demanda hicksiana é
uma função que associa a cada preço de um determinado bem a quantidade ótima desse bem,
mantendo constante a utilidade do consumidor e o preço dos demais bens.

Lei da demanda: Se um bem i é normal com relação à renda, então a demanda desse bem tem que
diminuir (aumentar) quando seu preço aumentar (diminuir). Ademais, se a demanda de um bem j

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diminui (aumenta) quando seu preço diminui (aumenta), então esse bem é inferior com relação à
renda, sendo denominado um bem de Giffen.

Exercícios: Resolva todas as “Questões de Revisão” propostas por Varian (2006, cap. 8). Resolva
os problemas 1, 2, 3, 4, 5 e 6 dos “Exercícios” propostos por Pindyck e Rubinfeld (2006, cap. 4, p.
129) após o Apêndice do capítulo 4. Resolva os “Problems” 5.1, 5.3 e 5.5 de Nicholson (2005, cap.
5).

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