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Histórias de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS
ORGANIZADO POR MARA REGINA VEIT

Histórias
de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

BELO HORIZONTE - 2003


Copyright © 2003, SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por
qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

Este trabalho é resultado de uma parceria entre o SEBRAE/NA, SEBRAE/MG, SEBRAE/RJ, PUC-Rio, IBMEC-RJ

Coordenação Geral
Mara Regina Veit
Coordenação e Concepção do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

Supervisão
Cezar Kirszenblatt
Daniela Almeida Teixeira
Renata Barbosa de Araújo

Apoio
Carlos Magno Almeida Santos
Dennis de Castro Barros
Izabela Andrade Lima
Ludmila Pereira de Araújo
Murilo de Aquino Terra
Rosana Carla de Figueiredo
Sandro Servino
Sílvia Penna Chaves Lobato
Túlio César Cruz Portugal

Produção Editorial do Livro


Núcleo de Comunicação do Sebrae/MG

Produção Gráfica do Livro


Perfil Publicidade

Desenvolvimento do Site
Daniela Almeida Teixeira
bhs.com.br

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


SEBRAE
Armando Monteiro Neto, Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Silvano Gianni, Diretor-Presidente
Paulo Tarciso Okamotto, Diretor Administrativo-Financeiro
Luiz Carlos Barboza, Diretor Técnico

SEBRAE-MG
Luiz Carlos Dias Oliveira, Presidente do Conselho Deliberativo
Stalin Amorim Duarte, Diretor Superintendente
Luiz Márcio Haddad Pereira Santos, Diretor de Desenvolvimento e Administração
Sebastião Costa da Silva, Diretor de Comercialização e Articulação Regional

SEBRAE-RJ
Paulo Alcântara Gomes, Presidente do Conselho Deliberativo
Paulo Maurício Castelo Branco, Diretor Superintendente
Evandro Peçanha Alves, Diretor Técnico
Celina Vargas do Amaral Peixoto, Diretora Técnica
O projeto
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi criado para que histórias emocionantes de
empreendedores, que fizeram a diferença em sua comunidade, em suas empresas, em suas
instituições, possam ser conhecidas, disseminadas e potencializadas na construção de novos
horizontes empresariais.

O método
O livro Histórias de Sucesso foi concebido com o intuito de utilizar o método de estudo de
caso para estruturar as experiências do Sebrae, e também contribuir para a gestão do
conhecimento nas organizações, estimulando a produtividade e capacidade de inovação, de
modo a gerar empresas mais inteligentes e competitivas.

A Internet
A concepção do Projeto Estudo de Casos para o Portal Sebrae www.sebrae.com.br pretende
divulgar e ampliar o conhecimento das ações do Sebrae e facilitar para as instituições e
profissionais que atuam na rede de ensino, bem como instrutores, consultores e instituições
parceiras que integram a Rede Sebrae, um conteúdo didaticamente estruturado sobre
pequenas empresas, para ser utilizado nos cursos de graduação, pós-graduação, programas de
treinamento e consultoria realizado com alunos, empreendedores e empresários em todo o
País.

O Site dos Casos de Sucesso do Sebrae, foi concebido tendo como referência os modelos
utilizados por Babson College e Harvard Business School , com o diferencial de apresentar
vídeos, fotografias, artigos de jornal e fórum de discussão aos clientes cadastrados no site,
complementando o conteúdo didático de cada estudo de caso. O site também contempla um
manual de orientação para professores e alunos que indica como utilizar e aplicar um estudo
de caso em sala de aula para fins didáticos, além de possuir o espaço favoritos pessoais onde
os clientes poderão salvar, dentro do site do Sebrae, os casos de sucesso de seu maior
interesse

A Gestão do Conhecimento
A partir das 80 experiências empreendedoras de todo o país, contempladas na primeira etapa
do projeto – 2002/2003, serão inseridos em 2004 outros casos de estudo, estruturados na
mesma metodologia, compondo um significativo banco de dados sobre pequenas empresas.

Esta obra tem sido construída com participação e dedicação de vários profissionais, técnicos
do Sebrae, consultores e professores da academia de diversas instituições, com o objetivo de
oportunizar aos leitores estudar histórias reais e transferir este conteúdo para a gestão do
conhecimento de seus atuais e futuros empreendimentos.

Mara Regina Veit


Gerente de Atendimento e Tecnologia do Sebrae/MG, Coordenadora do Sebrae da Prioridade
Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso 2002/2003, Concepção do Projeto Desenvolvendo
Estudo de Casos e Organizadora do Livro Histórias de Sucesso – Experiências Empreendedoras.
Pedagoga, Pós-graduada:Treinamento Empresarial/PUCRS, Administração/ UFRGS, MBA/ Marketing-
FGV/Ohio, Mestranda Administração/FUMEC-MG, autora do livro Consultoria Interna - Use a rede de
inteligência que existe em sua empresa. Ed. Casa Qualidade - 1998.
O TRANÇADO AFRICANO
TRANSFORMA A VIDA DE UMA
PEQUENA COMUNIDADE
TOCANTINS

INTRODUÇÃO

E m Entroncamento do Jaú, o tempo passava lentamente. O pequeno


povoado, com apenas quarenta famílias, faz parte do município de Peixe,
localizado no extremo centro-sul do Tocantins, com quase 9.000 habitantes.
Lá, a vida parecia esquecida pela falta de incentivo e de perspectivas.
A Prefeitura Municipal de Peixe tinha um grande desafio pela
frente: tirar a comunidade do Entroncamento do Jaú da dependência
econômica em que se encontrava. O desafio era promover uma
atividade produtiva que valorizasse os talentos dos moradores do
Entroncamento do Jaú. Mas o primeiro obstáculo era descobrir este
talento.
O trançado africano,1 um traço cultural histórico que estava em
vias de desaparecer, poderia ser uma alternativa. A saída, ou melhor, a
porta de entrada para a liberdade econômica sustentável. Marilene
Martins Andrade era uma das únicas e últimas mulheres a guardar e
preservar na memória o trançado. Trabalhando no pequeno postinho
telefônico de Entroncamento, ela só tinha uma certeza: de que perderia
o emprego brevemente, como decorrência do desenvolvimento
tecnológico.
Em 2001, por meio de uma parceria entre o Sebrae, a prefeitura
municipal e o governo do Estado, foi iniciado um trabalho de resgate
cultural e valorização da comunidade local para desenvolver o
trançado africano.

Eligeneth Resplande Pimentel, Assistente Técnica do Sebrae Tocantins, elaborou o estudo de


caso sob a orientação de Verônica F. Mayer, baseado no curso Desenvolvendo Casos de
Sucesso, realizado pelo Sebrae, Ibmec-RJ e PUC-RJ.
1
Técnica que utiliza a fibra do buriti na produção de peças artesanais.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


PEÇAS ARTESANAIS PRODUZIDAS EM TOCANTINS

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

GRUPO DE ARTESÃS PARTICIPANDO DE OFICINA


O TRANÇADO AFRICANO TRANSFORMA A VIDA DE UMA PEQUENA COMUNIDADE - TO 3

O TEMPO NO ENTRONCAMENTO DO JAÚ

O ciclo do ouro no Brasil deixou re g i s t ros históricos nas cidades


do sudeste do Tocantins. Os índios e os negros que habitavam a região
são os personagens principais dessa herança cultural. O município de
Peixe está localizado na Mesorregião Ocidental do Tocantins, a 310 km
de Palmas, capital do Estado.
A cidade de Peixe fica à margem esquerda do rio Tocantins. O
lugar foi fundado com a vinda do alferes Alfredo Ramos Jubé, quando
ali acampou, juntamente com 20 praças (soldados) para impedir os
ataques dos índios Canoeiros aos emissários de Vila Boa de Goiás. No
local, vivia apenas um lavrador com uma roça e uma pequena
embarcação. Ramos Jubé e comandados construíram suas casas e uma
igreja. As ruínas desta igreja estão conservadas até o momento na praça
Getúlio Vargas.
No final de 1998, foram levantados os dados do município de
Peixe para a realização de um diagnóstico municipal. A partir destas
informações, foram priorizadas as vocações para o turismo e para o
artesanato. A economia do município é baseada na agricultura e
pecuária. A população, em sua maioria, 58,11% (Fonte: Fundação IBGE
– Censo Demográfico, 2000), reside na zona rural.
A passagem dos negros pela região deixou um legado muito
importante, o trançado africano, técnica para produção de peças
artesanais feitas com a fibra do buriti. Em 1998, apenas quatro senhoras
do povoado mantinham a tradição e confeccionavam alguns chapéus
esporadicamente. As famílias de Entroncamento do Jaú viviam em
ranchões de adobe e alguns eram cobertos com a própria palha do
buriti, palmeira abundante na região. Em alguns casos, os moradores
chegavam a dividi-los com mais de uma família. Esse era o caso da
artesã Áurea Maria de Sena Ferreira, casada, e mãe de três filhos.
No local, havia apenas uma escola, uma igreja e um bar/mercearia
que também funcionou como parada de ônibus que dava acesso aos
municípios de Jaú, Peixe e Alvorada.

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O TRANÇADO AFRICANO TRANSFORMA A VIDA DE UMA PEQUENA COMUNIDADE - TO 4

A renda per capita do povoado estava baseada na roça de toco,


mas a maioria das famílias da comunidade dependia de cestas básicas
da prefeitura, e algumas chegavam a passar fome. Até o ano de 2000,
o povoado era atendido com energia a motor e, somente a partir desse
ano, a energia elétrica chegou ao povoado.
Com o avanço das telecomunicações, os aparelhos telefônicos
chegam em mais alguns municípios tocantinenses, fechando seus
postos telefônicos. No Entroncamento do Jaú, não poderia ser diferente,
o único posto foi substituído e, em seu lugar, foram instalados dois
"orelhões", ou seja, Marilene estava virtualmente desempre g a d a .

PARCERIAS NO RESGATE DO TRANÇADO AFRICANO

O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Tocantins


– Sebrae é o mentor e coordenador do Programa Sebrae de Artesanato.
Responsável pela mobilização, capacitação e acompanhamento da
política de inclusão da sociedade no processo de desenvolvimento
sustentável. O programa chegou, em 2000, ao município de Peixe pela
consultora Maria da Penha, responsável por sua implantação.
Após a inclusão do município de Peixe no Programa Sebrae de
Artesanato, em 2000, foram realizadas as seguintes ações, seguindo a
metodologia do programa em todo o Estado:
• Sensibilização da comunidade por meio de reuniões com
autoridades, lideranças e artesãos para o desenvolvimento do
artesanato.
• Estabelecimento de parcerias, com a apresentação de ações a serem
realizadas e a assinatura de um protocolo de intenções e/ou
convênio.
• Visita técnica para a elaboração do diagnóstico local pelos
consultores do Sebrae.
Coordenação Técnica do Projeto: Fernando Ferrarin Ruiz, Lourdes Terezinha de Souza e
Maria da Penha de Faria.

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• Elaboração do plano de ação, contendo as metas de desenvolvimento


do artesanato da localidade.
• Acompanhamento e avaliação, no local (in loco) das ações
realizadas.
Parceiro majoritário, o Sebrae trabalhou continuamente durante
três anos no Entroncamento do Jaú e acompanhou de perto o
desenvolvimento da comunidade.
Até o final do ano de 2002, prestou consultorias e deu apoio na
participação em feiras de negócios e rodadas.
A prefeitura municipal foi um parc e i ro imprescindível no pro c e s s o .
Responsável pela execução dos trabalhos de melhoria da infra-
estrutura, acesso dos artesãos à matéria-prima e apoio econômico,
cabia-lhe, também, a responsabilidade de mobilização e sensibilização
da comunidade. As Secretarias Estaduais de Cultura e de Turismo foram
parceiros no processo de divulgação e comercialização dos produtos.
Mas, os principais protagonistas responsáveis pelas transformações
no povoado de Entroncamento do Jaú, foram as pessoas da
comunidade, acreditando no artesanato, que utiliza a fibra do buriti na
produção de seus produtos, e apostando no trançado africano como
alternativa para a liberdade econômica de seu povo.

ASSIM O TRANÇADO RENASCEU

E m 2000, Maria da Penha, consultora do Sebrae, deu seus


p r i m e i ros passos rumo à implantação do projeto de resgate do
trançado africano. O ponto de partida era a praia de Peixe, local onde
eram comercializados os poucos chapéus produzidos nessa época na
região. A primeira dificuldade enfrentada foi não conseguir localizar,
em Peixe, o artesão que produzia os chapéus. Mas nada podia desviá-
la da busca dos artesãos.

"Com o projeto na mão, fui buscar, nos arredores do município, a


comunidade que ainda sabia fazer o trançado africano."

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No Entroncamento do Jaú, comunidade distante de Peixe 40 km,


Maria da Penha teve seu primeiro contato com Marilene, funcionária
do posto telefônico do povoado, viúva e mãe de dois filhos. Em sua
simplicidade, característica das pessoas de cidade do interior, fugindo
à regra de que conhecimento é passado de pai para filho, com ela foi
diferente:

"Eu aprendi com meu filho, que por sua vez, aprendeu com meu
vizinho".

A mobilização da comunidade começaria a partir desse momento.


Após um mês, Marilene conseguiu organizar um grupo de 13 pessoas
interessadas em participar do projeto. A primeira turma do curso de
nivelamento das técnicas do trançado africano e da produção de
chapéus aconteceu nesse mesmo ano, sendo repassado por quatro
artesãs que dominavam a técnica, neste curso, quem sabia mais
ensinava a quem sabia menos.
Em continuidade ao projeto, iniciou-se um trabalho voltado para
o resgate cultural, realizando-se o levantamento de dados e
informações sobre os povos que habitaram no local, remanescentes de
quilombos, para incorporarem na linha de produção das peças de
artesanato as características desse povo. Esse trabalho incluiu técnicas
de confecção dos produtos e de manuseio da matéria-prima.
Em julho de 2000, a comunidade passou a divulgar seus produtos
em uma barraca na praia de Peixe. O trançado africano se popularizou,
e passou, rapidamente, a ser produzido por toda a comunidade.
O projeto contemplou ainda ações nas áreas de formação,
informação e mercado, como cursos, oficinas de produção e design,
palestras, participação em feiras e rodadas de negócios. Em 2001, com
os artesãos já sensibilizados sobre a importância cultural do trançado
africano e conhecendo bem as técnicas principais, o Sebrae realizou
uma oficina de design com o objetivo de incorporar nos produtos
detalhes peculiares da região, como: porta-talheres, porta-concheiras,
cortinas, almofadas, bolsas, jogos americanos, entre outros.
Resgatar a auto-estima e despertar o empreendedorismo na
população foi uma das atividades também trabalhadas pelos consultores do
Sebrae, com o objetivo de despertar o povoado para o desenvolvimento
sustentável e estimular a ocupação de mão-de-obra e renda.

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Um dos problemas enfrentados pelos artesãos foi a proibição da


retirada das fibras do buriti (Mauritia vinifera) 2 pelos fazendeiros, donos
das propriedades nos arredores do povoado. Com a intervenção da
prefeitura e do IBAMA, foi realizado um trabalho de conscientização
com os proprietários e foi dada uma orientação para o plano de
manejo da matéria-prima: O olho do buriti leva em média dois meses
para soltar uma nova folha e, enquanto não completa o prazo exato, a
matéria-prima é retirada de outro lugar.
O artesanato é produzido sem custos para os artesãos, e as tarefas
são divididas entre eles. Alguns recolhem o broto do buriti, outros o
desfiam e colocam para secar. Depois de feito, o trançado é costurado
com a própria seda da fibra, uma fina pele que é retirada da fibra, com
a qual são bordadas as peças que são feitas com tecidos.
As peças de artesanatos já foram comercializadas em diversos
estados do Brasil e são também conhecidas no exterior. Além de
lojistas, o governo do Estado é um dos principais clientes. Em um
evento realizado no Chile, em 2000, foram distribuídos 5.000 chapéus
pelos representantes do Tocantins.
O Sebrae, por meio da área de comercialização, acompanhou os
artesãos em exposições de suas peças nas feiras de Pernambuco,
Brasília e Curitiba, alternativa utilizada para a divulgação de seus
produtos. Uma loja de d e s i g n de São Paulo, S h o p p i n g Gilberto
Salomão, exportou peças para Itália e Japão. Em 2002, o Shopping dos
Buritis levou uma artesã e as peças para uma exposição em Goiânia,
com todas as despesas pagas e com o apoio da Prefeitura Municipal
que doou as passagens. Os maiores consumidores dos artesanatos são
os estados de São Paulo e Tocantins.
No ano de 2000, a população de Entroncamento do Jaú elegeu sua
primeira vereadora Maria do Vale como representante da comunidade
na Câmara Municipal de Peixe. Com uma renda acima de um salário
2
O buriti é uma palmeira arbórea, conhecida como miriti, buriti, dentre outros nomes
populares, e dela quase tudo se aproveita. As folhas do olho do buriti (broto terminal) são
utilizadas em coberturas de casas rústicas, na confecção de chapéus, balaios, baús, cestos,
vassouras, sacolas, entre outras.
Os buritizais crescem nos campos limpos e úmidos, as conhecidas veredas e nas matas
brejosas do Distrito Federal, dos estados da Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Minas Gerais,
Mato Grosso, Pará, Piauí, São Paulo e Tocantins. A fibra do buriti é a matéria-prima do
trançado africano, técnica utilizada pelos artesãos de Entroncamento do Jaú para a
confecção de suas peças.

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mínimo por mês, os artesãos abriram uma conta no Banco do Brasil,


fato que demonstrou a independência econômica conquistada.
A comunidade se organizou formalmente, criando a Artejaú,
associação que conta com 25 membros e, que, até dezembro desse ano,
estava em fase de legalização. Ainda, nesse ano, o Sebrae realizou uma
oficina para a produção de cestarias em fibra que contou com a
participação de dezessete pessoas e uma palestra de sensibilização.
A construção de um Centro de Artesanato do Entroncamento do
Jaú por meio do Programa de Geração de Renda da Secretaria de Estado
de Ação Social será o próximo passo. O projeto continua em fase de
elaboração. A administração do centro será feita pelos próprios
membros da comunidade, contando com o auxílio do Sebrae. Outro
projeto a ser implantado no município será a fábrica de beneficiamento
de arroz, que se encontra em fase de elaboração e busca de parcerias
para sua instalação.
Em 2001, a secretária de Ação Social do Município de Peixe, Ana
Flávia, afirmou:

"A população do Entroncamento do Jaú encontrou no trançado


africano uma fonte de riqueza e vida. Prova de que as culturas locais
possuem espaço importante dentro de um mundo globalizado".

E n t roncamento do Jaú serviu de exemplo para outras comunidades


do sudeste do Estado. O município de São Valério, localizado a 135 km
de Peixe, em 2002, passou a produzir o artesanato africano e suas
peças, resgate de cultura e tradição, serão enviadas para a Suíça.

CONCLUSÃO

C omo o princípio do Programa Sebrae de Artesanato é agregar


valor a algo que já existe, respeitando os traços culturais da localidade,
o trançado africano do Entroncamento do Jaú é um exemplo de
organização e trabalho.
Em um período de quatro anos, a comunidade que vivia em um
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estado de dependência econômica conquistou o mundo. O povoado


percebeu a importância do que produzia e, principalmente, valorizou os
conhecimentos deixados pelos seus antepassados. A independência
econômica foi um dos fatos mais importantes nesse projeto para Marilene.

"É do artesanato que estou sustentando minha família, construí


minha casa, ainda não está completamente acabada, mas já estou
morando nela, porque antes eu morava num rancho."
Entroncamento do Jaú agora está no mapa, deixou de ser um lugar
desconhecido. Isso demonstra que a comunidade encontrou no
trançado africano uma fonte de renda, ocupação da mão-de-obra e a
sustentabilidade. Prova, também, que as pequenas comunidades, e sua
cultura local, possuem importante papel no contexto econômico e
social do país.

PONTOS PARA DISCUSSÃO

• Como se discutiriam as alternativas de desenvolvimento sustentável


para a comunidade de Jaú?
• Quais seriam os aspectos do resgate de cultura e tradição brasileira
que poderiam ser observados?
• Quais seriam as alternativas para aumento da produção?
• Qual seria a estratégia de marketing que você usaria para divulgar o
trançado africano?

Diretoria Executiva do Sebrae Tocantins (2002): Lina Maria Moraes Carneiro Cavalcante,
Pio Cortizo Vidal Filho, Milton José Silva

Agradecimentos:
Colegas do Sebrae/RJ e colegas da terceira turma de redação dos casos de sucesso; Equipe
organizadora do evento; Lina Maria Moraes Carneiro Cavalcante, Pio Cortizo Vidal Filho,
Milton José Silva - Diretoria Executiva do Sebrae/TO; Lourdes Terezinha de Souza -
Coordenadora do Programa Sebrae de Artesanato do Sebrae/TO; Mara Veit - Coordenadora
da Prioridade; Maria da Penha de Faria - Consultora do Programa Sebrae de Artesanato do
Sebrae/TO; Professores e Orientadores.

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