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4.

O QUE APOIA MEU PONTO DE VISTA


SOBRE O PROBLEMA?

bauman, o queridinho das referências

A referência é tipo um fiador pro teu argumento. Você pode falar pra


imobiliária que vai pagar o aluguel todo fim do mês, certinho, mas isso é
só a sua palavra. Por que ela confiaria em você? Aí vem o fiador e fala: olha
só, eu garanto o que essa pessoa tá falando. E o fiador é alguém de
confiança, então ele passa essa confiança pra você — agora você é confiável
também.

Referências funcionam do mesmo jeito. Você pode desenvolver direitinho


seu argumento, mas sem um fiador, sem uma referência, ele não tem peso.
Pro seu argumento ser confiável, ele precisa ter algum apoio externo,
senão o texto vira trinta linhas de você falando sozinha.

Ou seja, a referência apoia seu argumento. É como se você


dissesse: escuta, isso aqui não é só coisa da minha cabeça não. Já
disseram a mesma coisa em tal música, tal filme, tal teoria, tal época. Eu
entendo como esse tema se encaixa no mundo.

Pra chegar à nota 900, sua redação precisa incluir duas referências.

TÁ, MAS O QUE É UMA REFERÊNCIA?


Referenciar é traçar uma relação entre o argumento e algo que você já
conhece. Vamos supor que o tema seja Legalização da educação
domiciliar, e que um dos meus argumentos gire em torno de como o
professor ajuda a mudar o mundo. Eu posso falar do filme Sociedade dos
Poetas Mortos, em que um professor inspira seus alunos, ou citar Paulo
Freire, que disse que se a educação sozinha não transforma a sociedade,
sem ela tampouco a sociedade muda. Ambas são referências válidas; o
importante é enxergar a relação entre a referência e o argumento.
privilégio do professor homem é dar aula arreganhado assim
E se eu não souber uma referência sobre educação? Então procura outro
aspecto do argumento em que você possa encaixar uma referência. Um
tema como esse envolve educação, sim, e também liberdade — mas é
principalmente uma redação sobre desigualdade. A educação domiciliar
seria desigual, porque gente pobre não tem dinheiro nem tempo nem é
capacitada pra educar os filhos em casa. Por isso a educação pública é
importante. Então qualquer referência relacionada à desigualdade
serviria!

Ou seja, o importante é que a referência seja relevante ao seu argumento


de alguma forma. Digamos que eu queira criticar a política brasileira,
dizendo que ela avança e retrocede, sem fazer progresso. Eu posso puxar
da mitologia grega e referenciar Sísifo, que foi condenado a rolar uma
pedra enorme montanha acima. Toda vez que ele chegava ao topo, a pedra
rolava de volta, e ele precisava buscá-la e empurrar ao topo novamente.
Essa é uma referência sobre ciclos; como o meu argumento diz que a
política brasileira está num ciclo, ela se aplica.

ENTÃO EU POSSO USAR QUALQUER COISA


DE REFERÊNCIA?
Praticamente qualquer coisa. Pense nas referências como categorias —
referências culturais, históricas, acadêmicas e em forma de frases.

Entre as culturais, temos filmes, músicas, livros, poemas, fábulas,


mitologias, estátuas, pinturas. O quadro “Guernica”*, por exemplo, retrata
a cidade de Guernica sofrendo um bombardeio; é uma ótima referência
em argumentos antimilitarismo e antiguerra.

*Todo título de obra, seja livro, arte, filme, o que for, deve ser incluído na
redação com ASPAS!
Já as referências históricas usam, como o nome já diz, eventos ou
períodos históricos como apoio pro argumento. Você pode mencionar, por
exemplo, a Revolta da Vacina, ou o costume romano de abandonar bebês
“imperfeitos” pra serem devorados por cachorros selvagens.
As referências acadêmicas apresentam conceitos de todo tipo; da
filosofia, sociologia, antropologia. Falar do individualismo em Durkheim
ou do mundo das ideias de Platão, por exemplo. Essas são as mais difíceis,
mas valem MUITO a pena se você souber encaixar. Uma dica: tente se
especializar em um filósofo só (por exemplo, Bourdieu) e entender muito
bem o que ele pensa sobre o mundo. Aí você pode usar o pensamento dele
pra quase qualquer coisa! Lembre-se que o corretor do ENEM só vai ler
uma redação sua, então o que importa não é o tamanho do seu repertório,
mas sim a qualidade.

Por fim, referências em forma de frase podem ser tanto acadêmicas


quanto históricas ou culturais; a diferença é que estão em forma de citação
direta. Existe uma diferença entre dizer que Rousseau escreveu sobre a
liberdade do indivíduo, uma referência acadêmica, ou citar diretamente a
abertura do seu livro mais famoso:
“O homem nasce livre e por toda parte se encontra
acorrentado.”

Isso porque as frases famosas têm mais impacto; não é à toa que elas
ficaram famosas!

ENTENDI, ENTÃO NÃO TEM ERRO, É SÓ


REFERENCIAR QUALQUER COISA!
Calma lá. Não é bem assim. Em quase toda redação que eu corrijo, a
autora comete um dos três erros a seguir: usou referências que não
entende, referências que não se encaixam no argumento ou
simplesmente não explicou o que a referência tem a ver com o
texto!

O primeiro erro é muito comum, especialmente em referências


acadêmicas. A regra é: não entende? Não referencie. É muito melhor
citar uma música que você conhece bem do que um trecho de Bourdieu
que você pesquisou só pra usar na redação. Filósofos e sociólogos têm
ideias complexas, que precisam ser entendidas direitinho, pra você não
acabar associando a pessoa a algo em que ela não acredita. Você pode não
saber que fez isso, mas a corretora sabe.

Uma maneira de evitar esse erro é utilizar referências de áreas que te


interessam. Quem gosta muito de filmes, por exemplo, pode sempre
referenciar filmes em suas redações. Eu gosto muito de mitologia grega,
então sempre enfio um mito em algum lugar, mas você pode ser mais fã da
Bíblia e saber várias parábolas de cor. Use o que você conhece! E se
você tem um apego por um filósofo específico, fique craque nas ideias dele.
Aí você pode usar ele pra tudo. Bauman, Marx, Durkheim e Weber são
bons exemplos de filósofos que combinam com vários temas — dá pra
deixar um na manga em caso de emergência.
Já o segundo erro, da referência que não cabe no argumento, tem a
ver com aquela EMPOLGAÇÃO que a gente sente quando pensa no autor
perfeito, ou na música perfeita pra referenciar. A gente fica tão animada
com esse pontinho extra que acaba nem conferindo se a referência faz
sentido mesmo. Lembre-se: não adianta jogar uma referência qualquer e
se dar por satisfeita. Você só ganha ponto pela referência que faz sentido!

Por fim, o terceiro erro é o mais grave e o mais comum: inserir


a referência solta no parágrafo, sem explicar o que ela tem a ver com o
seu argumento ou com o tema. Olha esse exemplo de como NÃO encaixar
uma referência:
O sociólogo alemão Max Weber defendia que o poder
é toda a possibilidade de impor sua vontade sobre
uma pessoa. Não são poucos os relatos de violência
policial no Brasil, que estão infelizmente
relacionados com o racismo, crescendo cada vez mais
o número de jovens negros mortos pela polícia.

Deu pra entender onde a pessoa tá querendo ir com isso: a violência


policial é uma consequência de concedermos poder a uma instituição
racista. Só que o texto não fala isso! A relação entre a referência e o
argumento fica só nas entrelinhas, como se a autora achasse que a gente
consegue ler o pensamento dela. Ninguém consegue ler pensamento, e
pior; ninguém ganha ponto por pensamento. Tem que botar tudo no
papel.
corrigindo sua redação

E COMO EU ENCAIXO MINHA REFERÊNCIA


NO TEXTO?
Seja bem direta! Não adianta só escrever a referência e seguir em frente;
tem que parar, explicar, mostrar a relação. Só aí ela é usada direito. Esse
aqui é um exemplo de referência numa introdução:
“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas
ninguém diz violentas as margens que o
comprimem.” Os versos do poeta alemão Brecht
ilustram os desafios do combate ao tráfico de drogas;
enquanto a sociedade repudia a violência do
traficante, nada é dito sobre a pobreza que o leva ao
crime.

O trecho “Os versos…ilustram” explica exatamente a relação entre a


referência e o tema (Desafios do combate ao tráfico de drogas). Ou seja, a
referência tá encaixadinha — você sabe exatamente por que ela tá ali.

Peraí, pode referência em introdução? Pode! A prioridade é o


desenvolvimento, porque é lá que os seus argumentos precisam de mais
ajuda; mas se você tiver uma referência sobrando, joga pra introdução.
Mas calma — antes de falar de introdução, a gente precisa falar da
proposta, que é nosso próximo assunto.

E aí, pronta pra exercitar?

EXERCÍCIO DE ARGUMENTAÇÃO — V — ENCAIXANDO A


REFERÊNCIA
Nosso quinto exercício não te pede pra explicar nada, graças a Deus. Só o
que você precisa fazer é escolher e encaixar uma referência. Fácil!

você quando eu digo que alguma coisa é fácil


Vamos aproveitar o trabalho que você já fez nos exercícios passados. Pega
uma causa OU um efeito dos temas abaixo e escreva um parágrafo a
respeito, incluindo uma referência bem encaixada. Pode pesquisar na
internet, se quiser; o importante é pegar a prática de inserir referências no
texto.

TEMA 1: Desafios para a formação educacional de


surdos no Brasil.
Escreva um parágrafo sobre a causa ou sobre o efeito, incluindo uma
referência.(Link pros textos motivadores)

TEMA 2: Caminhos para combater a intolerância


religiosa no Brasil.
Escreva um parágrafo sobre a causa ou sobre o efeito, incluindo uma
referência. (Link pros textos motivadores)

TEMA 3: A persistência da violência contra a mulher na


sociedade brasileira.
Escreva um parágrafo sobre a causa ou sobre o efeito, incluindo uma
referência. (Link pros textos motivadores)

TEMA 4: As alternativas para a diminuição do


desperdício de alimentos no Brasil.
Escreva um parágrafo sobre a causa ou sobre o efeito, incluindo uma
referência. (Link pros textos motivadores)

TEMA 5: Consequências da busca por padrões de beleza


idealizados.
Escreva um parágrafo sobre a causa ou sobre o efeito, incluindo uma
referência. (Link pros textos motivadores)
Agora nós já cuidamos do critério Argumentação e
do Conhecimentos — você aprendeu a explicar o problema usando
referências. Ótimo! A seguir, vamos tratar da Proposta de
Intervenção, com a qual você elimina o problema.
Autorretrato com camisa xadrez. Schiele, 1917

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