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– TEORIA DA LITERATURA –
Primeira aula - 11-09-2023
O meu Tio, é uma recolha de textos que FP fez para os sobrinhos, editados pela Manuela
Nogueira.
Santo Agostinho “se não me perguntarem o que é o tempo, eu sei o que é; se perguntarem o
que é, eu não sei”.
José Nunes da Mata, horário internacional
Retórica da literatura; Retórica de Aristóteles, 3: Premissas que não devem ser discutidas:
neve é branca, devemos respeitar os nossos pais e devemos honrar os Deuses.
Avaliação
Portefólio: ensaio/recensão/o que quisermos, a negociar com a professora. A sua parte do
portefólio deverá ser analisada com a professora antes e entregue a dia 30 de outubro. O
portefólio na totalidade será entregue no final do semestre.
Como é que um texto provoca um questionamento teórico na teoria da literatura; pensar nas
questões que a professora vai abordando nas aulas. Aprender a testar uma teoria. Falar na
interseção entre a prática e a teoria, que não são sempre coerentes.
Páginas: 7 a 10; não concentrar só numa questão, andar por vários assuntos. Cruzar texto
teórico de autor com um texto de literatura ou paraliteratura; 1 a 5 pequenos trabalhos de 2 ou
3 páginas em vez de só um de 10.
Ler os textos teóricos e questionar, trabalhar esses textos. A segunda parte da aula de terça-
feira será dedicada à discussão entre os alunos.
O que é que alimenta o pensamento?
Teoria é a complementaridade da prática: não há prática sem teoria e teoria sem prática.
Representação em latim: voltar a estar presente
Modo direto é o do discurso direto
Este diz que e este respondeu que: aparente neutralidade, que é feita através de um
distanciamento. O afastamento é crítico.
Poética fala de textos que visam uma determinada ficção.
Terceira aula - 18-09-2023
Quando isto surge, está a correr em linguística um fenómeno de regeneração particular: uma
caracterização dos estudos literários que está a mudar, as propriedades estão a mudar: a forma
como as pessoas estudam os acontecimentos e os objetos.
Ferdinand Saussure, Linguística na Suiça, 1916 > utilidade de uma linguística geral. Até ao
momento, maior parte dos estudos de linguística iam centrar-se na história da língua
(particular), mas devia haver uma disciplina chama-se linguística geral (genérico).
Interessava-lhe uma sincronia, uma anacronia, e não diacronia.
Teoria da literatura > distant reading, conotações são parte da teoria literária
Crítica literária > close reading
Ex-libris
Literariedade > qualidade do que é literário, o que é que caracteriza o que é literário.
Paratexto: não sendo literário, têm um conjunto exterior ao texto, ex prefácios e notas
introdutórias, posfácios - textos que rodeiam os textos que se estuda
Títulos, notas de rodapé
Em princípio não fazem parte do texto literário, à exceção do título (Genette diz que título
não faz parte do texto; Malato diz que fazem se for escrito pelo autor)
Fronteira que define > definição. (Exemplo de pato que lança ovo entre portugal/espanha)
Pertence aos dois lados da fronteira, podem estar considerados dentro ora fora,
principalmente sendo do mesmo autor. O que é que na edição de uma obra é do autor?
Prefácio
Se pensar muito sobre o que se quer ser, se impede de o ser (a propósito de FP no ensaio de
Jorge de Sena).
Preocupante: pensar que uma vida pensada não é uma vida vivida. Sócrates: vida que não é
pensada não merece ser vivida.
Sena: na sua casa também se lia em inglês (de resto, FP também o fazia, devido aos livros
que trouxe quando esteve na África do Sul), ao contrário do normal, que seria ler em francês
no século XX.
O problema é saber até que ponto estou interessada em vincular uma informação que circula.
*Não discutir o que o autor diz, é preciso acreditar nele > o resto compete ao leitor (exemplo
de Bovary, é facto que ela se suicidou). Estou a ler um texto literário ou não?
Zenith é académico e não cita, Manuela Nogueira não é: num é perdoável a falta de citação e
notas de rodapé, noutro não. Tal se passa pelo objetivo que à partida seria concomitante aos
dois: escrever um livro de crianças — mas não é um livro para crianças, porque elas não lêem
notas de rodapé e citações. Há, no estilo de ambos, indícios de quem lê o texto, para escrever
bem é preciso saber para quem se está a escrever.
Académico não intervém excessivamente o texto > cuidado com as citações, não citar o outro
sem ler o original: não usar apud em teoria da literatura. É fácil deturpar - ler os originais.
Há símbolos coletivos e símbolos individuais. Não ajuda muito ler um texto que não
confirme novas simbologias; não há símbolos convencionais, a vida pode criar símbolos
individuais que não se controlam.
(Oriente - branco > morte, ocidente > preto; ex, na china, casam-se em vermelho)
Símbolos podem mudar conforme a história e a cultura, não é válido para todas as situações,
há convenções e oscilações
Hjelmslev, Expressão e Conteúdo
Saussure fala a um nível denotativo
Camus, ateu, reproduz questão das substancialização (descrição da amendoeira em flor na
Argélia, que é a primavera)
Ex. Apologia de Sócrates, daimon - não se pode aplicar o significado judaico-cristão noutra
cosmovisão
Poeta nascitur non fit - nasce-se poeta e não se faz poetas (génio e engenho)
Limae labor - as arte não surge de improviso (Mallarmé, o primeiro verso é dado, os outros
conquistado// 10% inspiração e 90% transpiração) trabalho da lima
O que é que lemos quando lemos? (Breve continuação da questão da aula anterior)
- parte de o que nos disseram que era ler, questões de Jakobson, problemas começam
quando não se consegue relacionar o que lá está com o que não está — por vezes, ler
é um passeio: caminhos são diferentes conforme o que se ler, colocar tudo em
diálogo;
- Prazer de ler ou necessidade de reler (pensar Barthes);
Forma de ler e ler de forma coletiva: ler uma representação, voltar a ler algo que estava
ausente: ler o que lá está e outra que volta a estar naquilo que lá está
Verossimilhança vem da palavra imagem: não há verdade, mas imagem da verdade.
Aristóteles diz, portanto, que o verossímil pode ser falso: significa que é provável que seja
verdadeira. O possível é por vezes inverossímil: o factual pode derivar de uma
improbabilidade
Cuidado ao olhar para um texto: pode ser só uma construção da verdade, obviamente não
corresponde à realidade ou ao que o autor pensa (pensar tipos de autores, autor empírico e
textual, separação do autor e obra)
O que está em causa são os níveis de leitura, já não há leitura sequencial no acróstico. Há
determinados tipos de linguagem que interessam, não pelo que está especifico, mas pelo que
lá oculto.
Iuri Lotman, estruturalista que se interessa pela leitura do texto literário nas várias
modalidades: (ex ler um recado é diferente de ler um texto literário/receita/narrativa)
- existem vários tipos de linguagem, modelizantes primárias (funciona para
comunicações básicas), fala de dois tipos: religiosas e literárias, que não podem ficar-
se por aí
- Deuses contam histórias porque querem guardar na mente humana coisas que se
podem repetir ao longo da história e querem recordar a qualquer momento (de mythos
para mythologia, voz dos deuses)
-
Umberto Eco: eu não posso dizer que ela não se comporta da forma que Flaubert quis
(Bovary), ou que isso não é possível > aquilo está lá para que eu lhe dê significado ou crie
uma expectativa
Theo > Deuses = theoria (ver a globalidade das coisas), quem recupera é Paul De Man -
recupera sentido etimológico de teoria
Aquiles é leão.
(Aquiles da Ilíada, mãe Tétis mergulha-o num caldeirão e ele fica invencível em todo o lado
menos no seu calcanhar). Herói > informação denotativa
Conotações são sempre plurais, porque são sentidos emotivos, classificações, valorizações de
determinada personagem ou objeto.
^^^^^^ conotações: opiniões coletivas, decorrem das depreciações que são feitas da
personagem (valentia, beleza, coragem, arrogância, ira, imaturidade)
Como é que leio “aquiles é leão”:
Leão: animal, mamífero, juba, etc, > a partir destes valores denotativos, crio as conotações de
valentia, coragem, poder, liderança
Só se consegue ler metáfora se se conseguir ler os sentimentos associados à palavra, daí que
as metáforas são difíceis de ler. Metáfora vive para ser interpretada como sistema
modelizante secundário, faz recurso às conotações e não denotações
Universo comum entre os dois: são estes conceitos comuns que definem a metáfora
Júlio Dantas, história do rapaz da espada/roseira “uma coisa feita para a guerra há de sempre
dar sangue” > interpretação incompleta porque não se leu o cotexto (fim do texto); cotexto
fundamental para interpretar as conotações da obra
Umberto eco: leitor reais, perfeitos não existem; o real é hipotético, perfeito, a única coisa
possível é um dialogar com o texto e para isso precisa de querer dialogar e acreditar.
Adler: poder
V. Frankl: logoterapia > o que as pessoas buscam é sentir para a vida e por isso contam
histórias
Ironia romântica: ler a mesma história com a ironia da semelhança. Porque nos fingimos
superiores ou inferiores, conseguimos ver com ironia a superioridade e inferioridade dos
outros.
Contar a história é uma espécie de catarse (só que para Aristóteles esta é coletiva): através do
sentido do logos
Jung: a questão sexual de Freud não lhe parece tão importante assim, Conflito trágico de duas
partes do mesmo todo. Luta fraterna é com o igual ou connosco; sonho revela o discurso que
nós temos, ouvimo-lo como se fossemos a outra parte.
Oposição entre o contemplativo (anima/alma) e ativo (animus/espírito)
Alma - espírito
Contemplação - ação
Delicadeza - arrogância
Incerteza - certeza
Paz - guerra
Bom selvagem - mau selvagem
Mae/criança - velho/guerreiro
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Poesia através de linguagem faz processo de mimésis
Se uma coisa queres saber, seis coisas sempre te mando: quem, o quê, onde e como, e ainda
porquê e quando.
Quatro elementos: equilíbrio feito através de um diálogo (ilhas, casas e árvores têm tudo -
desconfiar quando se encontra isto num texto)
- terra, + segurança e - rigidez
- Ar, + liberdade, - inalcançável
- Água, + fluidez, - sem forma própria
- Fogo, + calor, - perigosidade
Não existem qualidades ou defeitos nos signos, a qualidade é característica aproveitada pelo
contexto e o defeito não
Mitocrítica - quando um autor tem uma obsessão nos seus textos (exemplo, comida em Eça)
Interessa porque é que metáforas da comida funcionam de forma tão obsessiva; para se
alimentar e digerir, estão presentes diferenças entre géneros, classes, aposta na importação ou
exportação
Dificuldade em ler símbolos entre as diferentes culturas (Exemplo das maças, que remetem
para 3 culturas: génese, curão)
Serpentes: oriente é símbolo de felicidade, no ocidente não
Não há signos perfeitos, ideia de complementaridade constante e cíclica.
A transformação dos seres - abelhas e borboletas são animais com alguns problemas, abelhas
procura coisas espalhadas pelo pólen e faz mel, é uma artífice, e surge associada ao poeta e
ao criador desde carta de Séneca a Lucílio e Bacon; por oposição à metáfora da aranha:
parece tirar a teia de dentro dela sem precisar de andar por muito lado, aranha faz teia que
parece texto (mesma origem etimológica), o texto é uma forma de captar o leitor
Borboletas - peritas em transformações, ser que já foi lagarto e que depois de transforma num
casulo, aparece como símbolo de transformação do corpo, vida para a morte ou ao contrário
> o que vai dar do texto literário são as transformações
Cuidado com ovelhas e pelicanos
Uma coisa, para ter efeito, tem de ter estranhamento e tem de ser legível. Estranhar uma coisa
legível/reconhecida que está dentro de um horizonte de expectativa. A obra literária, para
fazer efeito, tem de ter este movimento: não deve dar tudo o que estamos à espera, mas deve
ser algo minimamente de que estamos à espera.
Estudar literatura torna-nos espertos e suspeitos da linguagem.
Poética de Aristóteles era considerada normativa, mas passou a ser descritiva pelos
estruturalistas.
Genette
Personagens, ação, tempo, espaço
Narrador/focalização
O onde e o porquê vão dar a focalização > Aristóteles, em Poética, fala do discurso direto e
indireto
- Genette diz que é importante este narrador,
Sócrates tenta explicar a importância no modo em como se descrevem as coisas: mimésis,
X - Platão, República
Y - modo mimético
É diferente de Modo dialético
N disse que X disse e Y respondem,
Ao fazer discurso indireto, já se transforma a realidade
Diegese em grego > narrativa
Genette
Modo é diferente de Voz
O que o narrador vê // o que o narrador diz
Exemplo: mesmo que se saiba quem já é o assassino, do ponto de vista literário, não está
nada feito, porque é preciso perceber determinados elementos que o médico devia saber e que
decide ocultar, por exemplo, e só se percebe como é que ele faz bem isso se soubermos as
regras de fazer bem
(Vera Lucia, Maria Velho da Costa)
Se soubesse tudo e nos dissesse tudo, tirava-nos parte do prazer de ler.
In media res > preceitos para apanhar o leitor; começa com a história a meio, consciência
dada ao leitor de que ele chegou tarde. Contrário da analepse (mandado para trás). Bons
começam atiram para a frente mas deixam um bichinho que é preciso resolver
W. Iser, Leitor Implícito > aquele que o autor esteve a prever que ele chegasse lá se o
conseguisse apanhar
Leitor modelo > quer ser destinatário daquela obra, mas sabe que nunca será
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Décima segunda aula - 23-10-2023
De forma geral: frases mais claras e rigorosas; atenção a responder ao que é pedido
Não é pedido um artigo, mas apenas um texto que leia um `à luz de outro
Autor dá origem a texto que é lido por um leitor, formalista russo tenta centrar-se no texto e
no fenómeno da literatura
A vinda de textos de séc XVI fizeram com que a influência da antiguidade clássica pautasse
mais, principalmente a Poética e a Epístola aos Pisões
Casquel Vento (?) tenta adaptar a Poética ao teatro moderno.
Como uma tresleitura passa séculos até ser desfeita (ex, procurar em Horácio a regra as 3
unidades, que nunca é mencionada na sua Arte Poética)
O mito não tem necessidade de uma praxis realista, porque ele não é realista. A partir do
momento, por exemplo, em que se exige uma prática realista, é preciso sangue quando se fala
de uma morte em palco (teatro).
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Décima terceira aula - 24-10-2023
Diferença entre “mot” e “parole”: “mot” tem de ser escrita; a origem etimológica da palavra é
uma troca, tem de ser devolvida; a origem de “parole” é parábola, que eventualmente resulta
no francês parole e no português palavra.
Uma direção tem dois sentidos, enquanto o sentido é só um.
Quando se fala em conotação, fala-se também da conotação em grupo, não só da individual.
Maior parte das conotações são em grupo e não individuais.
Formalistas russos: todos os textos são circunstanciais, o trabalho dos formalistas também
anda em torno de tentar afastar essas circunstâncias, que são temporais e espaciais
Relações de influência são passivas ou ativas?
6 Actantes:
1. sujeito - objeto - eixo de desejo
2. destinador - destinatário - eixo do saber
3. adjuvantes - oponentes - eixo do poder
Lotman: relativamente à espingarda; ficar à espera que a espingarda seja disparada, cria a
expectativa do leitor, logo, já há romances que põe espingardas que não são disparadas: para
criar fenómeno de estreia
Joseph Campbell
Vogler
“Um Génio que era um Santo”, Eça sobre Antero
Forma de conservar coisas: memória, sobre o que fala Ítalo Calvino em Porquê Ler os
Clássicos?
Mito da caverna: há uma viagem de iniciação, há lei do retorno, quando um eventualmente
sai e volta à caverna. Parte-se da caverna porque se descobre, mas volta-se porque se sabe:
para Campbell, esse regresso está ligado ao mito.
Terceiro movimento em Campbell: salvação da comunidade – o herói da caverna regressa
para salvar os outros, forma de resgate interior
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Décima quarta aula - 30-10-2023
Yu Fu Tuan: nos anos 50/60, era da geografia; os seus trabalhos incentivam a ideia de que
etnocentrismo é natural, mas nem tudo o que é natural é para aceitar.
Livro Topofilia.
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– LITERATURA COMPARADA –
LER:
- George Steiner. "What is Comparative Literature?", 1994. Leitor Incomum
- Claudio Guillén, Entre lo uno y lo diverso, 1985 ( em especial o capítulo " Lo lolay y
lo universal", pp. 16-24)
- Helena Busco, literatura comparada
- (Terça: lite universal, Bakhtin)
Parte do portfólio de literatura comparada: no final do semestre: fazer uma auto correção
do que se escreveu nas perguntas, auto comentar, corrigir e atualizar, mudar aquilo que se
poderia ter acrescentado.
Pensar do local do universal e do local. Como é que essas questões têm sido historicamente
iteradas, uma vez que é uma questão que toca no modo como cada um de nós, cidadãos, olha
para o fenómeno literário artístico?
Porquê privilegiar um pólo; é possível um polo que seja comum ao polo local e universal?
Esta é uma das primeiras questões
Comparatista Cláudio Guillén, O Uno e o Diverso > ler o capítulo sobre o local e o universal
Um dos aspetos avaliados na análise da recensão: ser capaz de formular questões que se
colocam ali, de alguma forma, que são ou não respondidas pelo capítulo
Como é que a world literature está a regressar e está a coexistir com ondas de reivindicação,
de regresso a valores locais, nacionais, mesmo a nacionalismos? Refletir sobre esta tensão
entre local, nacional, universal e global, ajuda a pensar o objeto literário e não só o objeto
arte; assim como o modo como olhamos para as relações, num contexto do mundo atual.
Nos últimos anos do séc. XX, dedicados aos estudos e questões de tradução, refletir sobre as
consequências, limites e virtudes de ler em tradução.
Princípios estruturais e contextuais que têm ditado a comparação entre textos literários.
Importância destas narrativas que fazem parte de um património transcultural e transnacional,
que são os mitos e os temas, e perceber como é que podemos ou não estudá-los de modo a
abranger, cada vez mais, um leque mais significativo de obras, exemplos, que permitam
redimir aquilo de que a LC tem sido, muitas vezes acusada, do seu eurocentrismo – como é
que se pode conceber o alargamento a outras esferas culturais e linguísticas que permitam que
o próprio contexto da literatura europeia/ocidental, possa ser revisitado, mas à luz do
conhecimento de outras tradições.
lugar para a LC no século XXI, perante a emergência de áreas de várias perspectivas que se
têm desenvolvidas, como pós coloniais, animais, feministas; e onde é que fica a literatura
comparada no meio disso tudo > como é que pode contribuir ou ser enriquecida por essas
perspectivas reflexivas que têm fervilhando no contexto dos estudos literários
Comparativus: remete para uma das primeiras ocorrências do comparativo, em que Francis
Meres, se dedicou a um discurso comparativo. Comparativo: estamos mais a pensar que a LC
seria uma área que compara diferentes autores de diferentes proveniências.
Vergleichende > quer dizer algo que resulta da própria comparação, e que vai ao encontro a
uma linguística comparativa, ou outras áreas de conhecimento a serem desenvolvidas, a partir
do séc. XIX, e que abrangem áreas humanísticas como científicas, tendo particular expressão
em áreas científicas da anatomia.
Quando se fala no séc XIX em anatomia comparada é para designar um conhecimento sobre
o corpo humano que resulta de uma comparação de diferentes corpos de diferentes origens.
Ambivalência se estamos a falar de um corpus, conjunto de obras que fazem parte de um
corpus mais abrangente chamado LC, ou estamos a chamar à atenção para o próprio ato de
comparar e de ele estar associado a uma forma de conhecimento?
Tudo isso teve uma origem, origem que se prende com hábitos de os próprios autores criarem
implicitamente por comparação com outros textos – nesse sentido toda a arte é comparada.
Até que ponto é que o conhecimento que a LC comparada é um conhecimento próprio? Qual
é o conhecimento próprio específico da LC? O que é que ela nos permite conhecer, explorar,
na literatura, e que não é tão evidente que aconteça a partir de outras abordagens, o que é que
pode ser específico por esta área de conhecimento – nesta abordagem, de LC, considerando
que há tantas outras.
Ideia de haver valores que sejam verdadeiramente transversais a uma escala do universo. Do
lado da literatura, isso vai ser lido, nos finais do séc. XVIII, a literatura vai assumir um
projeto messiânico = ideia de que a literatura pode servir a estabelecer valores tão
transversais, que possam funcionar como a cristandade funcionou na idade média – horizonte
de referência que atravessava o espaço europeu.
Pensam uma unidade para a Europa baseada no pressuposto de que a europa funcionaria
como a mise en abyme do resto do mundo. Completamente atemporal querer dizer que estes
autores só se cingiam a conhecimentos do continente europeu, até porque já se conhecia o
novo mundo; corria do pressuposto que está associado ao romantismo: exaltação do local,
sendo que este seu local era ampliado à escala da europa.
Literatura Nacional
J.G. Herder (1787-1803) // Império, Cristandade, Humanismo, «temos ainda uma pátria e
uma língua comum como os Antigos?»
A tensão, por um lado, pelo universal, e este desenvolvimento dos valores e das línguas
locais, de um patrimônio literal local, que vai ser apoiado e fazer desenvolver o romantismo.
Weltliteratur
“A literatura nacional, isso hoje já não faz sentido; chegou o tempo da literatura universal e
cada um deve agora trabalhar para fazer avançar esse tempo” (Goethe, 1827)
Parecem tendências opostas e que criam uma tensão em defender aquilo que é local e aquilo
que extravasa o local.
Michael Bakhtin - Filologia da Literatura Universal, anos 50, anda à volta de uma questão
que já vem do século XIX.
Pressupõe forma de funcionamento do mercado e circulação dos bens que não fica só
satisfeita no local. Abertura ao mercado mundial que vai criar necessidades e desejos que não
são satisfeitos só com os produtos locais.
Será que não há possibilidade, no século XXI, de pensarmos em relações, valores e artes que
extravasam dos próprios tradições locais e cujo extravasar não é confundido com uma
globalização hegemónica?
Passagem de século XIX para XX, há tendências, e linhas de força, que estão a encaminhar
no sentido de contrapor o estudo da literatura por via do historicismo e da filologia nacional,
a uma abordagem que seja uma abordagem/língua que extravase uma tradição nacional.
Porque é que (do lado ocidental em que estamos) ficamos presos a determinadas referências,
e quando se fala do universal, é sempre à imagem do que é visto no ocidente?
Jorge Luis Borges, a reagir ao pressuposto que um escritor tem/deve apoiar-se na sua cultura
local.
Reflexão sobre a preocipação de introduzir nos textos literários, alguns elementos para dar a
ideia de que se está a respeitar a cor local > Alcorão, que não há referência a camelos.
Preocupação de introduzir determinados elementos como identificadores de uma cultura,
serve mais para estereótipos do que em sentido com a própria literatura.
Para potenciar as relações internacionais, a literatura era um elemento cultural que podia
funcionar como um elemento de valorização simbólica, e daí tirar dividendos políticos ou
económicos
● *data em que França perde na guerra franco-prussa, e, por isso, perde o seu lugar
central no contexto europeu, ganho pelo império germânico. A compensação que
França vai encontrar é a de fazer valer o seu valor / ascendência civilizacional no
mundo como uma porta, forma de manter um lugar de destaque no xadrez das grandes
potências europeias. É, por isso, que França é a pioneira na diplomacia cultural.
Essa estratégia que começou por compensação, vai marcar o estigma de suspeição de criar o
neocolonialismo, de perpetuar o poder, por via da língua e da cultura, noutros territórios.
LC e a educação cosmopolita (cf. tese de Martha Nussbaum) antídoto do nacionalismo
xenófobo < « eu sou um cidadão do mundo» - Diógenes
LC e Eurocentrismo
George Brandes (1842-1927), As grandes correntes europeias” > as únicas literaturas a que se
faz apelo quando se lê a literatura europeia (italiana renascentista, francesa, alemã, etc), há
todo um conjunto de línguas e de literaturas
Síntese:
Sobre diplomacia cultural: os focos das tensões, que levam às guerras, resultam (também) de
uma falta de investimento no trabalho de dar a conhecer a cultura e cativar, encontrar
cúmplices, de alargar o conhecimento da própria cultura e outras realidades. Os serviços
diplomáticos têm estado completamente concentrados em estratégias de alianças políticas e
económicas, em que o aspeto cultural é uma “cerejinha” do folclore (para enfeitar), e, assim,
chega-se a situações em que territórios que são contidos, de repente por interesses e disputas,
as comunidades desconhecem o que se passa com os outros.
Dois paradigmas da LC: uma que trabalhava numa perspetiva histórica, no sentido de
contribuir para histórias literárias nacionais num contexto europeu; e uma LC imbuída num
espírito de fazer LC entre nações. Presos à ideia de que uma literatura estava vinculada a uma
língua