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Universidade Federal De Ouro Preto 2010

Estética Marxista E o Surrealismo


Trabalho de Estética

Profº. Marcelo da Rocha Silveira

___________________ ___________________
Yara Fonseca Alves Larissa Arêdes Monteiro

___________________
Eigi Munis Okada

Arquitetura e Urbanismo 10-2


Índice__________________

Introdução ..................................................... 2

Contextualização de Karl Marx ...................... 3

Contextualização de André Breton ................ 5

Conceito de Estética Marxista ....................... 6

Manifesto Surrealista ..................................... 7

Contra ponto surrealista ................................ 8

Conclusão ..................................................... 10

Bibliografia..................................................... 11

1
Introdução:

No campo das artes o entendimento da teoria por detrás da obra é um passo importante. Decifrar a ideia
que levou à construção de determinado objeto artístico e o conhecimento de sua(s) proposta(s) e métodos
utilizados na sua elaboração leva a um esclarecimento que torna mais justo seu julgamento e sua análise.

É a partir deste pressuposto que conduzimos nossas pesquisas no entendimento das propostas da estética
marxista, uma vez que as ideias de Marx já nos despertavam interesse. Para nosso esclarecimento,
recorremos a pesquisas em livros e na internet, além de conversas e aulas de extrema importância na
elaboração deste trabalho.

Durante as pesquisas nos deparamos com um contraponto – pertinente -- que mudaria as diretrizes deste
trabalho: as propostas da vanguarda surrealista. Assim, decidimos fazer uma relação desta com o
marxismo.

Na tentativa de facilitar a compreensão destas propostas estéticas, resolvemos apresentar um pouco das
ideias de Karl Marx e de André Breton, o período em que viveram e alguns dos problemas que os incitaram
à reflexão sobre uma sociedade mais justa, sem a opressão do homem pelo homem. A seguir tratamos do
conceito criado por intelectuais marxistas e da proposta surrealista, finalizando com um exemplo e uma
conclusão.

Buscamos com este trabalho, acomodar as ideias desses intelectuais que trataram da estética marxista
para facilitar seu entendimento e relacioná-la às concepções surrealistas.

Contextualização de Karl Marx:

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O conceito de estética marxista é melhor entendido quando se localiza Marx na história, se compreende a
situação da sociedade de sua época e os problemas sociais por ele enfrentados.

Marx viveu no século XIX. Época em que a Revolução Industrial -- iniciada no século anterior na Inglaterra –
espalhava-se por toda Europa, EUA e Japão. Junto com ela surgia o moderno proletariado*
crescentemente subordinado pelos interesses da burguesia. Esta classe antagônica à classe detentora dos
meios de produção, não possuía condições econômicas nem intelectuais de reverter a situação ao seu
favor. Isto é melhor compreendido quando entendemos a influência de Hegel e Feuerbach na formulação
do materialismo dialético**. Este método histórico-filosófico de análise afirma que a consciência do
homem decorre de suas condições materiais e não o contrário como havia proposto Hegel. Portanto, os
indivíduos nascem dotados de múltiplas potências que somente vêm a tornarem-se efetivas como
consequência de suas condições materiais de subsistência. Contudo, esta classe de despossuídos dos
meios de produção trabalhava por volta de 90 horas por semana em um ambiente insalubre, sem
segurança e sem direitos trabalhistas. Para a sustentação de uma família, até mulheres e crianças
necessitavam trabalhar, tendo estas, menos direitos que os demais trabalhadores do sexo masculino.
Nestas condições, os operários mal conseguiam sustentar a si e sua família, assim não lhes sobravam
tempo nem dinheiro para desenvolver suas múltiplas potencialidades humanas, inclusive as artísticas.

Neste panorama, Marx posicionou-se ao lado dos oprimidos e almejou uma sociedade mais igualitária,
uma sociedade sem explorações do homem pelo próprio homem, uma sociedade sem classes. E pelo olhar
de um filósofo, pensou nos problemas dos homens; Como pensador crítico do capitalismo, buscou
soluções voltadas para a sociedade; Como economista, apontou contradições e falhas dentro do sistema
capitalista; Como historiador e jornalista, divulgou suas ideias e marcou a história e as teorias econômicas,
tornando-se uma das referências clássicas das ciências sociais.

Suas ideias orientaram e orientam muitos intelectuais em diversos campos do conhecimento. Estes
intelectuais de orientação marxista se utilizaram das ideias de Marx para bolar o conceito de Estética
Marxista, aproximando a ânsia pela revolução social do poder revolucionário da arte. Compreendendo o
trabalho – sem se esquecer do artístico – como atividade fundante do homem, Marx coloca a alienação do
trabalho – esta estimulada pelos capitalistas – como a alienação que funda as demais. Assim Marx e a
estética buscam, também, acabar com esta alienação***.

Tendo a indústria aderido à divisão do trabalho como principal forma de otimização da produção, foi ela a
causadora central da alienação do trabalho, pois separou o trabalho intelectual do trabalho manual. Desta
forma o operário que trabalha na produção apenas limita-se a executar tarefas repetitivas e monótonas,
ao passo que a concepção do trabalho fica a cargo de um departamento de engenharia a serviço do
capital. Assim ele não possui condições – nem materiais nem intelectuais – de produzir de modo
autônomo. Tornam-se assim – os operários – dependentes de um detentor dos meios de produção e
“reduzem-se a vender a força de trabalho para poderem sobreviver” (nota de Friedrich Engels em
“Manifesto do partido comunista”).

*O proletário diferencia-se do simples trabalhador, pois este último pode vender os produtos de seu trabalho (ou vender o seu próprio trabalho enquanto
serviço), enquanto o proletário só vende sua capacidade de trabalhar (suas aptidões e habilidades humanas), e, com isso, os produtos de seu trabalho e o seu
próprio trabalho não lhe pertencem, mas àqueles que compram sua força de trabalho e lhes pagam um salário. (wikipédia)
**O materialismo dialético teve influência do pensamento Hegelino e das críticas de Feuerbach a estas ideias. A dialética de Hegel pode ser resumida em três
momentos: tese, antítese e síntese. E é de Feuerbach a concepção de que em Hegel a lógica dialética está de cabeça para baixo", porque apresenta o homem
como um atributo do pensamento ao invés do pensamento como um atributo do homem. (wikipédia)
Esta dependência cria uma tensão entre duas classes sociais. Esta tensão Marx denominou de motor da
história, pois sempre existiram duas classes antagônicas que brigavam para controlar os meios de

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produção, já que quem os detém também controla as relações políticas e ideológicas da sociedade.
“Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre e oficial, em suma, opressores e
oprimidos sempre estiveram em constante oposição; empenhados numa luta sem trégua, ora velada, ora
aberta, luta que a cada etapa conduziu a uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou ao
aniquilamento das duas classes em confronto” (escrito por Marx em “Manifesto do partido comunista”). É
a partir destas disputas pelo controle social que se desenrola a história.

Vale a pena aqui, apontar a influência de Hegel e sua dialética em eterno ciclo no pensamento do motor da
história. Para Hegel, toda tese possui uma antítese que por sua vez gera uma síntese. Porém, esta síntese
já possui uma contradição interna (antítese) que resultará em outra síntese. É a este eterno movimento a
que Marx se refere, só que aplicado aos Homens – luta de classes – e à História.

Conhecendo o poder humanizador da arte e diante deste panorama do século XIX, Marx almejou
aproximar a arte e a filosofia às necessidades do homem em sociedade. Baseado nesses ideais de Marx é
que se fundamenta a estética marxista;

*** ver Manuscritos Econômico-Filosóficos – Entäusserung e Entfremdung

Contextualização de André Breton

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André Breton foi um poeta e teórico que viveu na França no final do século XIX e início do século XX.
Começou seus estudos, sem muitas expectativas, em medicina. Foi então que recebeu a grande influência
das teorias Freudianas sobre a psicanálise. Influência esta, de extrema importância na sua formação. Em
1919 teve contato com Tristan Tzara, fundador do Dadaísmo, cujas ideias o incitara e em 1924, Breton
escreve o “Manifesto do Surrealismo”. Identificando-se com a revolução e no ímpeto de transformar o
mundo – influência das ideias de Marx -- em 1927 ingressa ao partido comunista do qual seria excluído
alguns anos depois.

Breton nunca escondeu sua estreita ligação com as teorias de Hegel:

“O fato é que eu, desde a primeira vez que me deparei com Hegel (...), mergulhei em seus
pensamentos; é que, para mim, seu método faz todos os outros parecerem mendicância. Onde não
opera a dialética de Hegel, para mim não existe um pensamento, uma esperança de verdade.”(André
Breton)

É esta ligação que também o aproxima das teorias e ideias de Marx, visto que este também obteve
fundamental influência da dialética de Hegel.

Contudo, Breton possuía muita personalidade e proporcionou interpretações essenciais de grandes


teóricos, mesmo sendo “desqualificado” por outros marxistas ocidentais (por não ter sido professor
universitário), apresentou de maneira insólita teóricos e teorias aplicados ao campo das artes.

Sem dúvida, suas interpretações de Hegel, ou mesmo as de Freud, as de Marx, as do amor e as da arte
(para nomear seus temas mais importantes), muitas vezes, eram incomuns. Mas permanece um fato:
é impensável, sem ele, a cultura francesa contemporânea. Ele desenvolveu não só uma teoria e práxis
da arte, que foi amplamente influente (talvez mais do que qualquer outra, em nosso tempo), mas
descobriu, para a França, também Freud e Hegel; primeiramente, para o seu círculo mais próximo;
depois, para o mundo dos especialistas (Lefèbvre, Jaques Lacan, George Bataille, Claude Levi-Strauss);
e, finalmente, para a cultura geral.( Entre marxismo e surrealismo de Peter Wollen)

Da influência de Freud surgiu em Breton a maior preocupação com a consciência do que com a sociedade.
Daí o interesse de adentrar no individual, no pensamento, no inconsciente. “Imaginação querida, o que
sobretudo amo em ti é não perdoares”, escreveu em seu manifesto, onde também se vê nitidamente
pensamentos de Rimbaud e Marx, cujas palavras de ordem são respectivamente “mudar a vida” e
“transformar o mundo”.

Com estes pontos de vista foi se elaborando o conceito surrealista e suas propostas, levando em
consideração a situação da Europa do século XX.

“Nas duas primeiras décadas do século XX, os estudos psicanalíticos


de Freud e as incertezas políticas criaram um clima favorável para o desenvolvimento de uma arte que
criticava a cultura européia e a frágil condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo.
Surgem movimentos estéticos que interferem de maneira fantasiosa na realidade.” (Trecho retirado do
site historiadaarte.com.br.)

Portanto a convergência de ideais e pensamentos das teorias de Marx e Breton não é apenas coincidência.
Ambos possuíram a influências do pensamento hegeliano e enfrentaram problemas sociais semelhantes, e
também procuraram combater a alienação provocada pelos valores burgueses do século XIX e XX. Sem
ignorar o fato de Marx também ter sido fundamental na formação de Breton.

Conceito de Estética Marxista:

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Marx não tratou exclusivamente de uma estética, e por ser esta uma síntese de suas ideias formulada
posteriormente a sua época, ela ainda não está totalmente definida, mas está em constante processo.
Seus formuladores – intelectuais marxistas – buscam orientar uma arte mais consciente, já que esta possui
um poder que pode ajudar a concretizar os objetivos de uma sociedade mais justa. Vladimir Maiakovsky,
poeta defensor do papel revolucionário da arte na Revolução Russa, dizia, “A arte não é um espelho para
refletir o mundo, mas sim um martelo para forjá-lo”.

A arte, dentro da estética marxista, possui um caráter humanizador e reflexivo, mostrando o mundo como
passível de ser mudado e também mostrar alternativas para tal. E ao retratar, discutir e propor mudanças
em um dado momento histórico, esta se torna patrimônio da humanidade e documento histórico. Em
suma, a estética marxista não propõe uma arte que resgate o passado nem que preveja o futuro, mas sim
que faça sentido para a humanidade em seu momento de criação. Uma arte que contenha o espírito de
seu tempo, Zeitgeist, como propunha Hegel.

Assim, a estética marxista busca combater a alienação também na arte. O artista que não é conhecedor de
todas as etapas e objetivos de sua obra -- o "interpretar o mundo", "analisar criticamente" e "traduzir em
obra" -- está tão alienado quanto um operário cujo trabalho fora reduzido à condição de mercadoria
geradora de valor.

“A burguesia perverteu mesmo as ciências naturais e fê-las, efetivamente, sofrer uma “aplicação
desastrosa”, com vistas a duplicar seus lucros, como em vista da destruição maciça dos seres e das
forças produtivas. Quanto as artes, fez dela veículo de ideias de renúncia, cuja expressão é o
individualismo em todas as gamas, até as mais altas.” (Nelson Werneck Sodré, em “Fundamentos da
estética marxista”)

Em uma arte “comprometida” é também preciso sonhar. A utopia, aqui, não representa perigo a não ser à
classe dominante. A arte, como sonho, “eleva a emoção para facilitar a ação”, dizia o filósofo Georg Lukacs.
E o escritor José Saramago teve que se explicar quando sugeriu a necessidade de banir a palavra utopia do
dicionário. Pretendia ele, com isto, chamar as pessoas para a luta imediata por uma sociedade melhor e
não por um paraíso celestial ou uma utopia sempre adiada. Assim, a arte, neste contextor histórico, possui
o papel de denunciar as mazelas da sociedade e unificar a classe oprimida, evitando assim uma dominação
passiva pela burguesia. Dominação, esta, permitida pela fragmentação social.

“A arte é, no fundo, uma luta pró e contra, não há e não pode haver arte indiferente, porque o homem
não é um aparelho de fotografia, ele não “fixa” a realidade, ele a afirma ou, então, a modifica, a
destrói.” (Nelson W. Sodré)

Manifesto Surrealista:

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Ao escrever o Manifesto do surrealismo, Breton faz uma crítica intensa aos homens que se deixam
aprisionar pela lógica racional – burguesa – e afasta-se de sua existência, aliena-se de sí próprio, deixa-se,
passivamente, ser comandado pelo sistema. André trata debochadamente deste indivíduo apático, não se
preocupando muito em despertá-lo. Porém trata com muita seriedade os sonhos e o inconsciente: “Ora,
cheguei à psicologia, e com este assunto nem penso em brincar.” Escreveu em seu manifesto ao iniciar de
fato o surrealismo.

O espírito do homem que sonha se satisfaz plenamente com o que lhe acontece. A angustiante
questão da possibilidade não mais está presente. Mata, vi mais depressa, ama tanto quanto quiseres.
E se morres, não tens certeza de despertares entre os mortos? [...] Do momento em que seja
submetido a um exame metódico, quando, por meios a serem determinados, se chegar a nos dar
conta do sonho em sua integridade (isto supõe uma disciplina da memória que atinge gerações;
mesmo assim comecemos a registrar os fatos salientes), quando sua curva se desenvolve com
regularidade e amplidão sem iguais, então se pode esperar que os seus mistérios, não mais o sendo,
dêem lugar ao grande Mistério. Acredito na resolução futura destes dois estados, tão contraditórios
na aparência, o sonho e a realidade, numa espécie de realidade absoluta, de surrealidade, se assim se
pode dizer. (André Breton)

Os surrealistas almejavam alterar as bases da sociedade e buscaram convergir este desejo ao interesse
pelos sonhos e pelo imaginário, assim , através de suas artes, buscaram incitar a revolução social.

Contraponto Surrealista:

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A seguir decidimos fazer uma breve análise do Realismo Socialista e contrapor com o surrealismo. Visto
que aquele estilo, adotado pela ex-URSS, possuiu objetivos convergentes aos da estética marxista e este
outro estilo, o surreal, tentava libertar o homem de sua prisão racional.

O realismo russo possuía um compromisso com a educação e formação do povo para o socialismo que se
estruturava na ex-URSS. Ou seja, uma arte proletária, a favor das massas e feita para elas com importante
empenho político (vê-se aqui a nítida influência das teorias marxistas). Portanto esta arte deveria ser de
fácil entendimento e acessível. Para isso utilizou-se de uma arte figurativa, descritiva, com poucas cores e
mensagens exaltando os propósitos do regime. Suas imagens retratavam operários, camponeses,
proletários, militares, líderes e heróis no contexto da luta por uma sociedade igualitária. Ao mesmo tempo
esta arte está comprometida com o real, com a documentação da realidade, pois esta estética filia-se ao
realismo.

Cartaz típico do Realismo Socialista relembrando "os heróis do


Encouraçado Potiomkin".

Esse é um exemplo de como eram feitos os cartazes socialistas usados como


instrumento de propaganda do regime. Neste, encontramos poucas palavras, poucas
cores -- sendo a cor vermelha mais usada. É visível também na feição desse soldado,
a busca do socialismo para uma convocação da população à luta.

Contudo, este comprometimento de fidelidade com o real oprimia a criatividade do homem, criatividade
esta tão necessária para pensar em soluções fora do habitual, soluções mais ousadas do que apenas a
razão poderia propor. Fazendo, assim, uma arte rígida, o que sufocava suas potencialidades. Para André
Breton, precursor do surrealismo, “Ainda vivemos sob o império da lógica [...]. Mas os procedimentos
lógicos, em nossos dias, só se aplicam à resolução de problemas secundários.” (1924) E para nós, hoje não
parece estar muito diferente.

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Salvador Dalí – 1931- A persistência da memória- tela com 24,1 por 33
cm.

Essa pintura é um exemplo de obra Surrealista, sendo ela composta de imagens


absurdas e perturbantes, nos revelando uma visão oposta ao racionalismo. Ela
traduz o interesse de Dalí pelas conquistas da ciência moderna, no qual cruzam
desde teorias abstratas de física, como a relatividade de Einstein -- que colocou em
questão a ideia de espaço e tempo fixos -- e as pesquisas de Freud relativas ao
inconsciente e à importância dos sonhos.

Mas o realismo estava profundamente relacionado com o social e também vinculado ao naturalismo,
prezava a representação do real e assim tecia verdadeiros comentários da situação social e política da
sociedade. Algo, de fato, essencial aos propósitos da estética marxista.

Já o surrealismo foi ao encontro do indivíduo e seus mais profundos desejos e pensamentos. “Foi preciso
Colombo partir com loucos para descobrir a América. E vejam como essa loucura cresceu, e durou.”, afirma
Breton em o ”Manifesto do surrealismo” evidenciando que às vezes é necessário quebrar barreiras criadas
pela suposta razão na busca de soluções necessárias.
Breton também tinha a seguinte concepção sobre o realismo: “[...] A atitude realista, inspirada no
positivismo, de São Tomás a Anatole France, parece-me hostil a todo impulso de liberação intelectual e
moral.”. Essa frase mostra o atrito existente entre essas estéticas.

Entretanto, Breton, assim como Marx, criticava a massificação da sociedade proporcionada pela ditadura
da razão e dos valores burgueses. Via neste método de criação artística (quase) inconsciente, uma
alternativa de libertação desta lógica exageradamente racional que tornava utilitária a existência do
homem. Em seu manifesto apontou alguns métodos de criação, como a escrita automática e o método de
colagens. Ele apresentava repugnância pela falta de originalidade dos naturalistas quando tratavam do real
sem interferência nenhuma, pois ele via no homem uma capacidade criativa única e especial demais para
ser ignorada, como faziam eles.

Tanto Marx quanto os surrealistas viam a necessidade de mudar as bases da sociedade afim de torná-la
mais justa e menos opressora à criatividade humana. Sendo assim, ambos convergiam no seu ideal político:
a necessidade de revolução. E se utilizaram de propostas estéticas para auxílio de tais ambições.

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Conclusão:

Neste trabalho, buscamos apresentar um pouco sobre a vida de Karl Marx e André Breton além de suas
propostas de tornar real uma sociedade utópica, uma sociedade sonhada, igualitária e sem explorações do
homem pelo homem. Uma luta por uma sociedade em que os meios de produção pertencerão a todos,
onde encontraremos o homem total, ou seja, sem alienação alguma. Objetivos estes que convergem e
seriam dificultados sem a ajuda da uma arte energicamente engajada.

Estéticas que propõe a arte como via da necessária transformação/ revolução na organização social, artes
comprometidas com a emancipação da humanidade, que cumpram seu papel social, que humanizem e
entendam a profundidade do ser individual inserido em um convívio coletivo, tornariam o mundo mais
agradável ao convívio de todos.

Outro ponto que nos chamou a atenção, dentro destas estéticas, foi o combate a uma arte sem conteúdo,
preocupada apenas em vender e obter lucro. Situação esta, promovida pelo avanço industrial e pelo culto
ao Novo em detrimento do velho. Portanto, esta ânsia pela inovação sufoca o tempo necessário para a
criação de uma arte original, fato que leva à elaboração de obras dentro de um molde preconcebido
(forma) e, consequentemente, limita suas capacidades internas (conteúdo).

Promover uma orientação deste cunho artístico torna-se fundamental em uma geração em que os
conceitos de arte parecem não ter limiter definidos, podendo perder, por isso, sua direção e seus
propositos. A arte não pode perder seu valor espiritual em prol de um valor comercial. É nesta luta em que
os adeptos da estética marxista estão empenhados.

Para nós, uma aliança moderada entre estas duas vanguardas melhor conformariam os objetivos de uma
arte de cunho social (proposta marxista), já que o realismo evidenciaria os males a serem combatidos de
maneira verdadeiramente eficiente. Ao passo que o surrealismo ajudaria com alternativas mais criativas,
mostrando que sonhar é preciso e que o ilusório também existe. Essa aliança traria benefícios as duas
artes, resultando em uma arte que reconcilia o homem à sua natureza e o integra em um todo. Surgiria
deste casamento uma arte mais racionalmente emocional. Visto que o próprio homem não consegue se
abster de apenas uma dessas duas características, suas criações devem refletí-lo.

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Bibliografia:

 Fundamentos da Estética Marxista


Nelson W. Sodré
 O manifesto do partido comunista
Karl Marx & Friedrich Engels
 Manifesto do surrealismo
André Breton
 Sobre o suicídio
Karl Marx
 O mundo de Sofia
Jostein Gaarder

Sites de pesquisa:

 http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal

 http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?
fuseaction=termos_texto&cd_verbete=403

 http://destaquein.sacrahome.net/node/565

 http://www.historiadaarte.com.br/surrealismo.html

 http://teoriasdavanguarda.blogspot.com/2006/08/entre-marxismo-e-surrealismo.html

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