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Psicodinâmica
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ALEXANDRE BROCH
FÁBIO RICARDO RUSCH
ABORDAGENS DA
TERAPIA OCUPACIONAL PSICODINÂMICA
JOINVILLE
2007
ALEXANDRE BROCH
FÁBIO RICARDO RUSCH
ABORDAGENS DA
TERAPIA OCUPACIONAL PSICODINÂMICA
JOINVILLE
2007
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ALEXANDRE BROCH
FÁBIO RICARDO RUSCH
ABORDAGENS DA
TERAPIA OCUPACIONAL PSICODINÂMICA
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JOINVILLE
2007
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RESUMO
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 A Menina............................................................................................119
FIGURA 02 A Face (Incompleta)............................................................................125
FIGURA 03 A Face (Completa)..............................................................................125
FIGURA 04 A Face (Conforme Visualização do Terapeuta)..................................127
FIGURA 05 A Face (Esquemático para Visualização)...........................................127
FIGURA 06 A Faca.................................................................................................134
FIGURA 07 A Chapa de Madeira...........................................................................135
FIGURA 08 A Chapa com as bolinha arremessadas.............................................136
FIGURA 09 Ostra Unindo “MLT” a “Dor”................................................................137
FIGURA 10 Ostra Unindo “MLT” a “Dor” (Ampliação) ...........................................137
5
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 9
3 METODOLOGIA ................................................................................................ 99
1 INTRODUÇÃO
Dentre todas as espécies, a que mais evoluiu, que desenvolveu maior poder
sobre seu meio ambiente e sobre si está cada vez mais insatisfeita. A evolução da
espécie humana, o desenvolvimento da cognição e consciência, favoreceu o
afastamento das relações naturais funcionais, em níveis individuais, coletivos e ao
meio ambiente. Com o desenvolvimento da consciência de si, o homem passou a
questionar-se sobre si. Com o desenvolvimento da sociedade, desenvolveram-se
regras na tentativa de criar equilíbrio e satisfação coletiva, porém, tais regras
forçaram o indivíduo a ir contra as vontades e necessidades instintivas de seu
organismo complexo, criando uma estabilidade social administrada pela razão sobre
a emoção, e gerando assim uma instabilidade homeostática. Tais padrões
disfuncionais de funcionalidade do sujeito foram passados de geração a geração
através da cultura, como conhecimento adquirido, atravessando diversas variações,
evoluções e mutações de acordo com a subjetividade do indivíduo que os recebia e
os transmitia, resultando hoje em complexas psicopatologias existentes em
diferentes níveis estruturais da subjetividade humana, onde é cada vez mais comum
ouvirmos falar de “Depressão”, “Síndrome do Pânico”, diferentes tipos de “Fobias”,
“Drogas”, “Psicopatias”, “Surtos Psicóticos” entre outras, evidenciando-nos o fato de
que a espécie está adoecendo.
A ciência descobriu meios de manipular os distúrbios neuroquímicos
existentes no Sistema Nervoso Central, porém, é visto que tal resposta serve
apenas para atenuar os sintomas finais, e nunca a causa em si, como mostra os
dados do IBGE e DINSAM a respeito das readmissões nos hospitais psiquiátricos,
onde, em 1950, quando iniciado os tratamentos quimioterápicos, o índice era de
30,6% de readmissão, sendo crescente até 1977 com 44,4%.
10
Após a exteriorização promovida por meio das atividades, como uma “via de
mão dupla” ocorre o input e output de informação; e a constatação mais importante:
Assim como nosso organismo possui diversos mecanismos homeostáticos, a mente
humana, representante do órgão mais nobre, não “foge a regra”, possuindo
propriedades auto-reguladoras da homeostase psíquica, e que, quando favorecida a
possibilidade de exteriorização desses conteúdos reguladores, torna-se re-
integradora dos componentes psíquicos.
Norteados pela referência de Nise da Silveira e demais informações que se
mostraram muito funcionais, estruturou-se e aplicou-se as atividades, e, com o
decorrer do tempo e de forma muito inesperada essas se apresentaram como o
argumento mais forte a resposta que se buscava. Foram necessários dois anos para
tal amadurecimento.
Por meio da abordagem qualitativa, este trabalho está direcionado a
apresentar um estudo de caso clínico cuja contribuição terapêutica se deu através
de atividades expressivas de embasamento psicodinâmico. Foram relatados
diversos atendimentos e realizou-se uma custosa eleição para escolher apenas um
caso a ser apresentado neste (o trabalho de conclusão do curso de Terapia
Ocupacional), considerando que tal caso devesse representar o valor terapêutico
que deu-se no local das intervenções (Centro de Atenção Psicossocial álcool e
drogas (CAPSad ) do município de Joinville, SC) por meio da Terapia Ocupacional.
Escolhemos para este os atendimentos que sucederam com a paciente MLT,
considerando os seguintes motivos: Progressão terapêutica; contribuição e
potenciais das atividades; a importância da relação terapeuta-paciente; a riqueza de
informações existentes na patologia “dependência química” e na subjetividade da
paciente em questão; o potencial das atividades em abordar tais informações, entre
outras.
14
2 REVISÃO DE LITERATURA
Entretanto, não parou por aí, seguidamente evoluindo em uma nova tentativa
natural de obtenção de desenvolvimento e poder sobre o meio, a Consciência
(arbitrariamente datado de quando se inventou a escrita, mais ou menos no ano
4000 a.C.), essa, considerada uma “aquisição muito recente da natureza e ainda [...]
experimental” como diz C. G. Jung (1964, p.24). O homem pré-histórico mostrava-
se limitado referente aos potenciais de criação, transformação e adaptação ao meio
em que ele se encontrava. Estudado por ele mesmo nas épocas atuais, o homem
observa e constata a existência da capacidade reflexiva em seu próprio processo de
desenvolvimento. Por que tal fato se deu apenas com a espécie humana? Dentre
todas as espécies biológicas e desenvolvidas da cadeia alimentar, a humana foi a
que mais evoluiu, não apenas em relação ao seu meio, mas também em relação a si
mesma. Refere Arruda et al., (1988, p.3):
[...] Os animais que se situam nos níveis mais baixos da escala zoológica
de desenvolvimento, tem a ação caracterizada pelos reflexos e instintos. A
ação instintiva é regida por leis biológicas, idênticas na espécie e
invariáveis de indivíduo para indivíduo [...].
É costume dizer que os instintos são “cegos”, ou seja, são atividades que
ignoram a consciência à finalidade da própria ação. Uma vespa “fabrica” uma célula
onde deposita um ovo; em seguida caça aranhas e coloca-as junto ao ovo para que
a larva, ao nascer, encontre alimento suficiente. Se retirarmos as aranhas e o ovo, o
inseto assim mesmo continuará todas as operações terminando pelo fechamento da
célula vazia. Diz-se que esse comportamento é “cego” porque é um conjunto de
atitudes automatizadas que fazem parte de uma finalidade específica, essa,
desconhecida para o ser que o realiza, porém fundamental para a sua existência e
perpetuação de sua espécie. Enquanto o executor do ato não leva em conta o
sentido principal de seu ato, a fabricação da célula, o instinto realiza uma tarefa que
transcende a sua própria experiência, e dessa maneira a natureza se fez, evoluiu e
se manteve equilibrada em si.
No contínuo processo de evolução surgiu a consciência, essa, que acabara
pondo em risco as regras da homeostase, do equilíbrio do ser com sigo e com seu
meio, como refere Gusdorf “[...] o homem não é o que ele é, mas é o que não é.”
(1988, p.6).
20
Para Gusdorf o homem nunca se definiu pelo meio que o cercara, através de
um modelo que o antecede, por uma essência que o caracteriza ou nem apenas o
que as circunstancias fizeram dele. Ele se definiu ao longo da história por lançar-se
no futuro antecipando-se por meio de projetos, ou seja, de um planejamento da sua
ação consciente sobre o mundo.
Evidentemente essa é uma condição que, de uma determinada maneira
torna-se frágil, pois, perde a característica segurança da vida animal, onde somente
viviam-se os instintos, esses, “programações” funcionais do ser e suficientes em
harmonia com a natureza.
Nada mais se apresenta como certo e inquestionável. Não há caminho feito,
mas a fazer, não há modelo de conduta, mas um processo continuo de
estabelecimento de valores. E ao mesmo tempo, isto que aparenta representar a
sua fragilidade é justamente a característica mais própria e a mais nobre: a
capacidade de planejar e produzir a sua história.
[...] o homem é um processo de seus atos. Esses atos não estão isolados,
não se dão espontaneamente. Estão relacionados pela ação dos próprios
homens, da natureza, da sociedade e da história. O trabalho é um meio e o
planejamento a sua história (GRAMSCI, 1999, p.16).
O Trabalho, por si só, foi entendido como sendo suficiente para inserir o
homem em sua realidade social. E sua falta, o suficiente para levá-lo a
estranheza e a psicose. [...] O trabalho é a atividade essencialmente
humana, criativa, reforçadora e gratificadora, por apertar os vínculos entre
as comunidades e os indivíduos e por oferecer descarga considerável aos
impulsos da libido, narcisistas, eróticos e agressivos (CHAMONE, 1995,
p.36).
O homem busca sua dignidade por seu trabalho, porém, só pode ser
alcançada à medida que obtenha satisfação e identificação com a função e o objeto
produzido. O adoecimento acontece por conta de uma sociedade que privilegia o
produto em detrimento do processo. “O trabalhador não se percebe agente de
mudanças, produz um objeto que não tem oportunidade de vê-lo concluído, e às
vezes nunca terá oportunidade de possuí-lo” (ARAÚJO, 1990, p.16).
1
Para fins metodológicos, a explanação sobre repressão será elucidada posteriormente em
“Contribuições da Psicanálise Freudiana” p.41.
23
[...] A práxis criadora é [...] aquela em que se verifica uma unidade entre
finalidade da consciência e seu resultado. [...] o único sentido existente
dessa contraposição ou separação entre teoria e prática é a oposição que
existe entre o trabalho intelectual e o trabalho manual em um regime
capitalista (FRANCISCO, 2001, p.48).
A Atividade deve oferecer ao homem uma relação completa deste com seu
mundo “[...] do homem como ser essencialmente social, através do entendimento da
relação homem natureza [...]” (FRANCISCO, 2001, p.49). Somente por meio da
interação ativa, da atividade completa do homem com seu meio, pode-se levar o
homem a lidar com sua realidade de vida, transformando-o e promovendo-o, e
assim, o meio social que está inserido.
24
Rui Chamone Jorge refere que “Fazer é fim em si mesmo por oferecer à
consciência uma existência com o que externaliza a si mesmo, e dessa forma,
objetivando-a na externalidade, promove a reflexão e seu resgate como objeto
interno” (1990, p.26).
Como referido anteriormente, a vinda da consciência promoveu o aumento da
relação do homem com sua razão em detrimento a sua natureza. As teóricas leis da
sociedade contemporânea fogem totalmente das leis naturais da existência,
promovendo, por vezes, um atenuado relacionamento com uma “idéia de realidade”,
em detrimento da relação direta homem-ambiente, uma confrontação que faz a
estabilidade por ser o princípio da condição básica da existência da vida orgânica no
meio – o equilíbrio interno-externo ou homeostase. Considera-se assim, que a
interação ativa do homem com o mundo é essência para o equilíbrio existencial; a
atividade, a interação ativa, é terapêutica em si.
Faz-se importante mencionar a consideração de Rui Chamone Jorge perante
atividade e a evolução da cognição, onde, através do fazer o homem pode
simbolizar internamente (pensar), e somente por seguinte, falar.
Fazer, antes de ser simplesmente uma ação mecânica, foi a forma que o
homem encontrou de fazer sua premência de utilidades. Depois isso
evoluiu e a forma se transforma e ultrapassa a utilidade, muda de caráter,
novos materiais são usados, e então o homem começa a simbolizar, e
finalmente, a falar (CHAMONE, 1980, p.20).
2
Ver Espaço Transicional em “Contribuições da Psicanálise Pós-Freudiana” e “Fenômenos
Transicionais – Objetos Transicionais” p.63.
27
Assim originado, o objeto não pode ser percebido apenas como um dado
bruto da experiência, mas como resultado da introspecção psicológica dos
acontecimentos reais ou imaginários, que determinam categorias de
entendimento (CHAMONE, 1990, 29).
As atividades foram vistas por Chamone, além dos aspectos da indicação pelo
terapeuta e escolha do paciente, com relação ao ritmo: lento, longo, prolongado,
curto, rápido e continuo. Nesse âmbito foram entendidas como instrumentos
suficientes de aproximação dos homens.
Abordaremos seguidamente algumas atividades de acordo com as
especificações de Rui Chamone Jorge, considerando que essas fazem parte do
estudo de caso pertencente a este trabalho.
2.2.2.1 A Argila
3
Para fins metodológicos, a elucidação do termo Self encontra-se seguidamente em “Contribuições
da Psicologia Analítica ou Complexa de Jung” e “O Self e o Processo de Individuação” p.83.
32
2.2.2.2 A Pintura
[...] o paciente busca instintivamente um novo ritmo para a vida, uma nova
forma para as suas relações, porque já experimentou pelo desenho e
pintura um contato mais afetivo e eficaz na relação com suas coisas,
sentimentos e lembranças [...] (CHAMONE,1980 p.52).
4
Ver símbolo em “Contribuições da Psicologia Analítica ou Complexa de Jung” e “Os Símbolos” p.88.
5
Falo - Representação do pênis, adorado pelos antigos como símbolo da fecundidade da natureza.
34
2.2.2.3 A Música
O objeto da luta empreendida por Freud durante toda a sua vida resume-se
em ajudar-nos a adquirir uma compreensão de nós próprios, de modo que
deixássemos de ser impelidos, por forças que nos eram desconhecidas
[...] (BETTELHEIM, 1999, p. 28).
40
Nascido em Viena, no ano de 1856, onde passou a maior parte de sua vida,
Freud especializou-se em um ramo da medicina chamado neurologia. No fim do XIX
até meados do século XX, trabalhou na elaboração de sua psicologia profunda ou
psicanálise.
Entende-se por psicanálise a descrição da mente, bem como também da
psique humana em geral, sendo um método de tratamento para distúrbios nervosos
psíquicos. É interessante conhecer alguns aspectos importantes da obra de Freud,
que serão apresentados no decorrer deste estudo, juntamente ao estudo de caso
apresentado.
Freud acreditava haver uma constante tensão entre o homem e seu meio,
um conflito entre o próprio homem e aquilo que o meio exigia dele. Não seria
exagerado dizer que Freud descobriu o universo dos impulsos que regem a vida do
homem, sendo que nem sempre é a nossa razão que governa nossas ações. Os
impulsos irracionais trazem à tona instintos e necessidades enraizadas dentro de
nós, acreditava que, tão básico quanto a necessidade de um bebe tem em mamar,
seria assim o impulso sexual do homem.
Freud mostrou que tais necessidades podem vir à tona disfarçadas, ao ponto
de não termos capacidade de reconhecer sua origem, e assim disfarçadas
acabariam por governar nossas ações, sem que tivéssemos consciência disso.
Freud também mostrou que as crianças também possuem uma espécie de
sexualidade, esta afirmação causou repulsa nos refinados cidadãos de Viena, o que
tornou Freud um homem impopular. Ele também constatou que muitas formas de
distúrbios psíquicos ocorrem devido aos conflitos na infância, e assim, aos poucos,
foi desenvolvendo um método de tratamento que podemos chamar de uma espécie
de “arqueologia da mente humana”.
41
Freud descobriu que grande parte dos problemas psíquicos de sua época se
davam a reminiscências, ou seja, lembranças profundas, por vezes esquecidas, e
possuidoras de potenciais na estrutura da personalidade consciente. A dissociação
era tida como a característica principal da patologia psíquica onde os indivíduos
seriam “incapazes de manter como um todo a multiplicidade dos processos mentais,
e daí a dissociação psíquica” (FREUD, 1970, p.15) gerando uma “forma de alteração
degenerativa do sistema nervoso, que se manifesta pela fraqueza congênita do
poder de síntese psíquica” (FREUD, 1970, p.14).
Durante sua fase de pesquisas práticas na constituição de sua ciência (a
Psicanálise), Freud experimentou, quando discípulo de Joseph Breuer, a hipnose,
essa aparentemente funcional para a obtenção de “conhecimento das ligações
patogênicas que em condições normais lhe escapavam” (FREUD, 1970, p.15)
Posteriormente abandonou tal técnica, visto que essa não se fazia satisfatória, pois,
tornou-se notório que sua eficácia se limitava a estados dissociados de consciência,
não abrangendo sua totalidade, assim, as informações dissociadas continuavam da
mesma forma.
Como, através hipnose (por conta da dissociação) Freud constatou que não
podia modificar o estado psíquico dos doentes, procurou agir mantendo-os em
estado normal. Descobriu seguidamente que, por mais que houvesse resistência,
seus pacientes eram totalmente capazes de recordar os fatos traumáticos, mesmo
que esses fossem totalmente desconhecidos pela consciência.
Constatou assim que, essa força, que reprime tais informações, é a mesma
que anteriormente havia expulsado-as da consciência considerando-as agressivas
para o consciente. Desenvolveu assim a formulação do processo nomeado de
repressão.
2.4.1.2 A Catarse
Por mais que Breuer tivesse descoberto o processo catártico como funcional
recurso re-equilibrador das pulsões afetivas, esse não resolvia o problema em si (a
repressão), somente atenuava os sintomas por um tempo, até que o nível de afeto
reprimido alcançasse um limiar (particular do indivíduo) e tais sintomas retornasses
igualmente, nas mesmas proporções.
Como recentemente referido no tópico anterior “A Síndrome da Repressão –
O Recalcamento”, Freud abandou o método hipnótico por suas limitações nas
dissociações, por não reconhecer e eliminar as resistências repressoras, obtendo
assim resultados passageiros. Entretanto, posteriormente, graças a uma sugestão
de Breuer, retomou os estudos sobre o procedimento catártico, adaptando-o as
práticas psicanalistas.
Freud necessitava de um método, que não só trabalhasse os indivíduos de
forma completa (não dissociada), mas que fosse praticável com todos os pacientes
possíveis, visto que, pela experiência, apenas uma pequena parte dos pacientes
trabalhados eram sugestionados a hipnose. Contudo, ao abrir mão do método
hipnótico, Freud perdeu a ampliação da consciência que proporcionava justamente o
material psíquico de lembranças e representações com a ajuda do qual se podia
encontrar conteúdos reprimidos e realizar a liberação dos afetos, e assim, a
atenuação dos sintomas.
45
O sintoma até então apresentado pelo indivíduo (que pode ser psíquico ou
somático), é concebido de duas maneiras: como substituto do represamento do
afeto (informações recalcadas) e “produto da transformação de uma quantidade de
energia que de outra maneira teria sido empregada de alguma outra forma”
(FREUD, 1935, p.13).
2.4.1.3.1 O Consciente
Embora o próprio termo tenha sido elaborado por Freud, o mesmo não deixou
nenhum artigo diretamente escrito sobre o tema. No entanto, no decorrer de sua
obra há diversas referencias, como em seu último texto referindo a consciência
como um fenômeno ordinário e ao mesmo tempo inexplicável: “[…] um facto sem
equivalente que nem se pode explicar nem se pode descrever […]. No entanto,
quando se fala de consciência, todos sabem imediatamente, por experiência, de que
se trata” (LAPLANCHE; PONTALIS, p.157, 1985).
2.4.1.3.2 O Pré-Consciente
2.4.1.3.3 O Inconsciente
Se o paciente coloca o analista no lugar do pai (ou mãe), está também lhe
concedendo o poder que o superego exerce sobre o ego, visto que os pais
foram, como sabemos, a origem de seu superego. O novo superego dispõe
agora de uma oportunidade para uma espécie de pós-educação do
neurótico; ele pode corrigir erros pelos quais os pais foram responsáveis ao
educá-lo (FREUD, 1974, p.24).
2.4.1.5.1 O Id
2.4.1.5.2 O Ego
Sob a influência do mundo externo que nos cerca, uma porção do id sofreu
um desenvolvimento especial. Do que era originalmente uma camada
cortical, equipada com órgãos para receber estímulos e com disposições
para agir como um escudo protetor contra estímulos surgiu uma
organização especial que, desde então, atua como intermediária entre o id
e o mundo externo. A esta região de nossa mente demos o nome de ego.
(FREUD, 1974, p.4)
53
Assim, em sua relação com o id, ele é como um cavaleiro que tem de
manter controlada a força superior do cavalo, com a diferença de que o
cavaleiro tenta fazê-lo com a sua própria força, enquanto que o ego utiliza
forças tomadas de empréstimo. A analogia pode ser levada um pouco
além. Com freqüência um cavaleiro, se não deseja ver-se separado do
cavalo, é obrigado a conduzi-lo onde este quer ir; da mesma maneira, o
ego tem o hábito de transformar em ação a vontade do id, como se fosse
sua própria (FREUD, 1923, p.25).
2.4.1.5.3 O Superego
6
Catexia: investimento psíquico — Faz alusão, em psicanálise, à união da energia psíquica com um
objeto externo ou interno, uma atividade, uma parte do corpo, uma idéia, etc., fazendo a
representação mental desse construtor psicológico ser dotada de maior ou menor valor psíquico e lhe
dando maior ou menor importância dinâmica. Descatexizar ou desinvestir é retirar desse objeto a
energia psíquica a ele ligada, que fica assim disponível para ser reinvestida em outro objeto.
58
De acordo com Melanie Klein, a primeira ligação objetal é a base para todas
as relações de afeto, para o desenvolvimento das relações sociais do individuo com
parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, etc. Segundo a autora, a primeira
relação objetal “influencia tanto a força como a natureza das projeções; em
particular, determina se os sentimentos de amor ou os impulsos destrutivos serão
predominantes naquelas” (1969, p.7). Melanie Klein identifica os processos dessa
relação que determinam no individuo a capacidade de sentir-se feliz com sua
existência:
2.4.2.3.1 A Projeção
[...] por meio de todo o mecanismo defensivo, uma projeção, para fora, do
perigo instintal foi alcançada. O ego se comporta como se o perigo de um
desenvolvimento da ansiedade o ameaçasse não desde a direção de um
impulso instintal, mas da direção de uma percepção (FREUD, 1915, p.184).
7
Do relacionamento entre objeto interno e objeto externo, encontra-se agora estruturado para relação
com mundo externo.
64
Observando bebês e suas mães, é notável que existe uma série de eventos
que, continua ele:
Essa posse pode ser deslocada para outros objetos, com a mesma qualidade
transicional. Segundo ele, o fato do bebê conseguir, ou não, criar objetos
transicionais, traz conseqüências importantes para a relação com a mãe, e outras
relações posteriores.
Winnicott considera que é necessária uma mãe “suficientemente boa” para
que o bebê possa evoluir do Princípio do Prazer para o Princípio de Realidade.
Segundo ele, esta mãe:
[...] em outra linguagem, o seio é criado pelo bebê repetidas vezes, pela
capacidade que tem de amar ou (pode-se dizer) pela necessidade.
Desenvolve-se nele um fenômeno subjetivo que chamamos seio da mãe. A
mãe coloca o seio real exatamente onde o bebê está pronto para criá-lo, e
no momento exato. Desde o nascimento, portanto, o ser humano está
envolvido com o problema da relação entre aquilo que é objetivamente
percebido e aquilo que é subjetivamente concebido e, na solução desse
problema, não existe saúde para o ser humano que não tenha sido iniciado
suficientemente bem pela mãe. A área intermediária a que me refiro é a
área que é concedida ao bebê, entre a criatividade primária e a percepção
objetiva baseada no teste de realidade (WINNICOTT, 1971, p.14).
66
Suponhamos que um bebê que gostaria de ser acolhido por sua mãe com
um sorriso, prazer e entusiasmo, depara-se com o olhar de uma mãe
deprimida. Nesse caso não há mais concordância entre seu estado interior
e o olhar da mãe, não havendo então construção de um verdadeiro self,
isto é, o bebê não pode expressar sua raiva esperando que a resposta
materna reconheça esta raiva e lhe restitua não a raiva, mas uma boa
imagem [...] se o bebê deixa-se levar por este conflito torna-se “louco”[...]
67
8
Drogadicção = Adicção a drogas. A etimologia do vocábulo “adicção” remete ao latim. “Adicto”
origina-se no particípio passado do verbo “addico”, que significa “adjudicar” ou “designar”. Este
particípio é “addictum” e quer dizer o “adjudicado” ou “designado” - o “oferecido” ou “oferendado”. Nos
tempos da República Romana, “addictum” designava o homem que, para pagar uma dívida, se
convertia em escravo por não dispor de outros recursos para cumprir o compromisso contraído. O
substantivo “adicção” designa, em nossa língua, a inclinação ou o apego de alguém por alguma coisa
(FERREIRA, 1999).
68
Definindo melhor seu conceito, ela escreve que se aplica a palavra adição
(apud OUTEIRAL, 1999):
Como referido, o bebê como objeto transicional da mãe é utilizado como uma
fonte de prazer e tranqüilidade, oferecendo um sentimento de atenuação das dores
afetivas, e por vezes, é quilo que dá sentido a vida. O contra-ponto estabelecido no
bebê é a indução à relação aditiva à presença da mãe, e dessa maneira interrompe
o desenvolvimento natural dos fenômenos transicionais e, consequentemente, sem
a relação com o não-eu a criança não desenvolve recursos necessários para o
relacionamento equilibrado com o meio.
Para tapar a falha do objeto materno que cuida , o sujeito vai procurar no
mundo externo um substituto (através das drogadições, por exemplo) dos
objetos faltantes em seu mundo interno (cuidados parentais
suficientemente bons). Graças ao objeto da adição, jamais sofrerá a
decepção pelo objeto que faltou na infância. Todo objeto ameaçador será
descarregado na atividade aditiva; ao mesmo tempo, trata-se de um acerto
de contas com os objetos internos, resultado daí um triplo desafio: desafio
ao objeto materno interno, desafio ao pai interno e desafio à morte.
Carl Gustav Jung nasceu a 26 de julho de 1875, na Suíça. Mudou-se com sua
família aos quatro anos de idade para a Basiléia (na época, importante centro
cultural europeu) onde realizou seus estudos, inclusive o curso de medicina.
Especializou-se em psiquiatria observando que tal área poderia unir conhecimentos
que sempre tivera afinidade como filosofia, ciências naturais e médicas, e assim
poderia encontrar um foco vivo de convergência. Concluiu o curso de medicina em
1900, e em 1907 teve seu primeiro contato com Freud, numa visita que prolongou-se
por 13 horas a fio.
Nise da Silveira refere que “Freud logo reconheceu o alto valor de Jung e viu
no suíço, no não judeu, o homem adequado para conduzir avante a psicanálise. Mas
sobretudo viu nele um filho mais velho, um sucessor e príncipe coroado” (1981, p.9).
Em 1910, por influencia de Freud, tornou-se presidente da Associação
Psicanalítica Internacional, Mas, já em 1912, o livro de Jung, “Metamorfoses e
Símbolos da Libido” marcava divergências doutrinárias profundas que o separaram
de Freud.
71
Jung faleceu em 1961 aos 85 anos, deixando uma extensa e grandiosa obra
sobre a psique humana, cujo alcance ainda hoje é assunto debatido nos maiores
círculos científico-filosóficos e psicanalíticos. Nise da Silveira (1990, p.165) refere
que “ele está tão à frente de nosso tempo que apenas gradualmente vêm sendo
apreendidas suas descobertas nas diferentes áreas do saber humano”. Da mesma
forma, Stanislav Grof cita à compreensão de Jung perante a limitação da ciência
referindo que “Jung estava consciente de que suas descobertas eram incompatíveis
com os fundamentos filosóficos da ciência de sua época e exigiam paradigmas
inteiramente novos” (GROF, 1996, p.16).
72
Como diz F. Capra, cada vez mais, a psicologia junguiana vem assumindo
seu lugar na ciência contemporânea:
2.4.3.2 O Inconsciente
John Freeman refere que “[...] segundo Jung, o inconsciente é o grande guia,
o amigo e conselheiro do consciente” (FREEMAN, 1964, apud JUNG, 1964, p.10).
E prossegue:
Esses elementos, mesmo que não tenham uma conexão direta com Ego, não
deixam de exercer influencia aos processos conscientes, podendo provar distúrbios
tanto psíquicos como somáticos.
2.4.3.2.1.1 Os Complexos
2.4.3.2.2.1 Os Arquétipos
Sua asserção de que as imagens evocam o objetivo dos instintos implica que
elas merecem um lugar de igual importância.
2.4.3.2.2.1.1 A Persona
2.4.3.2.2.1.2 A Sombra
As coisas que não aceitamos em nós, que nos repugnam, e por isso as
reprimimos, nós as projetamos sobre o outro, seja ele o nosso vizinho, o
nosso inimigo político, ou uma figura símbolo como o demônio. E assim
permanecemos inconscientes de que as abrigamos dentro de nós. Lançar
luz sobre os recantos escuros tem como resultado o alargamento da
consciência. Já não é o outro quem está sempre errado. Descobrimos que
freqüentemente “a trave" está em nosso próprio olho. Quanto mais a
sombra for reprimida mais se torna espessa e negra (SILVEIRA, 1981,
p.81).
82
O primeiro receptáculo da anima é a mãe, e isso faz que aos olhos do filho
ela pareça dotada de algo mágico. Depois a anima será transferida para a
estrela de cinema, a cantora de rádio e, sobretudo para a mulher com
quem o homem se relacione amorosamente, provocando os complicados
enredamentos do amor e as decepções causadas pela impossibilidade do
objeto real corresponder plenamente à imagem oriunda do inconsciente.
Aliás essa transferência nem sempre se processa de modo satisfatório. A
retirada da imagem da anima de seu primeiro receptáculo constitui uma
etapa muito importante na evolução psíquica do homem. Se não se realiza,
a anima é transposta, sob a forma da imagem da mãe, para a namorada, a
esposa ou a amante, O homem esperará que a mulher amada assuma o
papel protetor de mãe, o que o leva a modos de comportamento e a
exigências pueris gravemente perturbadoras das relações entre os dois
(SILVEIRA, 1981, p.84).
A energia que emana do self é tão forte que o encontro com esse arquétipo
constitui a experiência mais intensa e mais profunda que o homem pode
vivenciar. A essa experiência, carregada de qualidades a um tempo
terríveis e fascinantes, o homem chamou Deus. Os sentimentos que a
acompanham variam desde o terror às alegrias da bem-aventurança,
segundo o depoimento daqueles que a viveram [...]. A psicologia junguiana
põe em relevo a presença, no âmago da psique, do arquétipo de Deus
("indistinguível do arquétipo do self"), sem pretender jamais afirmar nem
negar a existência de Deus como ser em si mesmo.
E refere Jung:
2.4.3.2.2.3 Os Símbolos
E continua a elucidação:
Aquilo que une os opostos participa dos dois lados e pode facilmente ser
julgado se de um lado ou de outro. Porém, se assumimos uma ou outra posição,
simplesmente reafirmamos a oposição. Portanto, o símbolo nem é um ponto de vista
alternativo nem uma compensação em si.
Segundo Jung, o símbolo atrai nossa atenção para uma outra posição que, se
apropriadamente compreendida, amplia a personalidade existente, além de
solucionar o conflito.
Uma vez obtida a diferenciação dos opostos Deus-Diabo, bem mal, instinto
espírito, que foi psicologicamente necessária ao afinamento da
sensibilidade do homem ocidental, parece que muito lentamente se está
preparando, nas profundezas da psique, uma nova reaproximação entre
opostos, reaproximação que se realizaria, porém, num nível mais alto que
aquele de sua primitiva coexistência. Nas produções do inconsciente vão
se acentuando os sinais anunciadores de que se delineia uma futura
coordenação de forças onde os instintos (o animal em nós) venham a ser
integrados aos valores espirituais de nossa cultura (SILVEIRA, 1981, p.75).
3 METODOLOGIA
3.3 VARIÁVEIS
3.5 PROCEDIMENTOS
9
Ver Paciente Identificado em “Outras contribuições para o Estudo de Caso”, “A Terapia Sistêmica” e
“A Terapia Sistêmica Familiar” p.95.
10
Ver Relações Objetais em “Contribuições da Psicanálise Pós-Freudiana” e “Relações Objetais”
p.55.
11
Ver Objeto Transicional em “Contribuições da Psicanálise Pós-Freudiana” e “Fenômenos
Transicionais – Objetos Transicionais” p.63.
107
Este objeto é percebido como bom e também como aquilo que dá sentido à
vida. Ele oferece a ilusão de atenuar as dificuldades da vida cotidiana [...].
As condutas aditivas visam a descarga rápida de qualquer tensão psíquica
em diversas circunstâncias da vida cotidiana. [...] Para tapar a falha do
objeto materno que cuida , o sujeito vai procurar no mundo externo um
substituto (através das drogadições, por exemplo) dos objetos faltantes em
seu mundo interno (cuidados parentais suficientemente bons). Graças ao
objeto da adição, jamais sofrerá a decepção pelo objeto que faltou na
infância. Todo objeto ameaçador será descarregado na atividade aditiva
(MCDOUGALL s.d. apud OUTEIRAL, 1999, p.2-3).
12
Ver considerações de Joyce McDougall sobre drogadicção e objeto transicional em “Revisão de
Literatura”, “Contribuições da Psicanálise Pós-Freudiana”, “Fenômenos Transicionais – Objetos
Transicionais” e “Transicionalidade, Patologia e Drogadicção” p.67.
108
13
Informações adquiridas de acordo com o prontuário da paciente e equipe multidisciplinar.
14
Idem.
109
A Projeção era vista por Freud como central também à construção das
fobias [...]. Na fobia, a ameaça instintual, que põe em perigo o ego desde
dentro, é “projetada” na realidade externa, onde pode ser mais facilmente
controlada pela evitação fóbica (SANDLER, 1989, p.14).
15
Ver Música em “A Referência de Rui Chamone Jorge na Terapia Ocupacional”, “As Especificidades
Terapêuticas das Atividades por Chamone” e “A Música” p.34.
16
Ver Conteúdos Reprimidos em “Teorizações Psicanalíticas”, “Contribuições da Psicanálise
Freudiana” e “A Síndrome da Repressão – O Recalque” p.41.
17
Ver Ego em duas fontes: primeira em “Contribuições da Psicanálise Freudiana”, “Modelo Estrutural
do Aparelho Psíquico” e “O Ego” p.52; a segunda em “Contribuições da Psicologia Analítica ou
Complexa de Jung” e “O Consciente e o Ego (de Jung)” p.72.
18
Ver Projeção em “Contribuições da Psicanálise Pós-Freudiana” e “Importantes mecanismos
referentes as Relações Objetais” p.59.
19
Ver Mecanismos de Defesa em “Contribuições da Psicanálise Pós-Freudiana” e “Mecanismos de
Defesa” p.54.
110
[...] por meio de todo mecanismo defensivo [...] uma projeção, para fora,
para fora do perigo instintal foi alcançada. O ego se comporta como se o
perigo de um desenvolvimento da ansiedade o ameaçasse não desde a
direção de um impulso instintal, mas da direção de uma percepção, ficando
assim capacitado a agir contra este perigo externo com as tentativas de
fuga representadas pelas evitações fóbicas (FREUD apud SANDLER,
1989, p.14).
Em momento algum MLT conseguiu se expor o suficiente para passar por tal
processo, finalizando a atividade da mesma maneira que quando iniciou, de forma
quieta, quando não, utilizava de piadas e ironia para representar-se socialmente
adequada, entretanto, ao terapeuta, fugia de quaisquer situações de contato,
deixando transparecer o medo de se expor.
QUADRO 01
RESPOSTAS
Devido ao grau de exposição muito alto, paciente não conseguiu participar efetivamente do
grupo, não cantando, não realizando qualquer expressão emocional – rígido embotamento
afetivo.
112
Após três sessões MLT fez a solicitação de mudar o dia do grupo (mudando
assim o grupo de pessoas envolvidas) para o mesmo dia de sua consulta
psicoterapêutica. Referiu que tal mudança facilitaria muito, já que se deslocava da
cidade vizinha para os atendimentos, contudo, estávamos cientes que MLT buscara
um grupo mais interessante. A paciente já havia observado da sala de recepção
outros pacientes que pertenciam ao referido grupo de canto que gostaria de
participar, e esses eram familiares de dependentes químicos, com aspecto muito
saudável, bom relacionamento social, formação educacional de nível superior, e por
vazes, já haviam conversado enquanto aguardavam na recepção. Em reunião com a
psicóloga foi resolvido aceitar a solicitação de mudança para o grupo que a paciente
havia escolhido, visto que, o atual grupo possuía características e condições muito
favoráveis à permanência das defesas egóicas, e dessa maneira, a estagnação do
processo terapêutico estava instalada.
O novo grupo de canto se fez funcional alicerçado pelas novas relações
sociais. Referente a música e meio social, refere Chamone:
20
Ver paranóia relacionada a projeção em “Contribuições da Psicanálise Pós-Freudiana” e
“Importantes mecanismos referentes as Relações Objetais” p.62.
113
21
Ver transferência em “Contribuições da Psicanálise Freudiana” e “A Transferência e Contra-
transferência” p.49.
114
QUADRO 02
RESPOSTAS
Nos últimos dias de trabalho do ano, antes do recesso dos serviços públicos,
a psicóloga de MLT expôs que no iniciar do ano, no mês de Janeiro, não estaria
trabalhando com a paciente, pois entraria em férias por um mês, e sugeriu que a
Terapia Ocupacional assumisse também as sessões terapêuticas individuais com a
ela, e antecedeu que a mesma poderia apresentar certa resistência em realizar
sessões individuais com um terapeuta diferente, mesmo esse já sendo conhecido
pelo grupo de canto. A psicóloga explanou que tal comportamento seria muito
coerente com MLT, e que levou anos para conseguir um vínculo (mesmo sendo
mulher), e ainda que, MLT referia atualmente que “as coisas mais pesadas” não
foram referidas em terapia. A psicóloga estava correta da postura de MLT com
relação aos atendimentos individuais. Quando oferecida a proposta, a mesma não
aceitou, porém ficou de pensar melhor e responderia no próximo dia de atendimento.
Quando chegou este dia, foi questionada sobre a proposta e negou sua participação,
justificando educadamente que era muito difícil a ela “se abrir” em uma sessão
individual. Então, foi proposto que não se fazia necessário qualquer tipo de diálogo,
trabalhando apenas com atividades terapêuticas ocupacionais não-verbais. MLT
aceitou prontamente.
MLT faz uma notória projeção dos conteúdos reprimidos em meio externo, de
tal densidade (para a mesma) que mesmo um indivíduo com as capacidades
cognitivas totalmente preservadas, como é o caso, possui a impressão de que as
demais pessoas também podem ver tais conteúdos.
Drogadicção e paranóia são considerados dois sintomas de uma única
origem, das primeiras relações mãe-bebê, conforme o embasamento das teorias
psicanalíticas das Relações Objetais de Melanie Klein e Objeto Transicional de
Winnicott.
Como referido anteriormente, Joyce McDougall, fazendo considerações a
drogadicção, refere que uma mãe que não está preparada emocionalmente para dar
suporte afetivo necessário a uma criança em desenvolvimento pode vir a
estabelecer uma relação simbiótica, como um objeto inseparável, e essa relação
impede o desenvolvimento dos fenômenos transicionais (seguindo a concepção de
Winnicott, possibilitar à criança enfrentar a progressiva separação da mãe –
condição necessária ao desenvolvimento - fazer a primeira descoberta do não-eu e
ingresso no mundo dos símbolos) e por seguinte, impede a maturação de recursos
psíquicos necessários à sua individualidade, necessitando, no decorrer de sua vida,
de uma presença objetal (pessoa ou objeto) que substitua essa presença materna
constantemente solicitada.
O mesmo déficit causador da permanente necessidade de adicção é o
gerador dos distúrbios paranóicos. A falta do desenvolvimento do objeto transicional
(transição da “projeção do eu no externo” para “o externo em si”) não desvencilha a
verificação de conteúdos internos na percepção do mundo externo. Assim, a
paranóia é resultante de um alarmante sentimento que indica uma falsa situação, o
sentimento de que os seus conteúdos internos estão projetados externamente, num
meio em que todos os demais presentes podem conferi-los.
Dessa maneira, a compreensão desses sintomas, drogadicção e paranóia,
possibilita um esclarecimento necessário para utilização da projeção exacerbada de
MLT (sintoma do déficit de desenvolvimento transicional) para seu próprio benefício:
A exteriorização de conteúdos pertinentes ao processo terapêutico por meio de
atividades expressivas de capacidades plásticas e representativas.
118
Rui Chamone Jorge (1990, p.15) refere que “as atividades livres e criativas
oferecem ao homem oportunidades de criarem uma realidade mais alta e uma
experiência mais verídica, porque não permitem as deformações causadas pela
arbitrariedade das situações”.
22
Ver Argila em “A Referencia de Rui Chamone Jorge na TO”, e “As Especificidades das Atividades
Terapêuticas por Chamone” p.31.
23
Ver inconsciente em duas fontes: 1ª fonte em “Contribuições da Psicanálise Freudiana” e “Níveis
dos Processos Psíquicos” p.46; a 2ª fonte em “Contribuições da Psicologia Analítica ou Complexa de
Jung” e “O Inconsciente” p.73.
24
Ver consciente em duas fontes: 1ª fonte em “Contribuições da Psicanálise Freudiana” e “Níveis dos
Processos Psíquicos” p.46; a 2ª fonte em “Contribuições da Psicologia Analítica ou Complexa de
Jung” e “O Consciente e o Ego” p.72.
25
Ver integração em “Contribuições da Psicanálise Pós-Freudiana”, “As Relações Objetais” e
“Relações Objetais e a Constituição interna” p.58.
119
Figura 1 – A Menina
120
26
N.A.: Paciente possui marcas e queimaduras espalhadas em todo seu corpo.
27
N.A.: O sentido de “todos” é referente ao grupo hostil que MLT enfrentara a vida toda, de acordo
com a Análise Sistêmica Familiar.
121
28
Complexo de Inferioridade - Esta denominação foi criada pelo discípulo de Freud, Adler (1912),
para designar o estado neurótico que tem por fundamento o sentimento de insuficiência ou
incapacidade para enfrentar a vida e seus problemas.
122
QUADRO 03
RESPOSTAS
29
Ver Pintura em “A Referencia de Rui Chamone Jorge na TO”, e “As Especificidades das Atividades
Terapêuticas por Chamone” p.33.
124
30
M: Olha aqui... É óbvio, né? (ver figura 2, p.117)
M: Então, fiz aqui minha linha da vida emocional. O azul é quando está bom. O
marrom é quando estou muito deprimida, é muito ruim!
T: Ah, sim. Mas não é isso que vi em seu desenho. Entendi outra coisa...
T: Você já acabou?
M: Ainda não.
Após uns 5 minutos, MLT finalizou a atividade, agora criando uma nova linha
(ver Figura 3, p.117), pontilhada e sobreposta, representando também seus
movimentos emocionais, com o diferencial em sua postura, nesta nova a
representação de “pensando antes de agir”, conforme o trabalhado em sessões
psicoterapêuticas. “Essa linha é melhor. Não é perfeita, mas é melhor” [SIC].
30
Legenda: M = MLT e T = Terapeuta.
125
31
Ver catarse em “Contribuições da Psicanálise Freudiana” e “A Catarse” p.43.
32
Masoquismo – Prazer em experimentar a dor; perversão sexual em que a pessoa só tem prazer ao
ser maltratada física ou moralmente; algolagnia passiva (FERREIRA, 1999).
128
Com uma aparência muito nervosa e num movimento automático, MLT pegou
um cigarro com suas mãos tremulas e o acendeu dentro do setting terapêutico (um
lugar muito incomum para fumar). Seguidamente perguntou se estava liberada da
sessão e prosseguiu seu cigarro no jardim do CAPSad, permanecendo concentrada.
Se tratando de MLT, vê-la hiper-tenaz torna-se impactuante, pois a mesma possui
um forte padrão hiper-vigil/paranóide.
33
Ver a história de Nise da Silveira referente a descoberta do mecanismo auto-regulador da psique
em “Contribuições Pós-Junguianas de Nise da Silveira à Terapia Ocupacional” p.90.
34
Ver Self em “Contribuições da Psicologia Analítica ou Complexa de Jung”, “O Inconsciente
Coletivo” e “O Self e o Processo de Individuação” p.83.
131
QUADRO 04
RESPOSTAS
• Desenvolver 6 bolinhas
• Dar um significado objetal a cada bolinha (pessoa, sentimentos...)
• Separar em 2 grupos de 3 bolinhas, um grupo para sentimentos bons, o outro
para sentimentos ruins.
• Para identificação fazer uma representação em cada bolinha, que poderia ser
por letras sobre as mesmas.
35
N.A.: Se tratando de MLT, fizeram-se necessárias explicações para confortá-la a continuar a
atividade, pois a mesma possui muita dificuldade em exteriorizar seus conteúdos emocionais, e em
caso de alguma situação que a torne insegura, pára e não prossegue. Esses momentos são muito
comuns na terapêutica de MLT.
36
N.A.: O terapeuta não compreendeu a informação referida, e perguntou novamente, e ela responde
da mesma forma: “eles começaram e estão acabando!” compreedeu-se posteriormente que referia-se
a “sua vida”.
134
Figura 6 – A Faca
135
O Terapeuta pediu para que MLT utilizasse um outro pedaço de argila para
fazer uma superfície fina, como um disco ou um prato raso. Essa superfície seria sua
auto-representação. Com a intenção de criar uma caracterização interna em MLT de
auto-identificação com o objeto, o terapeuta pegou plataforma recém modelada e
falou: “essa é você, ok?”; colocou a “ostra” (modelada anteriormente) sobre a
plataforma e disse: “Assim é como você está hoje”. O terapeuta pegou uma chapa
de madeira, escorou-a em uma parede próxima e pediu que MLT escolhesse um
lugar na chapa para fixar a plataforma modelada sem a ostra (sua representação).
MLT fixou-a (fixou-se) no centro da chapa de madeira (ver figura 7, p.127).
Plataforma Modelada –
Representação de MLT
A Dor
O Amor
MLT
Ostra
A Dor
37
Faz-se importante a citação de Eduardo Kalina referente a Manutenção da Patologia em “Outras
contribuições Necessárias ao Estudo de Caso”, “A Terapia Sistêmica”, “A Terapia Sistêmica Familiar”
e “O Paciente Identificado” p.95.
141
38
Falo - Representação do pênis, adorado pelos antigos como símbolo da fecundidade da natureza.
(FEREIRA, 1999).
142
QUADRO 05
RESPOSTAS
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intenção com este estudo foi demonstrar na prática uma intervenção até
então pouco conhecida e por vezes de efeitos polêmicos em nossa sociedade;
intervenção essa que procura favorecer um meio de tratamento eficaz, e que ao
mesmo tempo forneça novas vias de soluções, satisfazendo as exigências do
paradigma que está em construção na saúde mental. Este estudo está direcionado
às intervenções da Terapia Ocupacional, em uma proposta promotora de saúde, e
não atenuadora de sintomas; que se aprofunda na psique humana reconhecendo
suas zonas conflitantes; concentrando-se na estrutura psicológica individual e em
suas psicopatologias, considerando o “eu” emocional, racional, sócio-histórico e
filogenético, na intenção de trazer novos subsídios e uma pratica que possa
complementar às deficiências de nosso atual modelo médico-cartesiano em favor à
realidade das demandas existentes.
A Terapia Ocupacional Psicodinâmica oferece uma proposta notável, que
aqui, colocada em exercício, mesmo não nos dando mensurações estatisticamente
precisas ou previsibilidade de respostas em suas práticas como pede a maior parte
dos modelos científico-contemporâneos, conferiu-se sua saliente eficácia.
Procurou-se através da base teórica dos mais renomados estudiosos do
campo mental e suas manifestações bem como de suas estruturas e
funcionamentos internos, aplicar uma abordagem que dentro especificidade, o
relacional, considerando esse fundamento ao equilíbrio existencial entre o
organismo e o meio. Para tal proposta, utilizou-se da particularidade de
determinadas atividades como técnicas relacionais terapêuticas, considerando
primordialmente as características plásticas, maleáveis, simbólicas, ansiogênicas,
estruturantes, projetivas, identificadoras da projeção, entre outras.
146
Por mais que suas práticas e estruturas teóricas não sejam novas, a Terapia
Ocupacional Psicodinâmica é ainda muito desconhecida e pouco acreditada, e por
isso muitas vezes polêmica. Infelizmente, o atual modelo médico-cartesiano ainda é
tido como a forma de cientificidade de maior referência, mesmo esse já tendo se
mostrado, em determinados casos (como na saúde mental) profundamente
disfuncional ou limitado. A psique humana não é simples resultante da
funcionalidade mecânica do cérebro. Sua complexidade é tão vasta que o homem
pouco sabe a seu respeito, e dessa maneira, as intervenções que se seguem não se
devem se bastar sobre o pouco que se conhece de seus mecanismos funcionais,
pois dessa maneira a terapêutica limita-se a seu alcance. Deve-se utilizar
conhecimentos que possibilitem condições para uma atuação segura daquilo que se
desconhece, visto que, como os fundamentos apresentados neste trabalho, possui-
se atualmente estudos e pesquisas de grande relevância referentes às
funcionalidades psíquicas e seus recursos auto-reguladores.
O fundamento psicanalítico fez-se formidável à proposta, tanto no contexto
teórico quanto no prático, referindo os estudos e denominações da psique e seus
mecanismos funcionais. Pôde-se constatar em tempo real, por meio do
desenvolvimento das atividades que grande parte dos distúrbios psíquicos de
origens afetivas são originados a partir de repressões (recalques) à natureza
instintiva e pulsional do indivíduo em episódio(s) na sua história, e tais bloqueios
permanecem no inconsciente desviando o percurso natural do fluxo de energia
psíquica; e por serem resultados de vivências traumáticas, são também
assegurados por mecanismos psíquicos, denominados “mecanismos de defesa”,
podendo estes serem identificados visivelmente pelo Terapeuta Ocupacional
favorecido por esta abordagem. Referencias teóricas como Relações Objetais de
Melanie Klein e Objeto Transicional de Winnicott foram fundamentos para a
compreensão dos aspectos apresentados pelo caso clínico e a terapêutica das
atividades expressivas.
147
REFERÊNCIAS
MELLO, J. F. de. Donald Winnicott, 20 anos depois. Porto Alegre: Artes Médicas,
1989.
SAMUELS, A.; PLANT, F.; BONI, S. Dicionário Crítico de Análise Junguiana. Rio
de Janeiro: Imago, 1988.
SILVEIRA, N. da. Jung, Vida e Obra. 16. ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1997.