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Dossier
Gestão
Ambiental
na oficina
Os cuidados práticos, regras
de gestão e preocupações
estratégicas ambientais
nos processos de trabalho
constituem uma área
importante da gestão
global da actividade
da oficina. Para muitos
empresários, são
sinónimo de
qualidade e
competitividade.
A Oficina
e o Ambiente
Texto › NMT
Para uma correcta e eficiente gestão ofici-
nal, todo o esforço global estratégico, de-
ve resultar também de um aperfeiçoa-
mento do desempenho ambiental da
instalação. Neste campo, a implementa-
ção de serviços próprios ou de um sistema
de gestão ambiental pode trazer benefí-
cios à empresa.
É no Sistema de Gestão Ambiental (SGA) que reside a
base para a melhoria contínua do controlo dos proces-
sos de trabalho com impacto directo no ambiente e po-
de ser ele a possibilitar a redução dos custos de controlo
de poluição, garantindo “pequenas” poupanças que a
médio prazo se podem reflectir nas facturas de con-
sumos energéticos, matérias-primas, equipamentos e
em última análise, evitando coimas e sanções fiscaliza-
doras.
Por outro lado, um SGA facilita o cumprimento da legis-
lação ambiental aplicável à oficina, melhorando a ima-
gem da empresa e aumentando a consciência dos tra-
balhadores para as questões ambientais. Em termos de
custos associados à implementação de um SGA eles in-
cidem sobretudo no envolvimento humano de um téc-
nico responsável pelo acompanhamento do processo,
despesas com empresas de consultadoria ou asso-
ciações do sector, auditorias e eventuais certificações.
Melhorar o rendimento
Os SGA inserem-se na matriz da Gestão da Qualidade
Total – que por sinal, temos vindo a abordar nas últimas
edições da E&N – e resultam da melhoria contínua do
desempenho da empresa.
O sistema, depois de aplicado, deve garantir à oficina a
capacidade de pôr em prática uma política ambiental
apropriada aos seus serviços, determinando e eliminan-
do os impactos negativos que resultam da sua actividade.
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Dossier
E quando chega a altura da (eventual) certificação, a ofi-
cina evidencia que dispõe de um sistema segundo uma
norma, garantindo aos seus clientes, concorrentes e
fornecedores, parâmetros de qualidade acima da média.
De acordo com dados recolhidos no site da Associação
Portuguesa de Certificação existem em Portugal, 487
empresas na categoria de “Comércio (grosso e retalho),
Reparação de Veículos Automóveis” com certificações
na área da Qualidade, mas dessas, apenas 11 usufruem
da norma ISO 14001:1999, referente à certificação de
processos ambientais.
Apesar de este ser um número relativamente baixo “não
significa necessariamente que as instalações oficinais não
se mostram sensíveis a esta questão”, como referiu à
E&N, Alexandre Correia, gestor da Guimadiesel Repa-
ração de Bombas Injectoras e Turbocompressores, ofi-
cina especializada em injecção diesel e reparador oficial
das marcas Seat e Suzuki, a operar em Guimarães.
A resposta reside no facto de a certificação ambiental
pelas normas ISO requerer algum dispêndio financeiro e
recursos humanos disponíveis para acompanhar todo o
processo. Em complemento, as associações do sector e
empresas especializadas disponibilizam serviços de
consultadoria com implementação de serviços à medida
das necessidades dos seus associados e clientes.
As normas da série ISO 14000, constituídas por um
conjunto de documentos relacionados com SGA (14001
e 14004), estabelecem um conjunto de parâmetros
ligados a esta área específica da gestão. A norma ISO
14001, que estabelece as especificações e linhas de
orientação para a aplicação dos SGA, não impõe níveis
pré-definidos de desempenho ambiental, mas requer
que a organização se comprometa a procurar melhorar
continuamente o seu desempenho.
Oficinas sustentáveis
A incorporação da variável ambiental na gestão da oficina
tem-se convertido numa necessidade cada vez mais
evidenciada no sector da reparação automóvel, mais
que não seja pela aplicação de coimas pesadas relativas
aos eventuais incumprimentos dos parâmetros legais.
Para se ter uma ideia, entre Janeiro e Agosto de 2004, o
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Serviço de Protecção do Ambiente da GNR instaurou sa preocupação com o ambiente. “Esta certificação am-

Dossier
“
Dossier

6850 autos de transgressão das disposições legais sobre
protecção do meio ambiente, dos quais 2965 eram
relativos a resíduos e 636 a poluição de águas.
Por outro lado, existem alguns técnicos do sector, que
defendem que o retorno do investimento, antes, enten-
dido simplesmente como lucro para os empresários,
passa agora também, pela contribuição e criação de um
universo empresarial sustentável. Neste contexto, o
sector da reparação auto não foge à premissa apre-
sentada e as empresas começam hoje, a incorporar a
biental vem apenas comprovar e oficializar os nossos
processos e maneira de estar” refere, defendendo que
O retorno do investimento o facto de “serem reconhecidos” pelos clientes é muito
importante. Para este quadro, o bom negócio passa por
passa também, pela conseguir transmitir qualidade para o exterior: “O cliente
tem de sentir que é bem tratado e que o ambiente não
contribuição e criação é esquecido.”
Em termos de custos, Alexandre Correia refere que não
de um universo empresarial ponderou essa questão. Para a empresa o mais impor-
tante “passou por perspectivar o futuro do negócio e
Controlo externo
Existem diversos fabricantes de equipa-
mentos e peças e fornecedores de serviços
automotivos com programas ambientais e
campanhas próprias de marca, para apoiar
as empresas no cumprimento da legislação
ambiental e para as acompanharem nos di-
versos procedimentos subjacentes ao

variável ambiental nos seus processos de trabalho.
Nesta área, a Associação Nacional do Ramo Automóvel
(ARAN) lançou em 1998 um projecto intitulado Centros
Verdes de Tecnologia Automóvel (CVTA) e tanto a Asso-
ciação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP)
como a Associação Nacional das Empresas de Co-
mércio e Reparação Automóvel (ANECRA) dispõem
A Nova ISO 14001
A Associação Portuguesa de Certificação
(APC), refere que com o processo de re-
visão da ISO 14001, publicado no dia 15 de
Novembro de 2004, é agora necessário as
empresas certificadas de acordo com a ISO
14001:1999 iniciarem o processo de tran-
sição para a norma de 2004.
A APC afirma que a transição é viável du-
rante 18 meses e contempla duas fases de
intervenção, em que, numa primeira etapa
de preparação, até 15 de Maio, as empre-
sas poderão seleccionar o referencial de su-
porte da auditoria, e posteriormente, numa
fase de implementação, a concluir em 15
de Maio de 2006, todas as auditorias serão
suportadas na versão de 2004. Neste pe-
ríodo, informa a APC, eventuais não con-
formidades constatadas face a novos requi-
sitos serão registadas em relatório de au-
ditoria. Depois de 15 de Maio de 2006 só
serão válidos os certificados de acordo com
a ISO 14001:2004.
Entretanto, a International Organization for
Standardization realizou um inquérito junto
de pequenas empresas para determinar co-
mo melhorar a experiência com esta nor-
ma. A E&N estará atenta à divulgação do
mesmo.
”
sustentável.
também de serviços enquadrados no plano da gestão
ambiental.
Relativamente aos CVTA, o conceito assenta na conces-
são de um símbolo de qualidade às empresas que cum-
pram os requisitos pré-estabelecidos pela ARAN, re-
quisitos esses elaborados com base na legislação em vi-
gor e nas normas portuguesas e europeias de qualidade,
ambiente e saúde, higiene e segurança no trabalho.
O objectivo destes serviços passa obviamente por re-
forçar a capacidade concorrencial das oficinas, através do
reconhecimento das suas práticas de gestão ambientais,
que advêm de requisitos em áreas como os processos
de trabalho, os equipamentos, a formação do seu
quadro de pessoal e as garantias de serviço ao cliente.
Ambiente como imagem de marca
A Guimadiesel, oficina especializada em injecção diesel e
reparador oficial das marcas Seat e Suzuki, é desde Ou-
tubro do ano passado, um Centro Verde de Tecnologia
Automóvel.
Para Alexandre Correia, gestor desta empresa sediada
em Guimarães, a decisão de se tornarem um CVTA de-
correu de um “processo natural que têm vindo a atra-
vessar ao longo dos últimos anos, a nível de qualificação
dos seus processos de trabalho e imagem de marca.”
Em conversa com a E&N, referiu que a Guimadiesel
sofreu uma reestruturação a nível de instalações e pos-
suem agora uma estação de tratamento de resíduos
própria. Em termos práticos, ser um CVTA significa
“usufruir de melhores processos de trabalho internos,
pois toda a organização do trabalho diário passa a ser
gerida com base em regras definidas” salienta.
Mas o nosso cicerone menciona que já antes sentiam es-
saber que iriam conseguir clientes confiantes que mais tratamento de resíduos e outras matérias
tarde voltariam a usar os nossos serviços.” nocivas para o ambiente.
A médio prazo, o futuro da Guimadiesel passa pela ob- Regra geral, a aplicação destes programas
tenção da certificação da qualidade. “Estamos a trabalhar envolve a consultadoria técnica e o apoio às
confiantes na certificação da qualidade através da ISO oficinas na recolha de óleos e resíduos,
9001. Será mais uma prova que estamos no caminho bem como no controlo e aplicação de re-
certo para comprovar os nossos processos de trabalho gras de gestão dos mesmos.
qualitativos. Queremos oficializar a nossa imagem e isso Para a oficina, as vantagens reflectem-se
será um investimento em nós próprios, tal como a nos seus processos internos de gestão, pois
adesão ao CVTA” referiu. esta responsabilidade é delegada numa
“No fundo é outro degrau que subimos, mais tarde pen- entidade externa à empresa. Cabe no en-
saremos na ISO 14001, é tudo um processo evolutivo, até tanto à oficina, manter os parâmetros de
porque a própria legislação vai começar a exigir isso” conclui. controlo diários para execução da recolha e
remoção.
Resultados financeiros
O gerente da oficina deve estar consciencializado de que
os resultados económicos da implementação de servi-
ços ambientais ou de um SGA certificado não são ime-
diatos.
As dúvidas que se lhe levantam levam-no sempre à ideia
de que um SGA irá aumentar as suas despesas diárias,
mas as actividades de reciclagem, a diminuição de con-
sumos e a gestão de resíduos têm de passar a ser enca-
rados como palavras-chave no contexto estratégico em-
presarial da oficina automóvel.
O sucesso de um SGA passa essencialmente por um
bom planeamento. Deve começar-se pela identificação
dos aspectos ambientais e avaliar os seus impactos, e a
gestão da oficina deve depois delegar um responsável
pela implementação do SGA, que terá a seu cargo o
estabelecimento, documentação, implementação e
controlo de acordo com as regulamentações descritas
na norma. Posteriormente, compete também à
administração da oficina, garantir aos seus empregados
formação nesta área.
Mas atenção, um SGA, não fará qualquer sentido numa
empresa que não trabalhe num contexto de gestão
global estruturado, e por si só, uma certificação ISO
14000 não garante que uma empresa alcance o melhor
desempenho ambiental possível. Ele atesta que foram
DR
instalados os elementos básicos para a correcta gestão
ambiental.