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EIA da Abertura da Barra de Saquarema

13. MEIO ANTRÓPICO

13.1. Ocupação urbana e rural na região de Saquarema

13.1.1. História
A ocupação humana da reigão de Saquarema provavelmente remonta a 6000 a 8000
anos BP, como testemunham os 24 sambaquis presentes na região. Antes do descobrimento a
Região dos Lagos (na verdade lagunas) foi ocupada por população indígenas nômades que
viviam da pesca e da coleta de mexilhões (veja capítulo relativo aos Sambaquis). Estas
populações principalmente compostas de índios Tamoios eram de uma maneira geral muito
pouco agressivos (diferentemente dos Tupys), o que deve ser devido ao tipo de alimentação
destas populações (peixes e frutos do mar). O impacto ambiental das atividades destas
populações embora de difícil quantificação parece ter sido muito pequeno. Após o
descobrimento os primeiros contatos destas populações indígenas registrados parecem datar
de 1531 quando o navegador português Martin Afonso de Souza atracou na região. Os índios
Tamoios que viviam nas margens da Lagoa em troca de bugingangas, abasteceram as naus de
lenha, água e frutos nativos. Neste período os índios denominavam o local de Socó-rema
devido à abundância de socós, aves pernaltas que viviam na laguna. A corruptela deste nome
gerou a atual denominação da região.
Alguns anos mais tarde a região era invadida por franceses que são massacrados juntos
com seus colaboradores Tamoios em 1575. Afim de ocupar a região e evitar novas invasões
algumas sesmarias foram doadas aos padres da Ordem do Carmo que construiram um
convento no local hoje denominado Carmo. Outras sesmarias foram doadas na região, que foi
rapidamente ocupada com fazendas. Em 1660 é inaugurada a primeira capela de Nossa
Senhora de Nazaré, construida pelos padres carmelitas. A igreja atual no morro de Nossa
Senhora de Nazaré só foi inaugurada em 1837 (Figura 13.1).

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Figura 13.1: Igreja de Nossa Senhora de Nazaré


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É nos séculos XIX e XX que a modificação da paisagem se torna mais significativa em


Saquarema. Em 1839 começa o desenvolvimento rural de Saquarema com o plantio da cana-
de-açúcar e do café. O presidente da província, Visconde de Baependy, pela Lei n° 238 cria o
municípiode Saquarema, estabelecendo seus limites. Neste mesmo ano é instalada a Câmara
Municipal. Mais tarde em 1944 Bacaxá é transformada em 2° distrito de Saquarema e em
1946 o 3° distrito de Maranguá passa a se chamar Sampaio Correia.
No início do século XX as crises do mercado de café fizeram com que esta lavoura
fosse abandonada e substituida pela pecuária e pela citricultura. Em 1960, Saquarema é
conhecida como a capital do limão. Em 1973 é fechada a usina de açúcar de Sampaio Correia,
encerrando a atividade açucareira na região e fazendo-se ampliar ainda mais a atividade
pecuária.
Com a redução da fertilidade do solo, boa parte das plantações foram substituidas por
pasto para a pecuária extensiva que é atualmente a atividade rural principal da região. Os
cítricos ainda são cultivados e desenvolveu-se também as cultura de banana e coco.
Atualmente o Município produz 23 milhões de cítricos por ano e 20 milhões de cocos por ano
13.1.2. Padrões arquitectônicos e planejamento urbano
A região de Saquarema do ponto de vista arquitetônico tem muito poucos atrativos,
sendo o principal deles a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, construída em 1837 pelos padre
carmelitas (Figura 13.1). Segundo Vieira et al (1999), a Igreja sofreu diversas modificações
com o passar do tempo, principalmente devido a reformas sem grande preocupação com a
estrutura original. Segundo as autoras, cumpria-se um dos costumes antigos de enterrar
pessoas nobre dentro da igreja. Hoje em dia não existe nenhum vestígio deste costume e o
piso foi todo trocado por material moderno. O pequeno cemitério Municipal fundado em 1924
e localizado atrás da igreja também dá um aspecto pitoresco à Pedra de Nossa Senhora de
Nazaré. A Casa de Cultura Walmir Ayala é outro ponto arquitetônico interessante da cidade.
Sede da prefeitura até 1978, a casa foi reformada em 1997 e inaugurada como casa de cultura.
A ocupação das áreas urbanas e rurais no Município de Saquarema tem se processado
de maneira totalmente desordenada. O controle e fiscalização sobre os processos de
construção e sobre o cumprimento dos gabaritos municipais é feito de maneira extremamente
precária. A falta de organização e planejamento no desenvolvimento urbano e rural tem
resultado na degradação da paisagem e gerando sérios problemas de contaminação ambiental.
Construções vêm sendo feitas às margens da laguna, na faixa de proteção, sem qualquer tipo
de autorizações. Eventualmente as obras são embargadas, como é o caso das construções que
começaram a ser feitas às margens do Saco de Mombaça na área da restinga entre a laguna e o
mar, contudo com pouco tempo as obras são retomadas. Em alguns lugares, ainda na região
do Saco de Mombaça pudemos observar faixas de brejos e lagoa cercadas, áreas de
preservação já prontas para receberem aterros para proceder-se ao início de obras.
Boa parte destas invasões são realizadas por camadas mais pobres da população (Figura
13.2), com quem é muito difícil argumentar sobre a importância da vegetação marginal para a
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saúde do ambiente lagunar. Por outro lado, existe grande número de casas de classe média e
alta que embora não estejam construídas na faixa de proteção marginal, seus proprietários têm
uma forte tendência de avançar seus muros até as margens, onde são «obrigados» a queimar
ou eliminar os bancos de taboa para poder melhorar a visão da laguna. Em boa parte do Saco
de Fora e do Jardim este tipo de construção avançando na laguna pode ser avistado. Após a
abertura da barra, existe grande ricos de alagamento nestes locais durante os eventos
excepcionais de maré alta de sizígia e maré de tempestade conjugados.
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Figura 13.2: Construções às margens da laguna

13.1.3. Saneamento Básico


Do ponto de vista sanitário, este desenvolvimento desestruturado é crítico, pois
saneamento básico ainda não existe na região e invariavelmente os esgotos são lançados na
laguna. Alguns moradores mais concientes fizeram construir fossas sépticas e sumidouros,
contudo este tipo de solução sanitária exige manutenção constante o que nem sempre é feito
com a frequência necessária. A maior parte da população contudo lança seus rejeitos
diretamente na laguna. Mesmo na cidade de Saquarema pode-se observar o lançamento de
águas usadas diretamente na laguna, muitas vezes através da rede de águas pluviais.
Em Bacaxá e Sampaio Correia, todo o esgoto é lançado diretamente ou indiretamente no
rio Bacaxá que desemboca no Saco de Fora. O fluxo do rio Bacaxá é em grande parte oriundo
dos esgotos. Isto éobservado em vários sistemas lagunares, notadamente em Piratininga
(Souza, 1993; Souza, 1996) onde o fluxo dos rios é maior durante o dia (devido à atividade
humana) que à noite, quando as pessoas vão dormir. A situação só não é pior pois as águas do
rio Bacaxá são depuradas ao passarem por densos bancos de taboa. A queimada dos taboais
vem provocando uma rápida substituiçã desta vegetação de brejo por gramínias de terra firme
de baixo valor ecológico e geoquímico.
O sistema de coleta de lixo é relativamente eficiente e gerido pela Secretaria de Obras
do Município. A Prefeitura dispõe de 5 caminhões com cassambas compactadoras, que é bem
mais higiênico que os caminhões abertos e têm também maior capacidade. O lixo é coletado
entre 2 e 3 vezes em função do local considerado. Após a coleta os caminhões encaminham o
lixo para um aterro sanitário situado no bairro de Rio da Areira (S22°52,335 e W42°28,829).
O aterro foi visitado por nossa equipe e fotografado (Figura 13.3). Existe um trabalho muito
tímido de seleção e catação do lixo
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13.1.4. Abastecimento de água


O abastecimento de água da região é feito apenas parcialmente pela CEDAE, que capta
água no reservatório de Juturnaíba e após uma pré-cloração abastece a região. A Tabela 13.1
mostra o um quadro do alcance do sistema de abastecimento da região.
Toda a região que não é abastecida pela CEDAE recorre às águas subterrâneas, pela
construção de poços rasos ou profundos (chamados de semi-artezianos). Embora seja possível
ler muitas placas na região de empresas que furam «poços artezianos», não existem jazidas
conhecidas de águas realmente artezianas (onde a pressão devida a camadas impermeáveis faz
a água jorrar). Estas empresas se referem a poços profundos. Embora não exista nenhum
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estudo detalhado da qualidade da água subterrânea na região é provável que a maior parte dos
poços rasos esteja contaminada pelos esgotos ou pela água salobra da laguna e do mar. A
PESAGRO, que faz análises de coliformes em águas de poço de toda a Região dos Lagos está
iniciando o cadastramento da qualidade da água subterrânea, contudo o trabalho está apenas
começando e ainda não existem dados suficientes.

Figura 13.3: Fotos do aterro sanitário de Rio da Areia.


Na parte inferior da foto aparece o chorume de lixiviação do lixo

Tabela 13.1: Quadro do abastecimento de água encanada na região de saquarema


Residências Comércio Indústrias Repartições públicas Total
Saquarema
n° de unidades servidas 7197 432 2 41 7672
Bacaxá
n° de unidades servidas 3672 619 9 13 4313

Em locais como a Região Oceânica de Niterói, que apresenta aproximadamente o


mesmo tipo de ocupação em uma região de lagunas costeiras, a qualidade da água subterrânea
foi estudada por vários autores (e.g. Silva Filho et al., 1993), que chamam a atenção para o
processo de super-exploração do recurso, que vem gerando aumento da penetração das águas
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salobras das lagoas ou simples deterioração da qualidade através da mistura da água com os
esgotos domésticos oriundos da percolação de fossas sépticas (Souza, 1993).
No verão, com a chegada dos veranistas a situação fica crítica e a falta d’água na região
só é amenizada pelo abastecimento através de caminhões pipa.
13.1.5. Energia elétrica
O abastecimento do município é feito pela CERJ através de uma sub-estação localizada
em Bacaxá. Apenas 75% do município é servido por este serviço, que como acontece com o
abastecimento d’água, entra em colapso nos meses de verão.

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