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CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO

Art. 241 - Registro de Nascimento Inexistente

CONCEITO E OBJETIVIDADE JURÍDICA: O CP, no art. 241, incrimina o fato


consistente em "promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente".
Objeto da tutela penal é a segurança do estado de filiação. Na realidade, o registro de
nascimento inexistente é causa de grande insegurança no seio familiar e, por
conseguinte, no meio social. Visa, portanto, o legislador, a coibir ações que sejam causa
de insegurança, em meio à qual é impossível o harmônico desenvolvimento dos
indivíduos.

SUJEITOS ATIVO E PASSIVO: Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, uma vez que
o tipo não exige nenhuma qualidade especial. Sujeito passivo é, em primeiro lugar, o
Estado, principal ofendido com a falsidade perpetrada contra a organização familiar, que
a ele incumbe defender. São sujeitos passivos também a mãe, a prole desta etc. Não é
necessário, porém, que existam particulares lesados com a conduta incriminada, sendo
que na maioria dos casos o Estado é o único sujeito passivo.

ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO: A conduta delituosa consiste em promover


no registro civil a inscrição de registro inexistente. Promover significa dar causa,
provocar, originar. São irrelevantes os meios pelos quais o agente consegue a inscrição
do nascimento, bem como a finalidade que pretende alcançar. Necessariamente fará
parte da conduta uma afirmação falsa perante o oficial incumbido do registro. O crime
de falsidade, entretanto, ficará absorvido pelo princípio da consunção. A conduta
estará tipificada tanto na hipótese de se declarar nascida uma criança nunca concebida
como se declarar nascido um natimorto.

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: É o dolo, vontade livre e consciente de


promover a inscrição de registro de nascimento inexistente. Não existe modalidade
culposa.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: O crime consuma-se com a inscrição, no Registro


Civil, de nascimento inexistente. A tentativa é possível, uma vez que o iter criminis
pode ser fracionado. Pode configurar-se a tentativa, por exemplo, no caso em que, tendo
o agente declarado ao Oficial do Registro Civil o nascimento inexistente, este não é
inscrito no Livro próprio por circunstâncias alheias à sua vontade, v. g., por interceder
uma terceira pessoa denunciando a falsidade da declaração que lhe foi prestada.
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QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA: O crime é instantâneo, uma vez que se consuma


em certo momento. E, no entanto, de efeitos permanentes, porque o resultado
antijurídico permanecerá independentemente da vontade do agente.

PRESCRIÇÃO: A prescrição da pretensão punitiva começa a correr da data em que o


fato se tornou conhecido, nos termos do disposto no art. 111, IV, do CP. Tal exceção à
regra geral de que a prescrição da pretensão punitiva começa a correr da data da
consumação do delito é justificada pelo sigilo que, em geral, cerca tal tipo de conduta e
pela permanência do resultado antijurídico.

PENA E AÇÃO PENAL:A conduta é punida com pena de reclusão, de dois a seis
anos. A ação penal é pública incondicionada. Assim, deve a autoridade policial que
tomou conheciment6 do fato instaurar de ofício o inquérito policial, e, após a sua
conclusão, remetê-lo a Juízo, onde o órgão do Ministério Público oferecerá denúncia,
independentemente do preenchimento de qualquer condição de procedibilidade.

Art. 242 - Parto Suposto. Supressão ou Alteração de Direito Inerente


ao Estado Civil de Recém-Nascido

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES:
O CP, no art. 242, contém quatro modalidades de conduta, a saber:

1) parto suposto;
2) registro de filho alheio;
3) supressão de direito inerente ao estado civil de recém-nascido; e
4) alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido.

No parágrafo único são previstos uma causa de diminuição de pena, consistente


no motivo de reconhecida nobreza, e um caso de perdão judicial. Trata-se de um tipo
misto cumulativo, uma vez que são previstas várias figuras típicas num mesmo
dispositivo legal. Caso o agente realize mais de uma conduta típica dentre as previstas,
responde por todas elas em concurso material.
O art. 242 do CP sofreu modificação com o advento da Lei n.0 6.898, de 30-3-
1981, que introduziu no tipo a figura do registro de filho alheio. Tratou-se, aqui, de
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tipificar a conduta consistente na chamada "adoção à brasileira", por meio da qual as


pessoas, em vez de adotarem regularmente uma criança, a registravam como seu filho. A
mesma lei inseriu ainda no dispositivo mais um caso de perdão judicial (parágrafo
único).

CONCEITO: O art. 242 do CP assim conceitua o parto suposto: "Dar parto alheio
como próprio". O registro de filho alheio tem a seguinte definição legal: "Registrar
como seu o filho de outrem". "Ocultar recém-nascido, suprimindo ou alterando direito
inerente ao estado civil", é o conceito que o CP dá ao crime que recebe o nomen juris de
supressão de direito inerente ao estado civil de recém-nascido. Já a alteração de direito
inerente ao estado civil de recém-nascido recebe a seguinte conceituação: "Substituir
recémnascido, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil".

OBJETIVIDADE JURÍDICA: Objetos jurídicos são a segurança e certeza do estado


de filiação. A especial proteção que o legislador dispensa à família faz com que sejam
punidas as condutas que visem a destruir o liame que liga um indivíduo à sua família.

SUJEITO ATIVO: Na modalidade da conduta "dar parto alheio como próprio" só pode
ser sujeito ativo do crime a mulher, visto que, biologicamente, só esta pode dar à luz
algum filho. Trata-se, aqui, de crime próprio, uma vez que só determinada classe de
pessoas, as do sexo feminino, pode ser sujeito ativo. Nas demais modalidades, sujeito
ativo pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher.

SUJEITOS PASSIVOS: Sujeito passivo é o Estado, principal lesado com as condutas


incriminadas, que alteram os direitos resultantes da filiação. Na figura "dar parto alheio
como próprio", sujeitos passivos são também os herdeiros da agente. Na modalidade
"registro de filho alheio", são também sujeitos passivos as pessoas lesadas pelo registro.
Na "alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido",são sujeitos
passivos, além do Estado, os recém-nascidos substituídos.

ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO: Na modalidade "parto suposto", a ação


consiste em atribuir-se a maternidade de filho alheio. E necessário que tenha sido criada
uma situação na qual a agente ou simule a gravidez e apresente à sociedade uma criança
nascida há pouco tempo, ou, mesmo que a gravidez seja verdadeira, venha a apresentar
como seu um filho alheio. É desnecessário o registro civil da criança, bastando que a
agente cometa atos inequívocos no sentido de apresentar como seu um filho alheio,
introduzindo-o na família. Não constitui o crime o fato de dar parto próprio como
alheio. Basta o parto suposto, não sendo necessário que o sujeito venha a suprimir ou
alterar direito inerente ao estado civil. A parte final do dispositivo só diz respeito à
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ocultação ou substituição de recém-nascido. Não só porque as figuras típicas estão


separadas por um ponto e vírgula, mas levando-se em consideração a qualificação legal
das mesmas. A primeira denomina-se "parto suposto"; as duas últimas, "supressão ou
alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido".
Na modalidade "registro de filho alheio" exige-se que o sujeito tenha promovido a
inscrição no Registro Civil do nascimento da criança. Neste caso, existe o nascimento,
mas o estado de filiação do menor é adulterado pelo registro falso promovido pelos
agentes. Dispensável que o sujeito, além de falsificar o registro, suprima ou altere outros
direitos inerentes ao estado civil.
O crime também pode ser cometido por intermédio da conduta de suprimir direito
inerente ao estado civil de recém-nascido. O sujeito, por meio da ocultação do neonato,
suprime direito inerente ao estado civil. É necessário que o recém-nascido nasça vivo,
pois só os seres vivos podem ter direitos relativos ao estado civil que possam ser
suprimidos. Não é preciso que o nascimento seja oculto. Basta a não-apresentação do
menor para assumir os direitos relativos ao seu status familiae. A supressão que importa
à lei penal é a do estado civil. A ocultação do recém-nascido é apenas o meio de que se
serve o agente para conseguir a sua finalidade. Não basta, portanto, a simples ocultação
do recém-nascido, sendo necessário que desta ocultação resulte a efetiva supressão de
direitos relativos ao estado de filiação.
Na modalidade "alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido", o
núcleo do tipo é o verbo substituir, que tem sentido de troca física dos recém-nascidos,
pouco importando que um deles seja natimorto. O tipo não exige que os recém-nascidos
substituídos sejam efetivamente inscritos no Registro Civil. Basta à configuração do
crime que haja a troca física dos sujeitos passivos, em virtude do que cada um assume o
estado civil cabente ao outro. É indispensável que, à substituição das crianças,
sobrevenha uma alteração no estado civil de cada uma, que passará a usufruir o estado
que não lhe compete.

ELEMENTOS SUBJETIVOS DO TIPO: Elemento subjetivo do tipo, em todas as


figuras do crime, é o dolo. É necessario que exista a finalidade especial de suprimir os
direitos inerentes ao estado civil do sujeito passivo.

QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA: Os crimes previstos no art. 242 do CP são


instantâneos, visto que se consumam em dado instante, sem continuidade temporal.
São também plurissubsistentes, porque não se realizam com um único ato do sujeito.

CONSUMAÇAO: O parto suposto consuma-se no momento em que é criada uma


situação que importe alteração do estado civil do recém-nascido. O registro de filho
alheio consuma-se no momento em que o nascimento é efetivamente inscrito no
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Registro Civil. A supressão e alteração de direitos inerentes ao estado civil de recém-


nascido consumam-se no momento em que tais direitos são efetivamente suprimidos ou
alterados.

TENTATIVA: O tipo, em todas as suas modalidades, admite a forma tentada. Sendo


delitos plurissubsistentes, i. e., que se completam não com um único ato, mas com uma
série deles, o iter criminis é passível de fracionamento. Desta forma, desde que, iniciada
a execução do delito, o agente não o consuma por circunstâncias alheias à sua vontade,
há tentativa.

TIPO PRIVILEGIADO E PERDÃO JUDICIAL: O parágrafo único do art. 242 do


CP prevê uma causa de diminuição de pena, consistente em o agente realizar a conduta
impelido por motivo de reconhecida nobreza. O privilégio aplica-se a todas as
modalidades de conduta descritas no caput. Reconhecida nobreza significa motivo que
demonstre humanidade, altruísmo, generosidade por parte do agente. Existindo tais
motivos, é possível ao Juiz atenuar a pena ou até conceder o perdão judicial.

AÇAO PENAL: A ação penal é pública incondicionada.

PRESCRIÇÃO: O prazo prescricional, na modalidade de registro de filho alheio (se-


gunda figura típica), começa a correr da data em que o fato se tornar conhecido,
aplicando-se o disposto no art. III, IV, do CP.

Art. 243 - Sonegação de Estado de Filiação

CONCEITO E OBJETIVIDADE JURÍDICA: O CP, no art. 243, tipifica o fato de


sonegação de estado de filiação com o seguinte enunciado: "Deixar em asilo de
expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a
filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado
civil". Objeto jurídico é a organização regular da família, no aspecto particu-lar da
segurança do estado de filiação.

SUJEITOS ATIVO E PASSIVO: Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Não é
necessário que o crime seja cometido pelos ascendentes do sujeito passivo, uma vez que
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a disposição se refere a filho próprio ou alheio. Sujeitos passivos são o Estado e a


criança abandonada.

ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO: O núcleo do tipo é "deixar" que tem o


sentido de abandonar, largar. É necessário que a criança, filho ou não do sujeito ativo,
seja abandonada em instituição de assistência ou asilo de expostos público ou particular.
Se a criança for abandonada em outro local que não os mencionados na lei, o crime não
estará configurado, mas sim os dos arts. 133 ou 134 do CP, conforme o caso. Não basta
à configuração do delito o abandono da criança. E necessário que o agente oculte ou
altere a filiação do sujeito passivo. Ocultar significa esconder; alterar tem o sentido de
atribuir outra filiação que não a verdadeira. A lei não pune o simples abandono do
menor, mas sim a supressão ou alteração de seu estado civil. A criança abandonada pode
ser filho do agente ou não. É indispensável, porém, que esteja em seus primeiros anos
de vida. Não é preciso que a criança seja registrada.

Constitui elemento do tipo a condição de que o sujeito conheça a filiação da


criança, e a oculte ou a altere, para o fim de prejudicar direito inerente ao seu estado
civil. Se o agente desconhece tal filiação, o delito não estará caracterizado.

ELEMENTOS SUBJETIVOS DO TIPO: O crime só é punível a título de dolo.

CONSUMAÇAO E TENTATIVA: Consuma-se o crime no instante em que o sujeito


passivo é abandonado em um dos lugares indicados no tipo, resultando a ocultação ou
alteração do estado civil da criança. A tentativa é admissível. Tratando-se de delito
material, em que pode haver fracionamento das fases de realização, a sonegação de
estado de filiação admite a forma tentada. Por exemplo, o sujeito, não obstante o
abandono da criança, não consegue ocultar ou alterar seu estado de filiação.

QUALIFICAÇÃO DOUTRINARIA: O delito é material, uma vez que o tipo descreve


a conduta e o resultado, exigindo a sua produção para a consumação. É crime de
tendência, em face do especial elemento subjetivo exigido.

AÇÃO PENAL: O crime é punido com reclusão, de um a cinco anos, e multa.


A ação penal é pública incondicionada.

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Pessoal, essa parte de disposiçoes gerais eu nao acho muito importante nao, tendo em
vista a utilizaçao do codigo na hora da prova, so é bom saber que essas disposiçoes
encontram-se listadas nesses artigos expostos. O resto a gente ler na hora e faz a prova!
Hehehehhehehe, mas de qualquer forma está ai! ^^

DISPOSIÇÕES GERAIS DOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES

Formas Qualificadas – Artigo 223 do Código Penal


“Se da violência resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena reclusão de 8 a 12 anos.
Parágrafo único: Se do fato resulta morte:
Pena reclusão de 12 a 25 anos”.

O art. 223 do Código Penal prescreve formas de crimes contra os costumes qualificados
pelo resultado. São delitos preterdolosos, devendo o resultado agravador ser proveniente
de culpa:
- se da violência resultar lesão corporal grave;
- se do fato resultar morte.

Diversamente, se o agente causar lesão corporal grave ou morte dolosamente, deve ser
aplicada a regra do concurso material.

Discute-se na doutrina sobre quais crimes incidem as qualificadoras do art. 223. A


posição majoritária entende que se aplicam apenas ao estupro e ao atentado violento
ao pudor.

Victor Eduardo Rios Gonçalves expõe sobre a divergência da seguinte forma: “Tendo
em vista que a lei não esclarece a quais crimes as qualificadoras se aplicam, existe
grande controvérsia envolvendo o tema, pois, por estarem descritas no Capítulo das
disposições gerais, as qualificadoras seriam aplicáveis a todos os crimes sexuais que
tivessem como pressuposto o emprego de violência (estupro, atentado violento ao
pudor e rapto violento). Prevalece, entretanto, o entendimento de que as
qualificadoras não se aplicam ao crime de rapto violento, uma vez que a pena é
extremamente excessiva para a hipótese e porque o art. 222 do Código Penal
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determina a aplicação do concurso material entre o rapto e qualquer outro delito


praticado durante sua execução ou após sua consumação. Assim, o agente responde
por crime de rapto em concurso material com lesões corporais ou homicídio, e não
pelo crime qualificado”.

O caput do art. 223 traz a expressão “violência”, o parágrafo unico em “fato”. Como o
parágrafo unico sempre se refere ao caput, prevalece o entendimento que tanto para o
caput como para o parágrafo é necessário o emprego de violência; desta surgindo o
nexo causal que efetiva o resultado. O resultado agravador, lesão corporal grave ou
morte, deve ocorrer na vítima do estupro ou do atentado violento ao pudor, não podendo
acontecer em terceiro (que, por exemplo, tenta salvar a vítima e é alvejado pelo agente).

1 - P.: Aplica-se a redução da tentativa, apesar da ocorrência do resultado agravador


lesão corporal grave ou morte (ex.: estupro tentado com resultado morte)?
R.: Majoritariamente, entende-se que não, porque o art. 223 do Código Penal é um tipo
penal autônomo; tem preceito primário e secundário. É qualificado pelo resultado, não é
qualificadora. Sendo autônomo, a tentativa de estupro ou atentado violento ao pudor,
com a consumação da lesão corporal grave ou morte, ensejam a consumação.

Assim, conclui-se que são elementos do tipo do art. 223 do Código Penal, a existência
de um crime contra os costumes praticado com violência e com resultado culposo
(morte ou lesão grave). Presentes esses elementos, o crime está consumado. Não é
possível a tentativa porque não existe tentativa de crime culposo.

2 - P.: Vítima de crime contra os costumes, menor de 14 anos, com resultado lesão
corporal grave ou morte. Qual a solução jurídica mais acertada?
R.: Além da presunção de violência, o art. 9.º da Lei n. 8.072/90 manda aplicar um
aumento de metade da pena. Trata-se de crime hediondo; não havendo qualquer
discussão na doutrina e na jurisprudência, o entendimento é pacífico.

A divergência existe apenas quanto à aplicação do art. 9.º da Lei n. 8.072/90 ao art. 224
do Código Penal. Se não houver morte ou lesão corporal, sendo a vítima menor de 14
anos, trata-se de estupro com violência presumida. Assim, os seguintes
posicionamentos:

1 - Não pode ser aplicado o art. 9.º na hipótese de presunção de violência porque
haveria bis in idem. A mesma circunstância que presume a violência aumenta a pena no
art. 9.º da Lei dos Crimes Hediodos.
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2 - Pode, pois não há bis in idem. O art. 224 do Código Penal é apenas uma norma
explicativa, interpretativa. O art. 9.º da Lei dos Crimes Hediondos pode ser aplicado.

Para o Ministério Público aplica-se o art. 9.º.


Para a Magistratura, há divergência, mas no Tribunal de Justiça a maioria dos
julgados é pela não-aplicação do art. 9.º.

Presunção de Violência – Artigo 224 do Código Penal


“Presume-se a violência, se a vítima:
- não é maior de 14 (catorze) anos;
- é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;
- não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.”

Menoridade da vítima
No dia em que completa 14 anos ainda está dentro da hipótese de presunção; esta é
elidida quando a vítima possui 14 anos e 1 dia. Prova-se a menoridade da vítima por
qualquer meio admitido em Direito (certidão, exame médico de fixação da idade, prova
testemunhal). Havendo certidão de nascimento, esta prevalece, pois tem presunção de
veracidade, até que se prove em contrário. A presunção é relativa porque o agente pode
não saber que a vítima é menor de idade. A prova a ser feita em sentido contrário refere-
se à idade. A dúvida do agente quanto à menoridade da vítima é indiferente; a dúvida
caracteriza dolo eventual. Se a menor quiser, da prática do ato prevalece a presunção.
Há apenas uma decisão em sentido contrário, proveniente do Supremo Tribunal Federal,
Ministro Marco Aurélio.

Deficiência mental da vítima


Debilidade mental é expressão técnica; a vítima deve ser inimputável. Se a vítima for
semi-imputável, não estamos diante da presunção de violência. Prova-se a
inimputabilidade por laudo pericial. A dúvida acerca da inimputabilidade favorece o
agente, uma vez que a lei exige que ele tenha conhecimento; requer-se, portanto, dolo
direto.

Impossibilidade de resistência da vítima por qualquer outra causa


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Ex.: vítima doente, embriagada, drogada, idade avançada, surpresa etc. A


impossibilidade deve ser total. Ex.: embriaguez completa. O agente não precisa causar a
impossibilidade; basta que se aproveite do momento para que incida a presunção de
violência. Todas as três hipóteses do art. 224 do Código Penal são de presunção relativa
e admitem prova em contrário.

AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES – ARTIGO 225 DO


CÓDIGO PENAL
Regra: ação penal privada
Exceções:
- Ação penal pública condicionada à representação: quando a vítima e seus pais forem
pobres, não podendo prover as despesas do processo sem privarem-se dos recursos
indispensáveis para a própria manutenção e de sua família. Verifica-se o caso concreto.
Na prática prova-se por atestado da autoridade policial, mas pode ser feita por qualquer
meio.

3 - P.: Até que momento esta prova pode ser feita?


R.: Até a sentença final, porque pode a pobreza ser constatada em Juízo, no curso do
processo.
- Ação penal pública incondicionada: quando do crime resultar lesão corporal grave ou
morte (art. 223). O art. 223 é um tipo autônomo próprio, que se encontra no mesmo
capítulo do art. 225.

- Ação penal pública incondicionada: quando o crime for praticado com abuso do
pátrio poder ou da qualidade de padrasto, tutor ou curador. Quem pratica o crime é o
próprio representante legal.

- Ação penal pública incondicionada: quando o crime for praticado com violência real:
vias de fato ou lesão corporal (leve). Segundo a Súmula n. 608 do Supremo Tribunal
Federal, no crime de estupro praticado mediante violência real, a ação penal é pública
incondicionada. Essa regra tem por base o art. 101 do Código Penal, que trata do crime
complexo. Tem como elemento do tipo um fato que por si só já é crime. Se a ação penal
é pública para este elemento, deve ser também para o todo.

Essa Súmula foi questionada com o advento da Lei n. 9.099/95.Com o advento dessa
Lei, a lesão corporal leve passou a ser de ação penal pública condicionada à
representação. Discute-se, ainda, quanto a vias de fato. A doutrina afirmou estar a
Súmula revogada, mas o Supremo Tribunal Federal a manteve porque a Lei n. 9.099/95
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só tem aplicação para os crimes de menor potencial ofensivo, e não para os crimes
hediondos.

Causas de Aumento da Pena – Artigo 226 do Código Penal


A pena é aumentada de 1/4 nas seguintes hipóteses:
- Quando o crime for praticado em concurso de agentes.
- Se o agente for ascendente, pai adotivo, padrasto, irmão, tutor, curador, preceptor ou
empregador ou, ainda, pessoa que tenha autoridade sobre a vítima.
- Se o agente for casado (união for estável) ou separado, há quem entenda que acresce a
pena ou não. O divorciado está excluído.
- Se a pessoa estiver incursa nas três hipóteses de aumento, aplica-se o acréscimo uma
só vez, e as demais ficam como circunstâncias judiciais na aplicação da pena.

Extinção da Punibilidade – Hipóteses

Casamento da vítima com o agente: o casamento deve ser efetivo. Essa causa
comunica-se aos demais autores do crime (causa objetiva comunicável). Se o casamento
ocorrer durante o inquérito policial, extingue a punibilidade, sem a permanência de
qualquer efeito; depois do trânsito em julgado da condenação, os efeitos secundários
persistem (só não há o cumprimento de pena).

Exceção: não ocorre a extinção da punibilidade quando o crime acarretar lesão corporal
de natureza grave. Neste caso, aplica-se o art. 223 do Código Penal, tipo qualificado
(art. 107, inc. VII, do CP).

Casamento da vítima com terceiro:não ocorre a extinção da punibilidade se o crime foi


praticado mediante violência real ou grave ameaça (art. 107, inc. VIII, do CP). Só é
possível nos casos de violência presumida ou fraude, desde que a ofendida não requeira
o prosseguimento do inquérito policial ou da ação penal no prazo de 60 dias, a contar da
celebração do matrimônio. Se o matrimônio acontecer após o trânsito em julgado da
sentença, não haverá a extinção da punibilidade.

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