Você está na página 1de 10

1

PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA NA PERSPECTIVA DE DERMEVAL


SAVIANI

Leandro de Araújo Crestani1

As idéias contidas no livro “Pedagogia Histórico-Crítico”, de Dermaval

Saviani, procuram aproximar o leitor do significado da concepção educacional que

desde 1984 vem sendo denominada pedagogia histórico-crítica. Uma prática

pedagógica que propõe uma interação entre conteúdo e a realidade concreta,

visando a transformação da sociedade através da ação-compreensão-ação do

educando, que enfoca nos conteúdos, como produção histórico-social de todos os

homens. Como superação das visões não-críticas e crítico-reprodutivistas da

educação. Neste sentido dão continuidade e complementam as analises

apresentadas no livro “Escola e democracia”, que pode ser considerado uma

introdução desse novo paradigma educacional. Porém nesse livro aparece com o

nome de “pedagogia revolucionária”.

Dermaval Saviani, em seu livro, procura apresentar, de maneira

sistemática, a teoria pedagógica que dá nome ao livro, que é, de certa maneira,

uma criação sua, dessa nova abordagem teórica. Primeiro apareceu com o nome

de “pedagogia revolucionária”, mais em período militar esse nome não ajudaria a

transmissão dessa nova abordagem teórica. Foi então pensando o nome de

“pedagogia da dialética”, também surgiu outro equivoco, dialética, passa a idéia

de vários sentidos. Para buscar a superação das teorias não-críticas e as teorias

1
Acadêmico do Curso de História (UNIMEO/CTESOP), e Normal Superior (UEM) e Pós-graduando
em História Regional (UNIMEO/CTESOP).
2

crítico-reprodutivistas, teve como dimensão teórica, o método dialético de

elaboração do conhecimento científico, tendo como base o materialismo histórico

de Marx e a teoria histórico-cultural de Vygotsky. Surgindo a “pedagogia histórico-

crítica” que tem o objetivo de trabalhar com os conhecimentos sistematizados a

partir da realidade do aluno.

O primeiro capítulo “As teorias da educação e o problema da

marginalidade” do livro “Escola e democracia” apresenta uma síntese das

principais teorias da educação abrangendo as teorias não-críticas, que são: a

pedagogia tradicional, nova, tecnicista, e teorias crítico-reprodutivistas, que são: a

teoria da escola enquanto violência simbólica, escola enquanto aparelho

ideológico de estado e a teoria da escola dualista.

No grupo das teorias não-críticas entediam ser a educação um instrumento

de equalização social, de superação da marginalidade(essa marginalidalidade e o

contingente de crianças em idade escolar que sequer têm acesso à escola e que

portanto encontram marginalizados da escola).

No grupo da teoria crítico-reprodutivistas, estão as terias que entedem ser a

educação um instrumento de discriminação social, logo, um fator de

marginalização.

As teorias não-críticas como a pedagogia tradicional, a causa da

marginalidade é identificado como a ignorância do saber do educando. A escola

surge como antídoto a ignorância, tendo o papel de difundir a instrução, transmitir

os conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente.

Porém não consegue a universalização, nem todos que nela ingressavam e

mesmo os que ingressavam nem sempre eram bem sucedidas.


3

Na pedagogia nova, mantinha a crença no poder da escola e em sua

função de equalização social. Segundo essa teoria, a marginalidade deixa de ser

vista predominante sob o ângulo da ignorância, isto é, o não de conhecimentos. O

marginalizado, não é, propriamente, o ignorante mas o “rejeitado”. Em suma, trata-

se de uma teoria pedagógica que considera que o importante não é aprender,

mas aprender a aprender. Para colocar essa “Escola nova” havia um custos bem

mais elevado do que a escola tradicional, que acabou por rebaixar o nível do

ensino destinado às camadas populares as quais muito freqüentemente têm na

escola o único meio de acesso ao conhecimento elaborado. Em contrapartida, a

escola nova aprimorou a qualidade do ensino destinado `as elites. Ao mesmo

tempo que procurava evidenciar as “deficiências” da escola tradicional, dava força

para retirar o educando sem condições de frequentar a escola, com a idéia que é

melhor uma boa escola para poucos do que uma escola deficiente para muitos.

Já a pedagogia tecnicista o marginalizado não será identificado como o

ignorante, nem será detectado a partir do sentimento de rejeição. O marginalizado

será o incompetente, o ineficiente e improdutivo. A educação nessa perspectiva é

formar indivíduos eficientes, capazes de darem sua parcela de contribuição para o

aumento da produtividade da sociedade. Assim, a marginalidade, isto é, a

ineficiência e improdutividade, se constitui numa ameaça a estabilidade do

sistema capitalista.

Então para a pedagogia tradicional o importante era aprender, para a

pedagogia nova aprender a aprender e para pedagogia mecanicista, o importante

era aprender a fazer. Acabando todos centrados numa única filosofia “educação

como produto”, sem dar a possibilidade a criação e produção do conhecimento.


4

Acabando por acomodar os alunos sobre sua existência no mundo, como forma

de inquietá-los, para ser submissos para a camada dominante.

Nas teorias crítico-reprodutivistas, a marginalidade é vista como um fator

social e a educação, que dispõe de autonomia em relação à sociedade, estaria

por esta razão, capacitadas a intervir eficaz mente na sociedade, transformando-a,

tornado-a melhor, corrigindo as injustiças, promovendo a equalização social.

Para Saviani essas teorias consideram, apenas a ação da educação sobre

a sociedade. A função da educação consiste na reprodução da sociedade em que

ela se insere.

Nesse quadro encontra três manifestações, “a teoria do sistema de ensino

enquanto violência simbólica”, “a teoria da escola enquanto Aparelho ideológico

de estado” e a teoria da escola dualista”.

A primeira enquanto violência simbólica, manifesta como uma indústria

cultural que tem a função de formar opinião nos grupos dominados, através dos

meios de comunicação de massa, como jornais, televisão, rádio, instituições

religiosas entre outros. Desse modo a escola reproduz a cultura dominante

contribuindo para reproduzir a estrutura das relações de força, numa formação

social onde o sistema de ensino dominante tende assegurar o caráter da violência

simbólica legítima da camada dominante. “Portanto a teoria não deixa margem a

dúvidas. A função da educação é a reprodução das desigualdades sociais. Pela

reprodução cultural, ela contribui especificamente para a reprodução

social”(SAVIANI, 1992, p.31).

Na teoria da escola enquanto aparelho ideológico de estado trata-se de

reproduzir as relações capitalistas. O marginalizado é a camada trabalhadora, e


5

escola enquanto aparelho ideológico do estado, constitui um mecanismo

construído pela burguesia para garantir e perpetuar seus interesses. A camada

trabalhadora que é sufocado pelo poder estatal, que se limita a cumprir o seu

papel através de normas e leis vindas do grupo dominante.

A teoria da escola dualista, o papel da escola é basicamente reforçar e

legitimar a marginalidade que é produzida socialmente. A escola assumir a missão

de impedir o desenvolvimento da ideologia do proletariado e a luta revolucionária.

Se tornado um instrumento da burguesia na luta ideológica contra o proletariado.

Para Saviani na verdade estas teorias não contêm uma proposta

pedagógica. Elas empenham tão somente em mostrar o mecanismo de

funcionamento da escola tal como está constituída.

Na questão da marginalidade fica o seguinte resultado: “enquanto as

teorias não-críticas pretendem ingenuamente resolver a questão da marginalidade

através da escola, mesmo não conseguindo êxito, as teorias críticos-

reprodutivistas mostram a razão do suposto fracasso, que a escola acaba sendo

um instrumento de reprodução das relações de produção, que necessariamente

reproduz a alienação dos educandos.

Entretanto para a superação dessas teorias, Saviani indaga que é possível

uma teoria da educação que capte criticamente a escola como instrumento capaz

de contribuir para a para a superação da questão da marginalidade.

[...] trata-se de retomar vigorosamente a luta contra a seletividade, a


discriminação e o rebaixamento de ensino das camadas populares. Lutar
contra a marginalidade através da escola significa engajar-se e no esforço
para garantir aos trabalhadores um ensino da melhor qualidade possível
nas condições históricas atuais. O papel de uma teoria crítica da
educação é dar substância concreta a essa bandeira de luta de modo a
6

evitar que ela seja apropriada e articulada com os interesses


dominantes”(SAVIANI, 1992, p.42).

Para a superação dessa vertentes Saviani, mostra a exigência de

tratamento diferenciado de respeito às diferenças individuais e aos diferentes

ritmos de aprendizagem bem como a ênfase na diversificação metodológica e

técnica, no sentido de suprir as carências dos educandos, que será a elaboração

da “pedagogia revolucionária” a futura pedagogia histórico-crítica.

No segundo capítulo “Escola e democracia I”, a teoria da curvatura da vara

aborda um caráter preparatório para a “pedagogia histórico-crítica” centralizando a

visão no aspecto polêmico gnoseológico. Mostrando que não se trata de uma

exposição exaustiva e sistemática, mas da indicação de caminhos para crítica do

existente e para a descoberta da verdade histórica, empreendendo aí uma

precaução radical da pedagogia liberal bruguesa sendo “a denúncia da escola

nova” que era apenas uma estratégia visando demarcar mais precisamente o

âmbito da pedagogia burguesa de inspiração marxista.

Para reverter a tendência dominante Savianai mostra a “teoria da curvatura

da vara” de Lênin. Sobre essa teoria Saviani mostra um processo de tentativa de

ajustes da educação do seguinte modo: “quando a vara está torta, ela fica curva

de um lado e se você quiser endireitá-la, não basta colocá-la na posição correta. É

preciso curvá-la para o lado oposto”(SAVIANI, 1992, p.48-49). Desse modo

quando mais se falou em democracia no interior da escola, menos democrática foi

a escola e, quando menos se falou em democracia, mais a escola teve articulada

com a construção de uma ordem democrática.


7

Nessa perspectiva sobre a curvatura da vara, esse sempre tende a ir para o

lado oposto, na esperança desta vir para o centro, igual a escola tradicional, nova

e mecanicista, mais sempre ela penderá para um único lado nunca chegando ao

centro.

Sobre a estratégia da pedagogia liberal burguesa mostrando ser de

inspiração marxista. Saviani faz uma denúncia desse escola nova:

“Nesse sentido advoga escola para todos correspondendo ao interesse


da burguesia, por que era importante uma ordem democrática
consolidada, do proletariado, por que para eles era importante participar
do processo político, participar das decisões. Ocorre que, na medida em
que eles começam a participar as contradições de interesses que
estavam submersas sob aquele objetivo comum vêm à tona e fazem
submergir o comum, o que sobressai, agora, é a contradição de
interesses, ou seja, o proletariado, o operariado, as camadas dominadas,
na medida em que participavam nas eleições, não votavam bem [...] não
escolhiam os melhores, a burguesia acreditava que o povo instruído iria
escolher os melhores governantes. Mas o povo não estava escolhendo os
melhores [...] do ponto de vista do dominante [...] os melhores do ponto
de vista do dominante não eram os melhores do ponto de vista do
dominado. Na verdade escolhiam os menos piores”[...](SAVIANI, 1992,
p.63).

Nesse sentido mostra que a escola nova na década de 30 no Brasil foi

uma pedagogia burguesa de inspiração marxista, que aqui visava o

desaparecimento daqueles movimentos populares que advogavam uma escola

mais adequada aos seus interesses como o movimento do pioneiros. Mas sim

fortalecer o poder da burguesia. Quando falava em escola para todos visava um

instrumento de hegemonia, para expressar os interesses, abarcando também os

interesses da camada dominada.

Segundo Dermeval Saviani, a educação não tem o poder de determinar as

relações sociais, mais ao mesmo tempo em que é por ela determinada. Ela
8

pressupõe erroneamente que, dada uma sociedade capitalista, a educação

apenas e tão somente reproduz o interesses do capital.

No terceiro capítulo de “Escola e democracia” para além da curvatura da

vara, podendo ser considerado como esboço da formulação da pedagogia

histórico-crítica. Em contraponto com as pedagogia tradicional, nova e tecnicista,

mas agora os pressupostos filosóficos, a pedagogia-metodológica e o significado

político da pedagogia histórico-crítica.

Saviani mostra que para a formulação de uma nova teoria, os conteúdos

escolares devem ser tratados como uma necessidade pessoal e social de modo

que depois de serem aprendidos possam ser um instrumentos de mudanças

sociais, devendo ser incorporados dentro de uma totalidade.

Entretanto, cabe ao professor na tendência histórico-crítica trabalhar cinco

passos com o educando propostos por Saviani: a prática social inicial (1º passo)

que é comum ao professor e aluno, sendo a bagagem cultural que ambos trazem

de sua realidade para dentro da escola. A problematização (2º passo) trata-se de

detectar que questões precisam ser resolvidas no âmbito da prática social e, em

conseqüência que conhecimento é necessário dominar (SAVIANI, 1992, p.80). A

instrumentalização (3º passo) trata-se da apropriação pelas camadas populares

das ferramentas culturais necessárias a luta social que travam diuturnamente para

se libertar das condições de abuso em que vivem. A “Catarse” (4º passo) que é a

incorporação dos instrumentos culturais, transformando agora em elementos

ativos de transformação social e por último a prática social final (5º passo) sendo a

nova postura que o educando deve assumir perante a sociedade.


9

Para concluir essa nova temática Saviani no quarto capítulo “onze teses

sobre a educação e política” que procura caracterizar um confronto com a prática

política a especialidade da prática educativa. O trabalho educativo nessa visão é

o ato de produzir intencionalmente em cada indivíduo singular uma mudança que

é produzida através da educação sistemática(conhecimento formal).

Também Saviani indaga que o ensino não deve ser trabalhado como

produto, desse modo estaria a serviço da mera transmissão-assimilação dos

conteúdos, aprendizagem repetitiva, abstrata e desvinculada das relações sociais

concretas, logo de caráter elitista, descompromissada das reais condições

históricas, sociais e humanas e contrária ao espírito crítico.

Como produto o ensino-aprendizagem se desenvolve na absorção do que

já foi elaborado. Como processo, o ensino, a partir do produto, passa a se

consolidar como reflexão do já elaborado em relação ao já vivenciado

(experiências de vida) da postura do saber pensar melhor. Dessa forma o

conhecimento não adquire seu verdadeiro estatuto, do contrário sua produção

perde em importância e sentido, uma vez que não aponta para um fim concreto e

transformador a ser atingido.

A escola precisa estar em consonância com as necessidades do mercado

sem reduzir a sua função de formadora de um cidadão crítico e apto a lidar com

todas as situações que possam surgir na vida.

Para que isso mude ela deve ser pensada na sua qualidade formal,

caracterizada essencialmente pelo o domínio de técnicas, capacidades de manejo

de instrumentos e de procedimentos e na política que é a capacidade do sujeito

de fazer sua própria história.


10

Contudo, Saviani nos mostra em seu livro, que a educação deve ser

mudada, para transformar o homem em um ser filosófico para a compreensão do

mundo e entender a interpretação dos seus fenômenos. Assim compreender a questão

escolar, é a defesa da especificidade da escola e a importância do trabalho escolar como

elemento necessário para o desenvolvimento cultural, educacional e humano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SAVIANI, D. Escola e democracia. 32. ed. Campinas, SP: Autores Associados,


1999.
_______.Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 2. ed. São Paulo:
Cortez: Autores Associados, 1991. (coleção polêmicas do nosso tempo; v. 40).

Você também pode gostar