“Os controladores de vôo decidem que irão fazer operação padrão, e só irão controlar o número de aviões que permitem uma operação com total segurança e sem gerar estafa nos mesmos”. “A Polícia Federal está com indicativo de greve e fará operação padrão nos aeroportos, realizando revistas em busca de contrabandos, drogas, dinheiro ilegal, porte de produtos perigosos e etc”. “A Polícia Militar irá realizar operação padrão nas ruas, apreendendo veículos que não têm condições de trafegar, realizando revistas em busca de armas, veículos e motoristas sem documentação e outras infrações”. Quando nos deparamos com este tipo de notícia, nos preparamos para enfrentar longas filas nos aeroportos, atraso de vôos, congestionamentos nas ruas e outros inconvenientes que uma operação padrão nos traz. Mas o que é um padrão? De acordo com a ISO, um padrão é um "documento aprovado por um organismo reconhecido que provê, pelo uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou características de produtos, processos ou serviços cuja obediência não é obrigatória". Visto que o atendimento aos padrões não é obrigatório, eles não necessitam de regulamentação para sua entrada em vigor. Na verdade os padrões são oriundos do consenso de pessoas, que muitas vezes representam organizações e que se dispõem a trabalhar de forma voluntária na elaboração dos mesmos. A adoção de padrões permite evitar o aparecimento de regulamentações, pois uma vez que a sociedade os adota de forma voluntária, a regulamentação será utilizada somente em casos compulsórios, facilitando o trabalho dos legisladores e dos órgãos reguladores, pois estes possuem pouco tempo e necessitam trabalhar nas grandes decisões. Entre as vantagens da adoção de padrões voluntários podemos citar, por exemplo, a questão dos trens, pois a padronização das bitolas permite que uma locomotiva se desloque de um ponto a outro do país, e muitas vezes até mesmo entre países diferentes, sem a necessidade de troca de vagões e do conseqüente descarregamento e recarregamento de suas cargas. A padronização permite, por exemplo, que você possa abastecer seu carro em qualquer posto de gasolina de todo o país, pois o diâmetro da boca do tanque de combustível, independente da marca, modelo ou ano do carro, será sempre compatível com o bico da bomba do posto de gasolina. A padronização traz embutida em si a idéia de garantia, pois podemos comprar um aparelho de televisão produzido em Manaus e levá-lo para o Porto Alegre e termos a certeza que a tomada será a mesma, assim como a conexão da antena, ou as lâmpadas incandescentes que tem o mesmo bocal em qualquer ponto do país. Podemos ainda comprar uma pilha tamanho AA para nosso controle remoto que independe do país que a mesma foi produzida e do país de procedência do controle, esta servirá como reposição das existentes. A padronização permite melhorar a competição por preço e qualidade, pois o consumidor não terá a necessidade de perder tempo com coisas que serão iguais independente da marca do produto. Por outro lado a diferença entre os padrões de um país para outro, como por exemplo, o sistema de televisão, por menor que sejam, são muitas vezes mais eficazes que as barreiras tarifárias para impedir a entrada de produtos em massa e proteger a indústria local. Como exemplo da importância do padrão podemos ver atualmente a escolha do sistema de TV Digital a ser adotado no Brasil, que foi uma decisão que demorou anos para ser tomada e teve a participação de vários atores da sociedade e está influenciando a escolha dos demais países da América do Sul, independente se esta escolha foi acertada ou não. A existência de padrões torna a nossa vida hoje em dia muito mais fácil e mais simplificada, que na maioria das vezes não percebemos a existência destes. A padronização é algo recente, desenvolvida juntamente com a produção em massa e principalmente após a segunda guerra mundial. Alguns episódios ilustram como esta falta de padrões se mostrou crítica, como quando na primavera de 1940 quatrocentos soldados belgas ficaram impedidos de lutar por mais tempo porque a munição inglesa não era compatível com seus fuzis descarregados. Outros exemplos são os containeres, que graças ao seu tamanho padronizado facilitou o comércio mundial, pois permite que a carga de um dado produto acondicionado dentro dele por uma empresa do PIM, seja transportado por uma carreta, colocado por um guindaste em um navio, desembarcado em um outro país, descarregado por um outro guindaste em uma outra carreta e chegue até o destino da mesma forma que foi colocado aqui em Manaus. Em vista do que definimos e vimos sobre o que é padrão e a respeito da importância dos mesmos, podemos supor que padrão seria o mínimo aceitável de qualidade, aquilo que deve ser seguido. Voltando então aos exemplos colocados no início deste texto podemos dizer que estamos diante de uma situação no mínimo inusitada: Será que os órgãos, como os citados acima, necessitam entrar em greve para realizar seu trabalho como deve ser feito, ou seja, de acordo com o padrão a ser seguido, e que por isto chamam operação padrão? Senão vejamos, porque em sua rotina normal de trabalho estes órgãos não realizam as operações necessárias à fiscalização de contrabando, porte ilegal de armas, veículos que trafegam sem condições (que são verdadeiras armas!) e outras infrações? Como podemos reclamar quando a Polícia Militar nos aborda à procura de armas, quando a Polícia Federal busca evitar o contrabando nos aeroportos, quando os controladores de vôo operam em segurança? Talvez seja o padrão de atendimento que seja muito alto, e não estamos acostumados à cumprir o padrão maior, que são as leis. Ou então os agentes encarregados de verificar o cumprimento dos padrões não tenham a competência para fazê-lo. E nas empresas privadas, quando temos que seguir padrões como a norma ISO 9000, o que seria nelas uma operação padrão? Imagino que seja fazermos tudo certo, cumprirmos os prazos que prometemos, fazermos o melhor produto para que o cliente fique satisfeito, ou seja, temos que realizar a operação padrão todo dia. Na verdade não podemos nos dar ao luxo de operar sem o padrão ou abaixo dele, pois correríamos o risco de gerar insatisfação em nossos clientes ou até mesmo perdê-los.