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Roland Barthes
Bernardo Almeida
Poesias
1. Bilheteria 31. Molho requentado
2. Geração exonerada 32. Mutação
3. De braços dados 33. Institucionalizado
4. Aventura idílica 34. Crime e castigo
5. Ditadura do relógio 35. Encontro surpresa
6. Perfume 36. Desnutrição
7. Pagão 37. Chamas
8. Morfina 38. O segundo toque
9. Voto nulo 39. Profecia
10. Perplexo 40. Lança fortuita
11. De lado 41. Clandestino (viajante)
12. Prescindível 42. Desaparição
13. Sobras 43. Cela de ouvido
14. Porta adentro 44. Castelo abandonado
15. Mundo inundado 45. Amor Lumière (Plus belle)
16. Vigarista 46. Rompante canibal
17. Nem um, nem outro 47. Isca da jovialidade
18. Fumaça 48. Amigos do entorno
19. Rescisão 49. Duplo
20. Condenação sócio-laboral 50. Permuta
21. Águas passadas 51. Mesa farta
22. O brinde da moeda humana 52. Conforto passageiro
23. Contatos noturnos 53. Múltipla (transcendental)
24. Augusta 54. Oito
25. Negativo 55. Enganados
26. Vale-vida 56. Debate
27. Observador 57. Cacos espremidos
28. O veneno da saudade 58. Clichê
29. Deuses e demônios 59. Cartas anônimas
30. Desapego real 60. Au revoir!
1. Bilheteria
3. De braços dados
A vida não é o contrário da morte
Mas sim o seu meio
A morte não é o contrário da vida
Mas sim o seu cume
(Bernardo Almeida)
4. Aventura idílica
6. Perfume
Escuto seu perfume a me chamar
Manhã e noite ele me diz querer mais
Borrifo novas gotas de mim em você
E seus olhos brilham, a sua pele resplandece
7. Pagão
8. Morfina
9. Voto nulo
No campo de batalha
As mentiras possuem verdades de ferro
E as camisas de força estão atadas aos libertários
Helicópteros que sobrevoam em intensidade
As condições e incisões desiguais
Da cidade que suga o capitalismo com um consumo
Que foge ao seu próprio plano estratégico
E o sucesso, e o fracasso, e a mordaça
É a proposição mais fértil da coragem rebelde
Daqueles que resistem por toda a cidade
Mas não confiam plenamente nas promessas
De liberdade de expressão disseminadas
Por uma armada democrática pós-ditadura
E o Estado consegue exibir intenções de paz e liberdade
Por trás de contas em paraísos fiscais de agressões
Subornos, extorsões, truculências e censuras
E o país emite promessas - que jamais farão cessar a fome
Mas que renderão votos dos famintos
Nas eleições dos crápulas e verdugos (imóveis – pierrôs que
constrangem em carnaval de música monossilábica) malditos
Na assunção dos cafetões que prostituem
O trabalho do trabalho brasileiro
10. Perplexo
11. De lado
12. Prescindível
13. Sobras
18. Fumaça
A avenida é paulista
Mas os pedestres
São de todos os lugares
Cruzam-se, debatem-se e ignoram-se
Em buzinas de sirenes de ambulâncias de polícias
E, do alto, a dupla hélice metálica
Dos helicópteros alternam-se e assistem
Ao drama do cotidiano
Cada vida é uma remessa de jornal encalhado
Um relógio adiantado
Em um braço sempre atrasado
Nas esquinas urbanas, afeto é silêncio
E respeito é indiferença
No escritório, a ansiedade
Espera pelo happy hour do dia
“Talvez amanhã, quem sabe...”
Oitenta leões e uma forca
O dinheiro é o marca-passo
E a apatia é conivente com a bravura
No espaço em que a convivência
É um ato de loucura
Há arte no teto
Um painel em tons de cinza
Anuncia qualquer coisa indefinida
Uma chuva ácida de melancolia cosmopolita
Mas não sobra tempo para detalhes
E cada um é só, mais uma triste interrogação
Que tenta ganhar a vida
Em um dia de um segundo
Numa extraordinária correria comum
Enquanto os monumentos observam estáticos
A genérica beleza da arquitetura humana
Projetada e talhada em concreto e carne
Marcando no mapa as luzes esfumaçadas
De uma ilha de calor carcinogênico
No espetáculo diário dos artistas dos semáforos
E na esmola dada por compensação
O progresso que conheces não tem nome
Malmente aprendeu a ler
Mas é pós-doutor em cálculos de estatística
E cedo ou tarde
Inevitavelmente irá subtrair você
25. Negativo
Não me sinta
Não me convença
Não me leia
Não me entenda
Não me procure
Não me imite
Não me mova
Não me drogue
Não me beba
Não me cultive
Não me retorne
Não me mantenha
Não me proíba
Não me cape
Não me cale
Não me mate
Não me responda
Não me pergunte
Não me mutile
Não me desespere
Não me diga
Não me empurre
Não me engula
Não me admita
Não me tolere
Não me maltrate
Não me exaspere
Não me espere
Não me agrade
Não me repita
Não me convença
Não me permita
Não me obedeça
Não me pertença
Não me peça
Não me perturbe
Não me vigie
Não me agrida
Não me lapide
Não me represente
Não me deixe
Não me beije
Não me abrace
Não me maltrate
Não me convide
Não me acalme
Não me inale
Não me atrase
26. Vale-vida
27. Observador
Olhei a flor
Mas não a toquei
Apenas apreciei a sua beleza
Olhei a abelha
Esta penetrou a flor
Tomou-lhe apenas um pouco de mel
Olhei a paisagem
Esta pegou o colorido e o aroma da flor
Precisava completar-se
Olhei o homem
Este arrancou a flor
E encerrou, à seu gosto, o ciclo da vida
Um brinde à morte
Esta idônea rapariga
Que de tão especial que é
Restringe-se a aparecer
Uma única vez em cada e toda vida
32. Mutação
33. Institucionalizado
39. Profecia
42. Desaparição
Sorte a minha não ter precisado jogar cinqüenta preciosos anos aos ares
Como a poeira deixada por um corpo cremado pelas mãos restantes
Para descobrir que tentavam ludibriar-me através de variados meios
Visto que a única láurea da vida consiste em vivê-la plenamente
49. Duplo
50. Permuta
58. Clichê
60. Au revoir!