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Apostila de Redação do ENEM

A base de uma boa redação é um bom argumento. Sem o argumento,


não adianta nada usar a crase direitinho ou citar filósofos que morreram
dois mil anos atrás. Tudo isso só serve pra dar aquela caprichada na sua
argumentação, que nem granulado em cima do brigadeiro; só que
granulado nenhum conserta um brigadeiro queimado.

Quer ver só? Dá uma olhada em como as redações do ENEM são


corrigidas:

quem disse que professor de redação não sabe fazer conta

A nota da redação, que pode chegar até 1000 pontos, é calculada a partir
de cinco critérios, cada um valendo 200: domínio da escrita
formal, mecanismos linguísticos,
estrutura e conhecimentos, argumentação e proposta de
intervenção.

Domínio da Escrita Formal, como o próprio nome já diz, confere se o


texto tá dentro das regrinhas do português padrão. O corretor vai olhar
sua ortografia, concordância, pontuação, uso de maiúsculas, etc — o
básico. A menos que você teja tão acostumada com o zap que esqueceu
como se usa acento, não é muito difícil pegar uns 120 pontos aqui.

Já o critério Mecanismos Linguísticos continua avaliando seu português,


mas em outro aspecto; aqui a questão não é só se você tá escrevendo
certinho, mas se as suas frases fazem sentido juntas. Se eu disser “Maria
estava feliz. Ela escolheu o vestido amarelo”, essas frases estão
conectadas? Não. E se eu disser “Maria estava feliz, e pra exibir sua
felicidade, escolheu o vestido amarelo”? Agora sim dá pra entender o que
é que uma frase tem a ver com a outra. O mesmo vale pra sua redação!
Vamos supor, então, que você também tire 120 pontos aqui; até agora, sua
nota é 240.

Agora a coisa começa a complicar: Estrutura e Conhecimentos avalia dois


aspectos da sua redação que não têm nada a ver com português. Primeiro,
o corretor confere se você seguiu o modelo dissertativo-argumentativo; ou
seja, se o seu texto tá dentro do tema, dividido em introdução,
desenvolvimento e conclusão, e se ele tem argumentos. Essa é a parte
da estrutura. Já a parte do conhecimento tem a ver com você mostrar que
entende do problema, reforçando seu argumento com referências:
exemplos, estatísticas, citações, essas coisas.
Se o critério anterior conferiu se você tem argumentos e se reforçou seus
argumentos com referências, aqui o negócio é olhar a Argumentação em
si. Seu raciocínio é claro? Suas ideias tão bem explicadas? Não adianta
chegar na redação sobre violência contra a mulher e falar que bater em
mulher é errado. Que é errado, todo mundo sabe! (Quem dera.)
Seu argumento tem que ir além.

Por fim, o último critério é o da Proposta de Intervenção. Todo mundo faz


o último parágrafo na pressa, escrevendo qualquer coisa pra terminar
logo, e depois reclama que a nota vem baixa. Claro que vem baixa! A
proposta vale, sozinha, 200 pontos, só que pra chegar aos 200 ela precisa
ser bem detalhada e tar amarradinha nos argumentos. Se você explicou
a violência contra a mulher dizendo que é resultado do machismo, então
sua proposta precisa atacar o machismo! Parece óbvio, mas se fosse óbvio
mesmo eu não taria escrevendo essa apostila. Eu tenho mais o que fazer.

Resumindo: teu português só te garante uns 240 pontos — 400, no


máximo, se você usar um monte de conectivo chique,
tipo “Todavia” e “Ademais”, e tiver o vocabulário de um imortal da
Academia de Letras. Todo o resto da nota vem dos critérios que analisam
seu argumento!
Isso pode parecer má notícia, mas não é. Matérias como História ou
Biologia vão te pedir pra decorar, sei lá, quem foi Marquês de Pombal, e aí
você decora e o negócio não cai na prova. Fica aquela frustração de ter
estudado “à toa”. Já a redação não te avalia por sorteio — ela é um teste
de habilidade. Toda prova de redação avalia seu português e seus
argumentos. Sempre. Não existe chance de não cair proposta de
intervenção, ou de não pedirem pra você argumentar. E já que você
sabe exatamente no que vai ser avaliada, todo segundo que você passa
treinando redação ajuda a aumentar sua nota. Eu sei disso porque
funcionou comigo.

Da primeira vez que eu tentei o vestibular, no fim do ensino médio, minha


nota na redação foi 580 — bem ruinzinha. Acabei não passando no curso
que eu queria. Quatro anos depois eu resolvi tentar de novo, só que
praticando redação uma vez por semana. Aí eu tirei 920 e passei em
Direito na USP.

Se você, como eu, não fez ensino médio num colégio particular, não pode
pagar cursinho e não tem muito tempo e memória livres, a sua melhor
chance de passar na faculdade é tirar mais de 900 na redação —
caprichando no argumento. E foi pra isso que eu criei a apostila.

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