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LICITAÇÃO. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. INIDONEIDADE.

Na espécie, duas são as questões essenciais a serem decididas (pela ordem de prejudicialidade): a
legitimidade da aplicação da pena de inidoneidade contestada em face de ausência de justa causa e de
vícios formais do processo administrativo e os efeitos decorrentes da aplicação dessa sanção, que não
podem atingir os contratos em curso. Para o Min. Relator, ainda que reconhecida a ilegitimidade da
utilização, em processo administrativo, de conversações telefônicas interceptadas para fins de instrução
criminal (única finalidade autorizada pelo art. 5º, XII, da CF/1988), não há nulidade na sanção administrativa
aplicada, já que fundada em outros elementos de prova colhidos em processo administrativo regular, com a
participação da empresa interessada. Segundo precedentes da Seção, a declaração de inidoneidade só
produz efeito para o futuro (efeito ex nunc), sem interferir nos contratos já existentes e em andamento. Com
isso, afirma-se que o efeito da sanção inibe a empresa de licitar ou contratar com a Administração Pública
(art. 87 da Lei n. 8.666/1993), sem, no entanto, acarretar, automaticamente, a rescisão de contratos
administrativos já aperfeiçoados juridicamente e em curso de execução, notadamente os celebrados
perante outros órgãos administrativos não vinculados à autoridade impetrada ou integrantes de outros entes
da Federação (estados, Distrito Federal e municípios). Todavia, a ausência do efeito rescisório automático
não compromete nem restringe a faculdade que têm as entidades da Administração Pública de, no âmbito
da sua esfera autônoma de atuação, promover medidas administrativas específicas para rescindir os
contratos nos casos autorizados, observadas as formalidades estabelecidas nos arts. 77 a 80 da
mencionada lei. No caso, está reconhecido que o ato atacado não operou automaticamente a rescisão dos
contratos em curso firmados pela impetrante. Diante disso, a Seção denegou o mandado de segurança. MS
13.964-DF, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 13/5/2009.

CALÚNIA. ADVOGADO.

No processo em que se buscava a aposentadoria por tempo de serviço, a advogada narrou, nos autos, que
seus representados constataram a falta de boa-fé do funcionário do órgão previdenciário, visto que ele
digitou, na ata de oitiva das testemunhas referente à justificação administrativa, frases por elas não
declaradas, o que constituiria crime. Por sua vez, o funcionário fez representação criminal contra a
advogada (a qual deu azo à formulação de noticia criminis), que culminou no oferecimento de denúncia pelo
delito de calúnia (art. 138 do CP). Porém, em exame perfunctório dos elementos colacionados aos autos,
não obstado na via do habeas corpus, não há como se vislumbrar o elemento subjetivo do injusto (o dolo
específico), consistente na vontade livre e consciente de ofender a honra subjetiva do servidor do INSS. A
advogada apenas se referiu às informações obtidas de seus clientes e de testemunhas constantes dos
autos e de declarações prestadas em juízo, no desiderato de rechaçar a negativa de a Autarquia
Previdenciária conceder a aposentadoria pleiteada. Vê-se que cumpria seu dever de ofício (de defender
seus constituintes), ao indicar atos que, se falsos, decorreram de depoimentos prestados, não por ela, mas
por terceiros. A advocacia constitui munus público e integra a administração da Justiça, não devem seus
representantes passar pela vexatória situação de envolver-se em indevidos processos criminais, como na
hipótese, de forçada atribuição da autoria do delito em apreço. Precedentes citados: HC 30.042-SP, DJ
11/4/2005; HC 96.763-RS, DJ 12/5/2008; HC 76.099-PE, DJ 1º/12/2008; RHC 8.819-SP, DJ 30/10/2000;
APn 165-DF, DJ 28/3/2005, e HC 66.867-RR, DJ 18/6/2007. HC 113.000-RS, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 12/5/2009.

ROUBO CIRCUNSTANCIADO. ARMA BRANCA NÃO APREENDIDA.

A Turma, denegou a ordem de habeas corpus ao entendimento (já consolidado na jurisprudência) de que,
no crime de roubo, quando existem outros elementos comprobatórios que levam a admitir a autoria
imputada ao réu, não é necessária a apreensão da arma ou sua perícia para o aumento da pena pelo seu
uso, conforme previsto no art. 157, § 2º, I, do CP. Nas instâncias ordinárias, ficou comprovado que o ora
paciente ingressou num vagão de trem armado de um estilete e que, sob ameaça, subtraiu dinheiro e o
celular da vítima, a qual depois o reconheceu. Precedentes citados: HC 96.407-SP, DJ 4/8/2008, e HC
91.294-SP, DJ 23/6/2008. HC 127.661-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/5/2009.

AÇÃO CIVIL. IMPROBIDADE. CULPA.


Na espécie, foi imputada ao procurador do Estado a prática de ato de improbidade administrativa previsto
no art. 11, II, da Lei n. 8.429/1992. Mas a Turma deu provimento ao recurso, por entender que a
configuração de qualquer ato de improbidade administrativa exige a presença do elemento subjetivo na
conduta do agente público, pois não é admitida a responsabilidade objetiva em face do atual sistema
jurídico brasileiro, principalmente considerando a gravidade das sanções contidas na Lei de Improbidade
Administrativa (LIA). Assim, é indispensável a presença de conduta dolosa ou culposa do agente público ao
praticar tal ato, especialmente pelo tipo previsto no art. 11 da Lei n. 8.429/1992, especificamente por lesão
aos princípios da Administração Pública, que admite manifesta amplitude em sua aplicação. Por outro lado,
é importante ressaltar que a forma culposa somente é admitida no ato de improbidade administrativa
relacionado à lesão do erário (art. 10 da LIA), não sendo aplicável aos demais tipos (arts. 9º e 11 da LIA).
No caso concreto, o Tribunal de origem qualificou equivocadamente a conduta do agente público, pois a
desídia e a negligência, expressamente reconhecidas, no caso, não configuram dolo, tampouco dolo
eventual, mas modalidade de culpa. Tal consideração afasta a configuração de ato de improbidade
administrativa por violação de princípios da administração pública. Precedentes citados: REsp 734.984-SP,
DJe 16/6/2008; REsp 658.415-RS, DJ 3/8/2006; REsp 604.151-RS, DJ 8/6/2006, e REsp 626.034-RS, DJ
5/6/2006. REsp 875.163-RS, Rel. Min. Denise Arruda, julgado em 19/5/2009.

IMPROBIDADE. SUSPENSÃO. DIREITOS POLÍTICOS.

A Turma entendeu que a suspensão dos direitos políticos do administrador público pela utilização indevida
do trabalho de servidores públicos municipais durante 31 horas, ato que merece irrefutável censura, não se
molda aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; deve, pois, ser afastada essa sanção.
Contudo, manteve-se a condenação em ressarcir aos cofres públicos a importância equivalente às horas de
serviço dos funcionários utilizados de forma indevida, além da multa civil fixada em duas vezes o acréscimo
patrimonial decorrente da irregularidade. Precedente citado: REsp 875.425-RJ, DJ 11/2/2008. REsp
1.055.644-GO, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 21/5/2009.

RESPONSABILIDADE CIVIL. CONCESSIONÁRIA.

A Turma, por maioria, não conheceu o recurso ao entendimento de que, tratando-se de uma concessionária
prestadora de serviço público de energia elétrica que aufere lucros, na condição de empresa que exerce
uma atividade privada, cabe-lhe a atribuição de culpa por negligência na manutenção de linhas da sua rede
elétrica, devendo, assim, assumir a responsabilidade pelos danos morais e materiais sofridos por
empregado vitimado por uma descarga elétrica quando prestava serviço de eletricista em residência
particular, ocasionando-lhe incapacitação para o exercício de atividade laborativa. No caso, afastou-se a
teoria da responsabilidade subjetiva, tal como entendia o Min. Relator que dava provimento ao recurso.
REsp 896.568-CE, Rel. originário Min. Fernando Gonçalves, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 19/5/2009.

HC. EXPLORAÇÃO SEXUAL. MENOR.

O impetrante busca o trancamento da ação penal ao argumento de ser o paciente apenas o proprietário do
local utilizado para a exploração sexual de menor e de nem se encontrar no local na hora do fato criminoso.
Porém, a Turma denegou a ordem, por entender que a inicial acusatória fundada nos indícios de autoria
constantes dos autos demonstra, de forma suficiente para a deflagração da ação penal, que, em tese, o
paciente contribuía para o crime de exploração sexual de menor, na condição de proprietário do hotel onde
ocorria o crime, nos exatos termos do § 1º do art. 244-A, do ECA. Acolher a alegação de que o denunciado
não tinha ciência de que a adolescente prostituía-se em seu estabelecimento demanda dilação probatória
insuscetível de ser feita na via do habeas corpus. O exame da tese defensiva deve ser feito no momento
próprio, pelo juízo ordinário, após necessária instrução criminal contraditória. HC 94.423-CE, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 21/5/2009.

DESACATO. SUJEITO ATIVO. FUNCIONÁRIO PÚBLICO.


O paciente, na qualidade de Secretário de Estado, foi chamado a prestar esclarecimentos à Assembléia
Legislativa. Consta que, na sessão, ele teria detratado os deputados estaduais ali presentes, o que resultou
em sua denúncia pela suposta prática do delito de desacato (art. 331 do CP). A Sexta Turma, prosseguindo
no julgamento, após o voto vista do Min. Og Fernandes (que desempatou a votação), denegou, por maioria,
a ordem entendendo que o crime em questão, de natureza comum, pode ser praticado por qualquer pessoa,
inclusive, funcionário público, seja ele superior ou inferior hierárquico à vítima. Isto porque o bem jurídico a
ser tutelado é o prestígio da função pública, portanto, o sujeito passivo principal é o Estado e,
secundariamente, o funcionário ofendido. Decidiu-se, ainda, que a exordial acusatória apresenta indícios
suficientes para a persecução criminal, sendo impossível aferir, no momento, a alegada atipicidade da
conduta do paciente por ausência de dolo. Os votos vencidos concediam a ordem para extinguir a ação
penal por falta de justa causa. Precedentes citados: Inq 292-AC, DJ 4/2/2002, e HC 9.322-GO, DJ
23/8/1999. HC 104.921-SP, Rel. Min. Jane Silva (Desembargadora convocada do TJ-MG), julgado em
21/5/2009.

ROUBO. CAUSA. AUMENTO. ARMA. GARFO.

O paciente, denunciado pela prática de roubo, insurge-se contra a aplicação da causa de aumento de pena
por emprego de arma (art. 157, § 2º, I, do CP), no caso, um garfo de cozinha, que não foi apreendido ou
submetido à perícia. Neste Superior Tribunal, o Ministro Relator originário aplicou o entendimento de ser
dispensável a apreensão da arma ou a realização de exame pericial para aplicar aquela causa de aumento
quando presentes outros elementos probatórios que demonstrem seu efetivo uso no crime. Diante da
dúvida, quanto ao material de fabrico do garfo e a seu potencial ofensivo, a Turma, no caso, entendeu, por
maioria, conceder a ordem. HC 131.387-RJ, Rel. originário Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão Min.
Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 21/5/2009.

PRISÃO PREVENTIVA. TEMOR. TESTEMUNHAS.

Quando do decreto da prisão preventiva, o juiz fez menção ao temor das testemunhas em esclarecer a
verdade. Do acórdão denegatório da ordem de habeas corpus impetrada no Tribunal a quo, há a informação
de que uma delas (um informante parente da vítima) temeria por sua vida por ter dado depoimento. Por sua
vez, a pronúncia traz a informação de que o réu não tem causado qualquer impedimento à instrução
criminal (já finda no que lhe é mais relevante), mas, mesmo assim, recomenda mantê-lo na prisão, ao
também considerar sua folha de antecedentes e o fato de que as testemunhas, temerosas, manifestaram o
desejo de não o ter presente na sala de audiência. Isso posto, diante da exteriorização das testemunhas de,
tão somente, um medo genérico e de a referida folha não se prestar a justificar prisão cautelar, constata-se
que não há fundamento suficiente para manter a prisão preventiva, sendo de justiça a concessão da ordem
com o fito de conceder liberdade provisória ao paciente mediante termo de comparecimento a todos os atos
do processo. Esse foi o entendimento acolhido pela maioria dos integrantes da Turma, enquanto os votos
vencidos aceitavam o temor das testemunhas diante da presença do réu como fundamento suficiente à
manutenção da prisão e consequente denegação da ordem. HC 122.058-MT, Rel. Min. Nilson Naves,
julgado em 21/5/2009.

PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA. DESCAMINHO.

Os pacotes de cigarro e litros de uísque apreendidos por entrada ilegal no País totalizavam quase sete mil
reais. Assim, não é possível incidir, nesse crime de descaminho, o princípio da insignificância, pois o
parâmetro contido no art. 20 da Lei n. 10.522/2002 (dez mil reais) diz respeito ao arquivamento, sem baixa
na distribuição, da ação de execução fiscal (suspensão da execução), o que denota sua inaptidão para
caracterizar o que deve ser penalmente irrelevante. Melhor padrão para esse fim é o contido no art. 18, § 1º,
daquela mesma lei, que cuida da extinção do débito fiscal igual ou inferior a cem reais. Anote-se que não se
desconhecem recentes julgados do STF no sentido de acolher aquele primeiro parâmetro (tal qual faz a
Sexta Turma do STJ), porém se mostra ainda preferível manter o patamar de cem reais, entendimento
prevalecente no âmbito da Quinta Turma do STJ, quanto mais na hipótese, em que há dúvidas sobre o
exato valor do tributo devido, além do fato de que a denunciada ostenta outras condenações por crimes de
mesma espécie. Com esse entendimento, a Seção conheceu dos embargos e, por maioria, acolheu-os para
negar provimento ao especial. EREsp 966.077-GO, Rel. Min. Laurita Vaz, julgados em 27/5/2009.

RESPONSABILIDADE CIVIL. ESTADO. SUICÍDIO.

Trata-se de ação declaratória de acidente em serviço contra a União, objetivando o reconhecimento de


incidente ocorrido em dependências do Exército que lesionou seriamente o autor ora recorrido. No caso, o
militar deprimido teve acesso a armas e colocou em risco não apenas a sua própria existência, mas também
a de terceiros. O acórdão recorrido salientou que o autor estava depressivo, razão suficiente para que o
Estado exercesse maior vigilância quanto à atuação do militar, limitando o acesso a armas da corporação,
por ensejar risco social desarrazoado. Assim, se o militar temporário comete atentado contra sua vida,
fazendo uso de armas da corporação cujo acesso lhe foi viabilizado por culpa da administração pública, há
responsabilidade hábil a caracterizar o acidente de serviço. Diante do exposto, a Turma, ao prosseguir o
julgamento, por maioria, conheceu em parte o recurso e, nessa parte, negou-lhe provimento, entendendo
que existe nexo causal entre a ação do suicida e o evento que redundou em grave ferimento. REsp
1.014.520-DF, Rel. originário Min. Francisco Falcão, Rel. para acórdão Min. Luiz Fux, julgado em
2/6/2009.

ROUBO MAJORADO. ARMA BRANCA.

Na espécie, o paciente foi condenado, como incurso nas sanções do art. 157, § 2º, I, do CP, à pena de cinco
anos e quatro meses de reclusão em regime inicialmente semiaberto e ao pagamento de 13 dias-multa.
Agora, em habeas corpus, pugna pelo afastamento da qualificadora de emprego de arma (faca) não
apreendida e sem ulterior perícia; ainda, pede para que lhe seja fixado o regime inicial aberto. Ressalta o
Min. Relator, após extensa análise doutrinária e jurisprudencial sobre a prova pericial no processo penal,
que o corpo de delito é indispensável nas infrações que deixam vestígios por expressa determinação legal,
podendo ser suprimido pela prova testemunhal supletivamente quando esses vestígios tenham
desaparecido (art. 167 do CPP). Aponta que, no caso concreto, como se trata de habeas corpus, sua
pretensão deve ser com base em prova convergente e normalmente pré-constituída, mas os autos retratam
uma dúvida relevante sobre o motivo da não apreensão da arma. Assim, sem a possibilidade de identificar o
motivo da não apreensão da arma, é inviável a análise do pedido quanto à incidência da majorante, bem
como a concessão de regime aberto inicial diante do quantum da pena aplicada. Assim, a Turma denegou a
ordem. HC 128.179-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 2/6/2009.

DESCAMINHO. PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA.

Depreende-se dos autos que o paciente foi denunciado pela suposta prática do crime tipificado no art. 334
do CP. Rejeitada a exordial acusatória, o Ministério Público Federal, em recurso em sentido estrito no TJ,
obteve seu reconhecimento, sendo também mantida em embargos infringentes de nulidade. No habeas
corpus, pugna o paciente pela aplicação do princípio da insignificância em razão do baixo valor dos tributos
devidos. O Min. Relator observou que o montante do valor sonegado foi de R$ 672,69, superior ao valor
fixado no art. 18, § 1º, da Lei n. 10.522/2002, não havendo, assim, como considerar insignificante a conduta
do acusado. Isso posto, a Turma denegou a ordem de habeas corpus. Precedentes citados: HC 88.619-MG,
DJ 9/8/2007, e HC 66.308-SP, DJe 10/3/2008. HC 108.966-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 2/6/2009 (ver Informativo n. 396).

MENOR. CONJUNÇÃO CARNAL. CORRUPÇÃO.

A conduta do recorrido que praticou ato libidinoso consistente em conjunção carnal com vítima de 14 anos
não se adequa ao delito tipificado no art. 213 do CP, pois houve consentimento daquela. Do mesmo modo
não se amolda ao delito previsto no art. 218 do CP (corrupção de menor); pois, conforme o acórdão
recorrido, soberano na análise do confronto fático-probatório, a vítima já teria, anteriormente, mantido
relações sexuais com outras pessoas. Assim, conforme precedente da Turma, a anterior inocência moral do
menor se presume iuris tantum como pressuposto fático do tipo. Quem já foi corrompido não pode ser
vítima do delito sob exame. Precedente citado: REsp 822.977-RJ, DJ 12/11/2007. REsp 1.107.009-PR, Rel.
Min. Felix Fischer, julgado em 4/6/2009.

PRISÃO PREVENTIVA. ACIDENTE. TRÂNSITO.

Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de motorista que foi preso em flagrante e denunciado pela
prática da conduta descrita no art. 121, caput, por quatro vezes, e § 4º, parte final, e art. 70, ambos do CP,
por ter provocado acidente de trânsito que ocasionou a morte de cinco pessoas de uma mesma família,
quando dirigia um caminhão sob influência de álcool e sem habilitação. A Turma conheceu parcialmente do
pedido e, nesta parte, denegou a ordem por entender que, quanto à tese de baixa concentração de álcool
na corrente sanguínea do paciente e à falta de calibragem do bafômetro, seria necessário o exame do
conjunto probatório, o que é incompatível com o rito célere e cognição sumária do presente writ. Ademais, a
prisão preventiva não se ressente de fundamentação, mas está respaldada em justificativas idôneas e
suficientes à manutenção da segregação provisória, pois presentes os requisitos autorizadores do art. 312
do CPP. A garantia da ordem pública não se restringe às medidas preventivas para evitar conflitos e
tumultos, mas abrange também a promoção daquelas providências de resguardo à integridade das
instituições, à sua credibilidade social e ao aumento da confiança da população nos mecanismos oficiais de
repressão às diversas formas de delinquência. HC 120.167-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 4/6/2009.

HC PREVENTIVO. EXAMES. BAFÔMETRO. SANGUE.

Trata-se de advogado que, em causa própria, interpôs agravo regimental contra decisão
que indeferiu liminarmente o recurso de habeas corpus, insistindo nos mesmos
argumentos utilizados no habeas corpus preventivo interposto no Tribunal de Justiça, no
qual requer a concessão de salvo-conduto para se negar a submeter-se ao exame de
alcoolemia ou de sangue para fins do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro.
Argumenta que ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo. A Turma
negou provimento ao recurso diante do fato de não existir qualquer lesão ou ameaça
concreta ao direito de ir, vir e ficar do recorrente. Observa o Ministro Relator que não se
pode considerar como fundado receio o simples temor de um dia ser chamado a
submeter-se ao exame de alcoolemia quando na direção de veículo automotor nas ruas.
Ressaltou que a nova lei não obriga o cidadão a produzir prova contra si próprio, tendo
em vista que, além do “bafômetro” e do exame de sangue, subsistem os demais meios de
prova em direito admitidos para constatação de embriaguez, sendo certo que a recusa em
submeter-se aos testes implica apenas sanções administrativas. Ademais, a norma do art.
165 do CTB está sendo apreciada na ADIn. 4.103-DF pelo STF. Precedentes citados:
AgRg no HC 84.246-RS, DJ 19/12/2007, e RHC 11.472-PI, DJ 25/2/2002. AgRg no RHC
25.118-MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 9/6/2009. (Informativo Nº: 0398 –
STJ)

HC. PRISÃO PREVENTIVA.

Trata-se de habeas corpus em que se alega não haver os requisitos autorizadores da prisão preventiva e o
ora paciente apresentar condições pessoais favoráveis. Alega-se, ainda, haver equívoco por parte do juízo
de primeiro grau ao considerá-lo foragido. Conforme os autos, verificou-se que dois foram os fundamentos
para a decretação da prisão preventiva, isto é, a situação de foragido e os graves antecedentes do paciente.
A Turma, ao prosseguir o julgamento, entendeu, por maioria, que a fundamentação relativa aos
antecedentes é plenamente válida, pois não se trata de presumir a periculosidade do agente a partir de
meras ilações, conjecturas desprovidas de base empírica concreta, pelo contrário, no caso, a periculosidade
decorre do fato de constar, na folha de antecedentes do paciente, condenação pelos crimes de latrocínio e
extorsão mediante sequestro e ainda um processo em curso pela prática do crime do art. 297 do CP
(falsificação de documento público), além de acusação de homicídio. Tal condição demonstra a
possibilidade de que o paciente, se solto, volte a delinquir. Assim, sua soltura pode ensejar grave ameaça
ao seio social e, por consequência, à ordem pública. Ademais, condições favoráveis, tais como ocupação
lícita e residência fixa no distrito da culpa, por si sós, não têm o condão de garantir ao paciente a revogação
da prisão preventiva se há, nos autos, elementos hábeis a recomendar a manutenção de sua custódia
cautelar. Diante disso, denegou-se a ordem. Precedentes citados: HC 57.315-RJ, DJ 1º/8/2006; RHC
16.851-BA, DJ 1º/2/2005; HC 56.205-SC, DJ 14/8/2006; RHC 18.170-MG, DJ 21/11/2005; RHC 18.133-MG,
DJ 21/11/2005; RHC 17.809-CE, DJ 14/11/2005; HC 42.061-DF, DJ 26/9/2005, e HC 44.752-GO, DJ
26/9/2005. HC 125.059-GO, Rel. originária Min. Laurita Vaz, Rel. para acórdão Min. Felix Fischer,
julgado em 16/6/2009.

HC. POSSE ILEGAL. ARMA. FOGO.

Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso ordinário contra acórdão que manteve o recebimento da
denúncia do ora paciente em relação ao crime de posse ilegal de arma de fogo. A Turma denegou a ordem
de habeas corpus, por entender que a nova redação dada aos arts. 30 e 32 da Lei n. 10.826/2003 (Estatuto
do Desarmamento) pela Lei n. 11.706/2008 prorrogou até o dia 31 de dezembro de 2008 apenas o prazo
para a regularização de armas de fogo de uso permitido, não contemplando as armas de uso restrito ou de
numeração raspada, como no caso dos autos. Assim, sendo o paciente flagrado no dia 9 de abril de 2008,
não tinha ele qualquer possibilidade de regularizar as armas que possuía. De outro lado, não entregando
tais armas espontaneamente à autoridade competente, evidencia-se a existência de justa causa para a
ação penal pela demonstração de dolo de manter em seu poder armas de fogo de origem irregular. HC
124.454-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/6/2009.

ROUBO. EXTORSÃO. ARMA. BIS IN IDEM.

O paciente associou-se a outros três para a prática de crimes patrimoniais. Primeiro, mediante o uso de
arma de fogo, eles roubaram um automóvel e os pertences do condutor, além de restringir sua liberdade.
Logo após, usando novamente aquele instrumento, constrangeram outra vítima a fornecer senhas de
cartões magnéticos e a assinar cheques para que obtivessem vantagem patrimonial indevida. Por isso,
foram condenados pela prática de roubo e extorsão circunstanciados e também pela formação de quadrilha
armada. O que se alega é a existência de bis in idem na condenação, em razão da punição mais de uma
vez pela mesma circunstância, o uso da arma. Nesse contexto, é certo que o reconhecimento do bis in idem
deriva da interpretação crítica dos fatos à luz do conceito fundamental de bem jurídico. No caso, quanto à
extorsão e ao roubo, em que a incriminação busca tutelar o patrimônio e a liberdade ou integridade física,
por mais que o resultado seja o mesmo (subtração de bens), não há falar em bis in idem, porquanto
praticados perante vítimas diferentes. O fato de o juízo reconhecer a continuidade delitiva, não implica
deixar de reconhecer que ambos os delitos são circunstanciados. Já quanto ao crime de quadrilha, o bem
jurídico protegido com a incriminação é a paz pública, a demonstrar, em comparação ao outro grupo de
incriminações, que eles são independentes, a ponto de justificar a exasperação em razão do emprego de
arma. Precedentes citados: HC 91.129-SP, DJe 4/8/2008; HC 54.773-SP, DJ 7/2/2008; HC 27.142-RS, DJ
28/8/2006, e HC 33.894-RJ, DJ 14/3/2005. HC 73.234-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 18/6/2009.

PECULATO. DIÁRIAS.
A Turma, prosseguindo o julgamento, por maioria, denegou o writ, considerando ser apta a denúncia, uma
vez que a conduta ilícita atribuída ao réu (peculato) não pode ser considerada atípica, pois presentes os
indícios que fundamentaram a acusação. A inépcia da denúncia, eventualmente, pode ser acolhida quando
inequivocamente houver prova de deficiência que impeça a compreensão da acusação em prejuízo da
defesa do acusado, ou quando presentes quaisquer das falhas elencadas no art. 43 do CPP. No caso, os
processos de concessão de diárias aos corréus, conforme a denúncia, evidenciam a pendência do
pagamento de indenização à prestação de contas pela diretoria do órgão legislativo estadual, responsável
pela apreciação da legalidade da despesa e eventual regularização. Ao acusado cabia o dever de prestar
contas da indenização concedida aos corréus, daí o reconhecimento da tipicidade de sua conduta. No mais,
ausente a alegada falta de justa causa. Precedentes citados: RHC 18.502-SP, DJ 15/5/2006; HC 88.178-SP,
DJe 2/2/2009, e RHC 14.143-ES, DJ 4/8/2003. HC 116.302-ES, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
23/6/2009.

ESTUPRO. VIOLÊNCIA PRESUMIDA.

O ora paciente foi condenado, em primeiro grau, à pena de 8 anos e 7 meses de reclusão pela prática de
estupro contra menor de 14 anos de idade. O TJ deu provimento à apelação da defesa, reduzindo a pena a
6 anos e 9 meses de reclusão a ser cumprida integralmente no regime fechado, considerado o caráter de
hediondez desse delito, ainda que na forma de violência presumida. No HC, alega-se não existirem
elementos de convicção para condenação do paciente e ainda se sustenta, subsidiariamente, falta de
fundamentação à exasperação da pena acima do mínimo legal; assim, pede-se sua absolvição. Para o Min.
Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), um aspecto que merece destaque prende-se a que,
para boa interpretação da lei, é necessário levar em consideração todo o arcabouço normativo, todo o
ordenamento jurídico do País. A interpretação da lei não prescinde do conhecimento de todos os ramos do
Direito. Mas uma visão abrangente desse arcabouço facilita, e muito, o entendimento, bem como sua
interpretação. Em tal linha de raciocínio, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) precisa ser
analisado para enfrentar essa questão, qual seja, a de se saber se o estupro e o atentado violento ao pudor
por violência presumida se qualificam como crimes e, mais, como crimes hediondos. Conforme o art. 2º
daquele Estatuto, o menor é considerado adolescente dos 12 aos 18 anos de idade, podendo até sofrer
medidas socioeducativas. Assim, se o menor, a partir de 12 anos, pode sofrer tais medidas por ser
considerado pelo legislador capaz de discernir a ilicitude de um ato infracional, tido como delituoso, não se
concebe, nos dias atuais, quando os meios de comunicação em massa adentram todos os locais, em
especial os lares, com matérias alusivas ao sexo, que o menor de 12 a 14 anos não tenha capacidade de
consentir validamente um ato sexual. Desse modo, nesse caso, o CP, ao presumir a violência por não dispor
a vítima menor de 14 anos de vontade válida, está equiparando-a a uma pessoa portadora de alienação
mental, o que não é razoável, isso em pleno século XXI. Efetivamente, não se pode admitir, no
ordenamento jurídico, uma contradição tão manifesta, qual seja, a de punir o adolescente de 12 anos de
idade por ato infracional, e aí válida sua vontade, e considerá-lo incapaz tal como um alienado mental,
quando pratique ato libidinoso ou conjunção carnal. Ademais, não se entende hediondas essas modalidades
de crime em que milita contra o sujeito ativo presunção de violência. Isso porque a Lei de Crimes Hediondos
não contempla tais modalidades, ali se encontra, como crimes sexuais hediondos, tão-só o estupro e o
atentado violento ao pudor, nas formas qualificadas. A presunção de violência está prevista apenas no art.
224, a, do CP, e a ela a referida lei não faz a mínima referência. E, sem previsão legal, obviamente não
existe fato típico, proibida a analogia contra o réu. Com esses argumentos, entre outros, a Turma, ao
prosseguir o julgamento, por maioria, concedeu a ordem para desconstituir a decisão que condenou o
paciente como incurso nas penas do art. 213 do CP, absolvendo-o sob o fundamento de que os fatos a ele
imputados não configuram, na espécie, crime de estupro com violência presumida. O Min. Og Fernandes, o
relator originário, ficou vencido em parte por entender, de acordo com julgado da Terceira Seção do STJ, o
reconhecimento da violência presumida no caso, presunção essa tida por absoluta, só concedendo a ordem
para efeito de progressão de regime. HC 88.664-GO, Rel. originário Min. Og Fernandes, Rel. para o
acórdão Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 23/6/2009.

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