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Programa de Acção

candidatura a Presidente
do Instituto Superior de Agronomia
da Universidade Técnica de Lisboa

Pedro Aguiar Pinto

Outubro de 2009
A nós não nos cabe decidir o que acontece!
Tudo o que nos cabe decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado

Gandalf a Frodo em
"A irmandade do Anel"

J. K. R. Tolkien

Motivação A minha candidatura ao cargo de Presidente do ISA surge


como uma decisão ponderada que leva em conta a presente
situação do ISA e uma avaliação pessoal das minhas
responsabilidades e capacidades.

Em Maio passado, em conjunto com muitos outros colegas, promovemos a constituição de


uma lista ao Conselho de Escola, novo órgão de gestão do ISA, criado pela homologação
dos novos Estatutos.

A nossa intenção era chamar a atenção para a necessidade de encontrar modos de


participação activa num cenário em que as competências de gestão seriam mais
concentradas nos órgãos de topo (Conselho de Escola, Presidente, Conselho de Gestão,
Conselho Científico e Conselho Pedagógico). Este objectivo foi conseguido com uma
participação eleitoral maciça que resultou num resultado inesperado. Nenhum dos
elementos da lista tinha intenção de se candidatar a Presidente; parecia-nos importante
afirmar a independência e autonomia do Conselho de Escola.

O Conselho de Escola (CE) tomou posse, co-optou três membros externos e escolheu-me
como seu Presidente. Num prazo apertado e com muita disponibilidade de todos os seus
membros, o que merece ser realçado, procurou-se concluir o processo de eleição do
Presidente do ISA antes das férias de Verão; o período de candidaturas foi aberto na
penúltima semana de Julho e a única candidatura apresentada foi apreciada pelo CE a 24
de Julho: surpreendentemente não conseguiu recolher os votos necessários à eleição.

Antecipando um segundo processo eleitoral, comecei a encarar, primeiro como alternativa


possível e depois como responsabilidade pessoal nascida da minha leitura dos vários actos

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eleitorais, a hipótese que nunca antes tinha colocado de me candidatar ao cargo de
Presidente do ISA.

Levei algum tempo a ponderar tudo o que condiciona esta decisão, incluindo a necessidade
de renunciar ao Conselho de Escola e, portanto também, ao cargo de seu Presidente.

Uma vez tomada a decisão, apresentei ao Magnífico Reitor da Universidade Técnica de


Lisboa (UTL), a minha renúncia como membro do Conselho de Escola.

Mesmo sem ter sido este o meu desejo inicial, a minha motivação é forte, confiando que a
minha candidatura é um contributo positivo para o futuro do ISA.

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"(A Universidade) é o lugar propício à investigação, onde as descobertas são
verificadas e aperfeiçoadas (…) e onde o erro é exposto pela colisão de pensamento
com pensamento e de conhecimento com conhecimento”.

John Henry Newman, "What is a University?", 1854

Missão O Presidente deve ser o garante da equidade com que a escola acolhe
a grande diversidade de actividades, grupos ou pessoas.

Os Estatutos do ISA atribuem um grande conjunto de competências ao Presidente.


Contudo, tal não me parece dever ser interpretado como uma indicação para o exercício de
um poder autocrático centrado numa pessoa, porventura, considerada providencial. Pelo
contrário, considero que os Estatutos conferem ao Presidente uma responsabilidade
especial perante todos os aspectos da vida da escola que o impele a agir subsidiariamente
como mobilizador de vontades e dinamizador de iniciativas, procurando uma visão
colectiva necessária à prossecução de um rumo estratégico.

A primeira responsabilidade do Presidente é fazer sua a missão do ISA que pode ser
traduzida na constante afirmação de uma escola de formação e conhecimento avançados,
de investigação e transmissão de conhecimento nos domínios da gestão sustentável de
recursos biológicos naturais, da engenharia de produção sustentável agrícola, florestal,
pecuária e alimentar e da gestão ambiental e paisagística.

O Presidente deve constituir um elemento de coesão e, sobretudo, ser capaz de garantir


equidade no acolhimento e nas oportunidades que a escola atribui a diferentes actividades,
iniciativas, projectos ou grupos. Concretamente, deve ser capaz de assegurar que as
diferentes funções estatutariamente reconhecidas – ensino, investigação e ligação à
comunidade – mereçam reconhecimento equitativo. Deve garantir que todas as unidades
funcionais, independentemente da sua dimensão ou visibilidade ou afastamento
geográfico, tenham um tratamento adequado, nomeadamente na transparência e equidade
com que os recursos lhes são afectados.

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O Presidente deve ainda contribuir para uma justa e equilibrada valorização pessoal de
quantos colaboram na prossecução da missão do ISA, independentemente de estatuto,
vínculo ou qualquer outro factor diferenciador.

Do mesmo modo, o Presidente deve garantir que a escola assegure aos seus estudantes a
qualidade de ambiente universitário capaz de proporcionar uma maturação científica,
cultural e humana formadora de pessoas intervenientes na sociedade com
responsabilidade e competência.

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Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. A excelência, por isso, não é um acto mas um hábito

Aristóteles

Visão Em 2013 vejo o Instituto Superior de Agronomia, então já centenário,


orgulhoso da sua tradição e melhor preparado para enfrentar os desafios
do futuro, focado na melhor formação dos seus estudantes, com uma
presença internacional significativa quer no ensino quer na investigação
e empenhado em cumprir as suas obrigações para com a sociedade em
que se insere, para com a Universidade de que faz parte e para com a
comunidade que o integra.

A melhor formação dos estudantes como primeiro objectivo significa uma capacidade de
identificar valores, competências e conhecimento e de os transmitir aos nossos estudantes,
contribuindo deste modo para a sua inserção na sociedade. Trata-se de sermos capazes de
transmitir conhecimento avançado, capacidade de tomar decisões e resolver problemas com
criatividade, mas também com consciência do risco, num quadro de referências éticas
profissionais e académicas que contribua efectivamente para a sua empregabilidade. Para
isso, a escola estará organizada de modo a criar um ambiente académico propício que
disponha dos meios de aprendizagem mais adequados e distribuídos de forma equitativa.

A presença internacional pode medir-se, em primeiro lugar, pela proporção de


estudantes estrangeiros em qualquer dos ciclos de formação, bem como pelas parcerias
(educativas, científicas ou culturais) com instituições e empresas internacionais. É claro que
também é fortemente afirmada pelo número e qualidade de publicações científicas de
circulação internacional. Deve ser destacada ainda, a tradição e responsabilidade histórica
particular que o ISA tem no esforço de cooperação internacional, em particular com os
países de língua portuguesa. O curriculum do ISA de conhecimento e interacção com o
ambiente físico, biológico e humano das regiões tropicais em que se fala português merece
ser preservado, explorado e acrescentado e posto ao serviço desta tarefa.

A significância internacional da investigação implica uma actividade que envolve uma


grande parte do corpo académico, capaz de gerar recursos e formação avançada e que recolhe
reconhecimento internacional. É também potenciada por uma atitude mais colaborativa
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entre grupos de investigação que permita maior discussão e divulgação internas e mais
efectiva partilha de recursos.

Por obrigação para com a sociedade, entenda-se aquela terceira função universitária com
uma importância equiparável ao ensino e à investigação e que consiste na valorização do
conhecimento, colocando-o ao dispor da sociedade em que a universidade se insere.
Reconhecer esta importância traduz-se no envolvimento de um número significativo do
corpo académico em actividades de transferência de tecnologia e de conhecimento e no vigor
de estruturas como a ADISA e a INOVISA que apoiam a interacção com a sociedade.

A inserção do ISA na Universidade Técnica de Lisboa não deve ser avaliada por
qualquer bitola de importância relativa, mas pelo grau de envolvimento em actividades inter-
escolas e, sobretudo, por aquilo que reflecte o carácter “universal” da Universidade:
programas de ensino ou investigação transversais, projectos interdisciplinares e partilha de
recursos. Privilegiando a relação inter-escolas que sublinhe a relação de pertença à UTL, não
significa não corresponder, nem significa não estimular a cooperação e intercâmbio com
outras instituições de ensino, investigação e desenvolvimento nacionais e estrangeiras, na
continuidade do que é a nossa tradição.

A obrigação do ISA para com a comunidade que o constitui traduz-se num ambiente
propício ao ensino e aprendizagem, à investigação e criação de conhecimento, ao debate
científico e cultural, onde cada um, quer seja docente, investigador, funcionário ou aluno se
sinta “em casa”, se sinta acolhido e veja valorizadas as suas capacidades e o seu empenho.
Traduz-se também na transformação em hábito permanente de avaliação do desempenho, o
que no caso do corpo académico, consiste na aplicação sistemática e afinação se necessário,
do sistema de atribuição de créditos em vigor. No caso dos serviços associados ao regular
funcionamento da instituição – serviços administrativos e académicos –, esta obrigação
traduz-se na procura constante de agilidade e eficiência melhoradas, oferecendo ao mesmo
tempo garantias de rigor e qualidade.

O ISA é indissociável do espaço privilegiado que ocupa: a Tapada da Ajuda. Aproxima-se o


centenário da instalação do Instituto Superior de Agronomia na Tapada da Ajuda. É uma
ocasião, por excelência para tirar todo o partido do património ambiental, paisagístico e agro-
florestal que um parque com a natureza da Tapada representa na cidade de Lisboa. Em 2013,
tendo conseguido aproveitar adequadamente esta oportunidade, a Tapada será muito melhor
desfrutada pela comunidade do ISA, aberta à UTL e com actividades educativas, culturais e
recreativas também ao serviço da cidade.

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A Engenharia consiste em encontrar a melhor solução com os recursos e tempo
disponíveis e não a solução perfeita com recursos e tempo infinitos….

Acção O mandato do futuro Presidente do ISA é marcado pelo momento em


que se inicia e que se caracteriza pelas grandes transformações no
ensino superior e na investigação, pela situação particular da escola e
pela entrada em funcionamento dos novos Estatutos.

As condições em que ocorre este processo de apresentação de candidaturas a Presidente


do ISA são particulares por várias ordens de razões:

É a primeira vez que o ISA escolhe o seu Presidente com novas funções e
competências atribuídas pelos novos Estatutos e através de uma eleição no âmbito de
um novo órgão com missão de definição estratégica e de fiscalização – o Conselho de
Escola – e ainda de entre um domínio universal com divulgação pública.

A homologação dos novos Estatutos iniciou um novo modo de governo do ISA com
redistribuição de competências entre os vários órgãos de gestão, estando à nossa
frente um caminho que é preciso fazer.

Tudo isto é contemporâneo com uma vasta reforma curricular de adaptação de graus
académicos às exigências de harmonização e intercâmbio internacional e com uma
importância acrescida do papel da investigação e seu financiamento na vida das
universidades.

A escola tem ainda características particulares que decorrem de uma situação


financeira em recuperação, mas frágil; de uma população genericamente envelhecida
(a idade média dos docentes é de 54 anos, dos funcionários não docentes ou
investigadores é de 50 anos e até a dos “jovens investigadores” é de 39 anos); e de ser
usufrutuária de um património muito significativo, mas de manutenção pesada.

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Este futuro mandato de Presidente tem ainda a característica de se iniciar com um
orçamento já definido e praticamente no fim do 1.º semestre lectivo.

Os recursos disponíveis decorrem também deste enorme capital humano que traz
consigo o lado positivo da maturidade: grande qualificação académica, mais-valia de uma
vasta experiência adquirida, equipas de trabalho organizadas, uma imagem exterior que
potencia consultadorias especializadas.

O património sob gestão do ISA – a Tapada e o Jardim Botânico – configuram


responsabilidades, mas também, recursos. Do mesmo modo, o património edificado,
sendo um recurso, constitui também uma pesada responsabilidade de conservação.

Os nossos alunos e alumni são também um recurso que pode ser potenciado, traduzindo-
se na nossa capacidade de angariar novos alunos e da qual depende a proporção mais
significativa dos nossos recursos financeiros.

O futuro constrói-se com base nas oportunidades mas partindo dos recursos do presente.
Por isso, a estratégia de desenvolvimento do ISA deve apoiar-se na compreensão das
capacidades presentes e na sua valorização. A aposta em novas áreas deve ser efectuada em
profunda articulação com o tecido de competências e de saberes existentes.

No âmbito das competências enunciadas no edital e nos Estatutos o Presidente deve


assegurar a execução das linhas estratégicas definidas pelo CE. Uma vez que o recém-eleito
CE não teve ainda oportunidade de se debruçar sobre este assunto, este programa de acção
procurará um ajustamento permanente às orientações estratégicas que o CE for
construindo.

Entretanto, sob os títulos Missão e Visão, procurei dar a conhecer os critérios, ou


orientações gerais que norteiam as principais acções que me proponho pôr em prática.

O primeiro conjunto de acções, justificado pelas características particulares deste mandato


inicial de Presidente do ISA, é orientado para a normalização do governo da escola que
passa pelo cumprimento das determinações estatutárias, nomeadamente no que respeita à
nova departamentalização, pelo apoio à criação e operacionalidade do Conselho de
Coordenadores e na clareza de definição de atribuições dos vários órgãos de gestão em
sintonia com os Presidentes dos Conselhos de Escola, Científico e Pedagógico. Uma acção
que decorre da forma como encaro a relação com a escola é a necessidade óbvia de associar
a cada decisão significativa a sua ampla e eficaz divulgação.

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Seguem-se sem preocupação exaustiva, um conjunto de acções organizadas em três
domínios, em estreita ligação com os restantes órgãos de gestão do ISA.

Ensino:

• Promover activamente em associação com o Conselho Científico uma estratégia


institucional para os 3ºs ciclos e cursos de formação avançada, nomeadamente procurando
parcerias com as outras escolas da UTL e outras universidades nacionais e estrangeiras, à
semelhança de alguns exemplos bem sucedidos;

• Rever e ajustar a adequação dos 2ºs ciclos do ISA permitindo uma efectiva diversidade de
percursos curriculares;

• Promover os 2ºs ciclos do ISA e investir na captação de alunos exteriores, muito


particularmente alunos estrangeiros, propiciando aulas em inglês num número crescente de
unidades curriculares (UCs) e procurando também avaliar da vantagem/possibilidade de
modalidades de formação pós-laboral

• Estimular ofertas de ensino em áreas que correspondam a novas necessidades de


conhecimento ou novas possibilidades de trabalho na sociedade, dirigidas para a pós-
graduação;

• Incentivar a mobilidade académica, de docentes e alunos, nomeadamente com a Europa e


com os países de língua oficial portuguesa tanto no ensino como na transferência de
conhecimento;

• Desenvolver uma política de inserção de alunos em empresas, durante e após os cursos,


promovendo jobshops e realizando acções formativas e informativas, intra e extracurriculares
de iniciativas empresariais;

• Procurar envolver a Associação de Antigos Alunos do ISA na procura activa de empresas


com interesse e disponibilidade para constituir uma base de parcerias de interesse mútuo;

• Apoiar as estruturas organizativas estudantis, nomeadamente a AEISA, na promoção de


uma melhor integração dos estudantes na vida do ISA nas suas diferentes vertentes.

Investigação e serviço qualificado à comunidade:

• Apoio e reforço das actividades de investigação e experimentação em curso no ISA,


procurando favorecer a sua integração numa estratégia comum e articulada com o ensino,
sobretudo de 3º ciclo, de modo a poder oferecer aos nossos alunos um ambiente favorável à
integração no mundo da investigação;

• Identificação de áreas estratégicas quer as que combinam especificidades do ISA quer


actividades científicas complementares das actuais, que constituam boas apostas no futuro
imediato e a médio prazo, potenciando a integração do conjunto das áreas científicas do ISA
neste processo;

• Promover a renovação do património humano do ISA, procurando conseguir aliar critérios


de qualidade científica com a capacidade de desempenho de múltiplas funções (e.g. gestão de
projectos, serviço docente, colaboração na prestação de serviços qualificados).
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• Agilizar, sem perda de rigor, os procedimentos administrativos e a gestão financeira de
projectos de investigação, das prestações de serviços especializadas e de consultadoria;

• Continuar a apoiar o papel da INOVISA e a constituição de empresas por alunos,


incentivando a integração do ISA em redes de incubadoras de base científica e tecnológica a
nível europeu;

• Estimular, promover e apoiar seminários, conferências e debates (orientados para discentes


e docentes, e abertos ao exterior), nomeadamente, convidando periodicamente
personalidades de reconhecido mérito sobre temas actuais de relevância nacional e
internacional, afirmando deste modo, a centralidade do ISA no esclarecimento, debate e
divulgação nas áreas que constituem o seu curriculum histórico.

Organização e gestão do ISA:

• Garantir a transparência das contas do ISA, através da análise cuidadosa e divulgação geral
do Relatório Financeiro Anual e Relatório de Actividades em tempo útil;

• Utilizar indicadores de desempenho e gestão do ISA que permitam um acompanhamento e


avaliação eficazes das actividades de gestão da escola;

• Promover o processo da avaliação institucional externa e de auto-avaliação da Escola,


fundamental para o exercício competente de condução estratégica;

• Potenciar o contributo dos funcionários técnicos e administrativos através de uma


implementação mais criteriosa do SIADAP, orientando também a avaliação para a
identificação das acções de formação a realizar e dos bloqueios ao nível das condições de
trabalho;

• Valorizar o património representado pela Tapada e o Jardim Botânico, apoiando e


desenvolvendo iniciativas criativas de que há exemplos bem sucedidos;

• Dar continuidade ao esforço (já iniciado) na gestão do ISA no que toca à melhoria,
agilização e rigor dos serviços financeiros, especialmente em matéria de gestão de projectos;

• Identificar e apoiar estruturas e áreas do ISA únicas no país e que, pela sua fragilidade
actual, podem degradar-se ou deixar de existir (e.g. Herbário, acervo documental da BISA);

• Garantir a actualização e divulgação permanente da avaliação multifuncional de todos os


docentes e investigadores, com regras claras, incorporando todas as competências possíveis e
mais-valias trazidas para o ISA.

• Promover com o recurso a novas tecnologias de informação uma efectiva partilha durante e
após o processo de decisão. A inteligência colectiva, expressa na agregação de propostas
individuais, usando ferramentas colaborativas1, pode não conduzir a melhores decisões, mas
assegura indubitavelmente um grau de apropriação das decisões pela comunidade que
fortalece e revigora o sentido de pertença e de identificação com a estratégia colectiva.

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Em rápida ascensão devido ao exemplo da campanha presidencial americana

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