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EIA da Abertura da Barra de Saquarema

13.3. Os Sambaquis de Saquarema

Os Sambaquis, constituem testemunhos da atividade antropogênica pré-histórica na


costa brasileira. Segundo Ribeiro (1996) o homem iniciou o processo de ocupação das
Américas há aproximadamente 12 mil anos, quando atravessaram o estreito de Behring e
iniciaram a ocupação a a partir do Alasca. Durante o processo de ocupação do continente, as
populações se diversificaram. Hábitos e costumes se desenvolveram e se formaram grupos de
comportamentos os mais variados. Entre os grupos indígenas que se desenvolveram podemos
citar os Tupys, nação guerrera de comportamento bastante agressivo, que praticava o
canibalismo ritual (principalmente com os inimigos derrotados). Ocupavam grande parte das
terras altas por trás da Serra do Mar, e devido à sua agressividade foi um grupo que evoluiu de
maneira significativa, dominando grandes superfícies. Os Guaranis eram menos agressivos e
ocupavam mais as áreas ao Sul do Paraná. Outros grupos menores também chegaram a ocupar
áreas relativamente grandes do país.
Uma característica aplicável a todos estes grupos antrópicos era o nomadismo. Os meios
de sobrevivência destas populações estavam associados à coleta de recursos naturais como a
caça, a pesca, e ao esgotar os recursos de uma área, passavam a outra área, de maneira que
aquela primeira pudesse se recuperar. Algumas populações já faziam uma agricultura
rudimentar, baseada na queima da floresta, cultivo durante dois ou três anos (até o
esgotamento da fertilidade do solo e em seguida se mudavam para outra região, também
deixando aquela primeira se recuperar.
Segundo alguns autores (Dean, 1995) este tipo de exploração da terra teria sido
responsável pela destruição de boa parte das florestas tropicais que existiam em todo o Brasil.
Este hábito (vício) de queimar as florestas para sua utilização teria sido adotada pelos
protugueses e predomina até os dias de hoje.
Em toda a costa Sudeste do Brasil existia uma população de característica muito
distintas dos seus contemporâneos Tupys, Guaranis, Tamoios, eram os Caiçaras, denominação
genérica dada às populações que viviam à margens do oceano e se nutriam de peixes e frutos
do mar, na época muito abundantes na região. Estes grupos foram muito bem caracterizados
pelo fato de ao se alimentarem de moluscos bivalves, lançavam as conchas em montes que
atualmente podem ser muito facilmente identificáveis, são os Sambaquis. Estes sítios
arqueológicos pré-históricos podem ser observados ao longo de toda a costa Sudeste do
Brasil.
Em Saquarema, a Professora Lina Kneip do Museu Nacional e sua equipe vêm
estudando os Sambaquis desde 1987, que foram descobertos em meados dos anos 70 por
moradores da região. Estes estudos têm por objetivo desvendar as culturas pescadoras,
coletoras e caçadoras pré-históricas, correlacionando-as com o paleoambiente. Inicialmente
foi realizado um levantamento para identificar no município os locais onde existem sítios
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arqueológicos e seu estado de preservação. Os resultados deste estudo estão apresentados no


mapa da Figura 13.5.
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Figura 13.5: Localização dos 24 Sambaquis de Saquarema (mapa obtido de um folheto


publicitário dos Sambaquis de Saquarema, coordenado pela Profa. Lina Kneip).

Pode-se observar que nenhum dos 24 Sambaquis encontrados encontra-se em perfeito


estado de conservação. A explosão imobiliária ocorrida nos anos 50 e 60 (Francisco, 1999)
fez com que a maior parte dos sítios fosse destruída pela construção civil. Apesar de se ter
determinado de maneira precisa o posicionamento de cada um destes sítios, nada vem sendo
feito para se preservar estes sítios.
O Sambaqui da Beirada é o que foi melhor estudado e onde a Prefeitura, instalou uma
exposição com os achados (organizada pela Profa Kneip). Nas Figuras 13.6 a 13.8 são
apresentadas algumas das peças encontradas neste sítio e que estão acertas para a visitação
pública. O sambaqui da Beirada foi datado pelo método do 14C em 4520 anos BP.
Os sambaquis vêm sendo detalhadamente descritos nas publicações da Profa Kneip
(veja Kneip et al., 1997 entre outros). Inclusive dando detalhes sobre o tipo de alimentação
das populações, através da identificação de ossos e restos.
Os efeitos da abertura da barra nos Sambaquis são insignificantes, tendo em vista o fato
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de os Sambaquis estarem em cotas acima do previsto para alagamento. Os vestígios datados


entre 4520 anos e 1790 são de populações que viveram um período de nível do mar mais
elevado que o atual (até 5 metros, a 5000 anos, Martin et al., 1979a e b).
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Figura 13.6: Ritual funerário de um adulto feminino, 25 a28 anos. Foram encontrados traços
de fogueira e de corante vermelho ao redor do cadáver (Sambaqui da Beirada.

Figura 3.7: Dois outros sepultamentos do Sambaqui da beirada.

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Figura 13.8: Ferramenta utilizada pelo homem pré-histórico (Sambaqui da Beirada


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13.4. Associações e ONGs atuantes em Saquarema

São citadas a seguir as mais importante associações e organizações não governamentais


envolvidas coma preservação ambiental na Lagoa de Saquarema.
• Associação de Preservação Ambiental e Cultural de Saquarema - APACS, fundada
em 22 de abril de 1988. Está ligada a questões de conservação dos sítios arqueológicos da
região
• Associação de Artesãos e Expositores de Saquarema, criada em 1992. Regrupa
artesãos e expositores que participam da feira de Saquarema
• Associação de Artes Plásticas, fundada em 1999 regrupa artistas plásticos da
região. Contam com 30 associados e já dispõem de um site na internet onde expõem as
obras de alguns de seus associados.
• Associação de Surf. Fundada em 1960 tem como objetivo difundir o surf,
incentivando a prática deste esporte através da organização de clubes, agremiações
eorganizando campeonatos. Organiza todos os anos o Campeonato Municipal de
saquarema nas praias da Vila e de Itaúna.
• Círculo de Amigos do Menino Patrulheiro (CAMP). Fundada em 1995, introduz
jovens em empregos e estágios remunerados de inserção profissional
• Associação de Pescadores. Fundada em 1937 tem por objetivo melhorar a qualidade
de vida dos profissionais pescadores. Realiza cursos de pesca profissional e prepara o
pescador para sua legalização junto à Capitania dos portos, paço obrigatório para seu
ingresso na Colônia de Pescadores. Esta associação conta com 650 membros, número
muito maior que o de pescadores registrados na Colônia.
• Lagoa Viva. Com sede em Araruama vem agindo em todas as laguna da região dos
lagos, fazendo moviemtnos de preservação do ecossistema

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13.5. Usos da praia de Itaúna

A praia de Itaúna, é talvez uma das mais agradáveis e utilizadas da região. Mesmo
apresentado fortes ondas, existem pontos onde é possível ao banhista entrar no mar com
relativa tranquilidade, graças à proteção das rochas da Igreja e da lage de Itaúna. Por outro
lado, é a praia que apresenta as melhores ondas para o surf, principalmente próximo à Lage de
Itaúna. É na praia de Itaúna também onde são organizados os mais importantes campeonatos
de surf.
Nestas condições, em Itaúna a atividade econômica mais importante é o turismo. Existe
um grande número de pousadas, bares e restaurantes e atualmente, casa de veraneio e até
mesmo pequenos edifícios de alto padrão vêm sendo construídos na área. A configuração das
construções à margem da praia é a mesma de outras regiões similares, como Maricá, onde
ocorre edificação na vegetação de restinga, que é parcialmente destruída e mais ao interior é
construída a rua. Esta configuração permite a situação mais agradável de casas pousadas e
restaurantes com jardim dando para a praia. Embora não exista registro da extensão da
restinga original, provavelmente estas construções ocuparam uma larga área desta vegetação.
(Figura 13.9)

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Figura 13.9: Rua de Itaúna terminando na praia e a destruição da vegetação de restinga


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Outro aspecto do desenho urbano é a construção de ruas que terminam na praia,


frequentemente em áreas com presença de bares e quiosques. Da mesma forma vai ocorrer
destruição da restinga, diminuindo ainda mais a cobertura vegetal.
O impacto da destruição da vegetação de restinga per se nas cadeias ecológicas da
região é relativamente pequeno. O papel da vegetação de restinga é muito mais físico,
servindo para reter a areia da praia nos momentos de grandes ressacas. Esta retenção impede a
mobilização da areia para transporte litorâneo (mesmo que pequeno, ver capítulo da dinâmica
de praia). Assim embora isto não possa ser comprovado, existe uma possibilidade de que a
destruição da vegetação de restinga tenha influenciado no processo de fechamento do canal
No cordão arenoso onde existia anteriormente o canal existem atualmente quiosques
(possivelmente ilegais) de madeira de fortuna. Este quiosque devem ter algum impacto na
praia de Itaúna, associado ao lanámento de esgotos. Aparentemente os esgotos são lançados
diretamente na areia sem nenhum tipo de tratamento. Este efluentes devem penetrar na areia e
eventualmente atingir a o lençol freático e a água do mar. Contudo este impacto deve ser
despresível tendo em vista a pequena quantidade de quiosques nesta condição. Contudo, é
absolutamente necessário que a Prefeitura discipline a instalação de bares deste tipo na praia,
pois em maior número procarão degradação significativa da praia. Outro aspecto que deve ser
controlado com rigor é o tratamento do lixo oriundo destes bares. A prefeitura deve controlar
também rigorosamente o destino deste degetos, afim de que não venham a ser lançados nas
areias da praia.
Os bares a que me refiro devem ser desmontados durante a obra da abertura da barra,
visto que se situam na área onde será construido o Guia Correntes.

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