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Ouço dizer que a vida não pára, que o tempo não abranda para nos retirarmos e pensar no
caminho a seguir. Todos nos deparamos com obstáculos, todos arranjamos maneira de os
resolver. Sou defensora de que a medida que os problemas vão aparecendo e vamos
contornando-os, aperfeiçoamos algumas das nossas características que nos servem de escudo.
Criamos barreiras, ou serão SÓ maneiras de ser?
É difícil, há males que ocorrem uma vez e que deixam marcas ate a morte, e então temos de
aprender a viver com elas. Há outros que parecem não ter fim…
Já existia bem antes de mim, e com ela tem levado muitos dos que a rodeiam. E quando se
vive com medo? Não é medo, apenas um receio que as vezes é mais intenso. Receio de perder
alguém que amo, de que aconteça de novo um daqueles momentos de loucura e que desta vez
seja mais do que um susto marcante. “O tempo não apaga tristezas, mas atenua.” Assim diz a
nossa setôra de Matemática, e sim, tem razão. Os dias vão passando, os momentos e as
recordações vão crescendo dentro de mim, e como se não
houvesse mais espaço, vou ocupando-me do que de bom
tenho na vida. Ignoro as lágrimas, os episódios de ação, te
medo, de temor… as promessas que fiz se acabasse tudo
bem, e que não cumpri porque depois as situações se
tornaram rotinas. O imaginar a vida sem parte de mim. O
escuro assombrava-me, mas logo passou a ser a minha cor
de repouso. Tento esquecer os momentos que gostava de
ter com aquela pessoa, e que agora não posso mais
recuperar. Recordo quando na escola me falavam da
família, quando fiz a minha árvore geológica e jurei não
existir aqueles dois elementos. E não existiam, nem nunca existiram… não tive aqueles natais
de que me falaram e me falam, não brinquei as casinhas com a mãe… tudo se passou tão
depressa. Inverteram-se os papéis e eu cuidei de tudo durante muito tempo. E ainda cuido,
ainda ligo para aquela pessoa a perguntar se esta tudo bem, ainda me ofereço para faltar á
escola como fazia na primária e ficar em casa a assegurar que não há mais loucuras.
Momentos em que não há tempo para
pensar, em que o coração bate tão
depressa que parece que vai explodir,
reacções rápidas… momentos em não
há controlo das lágrimas e que a revolta,
de isto me acontecer justo a mim, me
leva a fazer disparates, disparates
saudáveis. E quando no meio destas
situações de pânico a pessoa nos
magoa, nos fere? Depois não se lembra,
também já não há desculpa que apague.
Fico na dúvida se nestes momentos essa
pessoa faz isso de coração, será que é isso mesmo que sente por mim?
Tudo isto por causa de alguém, por causa daqueles elementos que tantos dizem fazer parte da
família, e que ainda hoje não escrevo na minha arvore geológica. Nunca… jamais! Nunca
estiveram presentes quando precisei, sempre foram a origem de todo o meu problema,
sempre me faltou um abraço… por causa deles.
Agora sou docemente obrigada a aceitar “o inimigo na minha trincheira”. Não posso recuperar
o que perdi, não posso trazer de novo as oportunidades que desperdicei por ser assim… sei
que magoei muita gente e que ainda magoo e por isso desculpa. Desculpa se as vezes não sei
ser… “menos fria”. Mas sou assim “porque eu sou assim”, porque foi este o caminho que
escolhi, a barreira que me segurou as lágrimas durante muito tempo.
E vou vivendo… vou sendo feliz como posso. Uma escapadinha ao parque, mais uma viagem ao
modelo, compras no Hiper China (antes), os gritos em forma de desabafo disfarçados quando o
NOSSO clube ganha 5-0, as festas dos pijamas, os sorrisos em grupo…
Claro que era sempre melhor não ter meio mundo contra nos quando precisamos de mundo e
meio a nosso favor… mas isso a maioria passa.
De vez em quando mais um susto… mais umas aulas que passo “na lua” e mais uma data de
vezes acordo de sonhos tão bons… imitações da realidade, momentos em que sou
verdadeiramente feliz! Dou por mim (de novo), sentada na minha cama, de porta fechada e luz
apagada, agarrada à minha almofada de pelo branco, a chorar de novo, a falar outra vez,
sozinha. E repito o ciclo de sempre… acendo a luz branca do candeeiro e leio as frases da
parede do meu quarto. Silencio!
No fundo, gosto de sofrer, gosto de sentir a dor como ela é… de falar com ela… torno-me mais
forte, mais feliz por me sentir no fundo do poço na noite anterior, e de me encontrar no céu
quando te olho, no outro dia de manha. Gosto de sentir que embora não tenha vivido parte da
minha vida, consegui ser forte quando precisei, ser fria para não chorar, magoar aquela
pessoa, para que ela não se magoe mais ainda.
Depois de analisar a minha vida, agradeço muito todas as dificuldades, obrigada por saber
dizer a quem precisa “tudo se supera”. Nunca (pelo menos espero que seja nunca), deixarei
que uma pedra no caminho me impeça de chegar ao destino. Tenho muitos objetivos, quero
muito ser Feliz, e um dos meus propósitos é chegar ao momento do adeus e orgulhar-me de
ter sido quem fui, deixar uma marca, um exemplo. Adoro agradecer o que de bom tenho na
vida, há quem não tenha o que me foi dado, e por isso agradeço tudo. Os amigos, os sorrisos,
as lágrimas, os momentos de loucura… mas depois de tudo o que se tem passado na minha
vida, só há um pequeno se não.
E por isso acredito que um dia, tal como nas telenovelas, vou ter um ultimo episodio, um guião
com palavras bonitas, nada de ataques de pânico, um geral visto de cima, plano fechado de
alguém a desfazer uma (pequena) rosa, um ultimo suspiro com aqueles que mais amo (sem
eles, com ela, em ti), e tudo vai acabar bem.