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DIREITO AMBIENTAL

DIREITO AMBIENTAL

Graduação

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DIREITO AMBIENTAL

LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL


DO MEIO AMBIENTE
UNIDADE 4

Para a execução da Política Nacional do Meio Ambiente há leis especiais


que regulam matérias de relevante interesse ecológico.

Essas leis correspondem às diretrizes, objetivos e finalidades dessa


Política. São várias, como as relativas ao uso da água como bem econômico
cujo uso, mediante cobrança, é objeto de outorga; às funções sociais da
cidade e à lei de biossegurança.

Para esta unidade, escolhemos estas três, mas é preciso ficar claro
que as destacamos em caráter exemplificativo, porque representam, cada
qual na sua esfera de regulação jurídica, importantes avanços da política
ambiental. E são avanços que atendem a diferentes interesses da sociedade
nas suas exigências de meio ambiente ecologicamente equilibrado: a questão
da água, cujo uso racional, para fins econômicos, se torna fundamental,
ante a perspectiva de escassez; a necessidade de ordenamento, inclusive
com propósitos ambientais, das cidades e a outra questão fundamental
referente à pesquisa e manipulação de material genético.

OBJETIVOS DA UNIDADE

• Identificar, leis especiais, relativas à execução da Política


Nacio-nal do Meio Ambiente e o modo como essa política se
concre-tiza através de legislação que contempla matérias de
relevante interesse ecológico.

• Interpretar os subsídios oferecidos à prática do futuro operador


do Direito Ambiental consistente em resumo de documento
expedido pela Federação das Indústrias do Rio de Janei-ro sobre
como se obter outorga do uso da água por meio permissão,
autorização ou concessão.

PLANO DA UNIDADE

• A problemática da água e a Lei N. 9.433/97


• A Lei N. 9433/97 – Lei das Águas
• Outorga do uso da água
• Estatuto da cidade
• Lei de Biossegurança.

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UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

A PROBLEMÁTICA DA ÁGUA E A LEI N. 9.433/97

A água pode ser considerada na perspectiva da Política Nacional do


Meio Ambiente, atraindo regras de Direito Ambiental, ou como bem
especificamente protegido pela legislação aplicada ao meio ambiente.

Nesta unidade, focalizaremos a água no contexto da Política Nacional do Meio


Ambiente.

E, em relação com este tema, começaremos por focalizar a problemática


da água com base em reportagem assinada por LIMA, J. G. de. Veja, Rio de
Janeiro, edição 1926, n. 41, p. 89-91, 2005.

O paradoxo do planeta que é 70% água: só 1% serve para uso


humano. O desafio é evitar a poluição, o desperdício e distribuir
melhor esses recursos hídricos.

A preocupação é a de que a água, tão abundante, se torne


paradoxalmente cada vez mais escassa para uso humano. Em março de 2005,
o (então) Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan,
decretou os anos que vão de 2005 a 2015 como a Década da Água. O objetivo
é que, nesse prazo, se reduza, à metade, o número de pessoas sem acesso
à água encanada, cifra que ultrapassa 2 bilhões de pessoas.

Eis os dados oferecidos pela reportagem:

Mantidos os atuais níveis de consumo, estima-se que em 2050


dois quartos da humanidade viverão em regiões premidas pela
falta crônica de recursos hídricos. É um dado gravíssimo
considerando que 60% das doenças conhecidas estão
relacionadas de alguma forma com a escassez de água.

O problema pode ser equacionado em dois termos: má distribuição e


má administração. O primeiro se deve à própria natureza. O segundo se deve
ao homem. A água é, realmente, a substância mais comum na terra. No
entanto, 97% dela estão nos mares, sendo assim, imprópria para uso agrícola
e industrial e para o consumo. Outros 2% estão nas calotas polares, em
forma de gelo ou neve. Resta, assim, apenas 1% de água doce, aquela
disponível nos rios, lagos e lençóis freáticos. Essa água é extremamente mal
distribuída. Países como o Canadá e a Finlândia têm muito mais do que
precisam, enquanto o Oriente Médio nada tem. O Brasil, dono da maior reserva
hídrica do mundo – 13,7% da disponibilidade de água doce do planeta –
expressa internamente esse paradoxo:

– Dois terços da água estão concentrados na região com menor densidade


populacional, a Amazônia. Isso significa que um brasileiro de Roraima tem

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DIREITO AMBIENTAL

1000 vezes mais água à disposição do que um conterrâneo que vive no


interior de Pernambuco.

A água é pesada e difícil de transportar. Levá-la de um lugar para


outro tem sido o grande desafio dos seres humanos desde os tempos dos
romanos, que construíram aquedutos por toda parte.

O segundo problema relativo à água é a má gestão e, nessa área, há outro


paradoxo. Mesmo sendo escassa para a economia, a água sempre foi dada
de graça...

– Até recentemente, nem os industriais nem os agricultores, para não falar


dos consumidores domésticos, pagavam pela água, apenas pelo serviço de
distribuição... No fundo, toda a sociedade paga quando o governo subsidia
empresas estatais para que tratem a água que um empresário vai usar em
sua fábrica, ou quando constrói uma barragem para que um rio seja colocado
à disposição dos agricultores para irrigação. Quando não se paga pelo que
se consome o resultado é o desperdício. Por isto, quando se fala em
solucionar os problemas da água no mundo, uma palavra surge como um
mantra: precificação. Significa que o governo, que é dono em última análise
dos mananciais naturais de um país, deve cobrar pelos recursos hídricos
consumidos por seus cidadãos, revertendo o dinheiro para a cobertura dos
custos de tratamento da água e preservação dos ecossistemas ligados a
ela.

A solução brasileira para problemas dessa natureza encontra-se na Lei n.


9.433/97 - Lei das Águas.

A LEI N. 9433/97 – LEI DAS ÁGUAS

A Lei n. 9.433/97 fixa as linhas gerais para a implementação da Política


Nacional de Recursos Hídricos que é, sem dúvida, conseqüente e parte
essencial à Política Nacional do Meio Ambiente.

A Lei n. 9.984, de 17 de julho de 2000, dispõe sobre a criação da


Agência Nacional das Águas (ANA), entidade federal destinada a implementar
a Política Nacional de Recursos Hídricos do Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos como autarquia sob regime especial dotada de
autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio
Ambiente (artigo 3º).

O artigo 2º, da lei n. 9.984/2000, estabelece que:

“compete ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos promover


a articulação dos planejamentos nacionais, regionais, estaduais
e dos setores usuários elaborados pelas unidades que integram

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UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

o Sistema Nacional de Recursos Hídricos e formular a Política


Nacional de Recursos Hídricos...”

Compete à Agência Nacional da Águas (ANA), de acordo com a Lei


n.9.984/2000:

Artigo 4º - A atuação da ANA obedecerá aos fundamentos,


objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional de
Recursos Hídricos, e será desenvolvida em articulação com órgãos
e entidades públicas e privadas integrantes do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídrico, cabendo-lhe:

I - supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades


decorrentes do cumprimento da legislação federal pertinente
aos recursos hídricos;

II - disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a


operacionalização, o controle e a avaliação dos instrumentos
da Política Nacional de Recursos Hídricos;

III - (vetado)

IV - outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de


recursos hídricos em corpos de água de domínio da União
observando o disposto nos art. 5º, 6º, 7º e 8º;

V - fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de


domínio da União;

VI - elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo


Conselho Nacional de Recursos Hídricos, dos valores a serem
cobrados pelo uso de recursos hídricos de domínio da União,
com base nos mecanismos e quantitativos fixados pelos Comitês
de Bacias Hidrográficas, na forma do inc. VI, do art. 38, da Lei n.
9.433, de 1997;

VII - estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de


Comitê de Bacia Hidrográfica;

VIII - implementar, em articulação com os Comitês de Bacia


Hidrográfica, a cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio
da União, na forma do disposto no art. 22, da Lei 9.433, de
1997.

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DIREITO AMBIENTAL

Entre as diretrizes da Política Nacional de Recursos Hídricos destacam-


se a gestão ambiental; dentre os objetivos, a prevenção e a defesa de
recursos hídricos, a preservação das águas e a utilização racional e integrada
dos recursos hídricos, inclusive com o transporte aquaviário.

São fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos: água, bem de


uso comum do povo; recurso natural limitado, de valor econômico; prioridade
para o consumo humano e dessedentação de animais; gestão, deve
proporcionar uso múltiplo; bacia hidrográfica, como unidade territorial; gestão
descentralizada: poder público, usuários e consumidores.

Prevêem-se cobrança de usos sujeitos à outorga (pela derivação ou


captação; extração do aqüífero subterrâneo; lançamento de esgotos e
resíduos; por aproveitamento hidrelétrico; por outros usos que alterem o
regime, a qualidade e a quantidade disponível) e cobrança pelo uso de
recursos hídricos (incentivos à racionalização do uso; obtenção de recursos
para aproveitamento racional da água com fins econômicos em relação com
a gestão ambiental).

Definem-se como componentes à execução da Política Nacional de


Recursos Hídricos: diagnóstico da situação atual; consideração do uso à
luz de análise alternativa devido ao crescimento demográfico: projeção da
relação entre disponibilidade e demandas futuras; fixação de prioridades à
outorga do direito de uso; estabelecimento de critérios para cobrança.

OUTORGA DO USO DA ÁGUA

Documento elaborado e expedido pela Federação das Indústrias do


Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), por iniciativa de sua Diretoria do Meio
Ambiente, tendo como destinatários os sindicatos filiados, orienta sobre como
obter a outorga do uso da água.

Na apresentação, refere-se à importância da gestão dos recursos


hídricos, à criação da Agência Nacional das Águas e à evolução das legislações
estaduais, levando os segmentos da sociedade a se mobilizarem no sentido
de conhecer e participar das decisões e dos rumos desta questão, hoje,
percebida como fundamental para o desenvolvimento econômico e social
das nações do planeta.

Seguem-se indicações básicas relativas ao pedido e à concessão de


outorga:

COMO OBTER OUTORGA DO USO DA ÁGUA

A utilização das águas de superfície, assim como da água subterrânea,


requer uma autorização emitida por um órgão credenciado, federal ou
estadual - a OUTORGA que é ferramenta que o poder público possui para

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UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

garantir que as prioridades de uso planejadas deverão estar definidas em


um Plano de Bacia e sejam efetivamente respeitadas pelos usuários.

O que é outorga?

É o documento que assegura ao usuário o direito de uso da água


especificando o local, a fonte e a vazão no período determinado e para que
finalidade.

Tipos de outorga

Permissão – quando a utilização da água não for de utilidade pública,


ou seja, for de uso particular e a derivação for de vazão insignificante.

Autorização – quando a utilização da água não for de utilidade pública,


mas com vazão significante.

Concessão – quando a utilização da água não for de utilidade pública.

Características da outorga

De captação – águas superficiais e águas subterrâneas.

De lançamento – lançamento de efluentes.

Como solicitar a outorga?

Através de formulário próprio que contém as informações mínimas


necessárias à avaliação técnica, devendo ser protocolado no órgão
competente.

Quem deve pedir a outorga e suas condições?

- usuários de águas dominiais do estado e da federação;

- captações de água superficial ou subterrânea;

- lançamentos de esgotos líquidos ou gasosos com o fim de sua


utilização em qualquer fonte de água;

- qualquer outro tipo de uso que altere o regime, a qualidade e a


quantidade da água.

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A quem solicitar a outorga?

Águas estaduais – são águas de domínio


estadual os cursos d’água que têm nascente e
foz em um único Estado e as águas subterrâneas.

Águas federais – são cursos d’água de


domínio da União aqueles que banham dois ou
mais Estados, servem de divisa entre esses
Estados ou se estendem a territórios
estrangeiros. Nesses casos, o pedido de outorga
deverá ser feito à Agência Nacional das Águas
(ANA).

ESTATUTO DA CIDADE

O artigo 182 da Constituição brasileira de 1988 refere-se a funções


sociais da cidade, compreendendo o exercício de função social inclusive em
matéria ambiental no complexo urbano.

Este é um dos aspectos da função social ambiental.

Função social significa que são exercidas funções no interesse da sociedade.

Inúmeros institutos jurídicos e políticos, no Estatuto da Cidade, estão


alinhados à Política Nacional do Meio Ambiente, sendo o Estatuto da Cidade
instrumental à sua execução.

Segue-se síntese do Estatuto da Cidade com vistas aos aspectos


ambientais nele contidos.

Artigo 182 CF/88 – A política de desenvolvimento urbano


executada pelo poder público municipal, conforme diretrizes
fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento
das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes.

A implementação dessa política, inclusive nos seus aspectos


ambientais, encontra, agora, fecundo campo de aplicação graças à Lei n.
10.257, de 10 de julho de 2001, que regulamentou os artigos 182 e 183 da
Constituição brasileira de 1988.

No artigo 1º, em seu parágrafo único, estabelecem-se normas de


ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana
em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos bem
como do equilíbrio ambiental.

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UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

No tocante à política urbana e ao objetivo de ordenar o pleno


desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana
o artigo 2º especifica, entre outras, as seguintes diretrizes gerais:

I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como


o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental,
à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos,
ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras gerações;

II – gestão democrática por meio da participação da população


e de associações representativas dos vários segmentos da
comunidade na formulação, execução e acompanhamento de
planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano.

O inciso VI, do artigo 2º, determina que a ordenação e controle do uso


do solo “visam a evitar: g) a poluição e a degradação ambiental.”

O inciso XII refere-se à “proteção, preservação e recuperação do meio


ambiente natural e construído do patrimônio cultural, histórico, artístico,
paisagístico e arqueológico”. O inciso XIII prevê “audiência do Poder Público
municipal e da população interessada nos processo de implantação de
empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre
o meio ambiente natural e construído”.

O artigo 4º, por sua vez, define, entre outros, como instrumentos da política
urbana:

“III – planejamento municipal em especial;

a) Zoneamento ambiental

(.............)

IV – institutos jurídicos e políticos:

d) tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano;

e) instituição de unidades de conservação.

Ainda no artigo 4º, destaca-se:

“VI – estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio


de impacto de vizinhança (EIV).”

O artigo 3º estatui que “Lei municipal definirá os empreendimentos e


atividades privados ou públicos na área urbana que dependerão de
elaboração de estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) para obter as

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licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo


do Pode Público municipal.”

O artigo 37 estipula que “o EIV será executado de forma a contemplar


os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à
qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades,
incluindo a análise, no mínimo, das seguintes questões: (...):

“VI – ventilação e iluminação; VII – paisagem urbana e patrimônio


natural e cultural.”

A elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de


estudo prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação
ambiental. (artigo 38).
O Estatuto da Cidade consagra o Plano Diretor como “o instrumento
básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”. O Plano Diretor,
conforme o artigo 41, é obrigatório para as cidades: (...); “IV – integrantes
de áreas de especial interesse turístico.”
Visando à preventividade e à defensividade do meio ambiente, o artigo
54, do Estatuto da Cidade, trata de matéria processual relevante:

Artigo 54 – O artigo 40 da Lei n. 7.347 de 1985 passa a vigorar


com a seguinte redação;

Artigo 40 – Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta


lei, objetivando, inclusive, o dano ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor
artístico, estético, turístico e paisagístico. (VETADO).

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UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

LEI DE BIOSSEGURANÇA

Um dos mais recentes e importantes diplomas legais relacionados à Política


Nacional do Meio Ambiente, a Lei de Biossegurança – Lei n. 11.105, de 24 de
março de 2005 – mereceu, de Fiorillo1, breves comentários que a seguir
reproduzimos em parte:

A Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005, ao regulamentar os


incisos II, IV e V do § 1º, do art. 225 da Constituição Federal,
entendeu por bem estabelecer normas de segurança e
mecanismos de fiscalização às atividades vinculadas aos
denominados organismos geneticamente modificados – OGM –
e seus derivados, dispondo sobre a denominada Política Nacional
de Biossegurança – PNB.”

“Assim, a nova Política Nacional de Biossegurança visa a


preservar a diversidade, bem como a integridade do patrimônio
genético do Brasil.

A Lei de Biossegurança, segundo Fiorillo:

Lei de Biossegurança

- define critérios normativos destinados a estabelecer a


incumbência constitucional do Poder Público no sentido de
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;

- fixa as regras jurídicas destinadas a controlar a produção, a


comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias
que comportem risco para a vida e o meio ambiente (art. 225, §
1º, II e V, da Constituição Federal);

- dispõe sobre a preservação da diversidade e da integridade


do patrimônio genético com base em critérios de adaptação aos
direitos dos destinatários da norma constitucional por força do
que estabelece o art. 1º, III, da CF/88 (brasileiros e estrangeiros
residentes no país);

- observa o uso do patrimônio genético como bem ambiental em


face da ordem econômica do capitalismo (art. 1º, IV, c/c o art.
170, VI, da CF).

Fiorillo indica, como um dos pontos mais importantes da Lei n. 11.105/2005,


o de:

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(...) viabilizar no plano infraconstitucional o apoio e estímulo às


empresas que invistam em pesquisa e criação de tecnologias
adequadas ao Brasil (art. 218, § 4º, da CF/88) dentro da
orientação constitucional voltada preponderantemente para a
solução de problemas brasileiros, assim como para o
desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional. (art.
3º e 318, da CF/88).

Diretrizes da Política Nacional de Biossegurança (destacadas por Fiorillo)

1. O estímulo ao avanço científico nas áreas de Biossegurança e


Biotecnologia, merecendo destaque a denominada manipulação
genética ou tecnologia de ADN, que nada mais é do que a
alteração de genes ou de material genético para produzir novos
traços desejáveis ou para eliminar os indesejáveis, em termos
de transferência artificial de genes de um organismo para outro
semelhante ou inteiramente diferente;

2. A proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal. Daí,


resta, evidente, que esta diretriz é destinada a comandar as
normas de segurança e os mecanismos de fiscalização sobre a
construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte,
a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento,
a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio
ambiente e o descarte de OGMs (Organismos Geneticamente
Modificados) e seus derivados.

3. Observar o princípio da precaução para a proteção do meio


ambiente2 .

A organização de normas de segurança, assim como os mecanismos


de fiscalização, aplicam-se às seguintes atividades ou obras descritas no
art. 1º:

1) Construção de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados;

2) Cultivo de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados;

3) Produção de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados;

4) Manipulação de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados;

5) Transporte de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados;

6) Transferência de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados;

7) Importação de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados;

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UNIDADE 4 - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

8) Exportação de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados;

9) Armazenamento de Organismos Geneticamente Modificados e seus


derivados;

10) Pesquisa de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados;

11) Comercialização de Organismos Geneticamente Modificados e seus


derivados;

12) Consumo de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados;

13) Liberação no Meio Ambiente de Organismos Geneticamente Modificados


e seus derivados;

14) Descarte de Organismos Geneticamente Modificados e seus derivados.

Pondera Fiorillo (2006, p. 210-219):

“As 14 obras/atividades mencionadas no art. 1º poderão se


desenvolver, desde que obedecendo às imposições
constitucionais já mencionadas e às diretrizes apontadas no
referido artigo (...)”.

VAMOS REFLETIR
No que se refere à chamada Lei das Águas, a reportagem da Revista
VEJA coloca o tema da precificação (subitem 4.4). Consiste no seguinte: o
mau uso ou o desperdício da água decorre, sobretudo, do que não se
paga pela água, apenas pelo serviço de distribuição (...). Afirma-se, na
refe-rida reportagem que quando não se paga pelo que é consumido, o
resultado é o desperdício.

A Lei 9.433/97 (item 4.4) ao prever a cobrança de uso sujeito à outorga


e a cobrança pelo uso de recursos hídricos estaria na linha de solu-ções de
problemas como os levantados pela reportagem da VEJA.

Há, porém, questão que deve ser refletida e debatida:

A solução estaria apenas ou fundamentalmente na precificação,


como sustenta a reportagem da Veja? Ou respostas ao problema
do uso racional da água teriam sua solução na dependência,
sobretudo, da educação e da conscientização ambiental, sendo
a precificação tão somente um dos aspectos a considerar
secundariamente como importante, mas não decisivo?

CONCLUINDO

Recorde-se que a legislação de Direito Ambiental é composta por leis


que estabelecem a Política Nacional do Meio Ambiente e os órgãos do Sistema
Nacional do Meio Ambiente, com seus poderes e competências.

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DIREITO AMBIENTAL

Há instrumentos e mecanismos de e-xecução referentes a várias


“linhas” dessa política e mui-tos dos seus objetivos e finalidades requerem
leis especiais como as que são descritas nesta unidade.

Todo esse conjunto de leis compõe a legislação de Direito Ambiental,


visando à tutela geral do meio ambiente como “bem de uso comum do povo”.
Na lei que regula a Política Nacional do Meio Ambiente, prevêem-se recursos
ambientais que são os bens de que se compõe o “meio ambiente” e que são
objeto de tutela específica – como se verá a partir da unidade seguinte.

LEITURA COMPLEMENTAR
FIORILLO, C. A. P. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 7ª
edição. SP: Saraiva, 2000. 510p.

NAZARETH, A. B. de. Direito Ambiental Básico. 1ª edição. Rio


de Janeiro: UNIVERSO, 2002. 95p. (para os temas relativos à
Lei das Águas e ao Estatuto da Cidade)

É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA).Interaja conosco!

Terminamos nossa quarta unidade de estudo. Na unidade que segue,


estudaremos a natureza protetiva do Direito Ambiental. Então, vamos em
frente.

NOTAS
1
FIORILLO,C. A.P. Curso de direito ambiental brasileiro. 7ª edição. S.P.: Saraiva, 2000.510p.

2
Quanto ao Princípio da Precaução. (ver unidade 5 – subtítulo: Princípio da prevenção).

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