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Nota
Este livro foi scaneado por Ricardo Mauricio Beskow e Fernando de Paula
Zamboni e corrigido por Fernando de Paula Zamboni; para uso exclusivo de
deficientes visuais, de acordo com as leis de direitos autorais. Para este fim se utilizou
de um sintetizador de voz. Portanto o livro pode conter erros de diagramação e outros.
Maio de 2002.
Fim da nota
LAURO TREVISAN
SÓ O AMOR É INFINITO
Lauro Trevisan é famoso no Brasil e Exterior, por suas Jornadas sobre o Poder da
Mente, tendo escrito 30 livros até 1994, além de livretos, mensagens, poesias, e uma
série de fitas cassete e de vídeo. Além de conferencista e orador empolgante, que
arrasta multidões, é sucesso também na literatura, desses fenômenos que acontecem de
raro em raro. Só o seu livro “O Poder Infinito da Sua Mente” já atingiu a venda de
oitocentos mil exemplares e foi traduzido para várias línguas. Escreveu, ainda, livros
infantis, de humorismo e de poesias. E, agora, penetra, com força incrível e capacidade
criadora que nada deixa a desejar aos grandes ficcionistas, pelos domínios do
ROMANCE.
O autor é jornalista, pós-graduado em Filosofia, com cursos de Psicologia,
Parapsicologia, Teologia, Psicotrônica, Bioenergética, Análise Transacional,
Administração de Empresas e muitos outros.
Conseguiu alcançar uma profunda compreensão das Forças Interiores e da fé,
pois é sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana. Veja o que ele escreveu a
respeito deste romance:
“Estou lançando mais um livro, pela Editora da Mente. Trata-se de um gênero literário
pelo qual ainda não havia incursionado: o romance.
Coloquei todo o engenho e arte para dar ao público uma obra que arraste o leitor, jogando-
o no mundo maravilhoso dos sentimentos, das emoções, das situações dramáticas, das
conturbações da vida, dos grandes feitos, do amor e da violência, da justiça e da injustiça...
Uma história semeada de poesia, de ternura e de bondade; momentos em que a vida dá um
toque de felicidade e de elevação; situações em que o diálogo sobre os diversos aspectos da vida
trazem mensagens que penetram na alma.
Pode ser que este livro seja motivo de contradições para algumas pessoas, mas não para
você, que tem uma elevada compreensão da vida humana e dos seus grandiosos mistérios.
Todas as pessoas que leram a história ficaram emocionadas e gostaram demais.
Você verá como a grandeza do coração consegue transformar as desgraças e maldades em
impulsos para belas realizações.
Há pessoas, como você e como um dos personagens do romance, que conseguem recolher
as pedras jogadas no caminho e com elas construir um mundo bonito.
Muitas vezes, a gente se perde pelos labirintos da educação, da religião, dos hábitos e
costumes, e esquece que só o amor é infinito.
Sim, aí está o título do livro: “Só o Amor é Infinito”.
Este livro precisa ser lido com espírito superior, liberto de preconceitos, lembrando
intimamente que tudo passa neste mundo: “Só o Amor é Infinito.”
Domingo. Oito horas da noite. Uma noite fria de outono. As ruas da pequena
cidade de Alvores estavam em burburinho. O povo se dirigia para a igreja matriz onde
o novo pároco iria apresentar-se à comunidade. Há quatro meses a igreja permanecia
fechada, desde o falecimento do padre Charles Henkin. Depois de muitos apelos ao
Bispo, finalmente Alvores recebia seu novo pároco, um mocetão másculo, simpático e
inteligente, recém-formado pelo Instituto Teológico de Rosandur. A igreja estava cheia.
De fiéis e de curiosos. Após as primeiras preces da missa, o novo pároco ouviu a carta
do apóstolo Paulo aos coríntios, leu o evangelho em voz alta, fez o sinal da cruz e
apresentou-se à comunidade:
“A paz esteja com vocês. Fui chamado para conviver com vocês e aqui estou.
Meu nome é Maurício Dollá. É muito possível que estejam esperando um sacerdote
santo, perfeito, dado a elevados gestos de heroísmo. Eu sou apenas um homem de
Deus, que aqui chego com a honesta e sincera disposição de ajudar a todos e a cada um
em tudo o que puder.”
Um pequeno ruído no fundo da igreja fez com que o padre suspendesse por
frações de segundos suas palavras. Era uma jovem elegante, loira, cabelos caindo pelos
ombros como uma suave cascata de mel. De fisionomia abatida, veio seguindo pelo
corredor central, pouco se importando com os olhares curiosos que a miravam como se
fosse um animal raro. Sentou-se no primeiro banco. Só então as atenções gerais se
voltaram novamente para o pregador:
“Não serei tão presunçoso a ponto de dizer que não tenho falhas. Quem não as
tem? Há, no entanto, muita gente que não admite o mínimo erro num ministro de
Deus. E há gente mais rigorista ainda, que passa o dia tentando caçar defeitos para ter
a honra de contar a todo mundo que o padre não é lá essas coisas... Suponho que não
seja justo e nem cristão pensar e agir assim. Sempre é bom relembrar que o sacerdócio é
divino, mas o sacerdote é humano. Nem anjo, nem ser sobrenatural. Homem.
Conhecem a história do apóstolo Pedro? Negou o Mestre três vezes e nem por isso
Jesus deixou de fazer dele a pedra principal da Igreja. Estejam certos, porém, de que
buscarei, de todo coração, servir, ajudar, amar, estar junto, nas horas de alegria e nas
horas de tristeza. Onde houver uma alma angustiada, onde houver um coração sofrido,
onde houver alguém necessitando de apoio, aí procurarei estar eu. As portas de minha
casa estarão sempre abertas, em qualquer hora do dia e da noite, para receber os gritos
de socorro de quem quer que seja.”
A jovem do primeiro banco estava pendente dos lábios do pregador. Logo que
fixou os olhos naquele rapagão vigoroso, bronzeado, de cabelos negros e olhar suave,
que aí estava a quatro metros de distância, todo vestido de branco, sentiu um golpe
interior que não sabia explicar. Uma espécie de fascínio todo especial.
As palavras, tão diferentes das que costumava proferir o falecido padre Charles,
iam penetrando, uma a uma, no fundo do seu coração. Com aquele vozeirão fanhoso e
cheio de sotaque, ao padre Charles agradava sobremaneira investir contra os maus
hábitos e pecados do povo de Alvores. Já o padre recém-vindo, que aí estava pela
primeira vez diante dela, nada mais fazia do que reconhecer suas limitações e oferecer
sua dedicação para ajudar aos que a ele quisessem recorrer.
Pôs-se, então, a recordar os tristes acontecimentos daquele dia. Seu noivo
Corrégio, filho do doutor Onofre Álbarus, mais uma vez dera o maior vexame,
Depois de três dias de viagem exaustiva e monótona nos velhos trens que
demandavam à fronteira, finalmente o padre Maurício chegou ao pequeno povoado de
Espigão do Inferno. Empoeirado até os miolos, com a barba por fazer, rosto caído de
cansaço, ele parecia um raro exemplar da fauna humana. Estava todo doído das longas
horas de sacolejamento dos vagões. Gente pobre e mal-encarada entrava e saía do trem,
como se a chegada do comboio fosse uma festa naquele lugar. Alguns casebres
alinhavam-se ao longo da estação. Lá no alto, a cerca de um quilômetro para cima de
uma encosta árida e cheia de erosões, podia ver a torre gosmenta e envelhecida da
igrejinha.
- Só pode ser lá - pensou ele.
- Não viu nenhum carro. Apenas uma carroça puxada por dois cavalos, que logo
se encheu de gente e partiu, levantando grossa coluna de poeira.
Maurício tentou fazer uma idéia da região. Era tudo seco, envelhecido, estranho.
Teve a impressão de ter descido de um disco voador num mundo sombrio e inóspito.
As sombras pardas do entardecer abalaram ainda mais o seu ânimo. Teve vontade de
chorar.
E de esperar aí, sentado nos bancos imundos da estação, o próximo trem e
retornar para a sua terra natal. Subitamente, porém, sacudiu o torpor, agarrou com
raiva a mala, colocou-a nas costas e pôs-se a subir a encosta íngreme e pedrenta.
No bar da esquina, alguns homens barbudos e rotos ficaram na porta a observar,
com curiosidade, aquele estranho, que vestia diferente e que andava diferente.
Teve que descansar várias vezes. A subida era difícil devido ao pedregulho solto
na terra esbrugada.
No alto do Espigão, só a velha igrejinha e, ao lado, a casa do padre, encardida,
vetusta, as paredes quase totalmente descascadas. Apenas uma árvore, caindo de
podre, à esquerda da casa. A desolação da natureza era total e deprimente. Lá embaixo,
no entanto, do outro lado do morro, um imenso lago, comprimido pelas rochas
abruptas, mudava um pouco a agressividade da paisagem.
Na enseada, muitos barcos, alguns miseráveis, outros mais bem equipados e até
mesmo com velas enfunadas. Ao longo da enseada, estendendo-se para o norte,
enfileiravam-se os casebres dos pescadores.
Espigão do Inferno vivia dos minguados recursos da pesca. A terra, madrasta e
seca, nada produzia, a não ser algumas ervas ralas, mais para a banda direita do lago,
onde uma dezena de cabras tentavam defender a vida.
Maurício bateu à porta da casa do padre. Uma senhora idosa veio atender.
- Boa-tarde. Sou o novo padre destinado a esta paróquia.
- Ah, sim - respondeu a senhora - um momento que vou avisar o padre Keningan.
Instantes depois, voltou a senhora, abriu bem a porta e pediu para Maurício
entrar. Era realmente uma casa muito pobre. Móveis carcomidos pelo tempo e pelo
calor. Atravessou um pequeno corredor escuro, em que o assoalho rangia
soturnamente, e foi conduzido ao quarto do padre Keningan.
Ele estava deitado. Velho, doente, magro, cabelos brancos em desalinho, com
dois sulcos largos na testa. A barba estaria por fazer há duas semanas. Seus olhos, no
entanto, luziam com energia. Recostou-se na cabeceira da cama, que rangeu como
madeira velha, e olhou, com surpresa, para o recém-vindo:
“Alvores, 18 de dezembro
Maurício
Desejo, de coração, que esta carta encontre você muito feliz e cheio de saúde. Lembro, com
muito carinho, todos os momentos que passamos juntos, conversando, trabalhando, meditando,
brincando, passeando, curtindo as boas coisas da vida.
***FIM***