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MOSER, Paul K., Dwayne H. MULDER, e J.D. TROUT.

A Teoria do Conhecimento:
uma introdução temática. 2ª ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008.

Capítulo 6 - As fontes do conhecimento


Neste capítulo os autores tratam da origem do conhecimento e fazem um
questionamento sobre a contribuição das atividades intelectuais para o conhecimento.
Tratam o racionalismo e o empirismo como correntes de pensamento, sendo que
para o racionalismo a fonte do conhecimento é a razão não empírica e para o
empirismo a fonte do conhecimento é a experiência sensorial.
De acordo com o racionalismo, todo acontecimento tem uma causa, dando
ênfase ao papel da razão. Assim, afirmam que alguns tipos de conhecimento não
dependem das experiências sensoriais.
Para os empiristas, o conhecimento surge do uso empírico da razão e das
experiências sensoriais, de onde se adquirem todos os conceitos. As experiências
sensoriais levam ao conhecimento.
O uso empírico da razão ou é um processo de pensamento que objetiva a
experiência sensorial ou é um processo de raciocínio dedutivo ou indutivo (por exemplo
uma inferência indutiva com base em relatos de observação). O uso não empírico da
razão são todos os demais processos de pensamento.
Os racionalistas argumentam a favor do inatismo quando esta é a melhor
explicação para alguma competência ou capacidade que demonstramos (o exemplo é
quando uma criança aprende a falar sem ainda aprender as funções sintáticas das
palavras). Segundo o inatismo a maioria dos nossos conceitos é inata, pois nosso
modelo de aprendizado se desenvolve a partir da formulação de hipótese sobre o mundo
e para formular hipóteses precisamos de uma linguagem, aí usamos a linguagem do
pensamento. Essa linguagem do pensamento não pode ser aprendida, já que ela é uma
pré-condição para o aprendizado, então, pode-se concluir que alguns conceitos são
inatos.
Os autores mencionam a complexidade do conceito de inatismo, mostrando que
o assunto ainda é bastante controverso e não apresentam uma posição sobre o assunto.
Conforme os autores, David Hume (1711-1776) representou a corrente
dominante do empirismo afirmando que os conhecimentos não tautológicos, isto é,
aqueles que apresentam solução em sua lógica interna, provém da experiência sensorial.
Ele questionava o sentido dos conceitos se eles não fossem baseados em experiências.
Já no séc. XX, o Círculo de Viena, formado por positivistas, não gostava da
metafísica e queria restringir a atividade filosófica ao progresso do conhecimento
científico, retirando da filosofia a preocupação com o estudo da realidade. Esse grupo
defendia um princípio de verificação do significado, afirmando que se não é possível ter
certeza de que uma proposição é verdadeira, então essa proposição não tem sentido,
uma vez que o seu sentido é o seu método de verificação. Ou seja, só se pode
compreender uma afirmação se conhecer o que pode demonstrar a sua veracidade ou
falsidade.
Assim, para os positivistas lógicos, toda proposição que tem um significado
pode ser confirmada ou rejeitada com base na observação. O sentido de uma proposição
depende da possibilidade de sua verificação através da experiência sensorial e não da
sua verificação em si.
Entretanto a própria verificação é questionada sobre a possibilidade de sua
própria verificação. Como os dados da observação são derivados das experiências
sensoriais, não permitem um método direto de verificação do próprio princípio de
verificação, tornando-o sem sentido sob seus próprios critérios.
De qualquer forma, o objetivo dos positivistas era fazer com que a experiência
sensorial fosse considerada a única fonte segura do conhecimento, negando as
referências da metafísica de uma realidade independente da mente.
Mas as crenças em fenômenos que não podem ser observados (crenças teóricas)
e as crenças em fenômenos observados podem ser verificadas pela evidência sensorial
de várias maneiras diferentes. Portanto, as afirmações devem ser verificadas em grupos
já que existem explicações alternativas coerentes para um mesmo fato. Isso confirma a
ideia da subdeterminação de que sempre haverá mais de uma teoria para explicar um
determinado conjunto de dados.
Pessoas diferentes relatam de forma diferente experiências percebidas pelo
mesmo sentido sensorial e nas mesmas condições. Assim, os relatos em primeira
pessoa só podem ser considerados como fonte de conhecimento quando o objeto de
conhecimento é a própria pessoa.
Boa parte do conhecimento que consideramos ter creditamos à memória, tanto
que a perda da memória pode acarretar à perda do conhecimento.
Porém a memória pode ser falha. Para que seja uma memória verdadeira,
derivada de uma percepção verídica, a memória deve ter uma relação causal correta com
o fato que a produziu. Sem isso pode ocorrer o erro de identificação do sujeito ou o erro
de identificação do objeto.
A contribuição da memória para o conhecimento tem que considerar e ponderar
alguns pontos: a questão de ser particular (memorizamos melhor aquilo com o que já
possuímos afinidades), a confiabilidade (podemos ter lapsos de memória), a
vulnerabilidade a sugestões (podemos ser induzidos a memorizar informações erradas) e
os danos (perda da memória).
A unificação de fenômenos desconexos também é uma fonte de conhecimento.
O conhecimento sobre um objeto pode ser formado por várias informações empíricas e
teóricas. As várias fontes de conhecimento podem estar juntas para justificar uma
crença, assim podemos usar a experiência sensorial, a razão, a memória e até o
testemunho próprio ou de outros autores nessa justificativa.
Para justificar uma crença podemos utilizar a confiança que temos em outra
pessoa dada a posição especial que ela ocupa, seja através da sua especialização técnica,
especialização prática ou na sua capacidade perceptiva. Isso é uma dependência social.
Já sabemos que quando se chega a uma mesma conclusão utilizando vários
métodos independentes, é mais provável que essa conclusão esteja certa do que quando
se chega a uma conclusão utilizando apenas um método. Essa triangulação é um método
de justificação e conhecimento muito importante utilizado tanto pela ciência como pelo
senso comum.
No caso do testemunho, a triangulação deve se precaver e tentar manter a
parcialidade sob controle através do equilíbrio social. Boa parte do conhecimento é
dependente da estrutura social que o desenvolveu (por exemplo, as instituições
científicas e filosóficas que sempre buscaram a verdade eram sexistas e racistas).
O estudo das fontes do conhecimento mostra dois caminhos que se completam.
Um é o caminho da autossuficiência, em que o indivíduo é responsável pelo
conhecimento que adquire, escolhendo suas crenças a partir das fontes pessoais de
conhecimento como a percepção sensorial, a razão e a memória. O outro é o caminho da
dependência social, que vai além do que um indivíduo sozinho poderia ir, uma vez que
o uso de métodos como o da triangulação ajuda a evitar as crenças falsas através da
racionalidade. Desta forma, a racionalidade é necessária para sabermos de onde vem o
conhecimento e como o adquirimos que é o que querem saber os epistemólogos.
Capítulo 7 - A racionalidade
A racionalidade é a razoabilidade, a compatibilidade com a razão. Quem busca a
verdade, quer fazê-lo de modo racional.
A racionalidade enquanto uma faculdade instrumental, não pode ser reduzida à
justificação na medida em que nos indica como adquirir novos indícios e como avaliar
aqueles que já possuímos e verificar os seus erros. A racionalidade não possui objetivos
próprios, consiste na busca dos objetivos formulados pela pessoa.
A racionalidade não é puramente instrumental se o objetivo for passível de uma
avaliação racional. A racionalidade epistêmica ocorre quando os objetivos são a
aquisição de verdade e não cair em erro que é o que ocorre nas investigações científicas.
Conforme as diferentes culturas uma mesma crença pode ser considerada
racional para uma delas e irracional para outra.
O objeto das teorias da racionalidade são as inferências (dedutivas ou indutivas)
que se pode tirar de um conjunto de dados. São muitos e diversos os fatores que
contribuem para uma tomada de decisão racional, por isso é difícil ter uma definição de
racionalidade. A inferência racional deve ser neutra em relação ao seu objeto.
O argumento é o produto do raciocínio. O argumento é indutivo quando as
premissas oferecem a probabilidade de uma conclusão ser verdadeira. A conclusão
ultrapassa a informação contida nas premissas e mesmo assim é considerada racional.
No argumento dedutivo, se as premissas forem verdadeiras, a conclusão também será. A
conclusão não ultrapassa a informação contida nas premissas. Todos os argumentos
indutivos são dedutivamente inválidos.
O princípio da racionalidade instrumental tem uma noção normativa da eficácia
dos meios em relação aos fins. Se para ter X, é preciso Y, então o objetivo inicial deve
ser Y para depois ter X.
Quando se tenta explicar o comportamento humano através da análise de crenças
e desejos, busca-se utilizar o conceito de racionalidade. Mas a relação de coerência
entre as crenças de um indivíduo podem variar de cultura para cultura, tornando difícil a
sua interpretação.
As crenças podem ter função social, mesmo que os indivíduos que tenham essa
crença não tenham noção dessa função.
Estado de certeza é quando é possível a tomada de decisões racionais com um
resultado definido. Numa situação de risco os resultados são apenas prováveis. No
estado de incerteza o indivíduo não possui as informações necessárias para poder tomar
uma decisão, então, não é possível saber quais seriam as probabilidades dos resultados
ocorrerem.
O teorema de Baynes, considerando o conhecimento prévio no processo racional
de tomada de decisões, estabelece que a probabilidade de uma crença ser verdadeira á
proporcional ao produto da probabilidade dos dados, pela probabilidade da crença ser
verdadeira independentemente dos dados disponíveis. Quando se apresentam novos
dados se deve atualizar o grau de crença.
A falácia da taxa base é quando se usam dados estatísticos comparando a
frequência de ocorrência de um acontecimento com uma base incorreta, gerando uma
conclusão errada.
O desvio por disponibilidade pode ocorrer quando há o problema da
contextualização que existe uma vez que as pessoas podem considerar uma ideia
aceitável ou não dependendo mais do modo como é apresentada do que com base em
informações quantitativas.
O desvio por confirmação vem do fato de que os indivíduos possuem suas
crenças pessoais e tendem a aceitar e acreditar mais naquilo que concorda com o seu
ponto de vista original do que com aquilo que o contradiz.
O modelo de raciocínio dedutivo pode ser caracterizado como a chegada a uma
conclusão a partir de premissas. Com base nesse modelo foram criados testes de seleção
no qual os voluntários deveriam avaliar uma regra dedutiva do tipo se P, então Q.
Porém, observando o rendimento desse tipo de teste, chegou-se a conclusão de que não
é possível afirmar que alguém seja irracional por ter falhado no teste, assim sendo, o
teste não pode demonstrar a irracionalidade. A aplicação do teste também mostrou que a
racionalidade depende muito do contexto em que se apresenta, fazendo surgir o
questionamento de até que ponto a relação de dependência entre o conteúdo e o
contexto permite a relativização.
Podem-se classificar as crenças das pessoas como racionais ou irracionais a
partir da observação do quanto elas contribuem para a aquisição de conhecimentos
verdadeiros e escapar dos erros.
Capítulo 8 - O ceticismo
O ceticismo é a ideia de que não existe nenhum conhecimento ou crença
justificada. Cético é aquele que restringe ao máximo a amplitude do conhecimento
humano, acreditando apenas em suas experiências subjetivas.
O ceticismo quanto ao conhecimento afirma que ninguém conhece nada, nem
mesmo esta afirmação. O ceticismo quanto à justificação afirma que ninguém tem
nenhuma justificativa para acreditar em nada, nem mesmo nesta afirmação.
Se o conhecimento verdadeiro não pode ser alterado pela entrada de novos
dados, então é possível ser cético quanto à possibilidade de existência do conhecimento
verdadeiro. Ser cético com moderação é assumir que não se conhece nada com certeza.
Assim, pode-se rejeitar o ceticismo quanto ao conhecimento e quanto à justificação e
usar o ceticismo quanto à certeza. Quem defende o ceticismo universal pode se
contradizer se dizer saber que a sua afirmação cética é verdadeira, já que não se conhece
nada.
Os céticos utilizam o argumento a partir do erro para justificar a sua teoria. Se
não existe diferença entre uma crença atual e uma outra que não pode ser um estado de
conhecimento (exemplo de uma ilusão de ótica), isso confirma que aquela crença atual
também não pode ser considerada um estado de conhecimento, visto que não há
diferença entre as duas crenças.
Os céticos questionam a confiabilidade das fontes de conhecimento perguntando
se há algum motivo convincente para crer que as fontes são confiáveis a ponto de
demonstrar a verdade e evitar o erro. O problema é que não se consegue comprovar a
confiabilidade das fontes de conhecimento sem se apoiar no uso das mesmas fontes e se
elas não são consideradas confiáveis, não servem para comprovar nada. Os céticos
buscam razões que não recaiam em círculos (que podem ser viciosos).
O senso comum ofereceria proposições sobre as quais se tem certeza, mas não
há bons argumentos para sustentar essa condição de certeza perante os céticos.
Para tentar escapar dos problemas do ceticismo alguns filósofos sugerem a
naturalização da epistemologia através da sua substituição pelas ciências naturais,
negando que as verdades filosóficas sejam necessárias. Afirmam que as ciências podem
suprir as funções da epistemologia.
Ao contrário do naturalismo substitutivo, tem-se o explicacionismo amplo que
afirma que a verdadeira epistemologia fundamenta-se sobre posições teóricas que não
podem ser reduzidas a nenhuma das ciências, sendo que seu alcance deve ser geral e
independente das ciências. Os objetivos fundamentais como a aquisição de informações
verdadeiras e evitar o erro devem regular as crenças.
De modo geral, não se pode deixar que a preocupação com o pensamento
circular e o medo da possibilidade de erro do pensamento ceticista sejam a medida da
crença, pois assim não haverá possibilidade de evolução do pensamento. Para fazer isso
se pode recorrer à racionalidade instrumental.
Capítulo 9 - A epistemologia e a explicação
Os autores procedem a um exame das origens históricas da epistemologia sob a
justificativa de, assim, compreender a natureza dos problemas epistemológicos.
A epistemologia começa com Russell e Moore contrariando o idealismo de Kant
e Hegel. Enquanto o idealismo afirmava que não há o que não seja a experiência ou não
seja objeto de uma experiência, as ideias de Russell e Moore diziam que os fatos não
dependem da experiência.
Os autores criticam as ideias de Russell e Moore no que diz respeito ao uso do
senso comum para contradizer o idealismo, uma vez que eles não definem claramente o
que consideram o senso comum e questionam a sua confiabilidade.
O empirismo (experiências sensoriais formando o conhecimento) e uma das
características das teorias de Russell e Moore. Russell também se utiliza do
racionalismo ao afirmar que os princípios lógicos (dedução e indução) não são
conhecidos através da experiência, mas o conhecimento desses princípios é que o são.
As origens da epistemologia contemporânea.
Os autores questionam por que a ciência deve ser a autoridade suprema quando
se trata de epistemologia. Afirmam que o grande questionamento dos epistemólogos,
que é saber até que ponto a percepção, a memória e os procedimentos das ciências
naturais podem gerar verdades objetivas, não pode ser decidido de maneira simplista.
Também não conseguem justificar por que o senso comum ou a intuição deveriam ser
considerados autoridade quando se trata de epistemologia.
O conhecimento explicativo é um tipo de conhecimento descritivo. Enquanto o
conhecimento descritivo é o conhecimento do que alguma coisa é, o conhecimento
explicativo é o conhecimento do por que essa coisa é. Espera-se que o conhecimento
explicativo seja verdadeiro. Se um conhecimento parece ser explicativo, mas depois é
comprovada sua falsidade, pode ser chamado de conhecimento potencial.
A inferência da melhor explicação ocorre quando o indivíduo aceita uma
determinada crença por ela ser a melhor explicação para um fato por estar de acordo
com a experiência ou com outros conhecimentos deste indivíduo.
A explicação é muito importante para o conhecimento, por isso é preciso saber o
que é a explicação com exatidão e também saber qual é a melhor explicação.
Na busca por conhecimento deve-se fazer uma busca organizada de informações
e verdades significativas. Alguns conhecimentos são mais importante que os outros seja
pelo seu poder explicativo, sua capacidade de relacionamento com outros
conhecimentos, sua utilidade e seu conteúdo.
Os autores dizem que os conhecedores humanos são teorizadores na medida em
que formam teorias na tentativa de controlar o ambiente e compreendê-lo.
A explicação forma a motivação básica a busca do conhecimento e para seu
estudo filosófico e até mesmo a epistemologia depende de explicações.

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