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INTRODUÇÃO
O projeto Pedagogia do Abraço, uma parceria entre o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento
(CPCD) e a Fundação Bernardo Van Leer, é uma pesquisa no sentido de conhecer o processo de
transição da criança de casa para a escola.
O trabalho com as crianças do grupo de controle - ou seja, aquelas que não fazem parte de nenhum
projeto social – ainda não se iniciou. Esse trabalho exige a participação direta dos professores, de
quem aguardamos resposta, pois os primeiros contatos e reuniões já foram feitos.
O acompanhamento junto às famílias aconteceu no início no mês de novembro, em Santo André (SP),
com uma média de duas a três visitas semanais (cerca de 80% das crianças foram visitadas).
Nos encontros de formação, as ações planejadas baseiam-se no Plano de Trabalho e Avaliação (PTA).
As visitas são formas de acompanhamento das crianças em suas casas. Foram realizadas reuniões nas
escolas para a apresentação da proposta às diretoras, coordenadoras e professoras (municipais e
estaduais) das crianças atendidas.
Os jogos têm auxiliado na descoberta do grau de conhecimento de cada criança em seu desempenho
escolar. Uma vez descoberto esse nível de conhecimento, fica mais fácil ajudá-la em suas dificuldades.
O Jogo das Dezenas, o Rapidinho e o Dando Nomes foram os primeiros utilizados. Na sequência,
utilizamos Contando a História, Ludo, Dado de Cobras, Jogo de Varetas, Intimidade, Cata-letras e
Miragem. Mas o bom mesmo tem sido criar novas formas de jogar usando dados, tampinhas de
garrafas e letras do alfabeto. A cada dia, aparece um jogo novo, tornando a brincadeira muito
divertida.
Durante dois dias por semana, as crianças participam das atividades dos jogos, que consistem,
basicamente, em usar jogos e conversar muito. As crianças também estão reproduzindo os jogos que
gostam mais para levar para casa, para a escola, enfim, para onde quiserem usá-los. Essa prática
vem se mostrando muito positiva entre as crianças, pois elas começam a coordenar a atividade e a
descobrir novas formas de jogar o mesmo jogo, além de se relacionarem melhor com as outras
crianças.
Outra atividade do projeto Pedagogia do Abraço é o contato com a família das crianças. Embora seja
ainda um contato pequeno, é mais frequente. A partir das conversas, é possível perceber o motivo das
dificuldades das crianças e o trabalho mais próximo da família tem dado um resultado satisfatório.
GERENCIAMENTO DO PROJETO
O projeto teve início em Santo André (SP), com duas coordenadoras locais e 15 educadoras dos
projetos Sementinha e Ser Criança. Depois, foi implantado em Araçuaí e Curvelo, sendo que cada
cidade tem uma coordenadora local. Para refletir e planejar sobre as formas de acompanhamento das
crianças, as coordenadoras se reúnem periodicamente com as educadoras.
A equipe está entusiasmada com essa nova proposta. Algumas questões como relacionamento entre
pais e filhos, sexualidade e agressividade foram discutidas nos encontros de formação, quando houve
a troca de experiências entre as educadoras que foram observadas nas visitas às famílias.
Índices qualitativos
Índices quantitativos
DIFICULDADES ENCONTRADAS
- Pouca participação dos pais na vida escolar dos filhos (muitas mães trabalham fora e deixam as
crianças com vizinhos ou parentes).
- Dificuldade de relacionamento entre pais e filhos.
- A maioria não possui residência própria, algumas moram com avós ou no terreno de parentes.
- No início, a maior dificuldade foi ganhar a credibilidade dos educadores envolvidos com o projeto
Pedagogia do Abraço. Aos poucos, os educadores começaram a fazer o que foi proposto, mesmo que
a contragosto. Porém, a partir das mudanças observadas nas crianças, essa dificuldade foi vencida.
- A participação das escolas é a maior dificuldade encontrada pela Pedagogia do Abraço. Apesar de
um primeiro momento agradável e interessante, a proposta feita em fevereiro ainda não teve resposta
de nenhuma das cinco escolas procuradas em Curvelo e Araçuaí.
- Alto índice de desistência de educadoras envolvidas no projeto.
BREVE SÍNTESE
O projeto Pedagogia do Abraço contribuiu para que as crianças sentissem mais prazer com a escola. A
partir dos jogos, as descobertas parecem mágicas e tudo é motivo para que a transição de casa para a
escola aconteça de forma tranquila e alegre.
Muitas crianças ainda querem faltar à escola para ficar no projeto. Isso é comum, mas não choram e
fazem os combinados escolares. Essas são práticas que o tempo ajuda a criança a absorver, mas a
Pedagogia do Abraço permite que isso aconteça mais rápido e de forma mais carinhosa.
Ainda não existe interferência direta com a criança nessa transição. A fase atual do projeto Pedagogia
do Abraço ainda é de observação. Observando a transição da criança de casa para a escola, foi
possível perceber que as maiores dificuldades acontecem em relação ao entrosamento professor-
aluno. A aparência da escola, a receptividade das pessoas da escola com os alunos e o
relacionamento com as outras crianças também são dificuldades apresentadas, mas essas têm menor
grau de importância para as crianças.
Depoimentos
“Hoje, a primeira coisa que vou fazer quando chegar lá em casa é jogar com minha irmã. Eu tenho
sete irmãs e vou jogar com a mais nova.”
Victor - 7 anos
Curvelo - MG
“Vou viajar pra roça, é aniversário da minha prima e vou levar meu jogo. Elas precisam aprender
como eu. Vou ajudar a elas.”
Victoria Celestino - 8 anos
Araçuaí - MG
“Depois que comecei a acompanhar as crianças em suas casas, senti que as mães se aproximaram
mais do projeto.”
Érika - Sementinha - Sítio dos Vianas
Santo André-SP
“Participei da reunião de pais na escola do Vinícius e sua professora disse que ele iria passar. Sei que
não está preparado. Fiquei pensando como ele irá acompanhar uma 4ª série, pois ele tem muitas
dificuldades de se relacionar.”
Jacinta - Ser Criança - Jardim Cipreste
Santo André-SP
“Eu fiz todas as visitas e acompanhei algumas crianças na escola. Percebi o quanto é importante estar
perto deles pela felicidade de me ver na escola.”
Maria da Conceição - Ser Criança - Sítio dos Vianas
Santo André-SP
“Fui bem recebida pelas mães e percebi sua necessidade de falar sobre suas vidas, desabafar. Em
visita a uma criança que estava muito agressiva na roda, constatei a falta de afetividade na família.
Foram muitas coisas que presenciei e descobri dessas famílias.”
Rosana- Jardim Santo André
Santo André-SP
“Os pais têm mais facilidade de brincar, abraçar e beijar seus filhos quando eles são bebês. À medida
que as crianças vão crescendo, parece que se cria um distanciamento. É como se elas não precisassem
mais disso.”
Érika - Sementinha - Sítio dos Vianas
Santo André-SP
“Alguns momentos que passamos quando éramos crianças foram, provavelmente, transições em
nossas vidas. Crescemos e as coisas mudaram: deixamos e encontramos pessoas, percorremos novos
caminhos, vivemos e revivemos antigas e novas situações com as quais construímos outras coisas.
Adquirimos conhecimentos a partir dessas transições da nossa infância.”
Márcia - Coordenadora
Santo André-SP
“O que é bloqueio para nós pode não ser para os outros. Às vezes, não sabemos o que fazer. E é bom
pensar sobre isso porque, se reconhecermos os nossos problemas, poderemos também reconhecer os
dos outros. O que não sabemos temos que buscar e estudar.”
Evelin - Coordenadora
Santo André-SP
“Nós somos um grupo de estudo e a Pedagogia do Abraço vai dar a oportunidade de conhecer várias
versões e aprender a ser e a se conhecer.”
Ednalda - CPCD
“Alguns pais não olham para seus filhos e acham que os professores têm que cuidar deles. Percebi que
as mães não dão atenção para seus filhos porque também não recebem atenção. Durante as visitas,
elas falam de seus problemas de relacionamento com os filhos e até admitem que não conseguem
impor limites. Pensam muito no negativo. Algumas crianças não têm referência dos pais e procuram
referência na educadora.”
Érika – Sementinha - Sítio dos Vianas
Santo André-SP
Objetivo: Promover uma transição harmoniosa e exitosa da criança da casa para a escola.
Transição
- O que é - Capacitações - Segurança - Educadores e - Primeiro bimestre
harmoniosa e
Acolhimento necessário na - Seleção dos - Autonomia Pesquisadores. - Equipe do CPCD,
exitosa.
formação da equipe educadores e - Protagonismo - Equipe do - Educadores e
de educadores e pesquisadores - Senso crítico CPCD. pesquisadores.
pesquisadores para - Oficinas - Comprometimento
desenvolver preparatórias - Defesa dos direitos
atitudes, habilidades - Leituras das crianças
e aprendizagens, - Rodas de conversa - Eficiência
potencializando-as - Exercícios físicos - Equilíbrio físico-
com foco em - Terapias mental.
acolhimento? complementares
- Bornal de Jogos
As questões apresentadas a seguir são sugestões oferecidas aos coordenadores e educadores dos
projetos para que sejam utilizadas durante as avaliações parciais (dos processos) e anuais (dos
resultados).
Questões Respostas
1. Quantos iniciaram as atividades e/ou 120 crianças
projeto? 6 educadores
347 crianças
28 educadores
1 a. Quantos concluíram?
4 escolas municipais
6 professoras da rede municipal
Três horas semanais com cada grupo de seis crianças.
2. Quanto tempo nós gastamos ou Esse tempo é suficiente, pois existe uma continuidade do
necessitamos para realizar a atividade e/ou trabalho em seus grupos nos projetos Sementinha, Ser
módulo? Foi suficiente? Criança e Cidade Criança. Outras ações são
desenvolvidas nas casas e na escola.
Foram criados jogos diversos a partir do material
apresentado: tampinhas, dados e várias peças com as
3. Quantos produtos e/ou materiais de apoio letras do alfabeto. Cada grupo criou formas diferenciadas
e/ou instrução foram feitos? de jogar aleatoriamente. Foi criado também o caderno
“Diário do Abraço” e feito o monitoramento das crianças
na escola.
Sim, pois as crianças conseguiram aprender e,
3 a. Eles atendem ao objetivos do projeto?
consequentemente, gostar mais da escola.
- A frequência das crianças no projeto e na escola.
- Reprodução dos jogos pelas crianças, que os levam para
jogar em casa.
- Reprodução de jogos durante as atividades do Ser
4. O que foi feito que evidencia ou garante
Criança e da Cidade Criança.
que atingimos os objetivos propostos?
- Demanda da professora no sentido de conhecer o
trabalho e se envolver com a educadora por intermédio de
telefone.
- Mudança de comportamento das crianças.
As atividades são lúdicas, inovadoras e educativas. As
5. Como as atividades foram realizadas: crianças avaliam como positivas todas as atividades com
foram lúdicas? Foram inovadoras? Foram os jogos dos bornais, os jogos do computador, os bonecos
educativas? e os brinquedos. A aprendizagem acontece, bem como as
mudanças de comportamento.
Como o projeto Pedagogia do Abraço ainda está em fase
inicial, não é possível sistematizar nada ainda, mesmo
6. O que pode ser sistematizado? É possível
porque essa é uma fase de observação. O material de
construir uma “teoria do conhecimento” já?
monitoramento é preenchido na medida em que são feitos
os acompanhamentos.
Tudo ainda é muito novo no projeto Pedagogia do
7. O que necessita ainda ser praticado para
Abraço: os objetivos vêm sendo alcançados no dia-a-dia e
alcançar os objetivos?
estamos em fase de experimentar de tudo um pouco.
Estaria muito longe. Sendo essa uma fase de observação,
8. Se o projeto terminasse hoje, ele estaria as oportunidades oferecidas precisam de um tempo para
longe ou perto do objetivo? que sejam assimiladas e transformadas em novas atitudes
por educadores, professoras e famílias. Tudo que é
3 - Observação
dos aspectos
Selma, Rosalina, Realizado nas
propostos no
Diária Ana Carla e visitas diárias.
Fichário de
Patrícia.
Monitoramento.
De quantas
4 - Atividades
maneiras
com o Bornal de Silmara e equipe Realizando
diferentes e Diária
Jogos. do Banco do Livro
inovadoras
podemos gerar
bem-estar nas
5 - Confecção de
crianças na fase
jogos para uso Silmara e equipe
de transição da Uma vez por mês. 128 reproduzidos
das crianças. do Banco do livro
casa para a
escola?
Oito reuniões
Selma, Rosalina, realizadas em
6 - Reunião com a De dois em dois
Ana Carla e Curvelo e
escola. meses.
Patrícia. Araçuaí.
Seis reuniões
Selma, Rosalina, realizadas em
7 - Reunião com De dois em dois
Ana Carla e Curvelo e
as mães. meses.
Patrícia. Araçuaí.
De dois em dois
meses até Selma, Rosalina, Dois filmes
8 - Filmes dezembro de Ana Carla e assistidos.
2009. Patrícia.
www.cpcd.org.br