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QUESTÕES DE TEORIA DA LITERATURA E LITERATURA COMPARADA

– TEORIA DA LITERATURA –
Primeira aula - 11-09-2023

Abordagens de textos > o que vai alterar / contribuir


Interferem como nas formas em que os autores riam e respondem
Consequências a nível da criação, leitura e recepção dessas diferentes abordagens
Nunca se pode falar em realidade estática, literatura evoluirá de acordo com as diferentes
realidades e abordagens
Vantagens e desvantagens de determinadas abordagens
Porque é que eu quero saber sobre isto / para que é que eu quero
Posicionamento do comparatista

(Spontaneous particulars, Susan)


Ted talk, o perigo de uma história única

Avaliação distribuída com exame oral


Portefólio com um trabalho para as 2 dimensões da UC, a apresentar no final do semestre e
será alvo de defesa oral
Só a parte escrita (portefólio) é passível de recurso
Literatura comparada: redigir sinopse crítica desse capítulo/artigo, que destaque o contributo
desse artigo para uma determinada área ou questão, e confrontar com outro contributo
teórico-crítico para além desse, procurar fazer discussão entre eles ( e que possa ser bom para
discutir no espaço da prova oral) > praticar capacidade de elaboração de um estado da arte,
situar-se face a uma determinada questão

Segunda aula - 12-09-2023

O meu Tio, é uma recolha de textos que FP fez para os sobrinhos, editados pela Manuela
Nogueira.

“Navegar é preciso / viver não é preciso”, Chico Buarque


Frase que lança uma provocação, mas não há sinal de provocação, há um paradoxo > ainda
assim, é preciso viver para navegar. Em suma: não se pode ler literalmente. Se inverter, deixa
de haver provocação. Querer dizer algo que não é necessariamente obvia: para navegar não
basta viver, viver é uma sobrevivência
Há um nível da linguagem, inclusive da linguagem não literária, que a usa como provocação,
e que não está interessada na interpretação literal
Erro: pressupor que a linguagem não literária é subjetiva; é normal que a linguagem seja
subjetiva. Achar que a linguagem é objetiva é um problema, cria um conjunto de cidadãos
que acreditam na transparência da linguagem — a linguagem não é subjetiva.
Sobreviver: espécie de vivência mais alta, não se trata de sobreviver, mas sim > sub/viver. O
meramente permanecer vivo não basta.

Santo Agostinho “se não me perguntarem o que é o tempo, eu sei o que é; se perguntarem o
que é, eu não sei”.
José Nunes da Mata, horário internacional
Retórica da literatura; Retórica de Aristóteles, 3: Premissas que não devem ser discutidas:
neve é branca, devemos respeitar os nossos pais e devemos honrar os Deuses.

Avaliação
Portefólio: ensaio/recensão/o que quisermos, a negociar com a professora. A sua parte do
portefólio deverá ser analisada com a professora antes e entregue a dia 30 de outubro. O
portefólio na totalidade será entregue no final do semestre.
Como é que um texto provoca um questionamento teórico na teoria da literatura; pensar nas
questões que a professora vai abordando nas aulas. Aprender a testar uma teoria. Falar na
interseção entre a prática e a teoria, que não são sempre coerentes.
Páginas: 7 a 10; não concentrar só numa questão, andar por vários assuntos. Cruzar texto
teórico de autor com um texto de literatura ou paraliteratura; 1 a 5 pequenos trabalhos de 2 ou
3 páginas em vez de só um de 10.
Ler os textos teóricos e questionar, trabalhar esses textos. A segunda parte da aula de terça-
feira será dedicada à discussão entre os alunos.
O que é que alimenta o pensamento?

Dicionário de Carlos Ceia - termos literários

Como organizar uma recensão crítica:


O título de uma recensão é a referência bibliográfica
Autor / Ano
1o parágrafo: apresentação do autor e da obra
2o: pontos de argumentação, pertinência da obra no contexto da crítica e da obra do autor, de
que maneira é que esta perspetiva muda a perspetiva que havia antes
3o: qualidades/defeitos da obra
4o: outros aspetos noutras áreas
5o: conclusão aberta, que atire a reflexão para mais longe

Teoria é a complementaridade da prática: não há prática sem teoria e teoria sem prática.
Representação em latim: voltar a estar presente
Modo direto é o do discurso direto
Este diz que e este respondeu que: aparente neutralidade, que é feita através de um
distanciamento. O afastamento é crítico.
Poética fala de textos que visam uma determinada ficção.
Terceira aula - 18-09-2023

1. O que é a Teoria da Literatura?

Questão: O que é a coca-cola?


Resposta: a coca-cola é uma bebida gaseificada castanha registada do (marca) dos EUA,
composta por açucar e cafeína sem álcool. \
A) experiência empírica
B) Conceito racionalizado
Para fazer definição é preciso fazer conjunto de reflexões que me obrigam a contemplar o
objeto.
Hiperónimo - conceito mais vasto do que aquele que estou a tentar definir.

1. Em que conceito/género vou enquadrar a teoria da literatura? Na definição não


empregues o definido.
- é um campo de estudos que se centra na literatura e nas suas propriedades de uma
forma genérica e não particular (a particular é a crítica). Ou é uma disciplina dos
estudos de literatura…
Quando se fala em teoria literária, não se fala sobre uma obra, ao contrário da crítica literária.
Teoria literária faz observações gerais.
Teoria da literatura denomina-se assim com os formalistas russos no século XX, antes chama-
se Poética, e havia teoria da literatura que depois passou a ser incluída nessa disciplina.
Deve abranger a palavra literatura e não poesia - daí que os formalistas decidiram abandonar
o termo Poética.
História da literatura, esta designação, é anterior dois séculos à teoria da literatura.

Quando isto surge, está a correr em linguística um fenómeno de regeneração particular: uma
caracterização dos estudos literários que está a mudar, as propriedades estão a mudar: a forma
como as pessoas estudam os acontecimentos e os objetos.
Ferdinand Saussure, Linguística na Suiça, 1916 > utilidade de uma linguística geral. Até ao
momento, maior parte dos estudos de linguística iam centrar-se na história da língua
(particular), mas devia haver uma disciplina chama-se linguística geral (genérico).
Interessava-lhe uma sincronia, uma anacronia, e não diacronia.

Obra ao Negro, Margueritte ??, Boccaccio


Século XIX é possível separar o sujeito do objeto: sujeito não toca e não deve tocar no objeto.
Antítese: é preciso ter duas entidades: as meninas correm e os meninos fazem crochet
Há dois tipos de oposição: uma é denotativa - podem ser generalizadas, preto/branco
Conotação: não diz respeito ao objeto mas a emoção e valores que se colocam naquelas
características
Oxímoro: em vez de dois objetos e duas frases, uma única entidade
Plataforma: e-voyant , distant reading: processo de generalização baseado em grandes
quantidade de informação

Teoria da literatura > distant reading, conotações são parte da teoria literária
Crítica literária > close reading

Tentativas de objetivação dos estudos sobre a literatura nos formalistas russos.

Ex-libris

Literariedade > qualidade do que é literário, o que é que caracteriza o que é literário.

Quarta aula - 25-09-2023

Quinta aula - 26-09-2023


(Próxima aula > estruturas simbólicas)

Novamente no trabalho: responder em 7 páginas a três ou duas questões, pensar de forma


autónoma; pegar em livro ou artigo teórico e aplicá-lo a um texto específico. Relacionar
questão entre o texto teórico e prático.

Paratexto: não sendo literário, têm um conjunto exterior ao texto, ex prefácios e notas
introdutórias, posfácios - textos que rodeiam os textos que se estuda
Títulos, notas de rodapé
Em princípio não fazem parte do texto literário, à exceção do título (Genette diz que título
não faz parte do texto; Malato diz que fazem se for escrito pelo autor)

Gérard Genette, Seuils (limiar da porta)

Fronteira que define > definição. (Exemplo de pato que lança ovo entre portugal/espanha)
Pertence aos dois lados da fronteira, podem estar considerados dentro ora fora,
principalmente sendo do mesmo autor. O que é que na edição de uma obra é do autor?

Cuidado > pensado (cogitare)


Capa do livro > estética da receção (Anxiety of Influence, Bloom)
Só podemos chamar segundas edições quando se mantém o título, mudando-se o título este
passa a ser outro.
Foi escrito para para crianças, parece ter sido escrito para crianças e estava na secção de
crianças MAS não parece ser para crianças. Objetivo confuso para uma criança > difícil
explicar a uma criança o quão feliz deve ser pela sua consciência e brincadeiras de faz de
conta - discurso crítico que se exerce sobre a criança, ela está preparada para o viver e não
refletir sobre ele.

Prefácio
Se pensar muito sobre o que se quer ser, se impede de o ser (a propósito de FP no ensaio de
Jorge de Sena).
Preocupante: pensar que uma vida pensada não é uma vida vivida. Sócrates: vida que não é
pensada não merece ser vivida.
Sena: na sua casa também se lia em inglês (de resto, FP também o fazia, devido aos livros
que trouxe quando esteve na África do Sul), ao contrário do normal, que seria ler em francês
no século XX.
O problema é saber até que ponto estou interessada em vincular uma informação que circula.

*Não discutir o que o autor diz, é preciso acreditar nele > o resto compete ao leitor (exemplo
de Bovary, é facto que ela se suicidou). Estou a ler um texto literário ou não?
Zenith é académico e não cita, Manuela Nogueira não é: num é perdoável a falta de citação e
notas de rodapé, noutro não. Tal se passa pelo objetivo que à partida seria concomitante aos
dois: escrever um livro de crianças — mas não é um livro para crianças, porque elas não lêem
notas de rodapé e citações. Há, no estilo de ambos, indícios de quem lê o texto, para escrever
bem é preciso saber para quem se está a escrever.
Académico não intervém excessivamente o texto > cuidado com as citações, não citar o outro
sem ler o original: não usar apud em teoria da literatura. É fácil deturpar - ler os originais.

Dialética > pensamento em diálogo, “dia” em conflito, divergência


Eduardo Lourenço, O Esplendor do Caos

Umberto Eco, diferença entre símbolo e metáfora, artigo


Símbolo - transpor todo o discurso para um discurso de reconhecimento de um estado
anterior, em que as coisas estiveram nulas; metáfora nega o sentido literal, há metáfora
quando não consigo interpretar aquilo num sentido denotativo, mas sim conotativo.
Ex: Aquiles é um leão, metáfora; Homem come sonhos, símbolo (pode ser literal ou
figurativo). Símbolo está para perceção subjetiva; metáfora está para identificação dos
significados conotativos.

Há símbolos coletivos e símbolos individuais. Não ajuda muito ler um texto que não
confirme novas simbologias; não há símbolos convencionais, a vida pode criar símbolos
individuais que não se controlam.

(Oriente - branco > morte, ocidente > preto; ex, na china, casam-se em vermelho)
Símbolos podem mudar conforme a história e a cultura, não é válido para todas as situações,
há convenções e oscilações
Hjelmslev, Expressão e Conteúdo
Saussure fala a um nível denotativo
Camus, ateu, reproduz questão das substancialização (descrição da amendoeira em flor na
Argélia, que é a primavera)

Símbolo - bolo é lançar, desejo pela compreensão/ lançar o união


Diabo - lançar a confusão (dia * confusão, bolo * lançar)
Lucifer - o que traz a luz

Giovani Papini, Gog


Gog é um nome de um diabo, representação do Diabo na literatura e teologia
Eça, O Mandarim - diabo no burguês, a bengala é a caudazinha

Encontrar padrões de leitura em que se procuram símbolos

Ex. Apologia de Sócrates, daimon - não se pode aplicar o significado judaico-cristão noutra
cosmovisão

Umberto Eco, Obra Aberta, Seis Passeios nos Bosques da Ficção


Interpretação do texto literário
Ao criar orientação, crio pontos de referência: os pontos são o autor; seguir as migalhas -
seguir os vestígios que o autor foi deixando no texto (dizendo segue por aqui). Se não
soubermos para onde ir, estamos, não estamos perdidos = o mesmo com as referências ao
longo do livro.

Autor —> texto <—— leitor(es)

Poeta nascitur non fit - nasce-se poeta e não se faz poetas (génio e engenho)
Limae labor - as arte não surge de improviso (Mallarmé, o primeiro verso é dado, os outros
conquistado// 10% inspiração e 90% transpiração) trabalho da lima

(Horácio) poeta antes de Cristo

Literatura infantil > para gente que quer crescer


(Pina faz versão dos contos para adultos)
Competência literária não vem de infância feliz nem de facilidade. (O que interessa é o que se
faz com a cultura e o trauma que recebemos)

Como é que justifico um texto?


(Demasiado arranjado é falso)

Persona - máscara em latim (a propósito de FPessoa)


Marcel Proust, Em busca do tempo perdido/ Recherche du temps perdu
Escreve como um eu poético, narrativo, que é uma personagem ficcional
Autoficção: uso de autobiografia para ficção
Filme sul coreano, Poesia
Questão da permanência, jogo ao longo do tempo
Saint-Beuve - procurar no texto a vida do autor >> crítica biográfica, é a crítica dominante no
século XX e XXI

Recensão: apanhar lado de suspeita, retificar; imaginar 2 diabinhos

Natália Correia, “Texto a Herodes” (?)


Aristóteles: o exemplo é
(Distanciamento crítico)

Sexta aula - 02-10-2023

Todorov, La notion de littérature

Dia 9: aula as 14:30-16h


Filme Eduardo Lourenço, Labirinto da Saudade

O que é que lemos quando lemos? (Breve continuação da questão da aula anterior)
- parte de o que nos disseram que era ler, questões de Jakobson, problemas começam
quando não se consegue relacionar o que lá está com o que não está — por vezes, ler
é um passeio: caminhos são diferentes conforme o que se ler, colocar tudo em
diálogo;
- Prazer de ler ou necessidade de reler (pensar Barthes);

Robinson Crusoé, D. Defoe: sozinho numa ilha, método de sobrevivência é organizar um


calendário
Género literário como utopia: mundo apresenta-se como perfeito e há descrição de vida em
comunidade
Raymond Transson: as “robinsonades”/as, não são verdadeiras utopias: porque as
personagens estão sozinhas, a comunidade continua a existir mentalmente (exemplo de içar
as bandeiras) — até arranjar um amigo, o Vendredi (Também nome de um romance de
Michel Tournier), sociedade a dois que, ainda assim, reproduz noção de sociedade

Forma de ler e ler de forma coletiva: ler uma representação, voltar a ler algo que estava
ausente: ler o que lá está e outra que volta a estar naquilo que lá está
Verossimilhança vem da palavra imagem: não há verdade, mas imagem da verdade.
Aristóteles diz, portanto, que o verossímil pode ser falso: significa que é provável que seja
verdadeira. O possível é por vezes inverossímil: o factual pode derivar de uma
improbabilidade
Cuidado ao olhar para um texto: pode ser só uma construção da verdade, obviamente não
corresponde à realidade ou ao que o autor pensa (pensar tipos de autores, autor empírico e
textual, separação do autor e obra)

Meta - para além de


Sensação não é sentimento, mas dá origem a um sentimento. Memória regista um conjunto de
factos, não só um (sensações diferentes que podem ser semelhantes, eventualmente levam a
sentimentos antitéticos/opostos) > cérebro faz generalizações rápidas de sensações opostas,
que se formam em pré-conceitos e posteriormente preconceitos
>>> Princípio da coincidência opositória, coincidentia oppositorum

Santo Agostinho: conhecimento é como a respiração, tentar aplicar o princípio do ying-yang


(dentro e fora; curva significa dinamismo)
Sentidos intelectuais, que são generalizações, que derivam das sensações e dos sentimentos
anteriores (Aristóteles chama-lhe defeitos e qualidades: hábitos oportunos e inoportunos)
Coragem/impetuosidade, cobardia/prudência
Estes qualidades e defeitos são, genericamente, aprovados em comunidade (ethos - aquilo que
se mantém, o caráter)

Sétima aula - 03-10-2023

Leitura crática > Crátilo, Hermógenes (Sócrates)


Vai ser chamada por Platão para assistir a uma disputa entre Crátilo e Hermógenes: se as
coisas e as palavras têm relação entre elas, questão resolvida por Saussure: curso de
Linguística Geral: signo/palavra, significante/significado
Literatura comparada: comparação de signos e não de palavras, um signo é uma
representação de um referente
Coisa - referente, signo não é a coisa — a palavra livro terá alguma coisa a ver com livros?
A relação entre significante e significante é arbitrária e não é motivada, não há relação entre
as coisas e o nome das cois (Hermógenes) — questão de table e mesa, livro e book - não
muda o significado; diferentes códigos (exemplo de linguagens secretas que funcionam entre
amigos e amantes)
Posição de Crátilo ficou diminuída por essa questão e foi invalidada até ao século XX. Crátilo
responde: tal como no início da linguagem existe uma ligação entre as coisas e ? Diz que as
palavras em geral foram buscar aos objetos determinados sons
Cratilismo da linguagem: vou buscar à linguagem aquilo que ela me recorda; possibilidade de
as palavras acordarem memórias coletivas ou individuais, que estão relacionadas com aquele
referente
Anagramas > determinada época achava que existiam mensagens subliminares: dentro da
linguagem há outra; anagrama toca a ordem geral das letras?=/sons e forma outros sentidos,
ex. Palavra Isabel substituída por Belisa; Natercia -> Catarina

Acróstico: mensagem que se ocultava nas primeiras letras ou sílabas de um poema


Usado em sociedades em que o dito não pode ser explícito
Oportunidade de ler o texto de várias maneiras

O que está em causa são os níveis de leitura, já não há leitura sequencial no acróstico. Há
determinados tipos de linguagem que interessam, não pelo que está especifico, mas pelo que
lá oculto.

Iuri Lotman, estruturalista que se interessa pela leitura do texto literário nas várias
modalidades: (ex ler um recado é diferente de ler um texto literário/receita/narrativa)
- existem vários tipos de linguagem, modelizantes primárias (funciona para
comunicações básicas), fala de dois tipos: religiosas e literárias, que não podem ficar-
se por aí
- Deuses contam histórias porque querem guardar na mente humana coisas que se
podem repetir ao longo da história e querem recordar a qualquer momento (de mythos
para mythologia, voz dos deuses)
-
Umberto Eco: eu não posso dizer que ela não se comporta da forma que Flaubert quis
(Bovary), ou que isso não é possível > aquilo está lá para que eu lhe dê significado ou crie
uma expectativa

John Lev? Googlar


Procurar um sentido modelizante secundário
Theatrum > modo de ver
No teatro há um grito de bode, que é o tragos (tragédia) (Dionísio), os gregos assistem a isso
transformado em mythos/logia
Nietzsche, Da/Sobre a Tragédia

Theo > Deuses = theoria (ver a globalidade das coisas), quem recupera é Paul De Man -
recupera sentido etimológico de teoria

Não dever ter teoria sem prática.


O que se vai ver é um conjunto de coisas que se espera que signifique alguma coisa.

Aquiles é leão.
(Aquiles da Ilíada, mãe Tétis mergulha-o num caldeirão e ele fica invencível em todo o lado
menos no seu calcanhar). Herói > informação denotativa
Conotações são sempre plurais, porque são sentidos emotivos, classificações, valorizações de
determinada personagem ou objeto.
^^^^^^ conotações: opiniões coletivas, decorrem das depreciações que são feitas da
personagem (valentia, beleza, coragem, arrogância, ira, imaturidade)
Como é que leio “aquiles é leão”:
Leão: animal, mamífero, juba, etc, > a partir destes valores denotativos, crio as conotações de
valentia, coragem, poder, liderança
Só se consegue ler metáfora se se conseguir ler os sentimentos associados à palavra, daí que
as metáforas são difíceis de ler. Metáfora vive para ser interpretada como sistema
modelizante secundário, faz recurso às conotações e não denotações
Universo comum entre os dois: são estes conceitos comuns que definem a metáfora

Resumir: presos ao eixo sintagmático e escapa o paradigmático. Quem escreveu fê-lo em


determinada ordem e isso é para ter algum efeito
Sistemas implícitos são sistemas de mitologia, simbólicos

Contexto e cotexto > determinantes para ler o texto


Texto serve-se de impurezas, nem o texto nem o autor são puros
Contexto: sistemas histórico-geográficos, eu leio informada de um conjunto de ideias
vinculadas pelas coisas que leio, de acordo com o espaço e tempo em que vivo; que, no
mínimo são do autor que os projeta no texto e os leitores que projetam os seus também
Escrever de acordo com o seu tempo, com a linguagem do seu tempo; na altura eram
anacrónicos
Paracelso “Se não amas, não compreendes”
Cotexto: texto mais vasto, que está antes e depois

Júlio Dantas, história do rapaz da espada/roseira “uma coisa feita para a guerra há de sempre
dar sangue” > interpretação incompleta porque não se leu o cotexto (fim do texto); cotexto
fundamental para interpretar as conotações da obra

Pitágoras: o que desvalorizo é igualmente importante


Luz > sombra
Reta > curva
Unidade > multiplicidade
Direito > esquerdo

Freud ————————Adler ———————— V. Franck


(Impulso sexual)
Lacan
Verosimilhança (mimesis) Icástica -tempo, espaço indefinido
Verosimilhança que os gregos chamavam de fantástica: tempo e espaço definido, particular;
memória, sonho, mito

Umberto eco: leitor reais, perfeitos não existem; o real é hipotético, perfeito, a única coisa
possível é um dialogar com o texto e para isso precisa de querer dialogar e acreditar.
Adler: poder
V. Frankl: logoterapia > o que as pessoas buscam é sentir para a vida e por isso contam
histórias
Ironia romântica: ler a mesma história com a ironia da semelhança. Porque nos fingimos
superiores ou inferiores, conseguimos ver com ironia a superioridade e inferioridade dos
outros.
Contar a história é uma espécie de catarse (só que para Aristóteles esta é coletiva): através do
sentido do logos

Woody Allen, Melinda Melinda


A mesma coisa que provoca medo provoca riso

Jung: a questão sexual de Freud não lhe parece tão importante assim, Conflito trágico de duas
partes do mesmo todo. Luta fraterna é com o igual ou connosco; sonho revela o discurso que
nós temos, ouvimo-lo como se fossemos a outra parte.
Oposição entre o contemplativo (anima/alma) e ativo (animus/espírito)

Alma - espírito
Contemplação - ação
Delicadeza - arrogância
Incerteza - certeza
Paz - guerra
Bom selvagem - mau selvagem
Mae/criança - velho/guerreiro

Oitava aula - 09-10-2023

Cruzamento entre duas boas leituras: uma teórica e outra literária


trabalhos: observação sobre temas discutidos do meu tio, conceito de literatura, critica
biográfica e função de público - que tipo de publico o texto pede? (Ver sumários)

((MASP Sao Paulo)

Dicionário de Símbolos Chevalier, Jean, Gheerbrant, Alain,

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Poesia através de linguagem faz processo de mimésis

N. Frye - disponível na teoria de Aguiar e Silva, repete a ideia de Aristóteles. Sistematiza os


géneros da literatura através dessa capacidade de admirar e de nos sentirmos superiores. Trata
texto da Bíblia como se fosse texto de cultura

1. Mimésis, diferentes meios, modos e objetos


2. Ficção: poesia diferente de história
História interessada pela verdade, e a verdade é pontual, logo que o estudo da história está
envolvido no particular
Poesia: mesmo quando se interessa pelo histórico, não está interessada no particular

Dois tipos de representação: a) representação icástica (imagem > sensações); atemporalidade


(para todos os dias, exemplo de um soneto vivo ainda hoje)

Fantas significa luz, era uma palavra feminina


Fernanda de Castro, poema “Mercado”

Será que há uma característica da linguagem literária/qualidade, chamada “literaturnost” >


literaturiedade: ideia de que existe referencialmente um texto literário, identificável pela sua
forma linguística, está sempre a bater na ideia de que a literatura não usa conceitos/linguagem
extraordinárias.

Se uma coisa queres saber, seis coisas sempre te mando: quem, o quê, onde e como, e ainda
porquê e quando.

Personagens, ações, espaço, tempo; questão de focalização do narrador: é o que explica, é o


que faz, em grande medida, a subtileza da literatura

Quatro elementos: equilíbrio feito através de um diálogo (ilhas, casas e árvores têm tudo -
desconfiar quando se encontra isto num texto)
- terra, + segurança e - rigidez
- Ar, + liberdade, - inalcançável
- Água, + fluidez, - sem forma própria
- Fogo, + calor, - perigosidade

Não existem qualidades ou defeitos nos signos, a qualidade é característica aproveitada pelo
contexto e o defeito não

Mircea Eliade - ocupa-se das estruturas míticas

Nona aula - 10-10-2023

Mitocrítica - quando um autor tem uma obsessão nos seus textos (exemplo, comida em Eça)
Interessa porque é que metáforas da comida funcionam de forma tão obsessiva; para se
alimentar e digerir, estão presentes diferenças entre géneros, classes, aposta na importação ou
exportação
Dificuldade em ler símbolos entre as diferentes culturas (Exemplo das maças, que remetem
para 3 culturas: génese, curão)
Serpentes: oriente é símbolo de felicidade, no ocidente não
Não há signos perfeitos, ideia de complementaridade constante e cíclica.

Domizil - exportação de elementos do Oriente para o Ocidente


Jung - arquétipos, anima e animus
Pirâmide > montanha construída pela vontade humana

A transformação dos seres - abelhas e borboletas são animais com alguns problemas, abelhas
procura coisas espalhadas pelo pólen e faz mel, é uma artífice, e surge associada ao poeta e
ao criador desde carta de Séneca a Lucílio e Bacon; por oposição à metáfora da aranha:
parece tirar a teia de dentro dela sem precisar de andar por muito lado, aranha faz teia que
parece texto (mesma origem etimológica), o texto é uma forma de captar o leitor
Borboletas - peritas em transformações, ser que já foi lagarto e que depois de transforma num
casulo, aparece como símbolo de transformação do corpo, vida para a morte ou ao contrário
> o que vai dar do texto literário são as transformações
Cuidado com ovelhas e pelicanos

Viagem é monomítico - tudo o que é ensiático começa com uma viagem


Seres míticos: grifos, corvo, búzios
Cru implica contacto com a natureza

Décima aula - 16-10-2023

Convidado: Professor Benjamim Corte-Real

A noção de literatura, no ocidente, é mais estética do que em Timor Leste.


Tese de doutoramento sobre tradição oral em Mambae “Mambae and its verbal art genres”

Lia (palavra), Na’in (dono/senhor)

Décima primeira aula - 17-10-2023

3a pergunta: Para que serve a literatura?

Uma coisa, para ter efeito, tem de ter estranhamento e tem de ser legível. Estranhar uma coisa
legível/reconhecida que está dentro de um horizonte de expectativa. A obra literária, para
fazer efeito, tem de ter este movimento: não deve dar tudo o que estamos à espera, mas deve
ser algo minimamente de que estamos à espera.
Estudar literatura torna-nos espertos e suspeitos da linguagem.
Poética de Aristóteles era considerada normativa, mas passou a ser descritiva pelos
estruturalistas.
Genette
Personagens, ação, tempo, espaço
Narrador/focalização
O onde e o porquê vão dar a focalização > Aristóteles, em Poética, fala do discurso direto e
indireto
- Genette diz que é importante este narrador,
Sócrates tenta explicar a importância no modo em como se descrevem as coisas: mimésis,

X - Platão, República
Y - modo mimético
É diferente de Modo dialético
N disse que X disse e Y respondem,
Ao fazer discurso indireto, já se transforma a realidade
Diegese em grego > narrativa

Showing é diferente de telling: showing é discurso direto, telling é discurso indireto.

Genette
Modo é diferente de Voz
O que o narrador vê // o que o narrador diz
Exemplo: mesmo que se saiba quem já é o assassino, do ponto de vista literário, não está
nada feito, porque é preciso perceber determinados elementos que o médico devia saber e que
decide ocultar, por exemplo, e só se percebe como é que ele faz bem isso se soubermos as
regras de fazer bem
(Vera Lucia, Maria Velho da Costa)
Se soubesse tudo e nos dissesse tudo, tirava-nos parte do prazer de ler.

1. Quanto ao nível da diegese, os narradores podem ser: a) extradiegeticos e b)


intradiegéticos; (encadear narradores dentro de narradores, criando abismo narrativo
— abyssus abyssum (vertigem, sensação de cair e de que o abismo nos puxa), aqui, o
abismo puxa o abismo. Em literatura, faz-se metendo uma história dentro de outra e
outra dentro dessas, etc.
Ler > experiência de vida de muitas vidas diferentes e pessoas que fizeram outras coisas e
seguiram outros caminhos

2. Foco/focalização do narrador (modo e voz). A) omnisciente, aparentemente ele diz


tudo e vê tudo, b) focalização externa (o que se vê, ouve), c) focalização interna (o
que se pensa, sente. Caráter dubitativo pode ser interessante para equilibrar a
focalização omnisciente
3. Participação do narrador na diegese: a) se participa, é uma personagem, assim, conta
uma história de que faz parte - narrador homodiegético; se é personagem principal, é
autodiegético (um narrador autodiegético é sempre homodiegético); se é personagem
secundária, heterodiegético
Autor Diferente de Narrador (narrativa)
Narrador corresponde ao “eu poético” na lírica/poesia
Ser (essência, definitiva), diferente de Estar (existência, provisória)

Auto-ficção Diferente de Autobiografia


Expectativas que cria o leitor, primeira ou 2 ou 3a pessoa, tudo influencia
Memórias de escritores: andam com caderninhos,

In media res > preceitos para apanhar o leitor; começa com a história a meio, consciência
dada ao leitor de que ele chegou tarde. Contrário da analepse (mandado para trás). Bons
começam atiram para a frente mas deixam um bichinho que é preciso resolver

Microconto: Ele abriu os olhos e o dinossauro ainda lá estava, Ernest Hemingway.


Se abriu os olhos é porque os fechou, porquê, estava lá porquê?

W. Iser, Leitor Implícito > aquele que o autor esteve a prever que ele chegasse lá se o
conseguisse apanhar
Leitor modelo > quer ser destinatário daquela obra, mas sabe que nunca será

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Décima segunda aula - 23-10-2023

De forma geral: frases mais claras e rigorosas; atenção a responder ao que é pedido
Não é pedido um artigo, mas apenas um texto que leia um `à luz de outro

Aulas extra: 13 de novembro 18-19:30

Vladimir Propp, Morfologia do Conto, 1928


Formalistas russos tentaram dar ao fenómeno da literatura uma autonomia que separasse o
texto do seu contexto de criação.

Autor dá origem a texto que é lido por um leitor, formalista russo tenta centrar-se no texto e
no fenómeno da literatura
A vinda de textos de séc XVI fizeram com que a influência da antiguidade clássica pautasse
mais, principalmente a Poética e a Epístola aos Pisões
Casquel Vento (?) tenta adaptar a Poética ao teatro moderno.

Como uma tresleitura passa séculos até ser desfeita (ex, procurar em Horácio a regra as 3
unidades, que nunca é mencionada na sua Arte Poética)
O mito não tem necessidade de uma praxis realista, porque ele não é realista. A partir do
momento, por exemplo, em que se exige uma prática realista, é preciso sangue quando se fala
de uma morte em palco (teatro).
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Décima terceira aula - 24-10-2023

Cum grano salis > com grão de sal

Diferença entre “mot” e “parole”: “mot” tem de ser escrita; a origem etimológica da palavra é
uma troca, tem de ser devolvida; a origem de “parole” é parábola, que eventualmente resulta
no francês parole e no português palavra.
Uma direção tem dois sentidos, enquanto o sentido é só um.
Quando se fala em conotação, fala-se também da conotação em grupo, não só da individual.
Maior parte das conotações são em grupo e não individuais.
Formalistas russos: todos os textos são circunstanciais, o trabalho dos formalistas também
anda em torno de tentar afastar essas circunstâncias, que são temporais e espaciais
Relações de influência são passivas ou ativas?

Aristóteles: há só razão (logos) e emoção (pathos)? Há também, claro, o ethos: o que se


mantém como mais constante na nossa forma de parecer. Problema do ethos: não é
unicamente racional, é uma decisão sobre as informações que entram e que saem.
Ao descrever o fenómeno poético, está centrado nos géneros da época dele. Poética interessa
aos estruturalistas porque ele está interessado numa estrutura: se há estruturas e sistemas
retóricos que se mantêm.

Anos 60, Lituânia, Greimas.


Revoltas criam conjunto de linguistas que saem para França, EUA, ligação entre os teóricos
de literatura, que todos têm em comum de criar um conjunto estruturado de leituras
Semiótica e new criticism: é, no fundo, estruturalismo + leitor
Greimas quer tornar os textos de Propp mais maleáveis

6 Actantes:
1. sujeito - objeto - eixo de desejo
2. destinador - destinatário - eixo do saber
3. adjuvantes - oponentes - eixo do poder

Lotman: relativamente à espingarda; ficar à espera que a espingarda seja disparada, cria a
expectativa do leitor, logo, já há romances que põe espingardas que não são disparadas: para
criar fenómeno de estreia

An Philosofical Enquirement about the Sublime and Beauty, 1750

Joseph Campbell
Vogler
“Um Génio que era um Santo”, Eça sobre Antero

Forma de conservar coisas: memória, sobre o que fala Ítalo Calvino em Porquê Ler os
Clássicos?
Mito da caverna: há uma viagem de iniciação, há lei do retorno, quando um eventualmente
sai e volta à caverna. Parte-se da caverna porque se descobre, mas volta-se porque se sabe:
para Campbell, esse regresso está ligado ao mito.
Terceiro movimento em Campbell: salvação da comunidade – o herói da caverna regressa
para salvar os outros, forma de resgate interior

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Décima quarta aula - 30-10-2023

Questão: para que serve a literatura?


pensar de uma forma histórica:

Nietzsche: o que tem história não tem definição


Pensar a literatura pressupõe, naturalmente, um conhecimento histórico existente. Há um
perigo: somos egocêntricos (individualmente), etnocêntricos (coletivamente) e geocêntricos
(culturalmente)

Yu Fu Tuan: nos anos 50/60, era da geografia; os seus trabalhos incentivam a ideia de que
etnocentrismo é natural, mas nem tudo o que é natural é para aceitar.
Livro Topofilia.

Raimond Tronsson: livro sobre utopias


Utopia > lugar bom
Exercem provocação discutindo por um mundo melhor.
A forma como se apresenta o mundo é teoricamente objetiva, dado que “nós” estamos no
centro: o conceito de centro é tão problemático quanto “margem”, tudo depende de como o
mundo é e está organizado; o centro ocupa uma superfície maior do que aquilo que é
objetivamente; distinção entre topofobia e topofilia

Michel Serres, petite poucette (pulgarzinha)

Desaprender a profundidade, surfar na superfície (faz-me pensar em Devagar, a Poesia)

Todorov, A Literatura em Perigo


- a maneira como se ensina literatura não está a servir com o tempo que temos: atribuí-
se razão a Todorov, porque Todorov diz que sempre pensou o contrário: as pessoas
querem saber do que querem ler e não do que está escrito.
- Literatura autotélica
- Literatura ao serviço da política
Jakobson, funções da literatura: função emotiva, apelativa, metalinguística, referencial, fática,
função poética

Aguiar e Silva: quem define que uma função é dominante?

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– LITERATURA COMPARADA –

Primeira aula - 31-10-2023


Prova oral: 9/01/2023 ou 11 ou 15 de janeiro (a definir pelas docentes ainda)
Entrega de portfólio: 22/12

LER:
- George Steiner. "What is Comparative Literature?", 1994. Leitor Incomum
- Claudio Guillén, Entre lo uno y lo diverso, 1985 ( em especial o capítulo " Lo lolay y
lo universal", pp. 16-24)
- Helena Busco, literatura comparada
- (Terça: lite universal, Bakhtin)

Recensão crítica de um capítulo de livro ou de artigo; irá colocar propostas e sugestões no


moodle. Esses capítulos são o ponto de partida, na eventualidade de decidirmos partir de
outro, é necessário facultar o pdf e negociar.

Parte do portfólio de literatura comparada: no final do semestre: fazer uma auto correção
do que se escreveu nas perguntas, auto comentar, corrigir e atualizar, mudar aquilo que se
poderia ter acrescentado.

Palestras: (possibilidade de fazer comentário crítico, obrigatório no caso de quem não


respondeu às perguntas)
Dia 27/11, Helena Buescu,
4/12, César Domingues
12/12 Mónica Simas
> forma testemunhal, que partilhassem a experiência do comparatista quando tem de pensar
uma problemática

Seminário transversal, não há corpora de análise específico.


Moodle: folha indicadora daquilo o que é fundamental que a recensão deva conter.
Referências: as mesmas que a professora Luísa Malato.

1. O que é a literatura comparada? literatura comparada vs literatura nacional?


2. literatura universal? literatura-mundo? literatura-comparada mundo? Que cânones?
3. Ler no original ou ler em tradução?
4. Que, como e porquê comparar (I)? Influências, intertextualidades. Receção. Transfer?
5. Que, como e porquê comparar (II); mitos, temas, géneros? Leitura de perto? leitura de
longe?
6. Que lugar para a Literatura Comparada, hoje?

Pensar do local do universal e do local. Como é que essas questões têm sido historicamente
iteradas, uma vez que é uma questão que toca no modo como cada um de nós, cidadãos, olha
para o fenómeno literário artístico?
Porquê privilegiar um pólo; é possível um polo que seja comum ao polo local e universal?
Esta é uma das primeiras questões

Comparatista Cláudio Guillén, O Uno e o Diverso > ler o capítulo sobre o local e o universal
Um dos aspetos avaliados na análise da recensão: ser capaz de formular questões que se
colocam ali, de alguma forma, que são ou não respondidas pelo capítulo
Como é que a world literature está a regressar e está a coexistir com ondas de reivindicação,
de regresso a valores locais, nacionais, mesmo a nacionalismos? Refletir sobre esta tensão
entre local, nacional, universal e global, ajuda a pensar o objeto literário e não só o objeto
arte; assim como o modo como olhamos para as relações, num contexto do mundo atual.

Nos últimos anos do séc. XX, dedicados aos estudos e questões de tradução, refletir sobre as
consequências, limites e virtudes de ler em tradução.
Princípios estruturais e contextuais que têm ditado a comparação entre textos literários.
Importância destas narrativas que fazem parte de um património transcultural e transnacional,
que são os mitos e os temas, e perceber como é que podemos ou não estudá-los de modo a
abranger, cada vez mais, um leque mais significativo de obras, exemplos, que permitam
redimir aquilo de que a LC tem sido, muitas vezes acusada, do seu eurocentrismo – como é
que se pode conceber o alargamento a outras esferas culturais e linguísticas que permitam que
o próprio contexto da literatura europeia/ocidental, possa ser revisitado, mas à luz do
conhecimento de outras tradições.

lugar para a LC no século XXI, perante a emergência de áreas de várias perspectivas que se
têm desenvolvidas, como pós coloniais, animais, feministas; e onde é que fica a literatura
comparada no meio disso tudo > como é que pode contribuir ou ser enriquecida por essas
perspectivas reflexivas que têm fervilhando no contexto dos estudos literários

Designação de Literatura Comparada

Literatura comparada - corpus


comparative literature < comparativus
Francis Meres (1598) - “A comparative discourse of our english poets with the greekm latin
and italian poets” - um discurso que compara
Vergleichende
(o conhecimento que resulta da comparação)
Uma coisa que é comparada: faz pensar que aquilo que se estuda é um corpus literário que
radica da comparação, que resulta de comparações implícitas ou explícitas.

Comparativus: remete para uma das primeiras ocorrências do comparativo, em que Francis
Meres, se dedicou a um discurso comparativo. Comparativo: estamos mais a pensar que a LC
seria uma área que compara diferentes autores de diferentes proveniências.
Vergleichende > quer dizer algo que resulta da própria comparação, e que vai ao encontro a
uma linguística comparativa, ou outras áreas de conhecimento a serem desenvolvidas, a partir
do séc. XIX, e que abrangem áreas humanísticas como científicas, tendo particular expressão
em áreas científicas da anatomia.
Quando se fala no séc XIX em anatomia comparada é para designar um conhecimento sobre
o corpo humano que resulta de uma comparação de diferentes corpos de diferentes origens.
Ambivalência se estamos a falar de um corpus, conjunto de obras que fazem parte de um
corpus mais abrangente chamado LC, ou estamos a chamar à atenção para o próprio ato de
comparar e de ele estar associado a uma forma de conhecimento?
Tudo isso teve uma origem, origem que se prende com hábitos de os próprios autores criarem
implicitamente por comparação com outros textos – nesse sentido toda a arte é comparada.

Até que ponto é que o conhecimento que a LC comparada é um conhecimento próprio? Qual
é o conhecimento próprio específico da LC? O que é que ela nos permite conhecer, explorar,
na literatura, e que não é tão evidente que aconteça a partir de outras abordagens, o que é que
pode ser específico por esta área de conhecimento – nesta abordagem, de LC, considerando
que há tantas outras.

George Steiner. "What is Comparative Literature?", 1994.

O mais comum, e que se encontra, é de pressupor, porque comparam um texto de diferentes


autores, estão a fazer literatura comparada: a comparação por si só não faz literatura
comparada, como diz Steiner, porque ler é comparar, e não é só ler, como qualquer receção e
decifração de um sistema simbólico é sempre feito de uma comparação implícita

Se vamos fazer, relacionar, comparar determinados objetos, quando se estabelecem


semelhanças ou diferenças em função dos diferentes objetos, em função do que estamos a
comparar, já pressupõe que subdividimos cada um dos objetos em determinados núcleos e
que vamos eleger alguns núcleos para tornar semelhantes ou diferentes

Exercício comparativo, fazêmo-lo para quê, em função de quê?

Assentar na ideia de que a LC é uma forma de conhecimento do fenómeno literário e daquilo


que o fenómeno literário pode relacionar-se. Se é uma forma de conhecimento, cada exercício
comparativo que fazemos tem de estar regulado, ou tem de chegar a uma determinada
conclusão, no sentido de aumentar o conhecimento sobre o fenómeno literário?

Porque é que é importante perceber a historicidade da literatura comparada? quais foram as


inquietações, razões, que presidiram à institucionalização desta área de conhecimento
Voltaire, Dictionnaire Philosophique, 1764 “A literatura, que é esta gramática de Aulo
Gélio, de Ateneu, de Macróbio designa em toda a Europa um conhecimento das obras de
gosto, umas noções de história, de poesia, de eloquência, de crítica”

- Voltaire refere que a literatura é um conhecimento das obras: literatura pode


confundir com o conjunto de obras literárias, ao contrário de estudos literários – há
esta noção de que a literatura é um conhecimento. O próprio conhecimento já coloca
várias áreas. Junta-se a dimensão da criação, da receção, da crítica, da leitura.

A historicidade da literatura comparada como objeto de conhecimento

> entre o universal, o nacional e o cosmopolita

> o iluminismo e o ideal da universalidade

A Literatura com um projeto messiânico

F. Novalis (1772-1802) – “A Cristandade ou a Europa”, 1799

Friedrich Schlegel (1772-1829) - a Europa é o mundo em miniatura e o «românico» é


sinónimo de «nova europa»

Ideia de haver valores que sejam verdadeiramente transversais a uma escala do universo. Do
lado da literatura, isso vai ser lido, nos finais do séc. XVIII, a literatura vai assumir um
projeto messiânico = ideia de que a literatura pode servir a estabelecer valores tão
transversais, que possam funcionar como a cristandade funcionou na idade média – horizonte
de referência que atravessava o espaço europeu.

Schlegel mentores, responsáveis pelo desencadear do movimento romântico na Alemanha,


vemo-los a conceber a europa como um mundo em miniatura: o romantismo seria um valor
estético que anunciava uma nova europa > valor para um território que extravasava de um
local, mesmo podendo este ser um império.

Pensam uma unidade para a Europa baseada no pressuposto de que a europa funcionaria
como a mise en abyme do resto do mundo. Completamente atemporal querer dizer que estes
autores só se cingiam a conhecimentos do continente europeu, até porque já se conhecia o
novo mundo; corria do pressuposto que está associado ao romantismo: exaltação do local,
sendo que este seu local era ampliado à escala da europa.

Literatura Nacional

J.G. Herder (1787-1803) // Império, Cristandade, Humanismo, «temos ainda uma pátria e
uma língua comum como os Antigos?»

«A literatura desenvolveu-se na língua e a língua na literatura: funesta é a mão que pretende


separá-las, enganadores os olhos que pretendem ver uma sem a outra» J. G. Herder (literatura
nacional como unidade orgânica)
Duas áreas de pensamento, e linguísticas, que vão ter importância matricial para a fundação
da própria área de LC: projetar na escrita de textos de línguas locais aquilo que possa
constituir o fundamento de uma formação de uma unidade proto-nacional. Preocupação de
associar o sentimento, de fazer renascer essa língua comum e uma pátria comum, como
podiam existir no tempo dos grandes impérios antigos. Herder vai ser o responsável pela
criação da ideia de uma literatura nacional, ligada a uma língua, própria de um determinado
território, tem aqui a grande função de sedimentar esse espírito de unidade, de um
determinado povo e de um determinado território.

A tensão, por um lado, pelo universal, e este desenvolvimento dos valores e das línguas
locais, de um patrimônio literal local, que vai ser apoiado e fazer desenvolver o romantismo.

O Romantismo, a originalidade e o nacionalismo

Valor da originalidade: noção do génio romântico, que se vê a si mesmo como origem e


afirmação de uma diferença em relação às convenções anteriores, relativamente aos modelos
anteriores. Ideia de que o artista deve ser fiel ao seu próprio eu e individualidade, e também
ideia de fidelidade à pátria, a um determinado local, terra, tradições e especificidades – um
aspeto apoiava o outro. Tendência de ir apoiar-se nas tradições populares, folclore, que dão
lastro a um determinado território, que legitimam a sua existência como autónoma. Ir buscar
a força e a originalidade de uma literatura às suas matrizes populares que se perdem no
tempo, no sentido de poder justificar a sua individualidade e isso é um passo fundamental
para poder justificar a sua autonomia política > criação de estados que se tornam
independentes.

Literatura vai integrar e ajudar a desenvolver a memória cultural de uma determinada


comunidade, que vai começar a pensar-se como comunidade nacional.

Weltliteratur

“A literatura nacional, isso hoje já não faz sentido; chegou o tempo da literatura universal e
cada um deve agora trabalhar para fazer avançar esse tempo” (Goethe, 1827)

Weltliteratur - feita do mundo.

Parecem tendências opostas e que criam uma tensão em defender aquilo que é local e aquilo
que extravasa o local.

Michael Bakhtin - Filologia da Literatura Universal, anos 50, anda à volta de uma questão
que já vem do século XIX.

Excerto de Karl Marx e Friedrich Engels, 1872.

Consumo, transformação dos produtos consumidos. Crítica a uma sociedade burguesa

Pressupõe forma de funcionamento do mercado e circulação dos bens que não fica só
satisfeita no local. Abertura ao mercado mundial que vai criar necessidades e desejos que não
são satisfeitos só com os produtos locais.
Será que não há possibilidade, no século XXI, de pensarmos em relações, valores e artes que
extravasam dos próprios tradições locais e cujo extravasar não é confundido com uma
globalização hegemónica?

Passagem de século XIX para XX, há tendências, e linhas de força, que estão a encaminhar
no sentido de contrapor o estudo da literatura por via do historicismo e da filologia nacional,
a uma abordagem que seja uma abordagem/língua que extravase uma tradição nacional.

Porque é que (do lado ocidental em que estamos) ficamos presos a determinadas referências,
e quando se fala do universal, é sempre à imagem do que é visto no ocidente?

Jorge Luis Borges, a reagir ao pressuposto que um escritor tem/deve apoiar-se na sua cultura
local.

Do ponto de vista da estética literária e da literatura como instituição, a ideia de literatura


regional teve muito pouca aceitação. Pressupõe-se que o indivíduo escritor deve abarcar de
um contexto mais restrito, abarcar horizontes mais alargados. Aquilo que se vai tornar
comum, a partir do século XIX, com as literaturas nacionais, não era uma prática nem uma
preocupação para autores (dos períodos medievais, renascentistas, etc). As referências
literárias eram comungadas, faziam parte do património de referências.

Reflexão sobre a preocipação de introduzir nos textos literários, alguns elementos para dar a
ideia de que se está a respeitar a cor local > Alcorão, que não há referência a camelos.
Preocupação de introduzir determinados elementos como identificadores de uma cultura,
serve mais para estereótipos do que em sentido com a própria literatura.

LC e relações literárias internacionais

Porque é que na institucionalização da LC como área de conhecimento académico, se


entendia que ela era o estudo de relações internacionais?

Para potenciar as relações internacionais, a literatura era um elemento cultural que podia
funcionar como um elemento de valorização simbólica, e daí tirar dividendos políticos ou
económicos

Diplomacia cultural e geopolítica (pós-1871)*

● *data em que França perde na guerra franco-prussa, e, por isso, perde o seu lugar
central no contexto europeu, ganho pelo império germânico. A compensação que
França vai encontrar é a de fazer valer o seu valor / ascendência civilizacional no
mundo como uma porta, forma de manter um lugar de destaque no xadrez das grandes
potências europeias. É, por isso, que França é a pioneira na diplomacia cultural.

Essa estratégia que começou por compensação, vai marcar o estigma de suspeição de criar o
neocolonialismo, de perpetuar o poder, por via da língua e da cultura, noutros territórios.
LC e a educação cosmopolita (cf. tese de Martha Nussbaum) antídoto do nacionalismo
xenófobo < « eu sou um cidadão do mundo» - Diógenes

- acompanha o início da LC, na medida em que os comparatistas tinham preocupação


em defender/projetar os espíritos dos autores, de diferentes épocas, que tivessem tido
um espírito cosmopolita (=aberto a outras línguas e culturas)
- Martha Nussbaum, filósofa americana (relações entre cosmopolitismo e
patriotismo/nacionalismo) como as humanidades podem ser uma forma de lidar com
estas questões

LC e Eurocentrismo

George Brandes (1842-1927), As grandes correntes europeias” > as únicas literaturas a que se
faz apelo quando se lê a literatura europeia (italiana renascentista, francesa, alemã, etc), há
todo um conjunto de línguas e de literaturas

* eurocêntricos e de uma determinada europa

H.M. Posnett (1855-1927), autor de Comparative Literature (1886)

Síntese:

- LC na base do processo criativo


- LC como complemento ou antídoto do nacionalismo oitocentista
- LC como consequência do universalismo vindo das filosofias das luzes
- LC como projeto humanista (busca de aliança política e económica, também//
procurar evitar os grandes conflitos)
- O paradigma histórico e internacional nos inícios da LC

Sobre diplomacia cultural: os focos das tensões, que levam às guerras, resultam (também) de
uma falta de investimento no trabalho de dar a conhecer a cultura e cativar, encontrar
cúmplices, de alargar o conhecimento da própria cultura e outras realidades. Os serviços
diplomáticos têm estado completamente concentrados em estratégias de alianças políticas e
económicas, em que o aspeto cultural é uma “cerejinha” do folclore (para enfeitar), e, assim,
chega-se a situações em que territórios que são contidos, de repente por interesses e disputas,
as comunidades desconhecem o que se passa com os outros.

Dois paradigmas da LC: uma que trabalhava numa perspetiva histórica, no sentido de
contribuir para histórias literárias nacionais num contexto europeu; e uma LC imbuída num
espírito de fazer LC entre nações. Presos à ideia de que uma literatura estava vinculada a uma
língua

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