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Eu me chamo Elizeu
filho de Orpheu.
Não tenho partido
e perdido caminha o homem
que caiu ao solo dos tolos.
Eu me chamo Elizeu
filho de Orpheu.
Carrego a flecha
do Super-Homem
para cravar a maçã.
Eu me chamo Elizeu
filho de Orpheu.
Levanto a pedra
que amanheceu
tomada de fogo.
Eu me chamo Elizeu
filho de Orpheu.
Desejo a rosa
que se eleva
até a luz do céu.
Guarda as coisas
que são tuas
para que ninguém
possa roubá-las;
guarda-as debaixo
da Pedra oculta,
para que o Tempo
não as destrua;
guarda,
mas não as esconda;
necessariamente
guarda as coisas
no teu coração.
O SOM E O SENTIDO
Não me lembro exatamente da primeira vez que o vi, mas posso assegurar que
esse encontro se deu no início dos anos oitenta, quando recém chegado do
recôncavo Baiano, do município de Castro Alves, fez parte da agremiação literária
CEPA, onde foi Relações Pública e editor da Revista CEPA Cultural, ao lado do poeta
alagoano José Inácio Vieira de Melo. Sua inclusão nos círculos literários na Bahia,
se deu timidamente; primeiro colaborando em “Letra Viva”, página do Caderno
Cultural do Diário Oficial do Estado, época em que estivemos juntos em vários
eventos promovidos pelo CEPA.
Os tempos tinham mudado. A sua ressurreição fez o poeta aparecer sob novas
vestes, tangenciando os males, persistindo na temática do mundo, com seus
componentes rítmicos e métricos, bem como às dificuldades e as soluções
encontradas em cada verso. A obra de Elizeu Moreira conseguiu produzir uma
expressão poética capaz de profunda ressonância. É bem verdade que o processo
de montagem e desmontagem do poema favorece a revelação. É com essa
disposição que o poeta castroalvense enfrenta a realidade para sentir
verdadeiramente o caos que está reservado e pronto a se revelarem.
Na geografia da vida
- o ser é aquele,
que em sua circunstância,
de realidade
é o que é por si próprio.
E mais adiante:
o tempo se estende
no poema da existência.
O amor se desdobra
como as pontas do sol
- para dentro de minha alma.
Angustiado pela pressão dos modelos de gerações anteriores, força que regiam a
atividade da vida literária na Bahia, e insuficiente para dar conta das novas
necessidades, Elizeu Paranaguá rompe o círculo de ferro que emperrava as
modificações de alteração da ordem vigente; Para produzir uma poesia que
refletisse dois momentos diversos, articulando as noções de distância e
desaparecimento – de vida e morte, que significa seu próprio caos. Por isso é
desligado de qualquer coisa que limite a sua espontaneidade.
Pedra do Caos, livro inédito, que reúne uma parte significante da sua obra, a ser
publicado pela Fundação Cultural do Estado, através da coleção editorial Selo Bahia
é um livro carregado de emoções, resultado de uma conquista notável, que irradia
a própria vida do poeta. Ou como disse o poeta Ezra Pound, a poesia é a forma
carregada de significado ao último grau.