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Introdução Histórica ao Direito Privado

- Aula 02 –

Grécia: a justiça na perspectiva dos sofistas

Universidade Federal Fluminense


Prof. Rafael Viola
Antes de adentrarmos o tema proposto deste
trabalho, devemos fazer algumas considerações
preliminares acerca dos sofistas. Inicialmente
devemos ressaltar que sempre que tratamos desses
pensadores vem a nós uma acepção negativa.

Isto se dá pelo fato de que poucas são as obras


existentes dos sofistas, que não passam de meros
fragmentos, e os relatos que temos dessas obras
foram feitos por seus maiores críticos: Sócrates,
Platão e Aristóteles.

sophia = sábio
A Grécia do Século V e IV a.C.

A filosofia antiga inicia-se com Tales numa


tentativa de compreensão racional do cosmo,
ou seja, encontrar um princípio primeiro que
explicasse o todo.

Esta filosofia, que foi desenvolvida em


Heráclito e Parmênides com as discussões da
Physis, perdurou por todo o século VI e V a.C
Ela entendia o homem não como um ser
autônomo, mas como uma parte integrante do
todo.

Desta forma, o homem era sempre explicado


como objeto do todo ao lado de todas as outras
coisas e não como sujeito.
Os sofistas, então, voltaram suas atenções para
o homem como ente individual e como
membro da sociedade.

Esta foi a grande contribuição da sofística que


se volta para temas como ética, política,
religião, retórica, arte, educação, ou seja, “tudo
aquilo que nós hoje chamamos de cultura
humanista”.

A aristocracia e a areté.
Os sofistas tinham grande brilhantismo e êxito
social. Eram oradores e retóricos.

“sofista indica um grupo social particular, isto


é, professores profissionais que forneciam
instrução aos jovens e davam mostras de
eloqüência em público, mediante pagamento”
Marilena Chauí

A venda do saber? A ausência da verdade..


Em relação ao comprometimento com a verdade,
podemos aqui dizer que os sofistas foram vítimas
do preconceito aristocrático.

Expliquemos: a cultura era, em geral, herança dos


aristocratas e dos ricos. Ora, estes tendo já
garantido seus meios de subsistência poderiam
dedicar-se à cultura separando-a completamente
da idéia de lucro e dinheiro, mas elevando-a como
fruto de desinteressada comunhão espiritual.

Contudo, os sofistas, como já dito, eram


estrangeiros sem morada fixa e sem meios de
subsistência e, portanto, fizeram de seu saber uma
profissão da qual exigiam um pagamento em
dinheiro para viver.
Foram, sem sombra de dúvida, transmissores da cultura,
pois iam de cidade em cidade ensinando. Introduziram,
ainda, em Atenas, o ardor pela dialética e pela retórica,
bem como as dúvidas quanto à pretensão da filosofia de
conhecer a verdade última.

É possível dividir os sofistas em três grupos:

1) Os de 1ª geração, criadores da sofística, grandes e


famosos mestres como Protágoras e Górgias;

2) Os propagadores como Pródico e Hípias; e

3) Os eristas que transformaram a dialética sofística


numa estéril arte de contendas, isto é, o gosto da
discussão pela simples discussão.
Protágoras de Abdera
 
É com certeza o sofista mais famoso.

Sua maior obra foi “Sobre a Verdade”.

“O homem é a medida de todas as coisas; das


que são, que elas são, e das que não são, que
elas não são” – Protágoras.

Medida = juízo
Coisas = atos e fatos em geral
Para Protágoras sobre cada coisa sempre é
possível dizer e contradizer. Isto é, sempre é
possível que hajam duas visões sobre
determinada coisa e, ambas serão verdadeiras
sob o ponto de vista de cada indivíduo.

O filósofo sofista nega, portanto, a existência


de uma verdade absoluta.

Ensinava, portanto, que sobre cada coisa é


possível elaborar argumentos favoráveis e
contras e ensinava, também, como é possível
sustentar o argumento mais frágil.
Górgias de Leontina
 
Talvez não tão famoso quanto Protágoras, mas
ainda assim um dos maiores sofistas, Górgias
nasceu em Leontina.

Nele a dialética é ainda mais aguçada do que


em Protágoras.

Sua maior obra foi sem dúvida a intitulada “ Da


Natureza ou seja do Não-Ser”.
Três são as teses invertendo as de Parmênides:

1) Nada existe; Górgias contrapõe as concepções que


os físicos sustentaram em torno do ser a tal ponto de se
anularem reciprocamente.

2) Mesmo que o ser existisse, não poderia ser


pensado; Górgias diz que o que é pensado não existe.
Se fosse o contrário, então todos as coisas absurdas e
monstruosas pensadas pelos homens existiriam.

3) Mesmo que fosse cognoscível, não poderia ser


comunicado; se há coisas exteriores e elas podem ser
pensadas, elas serão objeto dos nossos sentidos: visão,
audição, olfato, tato e paladar.
Pela primeira vez é estabelecida a diferença entre

realidade (SER)

pensamento (PENSAR)

linguagem (DIZER)

Ele desenvolve, portanto, uma incrível habilidade


persuasiva que garante, a quem possuísse a
retórica, o sucesso.
Hípias e Antifonte
 
Para Hípias, o método ideal não seria o da
antilogia ou retórica, mas sim a polimatia, isto
é o saber enciclopédico.

Para este sofista, o sábio deveria saber tudo e


saber fazer tudo.
É em Hípias e Antifonte que encontraremos a
corrente denominada naturalista da sofística.

Eles contrapõem claramente o nómos e a physis.

O primeiro é fruto da convenção, trata-se da lei


segregadora dos homens.

Já a physis, entendido como o plano da natureza


é apresentada como o que une os homens.
É aqui que nasce a distinção entre Direito
Natural e Direito Positivo.

Hípias acaba trazendo um ponto extremamente


positivo nesse sentido: todos os homens são
iguais.
Em Antifonte, que também se encaixa nessa
corrente naturalista da sofística, a divisão entre
physis e nómos é mais radical.

Ele chega a admitir que só na physis há a autêntica


norma do viver e que a lei humana nada mais é do
que uma opinião que pode ser contrária à natureza.

Nesse sentido admite claramente a transgressão das


leis humanas para que se cumpra as leis da natureza.

Antígona.
Os Eristas e os Sofistas Políticos
 
Essa é a última geração dos sofistas.
Entretanto, já podemos notar a crise e
decadência do pensamento sofista.

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