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23/02/2009 Sabbatini, RME: O Cérebro do Psicop…

O Cérebro do Psicopata
Renato M.E. Sabbatini, PhD

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Emocionalmente Insensíveis
Muitas das características da personalidade dos psicopatas poderiam ser explicadas por déficits
emocionais. Por exemplo, eles têm pouco afeto com os outros, são incapazes de amar, não ficam
nervosos facilmente e não mostram remorso ou vergonha quando eles abusam de outras pessoas. Assim,
os cientistas têm feito hipóteses há muito tempo que os psicopatas têm uma deficiência em suas reações
aos estímulos evocadores do medo, e esta seria causa de sua insensibilidade e também de sua
incapacidade de aprender pela experiência.

Muitos experimentos com indivíduos sociopatas têm sugerido que isto é verdade. Um destes
experimentos colocou agressores criminosos com alto nível de distúrbio de personalidade sociopática
observando projeções de slides com figuras com diferentes conteúdos emocionais. Enquanto olhavam
para as imagens, eles eram assustados subitamente, com sons inesperados. Quando pessoas normais
estão vendo imagens agradáveis, a resposta de susto (um piscar de olhos) é de menor magnitude do que
quando as imagens são desagradáveis ou estressantes (representando agressão, sangue, horror, etc).
Imagens neutras têm uma resposta de susto no ponto intermediário daquelas de prazer e desprazer. O
que acontece com sociopatas criminosos? Eles têm exatamente o padrão oposto: piscam menos os olhos
em resposta ao barulho quando estão assistindo imagens estressantes ! Entretanto, somente os sociopatas
que tinham uma característica de indiferença emocional mostraram este fenômeno. Isto poderia ser
explicado por uma falta de reatividade nestes agressores.

Em outro experimento, os cientistas registraram respostas fisiológicas de agressores criminosos sociopatas


quando viam imagens estressantes, ou quando processavam palavras com alto conteúdo emocional. Os
parâmetros fisiológicos registrados são os mesmos que os nos aparelhos de "detectores de mentiras"

A frequência cardíaca (isto é, quantas


batidas por minuto, registradas na forma
de curva em função do tempo). Estímulos
que provocam medo ou stress eliciam um
aumento na frequência cardíaca em
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indivíduos normais;
Reação galvânica da pele. A resistência
elétrica da pele de certas regiões do
corpo (por exemplo, a palma da mão) é
afetada por sudorese emocional (ela
aparece somente quando a pessoa está
nervosa, mas não quando está com calor,
como no suor normal: é por isso que
falamos que uma pessoa está com as
"mãos suadas" quando ela está mentindo).
Frequência respiratória: também é afetada pelo estímulo emocional, tornando-se mais rápida e mais
superficial.

Os psicopatas não mostram alteração nestes parâmetros quando são submetidos ao stress ou a imagens
desagradáveis. Estas alterações também não aparecem quando os sujeitos são avisados antecipadamente
por um flash de luz quando eles vão receber um estímulo estressante (por exemplo, um desagradável
sopro de ar em suas faces). Esta é a razão porque os sociopatas mentem tão bem e porque eles não são
detectados pelos equipamentos de detecção de mentiras.

Entretanto, tudo isto não significa que os sociopatas não tenham emoções. Eles têm, mas em relação a
eles mesmos, não em relação aos outros. De fato, tais indivíduos são incapazes de sentirem emoçoes
"sociais" tais como simpatia, empatia, gratidão, etc. Isto pode explicar porque os sociopatas são tão
desejosos de inflingir sofrimento e dor em outras pessoas sem sentir qualquer remorso. Para eles, as
emoções de outras pessoas não têm qualquer importância; eles são "incapazes de construir uma similitude
emocional do outro".

Quais são os tipos de emoções que o sociopata tem? Aparentemente, eles reagem a tudo, e rapidamente,
com sentimentos agressivos, são muito irritáveis e também sensíveis a qualquer coisa que provoque
vergonha ou humilhação. Com relações às emoções positivas, eles obtém prazer através da sensação de
dominância e sentem satisfação por isto.

O Erro de Descartes

Antonio Damasio, um neurologista americano-português, já citado por nós na


introdução, tem uma teoria que poderia explicar porque pacientes com
distúrbios provocados por lesões no cérebro frontal ventromedial (e, por
extensão, sociopatas) têm estes problemas emocionais. Ele a chamou de
a "hipótese do marcador somático", que tem mais ou menos a seguinte forma:

Indivíduos normais ativam os chamados "estados somáticos" (alterações na


frequência cardíaca e respiração, dilatação das pupilas, sudorese, expressão
facial, etc.) em resposta à punição associada às situações sociais. Por exemplo,
uma criança quebra alguma coisa valiosa e é punida severamente por seus pais,
evocando estes estados somáticos. Da próxima vez que ocorrer uma situação
similar, os marcadores somáticos são ativados e a mesma emoção associada à punição é sentida. De
modo a evitar isto, a criança suprime o comportamento indesejado.
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modo a evitar isto, a criança suprime o comportamento indesejado.

De acordo com o Dr. Damásio, pessoas com danos no lobo frontal são incapazes de ativar estes
marcadores somáticos. Ele diz: "isto deprivaria o indivíduo de um dispositivo automático para
sinalizar consequências deletérias relativas a respostas que poderiam trazer a recompensa
imediata". Isto explica também porque os sociopatas e pacientes com danos no lobo pré-frontal mostram
poucas respostas autonômicas a palavras condicionadas socialmente e imagens com conteúdo emocional,
mas têm respostas normais a estímulos incondicionados como outras pesquisas do Dr. Damasio
mostraram.

Analisando o comportamento sociopático e suas causas, Damásio sugeriu em seu livro bestseller,
"Descartes' Error: Emotion, Reason and the Human Brain" (O Erro de Descartes: Emoção, Razão e
o Cérebro Humano), que a razão e a emoção não são coisas separadas e antagonistas em noso cérebro
(este foi o erro cometido pelo filósofo francês René Descartes aludido no título do livro), mas que um é
importante para o outro na construção da nossa personalidade sadia. Indivíduos que são inteligentes e que
são capazes de raciocinar bem, tornam-se monstros sociais quando eles não sentem "emoção social", que
é a base da moral, do sentimento que está certo ou errado, etc.

Para Saber Mais

Copyright 1998 Universidade Estadual de Campinas


Brain & Mind Magazine, Campinas, Brazil
Renato M.E. Sabbatini. PhD
Center for Biomedical Informatics

cerebromente.org.br/…/emotion.htm 3/3

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