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Sumário

Apresentação 1
A redação do Enem 2
Primeiros direcionamentos 3
O que leva à nota zero? 7
As 5 competências 9
Competência 1 11
Competência 2 14
Use os textos motivadores ao seu favor 19
O texto dissertativo-argumentativo 22
Estrutura nota mil - Introdução 23
Estrutura nota mil - Desenvolvimento 27
Como argumentar de maneira eficiente 31
Argumentos para vários temas 34
Estrutura nota mil - Conclusão 36
Ainda sobre a C2... Repertório sociocultural! 38
Competência 3 42
Projeto de texto 44
Competência 4 46
Tabela de conectivos 48
Competência 5 49
Orientações finais 53
Redações nota 1.000 54
A redação do Enem
Eu imagino você neste momento: um estudante que
talvez esteja perdido, com medo, que traz consigo
várias inseguranças, e além de se preocupar em tirar
uma nota boa no Enem (senão não entra na faculdade
que tanto sonha), precisa se preocupar em escrever
uma boa redação.

Como se 180 questões já não fosse problema o


suficiente para lidar, né?

Bem, eu sei como você se sente, porque eu também já


passei por isso. E com certeza a redação era uma das
partes que mais me apavorava (e isso porque eu queria
fazer Letras, hein?).

A imprevisibilidade do tema, o receio de não selecionar


bons argumentos… Todos esses sentimentos fazem
parte do processo, mas estou aqui para dizer que o seu
caminho pode ser mais simples e seguro.

Para que assim seja, acredito que você deva conhecer


as características desse modelo de redação e o que o
corretor espera de você.

2
Primeiros direcionamentos
A cartilha do participante (documento gratuito liberado
pelo INEP) traz a seguinte definição sobre a prova de
redação do Enem:

A prova de redação exigirá de você a produção de um texto em prosa,


do tipo dissertativo-argumentativo, sobre um tema de ordem social,
científica, cultural ou política. Os aspectos a serem avaliados
relacionam-se às competências que devem ter sido desenvolvidas
durante os anos de escolaridade. Nessa redação, você deverá defender
uma tese – uma opinião a respeito do tema proposto –, apoiada em
argumentos consistentes, estruturados com coerência e coesão,
formando uma unidade textual. Seu texto deverá ser redigido de
acordo com a modalidade escrita formal da língua portuguesa. Você
também deverá elaborar uma proposta de intervenção social para o
problema apresentado no desenvolvimento do texto. Essa proposta
deve respeitar os direitos humanos.

Temos várias informações relevantes a analisar e


considerar a partir deste trecho:

1) Seu texto deverá ser escrito em prosa (ou seja, em


parágrafos. Não pode ser um poema - por mais
inspirado que você esteja no dia).

2) O tipo de texto a ser escrito é dissertativo-


argumentativo (falarei mais sobre isso alguns capítulos
à frente, mas já perceba que ele possui uma dupla
natureza: você deve dissertar e argumentar).

3) O tema definido sempre será de ordem social,


científica, cultural ou política. E digo mais: o tema
sempre será um problema que atinge a população
brasileira. Por mais que não fique tão claro, você
sempre deve encarar o tema da redação como um
problema atual.

3
4) A correção será feita com base em competências.
Tais competências são habilidades que você deveria ter
adquirido durante seu período escolar, e são divididas
em cinco (tratarei de cada uma delas mais adiante).

5) O objetivo central da redação é que você defenda


uma tese.
Tese nada mais é que uma palavra bonita para opinião:
ou seja, você deve convencer o seu leitor (seu corretor)
de que a sua opinião é válida e consistente, e para isso,
você deve apoiar a sua tese em bons argumentos.

6) Seu texto deve ser organizado com coerência e


coesão.
Para ser coerente, seu texto deve estabelecer relações
de sentido (ou seja, você não pode deixar ideias
“soltas”). E para ser coeso, seu texto deve empregar
corretamente os elementos disponíveis na língua
(como verbos e conectivos), a fim de relacionar termos
na construção do texto.

O ponto principal aqui é: seu texto deve ser uma


unidade (ou pelo menos, transmitir essa sensação para
o seu corretor).

7) A redação deve ser escrita de acordo com a


modalidade formal da Língua Portuguesa.
Portanto, nada de usar gírias ou escrever do jeito que
você fala. Escrever e falar, embora relacionáveis, são
atividades completamente distintas, e seu corretor
estará atento se você sabe disso ou não.

Ah, algo que gostaria de acrescentar já neste ponto:


escrever de acordo com a norma culta não significa
usar palavras difíceis.

4
A ideia é que você escreva de maneira formal, respeite
as regras gramaticais e ortográficas, e utilize um bom
vocabulário que expresse os seus pensamentos (mas
que não seja coloquial).

8) Por fim, sua redação deverá conter uma proposta de


intervenção para o problema apresentado no texto (e
aqui está um detalhe em que muita gente se perde).

Alguns alunos acreditam que a proposta de intervenção


deve ser a solução máxima para o problema, mas
vamos ser honestos: ninguém consegue resolver o
problema do tema tão rapidamente, né? Se fosse assim,
o problema nem existiria.

A ideia aqui é verificar sua capacidade de ser um


cidadão atuante. Ou seja, uma pessoa capaz de refletir
sobre a realidade em que vive e propor soluções.

Ah, detalhe importante: sua proposta deve respeitar os


direitos humanos.

Ou seja, esperam que você tenha bom senso e não


proponha coisas absurdas, como justiça com as
próprias mãos, morte, violência, privação de direitos,
exclusão, enfim. O bom senso deve prevalecer e eu vou
te mostrar como fazer uma proposta incrível em alguns
capítulos.

Aproveito para trazer mais alguns detalhes a que você


deve se atentar:

-Sua redação deve ser escrita em até 30 linhas (se você


escrever menos que 7 linhas, sua redação será zerada, e
se você fizer mais que 30 linhas, o corretor não lerá as
linhas a mais);

5
-Você deverá escrevê-la com caneta preta (a prova do
Enem, em si, só poderá ser feita com caneta preta);

-No dia da prova, você receberá uma folha para fazer


rascunho e uma folha oficial.

Como o próprio nome diz, o objetivo do rascunho é fazer


uma primeira escrita e revisar, mas só será avaliada a
redação que estiver na folha oficial.

-Você não perderá pontos se tiver uma letra feia, mas


se ela for ilegível, a ponto de o corretor não conseguir
ler, você pode ter sua redação zerada (então vamos
caprichar nessa caligrafia, né?).

-Por fim, saiba que sua redação passará pelas mãos de


pelo menos dois corretores e que a nota final será a
média aritmética das notas atribuídas por eles.

Se houver muita discrepância entre as duas notas, sua


redação será levada a um terceiro corretor. Tudo isso
para garantir que a correção seja justa e você não seja
prejudicado.

Bem, agora que entendemos as regras do jogo, preciso


te dizer exatamente o que não fazer. Ou seja, vamos
entender as situações que levam à nota zero.

6
O que leva à nota zero?
O MEC divulgou que, no ano de 2020, do total de
participantes que fizeram a redação, 87.567 zeraram.
Muita gente, né?

Eu não quero que você entre nessa estatística, então


vamos entender as situação levam à nota zero.

1)Texto que não atenda à proposta solicitada ou possua


outra estrutura que não dissertativa-argumentativa;

2)Texto que não esteja escrito na Folha de Redação, que


será considerada “Em branco”;

3)Texto que apresente até 7 linhas (passa a ser


considerado insuficiente);

4)Texto que apresente cópia dos textos motivadores ou


do Caderno de Questões;

5)Texto que apresente discurso ofensivo, desenhos e


outras formas propositais de anulação;

6)Texto que apresente nome ou assinatura fora do


lugar indicado;

7)Texto com uma parte deliberadamente desconectada


do tema proposto;

8)Texto integralmente em língua estrangeira.

7
Esses são os principais fatores que podem levar à
anulação da sua nota, portanto, atenção!

E agora que você entendeu as características gerais da


redação, quero te apresentar os pontos principais
relacionados ao processo de correção da prova.

Tão importante quanto saber escrever a redação, é


saber o que o corretor espera de você.

8
As 5 competências
Sua redação será avaliada com base em 5
competências independentes, cuja nota varia de 0 a
200 pontos cada.

Demonstrar domínio da modalidade


Competência 1
escrita formal da língua portuguesa.

Compreender a proposta de redação e


aplicar conceitos das várias áreas do
Competência 2 conhecimento para desenvolver o tema,
dentro dos limites estruturais do texto
dissertativo-argumentativo em prosa.

Selecionar, relacionar, organizar e


interpretar informações, fatos, opiniões e
Competência 3
argumentos em defesa de um ponto de
vista.

Demonstrar conhecimento dos


Competência 4 mecanismos linguísticos necessários para
a construção da argumentação.

Elaborar proposta de intervenção para o


Competência 5 problema abordado, respeitando os
direitos humanos.

9
Teoricamente, todo aluno começa a redação com
chance de tirar 1.000 pontos.

Mas, à medida que o corretor lê o texto, ele pode notar,


a partir de critérios estabelecidos pelas competências,
que você não correspondeu às expectativas dos 200
pontos, e assim, com base no que você escreveu (e em
diversas outras tabelas que especificam qual
pontuação atribuir), ele vai julgar em qual critério seu
texto se adequa.

As competências, por fim, avaliam habilidades que você


deveria ter desenvolvido ao longo dos seus anos de
escolaridade, e nos próximos capítulos apresentarei
cada uma delas, para que você não tenha mais dúvidas
e saiba o que te faz perder pontos.

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Competência 1
A C1 (vamos nomear todas com essa abreviação, ok?)
avalia se você demonstra domínio da modalidade
escrita formal da língua portuguesa.

Para demonstrar esse domínio, você deve conhecer as


convenções de escrita (como regrinhas ortográficas e
de acentuação - aquela parte gramatical mais chata,
sabe?), assim como aplicar uma boa construção
sintática ao seu texto (em outras palavras, construir
boas frases e parágrafos).

Portanto, o avaliador corrigirá sua redação, nessa


Competência, levando em conta dois critérios: possíveis
problemas de construção sintática e desvios.

Uma boa estrutura sintática consiste na organização de


elementos, dentro de uma frase, que garantem fluidez
de leitura, assim como a apresentação clara das ideias
de quem escreve, em períodos bem estruturados e
completos.

Textos com problema de construção sintática


geralmente apresentam períodos truncados e
justaposição de palavras, assim como ausência de
termos ou excesso de palavras.
Vamos entender alguns desses termos.

Períodos truncados são aqueles em que um ponto final


separa duas orações que deveriam constituir um
mesmo período. Por exemplo:

Os indivíduos desinteressados deixam o destino da nação a


cargo dos demais eleitores. Levando líderes políticos
indesejáveis à ascensão.

11
A forma correta de escrever essa frase seria:

Os indivíduos desinteressados deixam o destino da nação a


cargo dos demais eleitores, levando líderes políticos indesejáveis
à ascensão.

A justaposição, por sua vez, ocorre quando você insere


vírgula no lugar do ponto final. Por exemplo:

O estigma associado às doenças mentais precisa ser atenuado,


isso deve ser feito mediante a realização de um projeto
formativo nas escolas.

Forma correta:
O estigma associado às doenças mentais precisa ser atenuado.
Isso deve ser feito mediante a realização de um projeto
formativo nas escolas.

Portanto, atente-se a essas questões, para que suas


frases sejam fluídas e você não perca pontos na C1.

Em relação aos desvios, separei uma lista dos


elementos que são avaliados, para que você estude-os
e não cometa esses errinhos na sua escrita:

-Acentuação;
-Ortografia;
-Uso de hífen;
-Emprego de letras maiúsculas e minúsculas;
-Separação silábica;
-Regência verbal e nominal;
-Concordância verbal e nominal;
-Pontuação;
-Paralelismo;
-Pronomes;
-Crase;
-Escolha de registro (formal, sem marcas de oralidade);
-Escolha de vocabulário preciso (palavras usadas em
seu sentido correto e apropriadas ao contexto de uso).

12
Parece muita coisa de gramática para estudar, né?

Para que esse caminho não fique tão difícil para você,
apresentarei duas possibilidades de estudo desses
tópicos gramaticais (que são extremamente
importantes não só para a redação, mas para a prova
de Linguagens e para a sua vida).

Teste ambas e aplique a que fizer mais sentido para


você e sua rotina.

1) Insira o estudo desses tópicos na sua rotina. Ou seja,


separe um dia ou dois da sua semana apenas para se
dedicar ao estudo desses elementos gramaticais
(assista aulas, leia textos e pratique com muitos
exercícios e escrita de redações).

2) Estude a partir dos apontamentos do seu corretor.


Enquanto escreve redações, você possivelmente
cometerá alguns desses erros. E é importante que você
os cometa mesmo, para que não se repitam no dia
oficial do Enem (o que seria bem ruim, né?). Estudar
através da correção é uma ótima maneira de aprender
sobre esses tópicos gramaticais e se atentar para não
repetir os erros nas próximas redações.

Apenas retomando o que foi dito no início deste


capítulo, volto a reforçar que a avaliação da
Competência I se dá em dois momentos: no primeiro, o
corretor avalia a estrutura sintática e, no segundo, os
desvios.

Informação complementar: para que você alcance os


200 pontos, você pode cometer no máximo um erro de
estrutura sintática e dois desvios. Portanto, muita
atenção.

13
Competência 2
Na competência 2, o corretor avaliará como você se
apropria da proposta de redação, se você utiliza
conceitos de várias áreas do conhecimento para
desenvolver o tema e também se você domina a
estrutura do texto dissertativo-argumentativo.

Portanto, a avaliação será realizada considerando três


aspectos centrais:

1) Entendimento e uso do tema;


2) Uso de repertório sociocultural;
3) Domínio do tipo textual dissertativo-argumentativo.

Vamos entender cada uma delas?

Assim que o aplicador te entregar a prova, eu aposto


que a primeira coisa que você fará será buscar a folha
com o tema da redação, como essa que está anexada
abaixo.

14
15
Se você ainda não está familiarizado com essa folhinha,
é hora de começar.

A frase temática da redação sempre estará entre aspas,


na área denominada proposta de redação. E como já
mencionado, o tema sempre é uma surpresa, você só
descobre na hora da prova.

Eu sei que essa imprevisibilidade do tema é o que nos


deixa mais ansiosos e preocupados, mas já adianto: não
é produtivo gastar sua energia pensando no tema que
vai cair ou rezando para que o tema que você estudou
seja o certo.

O segredo (que me fez tirar 960 pontos na redação do


Enem 2018) é não depender do tema.

Alunos que tiram 900+ na redação possuem estratégias


para não depender de tema, ou seja:

-Criam seu próprio acervo de argumentos (causas


comuns para problemas do país);

-Para cada argumento, já têm um repertório e


proposta de intervenção em mente;

-Usam as palavras-chave da frase temática ao longo


do texto.

Quando você começar a fazer isso, perceberá como o


tema se tornará só um detalhe no seu processo de
escrita e deixará de ser aquele monstro que tira suas
noites de sono.

Então você pode me perguntar: mas Carol, e se o tema


começar com “caminhos” ou “desafios”? E se a frase
temática for uma pergunta?

16
A verdade que ninguém te conta, e que vai tirar um peso
das suas costas é: isso não importa.

Como mencionei acima, o tema da redação sempre é um


problema (em geral com pouca visibilidade) da
sociedade brasileira.

Portanto, independente da maneira como a frase


temática é estruturada, sua redação terá o mesmo
padrão e os argumentos serão possíveis causas ou
consequências desse problema.

A única coisa a que você deve se atentar e que é


FUNDAMENTAL para que você não perca pontos na C2 é:
você deve utilizar as palavras da frase temática em
todos os parágrafos.

Veja, na prática, como isso acontece:

"Historicamente, o papel feminino nas sociedades


ocidentais foi subjugado aos interesses masculinos e
tal paradigma só começou a ser contestado em meados
do século XX, tendo a francesa Simone de Beauvoir
como expoente. Conquanto tenham sido obtidos
avanços no que se refere aos direitos civis, a violência
contra a mulher é uma problemática persistente no
Brasil, uma vez que ela se dá -na maioria das vezes- no
ambiente doméstico. Essa situação dificulta as
denúncias contra os agressores, pois muitas mulheres
temem expor questões que acreditam ser de ordem
particular."
(Redação de Cecília Maria Lima Leite, Enem 2015 - A persistência da
violência contra a mulher na sociedade brasileira)

17
"Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz
em suas "Memórias Póstumas" que não teve filhos e
não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa
miséria. Talvez hoje ele percebesse acertada sua
decisão: a postura de muitos brasileiros frente a
intolerância religiosa é uma das faces mais perversas
de uma sociedade em desenvolvimento. Com isso, surge
a problemática do preconceito religioso que persiste
intrinsecamente ligado à realidade do país, seja pela
insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de
mentalidade social."
(Larissa Cristine Ferreira, Enem 2016 - Caminhos para combater a
intolerância religiosa no Brasil)

Portanto, não importa o tema ou como essa frase é


estruturada. Você deve utilizar as palavras-chave em
todos os parágrafos, e assim evitar dois problemas
comuns na C2: fuga ao tema e tangenciamento.

A fuga ao tema acontece quando você aborda outro


tema senão o da frase temática, ou até mesmo quando
fala de algo aleatório (por mais que esteja relacionado
ao tema). No caso do Enem 2019, cujo tema foi
“Democratização do acesso ao cinema no Brasil”, seria
considerado “fuga ” falar somente de filmes ou de
democracia, por exemplo.

Já o tangenciamento ocorre quando se fala sobre o


tema, mas não de maneira completa. No caso do tema
acima, seria o caso do participante apenas falar sobre
cinema no Brasil, e não mencionar a questão da
democratização ao longo do texto.

Espero que você tenha entendido que o tema não é seu


inimigo e que não dependemos 100% dele para fazer
uma boa redação.

18
Use os textos motivadores ao seu favor
Antes de ler o tema e já sair escrevendo um milhão de
coisas, recomendo que você leia atentamente as
instruções (muitas dessas informações você já saberá,
mas é sempre bom reforçar - não vai levar mais que um
minuto) e os textos motivadores.

A função dos textos motivadores é guiar a sua escrita e


te apresentar possibilidades de argumentos e
repertórios.

No Enem 2019, por exemplo, a maioria dos participantes


que tirou nota 1.000 baseou pelo menos um de seus
argumentos neste texto motivador (baseou, não copiou
- percebe a diferença?).

TEXTO IV
O Brasil já teve um parque exibidor vigoroso e descentralizado: quase 3 300 salas em
1975, uma para cada 30 000 habitantes, 80% em cidades do interior. Desde então, o
país mudou. Quase 120 milhões de pessoas a mais passaram a viver nas cidades. A
urbanização acelerada, a falta de investimentos em infraestrutura urbana, a baixa
capitalização das empresas exibidoras, as mudanças tecnológicas, entre outros
fatores, alteraram a geografia do cinema. Em 1997, chegamos a pouco mais de 1 000
salas. Com a expansão dos shopping centers, a atividade de exibição se reorganizou. O
número de cinemas duplicou, até chegar às atuais 2 200 salas. Esse crescimento,
porém, além de insuficiente (o Brasil é apenas o 60º país na relação habitantes por
sala), ocorreu de forma concentrada. Foram privilegiadas as áreas de renda mais alta
das grandes cidades. Populações inteiras foram excluídas do universo do cinema ou
continuam mal atendidas: o Norte e o Nordeste, as periferias urbanas, as cidades
pequenas e médias do interior.
Disponível em: https://cinemapertodevoce.ancine.gov.br. Acesso em: 13 jun. 2019 (fragmento).

As partes destacadas representam possíveis


argumentos para a redação.

Alguns participantes, por exemplo, captaram a ideia


desse texto e aplicaram em suas redações através de
conceitos como gentrificação, elitismo, exclusão social,
falta de investimento e concentração de renda.

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Percebe como esses textos realmente podem motivar a
sua escrita? A partir daqueles gráficos, imagens,
notícias e textos teóricos, os elaboradores da proposta
de redação querem que você tenha uma mínima ideia do
assunto referenciado pelo tema.

Vamos analisar outro texto motivador, dessa vez, do


Enem 2020. O tema, você deve se lembrar, foi “O
estigma associado às doenças mentais na sociedade
brasileira”.

TEXTO II
A origem da palavra “estigma” aponta para marcas ou cicatrizes deixadas por
feridas. Por extensão, em um período que remonta à Grécia Antiga, passou a
designar também as marcas feitas com ferro em brasa em criminosos,
escravos e outras pessoas que se desejava separar da sociedade “correta” e
“honrada”. Essa mesma palavra muitas vezes está presente no universo das
doenças psiquiátricas. No lugar da marca de ferro, relegamos preconceito,
falta de informação e tratamentos precários a pessoas que sofrem de
depressão, ansiedade, transtorno bipolar e outros transtornos mentais
graves. Achar que a manifestação de um transtorno mental é “frescura” está
relacionado a um ideal de felicidade que não é igual para todo mundo. A
tentativa de se encaixar nesse modelo cria distância dos sentimentos reais, e
quem os demonstra é rotulado, o que progressivamente dificulta a interação
social. É aqui que redes sociais de enorme popularidade mostram uma face
cruel, desempenhando um papel de validação da vida perfeita e criando um
ambiente em que tudo deve ser mostrado em seu melhor ângulo. Fora dos
holofotes da internet, porém, transtornos mentais mostram-se mais
presentes do que se imagina.
http://www.abrata.org.br. Acesso em: 27 jul. 2020 (adaptado).

Se você parar para analisar esse texto, notará quantas


ideias de argumentos ele traz:

1) Ao falar sobre a Grécia Antiga e a separação que


havia das pessoas estigmatizadas, o autor aponta que o
problema apresenta raízes históricas.

2) O autor também menciona a questão do preconceito,


falta de informação e tratamentos precários (ótimos
argumentos).

3) Outro ponto que ele toca: individualismo. Muitas


pessoas acham que o transtorno mental é “frescura”,
pois elas próprias não são atingidas.

20
4) Além disso, é mencionada a questão da exclusão
social (possível consequência desse processo) e o
papel das redes sociais e da mídia em geral em silenciar
o tema.

Claro que você pode trazer argumentos ou ideias que


não estão contidos nesses textos. Porém, quando você
sentir que essas informações não são suficientes, você
pode apelar para o uso dos textos motivadores.

Apenas repetindo: nunca copie os textos motivadores


da maneira exata como aparecem na folha de redação.
Isso fará a sua redação perder pontos ou até mesmo
ser zerada. Você pode se apropriar das ideias ali
contidas e até mesmo parafrasear informações
(escrever com suas próprias palavras), mas nunca
copiar.

21
O texto dissertativo-argumentativo
O tipo de texto que esperam que você escreva é o
dissertativo-argumentativo. Isso significa que você
deve defender um ponto de vista sobre determinado
assunto, por meio de argumentos, exemplificações e
citações, para convencer o leitor de que a sua ideia é
aplicável.

Teoricamente, para ser considerado dissertativo-


argumentativo, seu texto deve conter três partes
principais: introdução, argumentação (ou
desenvolvimento) e conclusão.

Na C2, o corretor avaliará se você sabe construir um


texto dissertativo-argumentativo e ficará atento caso
você insira traços de outros tipos textuais na sua
redação (imagine uma pessoa que escreve introdução,
desenvolvimento e, ao final, transcreve um poema
inteiro!).

Outro aspecto analisado é a proporção entre as partes


do texto (ou seja, se há partes “embrionárias”, como
eles chamam). Isso significa que a sua introdução,
argumentação e conclusão não podem ser muito curtas,
pois indica que não foram bem produzidas ou
desenvolvidas.

Agora, vamos aprender a estrutura do texto


dissertativo-argumentativo de maneira mais
aprofundada, com base nos modelos de redações nota
mil.

22
Estrutura nota mil - introdução
Ao falarmos sobre estrutura, geralmente pensamos
que a redação apenas possui três partes: introdução,
desenvolvimento e conclusão. Mas não é bem assim.

Cada uma dessas partes apresenta uma estrutura


própria, e dominar essa "microestrutura" facilitará e
MUITO a sua escrita. Vamos a elas.

INTRODUÇÃO

Sua introdução deve conter três partes principais:

1) Repertório que contextualize o tema (parte 1)


2) Conexão do repertório com o tema (parte 2)
3) Apresentação da tese (parte 3)

Verifiquemos isso na prática, com base em uma redação


nota mil de 2016:

O Período Colonial do Brasil, ao longo dos séculos XVI e


XIX, foi marcado pela tentativa de converter os índios
ao catolicismo, em função do pensamento português
de soberania. Embora date de séculos atrás, a
intolerância religiosa no país, em pleno século XXI,
sugere as mesmas conotações de sua origem:
imposição de dogmas e violência. No entanto, a lenta
mudança de mentalidade social e o receio de denunciar
dificultam a resolução dessa problemática, o que
configura um grave problema social.

23
O estudante começou a redação com um fato histórico
(já já falaremos sobre tipos de repertório), depois, a
partir do conectivo “embora”, estabeleceu uma relação
entre o repertório e o tema (notou o uso das palavras-
chave?).

Por fim, apresentou a sua tese (o problema ocorre por


conta da lenta mudança da mentalidade social e do
receio de denunciar).

Pronto, fórmula mágica da introdução perfeita!

Mas se atente a um detalhe importante, especialmente


no que diz respeito ao uso do repertório da introdução
e à sua conexão com o tema: o repertório escolhido
deve exemplificar/ilustrar o problema do tema ou se
contrapor a ele. Veja dois exemplos:

Repertório que exemplifica/ilustra o problema:


No livro “1984” de George Orwell, é retratado um futuro distópico em que um
Estado totalitário controla e manipula toda forma de registro histórico e
contemporâneo, a fim de moldar a opinião pública a favor dos governantes.
Nesse sentido, a narrativa foca na trajetória de Winston, um funcionário do
contraditório Ministério da Verdade que diariamente analisa e altera notícias e
conteúdos midiáticos para favorecer a imagem do Partido e formar a
população através de tal ótica. Fora da ficção, é fato que a realidade
apresentada por Orwell pode ser relacionada ao mundo cibernético do século
XXI: gradativamente, os algoritmos e sistemas de inteligência artificial
corroboram para a restrição de informações disponíveis e para a influência
comportamental do público, preso em uma grande bolha sociocultural.

Note que, nesta introdução, o autor cita o livro de


George Orwell que ilustra e exemplifica o problema
relatado pelo tema (Manipulação do comportamento do
usuário pelo controle de dados na internet). Atente-se à
maneira como ele faz a relação entre esse repertório e
o tema (frase destacada).

24
Repertório que contrapõe o tema:
A Constituição Federal de 1988 – norma de maior hierarquia no sistema
jurídico brasileiro – assegura a todos a liberdade de crença. Entretanto, os
frequentes casos de intolerância religiosa mostram que os indivíduos ainda
não experimentam esse direito na prática.

Sempre que o seu repertório for contrapor o tema, na


transição para a parte b da introdução, você deve
utilizar uma conjunção adversativa (mas, porém,
contudo, entretanto, todavia…). Assim, não haverá erro.

Outro detalhe importante: a parte 2 consiste na


conexão do repertório com o tema, portanto, além de
utilizar o conectivo adequado, você deve utilizar as
palavras-chave do tema, para que a conexão fique
clara.

Em relação à apresentação da tese, tenho alguns


pontos importantes a ressaltar.
Normalmente redações nota mil selecionam duas teses
(ou argumentos, como preferir). E cada uma delas será
desenvolvida em um parágrafo de desenvolvimento, de
maneira respectiva.

Sendo o tema da redação um problema, a sua tese


poderá ser escolhida com base em alguns critérios:

1) Você pode apontar duas causas do problema;

2) Você pode apontar uma causa e consequência/efeito


do problema;

3) Você pode apontar duas consequências/efeitos do


problema.

25
Vejamos alguns exemplos.

Duas causas do problema:

Nesse sentido, é necessário analisar tal quadro,


intrinsecamente ligado a aspectos educacionais e
econômicos.

Assim, faz-se profícuo observar a parcialidade


informacional e o consumo exacerbado como pilares
fundamentais da problemática.

Uma causa e uma consequência do problema:

Ademais, é preciso salientar, ainda, que a sociedade


atual carece de informações a respeito de tal assunto,
o que gera um estranhamento em torno da questão.

Duas consequências do problema:

Desse modo, torna-se premente analisar os principais


impactos dessa problemática: a perda da autonomia de
pensamento e a sabotagem dos processos políticos
democráticos.

Ademais, é imperioso ressaltar os principais impactos


da manipulação, com destaque à influência nos hábitos
de consumo e nas convicções pessoais dos usuários.

Pronto! Espero que a estrutura da introdução tenha


ficado clara para você.

Ao saber exatamente como começar o seu texto, você


se preocupará apenas em pensar em um bom
repertório e selecionar bons argumentos. Agora é só
aplicar às suas próprias redações e arrasar na
introdução!

26
Estrutura nota mil - desenvolvimento
Seu desenvolvimento, assim como a introdução, deve
conter três partes principais:

1) Tópico frasal (parte 4)


2) Repertório para embasar o argumento (parte 5)
3) Desenvolvimento da tese (parte 6)

Verifiquemos isso na prática, com base em uma redação


nota mil de 2018:

Primeiramente, vale ressaltar o efeito que a falta de


informação possui na manipulação das pessoas.
Consoante à Teoria do Habitus elaborada pelo
sociólogo francês Pierre Bourdieu, a sociedade possui
padrões que são impostos, naturalizados e,
posteriormente, reproduzidos pelos indivíduos. Nessa
perspectiva, a possibilidade da coleta de dados
virtuais, como sites visitados e produtos, pesquisados
por grandes empresas, ocasiona a divulgação de
propagandas específicas, com o fito de induzir a
efetivação da compra da mercadoria anunciada ou
estimular um estilo de vida. Assim, o desconhecimento
dessa realidade permite a construção de uma ilusão de
liberdade de escolha que favorece unicamente as
empresas.

O tópico frasal é como a introdução do seu parágrafo.

É uma frase curta, iniciada por conectivo, que anuncia


ao leitor a ideia principal a ser tratada no parágrafo, ou
seja, retoma o seu argumento 1 (ou o 2, se for o segundo
parágrafo do desenvolvimento).

27
Alguns exemplos de tópicos frasais para você se
inspirar:

Parágrafo de desenvolvimento 1

É indubitável que a questão constitucional e sua


aplicação estejam entre as causas do problema.

Primeiramente, vale ressaltar o efeito que a falta de


informação possui na manipulação das pessoas.

A princípio, é possível perceber que essa circunstância


deve-se a questões políticas-estruturais.

Convém ressaltar, em primeiro plano, que o problema


advém, em muito, de interesses econômicos.

Parágrafo de desenvolvimento 2

Ademais, a influência de milhares de usuários se dá


pela negligência e abuso de poder governamental.

Outrossim, o mau uso das novas tecnologias corrobora


com a perpetuação dessa problemática.

Além disso, percebe-se que certos preconceitos estão


enraizados no pensamento dos brasileiros há muito
tempo.

Somado a isso, tendo em vista a capacidade dos


algoritmos de selecionar o que vai ou não ser lido, estes
podem ser usados para moldar interesses pessoais dos
leitores, a fim de alcançar objetivos políticos e/ou
econômicos.

28
Em seguida, há o uso de um repertório para embasar
seu argumento. No próximo capítulo, falaremos sobre
os tipos de repertório e como utilizá-los, mas a ideia é
que você traga ou uma informação dos textos
motivadores (sem copiar literalmente, hein?) ou uma
informação externa (como citações, conceitos, filmes,
livros) que dialogue com o seu argumento.

Veja na prática como isso funciona:

Modelos - parte 5
Convém ressaltar, em primeiro plano, que o problema
advém, em muito, de interesses econômicos. Segundo o
sociólogo alemão Theodor Adorno, a chamada “Indústria
Cultural”, visando o lucro, tende a massificar e uniformizar
os gostos a partir do uso dos meios de comunicação.

Outrossim, o mau uso das novas tecnologias corrobora com


a perpetuação dessa problemática. Sob a ótica do teórico
da comunicação Marshall McLuhan, “os homens criam as
ferramentas e as ferramentas recriam o homem”.

Em segundo lugar, ressalta-se que já, no Brasil, uma


evidente falta de informações sobre transtornos mentais,
fomentando grande preconceito e estranhamento com
essas doenças. Nesse sentido, é lícito referenciar o filósofo
grego Platão, que, em sua obra à República, narrou o
intitulado “Mito da Caverna”, no qual homens,
acorrentados em uma caverna, viam somente sombras na
parede, acreditando, portanto, que aquilo era a realidade
das coisas.

Ademais, o estigma e a falta de informação sobre doenças


mentais fazem com que muitos indivíduos, com sintomas
dessas patologias, não busquem ajuda especializada. Nesse
contexto, pesquisas aventadas pela Organização Mundial
de Saúde revelaram que menos da metade das pessoas
com os primeiros sinais de transtornos, como pânico e
depressão, procura ajuda médica por temer julgamentos e
invalidações.

29
Não necessariamente o repertório precisa ser a
segunda oração do parágrafo de desenvolvimento, mas
é importante que ele apareça.

Em segunda análise, é importante frisar que, no Brasil, é


evidente a estigmatização de pessoas com doenças
psíquicas no âmbito trabalhista. Nesse sentido, esse público
é, não raro, excluído do mercado de trabalho, devido ao
discurso de que são incapazes de exercer as atividades
profissionais. Nessa senda, é possível mencionar o
sociólogo Herbert Spencer, autor da teoria do Darwinismo
Social. Consoante sua abordagem, as pessoas mais
adaptadas socialmente – no caso, as que possuem a saúde
psicológica íntegra – tendem a conquistar e a permanecer
nas posições privilegiadas do corpo social.

É importante reforçar que este repertório deve estar


diretamente ligado ao seu argumento. Por isso, quando
for selecionar o seu melhor argumento, é importante
também já ter um repertório em mente.

Após esta etapa, temos a conexão do repertório com o


tema e o desenvolvimento da tese. É aqui que a sua
argumentação, de fato, acontece.

Portanto, leia com muita atenção o próximo capítulo.

30
Como argumentar de maneira eficiente
Argumentar, na redação do Enem, não é apenas
escolher um argumento “matador” e mencioná-lo no
texto. Independentemente do argumento que você
escolher, o importante é defender o seu ponto de vista
e mantê-lo até o final do texto.

Na realidade, é o processo de desenvolver e explicar


seu argumento, de forma a convencer o seu corretor de
que aquela causa realmente é um problema.

Essa é a minha fórmula da argumentação: argumento


que é uma causa ou consequência do problema +
repertório para embasar o meu argumento + uso de
adjetivos e palavras que emitem opinião + uso de
palavras-chave do tema.

Parece difícil? Mas não é! Veja só:

Exemplo 1
Outrossim, vale ressaltar que de acordo com o artigo sexto
da Constituição Federal brasileira, a saúde é um direito
humano de qualquer cidadão brasileiro. Nesse viés, o
atendimento desqualificado, bem como a falta de
profissionais qualificados, impõe a quebra desses direitos,
pois os tratamentos para as doenças mentais são
inacessíveis à maior parte de seus portadores. Destarte,
constata-se que a falta de atendimento qualificado
interfere na visão social sobre os portadores de
psicopatologias ferindo os princípios constitucionais e
impedindo a desestigmação das doenças mentais no Brasil.

31
Em amarelo está destacado um adjetivo, que revela
uma marca de opinião. Já em rosa estão destacadas as
palavras-chave do tema, e em azul, uma conexão direta
entre o repertório e o argumento.

Exemplo 2
Em primeiro lugar, deve-se ressaltar a ausência de
medidas governamentais para combater a venda de dados
pessoais e a manipulação do comportamento nas redes.
Segundo o pensador Thomas Hobbes, o Estado é
responsável por garantir o bem-estar da população,
entretanto, isso não ocorre no Brasil. Devido à falta de
atuação das autoridades, grandes empresas sentem-se
livres para invadir a privacidade dos usuários e vender
informações pessoais para empresários que desejam
direcionar suas propagandas. Dessa forma, a opinião dos
consumidores é influenciada, e o direito à liberdade de
escolha é ameaçado.

Perceba, no parágrafo acima, como a argumentação é


construída:

1) O autor afirma que a proposição de Thomas Hobbes


não se realiza no Brasil;

2) Em seguida, aborda seu argumento diretamente


(ausência de medidas governamentais), e como, por
conta desse problema, empresas sentem-se livres para
utilizar os dados dos usuários (desenvolvimento da
problemática).

3) Por fim, traz uma consequência desse problema:


a ameaça à liberdade de escolha.

32
Exemplo 3
Além da intolerância inata ao homem, há fatores externos
que intensificam o problema. No cenário brasileiro, o
processo colonizador e seus legados, que perduram até
hoje, são os principais agravantes desse preconceito.
Desde a chegada dos europeus no país, as religiões
diferentes da oficial são discriminadas. Logo no início da
colonização, o processo de catequização dos nativos foi
incentivado, o que demonstra o desrespeito com as
religiões indígenas, e, décadas depois, com o início do
tráfico negreiro, houve também perseguição às religiões
afro-brasileiras e a construção de uma imagem negativa
acerca delas. Toda essa mentalidade perpetuou-se no
ideário coletivo brasileiro e, apesar das ameaças legais,
faz com que essas religiões sejam as mais afetadas pela
intolerância atualmente.

Vamos analisar o desdobramento da argumentação


neste parágrafo:

1) Argumento: legados do processo colonizador


agravam o preconceito.

2) Explicação/desenvolvimento do argumento: o autor


exemplifica como se deu esse processo colonial.

3) Consequência desse problema: essa mentalidade


permanece no ideário coletivo, e por conta disso, faz
com que determinadas religiões sejam mais afetadas
pela intolerância.

Espero que, com esses exemplos, tenha ficado claro


para você como construir a sua argumentação.

33
Argumentos para vários temas
Sei que no dia da prova pode cair um tema que você não
domina e isso pode te travar.

Um jeito seguro de não depender do tema é conhecer


diferentes argumentos que podem ser aplicados a
variados temas.

Seguem aqui algumas sugestões e respectivos


repertórios que você pode estudar e inserir nas suas
produções (adapte de acordo com as suas
necessidades!):

- Questões históricas

- Silenciamento

- Insuficiência de leis

- Ausência de medidas governamentais

- Falta de conhecimento

- Pouco investimento

- Individualismo

34
1) Questões históricas
Segundo o historiador Heródoto, é preciso pensar o
passado para compreender o presente e idealizar o
futuro.

2) Silenciamento
O filósofo Foucault defende que, na sociedade pós-
moderna, certos temas são silenciados a fim de que
estruturas de poder sejam mantidas.

3) Insuficiência de leis
De acordo com o filósofo inglês John Locke, “onde não
há lei, não há liberdade”.

4) Ausência de medidas governamentais


Segundo Thomas Hobbes, o Estado é responsável por
garantir o bem-estar da população.

5) Falta de conhecimento
Katarina Tomasevski, relatora especial da ONU para o
direito à educação, afirma que “A educação é a chave
para abrir outros direitos humanos”.

6) Pouco investimento
O artigo terceiro da Constituição Federal de 1988
preconiza que constituem objetivos fundamentais da
República garantir o desenvolvimento nacional e
promover o bem de todos.

7) Individualismo
Ayn Rand, filósofa norte-americana, afirma que todos
têm o direito de tomar suas próprias decisões, mas que
nenhuma pessoa pode forçar sua decisão sobre os
outros.

35
Estrutura nota mil - conclusão
Na redação do Enem, geralmente a conclusão será a
parte do texto em que você fará também a exposição da
sua proposta de intervenção (quando chegarmos à
Competência 5, você entenderá detalhadamente como
planejar a sua).

Sua conclusão também deve conter três partes


principais:

1) Anúncio da proposta de intervenção (parte 7)


2) Desenvolvimento da proposta (parte 8)
3) Fechamento do texto (parte 9) *opcional

Observemos, na prática, essa estrutura.

Portanto, é mister que o Estado tome providências para


amenizar o quadro atual. Para a conscientização da
população brasileira a respeito do problema, urge que o
Ministério de Educação e Cultura (MEC) crie, por meio de
verbas governamentais, campanhas publicitárias nas redes
sociais que detalhem o funcionamento dos algoritmos
inteligentes nessas ferramentas e advirtam os internautas
do perigo da alienação, sugerindo ao interlocutor criar o
hábito de buscar informações de fontes variadas e manter
em mente o filtro a que ele é submetido. Somente assim,
será possível combater a passividade de muitos dos que
utilizam a internet no país e, ademais, estourar a bolha que,
da mesma forma que o Ministério da Verdade construiu em
Winston de “1984”, as novas tecnologias estão construindo
nos cidadãos do século XXI.

Na parte 7, você deve fazer o anúncio da sua proposta


de intervenção. Essa frase é como a “introdução” da
conclusão.

36
Você anunciará ao seu corretor que os problemas
descritos devem ser resolvidos. É uma frase simples,
curta, que serve apenas para que o corretor fique ciente
de que você escreverá uma proposta.

Já na parte 8 você desenvolverá propriamente sua


proposta de intervenção.

A parte 9, por sua vez, pode ser opcional (caso não haja
espaço na sua redação). Porém, é algo que você deve se
esforçar para inserir no seu texto.

Esse fechamento consiste em uma frase, curta, que vai


retomar algum repertório já mencionado no texto e
relacioná-lo com a discussão, ou uma frase de impacto,
que fale sobre a consequência da sua proposta de
intervenção e como ela resolverá a problemática.

Como corretora, sei que é uma das partes do texto que


mais “enche” os nossos olhos, porque demonstra um
bom planejamento textual e o seu cuidado em conectar
todas as partes da redação.
Veja mais alguns exemplos de fechamento de texto
para caprichar no seu:
1) Feito isso, o conflito vivenciado na série não se
tornará realidade.
2) Assim, observar-se-ia uma população mais crítica e
menos iludida.
3) Posto isso, será superado o controle do
comportamento do usuário e não mais viveremos em
um Brasil análogo à trama de “Black Mirror”.
4) Desse modo, certamente, a afirmação de Nietzsche
será vivenciada por todos os cidadãos brasileiros.
5) Dessa forma, será possível tornar o meio virtual um
ambiente mais seguro e democrático para a população
brasileira.

37
Ainda sobre a C2… Repertório sociocultural!
Mais um requisito extremamente importante a ser
analisado na C2 é o uso de repertório sociocultural.

Repertório é toda e qualquer informação, fato, citação


ou experiência, que contribui como argumento para a
discussão que você levantou.

A esta altura, você já percebeu que as redações nota mil


utilizam pelo menos três repertórios, com duas funções
distintas:

1)Repertório na introdução - cuja função é


contextualizar o tema.

2) Repertório nos parágrafos de desenvolvimento -


cuja função é embasar o argumento.

Seu corretor classificará seu repertório em alguns


tipos:
1) Repertório com muitas cópias dos trechos
motivadores. Nunca faça isso! Os textos motivadores
estão ali para te inspirar e não devem ser copiados, em
hipótese alguma.

2) Repertório baseado nos textos motivadores. Neste


caso, é até ok. Você pode parafrasear os textos (ou seja,
escrever com outras palavras), mas é interessante
trazer um repertório externo também.

3) Repertório não legitimado. É aquele em que você


insere informação sem respaldo nas áreas do
conhecimento (científicas ou culturais).

38
4) Repertório legitimado. É o repertório em que se
utilizam informações, fatos, situações e experiências
com respaldo nas Áreas do Conhecimento.

São repertórios legitimados:

- Conceitos e suas definições (ex: democracia;


gentrificação; indústria cultural; alienação).

-Fatos ou períodos históricos reconhecidos.

-Referência a nomes de autores, filósofos, poetas,


livros, obras, peças, músicas, esculturas, filmes...

-Referência a Áreas do conhecimento, como Sociologia


e sociólogos, Filosofia e filósofos...

-Referência a estudos e/ou pesquisas.

-Referência a personagens, celebridades,


personalidades (desde que conhecidos).

-Referência a meios de comunicação conhecidos, como


redes sociais, mídia e jornais.

Dica de ouro da prof. Carol: a maioria das redações


nota mil citou a Constituição Federal em suas redações.
Esse é um repertório coringa que se aplica a quase
qualquer tema, afinal, no papel tudo é lindo e belo no
Brasil, mas vida real…

Preste atenção a este detalhe: não basta “jogar” o


repertório na redação. Seu repertório deve ser
pertinente e produtivo.

39
Pertinente = deve ser associado a pelo menos um dos
elementos do tema.

Produtivo = quando você vincula seu repertório à


discussão proposta.

Nos capítulos anteriores, você já percebeu como este


processo é realizado nas redações nota mil, mas não
custa reforçar com mais alguns exemplos:

No filme estadunidense “Coringa”, o personagem principal,


Arthur Fleck, sofre de um transtorno mental que o faz ter
episódios de riso exagerado e descontrolado em público,
motivo pelo qual é frequentemente atacado nas ruas. Em
consonância com a realidade de Arthur, está a de muitos
cidadãos, já que o estigma associado às doenças mentais
na sociedade brasileira ainda configura um desafio a ser
sanado.

Segundo o pensamento de Claude Lévi-Strauss, a


interpretação adequada do coletivo ocorre por meio do
entendimento das forças que estruturam a sociedade,
como os eventos históricos e as relações sociais. Esse
panorama auxilia na análise da questão dos desafios para
a formação educacional dos surdos no Brasil, visto que a
comunidade, historicamente, marginaliza as minorias, o
que promove a falta de apoio da população e do Estado
para com esse deficiente auditivo, dificultando a sua
participação plena no corpo social e no cenário educativo.

Todos esses trechos destacados em azul mostram como se


dá a conexão entre repertório e tema (e se você estiver
escrevendo um parágrafo de desenvolvimento, precisa
conectar com seu argumento também).

40
Obrigatoriamente, pelo menos em um momento do texto
você deve inserir um repertório com todas as
características descritas acima. Porém, ao analisarmos
redações nota 1.000, veremos que elas geralmente utilizam
três repertórios diferentes, e tentaremos manter esse
padrão também.

Por fim, um conselho MUITO importante que te dou para


mandar bem nessa competência: use as palavras-chave do
tema em todos os parágrafos, ou pelo menos algumas
delas.

Na introdução eu recomendo que mencione todas, pois isso


é extremamente importante para evitar fuga ao tema ou
tangenciamento.

Sempre que estiver escrevendo, pare e pense: já utilizei as


palavras da frase temática neste parágrafo?

Se não, analise seu parágrafo e encontre o melhor local


para encaixá-las.

Obs: Você não precisa encaixar essas palavras exatamente


da maneira como se apresentam na frase temática. Você
pode utilizar sinônimos, combinado? Caso contrário, seu
texto ficará muito repetitivo.

41
Competência 3
A C3 avalia a sua capacidade de selecionar, relacionar,
organizar e interpretar fatos, opiniões e argumentos
em defesa de um ponto de vista. Ou seja, a construção
de sentido do texto. Vamos contextualizar cada um
desses verbos.

Selecionar: escolher, a partir do repertório dos textos


motivadores e/ou do seu próprio repertório,
informações, fatos e opiniões que podem ser utilizados
no texto para defender o seu ponto de vista.

Relacionar: lembra que eu disse que nada no seu texto


pode ficar “solto”? Relacionar é justamente sobre isso.
É importante que você seja estratégico e conduza as
ideias de forma progressiva, deixando claro o caminho
que percorreu e que o leitor deve seguir. Para isso, você
deve desenvolver seus argumentos, ou seja, relacioná-
los com o tema e com seu repertório.

Organizar: neste caso, organizar é sinônimo de


hierarquizar. Ou seja, você selecionará quais
argumentos são mais importantes e pensará em uma
maneira estratégica de inseri-los no texto. É assim que
você mostra para o corretor que você elaborou um
projeto de texto.

Interpretar: toda informação inserida deve ser


contextualizada em relação ao tema e ao seu ponto de
vista, dessa forma, você garante que ela é pertinente ao
texto.

42
Todas essas etapas são fundamentais à criação do seu
projeto de texto, elemento fundamental para que seu
texto tenha sentido.

O principal foco dessa competência, portanto, é avaliar


como você faz a defesa de um ponto de vista através
do projeto de texto e do desenvolvimento dos
argumentos.

Antes de falarmos sobre o projeto de texto, gostaria de


reforçar alguns aspectos do desenvolvimento dos
argumentos.

Quando você apresenta um argumento no texto, você


deve se comprometer a desenvolvê-lo. Ou seja, você
não deixa para que o leitor “se vire” com a informação
que está lá.

E isso não só para o argumento, mas para todas as


informações.

Essa competência, no fim das contas, analisa se cada


informação inserida na redação foi bem pensada, e o
objetivo é que o corretor, ao final da leitura, perceba
como cada elemento acrescentado contribui à
construção do sentido final.

Tudo deve ser muito lógico e estar interligado (sempre


pense nisso).

43
Como fazer um projeto de texto?
Antes de começar a sua redação, faça um projeto de
texto.

No dia da prova, você não terá um espaço específico


para desenvolver o seu projeto, apenas o rascunho e a
folha de redação.

Porém, é interessante encontrar um espacinho na folha


de rascunho para registrar suas principais ideias e
organizar seu projeto de texto.

De maneira simples e clara: o projeto de texto é o


esqueleto da sua redação.

Por meio dele você selecionará cada repertório,


argumento e item da proposta de intervenção.

Quanto antes você se habituar a seguir esse processo


antes de efetivamente escrever, melhor, pois te ajudará
a organizar suas ideias e evitará um texto bagunçado,
com excesso ou falta de informação.

Seu projeto deve conter os seguintes itens:

- Estratégia de introdução
- Tese 1 + repertório para tese 1
- Tese 2 + repertório para tese 2
- Proposta de intervenção

44
Nele, escreva todas as ideias que passarem pela sua
mente e depois selecione bons argumentos, que
sustentem a sua tese, e faça o encadeamento deles.

Assim, cada parágrafo apresentará informações novas


e coerentes com o que foi abordado antes, sem
repetição ou saltos gigantescos. Essas ideias, também,
devem justificar para o leitor o ponto de vista que você
escolheu.

Portanto, querido estudante: faça um projeto antes de


começar a escrever.

Você perceberá que essa é uma das partes mais


demoradas (já que envolve refletir sobre o tema e
pensar em possíveis argumentos e repertórios). Mas
depois que fizer o seu projeto, a escrita em si se torna
mais rápida.

45
Competência 4
A C4 avalia a sua capacidade de demonstrar
conhecimento dos mecanismos linguísticos
necessários para construir a argumentação. É uma
competência que analisa como você usa recursos
coesivos para articular os enunciados do texto (em
outras palavras, a coesão textual).

Mas Carol, o que é coesão?

Coesão é a ligação entre elementos que formam a


superfície textual, gerando sequências que transmitem
sentido. Ela é explicitamente revelada através de
marcas linguísticas (os famosos conectivos).

O uso de conectivos permite que as ideias do seu texto


sejam relacionadas e avancem, mas a questão não é só
utilizar os conectivos. O uso deles deve ser,
essencialmente, adequado e diversificado.

Portanto (olha o conectivo aqui), não adianta utilizar


"destarte" na redação se você não sabe o que isso
significa, muitos menos se você não sabe como está se
conectando às ideias do texto.

Outro aspecto importante na avaliação desta


competência é a repetição de elementos. É normal que
você repita algumas expressões referenciais,
conjunções, preposições, mas evite que isso aconteça
muitas vezes.

46
Mais um ponto relevante sobre o uso de conectivos: eles
devem ser utilizados dentro dos parágrafos e entre
parágrafos. Por isso recomendo a vocês que tentem
utilizar frases mais curtas e objetivas, pois isto
possibilita o uso de mais conectivos.

No próximo capítulo disponibilizarei uma tabela com


alguns conectivos que você pode utilizar, mas antes,
veja alguns bons exemplos de sua aplicação em
redações nota mil.

Em primeiro lugar, a negligência do Estado, a escassez de projetos


estatais que visem a assistência psiquiátrica na sociedade contribui
para a precariedade desse setor e para a continuidade desse estigma
envolvendo essa temática. Dessa maneira, parte da população deixa
de possuir tratamento adequado, o que resulta na piora de sua saúde
mental e na sua exclusão social. No entanto, apesar da Constituição
Federal de 1988 determinar como direito fundamental do cidadão
brasileiro o acesso à saúde de qualidade, essa lei não é concretizada,
pois não há investimentos estatais suficientes nessa área. Diante dos
fatos apresentados, é imprescindível uma ação do Estado para mudar
sua realidade.

Ademais, outro fator é responsável pela deficiência da democratização


no âmbito cinematográfico: a elitização do acesso. Segundo o filósofo
Pierre Lévy, toda tecnologia cria seus excluídos, de fato, a população
de baixa renda é mantida excluída no que diz respeito à tecnologia do
cinema, devido à segregação socioespacial. Nesse sentido, grande
parcela dos cinemas se localizam em "shoppings centers", com
ingressos caros que nem todos podem pagar. Desse modo, é
necessário que medidas sejam tomadas para garantir o acesso a todas
as classes.

47
Tabela de conectivos
Função Conectivos

Introdução Primeiramente, em primeiro lugar,


e relevância primordialmente, inicialmente, a princípio

Também, assim como, além disso, ainda,


Adição
ademais, outrossim, mas também, e

Mas, porém, todavia, contudo, entretanto,


Oposição no entanto, embora, em contrapartida,
apesar de

Por causa de, por isso, em virtude de, por


Causa e
conseguinte, haja vista que, já que, uma
consequência
vez que

Finalidade/ Para, para que, a fim de, com a finalidade


propósito de, de forma a, com o intuito de

Explicitação/ Isto é, ou seja, por exemplo, a exemplo de,


Exemplificação por exemplo, como

Consoante, conforme, como, segundo, de


Conformidade
acordo com, em conformidade com

Por isso, assim, então, logo, enfim,


Conclusão portanto, em suma, desse modo, dessa
forma, dessa maneira, assim sendo

48
Competência 5
Chegamos, enfim, à C5!

Ela é uma das maiores diferenças entre a redação do


Enem e de outros vestibulares, pois consiste na
produção de uma proposta de intervenção, respeitando
os direitos humanos.

Você não deve se preocupar em escrever uma proposta


que resolva 100% o problema. O importante é
demonstrar sua cidadania, sua capacidade de propor
uma solução para os problemas que você destacou,
portanto, sua proposta deve ser relacionada ao tema
da prova e à discussão desenvolvida no texto.

Geralmente adotamos o modelo conclusão-solução,


que é mais seguro. Ou seja, no momento em que você
for encerrar o texto, você escreve a sua proposta. Ela
pode aparecer no meio do texto, ao longo de parágrafos
de desenvolvimento, mas eu não recomendo que você
faça isso.

Embora as competências sejam avaliadas


individualmente, o texto é um só, e cada parte, da
introdução à conclusão deve estar conectada (ou
deveria).
Por isso, quando o corretor avalia a C3, por exemplo, ele
também olha para a sua proposta de intervenção, no
sentido que a sua proposta deve dialogar diretamente
com os argumentos que você defendeu ao longo do
texto.

49
Ou seja, não basta fazer uma proposta que resolva o
problema do tema. Idealmente, sua proposta deve
dialogar com os problemas que você apontou ao longo
do texto.

Aí você me pergunta: então eu preciso elaborar duas


propostas, já que eu defendo dois argumentos?

E a resposta é: não necessariamente.

O que será avaliado não é a quantidade de propostas


que você insere, mas a qualidade do que você elabora.
Além disso, o corretor fará a contagem daqueles cinco
elementos, para verificar se todos estão presentes.

Portanto, por mais que você faça duas propostas, a


mais completa será avaliada (se for as duas, ok).

Eu sugiro dois caminhos (aí cabe a você treinar e


escrever muitas redações para ver qual dá mais certo
para você):

1) Elabore apenas uma proposta (muito completa), mas


mencione os dois argumentos. Deixe explícito como
aquela única proposta pode atuar nos dois problemas.

2) Foque em um problema e faça uma proposta super


detalhada sobre ele. Em seguida, escreva outra
proposta, até que menos detalhada, cujo objetivo é
mencionar o argumento que ficou de fora e garantir que
os dois argumentos foram citados.

Vamos entender, na prática, como fazer a sua


proposta.

50
Ela deve conter, obrigatoriamente, cinco elementos
básicos:

- Ação.

-Agente (quem fará a ação, em diferentes níveis:


individual, familiar, comunitário, social, político,
governamental, mundial).

- Modo/meio de execução dessa ação.

-Efeito (resultados pretendidos e alcançados.


Geralmente será uma estrutura indicativa de finalidade,
consequência ou conclusão).

-Detalhamento de um desses aspectos


(exemplificação, explicação, justificativa ou
contextualização).

Para escrever sobre esses cinco elementos, você deve


responder a algumas perguntas:

Ação - O que deve ser feito?

Agente - Quem executa?

Modo/meio - Como se executa? Por meio do quê?

Efeito - Para quê?

Detalhamento - Que outra informação sobre esses


elementos posso acrescentar?

Vamos analisar, na prática, algumas propostas, a fim de


que você tenha modelos para fazer a sua.

51
Cabe ao Ministério da Educação criar um projeto para ser
desenvolvido nas escolas o qual promova palestras,
apresentações artísticas e atividades lúdicas a respeito do
cotidiano e dos direitos dos surdos - uma vez que ações
culturais coletivas têm imenso poder transformador - a fim
de que a comunidade escolar e a sociedade no geral - por
conseguinte - conscientizem-se.

Agente: Ministério da Educação


Ação: Criar um projeto
Meio/Modo: Palestras, apresentações artísticas e atividades lúdicas
Efeito: Conscientizar a comunidade escolar e a sociedade em geral
Detalhamento: O projeto deve ser desenvolvido na escola; devem ser
feitas atividades culturais pois elas têm imenso poder transformador.

Nesse sentido, urge que o Estado, por meio de envio de


recursos ao Ministério da Educação, promova a construção
de escolas especializadas em deficientes auditivos e a
capacitação de profissionais para atuarem não apenas
nessas escolas, mas em instituições de ensino comuns
também, objetivando a ampliação do acesso à educação
aos surdos, assegurando a estes, por fim, o acesso a um
direito garantido constitucionalmente.
Agente: o Estado
Ação: Construir escolas especializadas e capacitação de profissionais
Meio/Modo: Envio de recursos ao Ministério da Educação
Efeito: Ampliar o acesso à educação dos surdos
Detalhamento: Os profissionais capacitados devem atuar não apenas nas
escolas especializadas, mas em outras instituições.

Infere-se, portanto, que o controle do comportamento dos


usuários possui íntima relação com aspectos educacionais
e econômicos. Desse modo, é imperiosa uma ação do MEC,
que deve, por meio da oferta de debates e seminários nas
escolas, orientar os alunos a buscarem informações de
fontes confiáveis como artigos científicos ou por
intermédio da checagem de dados, com o fito de estimular
o senso crítico dos estudantes e, dessa forma, evitar que
sejam manipulados.
Agente: MEC
Ação: Orientar os alunos a como buscar fontes de informação confiáveis
Meio/Modo: Debates e seminários nas escolas
Efeito: Estimular o senso crítico dos estudantes e evitar que sejam
manipulados
Detalhamento: Orientar os alunos a buscar informações em artigos científicos
e checagem de dados

52
Orientações finais
Chegamos ao fim do nosso Guia!

Espero que você tenha aproveitado a leitura e tenha


aprendido muitas coisas sobre redação.

Este material é seu, então você pode consultá-lo


sempre que precisar.

Porém, não basta consultar. Você só terá bons


resultados quando começar a colocar tudo isso em
prática.

Não deixe de produzir pelo menos uma redação por


semana e estudar através das correções.

Além disso, não tenha medo de errar ou tirar dúvidas: o


momento é esse.

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53
Redações nota 1.000
Larissa Cristine Ferreira

Orgulho Machadiano

Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas "Memórias


Póstumas" que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o
legado da nossa miséria. Talvez hoje ele percebesse acertada sua decisão:
a postura de muitos brasileiros frente a intolerância religiosa é uma das
faces mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento. Com isso,
surge a problemática do preconceito religioso que persiste intrinsecamente
ligado à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta
mudança de mentalidade social.

É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as


causas do problema. Conforme Aristóteles, a poética deve ser utilizada de
modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De
maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a perseguição religiosa
rompe essa harmonia; haja vista que, embora esteja previsto na
Constituição o princípio da isonomia, no qual todos devem ser tratados
igualmente, muitos cidadãos se utilizam da inferioridade religiosa para
externar ofensas e excluir socialmente pessoas de religiões diferentes.

Segundo pesquisas, a religião afro-brasileira é a principal vítima de


discriminação, destacando-se o preconceito religioso como o principal
impulsionador do problema. De acordo com Durkheim, o fato social é a
maneira coletiva de agir e de pensar. Ao seguir essa linha de pensamento,
observa-se que a preparação do preconceito religioso se encaixa na teoria
do sociólogo, uma vez que se uma criança vive em uma família com esse
comportamento, tende a adotá-lo também por conta da vivência em grupo.
Assim, a continuação do pensamento da inferioridade religiosa, transmitido
de geração a geração, funciona como base forte dessa forma de
preconceito, perpetuando o problema no Brasil.

Infere-se, portanto, que a intolerância religiosa é um mal para a sociedade


brasileira. Sendo assim, cabe ao Governo Federal construir delegacias
especializadas em crimes de ódio contra religião, a fim de atenuar a prática
do preconceito na sociedade, além de aumentar a pena para quem o
praticar. Ainda cabe à escola criar palestras sobre as religiões e suas
histórias, visando a informar crianças e jovens sobre as diferenças
religiosas no país, diminuindo, assim, o preconceito religioso. Ademais, a
sociedade deve se mobilizar em redes sociais, com o intuito de
conscientizar a população sobre os males da intolerância religiosa. Assim,
poder-se-á transformar o Brasil em um país desenvolvido socialmente, e
criar um legado de que Brás Cubas pudesse se orgulhar.

54
Redação nota 1.000 - 2016
Thaís Fonseca Lopes de Oliveira

Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma enorme
pedra morro acima eternamente. Todos os dias, Sísifo atingia o topo do
rochedo, contudo era vencido pela exaustão, assim a pedra retornava à
base. Hodiernamente, esse mito assemelha-se à luta cotidiana dos
deficientes auditivos brasileiros, os quais buscam ultrapassar as
barreiras as quais os separam do direito à educação. Nesse contexto, não
há dúvidas de que a formação educacional de surdos é um desafio no
Brasil o qual ocorre, infelizmente, devido não só à negligência
governamental, mas também ao preconceito da sociedade.

A Constituição cidadã de 1988 garante educação inclusiva de qualidade


aos deficientes, todavia o Poder Executivo não efetiva esse direito.
Consoante Aristóteles no livro "Ética a Nicômaco", a política serve para
garantir a felicidade dos cidadãos, logo se verifica que esse conceito
encontra-se deturpado no Brasil à medida que a oferta não apenas da
educação inclusiva, como também da preparação do número suficiente
de professores especializados no cuidado com surdos não está presente
em todo o território nacional, fazendo os direitos permanecerem no
papel.

Outrossim, o preconceito da sociedade ainda é umgrande impasse à


permanência dos deficientes auditivos nas escolas. Tristemente, a
existência da discriminação contra surdos é reflexo da valorização dos
padrões criados pela consciência coletiva. No entanto, segundo o
pensador e ativista francês Michel Foucault, é preciso mostrar às
pessoas que elas são mais livres do que pensam para quebrar
pensamentos errôneos construídos em outros momentos históricos.
Assim, uma mudança nos valores da sociedade é fundamental para
transpor as barreiras à formação educacional de surdos.

Portanto, indubitavelmente, medidas são necessárias para resolver esse


problema. Cabe ao Ministério da Educação criar um projeto para ser
desenvolvido nas escolas o qual promova palestras, apresentações
artísticas e atividades lúdicas a respeito do cotidiano e dos direitos dos
surdos. - uma vez que ações culturais coletivas têm imenso poder
transformador - a fim de que a comunidade escolar e a sociedade no
geral - por conseguinte - conscientizem-se. Desse modo, a realidade
distanciar-se-á do mito grego e os Sísifos brasileiros vencerão o desafio
de Zeus.

55
Redação nota 1.000 - 2017
Matheus Pereira Rosi

Segundo o pensamento de Claude Lévi-Strauss, a interpretação adequada


do coletivo ocorre por meio do entendimento das forças que estruturam a
sociedade, como os eventos históricos e as relações sociais. Esse
panorama auxilia na análise da questão dos desafios para a formação
educacional dos surdos no Brasil, visto que a comunidade, historicamente,
marginaliza as minorias, o que promove a falta de apoio da população e do
Estado para com esse deficiente auditivo, dificultando a sua participação
plena no corpo social e no cenário educativo. Diante dessa perspectiva,
cabe avaliar os fatores que favorecem esse quadro, além de o papel das
escolas na inserção desse sujeito.

Em primeiro plano, evidencia-se que a coletividade brasileira é estruturada


por um modelo excludente imposto pelos grupos dominantes, no qual o
indivíduo que não atende aos requisitos estabelecidos, branco e abastado,
sofre uma periferização social. Assim, ao analisar a sociedade pela visão de
Lévi-Strauss, nota-se que tal deficiente não é valorizado de forma plena,
pois as suas necessidades escolares e a sua inclusão social são tidas como
uma obrigação pessoal, sendo que esses deveres, na realidade, são
coletivos e estatais. Por conseguinte, a formação educacional dos surdos é
prejudicada pela negligência social, de modo que as escolas e os
profissionais não estão capacitados adequadamente para oferecer o
ensino em Libras e os demais auxílios necessários, devido a sua exclusão,
já que não se enquadra no modelo social imposto.

Outro ponto relevante, nessa temática, é o conceito de Modernidade


Líquida de Zygmunt Bauman, que explica a queda das atitudes éticas pela
fluidez dos valores, a fim de atender aos interesses pessoais, aumentando
o individualismo. Desse modo, o sujeito, ao estar imerso nesse panorama
líquido, acaba por perpetuar a exclusão e a dificuldade de inserção
educacional dos surdos, por causa da redução do olhar sobre o bem-estar
dos menos favorecidos. Em vista disso, os desafios para a formação
escolar de tais deficientes auditivos estão presentes na estruturação
desigual e opressora da coletividade, bem como em seu viés individualista,
diminuindo as oportunidades sociais e educativas dessa minoria.

Logo, medidas públicas são necessárias para alterar esse cenário. É


fundamental, portanto, a criação de oficinas educativas, pelas prefeituras,
visando à elucidação das massas sobre a marginalização da educação dos
surdos, por meio de palestras de sociólogos que orientem a inserção social
e escolar desses sujeitos. Ademais, é vital a capacitação dos professores e
dos pedagogos, pelo Ministério da Educação, com o fito de instruir sobre as
necessidades de tal grupo, como o ensaio em Libras, utilizando cursos e
métodos para acolher esses deficientes e incentivar a sua continuidade nas
escolas, a fim de elevar a visualização dos surdos como membros do corpo
social. A partir dessas ações, espera-se promover uma melhora das
condições educacionais e sociais desse grupo.

56
Redação nota 1.000 - 2018
Pedro Assaad

As primeiras duas décadas do século XXI, no Brasil e no mundo globalizado,


foram marcadas por consideráveis avanços científicos, dentre os quais
destacam-se as tecnologias de informação e comunicação (TICs). Nesse
sentido, tal panorama promoveu a ampliação do acesso ao conhecimento,
por intermédio das redes sociais e mídias virtuais. Em contrapartida, nota-
se que essa realidade impôs novos desafios às sociedades
contemporâneas, como a possibilidade de manipulação comportamental
via dados digitais. Desse modo, torna-se premente analisar os principais
impactos dessa problemática: a perda da autonomia de pensamento e a
sabotagem dos processos políticos democráticos.

Em primeira análise, é lícito postular que a informação é um bem de valor


social, o qual é responsável por modular a cosmovisão antropológica
pessoal e influenciar os processos de decisão humana. Nesse raciocínio, as
notícias e acontecimentos que chegam a um indivíduo exercem forte poder
sobre tal, estimulando ou suprimindo sentimentos como empatia, medo e
insegurança. É factual, portanto, que a capacidade de selecionar - via
algoritmos - as reportagens e artigos que serão vistos por determinado
público constitui ameaça à liberdade de pensamento crítico. Evidenciando o
supracitado, há o livro " Rápido e devagar: duas formas de pensar", do
especialista comportamental Daniel Khaneman, no qual esse expõe e
comprova - por meio de décadas de experimentos socioculturais - a
incisiva influência dos meios de comunicação no julgamento humano.
Torna-se clara, por dedução analítica, a potencial relação negativa entre a
manipulação digital por dados e a autonomia psicológica e racional da
população.

Ademais, é preciso compreender tal fenômeno patológico como um


atentado às instituições democráticas. Isso porque a perspectiva de mundo
dos indivíduos coordena suas escolhas em eleições e plebiscitos públicos.
Dessa maneira, o povo tende a agir segundo o conceito de menoridade, do
filósofo iluminista Immanuel Kant, no qual as decisões pessoais são
tomadas pelo intelecto e influência de outro. Evidencia-se, assim, que o
domínio da seletividade de informações nas redes sociais, como Facebook e
Twitter, pode representar uma sabotagem ao Estado Democrático.

Em suma, a manipulação comportamental pelo uso de dados é um


complexo desafio hodierno e precisa ser combatida. Dessarte, as
instituições escolares - responsáveis por estimular o pensamento crítico
na população - devem buscar fortalecer a capacidade de julgamento e
posicionamento racional nos jovens. Isso pode ser feito por meio de
palestras, aulas e distribuição de materiais didáticos sobre a filosofia
criticista e sociologia, visando aprimorar o raciocínio autônomo livre de
influências. Em paralelo, as grandes redes sociais, interessadas na
plenitude de seus usuários, precisam restringir o uso indevido de dados
privilegiados. Tal ação é viável por intermédio da restrição do acesso, por
parte de entidades políticas, aos algoritmos e informações privadas de
preferências pessoais, objetivando proteger a privacidade do indivíduo e o
exercício da democracia plena. Desse modo, atenuar-se-á, em médio e
longo prazo, o impacto nocivo do controle comportamental moderno, e a
sociedade alcançará o estágio da maioridade Kantiana.

57
Redação nota 1.000 - 2019
Isabelle Moreira

A Constituição Federal de 1988 ― norma de maior hierarquia do


sistema jurídico brasileiro ― garante o acesso ao lazer. No entanto, a
população se mostra distante da realidade prometida pela norma
constitucional, haja vista que os cinemas brasileiros recebem um
público cada vez menor. Dessa forma, entende-se que a desigualdade
regional, bem como a elitização do acesso ao cinema apresentam-se
como entraves para a inclusão na esfera cinematográfica.

Em primeiro plano, é necessário ressaltar que o acesso ao cinema é mal


distribuído no território brasileiro. A esse respeito, em 1956, durante o
governo de Juscelino Kubitschek, multinacionais se instalaram no
Brasil, majoritariamente, nas regiões Sul e Sudeste. Desse modo, na
contemporaneidade, o país expandiu sua preferência regional para a
indústria cinematográfica, de modo que as regiões Norte e Nordeste
ainda apresentam-se excluídas a esse acesso ao lazer, pelo fato de as
empresas preferirem construir os cinemas em grandes metrópoles as
quais lhes darão mais lucro. Nesse viés, enquanto parcela do país for
privilegiada, o direito constitucional será uma realidade distante para
parte da população.

Ademais, outro fator é responsável pela deficiência da democratização


no âmbito cinematográfico: a elitização do acesso. Segundo o filósofo
Pierre Lévy, toda tecnologia cria seus excluídos, de fato, a população de
baixa renda é mantida excluída no que diz respeito à tecnologia do
cinema, devido à segregação socioespacial. Nesse sentido, grande
parcela dos cinemas se localizam em "shoppings centers", com
ingressos caros que nem todos podem pagar. Desse modo, é necessário
que medidas sejam tomadas para garantir o acesso a todas as classes.

Fica evidente, portanto, que nem todos têm acesso ao cinema como
entretenimento. Nesse contexto, cabe ao Ministério da Cultura ― órgão
responsável pelo sistema cultural brasileiro ― garantir à população a
oportunidade de frequentar um cinema, por intermédio de políticas de
descontos na compra de ingressos de acordo com a renda, a fim de
incluir toda sociedade no "mundo cinematográfico". Dessa forma, os
brasileiros verão o direito garantido pela Constituição como uma
realidade próxima.

58
Redação nota 1.000 - 2020
Adrielly Clara

No filme estadunidense "Joker", estrelado por Joaquin Phoenix, é retratado a


vida de Arthur Fleck, um homem que, em virtude de sua doença mental, é
esquecido e discriminado pela sociedade, acarretando, inclusive, piora no seu
quadro clínico. Assim como na obra cinematográfica abordada, observa-se
que, na conjuntura brasileira contemporânea, devido a conceitos
preconceituosos perpetuados ao longo da história humana, há um estigma
relacionado aos transtornos mentais, uma vez que os indivíduos que sofrem
dessas condições são marginalizados. Ademais, é precisa salientar, ainda,
que a sociedade atual carece de informações a respeito de tal assunto, o que
gera um estranhamento em torno da questão.

Em primeiro lugar, faz-se necessário mencionar o período da Idade Média, na


Europa, em que os doentes mentais eram vistos como seres demoníacos, já
que, naquela época, não havia estudos acerca dessa temática e,
consequentemente, ideias absurdas eram disseminadas como verdades. É
perceptível, então, que exista uma raiz histórica para o estigma atual
vivenciado por pessoas que têm transtornos mentais, ocasionando um
intenso preconceito e exclusão. Outrossim, não se pode esquecer que, graças
aos fatos supracitados, tais indivíduos recebem rótulos mentirosos como,
por exemplo, o estereótipo de que todos que possuem problema psicológicos
são incapazes de manter relacionamentos saudáveis, ou seja, não
conseguem interagir com outros seres humanos de forma plena. Fica claro,
que as doenças mentais são tratadas de forma equivocada, ferindo a
dignidade de toda a população.

Em segundo lugar, ressalta-se que há, no Brasil, uma evidente falta de


informações sobre os transtornos mentais, fomentando grande preconceito
estranhamento com essas doenças. Nesse sentido, é lícito referenciar o
filósofo grego Platão, que em sua obra "A República", narrou o intitulado
"Mito da Caverna", no qual homens, acorrentados em uma caverna, viam
somente sombras na parede, acreditando, portanto, que aquilo era a
realidade das coisas. Dessa forma, é notório, que, em em situação análoga à
metáfora abordada, os brasileiros, sem acesso aos conhecimentos acerca
dos transtornos mentais, vivem na escuridão, isto é, ignorância disseminando
atitudes preconceituosas. Logo, é evidente a grande importância das
informações, haja vista que a falta delas aumenta o estigma relacionado às
doenças mentais, prejudicando a qualidade de vida das pessoas que sofrem
com tais transtornos.

Destarte, medidas são necessárias para resolver os problemas discutidos.


Isto posto, cabe à escola, forte ferramenta de formação de opinião, realizar
rodas de conversa com os alunos sobre a problemática do preconceito com
os transtornos mentais, além de trazer informações científicas sobre tal
questão. Esse ação pode se concretizar por meio da atuação de psiquiatras e
professores de sociologia, estes irão desconstruir a visão discriminatória dos
estudantes, enquanto que aqueles irão mostrar dados/informações
relevantes sobre as doenças psiquiátricas. Espera-se, com essa medida, que
o estigma associado às doenças mentais seja paulatinamente erradicado.

59

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