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Agressividade ou falta de limites?

Onde começa uma e onde termina a outra?


Quem sabe?
É difícil de se precisar...

Mas podemos buscar um significado para este comportamento (obviamente, após


descartado algum problema médico), se o entendermos, não como uma doença,
mas sim como uma reação de saúde a um ambiente em desequilíbrio, quer seja
este conflituoso, ou carente de limites.

Parece complicado, não? Mas, calma aí, já vamos explicar.

Primeiro, imagine uma criança que viva num ambiente conflituoso, em que
os pais não se entendem. Ou estão sempre tão ocupados, que a família não
consegue se reunir. Ou se já se separaram, mas continuam brigando. Ou ainda,
numa casa que até parece a "casa da mãe Joana", e os pais não conseguem
exercer seu papel de donos da casa, todos se intrometem, dando palpites,
e a criança fica sem saber o que é certo, o que é errado, ou a quem obedecer.

Difícil imaginar? Viver, então, hein!

Agora, volte no tempo e imagine o nascimento dessa mesma criança na sua


família. Você há de concordar que, independente do clima ou das condições
para sua chegada, os olhares voltam-se todos para ela, certo?

À medida que ela vai crescendo, todas as vezes que ela chora: atenção para
ela! Todas as vezes que ela cai ou se machuca: atenção para ela! E as gracinhas?
Ah, encanta a todos, não é verdade?

Não podemos negar. Esta "escola" dá, à criança, um aprendizado e tanto.


Ela se torna "mestre em ser o centro das atenções"! E esta bagagem vai se
transformando, gradualmente, num recurso disponível para ela utilizar nas
novas situações de vida que forem surgindo.

Na verdade, apesar de um vocabulário restrito e ainda em expansão, a criança


tem uma sensibilidade aguçada e uma grande capacidade de percepção do que
está se passando ao seu redor. Preocupa-se e, acredite, tenta buscar soluções:
à sua maneira, de acordo com seu nível de maturidade e da bagagem que traz
das experiências relacionais adquiridas anteriormente.

Enfim, o que nós acreditamos e que afirmamos agora para vocês, é que a reação
de agressão e da falta de limites, nos diferentes graus em que se apresenta,
torna-se um pedido de socorro da criança aos seus pais. Porque, ao chamar
atenção para o seu comportamento, ela faz com que, pelo menos naquele momento,
os outros problemas que estão acontecendo sejam esquecidos, ou deixados
de lado. Não é assim que acontece na maioria das vezes?

Portanto, você pai e você mãe, vamos lá, fujam dos rótulos. Tirem os óculos
que os fazem enxergar sua criança com preocupação ou mesmo irritação, e
apropriem-se de um novo olhar: um olhar de "com-paixão". Procurem decifrar
o que ela está tentando dizer, indiretamente, com seu comportamento agressivo
ou sem limites. Nenhuma criança faz nada à toa, há sempre um "para que"
por trás das situações nas quais ela chama as atenções para si. Conversem!
Reflitam sobre estas e outras questões pertinentes ao ambiente em que sua
família está vivendo. Às vezes, até a situação da chegada de um irmãozinho,
faz com que ela apenas esteja pedindo para ser vista, cuidada e incluída.
E, se estiver difícil para vocês, procurem a ajuda de um profissional da
área; nada melhor do que ser ajudado para sair de uma situação de sofrimento.
O sofrimento é desnecessário, e não precisamos ficar agarrados a ele, ou
sermos arrastados por ele.

Ana Silvia Teixeira e Vera Risi


Terapeutas de Família

Alfabetização : Fracassos e Sucessos

Jessica Walter da Silva Costa


Pedagoga e Professora com Pós Graduação em Educação Infantil

Os instrumentos de trabalho de um alfabetizador são abstratos e incluem


alguns conhecimentos básicos sobre sons da fala, letras do alfabeto e
língua.
O alfabetizador deve ter respeito pelos alunos, evitar o papel de cúmplice
de um sistema interessado em manter esmagada uma grande parte de seu povo,
confiar na capacidade de desenvolvimento dos alunos e Ter a criatividade,
inventividade, iniciativa, combatividade e fé em sua capacidade em tornar
este mundo melhor.
Para que uma pessoa possa aprender a ler e a escrever, há alguns
saberes que ela precisa atingir e algumas percepções que ela deve realizar
conscientemente.
A primeira coisa que a criança precisa saber é o que representam
aqueles risquinhos pretos em uma página branca. Para entender que os
risquinhos pretos no papel são símbolos de sons da fala, é necessário
compreender o que é um símbolo.
Uma criança que ainda não consiga compreender o que seja uma relação
simbólica entre dois objetos não conseguirá aprender a ler.
As letras para quem não se alfabetizou, são risquinhos preto na página
branca. O aprendiz precisa ser capaz de entender que cada um daqueles
risquinhos vale como símbolo de um som da fala. O aprendiz deve poder
discriminar as formas das letras. A criança que não leva em conta
conscientemente percepções visuais finas não aprende a ler.
Conscientização da percepção aditiva é outro problema para o aprendiz.
Se as letras simbolizam sons da fala, é preciso saber ouvir diferenças
linguísticamente relevantes entre esses sons, de modo que se possa escolher
a letra certa para simbolizar cada som.
Só será capaz de escrever aquele que tiver a capacidade de perceber as
unidades sucessivas de sons da fala utilizadas para enunciar as palavras e
de distingui-las conscientemente umas das outras.
Não se aprende a ler e a escrever espontaneamente. Ninguém o faz sem
que lhe seja ensinado intencional e explicitamente.
Uma das funções capitais da escola é, justamente a função de
alfabetizar a população, ou seja, possibilitar o acesso à cultura escrita.
Isso significa que o saber espontâneo infantil embora surpreendente não
basta. Em primeiro lugar, nem todos os alunos dispõe das mesmas idéias
prévias em relação à língua escrita. Tais idéias nasceram da reflexão sobre
experiências.
Ensinar a ler e a escrever é a tarefa da escola: o que ela vem fazendo
ao longo dos anos. No entanto, o pensamento infantil sobre a escrita, tal
como descrevi, gera uma grande quantidade de questões sobre os conteúdos
escolares e as maneiras de ensinar a linguagem escrita.

Dificuldades de Aprendizagem na Alfabetização: Perspectivas do Aprendiz


Segundo a concepção organicista, o aprendiz já nasce com a responsabilidade
instalada em seu cérebro: é um problema do nível físico. Conforme a
concepção instrumental, a responsabilidade se desloca do nível físico
(hereditário ou neurológico) e se estabelece no campo psicológico: a
inteligência do aprendiz estará comprometida. A concepção dos transtornos
afetivos da personalidade aponta como fatores determinantes da não
aprendizagem as perturbações afetivas e características da personalidade,
indicando que tais sintomas podem afetar o campo cognitivo do aprendiz.
Outro aspecto comum às explicações para o fracasso escolar diz respeito
à maturidade. Indícios de que este seja um fator determinante nos processos
de aprendizagem escolar. Na teoria organicista, a maturidade se apresenta
como de natureza físio-neurológica; na concepção cognitivista, é indicada
como pertencendo ao campo de percepções e do intelecto; na concepção dos
transtornos afetivos da personalidade, refere-se aos estados maturacionais
dos aspectos afetivo-emocionais da criança fracassada.
A escola opera com o princípio de que o problema está nos alunos e que
somente eles próprios poderão resolve-lo. É possível afirmar que há uma
enorme dificuldade da escola em inserir determinados alunos no processo de
ensino-aprendizagem
Um dos grandes problemas enfrentados por educadores na sala de aula é a
dificuldade de certas crianças em aprender o que é ensinado, apesar dos
esforços e recursos empregados para promover a aprendizagem.

Justificando o fracasso escolar


Instalou-se na escola, uma cultura do fracasso, que tem sido justificada
sob diferentes perspectivas: falta de prontidão da criança, carência
cultural, diferença cultural, reprodução das desigualdades sociais,
diferentes níveis de compreensão da natureza simbólica da escrita, distância
entre a variedade escrita e a variedade oral das crianças, diferentes
funções atribuídas à leitura e à escrita pelos diversos setores sociais,
conflito entre o contexto cultural familiar e a cultura da escola,
dificuldades para definir com clareza o que uma criança deve adquirir e
dificuldades para trabalhar na sala de aula, com a diversidade cultural e de
ritmos de aprendizagem.
Uma das explicações para o fracasso escolar baseia-se no estado de
prontidão da criança. A constatação ou ausência da prontidão pode ser
verificada a partir de testes psicométricos, que estabelecem os
pré-requisitos necessários à aprendizagem da leitura e da escrita e avaliam
o estado de prontidão da criança.
A constatação de que a criança é imatura para a alfabetização é quase
sempre de nível sócio econômico baixo possibilitou a elaboração de uma outra
explicação para o fracasso escolar, denominada teoria da carência cultural.
Essa perspectiva aponta, nas crianças das camadas populares, as mais
variadas deficiências: de alimentação, de habitação, de bens materiais, de
prestígio social, de afetividade, de estimulação verbal.
A teoria da carência cultural responsabiliza a criança pobre e sua
família pelo insucesso na alfabetização. Não questiona o papel da escola na
produção do fracasso, apenas sugere uma mudança curricular, a fim de ajustar
a criança “carente” à sociedade e apresenta como soluções programas
especiais que busquem compensar as suas deficiências.
As pesquisas desenvolvidas por Ferreiro e Teberosky (1986) estudam,
principalmente, as hipóteses construídas pelas crianças no sentido de se
apropriar da língua escrita. Assim, a aquisição da escrita é entendida como
produto de uma construção ativa do sujeito em interação com o objeto de
conhecimento. O fracasso e o sucesso na alfabetização, segundo Ferreiro e
Teberosky (1986 p:277) dependem:

(...) das condições em que se encontra a criança no


momento
de receber o ensino. As que se encontram em momentos
bem
avançados de conceitualização são as únicas que podem
tirar
proveito do ensino tradicional e são aquelas que
aprendem o
que o professor propõe ensinar-lhes. O resto são as
que
fracassam, as quais a escola de incapacidade para a
aprendizagem
ou de “dificuldade de aprendizagem”, seguindo uma
terminologia
já clássica. Porém, atribuir as deficiências do
método à incapacidade
da criança é negar que toda aprendizagem supõe um
processo
é ver déficit ali onde somente existem diferenças em
relação
ao momento de desenvolvimento conceitual que se
situam.

Nessa perspectiva, sucesso e fracasso na alfabetização são explicados


a partir de características individuais de desenvolvimento cognitivo e da
inadequação da escola em identificar e considerar essas características na
apropriação da leitura e da escrita pela criança.
Além de mudar o discurso, o educador precisa, principalmente, alterar
sua prática a fim de garantir uma aprendizagem de qualidade para seus alunos.
Essa alteração é processual e depende de discussão e avaliação das
concepções que tem sustentado a prática do professor, da capacidade do
coletivo escolar para apontar acertos e equívocos e buscar superar os
problemas surgidos.

Eles estão aprendendo cedo demais?


A alfabetização precoce tem rendido um grande bate boca entre os
pesquisadores. Gente gabaritada chama a atenção para certo exagero na dose e
começa a suspeitar que toda essa precocidade no aprendizado pode desajustar
o relógio biológico do desenvolvimento infantil.
Desde o começo do século XX, convencionou-se que os alunos devem
aprender a ler e a escrever a partir dos sete anos. Nessa fase, o cérebro da
criança já desenvolveu habilidades como o poder de concentração e a
coordenação visual e motora, entre outras. Está preparado, portanto, para
absorver uma carga maior de ensinamento dentro da sala de aula. As escolas
que subverteram essa regra argumentam que, hoje, o mundo e as crianças são
muito diferentes. “Os alunos não são mais inteligentes que os de
antigamente, mas chegam às escolas mais cedo e estão expostos a uma
quantidade maior de informações, o que aguça numa idade mais precoce sua
curiosidade pelas letras” , afirma Elisa Pereira, diretora pedagógica do
Pueri Domus, uma das melhores escolas de São Paulo. Segundo o raciocínio da
diretora, não faria sentido “congelar” o desenvolvimento da criança durante
dois anos se ela demonstra interesse pelos livros.
O novo sistema, de ler cada vez mais cedo, já é adotado em escolas na
Argentina, na Espanha e, numa escala mais reduzida, na Inglaterra. Pedagogos
dos Estados Unidos e de outros países de Primeiro Mundo ainda não chegaram a
um consenso sobre a conveniência da mudança. No Brasil, há uma divisão. A
rede pública continua seguindo a regra antiga, ou seja, alfabetização
somente aos sete anos – idade obrigatória para o ingresso dos alunos do
primeiro ano do ensino fundamental. Já a maioria dos estabelecimentos
particulares resolveu antecipar o aprendizado do bê a bá.
As crianças de cinco ou seis anos não recebem cartilhas, muito menos
são obrigadas a fazer provas para comprovar seus avanços lingüísticos. O
contato com o mundo das letras ocorre na forma de brincadeiras na sala de
aula, como escrever com a ajuda da professora os ingredientes da receita de
um bolo ou colar numa cartolina as letras iniciais do nome da mãe e do pai.
Segundo os especialistas, existe uma hora certa para a criança
desenvolver cada habilidade. Esses períodos foram batizados de “janelas de
oportunidades”. Na área da alfabetização, os pesquisadores ainda não
chegaram a um acordo. Os que defendem a manutenção do sistema tradicional,
ou seja, aos sete anos, lembram que ainda não há estudos comprovando
possíveis benefícios da iniciação precoce. Além disso, o colega da escola
pública que tomou contato com as letras aos sete anos vai desenvolver mais
rapidamente nesse campo, anulando rapidamente a suposta vantagem da criança
educada aos cinco anos. “Nessa fase, é importante deixar algum espaço livre
na agenda da criança para que ela não faça absolutamente nada. E muito
espaço para ela brincar”, afirma Abram Topczewski, neuropediatra do hospital
Albert Einstein.
Os menos radicais não vêem grandes problemas no processo de
alfabetização precoce, desde que seja guiado pelo bom senso. Em primeiro
lugar é preciso que os pais reduzam suas expectativas em relação a esse
aprendizado. “Não há motivos para achar que uma criança é problemática só
porque um colega está mais adiantado”, afirma o neuropediatra Mauro Muzkat,
da Universidade Federal de São Paulo. Em segundo, não é preciso aparecer com
um livro de gramática quando a criança surge com alguma dúvida. As questões
devem ser respondidas na medida certa, assim como o estímulo à leitura –
nada de comprar livros que tragam dificuldades maiores que aquelas com que a
criança está familiarizada. Por fim, é importante discutir o assunto com a
escola. Se os benefícios da leitura precoce são duvidosos, os problemas
provocados por uma iniciação mal conduzida já começam a aparecer nos
consultórios pediátricos. Nesses locais, são cada vez mais comuns os casos
de crianças que se queixam de dor de cabeça ou têm dificuldades de se
expressar. Segundo os especialistas, são sintomas clássicos de stress
causado pelo maior problema do processo de formação dos pequenos. É a super
agenda, que contém escola, natação, inglês e a exagerada cobrança dos pais
em tentar garantir, desde cedo, um futuro melhor para os filhos.

Referências Bibliográficas
BRAGGIO, Silvia Lúcia Bigonjal. Leitura e alfabetização. Porto Alegre, Artes
Médicas, 1992
____________. Aprendendo sem o ba-be-bi-bo-bu. São Paulo, Scipione, 1998

FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto


Alegre, Artes Médicas, 1986
FERREIRO, Emília. Alfabetização em processo. São Paulo, Cortez Editora
____________. Com todas as letras, São Paulo, Cortez Editora, 1992
KATO, Mary. A concepção da escrita pela criança. Campinas, Pontes, 1988
PIAGET, J. e INHELDER, B. A psicologia da criança. Rio de Janeiro, Bertrand
Brasil, 1989
SOARES, Magda. Letramento- um tema em três gêneros. Belo Horizonte,
Autêntica

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