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CARDÁPIO DO FUTURO – NUTRIÇÃO – ALIMENTOS

FUNCIONAIS

07-01-2004

MEDICINA & BEM ESTAR – PERSPECTIVA 2004

Cardápio do futuro
A ciência descobre nos alimentos qualidades que ajudam
a prevenir doenças, o que torna a comida do dia-a-dia
uma aliada ainda mais importante para a saúde

Mônica Tarantino
Colaborou: Celina Côrtes

Quando se fala na comida do futuro, a primeira imagem que vem à


mente ainda são cápsulas coloridas ou misturas em pó insossas,
com incríveis poderes nutritivos. Pode apagar. A ciência caminha
em outra direção.

As chances de que a cesta de compras mais adequada às nossas


necessidades seja composta de muita variedade e alimentos
saborosos são bem maiores. Uma das razões é o rumo tomado
pelas pesquisas, que acenam com funções especiais de alguns
alimentos.

Além de saciar a fome e fornecer energia para manter o corpo


funcionando, eles se mostram aliados poderosos na prevenção de
doenças e no combate ao envelhecimento.

Essas qualidades não são novidade, mas começam a ser


investigadas a fundo com a ajuda de novas tecnologias, como os
recursos oferecidos pelo conhecimento do código genético e da
participação das proteínas na ativação dos genes.

Os cientistas procuram novos compostos nos alimentos e desejam


descobrir como interagem com o organismo. “Daqui a alguns anos,
talvez possamos recomendar a dieta de acordo com as
características genéticas de cada um para obter os efeitos
desejados na prevenção de doenças”, acredita Franco Lajolo,
professor do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental
da Universidade de São Paulo.

[ SAÚDE – DIETA ]

Na prática, há uma grande quantidade de informações associando


saúde à dieta. “As pessoas querem saber como os alimentos
podem ajudá-las”, diz a cientista Jocelem Mastrodi Salgado, da
Escola Superior Luiz de Queiroz, de Piracicaba (SP) e autora de
quatro livros sobre os benefícios da alimentação para a saúde. Em
parte, essa curiosidade se alimenta do desejo de viver mais e com
melhores condições de saúde.

Compras: consumidor já tem opções de alimentos funcionais

O mercado de alimentos reflete essa tendência. Além de a


produção ter crescido 2,7% em 2003, conforme a Associação
Brasileira da Indústria Alimentícia, as maiores empresas lançaram,
em média, 50 novos produtos cada uma. Muitos voltados para o
público que quer algo mais do alimento.

Basta olhar as prateleiras dos supermercados para constatar o


aparecimento de várias opções com uma espécie de plus para a
saúde. Dessa safra, os mais populares são os alimentos
enriquecidos – leites, iogurtes, biscoitos, cereais – com acréscimo
de vitaminas e minerais na formulação.

Mas o grupo que mais cresce na preferência da clientela, e por isso


ganha espaço de exposição, são os alimentos orgânicos –
hortaliças, café e açúcar, entre outros. Cultivados sem agrotóxicos e
com manejo ecologicamente correto, não agridem o ambiente. Em
lojas da rede de supermercados Pão de Açúcar e Extra em São
Paulo, há cerca de 120 itens.

E empresas como o Carrefour já criaram suas marcas de produtos


orgânicos. Porém, é sobre os alimentos classificados como
funcionais que recaem as maiores expectativas dos cientistas e da
indústria. São alimentos que, além de nutrir, apresentam uma
função terapêutica, que ajuda na prevenção de doenças.

É o caso do tomate. A fruta possui licopeno, substância com ação


cada vez mais estudada contra o câncer de próstata. Em cada um
desses segmentos – enriquecidos, orgânicos e funcionais –, há
novidades e desafios que esboçam as tendências da alimentação
num futuro que não está tão longe assim.

E já há certezas. “A nutrição será cada vez mais direcionada para


preservar a saúde”, garante o cardiologista e nutrólogo Daniel
Magnoni, presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição
Parenteral.

Estudo: Lajolo busca novos compostos

Saudáveis – No mundo, o comércio de alimentos orgânicos


movimentou em 2003 cerca de US$ 25 bilhões e deve crescer entre
10% e 30% ao ano. Isso quer dizer que muita gente paga cerca de
três vezes mais para ter um produto mais puro. O Brasil está atento
a esses números e se prepara para competir.

Em novembro, depois de uma espera de cinco anos, o Congresso


Nacional aprovou a lei que define as regras da agricultura orgânica
no País. Além disso, o governo implementará um plano de
desenvolvimento do setor, o Pró-Orgânicos, com medidas de
incentivo e controle de qualidade. “As ações farão parte do
planejamento até 2007”, comemora o agrônomo Rogério Dias, do
Ministério da Agricultura.

As medidas estimularão o consumo e a exportação. As qualidades


dos produtos também estão em estudo.

Um trabalho da Universidade Estadual de São Paulo mostrou que


cenouras cultivadas sem fertilizantes ou pesticidas tinham mais
vitamina A e se mantiveram em melhores condições de consumo
durante sete dias, enquanto as outras duraram quatro dias.

Outras iniciativas para melhorar a qualidade dos alimentos devem


entrar em vigor nos próximos meses. Até junho, os fabricantes de
farinhas de trigo e de milho terão de adicionar ácido fólico (vitamina
do complexo B) e ferro aos produtos. A primeira previne a má-
formação do tubo neural (estrutura precursora do cérebro e da
medula espinhal) no feto. O segundo combaterá a anemia
ferropriva, que atinge em algum grau cerca de 45% das crianças até
cinco anos, conforme o Ministério da Saúde.

No grupo dos alimentos funcionais, as pesquisas se multiplicam. A


indústria trabalha para melhorar o sabor desses produtos. “Ninguém
se mantém fiel a alimentos pouco agradáveis”, explica Mariana
Novis, da Unilever. A empresa produz a Becel, margarina indicada
para baixar o colesterol e um dos primeiros artigos funcionais
lançados no País.

Hoje, o Brasil tem 95 alimentos do gênero catalogados no Ministério


da Saúde. Entre eles estão a aveia, que alimenta e ajuda a reduzir
o colesterol, e iogurtes e cereais matinais ricos em fibras.

Na mesma categoria há chicletes para limpar e clarear dentes e até


uma bebida energética. O professor Lajolo acha que com o tempo a
legislação será mais seletiva.

Também começam a ser mais conhecidos compostos como os pré-


bióticos oligossacarídeos. É um carboidrato que serve para
alimentar as bactérias benéficas presentes no intestino, o que
melhora a absorção dos nutrientes dos alimentos e também sua
eliminação. “Esses carboidratos estão, por exemplo, na raiz de
chicória, na yacón (a batata peruana), em certas folhas de cáctus,
na cebola e na banana”, conta Lajolo.

Nessa área concorrida, as novidades não param. A onda desta


estação é uma frutinha proveniente da Polinésia Francesa, a noni
(Morinda citrifolia). Madura, assemelha-se a um morango ampliado
e disforme. A ela se atribui a capacidade de estimular os sistemas
digestivo e de defesa do organismo, combater o envelhecimento,
além de melhorar o trabalho do intestino.

Tudo isso graças a uma molécula chamada proxeronina, convertida


pelo fígado na xeronina. Porém, os efeitos ainda não foram
comprovados. O ator Stênio Garcia, 71 anos, está experimentando
o suco da fruta e gosta dos resultados. “Sinto-me mais disposto”,
diz. O preço é salgado: uma garrafa de suco custa entre R$ 140 e
R$ 150.

Diante de todos esses avanços, resta mais um desafio: fazer a


informação chegar ao consumidor e ser entendida. É para isso que
se esforça diariamente a nutricionista Shandra Aguiar, da
Universidade Federal do Ceará.

Especialista em nutrição e economia doméstica, ela leva informação


às comunidades de baixa renda para melhorar a qualidade da
alimentação. “As mães ainda fazem uma economia danada para
colocar salgadinho e refrigerante na lancheira do filho. Procuramos
ajudá-las a compreender que comprar frutas e sucos é mais
nutritivo e pesa menos no bolso”, diz.

Os alimentos e seus benefícios terapêuticos


Fonte:
http://www.terra.com.br/istoe/1787/medicina/1787_cardapio_do_futu
ro_02.htm
Revista Isto É – edição 1787 – 07 de janeiro de 2004 –

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