Você está na página 1de 2

Deixo aqui alguns exemplos pessoais que permitem verificar as injustiças e

incorrecções deste modelo de avaliação de desempenho.


Dou aulas em duas escolas públicas do centro litoral do país. Para além das
idades e dos cursos serem diferentes, o meu dia-a-dia reflecte claramente essa
diversidade. Num caso, tenho excelentes alunos. Nessa escola é estimulante leccionar e
cada dia é uma nova experiência enriquecedora a todos os níveis. Certamente que serei
avaliado com uma boa nota nesta situação. Por outro lado, na outra escola, embora
continue a ser uma experiência enriquecedora, os alunos têm imensas dificuldades (até
em perceber português!!!), histórias de vida e meios familiares extremamente
complicados e as notas não serão (logicamente) tão boas (o desinteresse é constante e o
meio familiar em nada ajuda). Aqui serei um mau professor? Então como serei
avaliado? Bom ou mau? Razoável?
Em ambos os casos, utilizo diversificados meios para leccionar, utilizo
constantemente materiais diversificados e coloco todo o meu empenho em cada aluno
independentemente das suas dificuldades de aprendizagem e do seu meio social e
cultural. É extremamente gratificante ver que todo o esforço tem vindo a dar frutos pois
a evolução dos alunos em ambas as escolas é evidente, e conversando um pouco com
eles percebe-se que evoluíram a todos os níveis. Porém, as avaliações quantitativas são
muito diferentes.
Para além disto tudo, e depois de ter passado por dois estágios pedagógicos e por
duas licenciaturas, ainda serei obrigado a fazer um exame para poder ser professor!
Então e agora sou o quê? Não estou a ser avaliado como um professor? Podemos ver
esta questão de várias formas, mas porquê a existência deste exame? Ainda não vi em
lado nenhum a razão da sua existência! Que digam que esse exame é necessário nos
cursos que não são vocacionados para o ensino, ainda poderei aceitar, agora para todos,
isso é que não! E … não sei porquê, sinto esta medida como mais uma medida
economicista e que será mais uma que irá impedir a entrada aos professores nos quadros
do Ministério da Educação.
As «funções» da escola, que são tradicionalmente educar, instruir e socializar,
têm sofrido, nos últimos anos, consideráveis ampliações. Hoje, para além de
professores, temos que ser também pais, irmãos, amigos e … qualquer dia empregados.
Se hoje, para alguns pais a escola é um despejo dos filhos, com a escola a tempo inteiro
(uma das medidas mais queridas da CONFAP) esse despejo vai ser muito evidente e
real. Concordo com o facto de a escola poder proporcionar actividades de
enriquecimento aos alunos, mas… não basta decretar.
Muitos referem que os professores, sindicatos,… são contra a avaliação e não
especificam uma forma de melhorá-la ou como reformulá-la. Tenta-se passar para a
opinião pública que todos os professores são maus, não querem ser avaliados, têm 3 a 4
meses de férias, ganham rios de dinheiro e não querem fazer nada. As aulas de
substituição que vieram acabar com os furos mais não são do que uma forma de os
alunos passarem as horas sem aprenderem nada. Mas em vez de estarem no recreio
estão fechados numa sala, muitas vezes a insultar o professor que é “obrigado” a estar
ali com eles. E as Novas Oportunidades que… são uma forma de certificar de qualquer
forma e mais uma vez alterar os números e a estatística. Quem for minimamente
inteligente e falar do que sabe (e não de cor como muitos jornalistas) verá que esse
programa é apenas uma forma simples de mudar os números e estatísticas!

João Leal

Você também pode gostar