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Prefácio

A rosa é um botão que cresce, amadurece, aflora e


desabrocha, mostrando-se perfeita, plena e dona do
jardim.
Apesar de deslumbrante, toda rosa é única e fatal,
em toda beleza há perigos, em uma única rosa pode
haver diversos espinhos.
Assim Rosalie é para mim: uma garota fascinante,
de beleza inigualável, um tanto perigosa...
O interessante, porém, é que Rosalie sempre foi uma
rosa, e após sua transformação, ela apenas aflorou
seu fascínio e ampliou seu veneno, e melhor,
manteve congelado seu brilho e sua beleza.
Portanto, Rosalie é uma Rosa Cristalizada.
Uma rosa que foi cristalizada no tempo, mas que
continua manifestando seus poderes.

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Rosa Cristalizada: Livro Um

Capítulo 1 - Rosa Dominante


O dia jamais esteve tão belo, a vida nunca esteve tão boa...
Podia sentir o cheiro de flores no ar, com certeza era o clima Outonal de
outubro de 1929 misturando as folhas ao vento. Até que é legal ter 14 anos,
quando seus pais aceitam todos os seus pedidos; mas eu queria mostrar para
todos que eles realmente faziam tudo por mim.
Olhei para o relógio com uma ansiedade tremenda, não conseguia esperar
nem mais um milésimo. Minha mãe não estava preparada, mas isso não quer
dizer que não poderia ficar.

“Mamãe, nesse fim de semana será aniversário da Sophie, posso trazer


minhas amigas para dormirem aqui?” Perguntei prontamente com um ar
inocente.

“Rosalie, perguntaremos ao seu pai quando ele chegar, de qualquer modo,


hoje é apenas quinta-feira. Espere um pouco, tá bem?” Ela perguntou me
olhando nos olhos mostrando que para tudo era necessário tempo.

Não pude deixar de fazer uma ‘carinha desanimada’ e um longo bico “Ok,
tudo bem...” Fiz aquela cara de choro, a qual sempre fazia quando queria
realizar meus desejos, sabendo que assim ela não discordaria.

“Ok... Falarei com seu pai, mas terá de arrumar tudo para a chegada delas”
Minha mãe rendeu-se. Perfeito, conquistando minha mãe todo o resto seria
facilitado.

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Mostrei um largo sorriso e dei-lhe um longo abraço sussurrando em seu
ouvido: “Te amo mamãe”.

Ela me encarou com seus profundos olhos azuis e deu um sorriso materno,
enrugando um pouco a testa e apertando-me também contra ela no abraço “Eu
também te amo” Ela devolveu aos meus ouvidos como o canto de uma rainha.

Saí da cozinha com um sorriso vitorioso, foi quando percebi o preço a pagar:
Arrumar meu quarto. Nem conseguia pensar no tamanho do meu quarto, como
arrumaria aquilo tudo??? Ah, sim...

“Richard?” Eu disse numa voz baixa e doce para não assustar meu irmãozinho
de 10 anos.

“Que Rose?” Ele já sabia que eu queria algo, ele sempre sabia, apenas pelo
meu tom de voz.

“Sabe aqueles doces que você queria e aqueles outros brinquedos?” Perguntei
com ar de desinteresse; isto porque doces não me fascinavam, e com 14 anos
brinquedinhos não interessam mais.

“Sei...” Richard abriu um sorriso enorme, mostrando todos os dentes


graciosos.

“Você ainda quer?” Já sabia a resposta, mas escondi meu sorriso de vitória.

“Claro que sim... mas... o que você quer em troca?” Ele fez uma cara de choro.
Como se eu fosse querer algum brinquedo dele.

“Simples... Eu te dou de presente se... Você e o Philipe arrumarem meu


quarto” Philipe era meu outro irmão, de 12 anos, porém, conquistar o mais
novo é o segredo. Ele ficou em dúvida, mas como eu disse, já sabia a resposta.

“Ok... Arrumo agora mesmo” Ele começou a correr pela casa com seu cabelo
castanho-claro voando e começou a gritar: “Philly, vem aqui... Você não
sabe...”.

Richard, Philipe, Mamãe, Papai... Era muito fácil manipulá-los... Às vezes


sentia-me mal por isso, mas só às vezes, essa semana seria diferente, seria para
mostrar para minhas amigas; ou seja, seria por um “bem maior”. Caminhei até

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a varanda para sentir novamente o aroma floral, enquanto aguardava a
chegada de papai, apenas para ter certeza de que tudo sairia perfeitamente
bem. Deslumbrei o céu límpido e radiante, as nuvens encontravam-se em
movimentos constantes, além de cativantes. O azul do céu combinava
perfeitamente com meus olhos, exceto pela íris que mais lembravam o sol, foi
quando percebi que meus olhos eram um céu; um céu com um sol! Após
algum tempo de meditação, o azul começou a mesclar-se, demonstrando o
resultado das combinações de cores, mudando para vermelho, roxo e enfim
chegando ao rosa.
Assim que surgiu o crepúsculo, meu pai apareceu; preparei-me para envolvê-
lo em um abraço, isto até perceber o humor pesaroso dele.

“Papai? Tudo bem?” Era óbvio que não pela expressão dele, e eu sabia que ele
não diria; mas não custava nada tentar...

“Tudo sim minha princesa... É só um probleminha de adulto” Ele tentou me


reconfortar, o que sempre me irritava, mas hoje eu poderia esquecer a
irritação, pois, teria que ser direta.

“Hã... Tudo bem então... Sabe papai... Eu estava pensando e...” Comecei o
assunto que tanto queria falar.

“Rose agora não... Depois nós conversamos...” Ao terminar a frase ele me deu
um beijo na bochecha, levantou-se, tirou o casaco e foi pra sala conversar com
a mamãe. Fiquei paralisada, meu pai jamais deixava de me ouvir. Precisava
saber o que me deixaria como segundo plano para ele. Fiquei atrás da porta
enquanto eles conversavam.

“... Mas o que houve?” Minha mãe perguntava afoita.

“Muitos acionistas perderam TUDO hoje, meus melhores amigos tinham tudo
em ações, agora terão de vender a casa e mudar-se... Porém, essa crise passará
logo, mas os bancos estão entrando numa situação difícil também... Se
continuar assim, não sei quanto tempo terei no meu trabalho...” Ele não
conseguiu continuar devido ao nervosismo.

“Estamos tão mal assim? Nós podemos vender algumas coisas e...” Nunca vi
meus pais tão assustados. Isso queria dizer que eu ficaria sem dinheiro? Seria
como aquelas pessoas na rua que o papai sempre dizia ter o que mereciam?

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“Não... Nós não temos ações. Não confio nesse tipo de mercado, não temos
nenhum problema; mas isso não quer dizer que não teremos depois...”.

“Entendi... Bom, então devo informar Rosalie que não será possível ela trazer
as coleguinhas aqui em casa no fim de semana” Congelei com essas palavras.

“Porque não? Rose não precisa ser punida por nossos problemas, deixe-a fazer
o que bem entender” Era por isso que amava tanto meu pai, ele conseguia
pensar na minha felicidade mesmo nos momentos de desespero. Ele era o
alivio em pleno precipício.

Depois de ver meu domínio total, resolvi ir para o meu quarto, para ter certeza
de que tudo estava arrumado. Eram só alguns degraus. Adorava contá-los
enquanto subia.

“Um, dois, três, quatro... dezoito, dezenove, vinte!” Meu quarto estava
perfeito. Tudo seria maravilhoso, já conseguia imaginar a inveja das minhas
amigas ao ver minha casa, meu quarto, meu poder...

Os dias nunca foram tão demorados, tão arrastados, tão monótonos para mim e
tão agitados para meus pais, mas finalmente o sábado chegou.

Coloquei meu melhor vestido, feito por um tecido leve que lembrava muito a
seda, na cor azul bebê para combinar com o contraste dos meus olhos e
coloquei uma de minhas jóias mais cintilantes.

“Mamãe? Podemos ir agora?” Já estava impaciente, levei três horas para ficar
impecável e minha mãe levava muito mais tempo somente para me
acompanhar.

“Claro querida, já pegou tudo?” Ela perguntou indecisa, será que era um modo
de me fazer desistir? Se fosse ela não venceria.

“Sim mamãe... Vamos!” Falei puxando-a para fora.

O ar gelado fez meus cachos voarem, mas não me importei, eu sabia muito
bem que hoje todos os olhos estariam em mim. E tudo foi sendo confirmado
durante o caminho, quando todos os homens quebravam o pescoço ao me ver.
Talvez fosse a maquiagem, ou a roupa que estivesse me deixando mais velha.

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Finalmente chegamos numa das casas mais belas da cidade. Sophie era filha
do prefeito e uma das garotas mais cobiçadas (depois de mim).

“Querida estou voltando, me ligue para buscá-la, já arrumei tudo para as suas
coleguinhas, cuide-se minha Rose” Mamãe disse beijando de leve meu rosto e
foi desfilando pela rua até desaparecer.

Apertei a campainha e logo vi a empregada de Sophie surgindo.

“Olá Senhorita Hale, entre, dê-me o casaco, as meninas estão ali” Helene me
informou.

“Muito obrigada” Respondi tirando o casaco e juntando-me às meninas,


pronta para os elogios.

“Rosalie! Que cabelo maravilhoso, como consegue? Você está estupenda!”


Percebi o tom de inveja de Suzan.

“Obrigada Suzan, você também está divina, não faço nada, a natureza faz por
mim! Olá Vera, como está? Cadê a Sophie?” Vera era minha melhor amiga,
não era tão bem sucedida, mas tinha um ótimo coração.

“Estou bem Rose, realmente você está estupenda, Sophie ainda está lá em
cima, com os ‘Amigos’ do pai dela, logo descerá”.

Alguns minutos depois avistei Sophie rodeada de garotos mais velhos. Ao me


ver ela deu um sorriso forçado e endireitou-se, caminhando até nós com os
cabelos castanhos presos belamente e usando uma tiara que lembrava de leve
uma coroa.

“Rosalie Hale, estou feliz em vê-la” Ela me cumprimentou num tom estranho,
poderia ser despeito.

“Eu disse que viria” Devolvi no mesmo tom, entregando-lhe o enorme


embrulho que já estava pesando. Reparei que ela ficou nervosa ao perceber
que os garotos agora olhavam para mim.

“Obrigada pelo presente, logo abrirei, vamos subir meninas?”. Ela lançou-me
um último olhar venenoso com seus olhos verde-esmeralda antes de virar-se e
sair.

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Minha raiva apareceu quando ela menosprezou o presente, mas nem por isso
deixei-me abater, caminhei ao seu lado, ainda ciente dos olhares.

A noite surgiu e Sophie ficava cada vez mais atirada e irritante, mas ela era a
aniversariante, então não podia fazer muita coisa, e chamar atenção na festa
dela já era uma vingança razoável.
O salão era muito belo, o lustre parecia feito de diamante, a música era
clássica e relevante. O piso de madeira estava tão bem encerado que brilhava,
e as bebidas estavam organizadas de forma tão deslumbrante que tudo refletia
notavelmente. Todas dançamos por horas, rodopiando, girando... Eu estava tão
leve que parecia flutuar. O efeito em geral foi maravilhoso, diversos vestidos
de cores variadas rodopiando no salão, parecia um festival de flores em pleno
jardim, a diferença era que a madeira representava o gramado, e cada garota
possuía certa semelhança com cada flor. Vera era a violeta, uma beleza natural
perceptiva, mas que não clamava por atenção. Suzan era um girassol, radiava
luz na parte do dia. Entre tantas se encontrava tulipas, damas-da-noite,
margaridas, orquídeas, flores do campo, hortênsias e muitas outras, os cravos
simbolizavam os garotos. Sophie com seu vestido branco lembrava um
esplendoroso lírio, e por fim, mesmo sendo num tom azul bebê não pude
deixar de me sentir como a flor principal, a flor dominante, ou melhor, eu era
uma Rosa Dominante.

“Você é Rosalie Lillian Hale não é? Filha de John Hale?” Um garoto alto de
cabelos lisos negros caídos na testa e olhos brilhantes perguntou.

“Sim sou, e você é?” Se ele sabia de mim, podia no mínimo saber dele.

“Fabrício Steiner, filho de Albert Von Steiner” Ele pronunciou o sobrenome


vagarosamente como se eu fosse uma retardada.

“Steiner?” Perguntei indiferente.

Ele pareceu aborrecer-se. “Meu pai é um famoso executivo, vive na casa do


prefeito...” Tentou ele novamente.

“Há sim, me recordo agora...” Como pude me esquecer de um dos nomes mais
conhecidos da região.

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“Sabia que lembraria. Quantos anos têm? Dezessete também?” Fabrício
perguntou admirando meu corpo com um olhar desejoso.

“Não, apenas quatorze. Pareço tão velha?” Fingi ultraje.

“Não, não, perdoe-me, mas você parece bem mulher para ter quatorze anos”
Ele analisou outra vez meu corpo para comprovar o que disse.

“Você tem dezessete então?” Tentei continuar a conversa.

“Sim, logo farei dezoito” Ele pausou um momento, olhando ao redor e


continuou. “Acredito que esteja na hora de juntar-nos aos outros, parece que
Sophie vai matá-la com o olhar; de qualquer modo, a festa parece estar no
fim” Sussurrou ele rindo aos meus ouvidos.

“Melhor não demorarmos então” Imaginei Sophie atacando-me publicamente


por causa de um garoto, quando ela ‘estava com todos’.

Peguei o telefone e disquei o número de casa.

“Alô mamãe, pode mandar o papai vir, já está no final da festa... Certo...
Quinze minutos... Também te amo... tchau”.

Quinze minutos... Quinze agrupamentos de tempo. Tempo em que Sophie se


mostrava, tempo em que todos a adoravam, tempo em que ela brilhou... Mas
todo tempo tem seu fim, a campainha tocou e preparei-me para sair com as
garotas, todas exceto a dona da festa, pois esta estaria ‘muito ocupada’.

“... Já as chamarei Senhor Hale, entre...” Ouvi a empregada dizer.

“Bom meninas, meu pai já chegou, vamos?” Perguntei a elas, dando-lhes a


oportunidade de escolher entre mim e Sophie.

“Claro que sim, estamos loucas para ver sua casa Rosalie” Obviamente era o
desejo de Suzan.

“Se não se importar Rose...” Vera dizia, doce como sempre.

“Claro que não me importo, e vocês Rachel e Mandy?” Observei suas


expressões duvidosas, entre trocas de olhares.

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“Vamos sim” Finalmente Mandy manifestou-se.

“Sendo assim... Sophie foi uma festa muito agradável, espero vê-la logo”
Pronunciei da maneira mais amável possível.

“Voltem sempre meninas... A casa é de vocês” Ela contra-atacou, tentando


recuperar as convidadas perdidas.

Por fim virei-me aos garotos para deixá-la nervosa uma última vez, e disse
num tom sedutor: “Até breve garotos, foi um prazer”.

“Espero vê-la em breve mesmo Rose”, Fabrício falou exasperado.

Assim, virei-me para meu pai, acompanhada das garotas e dirigimo-nos à


saída.

“Aqui estão seus casacos Senhoritas, obrigada por virem, tenham uma boa
noite” Desejou a empregada prestativa de Sophie.

“Igualmente” Retribui com um sorriso.

Coloquei meu casaco e caminhamos pela rua. Eram apenas quinze minutos de
caminhada, todas estavam ansiosas para conhecer meu lar e papai continuava
com um ar preocupado. Em um tempo bem menor – Devido à ansiedade –
chegamos.

“Deslumbrante Rosalie” Começou Suzan.

“Meninas, podem entrar, sintam-se em casa, Rose será uma excelente anfitriã”
Papai disse.

Dei meu primeiro passo rumo a glória de maneira graciosa, assim como a
minha expressão. Essa seria a minha hora. Não foi surpresa alguma quando as
meninas morreram de inveja da minha casa, do meu quarto, da minha família.
Era exatamente o que eu esperava.

“Rosalie adorei cada detalhe da sua magnífica casa” Suzan iniciou.

“É muito bela e deve ser caríssima...” Vera constatou.

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“Meu Deus, é até melhor que a da Sophie” Mandy anunciou.

“Ela morreria se visse” Rachel apoiou.

“Que bom que gostaram garotas, vou descer um minuto e já volto” Disse com
um sorriso encantador e corri degraus abaixo.

Outra vez meu pai discutindo, com certeza era algo muito, muito sério. Se já
escutei uma vez, poderia muito bem escutar outra. Fiquei escondida num
canto para prestar atenção na conversa.

“O Senhor King já está demitindo muitas pessoas, a crise afetou os bancos


também, garanto que metade dessas coleguinhas de Rosalie estarão na miséria
em questão de dias, sei disso porque os pais delas são acionistas. Devo dar um
jeito para melhorar no banco ou seremos os próximos” Papai falava muito
rápido e com um ar aflito.

‘Metade das coleguinhas de Rosalie... Na miséria... Dias... Ou seremos os


próximos’. Foi tudo o que consegui pensar durante algum tempo. Pobreza?
Miséria? Palavras que não eram agradáveis e que afetavam a todos. Não podia
pensar mais nisso, ou iria enlouquecer.
Subi as escadas correndo, sem me importar de contá-los desta vez e respirei
fundo antes de entrar no quarto.

“Rosalie? Tudo bem?” Vera percebeu meu estado de choque. Ela sem dúvida
me conhecia melhor do que ninguém.

Coloquei uma máscara para esconder meu pânico. “Tudo ótimo querida,
apenas fui ver se meus irmãozinhos estavam bem, pensei ter escutado algo...”
Disfarcei.

“Estão bem?” Rachel preocupou-se. Não havia notado seu interesse por meus
irmãos.

“Há, sim! Não foi nada, coisas de crianças...” Respondi atônita, ressaltando a
palavra crianças para que ela nem chegasse perto de meus irmãos.

“Bom Rose, falávamos de como o Fabrício ficou interessado em você”. Ela


percebeu minhas palavras ocultas e desviou o assunto.

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“Fabrício?” Perguntei.

“É o filho do advogado Steiner, o moreno de olhos verdes, de dezessete


anos...” Suzan tentou demonstrando interesse.

“Lembrei-me, mas, não foi nada sério. Ele apenas estava conversando
comigo” Falei inocentemente.

“Se todo garoto que falasse comigo me olhasse daquele jeito... Nem sei”
Mandy informou e todas rimos durante algum tempo.

“Por isso Sophie ficou com tanto ódio de você. Ela já está praticamente
prometida pra ele desde quando nasceu” Suzan que sempre sabia de tudo
informou, quebrando o profundo silêncio que havia.

“Ela estava conversando com tantos garotos que não imaginei que fosse isso”
Defendi-me.

“Deixemos pra lá...” Vera interveio.

A noite foi longa entre risos, conversas, brincadeiras e fofocas. Durante todo o
mês minha casa foi comentada, nem a festa e Sophie adquiriu o mesmo
prestigio. Finalmente perceberam que eu estava no topo. E permaneci nesse
encanto nos dois anos seguintes, os mesmos que deixavam meu pai cada vez
pior, os mesmos que como ele dissera, deixara metade das minhas colegas
vivendo de favor. Minha família conseguiu manter-se, e o colégio já estava no
fim, isto porque 16 anos é uma fase quase adulta na Inglaterra.

Sophie assumiu o ódio que tinha por mim e depois de muita luta conseguiu
noivar com Fabrício. Suzan, Mandy e Rachel estavam a ponto de perder tudo,
mas já investiam nos riquinhos da cidade e Vera continuava ao meu lado
como sempre. Eu dava à ela alguns vestidos, porque mesmo na tempestade
que ocorria – na questão comercial – meu pai não deixava de me mimar com
vestidos caríssimos e outras coisas de pouca importância, mas de grande valor.

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Capítulo 2 – Rosa e Violeta

Em uma de minhas conversas com Vera, vi pela primeira vez as pessoas mais
lindas que já havia visto na vida. Percebi que ao lado delas, parecia ser eu o
patinho feio da história.
Eram três ao todo: uma mulher que aparentava ter uns 25 anos, rosto no
formato de coração e cabelos impecáveis na cor de caramelo, um homem loiro
aparentando ter 23 anos, mas muito belo e um outro garoto de cabelo bronze,
olhar sedutor e forma juvenil. O estranho nisso é que todos eram muito
pálidos, então a cor de pele também se destacava entre a multidão.
‘Não acredito que eles são mais belos que eu, quem são eles?’ Pensei.
No mesmo instante o garoto pálido que aparentava ter 17 anos, o de cabelo
bronze olhou para mim e lançou-me um olhar de desprezo.
‘Desprezo? Por mim? Nunca fui desprezada, ao contrário, sempre desprezei e
jamais era ignorada, quem era esse garoto?’ Minha raiva apenas aumentava.

“Vera, quem são eles?” Perguntei muito curiosa.

“São os Cullen, mudaram-se agora, o homem loiro é o Dr. Cullen, o outro é


seu irmão e a mulher sua esposa” Ela respondeu naturalmente, como se não
percebesse a beleza anormal deles.

O garoto continuava me encarando com um ar superior, o que me deixou em


chamas. ‘Cullen, que tipo de nome é esse? Quem esse garoto pensa que é pra
me tratar assim?’.
Minha raiva era tamanha que me obriguei a sair do local arrastando Vera para
longe destas pessoas.
Durante todas as noites apenas eles me vinham à mente, durante toda a
semana só conseguia pensar em sua beleza, cada minuto que ficava sozinha só
conseguia pensar em uma coisa: Nos Cullen.

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Com o tempo comecei a esquecê-los, porque já não apareciam em público,
portanto, não havia o que temer.
Para minha surpresa Vera ficou noiva de Thomas – um mero carpinteiro – e
estava muito feliz.

“Rosalie, você é minha melhor amiga, Tom e eu queremos que você seja
nossa madrinha de casamento” Ela informou-me certo dia, sua alegria era
contagiante e percebi como seus olhos pareciam estrelas cintilantes.

“Claro que serei Vera, será um enorme prazer, mas... Você não acha muito
recíproco? Ele é um carpinteiro e para conquistar uma casa própria não está
muito fácil...” Tentei fazê-la ver melhor.

“Sei disso, mas eu o amo tanto, ele é a pessoa mais amável e carinhosa que
conheci, e também é muito trabalhador...” Ela defendeu o noivo.

Nesse momento notei que não existiam palavras para contrapor o amor, o
sentimento era mais forte do que a razão. Se isso a fazia feliz eu também
ficava feliz.

Ajudei minha amiga nos preparativos de casamento durante os meses que


seguiram. A cada dia sua alegria aumentava. A cerimônia seria muito humilde,
porém dava para perceber que seria matizante. Um casamento coberto de
violetas, a flor que Vera simbolizava em meu jardim.

Vera estava deslumbrante. Senti orgulho ao vê-la, e pude certificar nos olhos
de Thomas que o amor de ambos era deposto de forma incondicional. Foi
nesse instante que tive vontade de amar e ser amada, mas também ser
desejada. Queria um casamento imenso e cheio de flores – de preferência
coberto de rosas - onde todos pensassem que eu era a pessoa mais linda que
veriam pelo resto da vida, assim como a reação que tive ao ver os Cullens. E
outra vez lembrei-me dos humanos distintos e belos, em minha comparação,
no jardim que é o mundo, eles seriam as únicas flores silvestres de espécime
diferente, espécime que atraia as demais flores como se fossem meras presas.
E apenas por um momento desejei ser uma Cullen.

Em menos de dois anos Vera e Thomas conseguiram um lugar perfeito para


moradia, como madrinha de casamento eu sempre ia visitá-los, e mesmo com
isso continuávamos melhores amigas, como Rosa e Violeta em terrenos
diferentes, mas com raízes próximas.

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Certa vez, durante a noite meu pai estava aos cochichos com minha mãe, pude
apenas pegar alguns trechos da conversa.

‘Royce King II irá assumir o banco esta semana, com certeza o momento não
poderia ser mais oportuno... E Rosalie...’.

Pelo que percebi papai tinha um novo chefe – que por sinal era filho do antigo
– e ele estava feliz por isso. Apenas não compreendi onde meu nome
encaixava-se, pois não o conhecia e nesse ponto da conversa a voz estava tão
baixa que não fui capaz de escutar.
Deveria ser algo não muito importante, então caminhei até meu quarto e
pouco tempo depois me vi presa na ilusão do mundo dos sonhos.

Era um sonho magnífico, onde eu era o centro, estava com um maravilhoso


vestido branco que destacava minha silhueta e ao meu redor todos estavam
admirados, por um breve momento me vi tão pálida quanto os estranhos e
senti meus lábios mesmo sonolentos se repuxarem em um formoso sorriso.
Na manhã seguinte não me recordava do sonho, mas sabia que algo mudara
em minha casa, minha mãe não parava de me elogiar e meu pai ficara cada vez
mais sorridente. Os únicos que permaneciam iguais eram Richard e Philipe,
agora com as feições mais sérias, entrando na adolescência, Rich já estava
com 13 anos e Philly com 15. Não havia percebido o quão rápido o tempo
passara, ainda me lembrava de quando brincava com eles, ou discutíamos sem
parar como irmãos fazem, ou então quando deixávamos nossos pais de cabelos
em pé. Não consegui evitar o sorriso de compaixão ao vê-los assim agora.

“Você esta bem Rose?” Philipe tornara-se um excelente observador. Ele


sempre fora o filho mais quieto da família e agora entendia o motivo. Ele era
do tipo que analisava tudo ao redor, para depois tomar decisões.

“Perfeitamente bem, o que lhe faz pensar que não?” Perguntei de forma
amigável.

“Está me olhando como se eu fosse algo estranho” Ele tentou explicar.

“E você não é?... Não é isso bobinho, apenas vejo como você cresceu!”
Brinquei com ele.

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“Papai diz que eu serei um ótimo soldado, o que você acha?” Ele retraiu os
pequenos músculos recém-formados esperando resposta.

“Com certeza será, assim que tiver forças para levantar pelo menos um jarro
de flores” Desatei uma risada ao ver a irritação dele.

“Eu consigo levantar você. Quer ver?” Philipe correu na minha direção e
puxou-me com uma força incrível, me manteve no ar durante alguns segundos
com certo esforço.

“Solte-me Philly, ou cairemos os dois...” Alertei-o sentindo seu aperto


afrouxar.

Ao dizer isso, ele se desequilibrou e nós caímos, eu por cima dele. O baque
foi forte, mas nem por isso deixamos de gargalhar. Ao analisar seu rosto
encontrei alguns traços meus, e vi seu olhar de desafio. Sem dúvida, ele
conquistaria o que quisesse. Foi um momento bastante materno para mim,
como se fosse o último que desfrutaria com meu quase grande irmão.

“Não disse super-homem?” Outra vez brinquei.

Ele mostrou a língua e prosseguiu. “Eu disse que te levantava, não disse que
ficaria horas assim!”.

Outra vez a alegria contagiou o ambiente. Ele levantou-se e estendeu-me o


braço como um belo cavalheirinho.

“Apesar de tudo eu a amo demais sua boba” Philly confessou.

Dei-lhe um abraço um tanto forte e sussurrei: “Também o amo pestinha”.

Assim, segui para a cozinha para ajudar minha mãe nos afazeres, enquanto ele
corria para fazer alguma competição com Rich. A minha casa era enorme,
adorava arrumá-la, mas meu quarto com certeza estava fora disso, acredito
que ele correspondia à metade da casa, e a cozinha era um lugar interessante,
minha mãe estava tão radiante que tive de perguntar-lhe o motivo de tanta
felicidade.

“O que houve mamãe? Você e o papai estão tão felizes que isso até me
espanta”.

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“Há Rose, uma mãe não pode ficar feliz ao ver sua menininha se tornar a mais
linda mulher...?” Ela apontou pra mim ainda sorridente.

O rubor que transcorreu em minhas bochechas foi bem caloroso, minha mãe
não falava assim de mim, achava que aos olhos dela eu ainda era sua pequena
Rose, ou melhor, pequena Rosa, como ela gostava de chamar.

“Ok mamãe... Agora me diga o verdadeiro motivo...” Aguardei sua resposta


cruzando os braços.

“Seu pai tem um novo patrão, Royce King II, e essa semana ele está no banco
para verificar a competência de seus funcionários, e seu pai irá receber um
destaque imenso...” Ela tagarelou cortando distraidamente as batatas para o
jantar.

“O patrão do papai além de dono do banco, é dono de todos os negócios


importantes da cidade, não é?” Queria confirmar.

“Claro, claro, e o jovem Royce herdará tudinho depois dele...” Mamãe


informou com um brilho diferente nos olhos.

“Legal, já posso sair ou ainda precisa da minha ajuda aqui?” Já estava cansada
de ouvir sobre esse cara.

“Pode sim minha pequena Rosa, descanse bem minha princesa...” Respondeu
ela com a cabeça nas nuvens.

Adormeci novamente e durante minha sonolência recordei-me da data, dia 10


de fevereiro de 1933, meu aniversário de 18 anos seria em algumas horas.
Neste mesmo instante abri os olhos, a escuridão estava muito intensa, não
tinha percebido que havia dormido tanto.
Aos poucos meus olhos se acostumaram com a escuridão e fui capaz de
enxergar os objetos ao meu redor, desci os vinte degraus de escada para
verificar se meu pai já havia chegado do trabalho. Ele estava me esperando
sentado no sofá com dois embrulhos no colo.
“Papai?” Falei correndo em sua direção.

“Feliz aniversário minha princesinha, você é o orgulho que todo pai deseja, a
garota mais especial que o mundo possuirá em sua existência. Rosalie queria

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apenas dizer-lhe que te amo demasiadamente. Quando vejo seu sorriso, sinto-
me o pai mais feliz do mundo, você consegue me deixar forte para enfrentar
qualquer desafio. Sempre te amei, e sempre a amarei minha filha”. Ele
pronunciou lentamente ao meu ouvido enquanto permanecíamos unidos em
um envolvente abraço familiar.

As lágrimas deslizaram quente na minha pele de pêssego, as maçãs do meu


rosto ficaram vermelhas, a compaixão ampliou-se a um ponto indescritível,
percebi que todas aquelas palavras eram verídicas e que meu pai me amava
tanto quanto eu o amava. Não existiam palavras para responder-lhe à altura, só
pude apenas abraçá-lo com toda força e amor que consegui reunir. E assim
permanecemos por um longo tempo.

“Não quer ver seus presentes?” Disse ele mostrando-me os embrulhos.

Abri o primeiro e vi um maravilhoso vestido de organza branco, era muito


chamativo e parecia com o que estava em um de meus sonhos. Ele destacava
minhas pernas esbeltas e contornava perfeitamente minhas curvas.

“Que lindo papai...” Não soube mais o que dizer, tamanha maravilha que era.

“Você ainda não viu o outro...” Ele falou misterioso.

O outro não poderia ser muita coisa, pois o embrulho era muito menor, mas
pela maneira que ele falou, a curiosidade venceu-me. Peguei a caixinha tirei o
laço vermelho e abri-a lentamente.
Um cordão de ouro com um pingente divino gravado em letras curvilíneas
“Para a minha doce Rosalie Hale”. Sentia-me muito estranha, por mais que eu
tentasse não conseguia conter as lágrimas novamente.

“Abra o pingente” Papai anunciou.

Abri o fecho e de um lado havia uma foto minha recém tirada, não me
lembrava de ter feito essa pose, então papai certamente havia me flagrado em
um momento de brincadeiras com meus irmãos.
No outro lado estava a foto de toda a minha família, comigo no centro. Era o
melhor presente que já havia ganhado, não pelo ouro, isso pouco importava no
momento, mas sim pelo conteúdo.

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“Espero que tenha gostado, não sabia que presente uma filha-mulher gostaria
de ganhar” Ele desculpou-se.

“Você sabe que sempre me dá o melhor, e por incrível que pareça, desta vez
você se superou...” Abracei-o outra vez, e para minha surpresa o sono estava
me atacando novamente, soltei um longo bocejo e verifiquei que era de
madrugada.

“Vai dormir minha princesa, o dia apenas está começando, seu aniversário
ainda vai estar presente quando acordar” Ele riu e beijou minha testa.

“Boa-noite papai, eu o amo muito”.

“Também, para saber o quanto lhe amo, multiplique as estrelas do céu pelas
gotas do oceano”.

Fiquei numa alegria irremediável. Era o melhor presente, a melhor família, a


melhor vida que eu poderia querer. Sentia-me completamente satisfeita; o que
era muito estranho, pois sempre soube que quanto mais felicidade alguém
possuísse, mais brevemente ela se extinguiria.

O sol surgiu e lançou seus raios de luz ao meu redor, ao abrir os olhos deparei-
me com Richard e Philipe juntos quase em cima de mim.

“Feliz Aniversário Rose” Os dois disseram juntos.

“Obrigada meninos, mas podem pelo menos me deixar escovar os dentes e


pentear o cabelo?” Mostrei-lhes minha situação.

“Hã... Acho que tudo bem... Esperaremos lá fora” Philipe precipitou-se porta
afora com Richard ao lado.

Procurei no espelho algum indicio de minha nova idade, mas eu estava com o
mesmo rosto que tinha aos dezessete anos. A escova apenas acariciava meus
cachos levemente, e a pasta tinha gosto de hortelã. Por mais que eu procurasse
alguma diferença, a única coisa que encontrava era um sorriso diferente; mais
alegre; todo o resto permanecia igual.
Saí do banheiro e coloquei uma roupa leve, apenas para ficar em casa e fui ao
encontro de meus irmãos que já haviam esperado bastante tempo.

19
“Você não disse que iria demorar uma hora” Richard começou.

“Não reclame, fui o mais rápido que pude...” Contra-ataquei.


“Vamos parar de discutir e entregar logo os presentes” Philipe anunciou.

Presentes? Esses dois menininhos haviam gastado o dinheiro deles para


comprar-me presentes?

“Não precisavam gastar dinheiro comigo meninos...” Precisava avisá-los.

“Nós não gastamos nada, nós conseguimos os presentes!” Rich disse


orgulhoso “Aqui, veja” Ele estendeu-me o pequeno embrulho.

Abri com cautela para não quebrar nada que ele tenha feito, e vi um alabastro
em forma de coração, era uma pedra branca tão bonita.

“Como você conseguiu esta pedra?” Duvidei de que não gastaram dinheiro.

“Foi numa das brincadeiras de caça ao tesouro que achei essa pedrinha
enterrada...” Disse Rich num tom travesso.

“Há sim! Agora vejamos o de Philly...” Abri o presente de meu outro irmão,
era um cubo cristalino com uma rosa transparente dentro.

“É uma Rosa Cristalizada, aprendi a fazer com uns amigos do papai”.

“Meninos os presentes são muito lindos e perfeitos... Ninguém conseguiria


fazer melhor” Admiti.

Ambos sorriram largamente e me abraçaram, assim desceram correndo para


brincar de alguma coisa.

Um Pingente de Ouro, representando minha família, um coração de alabastro,


representando um coração puro, e uma Rosa Cristalizada, representando uma
beleza congelada. Será que era assim que cada um me via? Vera apareceu
para entregar-me um presente simples também, fiquei muito feliz ao vê-la, não
havia percebido o quanto havia engordado.

“Como estão as coisas com Tom?” Perguntei.

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“Excelentes, estou grávida...” Ela não conseguiu esperar para anunciar e
apontou para o volume alto em sua barriga, pela aparência parecia estar com
exatos nove meses de gravidez, nem acreditei, calculei o tempo e deduzi que
havia mesmo esse espaço de tempo que eu não a visitava... Seu bebê era
enorme, considerando o tamanho de sua barriga.

“Meus parabéns Vera, fico encantada com isso...”.

“Mas não vim falar de mim, vim desejar felicidades a minha melhor amiga”
Ela me entregou uma pulseira com dois pequenos detalhes desenhados: ‘Uma
Rosa e uma violeta’.

“Adorei...” Era perfeitamente a descrição de nós duas. Envolvi-lhe em um


abraço enorme.

“Desculpe a pressa Rosalie, mas tenho que ir; vim apenas desejar-lhe
felicidades nesta data tão importante pra você” Vera revelou.

“Tudo bem Vera, logo irei te visitar, obrigada pela pulseira é linda” Respondi.

Ela sorriu, assentiu e saiu, então finalmente minha mãe surgiu.

“Minha pequena Rosa, como fico feliz ao ver que se tornou uma bela mulher”
Minha mãe iniciou.

“Mãe não começa...” Tentei freá-la.

“Ah Rose, você é uma ótima filha...” Ela me abraçou novamente e me


entregou um colar de pérolas “Feliz Aniversário filhinha”.

Um colar de pérolas, muito bonito, mas nem de perto se comparava aos


presentes de papai e dos meus irmãos.

“Rose... Está ocupada?” Minha mãe me perguntou.

“Não, porquê? Quer alguma coisa?” O que ela poderia pedir?

“É que o seu pai esqueceu o almoço hoje, você pode levar pra ele?” Ela
mostrou a marmita em cima da mesa.

21
“Vou sim, mais alguma coisa?” Era algo muito simples.

“Sim... Você não vai querer aparecer assim no banco não é? Suba e coloque
uma bela roupa” Mamãe disse como se eu estivesse num estado deplorável.

“Mas mamãe o banco não é muito longe, e não estou mal vestida”.

“Não discuta com a sua mãe mocinha, você sabe que só quero o seu bem” Ela
anunciou a famosa frase materna “Ponha aquele vestido que seu pai lhe deu...”
Ela disse ansiosa.

“Mas eu só vou ao banco, porque usá-lo pra isso?” Ela já queria demais.

“Rosalie não discuta”.

Peguei o vestido novo de organza branco e coloquei-o, penteei novamente


meus cachos e prendi-os ao alto da cabeça, e pra agradar minha mãe, coloquei
o colar de pérolas. Dei uma ultima olhada no espelho e desci as escadas. A
satisfação da Senhora Vivian Hale foi imensa ao me ver.

“Rosalie você está encantadora, agora sim pode ir...” Ela disse alegre e
sonhadora.

Revirei os olhos ao caminhar, peguei a marmita e me direcionei ao banco. O


vento estava muito calmo, meus passos acompanhavam alguns cachos que
ficaram pra baixo, quase ao meu pescoço. Era uma sintonia perfeita: Para
cima, para baixo...
Não demorei muito pra chegar, encontrei meu pai logo.

“Papai, aqui está a marmita que você esqueceu” Entreguei-lhe o almoço.

“Obrigado minha princesa...” Ele agradeceu.

“Já vou indo então...” Abracei-lhe e me virei para a saída para não atrapalhá-lo
em seu trabalho.

Foi nesse momento que vi um sedutor rapaz de olhos azuis mais claros que os
meus - claros como um calmo oceano - e cabelos loiros mais claros que os
meus também e tão lisos que lhe escorriam pela face. Sem dúvida deveria ser

22
estupidamente rico, percebia-se pelas roupas que trajava. Seus olhos não
saiam de mim e ouvi meu pai dizer seu nome: “Royce King II”.

Capítulo 3 – Rosa Enamorada

Enquanto o rapaz encaminhava-se para sua própria mesa, seus olhos me


seguiam, do mesmo modo os meus faziam, outra vez acenei para o meu pai,
que por hora me encarava com um sorriso enorme e caminhei para o destino
seguinte...

Nem mesmo o vento do inverno me tirava a concentração, meu vestido


colava-se ao corpo, e nem por isso me importei, o que me interessava era o
elegante rapaz que a pouco estava diante de mim: ‘Royce King II’. Não
conseguia mais me orientar, parecia ter se passado segundos e já me
encontrava em casa. Mesmo estando neste transe não deixei de perceber a
estranha felicidade de minha mãe.

“E então filha? Como foi no banco?” Ela disse correndo ao meu encontro.

“Mamãe, eu apenas fui levar marmita para o papai, não fui para nenhuma festa
de gala!” Tentei cortá-la antes de qualquer coisa.

“Seu pai acabou de ligar sabe...” Ela tentava arrancar alguma coisa de mim
com certeza.

“E o que ele disse?” Melhor saber o motivo de tanta euforia.

“Que você saiu de lá meio estranha, e você continua assim, o que houve?” Ela
perguntou sem preocupação alguma.

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“Não foi nada, estou perfeitamente bem, será que posso ficar um pouco
sozinha agora? Ainda é meu aniversário não é?” Era o que eu mais queria
neste momento.

“Claro minha pequena Rosa, mas se precisar conversar sobre qualquer coisa,
qualquer coisa mesmo estarei aqui” Ela se candidatou para auxilio.

“Tudo bem mãe...” Sai rapidamente para evitar qualquer outra argumentação.

Já estava cansada de ir para meu quarto refletir, preferi ir à varanda mesmo...


Era apenas duas horas da tarde e o vento continuava ricocheteando em meu
rosto, era uma sensação maravilhosa de liberdade, o pequeno raio de sol tocou
minha pele como se fosse um anjo de calor. Lá embaixo algumas pessoas
corriam com seus afazeres; uma empregada fazendo compras, dois irmãos
brincando nas ruas, um vendedor de flores em seu comércio, e muitos outros
que permaneciam neste ciclo de vida.

O azul do céu era imensamente glorioso, assim como os olhos que há pouco
tempo eu havia penetrado, os olhos de Royce eram o azul que eu queria
mergulhar... Seu corpo era o que estava me envolvendo, até seu perfume
chamava por mim. Nunca havia sentido tal coisa por homem algum, eu
precisava dele, ou melhor, eu precisava ser dele.

Enquanto meus pensamentos permaneciam nesta louca sensação, a noite foi


lançando seu véu sobre o dia, escurecendo-o por cima e fazendo com que a
cidade se acendesse em baixo, com as lâmpadas dos postes e as luzes nos
interiores das casinhas.

“Rosalie?” Minha mãe apareceu na fresta da porta que dava acesso à varanda.

“Sim, mamãe?” Qual seria o motivo do importuno desta vez?

“Achei que gostaria de saber que chegou um presente para você agora
mesmo” Ela não se agüentava de ansiedade.

“Presente?” Achei que já tivesse recebido todos por hoje “De quem?”.

“Desça e veja!” Ao dizer isso ela virou-se e saiu dançando rumo a porta.

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Resolvi descer para ver qual o presente que ainda me aguardava no final do
meu aniversário. No caminho senti um forte cheiro de flores, mas não sabia
dizer quais; cheguei à porta e olhei para o mensageiro.

“Rosalie Lillian Hale?” Ele perguntou.

“Pois não? Sou eu mesma”.

“Entrega para você, pode assinar aqui?” Ele mostrou um pequeno papel.

“Prontinho”.

“Aqui está” O mensageiro entregou-me um buquê de Rosas violetas e saiu


para fazer outras entregas.

“Que lindas Rosalie, quem mandou?” A curiosidade mata, senti vontade de


dizer para minha mãe.

“Não sei, vou ver assim que entrar...”.

Entramos as duas, o cheiro era tão delicado, e o violeta das rosas me


envolviam, o buquê continha um cartão, peguei-o para saber quem seria o
remetente. Lia-se o seguinte:

“De todas as mulheres que encontrei,


De todas que beijei,
Nenhuma foi capaz de deixar-me tão fascinado,
Diria que até inebriado...
Assim como as Rosas são as mais belas flores,
Você é a mais bela dama que vi,
E espero que possa fazer parte
Deste seu lindo jardim...”.

Ps: Rosas violetas porque seus olhos calorosos


transbordam esta mesma cor.
De: Royce King II.

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Nunca havia visto algo tão lindo, tão espetacular, tão maravilhoso... Se antes
eu só pensava nele, agora seria difícil esquecê-lo. Um homem elegante,
charmoso e ainda por cima, sedutor.

Não sabia dizer quem estava mais admirada, se era eu ou minha mãe.

“Que lindo Rosalie, este rapaz está mesmo apaixonado por você...”.

“Mamãe, acabei de conhecê-lo, isso não é verdade...” Tentei ser racional, mas
tudo indicava que o que ela dizia era verdade, porém, não queria me iludir.

Um novo nome me veio à mente: ‘Rosalie Lillian King II’.

Antes de dormir, tive de ler o bilhete pelo menos quinze vezes, já sabia cada
palavra contida nele e mesmo assim me questionava se Royce realmente me
amava. Isso era improvável, pois ele só havia me visto uma única vez. Royce
realmente achava que meus olhos transbordavam calor?
Como um único dia podia mudar tanto uma vida? Meu aniversário trouxe
inúmeras mudanças: meu vínculo familiar, o bebê de Vera... Meu primeiro
amor...
Existirá algum conto de fadas melhor do que a minha história real?
O que eu mais desejava era entrar no mundo dos sonhos, então fechei meus
olhos para não abri-los tão cedo. Neste sonho, eu era uma linda princesa de
vestido violeta e Royce, meu príncipe encantado montado em seu alazão, era
perceptível seu enorme amor por mim. Permaneci durante horas neste
pensamento encantador, até que a claridade me puxou para a realidade.
Abri vagarosamente os olhos e não consegui distinguir nada em meu quarto,
pisquei algumas vezes e notei uma silhueta próxima a cama. Subitamente me
recolhi, mas relaxei ao ver quem era, típico de Dona Vivian vigiar-me durante
minha sonolência.

“Bom dia Dona Vivian, a que devo a honra?” Ironizei.

“Uma mãe não pode verificar se a filha está dormindo bem?” Ela fingiu-se de
inocente.

“Pode ver que estou em perfeitas condições, então...” Tentei fazê-la sair.

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“Rosalie, acredito que esteja na hora de falarmos sobre relacionamentos” Ela
iniciou seu discurso.

“Mamãe, por favor, não é necessário” Foi o que disse, quando na verdade
queria gritar ‘NÃO QUERO FALAR DE SEXO COM VOCÊ’.

“Mas Rosalie, uma mulher deve saber que...”.

“Mamãe, acabei de acordar... Pode pelo menos esperar eu me trocar?”


Inventaria qualquer motivo para adiar este assunto.

“Tudo bem, estarei aguardando lá embaixo” Ela rendeu-se.

Assim que minha mãe saiu do quarto, tranquei a porta rapidamente e me


dediquei a seguinte questão: ‘Como fugir de um assunto assim?’ A resposta
era fácil, a única coisa capaz de desviar a atenção da minha mãe era colocá-la
no foco de outro assunto.
Mesmo tendo a resolução, arrumei-me lentamente, levando cerca de cinco
minutos para pentear cada cacho de cabelo, além de demorar-me na escolha da
roupa.
O tempo nem se deu ao trabalho de passar, abri a porta cautelosamente e
direcionei-me aos vinte degraus, percebi uma movimentação no andar abaixo
enquanto descia a escada.
Não poderia ser coisa melhor, papai havia sido promovido no banco e
ganhara o resto do dia livre. O prazer de minha mãe era tão grande que até
mesmo nossa ‘conversinha’ havia sido esquecida. Esse fato resultou num
longo dia festivo, há tempos não via meu pai brincando com meus
irmãozinhos, a felicidade dominava o ambiente de forma tão agradável que o
dia brincou de ser tarde e enfim tornou-se noite.
Lembrei-me de Vera, sentia muita falta dela, precisava ver como estava seu
bebê, que a esta altura já devia ter nascido e contar-lhe sobre Royce, porém,
hoje não era um bom dia para isso, papai merecia atenção total. A campainha
soou e tirou-me de meus devaneios, quem seria a esta altura da noite?
Eu estava longe, mas pude ouvir o mensageiro perguntar por mim, será que
era outro buquê de rosas violetas? Não... Na certa Royce já havia me
esquecido, deveria ser um recado qualquer.
Obtive a resposta antes de chegar a porta, isto porque, o cheiro de rosas
dominou a atmosfera, o rosto de minha mãe transmitia satisfação ao ver meu
prazer.

27
Levei um susto ao deparar-me com as rosas, estas não eram o que eu
imaginava, não existia violeta ali, apenas o vermelho. Rapidamente me
recompus e minha mente captou a informação: Vermelho – cor da paixão.

Agradeci ao mensageiro e não demorei ao subir as escadas para ver o


conteúdo do bilhete, que assim como as rosas, também era vermelho, a
caligrafia estava perfeita, o bilhete dizia:

“Rosas vermelhas de um homem apaixonado,


Para a garota que quero ter sempre ao meu lado,
Quero contigo viver momentos maravilhosos,
E saborear cada instante,
Seu coração é puro,
É ouro, é diamante...
Para a mais bela flor do jardim,
Rosalie, espero ter você para mim”.

Ps: De seu apaixonado Royce King II.

Essas palavras me levaram ao delírio, diziam coisas tão doces e fascinantes


que tive medo de tudo ser ilusório e me arrepiei com este pensamento.
Minha mente agora via com clareza que havia mais coisas além de flores e
cartas, pude perceber o verdadeiro motivo da promoção de meu pai.
Queria imensamente que tudo fosse real, mas a razão estava em primeiro
lugar, não existia um motivo lógico para Royce querer a mim, isso porque,
sendo dono de todos os comércios em Rochester, ele poderia ter qualquer
garota.
Contudo, quanto mais eu pensava que ele não me queria, mais eu o queria, e
tendo um quarto inundado de rosas vermelhas e bilhetes apaixonados durante
semanas, era algo tão fabuloso que esses pensamentos ficavam confusos.
Já sabia o horário exato em que as flores chegavam, meu perfume já não
podia comparar-se ao cheiro de rosas que exalava de mim, eu me sentia uma
rosa, uma rosa apaixonada, ou melhor, uma rosa enamorada.
Hoje minha mãe preparava um jantar especial, com direito a vinho branco e
pratos estrangeiros, ela dissera que era apenas para agradar ao papai, mas eu
duvidava, sendo assim, coloquei uma roupa sensual, uma que me deixava mais
mulher, e fui ajudá-la com os preparativos do banquete. Algum tempo depois
minha mãe resgatou a antiga ‘conversinha’.

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“Então Rosalie, o que eu queria dizer aquele dia era que...”.

“Mamãe, acredito que essa não seja uma boa hora para o que tem a me dizer”
Indiquei Philly e Rich com a cabeça, para mostrar-lhe que eles estavam
atentos.

“Meninos, porque não vão brincar?” Ela os incentivou.

“Estamos com fome mamãe, o jantar está demorando muito” Philly fez uma
cara de dor tão exagerada que meu riso foi automático.

“Já está quase pronto” Mamãe informou.

“Podemos comer o bolo então?” Rich entregou a razão real para eles estarem
ali.

“Não mesmo, é sobremesa” Mamãe chegou a mesma conclusão que eu.

“Não disse pra você...” Philly saiu resmungando atrás de Rich por ele ter
estragado seu ‘maravilhoso’ plano.

“Pronto, estamos livres para conversar agora” Ela disse com um sorriso
malvado.

“Eu não diria isso...” Disse pegando distraidamente uma maçã e apontando
para o papai.

“Garotas como estou?” Papai perguntou exibindo seu terno novo.

“Está deslumbrante papai, vai sair?” Perguntei brincando com a maçã e


verificando se ela estava boa.

“Não... Só estou experimentando” Ele disse nervoso, mas fingi acreditar.

“Rosalie, esta maçã é para a torta” Minha mãe percebeu que eu ia mordê-la.

“Mas mamãe têm muitas na mesa e você sabe como gosto de...”

“Não importa, é para a torta, já disse” Ela usou o tom autoritário.

29
Devolvi a fruta, fiz um beicinho e cruzei os braços. Não tinha percebido que a
massa da torta já estava pronta, só faltavam os pedaços de maçã.
“Deixe que eu te ajudo a cortá-las” Ofereci-me.

“Sendo assim, tudo bem...” Ela entregou-me a faca.

Cortei todas rapidamente e num momento de distração, peguei um pedaço e


levei aos lábios.
Meu prazer foi completo ao sentir o gosto cítrico em minha boca, o sabor era
indescritível, não sei se era por ser minha fruta favorita, ou se era porque eu
estava fazendo algo proibido, mas o gosto era divino, mastiguei rapidamente e
a campainha tocou.
Eu já sabia que eram as minhas rosas, então não me preocupei tanto, Rich
começou a correr para a porta e resolvi apostar corrida com ele.
Ele tropeçou em um brinquedo e mostrou a língua ao ver meu sorriso de
vitória, tal sorriso que se transformou em espanto ao ver o rapaz que entregava
as rosas vermelhas esta noite.
Esperei um pouco para ver se minha mente estava me pregando peças, mas
não, era realmente meu príncipe encantado na minha frente, o meu Royce com
seu sorriso inebriante.

“Boa noite Rosalie” Ele cantou aos meus ouvidos.

Ele estava ainda mais belo do que da última vez em que o havia visto. Estava
com um terno preto e os cabelos loiros penteados de forma elegante, seus
olhos mostravam simpatia, assim como o seu sorriso. Poderia ficar horas
olhando para Royce, mas me lembrei que deveria respondê-lo antes que ele
achasse que eu tinha algum problema mental.

“Boa noite... Royce...” Foi tudo o que consegui dizer.

“Bem, seus pais me convidaram para jantar, será que posso entrar?” Ele
perguntou olhando pelo espaço da porta para verificar se havia mais alguém.

“C-Claro que pode... Er...” Gaguejei as palavras, tremendo de nervosa pela


traição de meus pais.

Sendo assim, Royce entrou e caminhou até a cozinha atrás de mim. Fuzilei
meus pais com os olhos assim que eles entraram em meu campo de visão.

30
Meu pai deu um sorrisinho de desculpas – o que minha mãe nem se deu ao
trabalho de fazer.

“Boa noite Senhor e Senhora Hale” Royce disse educadamente e me derreti


com o som de sua voz.

“Boa noite Royce” Os dois responderam. “Que bom que você veio” Mamãe
acrescentou.

“Não perderia esse jantar por nada” Ele respondeu olhando para mim.

Rich e Philly sentaram-se à mesa, mamãe ficou do meu lado esquerdo, Royce
do lado direito e o papai do outro lado. O braço de Royce sempre tocava no
meu quando ele queria pegar algo na mesa, e isso me arrepiava inteira, ele
sorria como resposta.
O jantar estava fabuloso, o vinho esquentava minha garganta, a torta de maçã
me deixou entorpecida. Era o melhor sabor do mundo. E todo o tempo Royce
me olhava.
Passaram-se algumas horas e enfim Royce teve de sair, levei-o até a porta.

“Obrigado Rosalie, sua família é maravilhosa e o jantar estava muito bom...”


Ele começou a despedida.

“Não foi nada...” Nem fui eu que fiz – mas ele não precisava saber disso.

“Rosalie... O que acha de me acompanhar numa festa neste fim de semana?”


Seus olhos brilhavam com o pedido, ou talvez era apenas o luar refletido em
seu rosto. Tentei me lembrar em que dia da semana estávamos... Quinta-
feira... Ok, só faltavam dois dias.

“Adoraria... Mas... Se eu for não terá problema?” Perguntei, para saber o


motivo disso.

“Problema nenhum, quero que todos conheçam a garota mais bonita do


mundo” Royce disse de uma maneira estranha, como se houvesse decorado de
um livro.

“Tudo bem então” Rendi-me a ele.

“Ok, já vou indo...” Ele me encarou esperando algo.

31
“Até logo Senhor King” Respondi para liberá-lo.

“Apenas Royce...” Ele disse tranqüilo e se aproximou de meu rosto,


sussurrando ao meu ouvido “Apenas seu Royce” E sua mão alisou meu rosto
parando em me queixo.

“Ok... Royce” Tentei impedir o nervosismo que vinha. Sua mão contornou
meus traços e ele se aproximou um pouco mais.

“Tenha bons sonhos minha Rose” Não pude deixar de perceber o ‘minha’ na
frase, e em questão de segundos seus lábios aproximaram-se mais, apenas
centímetros nos separavam, e cansada de esperar, acabei com o espaço.

Seus lábios eram macios e quentes, enquanto os meus estavam frios, o choque
apoderou-se de todo meu corpo, mas não era ruim, ao contrário, era o melhor
sentimento da minha vida, o gosto dele era doce e marcante, e sua língua
brincava com a minha gentilmente, por mim esse beijo duraria horas, porém,
não queria que ele pensasse mal de mim, então afastei delicadamente os meus
lábios para não magoá-lo e admirei sua expressão de desejo.

“Tenha bons sonhos também” Sorri para ele, e fechei a porta enquanto Royce
se afastava.

Foi ali, atrás da porta, encarando sua silhueta no escuro que me senti inteira,
uma mulher amada, enfim dei meu primeiro beijo no meu príncipe e era algo
tão glorioso que passei os dedos na boca para sentir a maciez e percebi que
seu gosto ainda estava em mim.
Nesta noite, meu sono foi leve, calmo e alegre, não tive sonhos como pensei
que teria, mas já estava extremamente feliz.

Sexta-feira, a véspera de meu encontro, com certeza era hora de ver Vera.
Arrumei-me rapidamente, coloquei as primeiras jóias que encontrei e corri
escada abaixo. Minha mãe se assustou com a correria. Expliquei que iria ver
minha amiga, comi algumas frutas, dei-lhe um beijo e corri novamente para
fora de casa.
Ainda era inverno, faltavam alguns dias para o seu término, então voltei para
pegar um casaco mais quente e encarei o frio congelante.

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A casa de Vera não era muito longe da minha, apenas algumas ruas, segui-as
ligeiramente – devido à ansiedade – e enfim cheguei na modesta casa de
minha melhor amiga.

Capítulo 4 – Rosa Congelada

Encarei a casinha azul por alguns minutos e bati à porta.


Vera apareceu com um bebê lindo no colo – seu filho – Ela estava surpresa em
me ver, contudo, seu rosto transmitia alegria.

“Oi Vera... Que saudades” Não contive minha emoção e lancei-me a um


abraço.

“Rosalie, minha amiga, estou tão feliz em vê-la, entre... Esse é meu filhinho
Henry...” Ela disse o nome com muito amor apontando para o lindo bebê em
seu colo e me puxando pelo braço para entrar com ela.

“Precisava ver como estava minha melhor amiga e o filhinho dela” Falei com
uma voz meiga gesticulando de forma infantil para o bebê.

“Estamos todos bem e você? Alguma novidade?” Vera perguntou ao ver meu
sorriso.

“Na verdade sim...” Empolguei-me e logo lhe contei cada detalhe sobre
Royce, desde as primeiras rosas até o último beijo, ela sorria nos momentos
certos e juntas suspirávamos para o amor – porque ela entendia
completamente sobre ele.

Nossa conversa durou horas, falamos sobre seu marido Thomas, seu filho,
minha família, nossas antigas amigas, não havia mais o que dizer, assim,
resolvi ir embora e prometi voltar o mais breve possível, ela me levou até a
porta com Henry no colo, analisei mais uma vez o lindo bebê e senti algo

33
estranho dentro do meu peito. Resolvi sair antes de ter alguma vertigem, ou
coisa do gênero.
Esse aperto em meu peito foi crescendo enquanto pensava em Henry, e foi
quando notei que estava com inveja. Eu queria ser mãe também, queria ter um
filhinho lindo, ou melhor, filhos lindos e louros assim como eu e Royce, estas
seriam as crianças mais belas do mundo. Com esse pensamento o aperto foi se
afrouxando.
Olhei ao redor e verifiquei que já estava em casa, decidi arrumar a roupa que
iria à festa com Royce.
Abri meu guarda-roupa e fiz uma pequena seleção, tirei apenas algumas.
Escolher foi um trabalho doloroso, fiquei em duvida entre um vestido carmim
com babados e fitas – nada infantil, um vermelho aberto nas costas e um preto
que valorizava meu quadril.
Após inúmeros minutos, decidi que usaria o vermelho, porque ele tinha
alguma coisa que me deixava sexy.

Depois de muita espera, o sábado chegou, em seguida o dia voou e Royce


apareceu para me buscar. Na festa só estavam as pessoas mais elegantes, os
nomes mais falados na cidade, Royce me apresentava a todos como um troféu,
e gostei disso, encontrei um rapaz bonito, de cabelos lisos caindo sobre os
olhos verdes acompanhado de uma mulher de lábios desenhados e olhos
verde-esmeralda, com cabelos castanho-claro – Fabrício e Sophie, era óbvio
que eles estariam aqui.

Não deixei que nada me abalasse nesta festa, todos me notaram, sem dúvida
Royce ficou orgulhoso. E esta foi a primeira festa de inúmeras que fomos
durante o mês de março. No final de uma delas Royce chamou-me num canto
para revelar algo.

“Rosalie, você sabe o quanto gosto de você e de sua família e gostaria de


pedir-lhe algo...” Ele não conseguia falar.

“Pode pedir Royce, estou ouvindo” Minha curiosidade deixava-me louca.

“Você gostaria de...” Ele pausou, pegou uma caixinha de veludo preta, sorriu,
abriu-a e continuou: “... Casar-se comigo?” Finalizou, mostrando o enorme
diamante que brilhava sobre o anel de ouro.

Obviamente aceitei, meu conto de fadas finalmente teria o seu ‘Felizes Para
Sempre’, agora podia sonhar com meus filhos loiros e lindos num imenso

34
gramado verde, com uma enorme casa branca, a casa dos King, porque em
breve eu seria uma King.
Mamãe e Papai adoraram a noticia e aprovaram na mesma hora, assim, todos
nos empenhamos para organizar o casamento mais pródigo de todos os
tempos. Seria em menos de um mês. Vera seria minha madrinha, assim como
fui a dela.
Procuramos em toda a cidade pelo melhor vestido de noiva, haviam vestidos
de todos os tamanhos, formatos, cores, enfim, era um verdadeiro festival de
tecidos aos meus olhos, contudo, nenhum deles conseguiu ser tão chamativo
quanto eu queria, então desisti de procurá-lo.

Em um dos passeios que fazia ao banco, numa vitrine simples, vi o mais belo
e formoso vestido, era branco-pérola, com rendas, leve, muitos e tinha
algumas ondas embaixo da cintura. Conseguia me ver dentro dele, porém
estava sem dinheiro naquele momento, decidi buscá-lo o mais breve possível
com medo de perdê-lo. Fui para casa com o passo acelerado, todos tinham
saído exceto Philly.

“Philipe, quer ir comigo comprar meu vestido do casamento?” Perguntei de


forma amável, fazia muito tempo que não dava atenção para o meu ex-
irmãozinho, agora com quase 16 anos.

“Claro, vamos... Mas... Está chovendo Rose...” Ele apontou para a janela,
para mostrar as gotas que escorriam no vidro.

“Você está com medo de derreter?” Desafiei, enfrentaria qualquer coisa para
comprar meu vestido.

“Não mesmo... Vamos então” Ele saiu correndo abrindo seu guarda-chuva
preto.

As gotas quase congelavam minha pele, mas por hoje eu não me importaria.
Philly andava rápido demais, tentei acompanhá-lo, e lembrei da maneira de
fazê-lo parar.

“Philly... Você não sabe onde é, esqueceu que eu não lhe disse?”.

“Ops... É mesmo...” Ele começou a caminhar no meu ritmo.

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A chuva ficou mais forte e revirou seu guarda-chuva, molhando-o todo,
ficamos ambos rindo até que houve o mesmo comigo, sendo assim, largamos
os objetos inválidos e corremos pela tempestade. Meu cabelo voava e pesava
com a água que continha e minha roupa parecia ter quilos a mais.
Conseguimos chegar à loja e comprei finalmente o pedaço de pano que me
fez enfrentar uma tremenda aventura. Certifiquei-me de que era do meu
tamanho e também se estava bem embrulhado para não molhar. E outra vez
enfrentei a chuvarada com meu irmão.
Foi um momento sublime, Philly parecia-se comigo em muitos aspectos e
levamos menos tempo para chegar em casa.

“Há não!” Philipe falou quando entramos em casa.

“O que houve?” Olhei para os lados procurando por algo.

“Agora que chegamos parou de chover!” Ele disse com uma careta, torcendo
as roupas e correndo pra janela.

Ficamos olhando o crepúsculo surgir e mudar a cor do céu, acompanhado de


um recém arco-íris que maravilhava tudo depois da tempestade. Philly
encarou minhas roupas pingando e juntos rimos novamente.

Mais alguns dias se passaram e tudo estava sendo organizado da maneira


mais rápida possível. Royce estava sem tempo para ficar comigo, ele apenas
dizia que tinha muitas responsabilidades no trabalho e com o casamento
estava meio deslocado, não me importei porque em breve ele seria somente
meu e passaríamos a lua de mel em algum país tropical.
Tentei ficar calma pensando assim, mas Royce ficou ainda mais estranho com
a chegada de um amigo de Atlanta “John Flotnary”, um homem alto, rico,
bronzeado, de olhos e cabelos negros e muito, muito arrogante.
Royce começou a sair mais com esse amigo e me deixou de lado por algum
tempo, porém, era comigo que ele se casaria, não com John, por esse motivo
não deixei a raiva vencer.
Resolvi ir visitar Vera outra vez, para ver se ela precisava de ajuda com
alguma coisa, pois sendo minha madrinha, ela precisava de alguns cuidados a
mais.

Vasculhei minhas coisas em busca de alguma lembrancinha para Vera, algo


simples para que ela se lembrasse de mim. Encontrei o pingente de Ouro
‘Para minha doce Rosalie Hale’. A foto de um lado era meu luminoso sorriso,

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do outro era as pessoas que habitavam meu coração. Continuei examinado
meus pertences, dessa vez uma pequena pedra no formato de coração atraiu
minha atenção... Minha família, como eu amo cada pessoa desta família...
Minha atenção se desviou para a Rosa Cristalizada, o pedaço de cristal que
continha minha representação.
Depois de alguns minutos encontrei o presentinho ideal, nada mais justo do
que dar a minha madrinha um anel que ela gostava, um que ela sempre
admirava quando éramos crianças, ele era pequeno e continha uma pequena
pedra ametista. A cor favorita de Vera.

O clima primaveril do final de abril não foi o suficiente para acabar com o
frio, coloquei um casaco branco que Royce me dera de presente, com muitos
botões de metal cor de bronze, um chapéu que era da mesma cor do casaco,
um vestido longo e preto, prendi a pulseira que ganhei de Vera contendo uma
rosa e uma violeta que gostava de usar e desci pra sair logo.
Papai ainda estava trabalhando, mamãe arrumava a casa e meus irmãos
estavam jogando algum novo jogo.

“Mamãe vou à casa de Vera, como disse antes, e assim que voltar te ajudo a
fazer o jantar” Não podia esquecer minhas obrigações.

“Tudo bem minha Rosa, só não demore muito, seu pai chegará logo” Ela
alertou.

“Está bem... Não irei demorar, em algumas horas estarei de volta” Dei-lhe um
abraço e fui passar pela sala para ter acesso à saída.

“Aonde você vai Rose?” Rich perguntou.

“Na casa de Vera” Informei-lhe.

“Podemos ir com você?” Philly se manifestou.

“Estou com pressa, outro dia levo vocês...” Realmente, eles nunca saiam de
casa.

“Ta bom...” Rich fez o beicinho que aprendeu comigo.

Dei-lhe um abraço para mostrar que eu não estava nervosa com ele e envolvi
Philly no abraço também, encarei seus rostinhos de anjo e sorri largamente.

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“Amo vocês irmãozinhos mais loucos” Revelei.

“Também te amamos chata” Os dois responderam ao mesmo tempo e nós três


rimos por isso.

“Rose... Não vai... Fica com a gente só hoje, você nunca mais brincou com a
gente...” Rich pedia enquanto meu coração se apertava.

“Desculpe meninos, sinto muito mesmo, mas... vocês vão ver só, aguardem...
Assim que eu voltar vou detonar vocês nesse joguinho, sempre ganhei não
foi?” Tentei recuperar a compaixão de meus irmãos.

“É verdade... Você sempre ganha em todos... Pensando bem, acho melhor não
deixarmos ela jogar...” Philly dizia fingindo pensar com a mão no queixo.

“Ei... Eu vou jogar sim!” Sorri pra eles e me levantei “Não demoro... Vou
correndo...” Tentei animá-los.

“Ok. Já vou preparar suas peças, então volta logo! Corre!” Rich incentivou.

“E fecha a porta porque ta muito frio...” Philly informou.

Fiz uma careta para eles, amos mostraram o sorriso que eu amava, brilhante,
presunçoso e amável, virei-me para a porta e saí para ver minha amiga.

Não demorei muito para chegar na casa de Vera, ela já me esperava com o
lindo Henry no colo, ele sorria e exibia as lindas covinhas que me deixaram
apaixonada. Seu cabelo já havia crescido e era todo cacheado. Fiquei olhando
o bebê durante toda a conversa, ele se sentava sozinho, o que me deixou com a
antiga inveja, ficamos horas falando sobre o que deveria ter na cerimônia.
Thomas chegou e decidi partir, não havia notado que já estava tarde. Porém,
recordei-me do presentinho de Vera.

“Vera... Queria dar-lhe uma lembrancinha, você como minha madrinha


merece...” Tirei a caixinha do bolso do casaco e entreguei-lhe.

“Rosalie... Não precisava se incomodar...” Ela abriu a caixinha e vi seu


sorriso enorme ao ver o conteúdo “Ah... Nem sei o que dizer... Eu adorei, é
lindo, lembra que nós...” Ela começou a dizer cheia de alegria.

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“Sim... Sim... Lembro, por isso decidi dá-lo para você!” Ajudei-a a colocar no
dedo, a pedra se destacou na sua pele bronzeada.

“Bom... é melhor eu ir, meus irmãos estão me esperando pra jogar algum
joguinho e tenho que ajudar minha mãe... Te vejo amanhã...” Isso porque,
como madrinha ela tinha que participar de todos os preparativos.

“Deixe que nós lhe acompanhamos até a porta, Rosalie” Vera disse, pegando
Henry no colo e com Thomas ao lado, com a mãe em sua cintura.

Fomos até a saída e verifiquei se estava chovendo, percebi que durante esse
momento de distração, Thomas deu-lhe um beijo na testa. Isso me incomodou
demais, esse beijo tinha tanto amor, era tão doce, Royce não era assim. Não,
não, meus pensamentos outra vez me confundiam, Royce era meu príncipe e
isso bastava, pois, brevemente eu seria princesa, e depois rainha!
Passando pela saída acariciei uma rosa no pequeno jardim de Vera, isso não
foi uma idéia muito boa, o espinho foi cruel com o meu dedo sensível, puxei
para ver o estrago e uma gota de sangue manchou a perfeição do branco
casaco que Royce me deu.

“Ai...” Fiquei nervosa por ter sido tão tola a ponto de manchar o casaco.

“Calma Rosalie, espere um pouco...” Vera correu para dentro e voltou em


segundos “Aqui, pegue esse lenço...” Ela me entregou um lenço branco e
começou a limpar meu casaco com um outro pano.

“Obrigada” Agradeci pressionando o tecido no meu corte.

Despedi-me de Vera, Thomas e Henry e caminhei velozmente pelo frio,


cruzei os braços para tentar manter o calor em minha pele, mas não adiantou.
O frio gelava tudo... O frio... Era a única coisa capaz de destruir meu
casamento que iria acontecer em uma semana, não queria que o casamento
fosse dentro da casa dos King. Teria de conversar com Royce sobre isso.
Resolvido esse problema olhei para a rua, estava muito escura, as luzes dos
postes todas acesas, tentei lembrar de quanto tempo fiquei na casa de Vera,
mais o gelo do ar não me deixava raciocinar muito bem.
Só faltavam algumas ruas para chegar em casa... Para chegar no conforto...
Para chegar num ambiente quente!

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Uma gritaria perturbou meu silêncio, automaticamente desviei minha atenção
para o local de onde os sons vinham. Era um grupo de bêbados rindo alto em
cima de um poste quebrado. O medo tomou conta de mim, havia um telefone
público próximo, mais eram apenas três ruas que me afastavam de meu lar,
não queria preocupar meu pai, até porque de qualquer forma, se ele viesse eu
teria de esperar, então decidi seguir o caminho. Meu passo era um pouco mais
acelerado por causa do pânico. Um único som me fez parar, o som do meu
nome.

“ROSE!” Gritou um dos bêbados e os outros riram como idiotas da minha


expressão.

Observei melhor os bêbados e percebi que estavam muito bem vestidos, eram
uns homens de linhagem real e o meu próprio Royce. Pavor tomou meu rosto
ao ver meu príncipe neste estado.

“Esta é a minha Rose!” Ele gritou rindo de forma idiota, e continuou: “Está
atrasada. Estamos com frio, você nos deixou esperando tempo demais”.

Fiquei abismada, Royce nunca bebia, nas festas ele apenas dançava comigo.
Notei que ele estava com um homem vindo de Atlanta, um sujeito suspeito
que me encarava de forma maliciosa, tinha cabelos escuros, era bronzeado e
muito arrogante.

“O que foi que lhe disse, John?” Royce gritou se aproximando de mim e
agarrando meu braço com muita força “Não é a coisa mais adorável de todas
as belezinhas da Geórgia?” Ele me virava de um lado para o outro, para me
exibir como um troféu.

O sujeito chamado ‘John’ me avaliou da cabeça aos pés, se aproximando


enquanto me examinava. Ele sorriu ao ver meu medo eminente.

“É difícil dizer...” Ele disse lentamente, olhando meu vestido “... Ela ainda
está completamente vestida”.

Todos os homens riram durante algum tempo, comecei a tremer, mas desta
vez não era de frio. John sorria para mim com um olhar negro, Royce seguia
seus passos, e os outros observavam esperando o espetáculo.
Royce me apertou um pouco mais forte, pressionou meu corpo para trás e
rasgou brutamente meu casaco, fazendo todos os botões voarem pela rua e

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meu frágil vestido não agüentou a crueldade e deslizou até meus pés, eu estava
quase nua, e para piorar as coisas, os flocos de neve começaram a preencher a
rua.

“Mostre-lhe como você é, Rose!” Royce disse rasgando o resto de roupa que
me protegia da neve e tirando meu chapéu. Os grampos que o prendia
arrancavam ferozmente meus cabelos pela raiz.

Dor... Essa era a palavra exata para o que meu corpo sentia, isso foi
facilmente demonstrado pelo grito que eu dei. Todos riram da minha dor, cai
no chão sem forças, enquanto o branco da neve manchava-se de vermelho-
sangue. Pensei que eles me deixariam morre, mas Royce e John se
aproximaram mais e desenharam meu corpo com suas mãos, os outros vieram
desfrutar do momento... Todos se divertiam usando meu corpo, riam alto
enquanto eu gritava, estava sentindo nojo de mim mesma e não tinha força
nem mesmo para enfrentá-los, perdia muito sangue...
Suas mãos ficavam cada vez mais agressivas e meu corpo é que recebia essa
outra dor, lágrimas deslizavam pelo meu rosto de marfim e transbordavam
também em meu interior ferido... Ferido pela mágoa.
O peso do corpo dos cinco homens me deixava mais dolorida e eles me
machucavam mais ao tentar receber prazer.
Finalmente todos ficaram satisfeitos e começaram a se afastar, trôpegos, eu
suspeitei de que eles pararam ao pensar que eu estava morta quando parei de
reagir.

“Terá de encontrar outra noivinha hein King” John falava e todos riam de
Royce...

“... Depois de aprender a ter paciência...” Outro homem incrementou.

Não consegui mais vê-los nem ouvi-los, sabia que agora só me restava
esperar pela morte... Morte! Como ela seria bem-vinda...
Meu sangue escorria quente na minha pele petrificada. Gelo sangrento... Meu
corpo doía inteiro, minha decepção era tudo o que dominava na questão
sentimental.
Nunca mais veria minha família... Minha mãe, meu pai, Philly, Rich, Vera...
Pessoas amadas que já não faziam parte da minha vida, ou melhor, que
deixariam de fazer em questão de minutos... Apenas minutos me separavam de
morrer. Minha respiração dizia isso enquanto ficava cada vez mais difícil.

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Meu conto de fadas nunca fora uma historia feliz, foi apenas mais um fio
ilusório num mundo de máscaras.
Todos os sonhos no final se tornaram o mesmo pesadelo horripilante, Royce
era o único homem que eu pensei que fosse diferente, mas era igual a todos os
homens inescrupulosos e sem limites, se por algum milagre eu continuasse
viva, jamais algum homem me tocaria.
Dois pecados andavam de mãos dadas no meu caminho pela morte: A
vaidade de uma mulher e a Luxúria de um homem.
Eu era simplesmente algo que ele queria mais não precisava; apenas alguma
coisa para expor à todos, como uma pintura, para ele eu era uma tela rara, um
mero capricho.

Já estava extasiada, e cansada, a morte estava demorando demais, porque ela


não vinha logo ao meu encontro? Será que eu não era digna de morrer? Meu
destino era mesmo apodrecer nesta rua, congelada, desalmada e sem sentido
algum?
Utilizei o que restava da minha energia para abrir os olhos. A rua estava
vazia, próximo a minha mão estava um simples botão bronze, com muito
esforço consegui pegá-lo e apertei-o como se minha vida dependesse daquele
objeto inútil. Minha pele fraca clamava por piedade quando minhas unhas
cravavam-se ao redor do botão.
As palavras de Royce foram apenas mentira, As rosas... Os beijos... As
caricias... As promessas... Tudo era falso.
Promessas... Lembrei-me da minha própria promessa aos meus irmãos... Não
me contentava em não vê-los mais sorrir. Meu corpo chorou com a lembrança
e minha alma se despedaçou.
Comecei a ficar amiga da dor, ela já estava há tanto tempo no meu sistema
que já não incomodava mais.
Outro amigo meu era o gelo, ele me congelava de tal forma que se fundia a
mim, apenas o meu coração mantinha-se quente, meu sangue já não fluía tão
vigoroso.
A exaustão chegou e cansada de esperar para morrer, decidi fechar os olhos,
para entrar num sonho, ao qual eu sabia que jamais acordaria. Meu cansaço
não era o bastante para me fazer dormir, então fantasiei o inicio de um sonho,
para que ele fosse capaz de atrair o sono.
Este sonho era bem simples, havia uma rosa congelada que queria apenas
voltar ao seu jardim, pois havia sido negada como uma flor. Ela chorava
vendo suas pétalas se deteriorarem, e enfim, transformou-se em nada... Nada...
Isso era o que eu seria em breves segundos.

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Sorri ao saber que pelo menos sabia meu destino... Sorri, e meu sorriso
permaneceu congelado em minha face.

Capítulo 5 – Rosa Flamejante

Meu corpo continuava imóvel, mas pude perceber que a neve já tinha
cessado, percebi também que alguém se aproximava, entrei em choque, não
queria que ninguém me visse assim, queria morrer em paz.
Eu fui capaz de distinguir quem era, o que me deixou com raiva, era o
maravilhoso Dr. Cullen, mas ele era um médico, talvez eu tivesse esperanças
ao final de tudo.
Ele começou a analisar meu estado e depois de segundos pensando, levantou-
me sem problema algum e começou a correr comigo nos braços. Correr não
era a palavra apropriada, parecia que ele voava... Voava tão rápido, o vento no
meu rosto fez a dor ficar maior, e soltei alguns gemidos inconscientemente.
Talvez ele estivesse me levando para minha casa, ou um hospital...
Em questão de minutos eu estava em um ambiente aconchegante e acolhedor,
era uma casa iluminada e quente, enfim, a dor começou a amenizar
novamente.
Deduzi que felicidade não dura muito, a dor voltou como uma navalha, algo
me cortava, penetrava minha garganta, meus pulsos, meus tornozelos.
Um grito saiu de minha garganta, quando eu não sabia ser capaz de fazê-lo.
Não conseguia acreditar que esse homem me levara para sua casa para se
aproveitar de mim, outro homem que abusava de meu corpo, contudo, essa
impressão era incorreta.
O moço tentava falar comigo, mas minha mente não era capaz de capturar
suas palavras. E então o fogo surgiu...
Como era possível queimar daquele jeito, quando há pouco tempo eu
congelava?
O fogo penetrava minhas veias e deteriorava cada partícula do meu corpo,
apenas conseguia pensar nas chamas que me queimavam viva.

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Tentei levantar as mãos para apagar a fogueira alojada em mim, mas meus
membros pesavam toneladas, eu não era capaz de me erguer, tudo o que
conseguia fazer era gritar, e gritei, gritei, mas a dor, o fogo apenas piorou.
O que esse homem estava fazendo? Porque ele queimava-me viva? Não me
lembrava de ter feito mal a ele.
Estava começando a entender as palavras do homem, mesmo com o fogo
cruciante.
A cozinha agora não era só minha e do Doutor, sua mulher e seu irmão agora
olhavam minha agonia no fogo interminável. O Doutor segurava minha mãe
enquanto falava.
Aos poucos fui ficando capaz de controlar os gritos – não todos – mas alguns,
e fiquei mais atenta sobre o que ocorria ao meu redor.

“Me desculpe, Rosalie, eu sinto muito por isso, vai passar logo... Calma, já
está acabando...” Ele não parava de se lamentar, e eu me perguntava o que ele
havia feito.

O irmão dele me olhava nervoso, meus olhos saiam de órbita e voltavam


enquanto os gritos vinham da minha garganta sem permissão. Olhei para Esme
e Edward no instante em que a dor atingiu o seu ápice.

“Matem-me agora! Matem-me, acabem com essa dor, o fogo está me


queimando, faça-o parar... Me matem” Eu gritava desesperada.

“Calma Rosalie, agüente firme, já está acabando...” Ele continuava


lamentando e percebeu a raiva do irmão. Fui capaz de ouvir algumas coisas
nos intervalos dos gritos. E vi a expressão de dor da mulher. Tentei agüentar
mais só piorava.

“Por favor, mate-me!” Gritei arqueando as costas em dor “Deixe-me morrer!”


A mão da mulher voou até sua boca. Os três me encaravam e nada faziam.

“Em que você está pensando, Carlisle?... Rosalie Hale?” Edward disse
nervoso, não gostei do jeito que ele pronunciou meu nome, com certa
repugnância.

“Não podia deixá-la morrer... Era demais... Horrível demais, desperdício


demais...” Carlisle defendia-se numa voz baixa até para mim.

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“Eu sei...” Edward atacou, mas pausou – Pensei que ele continuava falando,
mas não verbalizava as palavras.

“Era desperdício demais. Eu não podia deixá-la” Carlisle repetiu num


sussurro.

“É claro que não podia” A mulher defendeu o ato do Doutor.

“Morre gente o tempo todo” Edward dizia asperamente “Mas não acha que
ela é um pouco fácil de reconhecer? Os King proporão uma busca imensa...”
Ele pausou no momento em que eu lembrava de Royce e dos amigos e seus
atos cruéis. Porque Royce havia feito isso comigo? “... E é claro que ninguém
suspeitará do demônio” Edward continuou, depois grunhiu, do jeito que Ele
falava, era óbvio que eles sabiam quem eram os causadores da minha tragédia.
O fogo amenizou nas pontas de meus dedos, mas aumentou nos demais
pontos.

“O que vamos fazer com ela?” Edward perguntava nervoso.

Não conseguia agüentar a dor, mas não tinha forças o suficiente para mandá-
la embora. Meus dedos arranhavam friamente a mesa embaixo de mim,
minhas unhas cravavam-se na madeira.

“Cabe a ela decidir, é claro. Ela pode seguir seu próprio caminho” O doutor
respondeu a pergunta do irmão.

As palavras dele me deixaram sem vida, eu sabia que não teria esperanças
nem se vivesse... Minha vida tinha terminado e já não havia volta, eu ficaria
sozinha, sozinha pela eternidade.

“Quanto tempo faz, Carlisle?” Edward perguntou aborrecido.

“Dois dias” Ele sussurrou a resposta.

Dois dias? 48 horas que o fogo me queimava? A dor não cessava em dois
dias? Quanto tempo mais eu teria de esperar?

“Descanse Carlisle” Edward disse calmo “Vá caçar. Eu ficarei com ela”.

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Carlisle saiu com a esposa e Edward tomou seu lugar, segurando minha mão
enquanto eu continuava gritando.

“Calma Rosalie, já está acabando, faltam apenas alguns minutos, em breve


você vai esquecer todas as suas memórias humanas e tudo será melhor”
Edward dizia.

Memórias Humanas? O que ele quis dizer com isso? Eu não era mais
humana? Que tipo de idiotice ele estava falando? Em breve que esqueceria?
Esquecer? Eu não podia me dar ao luxo do esquecimento, faria de tudo para
prender-me a isso.

Casaco rasgado... Botões voando... Cabelo arrancado pela raiz... Corpo


violado... Dor... Royce... Gelo... Morte... Fogo... Chamas... Tudo o que eu
queria era vingança.

Edward abriu minha mão a guardou alguma coisa enquanto a dor saiu de
meus braços e pernas, liberando quase todo meu corpo. Minha respiração
ficava pior quando meu corpo ficava melhor.

E o ar virou fumaça, tóxica ao inalar, e mudou para areia, difícil de respirar.


O fogo liberava meu tronco, mas triturava meu coração, meu batimento
aumentava incrivelmente.

“Isso quer dizer que está no fim” Edward me alertou.

Que ótimo, então isso tinha um fim... Isso tinha se tornado inacreditavel para
mim, era tão doloroso, era como uma faca afiada que penetra o coração, uma
faca em chamas, uma faca flamejante. A dor ficou apenas no meu órgão
soberano e enfim, meu coração deu sua última lufada e parou para não mais
bater.

Agora eu já estava ciente de tudo e conseguia mover todo meu corpo, a


sensação de alivio me dominou prontamente, Edward acertara, era o fim da
dor, o fim das chamas, o fim de quase tudo e o começo da solidão...

“Você está bem?” Ele perguntou olhando estranhamente para os meus olhos.

Percebi que ele não era tão belo quanto eu imaginava, ele realmente era
bonito, mas era normal, enquanto ele perguntava Esme e Carlisle entravam
com a mesma expressão estranha no rosto.

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“Eu estou muito bem” Menti para os três, a cara que Edward fez não me
passou despercebida, como se soubesse a mentira assim que dita. Não queria
explicar minhas condições, só queria saber o que eu era agora.

“Nós vamos lhe explicar o que você é...” Edward respondeu meus
pensamentos, isso não era possível, esse garoto devia ter lido minha expressão
e detectado a pergunta. O que eles esperavam? Porque não explicavam logo?

“Explicaremos assim que você permitir” Outra vez Edward respondia meus
pensamentos, e vi o que ele era capaz de fazer, algo que me deixava
totalmente sem privacidade.

“Rosalie, todos nós somos... Diferentes, aos olhos humanos somos mais
pálidos, bonitos e atraentes em vários aspectos...” Carlisle explicava.

Verifiquei a cor de minha pele antes branca, e sem dúvida ela era quase
translúcida de tão pálida, gostei da idéia de ser atraente.

“... Minha família, todos nós nos alimentamos de forma diferente do que a
maioria de nossa espécie... Nós nos alimentamos de animais para manter o que
nos resta da humanidade...”.

Não entendia aonde ele queria chegar, humanos também se alimentavam de


animais, carne animal, então não seria tudo assim tão diferente, éramos algum
tipo de animal?

“O que Carlisle quer dizer é que somos Vampiros, e esse clã não se alimenta
de sangue humano, você certamente deve estar sentindo sede agora, e essa
sede é de sangue” Edward foi mais direto.

Vampiros...Sangue...Sede. Que maluquice era essa? Busquei algum sinal de


brincadeira nos olhos deles e notei a cor exata, era como ouro liquido, um tom
dourado muito belo, e não pude deixar de notar também a dor por trás da
garganta, era como um caroço de abacate, algo que certamente clamava por
sangue, percebi que as palavras eram verídicas e um rugido saiu de dentro de
mim. Vampiro... Eu era uma vampira. Agora literalmente não existia nada em
mim da Rosalie Lillian Hale, agora eu era apenas Rosalie, o nome era apenas
um capricho, uma denominação para que eu não fosse algo em vão.

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Esme e Carlisle se aproximaram de mim, para me dar um abraço, suponho,
mas me afastei prontamente. Não queria criar vínculos levianos, pois era
perceptível que eles não me queriam ali, principalmente Edward Cullen.

Meus instintos começavam a me dominar, tudo o que eu pensava naquele


momento era em sangue... Eu precisava me alimentar.

“Acho melhor caçarmos esta noite, há um parque aqui por perto com muitos
cervos...” Carlisle comentou.

Eles não esperaram eu dizer nada, apenas se retiraram, era um convite – e


obviamente eu aceitaria – não sabia como fazer aquilo. Carlisle saiu
tranqüilamente seguido por Esme e por fim Edward Cullen seguiu-os também.
Caminhei atrás deles, mas percebi que caminhar não era a palavra correta, nós
corríamos, quase voávamos pelo pequeno parque, e então os três pararam.
Soube exatamente o motivo disso, o aroma demonstrava claramente que havia
alimento ali. Eu me sentia como uma leoa prestes a dar o bote.

Caminhei lentamente sem me preocupar com os outros três vampiros


próximos a mim, esperei um momento de distração do frágil animal e pulei em
cima dele, o movimento foi tão rápido que em menos de segundos o animal
caiu no chão e não teve tempo pra nada, cravei meus dentes em seu pescoço e
deixei que o líquido gorduroso e maravilhoso deliciasse minha garganta e
acabasse com a dor que existia ali. Era uma bebida quente e deliciosa, jamais
provara algo parecido. Tudo isso durou menos de dois minutos e olhei ao
redor procurando por mais...

A noite foi longa, devorei cinco cervos, mas ainda me sentia insatisfeita,
queria mais e mais... Carlisle me fez parar, disse que já era o bastante e que
com o tempo eu me acostumaria, assim, voltamos para o lar do Doutor.

“Rosalie, há outras coisas que deve saber sobre o que somos... Como já
percebeu, somos mais velozes, fortes, somos venenosos, nossa pele é
indestrutível... Somos claramente imortais, e não comemos nenhuma comida
humana, não temos partículas humanas, na transformação tudo se perdeu, o
que existe em você agora são apenas células vampiricas. E como não
necessitamos de coisas assim, o sono nos é privado...” Explicava o Doutor
cautelosamente.

“Nós... Não... Dormimos?” Consegui perguntar.

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“Exato, jamais dormimos... Fora tudo o que disse ainda existem mais algumas
informações que com o tempo você descobrirá” Finalizou ele.

“E... Eu devo procurar um esconderijo para mim ou algo assim?” Consegui


perguntar depois de muita relutância.

Esme e Carlisle me olharam curiosos e Edward traduziu minha pergunta.

“Ela está perguntando se terá de procurar moradia, ou se vocês irão deixá-la


aqui”.

“Mas é claro que pode ficar aqui, você faz parte da família agora... Se quiser
permanecer conosco, é claro...” Carlisle dizia de forma paternal.

“Obrigada, acho que ficarei até entender melhor sobre essas coisas novas”
Não conseguia pensar na palavra que descrevia o que eu era.

“Seu quarto já esta pronto minha querida, é lá em cima no final do


corredor...” Esme informou.

“Acho melhor ir para lá então... Se não se importam quero refletir um pouco


sobre isso...” Subi as escadas, mas não fui capaz de dominar minha força,
assim, o piso da casa ficou em pedaços, fiquei meio envergonhada, mas não
daria o braço à torcer, eles que fizeram isso comigo, agora teriam que pagar o
preço.

O quarto era enorme, havia uma cama e eu ri comigo mesma sabendo que
jamais a usaria, as cortinas eram carmim, a janela dava acesso a uma rua
deserta. Haviam diversos enfeites humanos e percebi que esse era o pedaço da
humanidade de Esme, enquanto salvar vidas era a de Carlisle. Não podia
confiar neles ainda, porque, ao contrário de Edward eu não podia ler mentes.
Comecei a lembrar do que Carlisle havia dito há pouco tempo, sobre sermos
velozes, fortes, indestrutíveis e outras coisas. Isso seria perfeito para eu passar
despercebida por qualquer lugar, por qualquer um, para fazer o que bem
entendesse... Contudo, teria que suavizar meus instintos que só pensavam em
sangue, e eu tentava combatê-los em meus pensamentos. Sem dúvida, assim
que eu aprendesse a usar minhas habilidades, Royce e seus amigos não se
safariam tão cedo por terem feito tal coisa comigo. Só em pensar nessa
vingança meus lábios se repuxavam em um enorme sorriso, essa inútil
imortalidade teria algo bom para oferecer no final das contas, e fiquei
satisfeita observando por essa perspectiva.

49
Cada vez que eu andava um piso era destruído, por vezes tentei ser mais
delicada, mas a força era descomunal em meu novo corpo. Edward ficava
irritado com a situação, mas não me importei muito com ele.
Esme tentava me tratar como uma filha, porém, eu não sabia quanto tempo
esse afeto duraria, então decidi não me render.
Carlisle era o mais tranqüilo, ele aceitava tudo o que eu queria ou dizia, ele
era um homem maravilhoso, contudo, homem é uma espécie que não se pode
confiar, sendo humano ou vampiro.
Minha garganta não estava satisfeita, ela queria algo que todos eles também
queriam... Sangue. Eu não entendia como Esme, Carlisle e Edward
conseguiam resistir tanto tempo sem sangue, era algo impossível, fazia apenas
algum tempo que eu não me alimentava e mesmo assim estava inteiramente
insatisfeita. Esme concordou em caçar comigo novamente, após Carlisle ir
fazer seu plantão no hospital de Rochester.
Fomos ao mesmo parque, numa velocidade maior, desta vez meus instintos
foram muito mais controlados, consegui derrubar dois cervos de uma vez e
enquanto eles se debatiam, meus caninos venenosos penetravam sua pele
sugando toda sua força vital.
Esme estava satisfeita, apenas me olhava caçar, podia jurar que ela mantinha
um olhar materno sobre mim.
Dei-me conta de que depois da transformação eu ainda não havia visto meu
reflexo, só havia me preocupado com sangue, contudo, mudaria este quadro ao
chegar em casa.
Minha roupa estava arruinada, Esme tranqüilizou-me dizendo que todos
faziam isso na primeira vez... Acho que ela não tinha notado que já era minha
segunda vez.
Estava de noite e mesmo assim minha visão estava intacta, eu podia distinguir
tudo o que estava nas sombras tão claramente que diria estar de manhã.
Percebi que era outra habilidade ‘vampírica’. Esme me acompanhava sem
dizer nada, era bom ter uma companhia assim, deixava-me livre para pensar.
Minha cabeça girava tentando organizar todas as novidades em minha nova
vida. Minha maior preocupação era o que fazer após passar o desejo constante
de matança... O que fazer com a família Cullen? Eu não queria que eles se
incomodassem em ser minhas babás, mas também não queria ficar sozinha.
Usaria o tempo que antes era para dormir, para ponderar sobre o assunto.
Outra questão era Royce e seus quatro amiguinhos...
Pareceu-me que ao me tornar vampira todos os meus sentimentos se
intensificaram, tudo ficou mais forte, mais resignado, mais decidido, só faltava
eu iniciar algo e tudo estaria finalizado. Enfim chegamos a casa luxuosa da
família Cullen.

50
Capítulo 6 – Adeus ao azul
Não queria conversar com Edward, subi rapidamente as escadas em direção
ao meu imenso quarto branco com cortinas carmim, eu sabia que não era
necessário um banho, já que minhas células humanas não funcionavam, o odor
era atrativo para as presas de qualquer maneira, contudo, havia hábitos que eu
não queria deixar... Liguei o chuveiro e deixei a água quente cair suavemente
pelo meu corpo novo e sensual.
Fiquei embaixo da água durante uma hora refletindo sobre os passos que eu
daria daqui para frente. Enrolei-me em uma toalha e peguei a escova para
pentear meus cachos imortais.
Caminhei até o espelho enorme que era para o meu corpo inteiro e fiquei
boquiaberta com a imagem refletida.
A mulher pálida e loira do espelho era uma divindade, sem dúvida, a mulher
mais bonita que eu já havia visto na vida... Seus cachos eram longos e
impecáveis descendo pelas costas em ondas, eram um loiro-dourado
maravilhoso, ela era alta, esbelta, e seguia todos os meus movimentos. Minha
mente confundia-se pensando nessa Deusa como eu... Um detalhe foi
fundamental para essa confusão... Seus olhos...
Seus olhos calorosos e expressivos eram formosos e belos, mas não havia o
antigo azul neles e muito menos o violeta, era como se o vermelho em torno
do azul estivesse transbordado e preenchido todo o espaço, não era mais o céu
de antes, o azul extinguiu-se, tingindo-se de sangue, como o mar vermelho.
Seus olhos era um rubi forte, era como se todo o sangue de meu corpo se
juntasse apenas nas janelas da alma – olhos – Se é que eu tinha alguma alma
depois disso.
Fiquei com alguma inveja por meus olhos não serem dourados, mas naquele
momento agradeci aos céus por ter essa nova vida, eu era a mulher mais bela
do mundo, meu corpo, meu cheiro, minha voz... Era tudo o que eu sempre
quis, e todo o gelo, todo o fogo, tudo... No final valeu a pena, isso porque, eu
agora era simplesmente a melhor.

51
Sorri tanto, minha imagem percebia a adoração e continuava a sorrir, passei
horas olhando o anjo que eu havia me tornado... Uma beldade que jamais teria
sonhado existir. Pensei comigo mesma, se antes eu me achava bela, agora,
com certeza não havia palavra para descrever o que eu era, e o que eu seria
eternamente.
A única coisa que eu podia me permitir fazer naquele momento era dar adeus
ao azul, e acolher de bom-grado o vermelho-sangue que dominou meu mundo.
Minha sede não era nada perto da adoração que me deslumbrava.
Esme tinha me dado algumas roupas, alguns vestidos, casacos e outros
tecidos que faziam humanos acreditarem sermos um deles.
Arrumei-me vagarosamente usando a velocidade humana para desfrutar cada
momento, pensei que não seria possível, mas depois de algumas horas eu
estava muito mais perfeita do que a garota do espelho, meu humor aumentou
sem dúvida e todos perceberam isso. Carlisle já havia terminado seu turno e
Esme estava com ele ouvindo Edward tocar piano, uma música muito bela, a
que ele dedicava para Esme, a ‘Favorita de Esme’. Todos me olharam
orgulhosos e senti-me a melhor pessoa existente no universo.

“Rosalie... Você está maravilhosa, querida” Esme não conseguia esconder o


fascínio que dominava.

“Sem dúvida, a vampira mais bela que já vi na vida... Depois de Esme”


Carlisle falava abraçando a esposa, eu sabia que não era verdade – a parte
sobre Esme – mas fiquei muito satisfeita.

“Está muito bonita, Rosalie” Edward dizia terminando a canção.

“Obrigada a todos... Mas, tenho uma pergunta...” Estava na hora de saber


algo.

“Pode perguntar filh... Rosalie” Não deixei passar a palavras ‘Filha’, mas
continuei mesmo assim.

“Porque meus olhos são vermelhos e os de vocês são dourados?” Minha


curiosidade me matava.

Eles riram da minha pergunta e Carlisle voltou a falar.

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“Isso é resultado da sua transformação... No primeiro ano seus olhos ficarão
dessa cor e com o tempo serão dourados também, a não ser...” Ele não
conseguiu continuar.

“Os vampiros que se alimentam de sangue humano continuam com olhos


vermelhos, a nossa família é a única com os olhos dessa cor, pelo menos, de
acordo com as observações de Carlisle” Edward, como sempre, mais direto.

“Há, sim!” Consegui dizer. E todos rimos sobre o assunto.

A noite continuou maravilhosa, Edward continuava suavemente ao piano e


nós acompanhávamos seu momento de prazer. Ele era elegante e um excelente
músico. Percebi seus lábios formarem um sorriso ao captarem meus
pensamentos, definitivamente, era hora de aprender a ser como Carlisle,
precisava descobrir a fórmula para bloquear minha mente. Outra vez Edward
sorriu e desta vez eu o acompanhei. Esme e Carlisle perceberam nossa
conversinha silenciosa e nos olharem de forma paternal. Desisti... Aquilo
estava começando a me enjoar, e acredito que Edward também achava aquilo,
pois, parou de tocar e despediu-se deslizando para seu quarto no lado oposto
do corredor.

Aquela foi a única noite tranqüila que se seguiu, eu ainda lutava para decidir
meu destino, e por fim resolvi que o melhor para mim era viver sozinha, sem
dúvida, mesmo com o afeto que os Cullen demonstravam, eu não queria ser
um peso para eles. Se eu fugisse eles não perceberiam, esses sentidos
vampíricos ajudavam bastante.
Abri a janela devagar, calculei a distância e deduzi que não faria nenhum
barulho, pois o baque seria mudo, inclinei-me para o vento que já não me
deixava com frio e preparei-me para pular e fugir dali o mais rápido possível.
Um rosnado saiu de minha garganta ao sentir um braço sob meu ombro
tentando me deter. Esse toque me trouxe a lembrança que eu jamais
esquecera: Royce e seus amigos.

“Não me toque!” Gritei virando-me numa velocidade incrível pronta para


atacar.

“Eu realmente não tinha a intenção de assustá-la” O Doutor se afastou fitando


meu rosto incrédulo “Só queria que soubesse que fugir não é a saída mais
adequada para resolver os problemas Rosalie” Ele disse e saiu rapidamente
para me dar privacidade.

53
Carlisle tinha razão, fugir não resolveria nada. Vingança sim, era a única
coisa que me deixaria livre de tudo.
Sim... Vingança... Meu subconsciente planejava isso, eu iria atrás de todos os
homens que me fizeram mal e daria o mesmo sofrimento a eles. Eu poderia
fazer isso sem esforço algum, já que eles eram os frágeis agora. Eu mataria um
a um para que aos poucos todos percebessem o que os perseguia, e pouparia
Royce para o final, ele merecia o pior castigo por ter me iludido
profundamente.
Meu plano já estava armado, só faltava pensar em um dia para executá-lo, eu
os mataria e depois ponderava se fugiria ou permaneceria com os Cullen.
Estava no banheiro vendo meus olhos penetrantes desenharem o perigo
chamativo que em breve iria acontecer, meus ouvidos captaram o som de
passos e me virei automaticamente. Obviamente: Edward Cullen.
Ele olhava para o chão e andava devagar para não me assustar, como havia
feito seu irmão.

“Eu entendo” Edward pronunciou calmamente as palavras enquanto se


apoiava na moldura da porta. Percebi sobre o que ele falava e a raiva me
inundou.

Olhei seu rosto com os olhos inundados de ódio e respondi numa voz áspera
“Você é um homem. Não pode entender nada”.

Ele ficou sem palavras e observou o chão durante muito tempo murmurou
“Meu sexo tem muito pouco a ver com isso... Entendo a vontade de vingança
pelos atos cometidos a você” Edward continuava fitando o chão sem nada ver.

“Como é possível você compreender?” Debochei. Mesmo ele entrando em


minha mente não era o bastante para saber sobre tudo.

Ele fechou os olhos por tempo indeterminado, sua expressão era de dor
quando voltou a falar “Já passei por isso... Você precisa achar um jeito de
superar isso, Rosalie...” Meus lábios tremiam de ódio “... Você não pode fazer
isso sozinha, o que está planejando. Alguém tem que cuidar de você”.

Definitivamente ele estava me deixando confusa, como ele passara por algo
assim? E o que ele dizia com eu não poder fazer isso sozinha? Eu ofegava ao
responder.

“Você não vai tentar me impedir?”.

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“Não, como eu disse, eu entendo” A resposta dele me deixou chocada, o
garoto certinho estava disposto a me ajudar. Ele colocou a mão no bolso e
tirou algo para me mostrar.

Se meu coração batesse, ele estaria a ponto de explodir ao ver o botão de


metal bronze do casaco arruinado. Peguei o objeto de sua mão, segurei junto
ao peito com as duas. Olhei para seus lindos olhos dourados intensamente e
por fim, abri minha mente para que Edward pudesse ver tudo o que eu
escondia dele.
Mostrei todo o meu plano de vingança recém-criado, também mostrei o
detalhe infantil que eu não conseguia abandonar... Fazer tudo aquilo com o
meu vestido de noiva, eu iria roubá-lo para essa ocasião especial. Edward
entendeu tudo prontamente e vi a dúvida em seu rosto.

“Rosalie, entendo o que você quer fazer, mas deve tomar muito cuidado, você
é uma recém-nascida, quando se prova sangue humano é impossível parar no
primeiro, isso se torna um vicio e...” Ele me explicava o que sem dúvida
deveria ter sido um desafio para ele, entendi um pouco do que ele falava sobre
ter passado por isso.

“Edward, espere, não entendeu meu plano com perfeição...” Vi sua


sombrancelha se levantar com minhas palavras. “... Não quero nenhum deles
dentro de mim” Expliquei.

Eu jamais beberia sangue de violadores, seu sangue deveria ser podre, eu não
queria dar uma morte tão fácil para eles e sabia que não conseguiria resistir ao
cheiro de sangue humano. Eles apenas sofreriam a ponto de implorar pela
morte.

“Tudo bem, eu irei ajudá-la, mas é melhor não contarmos para Esme e
Carlisle ou eles tentarão impedi-la” Ele me apoiou e por um momento senti
compaixão por Edward.

Ele se retirou para me deixar livre, recolhi uma folha de papel e com minha
letra elegante e formosa desabafei em algumas letras o que estava sentindo. Eu
escrevia rapidamente e parei para ler o que meus pensamentos descreviam,
não era um poema, era um desabafo, mas foi bastante profundo para me deixar
abalada com as palavras:

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Nada Restou...
O mundo inteiro já me destruiu
Cada pessoa já me apunhalou
Foi nessa fria noite de abriu
Que o meu coração enfim parou.
A morte então foi quem me consumiu
Nem mesmo o amor me consagrou
Cada detalhe que foi meu sumiu
E nada do meu ser restou...

Esse pequeno texto exibia tudo o que eu pensava, o que eu era, Rosalie
Lillian Hale já não existia, não havia nenhum pigmento dela em mim.
Como se fosse para reafirmar isso, olhei ao redor e vi o pequeno medalhão de
ouro, abri-o para recordar minhas memórias apagadas após a transformação. A
foto me deixou ressentida, aquela garota bonita – Não tanto quanto agora –
com seus impecáveis olhos-cor-de-céu. Por dentro meu corpo ficou rígido e
lagrimas transbordaram, mas não foram capazes de deslizar, já que outra
negação nessa minha vida foram as glândulas lacrimais.
Os olhos azuis mais belos, com violetas em seu contorno, o céu azul que foi
vetado para mim, a vida que me foi arrancada e jamais seria devolvida, tudo o
que me era permitido fazer era lamentar e outra vez dizer adeus ao azul, a
melhor parte que existia em mim.
Isso me lembrou que era hora de organizar meu plano. Saltei da sacada e corri
velozmente pelas ruas até a casa que em lembranças foscas eu lembrava ser de
Rosalie Lillian Hale.
Uma sensação nova me dominou, tive medo de continuar, mas iria até o fim.
Escalei a lateral da enorme casa e deslizei em direção ao quarto enorme que
um dia foi meu.
Nada havia mudado, tudo estava igual ao dia em que a morte se apoderou de
mim. O cheiro doce da humanidade inflamou minha garganta, me senti
novamente como uma leoa em caça, contudo, esta era a família que um dia foi
minha e eu não queria ser um monstro, não queria ser vampira e negaria ao
máximo essa vida, iria relutar até que não resistisse mais, cortei o fluxo de
meus pulmões para me concentrar melhor e delicadamente procurei sem fazer
barulho pelo quarto, meu vestido de noiva, levei algum tempo para recordar o
local em que eu o deixara, enfim encontrei-o.
O vestido era maravilhoso, mesmo aos meus novos olhos, me virei para sair e
percebi um pequeno objeto refletindo para mim, um cubo de cristal
armazenando uma pequena e aparentemente frágil rosa. A Rosa Cristalizada.

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Mais do que nunca eu me sentia dessa maneira, essa pequena rosa era muito
bela e nunca mudaria, assim, eu também nunca teria mudanças. Eu estava
congelada no tempo, Cristalizada nessa vida nova. Peguei o cubo e guardei-o
para ter mais lembranças, também recolhi o coraçãozinho de alabastro.
Meu coração se dilacerou dentro de mim, essa poderia ser a ultima vez que
veria cada membro de minha antiga família, queria saber se todos estavam
bem, e a lua enorme no céu azul-escuro me dizia que era a melhor hora para
fazer isso, já que os humanos dormiam...
Tentei ser o mais cautelosa possível, meus passos pareciam almofadados e
leves, passei pelo corredor e encontrei o quarto de meus pais: John e Vivian
Hale. Eles dormiam, mas suas expressões não eram tranqüilas, aproximei-me
deles e vi o tom arroxeado em torno de seus olhos, devia fazer dias que eles
não dormiam, por palpite eu diria que não dormiam desde o dia que eu fui
impedida de dormir. Tremi por dento com esse pensamento, o mais claro, o da
dor de minha transformação, algo que eu tinha certeza que era impossível de
esquecer, mesmo que vivesse milhões de anos.
Vislumbrei pela última vez as pessoas que me trouxeram ao antigo mundo e
caminhei em direção ao outro quarto.
Meus dois irmãos dormiam feito anjos, eles eram anjos, Richard e Philipe, os
melhores irmãos do mundo, ambos com uma determinação e alegria
contagiante, algo que sem dúvida me faria uma falta eterna.
Eles eram pedaços de uma vida que eu me prenderia sempre, a vida em que
fui feliz e não percebi, a vida que agora; daria tudo para ter...
Philly tremeu um pouco e me assustei com o movimento, ele virou o rosto
sonolento em minha direção e soltou um longo bocejo. Observei sua face bela
e um pouco mais madura – após perder a irmã mais velha – Suponho.
Permaneci assim por mais alguns minutos e decidi deixá-los, pois era o certo
a se fazer. Ouvi uma respiração mais alta e um coração acelerado, em choque
e relutância girei e percebi as pálpebras abertas de Philly. Pelo olhar dele, ele
parecia estar vendo um fantasma ou imaginar estar vivendo em um sonho
muito real, aproveitei-me disso para ter uma última conversa, sabendo que
pela manhã ele esqueceria tudo, ou se acharia um louco.

“Rosalie... Nós te esperamos no jogo... E esperamos... Mas você não


apareceu... Dias se passaram e nada...” Ele dizia entre lágrimas acreditando ser
um sonho e desabafando para minha imagem “... Mamãe e Papai lhe
procuraram por toda a cidade... Eu te amo tanto... E sei que jamais te verei...
Só queria que soubesse isso... Mesmo que seja um sonho...” Ele soluçava
muito.

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A Rosalie que pensei estar morta dentro de mim se manifestou, ela gritou por
entre meu ser, e derramou-se em lágrimas ainda dentro de mim, a Rosalie
Hale morria dentro de mim ao ver seu lindo irmãozinho lamentar, eu sentia
cada pedaço dela se desfazer, sentia a dor que ela sentia, eu queria poder
chorar junto com ela, mas estava proibida. Ela gritava enquanto seu coração
era fragmentado e depois arrancado, os gritos mudos eram tudo o que eu
exibia, porém, por dentro tudo era dor.
Ela me condenava também, e eu sabia que ela estava certa, a culpa era minha,
eu que tinha acabado com sua vida ao escolher um homem falso. Eu faria
Royce implorar para morrer, assim como eu fiz...
A Rosalie dentro de mim cansou de gritar e quis dominar o corpo por
completo, eu me afastei e deixei ela ter seus últimos minutos em família.
Todos esses pensamentos duraram o tempo de dois batimentos cardíacos...

“Philly não diga isso, você é um rapaz maravilhoso, eu o amo demais também,
mais do que imaginas, quero que cuide de nossa família, você é forte, acredito
em você, eu confio em você... Por favor, seja muito feliz meu irmão, todos
seus desejos se realizarão, eu sei disso, você é um belo príncipe e terá em
breve seu trono...” A Rosalie dentro de mim dizia sem pensar, apenas tentando
curar a dor do irmão, e expressando tudo o que ela sentia de humano.

“Eu queria estar no seu lugar... Eu queria ter estado com você sempre... Não
consigo continuar sem você...” Ele se atrapalhava com as palavras.

“Nunca... Jamais diga isso... Você está exatamente aonde deveria estar, e
quero que você seja forte... Por mim... Você é forte, e será um soldado
exemplar” Eu sabia que esse era o sonho dele. Philly sorriu por alguns
segundos enquanto as lágrimas deslizavam em sua face, brilhando como
estrelas na escuridão do quarto azul.

“Obrigado Rosalie... Mas... Por favor,... Fique! Não se vá...” Ele implorava.

“Eu queria muito... Mas não posso... Lembre-se sempre que eu te amo
demais... Sempre que olhar o crepúsculo, lembre-se de mim com meus olhos
azuis-avermelhados” Eu dizia para ele segurando os pedaços que se desfaziam
dentro de mim.

“Seus olhos... Estão vermelhos... E são... Lindos!” Ele percebeu.

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“É... Estando em seu sonho, você me imagina assim?” Tentei rir um pouco e
ele me acompanhou.

“Sendo um sonho, seu toque não deve ser real...” Ele deduziu.

Envolvi meu frágil irmão num abraço e senti o calor de sua pele no gelo da
minha. Ele tremeu. Olhei meus antigos olhos azuis na minha frente, no rosto
dele e sorri por ter essa lembrança clara, ele retornou o sorriso e sussurrou
uma última vez antes de cair no sono real: Eu te amo.

“Eu também o amo” Cantei para ele e saí do local onde cresci.

A Rosalie dentro de mim debulhava-se em lágrimas quentes e rasgou o peito


de tanto chorar, mas ela ficou feliz por ter compartilhado esse momento e
passou seu domínio para mim, sabendo que assim teria o melhor, ela sabia que
eu era a única que podia vingar tudo isso, e por ela, por sua família e por sua
vida roubada eu faria o melhor que pudesse. O vestido em minha mão era a
prova da vitória que eu teria.

Cheguei em casa e todos estavam na sala me esperando.

“Rosalie, o que houve?” Carlisle estava preocupado com meu pesar.

“Precisava de um pouco de ar puro...” Edward abriu a boca para dizer o que eu


enfrentara, mas olhei para ele e interrompi seu pensamento “... E
privacidade!” Ele percebeu que eu não queria falar sobre isso e calou-se.

“Eu deveria ter dito isso antes, mas... Há algumas regras sobre o nosso mundo
que você deve se conscientizar” Carlisle preparou-se para outro discurso e eu
estava preparada para ouvir as ‘regras’.

“Tudo se resumi a uma regra especificamente: Não expor o que somos” Ele
disse brevemente.

“Como assim?” Não era especifico o bastante.

“Existe uma família em nosso mundo que domina toda nossa espécie, algo
como uma realeza. Eles se certificam de que não estamos expostos, pois,
muitos humanos iriam querer acabar conosco, como ocorreu 300 anos atrás.

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São chamados Volturi, e são três ao trono: Aro, Caius e Marcus... O restante é
sua guarda...” Ele explicava rapidamente e tremi ao ouvir os nomes.

“... Portanto, tendo um pouco de cuidado com suas novas habilidades perto
dos humanos, poderemos viver em paz sempre” Ele sorriu e finalizou.

“Entendi Carlisle, eu não deixarei que ninguém saiba sobre nós...” Até porque
eu já havia cometido esse erro alguns minutos antes, sorte minha que Philly
pensasse estar sonhando.

Ele contentou-se com minha resposta e foi para seu escritório, seguido por
Esme. Edward aproximou-se de mim e pelos seus olhos percebi que ele tinha
visto tudo o que ocorrera através de minha mente, isso me revoltou... E ele
notou.

“Esse será um segredo nosso... Não contarei para ninguém” Edward prometeu.

“Obrigada” Senti muita compaixão por ele neste momento.

“Sinto muito pela sua humanidade...” Ele lamentou.

“Sinto muito por não ser capaz de ler sua mente para sentir muito sobre
alguma coisa...” Ele gargalhou com as palavras que pronunciei e
permanecemos num segundo de harmonia.

“Pode dizer que sente muito por eu ser tão estúpido às vezes...” Ele continuou.

“Há... Isso sim!” Gargalhamos outra vez e continuei “Eu diria que às vezes é
muito pouco, que tal ‘freqüentemente’?”.

“Eu topo!”.

“Ok. Agora, por favor, preciso de privacidade total... Tente ao máximo não ler
meus pensamentos daqui para frente” Eu implorava.

“Então se controle e tente não exibi-los como um filme” Ele disse.

“Eu topo!” Respondi e a noite transformou-se em dia na casa dos Cullen.

60
Capítulo 7 – Pétalas de Sangue

O sol da manhã estava esplendoroso, fiquei muito tempo sem ver a


maravilhosa esfera brilhante no céu. Ele lançava seus primeiros raios pelas
ruas e alguns por minha janela, estendi a mão para tentar pegar a luz
chamativa.
De repente meu corpo virou pedra, não que o sol tivesse me petrificado; mas
os raios solares em contraste com a minha pele fizeram um efeito belíssimo.
Cada pedaço de meu corpo exposto ao sol refletia como milhares fragmentos
de diamante. Tudo brilhava, e as cores não eram apenas as sete famosas: Lilás,
laranja, amarelo, azul-claro, verde, vermelho e azul-escuro, havia também a
cor predominante por trás delas, uma que não era visível para os humanos e
originava elas próprias: A cor branca!
Era beleza demais para apenas um ser... Um ser não-humano. O fascínio me
deixava louca... Cada dia que passava, eu descobria mais perfeição nessa nova
vida.
Porém, se reagíamos assim ao sol, isso queria dizer que não poderíamos nos
expor em dias como este.
Vasculhei pelo quarto em busca do tecido que me traria felicidade, a
felicidade-pós-vingança.
Encontrei o vestido de noiva, e voltei meus pensamentos para Royce, o modo
de como eu agiria para terminar com ele e seus amigos. E se depois de matá-
los eu não fosse capaz de resistir ao sangue? E se eu errasse por alguns
segundos e deixasse o liquido escorrer pelo corpo de um deles, será que eu
conseguiria resistir?
Em minha mente formou-se uma imagem nítida: Rosalie Hale, uma
vingadora, vestida com o vestido branco-pérola com detalhes vermelho-
sangue, ou melhor, vermelho-sangue-humano. Como uma digna Rosa
esplendorosa e convidativa, contendo pétalas de sangue.

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Deixei este pensamento, eu não tocaria no sangue deles, eu resistiria com
todas as forças. Tê-los dentro de mim era algo fora de cogitação.
Armei meus planos durante os dias que se seguiram, Edward não ficava por
perto, acredito que minhas idéias eram fortes demais para ele. Esme e Carlisle
nem suspeitavam o que ocorria, isso se devia ao fato de uma doença que se
espalhara pela cidade e que deixara Carlisle com um turno duplo, e Esme
passava muito tempo fora procurando por detalhes para organizar a casa:
Pisos, novas tintas, móveis...
Minha estratégia já estava pronta, só estava aguardando a aprovação de
Edward.
Ele decidiu que a melhor hora para fazer isso era na sexta-feira depois das
21:00 horas. Segundo ele – que era meu fiel espião – Royce iria para um clube
com os amigos e seria mais fácil atacá-los na saída. Como só faltavam dois
dias assenti, sentindo a adrenalina fervendo no meu interior.
Voltei para meus devaneios e decidi atacar os quatro amigos de Royce na
sexta, e atacá-lo alguns dias depois com o visual que eu escolhera, para que
ele possa ser informado das mortes e para que ele saiba com antecedência da
minha aproximação.

Esperar já era algo muito ruim, as horas passavam vagarosamente e minha


paciência estava chegando ao limite... Tic-tac faltam cinco horas. Tic-tac
faltam quatro horas. Tic-tac faltam três horas...
Típico de Edward atrapalhar minha contagem para revisar OUTRA VEZ o
plano. Ele estava começando a me deixar maluca.
Edward saiu para que eu me trocasse, deslizei o perfeito vestido pelo meu
corpo, as ondas se ajeitaram por baixo de minha cintura e as rendas deram um
aspecto melhor para ele, além do contraste branco-pérola. Sai do quarto e
percebi o olhar de Edward caindo sobre mim.
Nos preparamos e saímos para o gélido caminho até o clube. Nossa
velocidade foi o suficiente para nos permitir ter tempo de sobra. Edward
estava mais afoito do que eu e isso era bastante perceptível.

“Eles vão sair do clube de senhores depois da hora de ter fechado, em


aproximadamente vinte minutos...” Ele me lembrou pela centésima vez e
revirei os olhos como uma criança, depois suspirei para que ele parasse “... Só
quero ter certeza que você sabe o que está fazendo, Rosalie” Defendeu-se.

“Eu sei o que estou fazendo, Edward” Ataquei-o.

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“Ao primeiro sinal de qualquer frenesi, estou tirando você de lá. Não importa
se matou a todos ou não!” Ele alertou autoritário.

“Eu sei!” Não consegui conter a irritação “Já falamos disso mil vezes”
Lembrei-o.

“Você gosta de hipérboles, não gosta?” Ele disse secamente com um olhar
severo.

“Certo...” Soltei um último suspiro “Vamos revisar mais uma vez. Mas é a
ÚLTIMA” Falei balançando o dedo seriamente.

Ele riu brevemente, mudando sua expressão para a mesma que a minha de
seriedade “Você intercepta os homens enquanto eles andam em direção a
residência dos King. Mate-os rapidamente, quebre seus pescoços, mas não
cause nenhuma ferida aberta. Eu estarei por perto. Vou sussurrar alto o
bastante para que você escute e mais ninguém. Você pode falar comigo em
sua mente” Ele me lembrou e assenti novamente sentindo a adrenalina.

Edward examinou minha expressão por alguns segundos, admirando meu


vestido pérola ao vento e por fim, dei-lhe as costas e caminhei rumo pela
vingança. Eu estava mais determinada do que nunca. O clima mudou, o gelo
assumiu a rua, exatamente como no dia da minha morte. A neve era
maravilhosa e arrastei meu vestido branco pelas ruas escuras em busca dos
homens violadores.
Escondi-me na parte sombria da rua movimentada e observei cautelosamente
os cinco homens de terno preto caminhando em direção à enorme casa dos
King. O aroma deles me deixava em êxtase, a concentração era necessária
neste momento. ‘Eu não terei nenhum deles dentro de mim... Eu não terei
nenhum deles dentro de mim... Eu não terei nenhum deles dentro de mim... Eu
não darei esse prazer a eles, morrer assim é fácil demais... Rápido demais...
Não será desse jeito!’.

Royce entrou e despediu-se dos amigos; perfeito! Eles seguiram para ruas
diferentes, tudo seria mais fácil do que eu imaginava. O primeiro na lista seria
sem dúvida ‘John Flotnary’ Segui-o como se fosse uma sombra e o momento
exato surgiu, assim como num filme de terror: Um beco sombrio e deserto.

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Deixei que ele notasse que algo estava diferente, usei meus movimentos ágeis
para acertar diversos lugares, utilizando o barulho como fonte de pavor. Deu
certo... John sobressaltou-se e correu pela rua olhando para trás.
Ele percebeu um tecido branco voar pelo escuro e viu-se sem escapatória.

“Quem está ai?” Sua voz tremia de pânico.

Silêncio profundo. Barulho estrondoso. Grito pavoroso. Risada nas sombras.


Suor frio.

“Olá John” Soprei com minha voz de sinos.

“Onde está? Quem é?” Ouvi seu coração acelerar incrivelmente.

“Não se lembra de mim?” Perguntei saindo da escuridão lentamente e


exibindo meu corpo esbelto com um belo vestido de neve.

“Rosalie Hale? Impossível...” A compreensão preencheu sua face, deixando-a


sem cor, como se houvesse um fantasma.

“Eu mesma... Surpreso em me ver?”.

“Rosalie... Eu... Não... Queria... Fazer... Aquilo...” Não era o frio que o fazia
tremer, era o medo!

“Sei disso... E não quer fazer de novo?” Levantei um pouco as ondas do


vestido e levantei a perna.

Percebi seu desejo por mim, mas ele continuava alerta do perigo. Uma
expressão confusa passou por seu rosto e ele aproximou-se.

“Você esta muito bela, se Royce soubesse disso me mataria...” Ele disse com
passos lentos e estendeu a mão para minha perna. O choque transcorreu seu
rosto ao sentir o gelo de meu corpo, pior do que a neve.

Apertei meu corpo contra o seu na parede e deslizei minha mão para junto da
dele em minha perna exposta. Seu desejo ficou mais explicito no volume que
aparecia na parte debaixo de seu terno. Enfim, a hora havia chegado!
Levantei sua mão calmamente enquanto ele observava cada movimento. E
transformei em pó todos os ossos de sua frágil carne em contato com a minha.

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Seu grito apenas estimulou meu prazer, deixei que minhas mãos tocassem
seus braços e quebrei cada osso que existiam ali.

“Eu sou o seu pior pesadelo! Adeus John...” Sussurrei ao seu ouvido e minhas
mãos tocaram seu rosto, desenhando-o lentamente. Suas veias pulsavam,
gritando para mim, mas eu proibi esses pensamentos. Desenhei seu queixo e
parei em seu pescoço, que com um único movimento, soltou um estalo e fez
sua cabeça cair de lado, seu corpo ficou imóvel e morto nos meus braços.

Um já se fora, faltavam quatro...

Sem perder tempo, utilizei minhas habilidades e fui atrás de dois amigos que
estavam para oeste: Gabriel Widnear e Francesco Pollifort. A neve continuava
a cair em pequenos flocos, eles gargalhavam nas ruas desertas sem saber do
perigo que em breve os envolveria.
Esperei até que eles estivessem juntos e aguardei sua aproximação; ao fazer a
curva para a direita a surpresa surgiu em suas faces.

“Está perdida senhorita?” Gabriel perguntou quando me viu de costas.

“Sim... Foi por aqui que perdi algo... e acho que vocês também perderão”
Falei calma e inocentemente.

“Que tipo de coisa?” Francesco estava me achando louca.

“Minha vida!” Me virei e exibi meus reluzentes caninos e em questão de


segundos seu corpos jaziam mortos nas ruas assombradas.

Deslizei pela neve novamente como a dama do gelo e fui atrás do ultimo
amiguinho. Ele deveria estar longe, pelo tempo que gastei, então voei ao vento
e fui para leste encontrando Mathews Merini na porta de casa. Não havia
tempo a perder.

“Math?” Usei minha voz sedutora e ele veio em minha direção.

“Está com frio senhorita?” Ele tirava o casaco, muito cavalheiro, nem parecia
a mesma pessoa, mas eu sabia o que se escondia por trás dos bons modos.

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“Estou precisando acabar com a dor...” Ele me olhou abobalhado e aos poucos
se deu conta de quem era “... E ela só ira embora quando eu acabar com quem
a causou!”.

Abafei o grito que ele dava e meus dedos brincaram com sua face, e como se
fosse um bonequinho de porcelana, ele quebrou-se ao ser tocado com um
pouquinho de força.
Meu prazer cresceu demasiadamente, Royce saberia quem era o causador das
mortes e agora o jogo estava iniciado.

Edward veio ao meu encontro com os olhos arregalados, ele acompanhara


tudo o que aconteceu através da minha mente e das outras. Imaginei-o me
vendo como predadora em sua frente e ele sendo a presa, isso explicou o olhar
estranho.
Meu vestido continuava impecável e olhei presunçosa para ele.

“Nenhuma gota de sangue!” Abri um sorriso.

“Por enquanto... Lembre-se que ainda não terminou” Edward alertou.

Claro que não havia terminado, isso era apenas o começo, Royce era o ponto-
chave do jogo.

Minha mente trabalhava rapidamente e, assim como ela os dias foram se


passando. Cinco dias eram o suficiente para Royce ser informado sobre o
assassinato dos amigos e o suficiente para tentar se esconder.
Coloquei novamente o vestido que não tinha utilidade há dias e Edward
acompanhou-me outra vez.

Sentia-me fortemente uma criança por fazer um joguinho desses, ainda mais
com o vestido de noiva, mas foi inevitável o pensamento que me ocorreu, eu
estava feliz com o sofrimento que ele enfrentaria ‘Estou chegando para te
pegar, Royce, farei você sofrer... Estou chegando para te pegar, Royce, farei
você sofrer...’.

Edward atrapalhou minha cantiga infantil “Você realmente o odeia tanto


assim?”.

Que pergunta era essa? Ele mesmo entrava em minha mente, não estava claro
ainda?

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“Eu apenas quero causar a ele tanta dor quanto ele me causou” Desabafei,
apertando minha mandíbula.

Edward parecia em dúvida, levantou uma sombrancelha e ficou me encarando


“E isso te deixará satisfeita?”.

“Sim!” Respondi brevemente, mas as palavras certas seriam: Ficaria


imensamente satisfeita, a alegria me irradiaria por dias após vê-lo morto!

“Ótimo...” Ele sorriu “... Porque apenas estou ajudando você para que esse
assunto se encerre. Do contrário...” Disse apontando a rua à frente “... Tudo
isso não tem sentido” Edward finalizou.

“Pela última vez, Edward Cullen, eu sei o que estou fazendo” Levantei meu
queixo e marchei adiante atrás de Royce King II.

Foi fácil encontrar Royce, seu cheiro ainda estava na minha mente, eu apenas
segui o aroma. Ele estava em um minúsculo quartinho sombrio sem janelas,
percebi que havia mais humanos. Eram dois guardas armados, na frente na
grossa e única porta que protegia seu líder.
Voei para eles sem barulho algum e Edward sussurrou baixo, porém, mesmo
de longe, sua voz era clara.

“Rosalie, cuidado, há dois guardas” Ele me avisou.

‘Havia dois guardas’. Sorri física e mentalmente e sem esforço algum


derrubei a imensa porta e Royce se encolheu como um ratinho num buraco.
Ele estava com a aparência horrível, olheiras enormes, como se não dormisse
há dias, estava soando muito, coração disparado, respiração desregular, ele
arfava enquanto entrava em desespero.

“Oi meu amor... Estava com saudades de você!” Ironizei, desfrutando do


momento e seus olhos se arregalaram.

“Por favor, não me mate! Eu estava bêbado, ainda podemos ficar juntos...” Ele
implorava.

Eu dava um passo cada vez que ele pronunciava uma palavra e ele percebeu
isso, ficando mudo.

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“Sabe Royce... Só queria lhe agradecer... Por não ter se casado comigo, eu não
suportaria ter um marido assim. E você não faz idéia do quanto eu sofreria se
isso acontecesse, acho que seria pior do que ser violada, humilhada, deixada
na rua como um animal para congelar no frio e apodrecer até morrer... É acho
que casar com você seria pior do que isso, contudo, sinto que estou lhe
devendo alguma coisa por ter me feito tudo isso” Percebi seus dentes
rangerem e suas pernas tremerem.

Ele sentou-se no chão, pois sabia que não haveria escapatória e sentei-me ao
seu lado. Peguei sua mão e olhei fundo em seus olhos.

“Eu só não entendo como você pôde mentir tão bem. Fez teatro ou algo
assim? Porque os seus bilhetes eram o oposto de você e a atitude de dar rosas,
o anel... Tudo muito romântico para um ser desprezível e inescrupuloso como
você!” Falava baixo em seu ouvido.

Sua loucura começou a afetar. Royce começou a rir e devolveu meu olhar,
suponho que ele não temia mais morrer, no entanto, eu inverteria esse quadro.

“Uma garota egoísta como você, inocente, idiota e gananciosa era muito fácil
de conseguir. Você era a mais bela da cidade, era disso que eu precisava para
ser notado e conseguir prestigio. Tudo o que precisei para te conquistar, além
do óbvio como dinheiro e beleza, foi um otário apaixonado... Fabrício Steiner,
mesmo que você o tenha negado, ele ainda a ama, ou melhor, amava! Ele
queria ter sido seu e escreveu os bilhetes com as palavras que queria lhe dizer,
as rosas também foram sua idéia e, sem dúvida, o anel...” Royce esclareceu
todas as minhas dúvidas.

Ele ainda gargalhava, encostei meus lábios gelados no seu rosto e seu pavor
retornou. Soltei o ar em e acariciei cada detalhe perfeito de sua face, os olhos,
o nariz, as maçãs do rosto... Os lábios.

“Não me mate” Ele falou baixo demais, até para mim.

“Calma Royce... A morte não é tão horrível quanto você pensa, esqueceu que
eu morri? E olha como estou...” Lembrei a ele.

Passei a mão pelo seu lindo e macio cabelo loiro e seus olhos cor-de-mar
desaguavam sem parar. Levantei-o e juntei meu corpo ao seu delicadamente.
O veneno inflava em minha garganta, minha satisfação estava quase completa.

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O ar nos envolvia inteiramente e ele tremia com o vento agressivo, seus
braços tentavam emanar calor.

“Está com frio Royce? Relaxa... Vai ser bem quentinho no lugar pra onde
você vai... Boa sorte no Inferno!” Falei sedutoramente e torci seus braços.

Ele gritava de dor, e continuei a quebrar seus ossos, eu tinha estudado um


pouco sobre anatomia e me concentrei na junção de cada osso de seu corpo.
Era um festival de prazer... Osso quebrado, grito... Roupa rasgada, pele
torcida, grito... Cabelo levemente retirado, tronco amassado, grito... E pescoço
quebrado!

Seus olhos azuis estavam abertos quando saíram de foco e deixei o ladrão de
vidas morto no destino que ele mesmo espalhava.

Encontrei Edward aterrorizado com meu prazer. Eu não mudaria meus


sentimentos para deixá-lo melhor, agora eu podia seguir em frente, tudo estava
resolvido. Na longa partida de xadrez eu consegui o melhor xeque-mate,
derrubando todos os piões e destroçando o rei!
Andamos com passos arrastados enquanto Rochester entrava num dia de
caus... O assassinato de um King.

“Tome cuidado para que Carlisle e Esme não descubram sobre isso” Edward
falava preocupado.

“Eles não podem me repreender, lembra-se de que não bebi sangue” Me


orgulhei de ter sido tão forte.

“É... Mas, de qualquer forma, o assassinato de sete pessoas pode levantar


suspeita” Nós sorrimos com a lembrança.

Ao chegar em casa fui direto para o quarto calmo e guardei meu ajudante no
guarda-roupa (O maravilhoso vestido branco-pérola).
Finalmente eu poderia começar a sonhar, minha vida não estava totalmente
acabada, eu ainda poderia casar-me, caso encontrasse um bom vampiro.
Minha mente desenhou Edward, mas recusei-me a pensar nele, e também
poderia ficar feliz como Carlisle e Esme, poderia ter filhos e tudo se
resolveria, era apenas uma questão de tempo, e meus filhos seriam lindos e
indestrutíveis... Meu sonho ainda era possível!

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Desci as escadas e outra vez Edward estava ao piano tocando uma música
com notas um tanto dramáticas, ele percebeu meu pensamento e vi seus lábios
formarem um discreto sorriso como confirmação. Carlisle e Esme observavam
admirados.

“Seu irmão toca muito bem mesmo” Falei para o Doutor.

“Meu irmão?” Sua testa estava franzida de dúvida.

“Edward!” Esclareci o óbvio para ele.

Edward parou de tocar, e junto com Esme e Carlisle, todos começaram a rir.
Fiquei com uma bela cara de palhaça enquanto eles me observavam.

“Edward não é meu irmão, Rosalie. Usamos isso apenas para que os humanos
não se assustem e nos vejam como humanos. Na verdade, encontrei Edward
em 1918, morrendo de gripe espanhola, naquela época eu estava sozinho e a
mãe dele me pediu esse último favor, então, o transformei e me encantei com
Edward e suas habilidades, hoje o vejo como um filho. Já faz 15 anos que
estamos juntos” Carlisle explicou brevemente a história de seu ‘filho’.

“Eu não sabia...” Embaralhei-me com as palavras.

“Edward para mim é um filho, e você também pode ser uma filha para mim,
Rosalie, já que sou seu ‘pai de transformação’...” Todos riram durante algum
tempo com o termo que Carlisle usou.

“Muito obrigada, estou satisfeita em fazer parte desta família, contudo, há algo
que eu gostaria de pedir...” Eu realmente estava grata, agora que poderia
realizar meus sonhos e ter uma família.

“Pode pedir...” Ele incentivou.

“Gostei muito de ser considerada da família, mas quero manter meu nome
como Rosalie Hale... Já que é toda a humanidade que posso ter” Expliquei.

Eles compreenderam e me envolveram num abraço muito familiar. Carlisle


realmente era como um pai e Esme me abraçava com muito carinho, como
uma verdadeira mãe. Edward tratava-me como uma irmã, isso me reconfortou,
por enquanto. Éramos uma família: Os três Cullen e a Hale.

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Capítulo 8 – Esme, a mãe de Ouro

Eu não sabia como tratá-los, então decidi ser agradável quando eles viessem a
minha procura.
Edward não fazia nada além de tocar seu piano e para provar-lhes que eu
podia ser realmente parte da família, observei-o tocar com muita atenção,
decorando cada nota da melodia maravilhosa que Esme adorava.

“Posso tentar tocar?” Estava curiosa para ver se conseguia tocar piano.

“Sabe tocar?” Edward ergueu uma sombrancelha quando Esme e Carlisle


sorriram para mim.

“Na verdade não... Mas acho que consigo...” Observei-o atentamente para
decorar cada tática e movimento.

“Ok... Tente!” Edward levantou-se e cedeu o lugar ao piano.

Tremi um pouco com os três me avaliando e sem mais nem menos, minhas
mãos deslizaram pelo piano. No começo o som foi confuso, porém, a imitação
da ‘Favorita de Esme’ estava quase perfeita. As notas eram quase todas iguais,
me atrapalhei um pouco no final, mas todos pareceram gostar e cheguei a ver
os olhos de Esme brilhar no seu rosto de coração.

“Tem certeza que não sabia tocar piano?” Carlisle perguntou com um sorriso
orgulhoso.

“Sim... Apenas ouvia os outros nas festas...” Tentei humildade.

“Parece que Edward não é o único que tem um talento aqui...” Esme sorriu e
me abraçou fortemente.

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Esme, minha boa e nova mãe, eu sei que seria assim como ela, assim que
tivesse um bebê.
Quando tive esse pensamento, Edward me olhou de forma diferente, com uma
certa angustia e de repente todos se voltavam para mim.

“O que houve?” Questionei.

“Carlisle, Rosalie ainda não percebeu todos os detalhes da vida como


vampira...” Edward voltava-se para nosso pai.

“Como assim?” Ele ergueu a sombrancelha da mesma maneira de Edward.

“Ela não compreendeu certos detalhes... Sobre como funciona nosso corpo e
que não podemos desenvolver funções humanas... Como hormônios e tudo
mais...” Edward explicou.

“Há... Bem...” Carlisle olhou-me preocupado “Acho que não esclareci tudo da
maneira correta, você deve estar pensando algumas coisas erradas. Pois bem, o
que quero dizer, Rosalie, é que o corpo dos vampiros é totalmente diferente,
nosso odor, alimentação e pequenos detalhes como o funcionamento dos
nossos sistemas. E nosso corpo será eternamente da maneira que fomos
transformados, ou seja, não haverá modificações, portanto, uma mulher da
nossa espécie não pode ter o corpo mudado, e nem um ciclo menstrual, já que
não é necessário, e assim... Vampiros não podem conceber filhos...” A voz
dele morreu ao terminar a explicação.

“Não poderei ser... Mãe?” Meu coração que não batia se apertou e
transformou-se em pedra.

“Desculpe... Não” Carlisle me olhou cheio de pena e Esme parecia a ponto de


derramar-se em lágrimas.

“Tudo bem... Então, podemos transformar uma criança?” Meu desespero


surgiu.

“Sinto muito, mas isso também é contra as regras do que somos. E você se
lembra da dor da transformação, como acha que uma criança enfrentaria
isso?” Realmente a transformação era uma experiência inesquecível.

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“Uma criança que esteja em estado terminal em algum hospital, você deve
conhecer alguma Carlisle e não terá problema, é uma nova vida saudável não
é?” Ele jamais mudaria alguém que tivesse outra chance, então segui as
opções.

“Transformar uma criança em imortal certamente traria os Volturi e


morreríamos por isso...” Ele iniciou “Há muito tempo, vampiras
transformaram muitas crianças, já que não podiam ter filhos. E realmente,
eram os bebês mais lindos e adoráveis que existiam no mundo, verdadeiros
anjinhos, translúcidos, de olhos avermelhados e muito, muito, muito
simpáticos, encantavam a todos. Mas, assim como nós, eles também não
envelheciam e como vieram para essa vida muito cedo, não eram capazes de
se desenvolver, então, não podiam esconder nosso segredo, que era a regra
majoritária. E quando estavam com sede, aniquilavam todo um vilarejo e eram
fortes demais para serem impedidos. Com isso, os Volturi proibiram a todos
de criar essas criaturinhas, já que é morte na certa” Carlisle concluiu a regra.

Minhas esperanças se foram, minhas opções foram bloqueadas e não havia


nada que eu pudesse fazer para ter esse caminho. Jamais seria mãe.
Meu mundo não era esse, jamais teria uma parte de mim novamente, qual o
valor de uma mulher sem um filho? Já não bastava tudo o que passei, tudo o
que sofri, pra quê adicionar essa dose de veneno na minha bebida quase
purificada?
Eu precisava refletir sobre essas novas condições e minha garganta queimava
com a abstinência de sangue. Era hora de caçar, liberar meus extintos
selvagens sem ninguém por perto para me frear. Era a hora exata de ser uma
vampira. Edward percebeu meu silencioso pedido e afastou-se com Carlisle e
Esme.
Preparei-me para a caçada e corri sem olhar para trás, era uma simples
competição com o vento, e obviamente eu venceria.
Os passos abafados dos medíocres herbívoros estavam em minha mente, meu
corpo ajustou-se como de reflexo e em segundos, diversas carcaças jaziam
mortas aos meus pés.
O elixir da vida escorria quente e saboroso por minha garganta, preenchendo-
me de energia vital. Vampiros só podem sobreviver na imortalidade com a
energia vital de outros seres, assim, nada se perdia, era uma vida pela outra e
sempre o melhor vencia.
Após algum tempo nem mesmo os animais eram capazes de me distrair, o
sangue já não era tão necessário. Ouvi o ruído de alguém se aproximando,

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provavelmente cem metros de distância. Girei meu corpo em movimento de
defesa, pronta para aniquilar qualquer um que ameaçasse minha paz.
Foi então, que junto com o vento, surgiu uma silhueta. No escuro tudo o que
pude perceber eram os olhos ouro, o dourado liquido existente, e com isso o
entendimento de que fui seguida por um Cullen.
Relaxei meus músculos e sentei-me no chão, esperando algumas palavras sem
valor que viriam a seguir para tentar me fazer uma pessoa melhor.
De quem seriam os olhos amarelados? Carlisle querendo ter uma conversa de
Doutor para paciente inconsolável? Edward, para dizer que já passara por isso
e me entendia?
Errado! Esme... Os cachos caramelados em torno do amável rosto em formato
de coração. Era perceptível que ela estava tão sem palavras quanto eu. Ela
aproximou-se e chegou a distância de dois metros para me olhar
profundamente.

“Posso me juntar a você?” Seus olhos dourados penetraram meu ser.

“Nada que você diga irá curar a dor que sinto” Fui direta, para evitar
embromações.

“Queria que soubesse que para min, você é uma garota maravilhosa, e lhe
considero uma filha adolescente e... Rebelde” Ela sorriu.

“O que quer realmente?” Não queria magoá-la.

“Sei que não quer voltar para casa agora, entendo o que sente, já perdi um
filho” Ela olhava as estrelas com brilho nos olhos.

“Já perdeu?” Por essa eu não esperava. A mulher forte em minha frente tinha
um ponto fraco.

“Vou lhe contar a minha história... Se você quiser ouvir é claro” Esme me
avaliou.

Assenti calmamente sem mostrar interesse e ela prosseguiu.

“Eu nasci em 1895, Em Columbus (Ohio), morava com meus pais em uma
pequena fazenda, meu nome era Esme Anne Platt. Lembro-me de ser uma
garota muito agitada e brincalhona” Esme sorria com as lembranças “Quando
tinha 16 anos eu escalei uma árvore muito alta, apostando com minhas amigas

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e acabei caindo e quebrando a perna. Estava muito tarde, o céu já estava
escuro, o médico da cidade não estava no hospital, ele havia sido chamado em
outro local mais afastado. Foi então que conheci o Doutor Cullen, era um
médico muito pálido e extremamente bonito, já estava indo embora da cidade
e cuidou da minha perna muito bem, ele me distraia durante a operação e eu
via em seus olhos cor de ouro o quanto ele gostava deste trabalho. Ele saiu
depois de alguns dias e sempre me lembrava dele, me apegava às memórias
quase esquecidas” Ela pausou e me fitou, eu sorri para ela e então prosseguiu
“Meu sonho era mudar para o Oeste e ser professora em uma escola nobre
dali, porém, meu pai dizia que uma moça decente não podia morar sozinha no
meio da floresta. Todas as minhas amigas haviam se casado e meu pai me
pressionava para fazer o mesmo. Depois de alguns dias, apareceu o filho de
um amigo da família – Charles Evenson – E queria casar-se comigo, meu pai
me forçou a aceitar, assim, em 1917, com 22 anos casei-me com esse homem,
adotando o nome de Esme Anne Evenson” Ela parou e respirou fundo.

“Se for muito difícil não precisa contar” Informei.

“Não, tudo bem minha querida...” Esme apertou minha mão e continuou
“Depois do casamento, notei que Charles era diferente, ele me tratava muito
bem em público, contudo, em casa ele me batia e me forçava a muitas coisas.
Pedi a ajuda de meus pais e eles me aconselharam a ser uma boa esposa e não
contar nada a ninguém. Segui o conselho deles e depois, Charles foi
convocado para a Primeira Guerra Mundial e me senti completamente
aliviada. Alivio que durou menos de dois anos, porque ele voltou mais
violento; alguns meses depois, além das dores que ele me causava, comecei a
passar muito mal, e descobri que estava grávida, eu não poderia deixar que
meu filho nascesse num lugar assim, por esse motivo, em 1920, fugi de casa e
fui morar com um primo de segundo grau que vivia em Milwaukee. Meus pais
me encontraram, e novamente escapei, indo para o norte. Foi muito fácil me
disfarçar de viúva, já que a guerra tinha deixado muitas mulheres daquela
cidade assim. Consegui me tornar professora e ensinava as crianças em uma
pequena comunidade em Ashland. Enfim, meu bebê nasceu, era a criança mais
linda, mas tinha muitos problemas de saúde e vivia internado, isso tudo
ocorreu em 1921, meu filho pegou uma infecção pulmonar com apenas três
dias de vida e não resistiu, ele acabou morrendo e eu me sentia morta junto
com ele” Seu olhar era de dor, seus olhos incapazes de chorar demonstravam o
sofrimento dela.

“E o que aconteceu?” Minha curiosidade cresceu.

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“Sem família, amigos e sem meu bebê, eu já não tinha mais nada a perder,
minha desilusão dominou minha mente e pulei de um precipício em busca da
morte. Fui levada para o hospital da cidade com o coração quase parando, e
não podendo me recuperar, levaram-me diretamente ao necrotério. Pensei que
morreria, mas meu corpo começou a queimar tanto, que o fogo era
insuportável. Quando o fogo cessou, abri os olhos e vi Carlisle, com a mesma
aparência que tinha dez anos antes, senti novamente um alivio e percebi as
diferenças da minha nova vida. Carlisle me explicou tudo o que sabia e fiquei
feliz em saber que passaria a eternidade com o homem que sonhei durante
uma década. No entanto, Carlisle tinha criado Edward, e eles pareciam Pai e
filho. Edward foi meio difícil no começo, e quando nos mudamos para cá, em
Rochester, ele viveu um tempo sozinho, era muito rebelde, mas voltou. Ele me
aceitou como mãe e eu fiquei feliz em tê-lo como filho, mas ele era tão triste
que pensei que fosse a falta de uma companheira, ao final, encontramos você,
ou melhor, Carlisle encontrou e essa é toda a história. Agora, peço que me
aceite como sua verdadeira mãe...” Esme sorriu amigavelmente e percebi toda
a dor que era para ela não ter um bebê verdadeiro, e sua vontade de ter filhos
era tão grande quanto a minha.

“Serei sempre sua adolescente rebelde” Sorri e abracei-a com todo amor que
pude reunir por essa mãe de ouro.

“Sinto muito minha menina, mas não quero vê-la triste por isso” Ela
sussurrava para mim.

“Já estou bem melhor mãe...” Seu rosto iluminou-se ao ouvir essas palavras.

“Rosalie, sei que é muito cedo, mas eu realmente a amo como se fosse minha
verdadeira filha” Ela explicava.

“E eu a amo como se fosse minha verdadeira mãe”.

Esme era muito mais do que uma mãe; era uma mulher incrível e admirável,
prometi a mim mesma que jamais desapontaria ela de novo e decidi aceitar
Carlisle como pai, contudo, recordei-me da explicação dela sobre Edward ser
sozinho e não sabia a maneira certa de aceitá-lo, como um irmão, devido aos
pais, ou como um companheiro. Eu tinha certeza que o tempo me daria a
resposta, e tempo eu tinha de sobra.
Chegamos em casa e notei as expressões de preocupação dos dois Cullen.

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“Relaxem garotos, está tudo bem” avisei.

Carlisle veio ao meu encontro e me envolveu em um apertado abraço e


Edward apenas acenou como quem diz ‘Seja oficialmente bem-vinda’, retribui
o aceno e me dediquei a minha eterna família. Meu pai-salvador e minha mãe-
de-Ouro.
Essa harmonia prolongou-se durante dias e em relação a Edward, nada havia
mudado, ele me tratava normalmente e eu me questionava se ele me queria ou
não.
Estava muito escuro, e percebi que Carlisle e Edward discutiam, concentrei-
me na conversa e percebi que era sobre o assassinato de Royce. Carlisle estava
nervoso pela exposição que eu deixara.

“Seu pai está nervoso...” Esme surgiu e me encarou.

“Era necessário... Ele merecia isso” Contra-ataquei.

“Tudo bem, estou do seu lado, mas acho melhor resolvermos isso de forma
pacifica” Ela colocou a mão em minha cintura e descemos para a pequena
reunião.

Fomos para a sala de estar, sentei-me perto de Esme, ela começou a acariciar
meus cabelos e me senti como uma garota mimada enquanto aguardava a ira
do pai.

“Rosalie” Carlisle chamou minha atenção “É muito importante nessa família


não termos segredos...” Ele olhou para Edward e continuou “Apesar de
respeitarmos a privacidade uns dos outros, privacidade absoluta é
praticamente impossível nesta família...”.

“Sem dúvida” Concordei encarando Edward; era obvio que não se podia
esconder nada dele. Ele leu meus pensamentos e soltou um suave sorriso.

Carlisle retomou a atenção “Preciso deixar isso perfeitamente claro, eu não


concordo com seus atos contra aqueles homens, mas eu não a impediria
também...”.

Eu e Edward encaramos Carlisle assustados com seu comentário, era algo


totalmente inesperado. Jamais imaginei que ele cooperasse com algo assim.

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“Estou apenas dizendo que não podemos ter esse tipo de segredos. Algum
aviso teria sido melhor, já que agora teremos que nos mudar”.

A reunião terminou e notei que não existiam mágoas pelo que aconteceu, nos
mudaríamos e resolveríamos nossas vidas novamente. Despedi-me de
Rochester, sabendo que tudo de ruim estaria para trás junto com a cidade,
agora seria a vida nova, com minha nova família e novo lar.
Empacotei todos os meus pertences rapidamente, enquanto os outros também
o faziam.
Demorei-me em alguns objetos: um cordão de ouro com um lindo pingente,
uma pedra em forma de coração e uma Rosa Cristalizada. Tudo o que ainda
existia da antiga Rosalie, e agora, oficialmente seria tudo lembranças, as
melhores lembranças de uma antiga vida.
Guardei os pequenos objetos e me concentrei em outro maior, um vestido
branco maravilhoso, um verdadeiro sonho destruído, uma ilusão vingada, um
companheiro de guerra. O único tecido que me deixou esplendorosa, como
uma rainha do gelo. Agachei-me num canto e abracei o frágil símbolo de
união, afaguei-o lentamente e continuei ao ver Edward entrando no quarto e se
agachando ao meu lado.

“Você entende que não pode ficar com isso?” Ele perguntou com certa aflição.

Suspirei “Oh, eu sei, mas foi tão adorável enquanto durou” Olhei para ele
“Você não acha que eu fiquei linda nesse vestido?”.

Ele demorou a responder, mas enfim falou “Sim, é um vestido muito bonito”
Não pude deixar de perceber que sua resposta foi sobre o vestido e não sobre
mim.

Edward Cullen não me achava bonita e não me achava digna de ser uma
companheira. Sorri falsamente por seu comentário.

“Venha” Ele ofereceu a mão para me levantar “Eles estão esperando lá fora”.

Levantei com seu apoio, peguei minhas coisas também com sua ajuda e
descemos as escadas observando nossos pais. Fiquei observando Carlisle
cobrir os pisos de querosene e retirar os pertences de casa. Esme e Edward me
levaram para fora, e consegui ouvir o riscar do fósforo que incendiou uma
formosa casa branca. As chamas eram uma combinação de cores, havia azul,
amarelo, laranja, vermelho entre outras... Era um festival flamejante.

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Olhei para Edward e sussurrei “Eu deixei o vestido lá... Mas fiquei com isso!”
Mostrei o pequeno botão de metal que certa vez ele havia me entregado. Era
uma outra lembrança. Que descrevia a superação de um sofrimento e o fim de
um pesadelo.

Ele me olhou atentamente e balançou a cabeça; perdido em pensamentos. Não


éramos companheiros, mas éramos grandes irmãos.
Era hora de seguir em frente e viver a imortalidade.

Carlisle apareceu “Estão prontos?”.

“Sem dúvida nenhuma, sim!” Sorri comigo mesma pela resposta.

Entramos no pequeno carro roubado recentemente e nos direcionamos para a


cidade de Apalaches, uma escolhida por Edward, com muitas montanhas e
leões - seu alimento favorito - Ouvi dizer que era um maravilhoso lugar e um
pouco chuvoso, seria bom para esconder nossa identidade.
Carlisle dirigia velozmente e o caminho mudava muito: estradas, terra,
árvores, lojas e... Montanhas!
Era mesmo um cenário muito belo, e minha excitação era imensa. Esse era o
primeiro lugar que eu ia em dezoito anos.
Para despistar os humanos, teríamos que escolher nosso grau de
familiaridade, pois, de certo modo, éramos parecidos, por sermos pálidos,
belos e de olhos dourados – exceto eu, com olhos rubis escuros – Todos
pensávamos sobre isso.

“Podemos dizer que Carlisle e Esme são marido e mulher e que nos adotaram
como filhos” Edward expunha sua idéia.

“Interessante Edward, podemos tentar” Carlisle respondia.

“Sendo adotada, posso usar meu sobrenome, já que não sou uma filha
autêntica” Sorri por permanecer com minha pequena humanidade.

“Se todos concordam, por mim tudo bem” Esme finalizou a classificação
familiar.

Incrivelmente, Carlisle havia arranjado uma casa enorme e isolada, era com
dois andares também e sua frente era antiga na cor azul, as janelas eram

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grandes e havia um pequeno jardim com uma fonte que mantinha a estátua de
um anjo com asas enormes derrubando água de seu jarro para as rosas abaixo.
Era uma casa deslumbrante e notei a vontade de Esme de arrumá-la à sua
maneira.

“Como conseguiu essa casa?” Minha pergunta era boba, mas tinha que saber a
resposta.

“A maioria dos humanos acredita em tudo o que dissemos, então,


simplesmente disse que essa era a casa de meu avô e pronto, o lugar foi
preparado para nossa chegada” Carlisle informou presunçoso.

“É um lugar fabuloso” Revelei.

“E melhor... Há uma variedade enorme de animais aqui!”.

“É melhor eu conferir então...” Demos uma risada e corri floresta adentro.

O cheiro dos animais desse local era melhor, mais apetitoso, acredito que era
por serem carnívoros. O vento trouxe o melhor aroma de todos e meus olhos
focaram-se no felino distante e perigoso que também caçava.
Observei que o animal movimentava-se da mesma forma que eu, cauteloso e
decidido. Enquanto o felino se dirigia ao enorme alce, eu me aproximava sem
chamar a atenção.
Depois de esperar tanto afundei meus caninos na formosa pantera negra e seu
sangue era o melhor que eu já provara. Deslizava graciosamente para o meu
interior.
A pantera se debateu, rasgando minha roupa, mas no fim a vitória era minha.
E o prêmio foi realmente gratificante. Essa simples pantera conseguiu me
deixar extasiada e satisfeita.
Esme, Carlisle e Edward me encontraram e observaram meu prazer.

“Acho que encontramos seu animal favorito no fim das contas” Edward
brincou.

“E qual é o seu?” Eu já sabia, mas queria ter certeza.

“Um enorme leão das montanhas!!!” Ele disse mostrando os braços fortes.

A caçada terminou e voltamos para desfrutar nosso novo lar.

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Capítulo 9 – Entre o Amor e a Morte
Como era previsto, Esme reformou toda a casa à sua maneira. Carlisle virou o
melhor médico da região, Edward continuou sendo um músico solitário e eu
me tornei a garota mais bonita da pequena cidade.
Não aparecíamos muito em público – exceto Carlisle – para não levantar
suspeitas, nosso disfarce estava esplendido.
As pessoas dessa cidade eram muito calmas e não se preocupavam com nada,
assim como a própria cidade, que também era muito tranqüila. Não havia nada
para fazer, então, basicamente meu passatempo era caçar.
Permanecemos nessa monotonia por alguns meses, até que Edward e eu
encontramos algo para nos ocupar, algo que até então nunca havia despertado
minha atenção: Carros!
Carlisle estava recebendo um salário muito alto, pois, trabalhava em três
hospitais diferentes salvando vidas, já que ele não precisava dormir. Como ele
sentia-se culpado por sua ausência nos presenteou com automóveis. Edward
ficou com um modelo mais sofisticado, um Landau enorme na cor preta, e eu
com um carro acolhedor, um Doger da mesma cor, era espantoso o quanto
aprendíamos rápido. Com o manual e duas tentativas já dirigíamos de forma
encantadora. Nós dois aprendemos o prazer da velocidade em quatro rodas.
Passávamos a maior parte do tempo em corridas pelos campos de Apalaches.
Outra habilidade que descobri foi a de consertar carros. Nenhum defeito me
passava despercebido, eu havia nascido para isso. Era muito fácil usar as peças
e deixá-las em harmonia com o automóvel.
Nossa família agora era formada por diversos profissionais: Carlisle (Médico),
Esme (Arquiteta e Engenheira), Edward (Músico) e Eu (Mecânica). Éramos a
‘família modelo’.
Durante esses meses outra coisa havia mudado em minha imortalidade. Os
olhos rubis agora mantinham o mesmo ouro líquido que se percebia nos
Cullen. Minha beleza era algo magnífico, compensador e penetrante.
O ano passou maravilhosamente bem e ainda sem suspeitas sobre nossa
verdadeira identidade.

81
Outro ano surgiu com mudanças perceptíveis, sendo no clima, na atmosfera,
na fauna e na flora. A terra era uma constante mudança, que não se percebia
com olhos humanos.
Mesmo com todas as boas mudanças, havia uma coisa que nunca mudava: A
solidão. A falta de um companheiro.
Edward ainda não exibia interesse por mim e eu me sentia insegura para
tentar algo. Preferi continuar esperando...
Dias se passaram e nada ocorreu. Carlisle estava de folga e resolvi falar um
pouco com ele, sobre coisas comuns, pois sentia sua falta.
Caminhei até seu escritório e percebi que ele falava com Edward, permaneci
em silêncio e me atentei na conversa.

“Como você está se dando com Rosalie esses dias?” Carlisle perguntava, e era
a justa pergunta que eu ansiava pela resposta.

“Estamos civilizados se isto for o que você está perguntando” Edward


respondeu calmamente fazendo Carlisle rir.

“Quando encontrei Esme pela primeira vez, ela tinha dezesseis anos. Apenas
uma criança... Realmente não sabíamos que nos amávamos até que eu a
encontrasse naquele dia no necrotério” Eu já conhecia essa história.

“Você tem um ponto, Carlisle?” Edward interrompeu bruscamente.

“O meu ponto é, às vezes leva tempo...” Senti que faltava algo na frase,
porém, permaneci imóvel.

Passaram-se alguns segundos antes de Edward responder “Não amo Rosalie


dessa maneira, Carlisle. Ela é apenas uma irmã para mim. E você sabe que sou
leal a esta família”.

Meu petrificado coração sentiu o impacto das palavras com uma pressão
esmagadora, os pedaços foram se afastando lentamente e eu já não sabia se
seria capaz de recompor meu ser.

“Sei” Carlisle continuou a conversa com a voz decepcionada.

“É por isso que você a acolheu?” Essa era uma excelente pergunta.

“Não, não... Apenas esperava...” Ele tentou se defender.

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“Você esperou mal... Não preciso de uma companheira, não interfira
novamente” Edward falou de forma rápida e nervosa e saiu do escritório.
Encostei-me na parede com a mão sobre meu coração, tentando parar a dor da
rejeição. O vento soprou revelando Edward ao meu lado. Não queria ver seus
olhos dourados e frios, suspirei com dificuldade e encontrei as palavras.

“Você não me acha linda?” Minha voz era tão fraca que tudo não passou de
um sussurro.

“Rosalie... Claro que você é linda, do seu próprio jeito. Eu teria de ser cego
para não ver o quão linda você é. Mas não a amo. Sinto muito” Ele respondeu
e saiu em direção ao quarto.

Tudo o que restava do meu coração transformou-se em pó. Eu não era digna
de amor, de que adiantava a beleza então? Royce não me amou também... A
maldição da minha beleza... Ela não permite nem que Edward me ache
atraente... Eu era a beleza imortal que afastava o amor.
Minha mágoa não me deixava fazer muita coisa, o automóvel tornou-se outro
objeto inválido. Eu precisava caçar e esquecer um pouco do mundo.
Esme e Edward quiseram me acompanhar na caçada, mas eu precisava me
isolar um pouco, precisava de um tempo de privacidade para refletir, sendo
assim, resolvi caçar no campo oposto ao deles.

Três panteras já não faziam mais parte desse mundo quando terminei minha
caçada, sentei-me ao lado das carcaças e depois me deitei no gramado.
O sol tocava minha pele, revelando pontos brilhosos de diamante que não
chamavam mais minha atenção.
Não havia mais tempo para adiar, estava na hora de voltar... Tentei fazer um
outro caminho, um que era longínquo e me daria mais tempo. As árvores
passavam lentamente por mim, os pássaros se encolhiam com a minha
presença, eles sabiam que o predador passeava pela floresta.
A brisa forte levou meus cachos para trás e trouxe consigo um aroma doce e
chamativo; pensei que o aroma da pantera era o melhor, mas sem dúvida, esse
animal deveria ser o mais apetitoso. Mesmo tendo me alimentado bem, o
cheiro que surgiu chamava por mim. Segui seu rastro com passadas longas e
um sorriso se formava enquanto o cheiro ficava mais forte e mais convidativo.
De longe, percebi que o cheiro vinha de um urso pardo enorme que eu
visualizava de costas. Isso era estranho, porque todas as vezes que eu via
ursos, não sentia o cheiro deles tão apelativo desse jeito, esse urso era

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diferente. Mas, sendo um animal, era hora de agir, preparei-me para a
investida, passei a língua nos lábios ressecados e encarei minha presa.
Meu fascínio virou pânico quando meu olhar captou toda a cena.
O cheiro convidativo não vinha do urso, vinha da presa do urso, e essa presa
era proibida para mim. O Urso atacava um homem, um humano, o único
sangue que me era vetado, e clamava meu nome, fluía fortemente pelas feridas
e caia na grama enquanto o homem se contorcia em dor. Ele era forte, com
muitos músculos, cabelo cacheado, e cheirava muito, muito, muito bem. Virei-
me de costas, era necessário sair dali, eu não conseguiria agüentar mais tempo.
Dei um passo e o urso ouviu o ruído, virando-se para mim e arreganhando os
dentes. Isso era um desafio, usei minha velocidade sobrenatural e o urso
perdeu todo seu sangue quando meus dentes encontraram seu flanco.
Sem perceber eu havia salvado o homem, mas era necessário sair, ou eu seria
o pior predador em seu caminho. Outra vez preparei-me para partir, ouvi um
gemido e olhei em seu rosto.
O céu tornou-se azul, o ar me queimava. Foi quando senti um calor imenso no
local onde deveria existir o órgão soberano. O pó fundiu-se e formou
novamente meu coração, que quase batia ao analisar o rosto do homem. Ele
era lindo, seu cabelo era escuro, seus olhos exalavam adoração e seu rosto se
contorcia em dor revelando lindas covinhas nas bochechas, as mesmas
covinhas que um dia eu invejei. As mesmas covinhas que se encontrava no
rosto de Henry, filho de Vera. As covinhas que faziam o mundo girar de forma
diferente. Não sei dizer o que houve, mas minha vida imortal passou a
depender desse estranho. Era necessário que ele vivesse, eu precisava ver seu
rosto saudável para afastar meus temores.
Um laço invisível passou por meu corpo, unindo-me à ele, e essa laço era tão
forte que eu sabia que era a eternidade. Se ele morresse eu morreria, eu não
queria ser a responsável pela morte desse homem com rostinho de bebê.
O que estava acontecendo comigo? Eu estava congelada, sem conseguir me
mover. Era amor? Não sei dizer, nenhum homem havia feito isso... E o único
que conseguiu deixar minhas pernas bambas estava morrendo. Era agora ou
nunca. Eu estava entre o amor e a morte.
O crepúsculo dizia que era o fim do dia, e também seria o fim de uma vida.
Uma vida que ainda não me era permitido viver.
Minha razão brigava com meu coração, pela briga parecia que tudo terminava
em empate, contudo, o homem ainda fazia caretas de dor, e seu coração fraco
dizia que faltava pouco tempo para tudo acabar. Havia pouco tempo para ele
ainda existir, e pouco tempo para o meu amor se extinguir.

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O homem gemeu alto com a dor e abriu seus olhos por um longo segundo e
verifiquei seus maravilhosos olhos, que demonstravam dor, agonia e...
Adoração?
Eu prometi a mim mesma que não seria um monstro, eu não iria transformar
esse homem apenas para o meu bem estar, era algo totalmente fora de
cogitação. Encarei seu rosto lindo pela última vez e me voltei para a floresta.
Dei um passo forçado para tentar ficar longe do maravilhoso homem de
covinhas, e logo dei outro... Seria difícil, mas eu poderia esquecê-lo. Com essa
idéia em mente, preparei-me para correr.

“É um an...?” Ele gemeu palavras desconexas.

Encarei seu rosto divino e ele pareceu sorrir.

“O que você disse?” Me ouvi perguntar.

“Você é um anjo?” Ele disse forçando ao máximo as palavras.

Um anjo? Esse homem perguntara se eu era um anjo? Como ele podia pensar
algo assim quando eu estava a ponto de matá-lo... Como ele podia confundir o
monstro que sou com uma figura angelical?
Mais do que nunca, senti a necessidade de tê-lo para mim e ficou claro que eu
faria tudo por isso.
Ele uniu suas últimas forças para dizer mais alguma coisa, coloquei meu dedo
em seus lábios para impedi-lo.

“Shh... Tudo vai ficar bem, apenas agüente firme” Disse sentindo o calor dos
seus lábios.

Levantei-o sem esforço algum, mesmo com o corpo volumoso, ajeitei-o de


modo que não pudesse ver seu sangue escorrendo, e comecei a correr,
praticamente voar.
As árvores eram apenas borrões verdes, o caminho realmente era muito
longo, o cheiro do humano me deixava louca, mas eu resistiria, por ele e por
mim.
Depois de correr quilômetros, o que me pareceram horas pelo sacrifício,
encontrei a formosa casa de cor azul-clara.
Já não conseguia respirar – o que não era preciso – mas era algo inevitável.
Usei toda a minha força e entrei pela porta, derrubando metade da antiga

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madeira. Carlisle era o único que estava na sala e me encarou de maneira
desconcertante. Sem dúvida, ele já sabia o motivo da minha chegada.

“Carlisle, não me culpe, mas, por favor, faça isso” Eu sussurrava já sem
forças, mostrando o enorme homem nos meus braços.

“Rosalie... Eu não posso” Ele respondia.

“Por favor, Carlisle! Eu imploro a você!” Supliquei para poder manter o amor
da minha vida ainda vivo.

Percebi Edward entrando na sala e me encarar de forma estranha. Ele


observava meu vestido com manchas de sangue e dirigia o olhar para o
homem deitado em meus braços, que gemia de aflição e dor.
Seu olhar percorreu cada ferida do moço, e percebi que ele analisava quem
seria o causador de tal feito, eu ou um animal.

“Por favor” Implorei novamente para o doutor “Nunca pedi nada a você
Carlisle. Agora peço esta única coisa. Por favor, o transforme” Eu sentia meus
olhos queimarem lutando para poder chorar. Meus pensamentos não se
controlavam e eu repetia para mim mesma “Ele é quem eu estive
procurando... Seu cabelo encaracolado... Suas covinhas... Não posso deixá-lo
ir...”.

Carlisle me encarava sem saber o que fazer, ainda refletindo e Edward parecia
estar meditando, olhando para o horizonte. Será que eles não percebiam que
enquanto faziam isso o meu amor morria? O que eu precisava fazer para
acordá-los? Encarei o rosto do homem em meus braços e deitei-o no chão,
preparando-me para lutar, caso fosse necessário.

Carlisle me encarou gentilmente “Você conhece esse humano?”.

Que tipo de pergunta era essa nesse momento? “Não, juro que nunca o vi na
minha vida... Nem ao menos sei seu nome...” Informei-lhe.

“Emmett McCarty” Edward falou.

Carlisle e eu olhamos para ele surpresos por saber de tal fato.

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“Esse é o nome que ele continua repetindo em sua mente: Emmett McCarty.
Agora você realmente conseguiu. Você foi trazido a Deus por um anjo para
ser julgado... Parece que ele pensa que somos divindades” Edward passou o
relatório e sorriu.

De fato, eu não estava enganada, ele me considerava realmente um anjo e


achava que Carlisle era Deus!

“Ele pensa que sou um anjo...” Isso era algo maravilhoso, encarei o doutor
outra vez com os olhos selvagens “Você têm de transformá-lo agora. Por
favor, farei qualquer coisa, apenas o transforme!”.

Carlisle ainda relutava e visualizei Edward revirar os olhos e enfim, fez algo
inimaginável.

“Ah pelo amor de Deus... Vá em frente e o transforme, Carlisle. Ele está


sangrando por todo o tapete branco de Esme”.

Sorri para Edward e Carlisle entendeu prontamente, levando os caninos para o


pescoço de Emmett. Ele reagiu de forma bruta, contudo, o veneno começou a
penetrar em seu sistema sanguíneo e seu coração acelerou-se.

Percebi que a dor estava consumindo-o pouco a pouco, como fizera comigo.
Eu sabia exatamente como ele se sentia, o fogo ardendo em suas veias, a
queimação real em seu corpo, os pulmões explodindo, mesmo assim, ele
aceitava a dor e não demonstrava. Apenas olhava para mim e forçava um
sorriso. Ele era um homem muito forte, batalhador, adorável, amável e
bonito... E... Era melhor abandonar esses pensamentos, pois, eu não sabia se
após a transformação ele me aceitaria por ter feito algo tão cruel, por ter
transformado sua vida em um poço obscuro de imortalidade inútil.

Edward, Esme e Carlisle foram caçar e eu me recusei a sair de perto do meu


Emmett, eu precisava sofrer, precisava passar por isso para vê-lo vivo e
sorrindo apenas para mim. Eu agüentaria a abstinência de sangue por quanto
tempo fosse necessário. Eu seria forte, assim como o homem que agüentava a
dor em silencio na minha frente.

Permaneci aproximadamente doze horas encarando seu belo rosto e


decorando cada detalhe de sua face, prendendo-me especialmente ao modo
como seus bochechas levantavam e revelavam formosas covinhas. Verifiquei

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que seus olhos castanhos ficaram mais escuros e o contorno avermelhado se
aproximava da retina. Percebi seus lábios grandes e cheios curvando-se em
sorrisos ao me olhar.
Esme surgiu com algumas peças de roupa e me encarou com a familiar
compaixão.

“Sei que não quer sair de perto dele, então preparei essas roupas para você
minha querida. Logo vai passar, resista firme, tudo vai dar certo. Estarei lá em
cima, caso precise de mim” Ela sorria e desfilava pela casa.

“Obrigada mãe” Sussurrei e soube que ela havia escutado, pois me lançou um
outro olhar antes de subir as escadas.

Durante quatro dias observei meu Emmett sofrer, durante quatro dias sofri
com ele e minha família compartilhou minha dor. Durante 96 horas não fiz
nada além de cuidar do meu salvador. Salvador porque fez essa minha
imortalidade fazer sentido. Enfim, toda a dor havia acabado. E eu já não
estava entre o amor e a morte. Agora eu me encontrava entre o amor e a
incerteza, isso porque, eu já o amava, mas não sabia dizer se ele sentia o
mesmo por mim.

Emmett McCarty levantou o corpo escultural e me lançou um olhar desejoso


com seus olhos vermelho-sangue. Seu sorriso iluminou minha vida e notei que
ele também me amava.

“Você está bem?” Tentei conversar com ele.

“Estou muito, muito bem minha anja” Ele sorriu maliciosamente.

“Hora do almoço então” Peguei sua mão e corri para a floresta.

Eu precisava caçar, e ele por ser um recém-criado também precisava. Emmett


mostrou que dominava seus instintos e acabou com três ursos que estavam em
um período pós-hibernação. O desafio era algo atrativo para ele, e seus
músculos deram-lhe uma vantagem enorme.

Fiquei contente em compartilhar o ‘almoço’ com ele e voltamos para casa


para a apresentação formal à família Cullen.

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Edward tocava como sempre seu piano de calda. Carlisle e Esme olhavam
para nós esperando as apresentações.

“Emmett, esses são Carlisle e Esme Cullen, meus pais... Pai, mãe... Esse é
Emmett McCarty”.

“Seja bem-vindo à nossa família Emmett... Claro, se quiser...” Ambos


disseram.

“É claro que quero ficar com a família da minha anja, obrigado sogrinhos” ele
respondeu sorrindo.

Se houvesse sangue em minha face, eu estaria ruborizada. Notando isso,


Emmett mostrou os dentes reluzentes maliciosamente.

“Tratarei você como um filho” Esme irradiou-se com seu novo ‘filhinho’.

“E eu te tratarei como uma mãe...” ele respondeu o óbvio.

Caminhamos para a sala, que estava com o som maravilhoso causado pelos
dedos de Edward em contato com as teclas do piano.

“Minha nossa, quem é o garoto no piano?” Emmett perguntou e Edward


virou-se com muita agilidade em nossa direção, fazendo Emmett recuar um
passo e mostrando um sorriso.

Emmett e eu observamos o olhar de repreensão que Carlisle e Esme deram à


Edward, e permanecemos nesse silêncio por alguns segundos. Emmett exalava
concentração, tentando entender o que acontecia na sala. Achei melhor alertá-
lo do que eu sabia.

“Emmett, querido... Aquele é Edward. Seja cuidadoso perto dele, ele pode
ouvir sua mente”.

Olhei para Edward de forma bruta e ele revirou os olhos ao se levantar.

“Ah, é?” Emmett sorriu “Que número eu estou pensando?” Ele perguntou e
enrugou a testa, obviamente tentando confundir Edward.

Edward cruzou os braços e levantou o queixo aproximando-se de nós.

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“Bem-vindo à família, Emmett. Vinte e cinco. Você terá muito o que
aprender, dezesseis. Há regras que você precisa seguir, quarenta e três. Se
você pisar fora da linha, irei forçá-lo a lidar com as conseqüências. Sete, trinta
e oito e o último número foi dezessete” Edward sorriu ao terminar de saldar o
novo inquilino e dizer todos os números que se passou pela cabeça de Emmett.

Emmett gargalhou “Digam-me irmão, acha que agüenta uma queda de braço?”
Desafiou.

Fiquei feliz por Edward ter aceitado tão bem, e um pouco nervosa, isso
deixava claro que Edward nunca pensara em mim como companheira,
contudo, tendo meu próprio companheiro, Edward já não era necessário.
Emmett conseguiu se destacar e se familiarizar com todos na casa de forma
surpreendente.

Depois de inúmeras disputas com Edward, as quais ele ganhou quase todas
por ser um recém-criado poderoso, a noite surgiu e o luar banhou todo o
campo com luzes noturnas e fascinantes.

“E então minha anja... Podemos ter um tempo para nós?” Emmett me


encarava com o olhar penetrante.

“Antes... Eu queria saber um pouco sobre você... Sobre o que você era quando
humano” Revelei minha curiosidade.

“Não me lembro muito bem, pareceu que está tudo meio embaçado, mas...
Basicamente, filho do meio, ótimo caçador, brincalhão...” Ele não conseguia
se descrever.

“E...?” Incentivei.

“Para que falar de mim se temos a eternidade toda para pensar em nós?” Ele
perguntou e aproximou-se, pegando meus cabelos “Minha anja” Ele
sussurrou.

Fiquei maravilhada com sua resposta e senti seus lábios cheios contornando os
meus em um intenso e vigoroso beijo. Sua língua quente dançava com a minha
e me perdi no paraíso da noite nos braços de Emmett... Meu Emmett... Meu
maravilhoso e eterno amor... As estrelas cintilaram em concordância enquanto
a lua iluminava seu rosto de homem com traços de bebê.

90
Capítulo 10 – A Lua de Mel
Emmett era tudo o que eu havia pedido e ao mesmo tempo tudo o que eu
nunca havia sonhado, pois sonho algum seria tão magnífico como o fato real
sucedido.

Permanecemos compartilhando momentos de amor durante muito tempo, eis


que uma pergunta escapou pelos meus lábios.

“Quantos anos você tem?”.

“Vinte anos, porque?” Ele franziu a testa de forma meiga.

“Curiosidade, eu tinha dezoito anos quando fui transformada e tenho dois anos
de imortalidade” Contei-lhe minha idade.

“Pra falar a verdade, eu faria vinte e um anos amanhã” Ele lembrou e


acrescentou “Pensei que faltava mais, mas esqueci que tinha ficado quatro dias
em chamas” Percebi um leve tremor percorrer seu corpo.

“Isso é fantástico, podemos fazer uma festa...” Já comecei a imaginar um


verdadeiro banquete, claro que tudo seria apenas por capricho, já que nosso
organismo não aceitava comida humana.

“Não gosto muito de festas anjinha” Ele informou com um sorriso simples.

“Ah...” Fiz um beicinho de empatia.

“Mas... Nesse caso, irei gostar muito” Emmett esforçou-se e me fez rir.

“Ok, deixe tudo comigo, vá caçar com Edward e passe algumas horas fora”
Alertei-o.

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“Mas... Vou ter que ficar longe de você?” Ele fez uma carinha de choro que o
deixou com mais cara de criança ainda, combinado com as covinhas.

“Seu bobo, só por algumas horas” Tinha certeza que poderia corar se fosse
humana.

Caminhamos até em casa e encontrei Edward ao piano.

“Edward, amanhã será o aniversário de Emmett e quero preparar algo


especial, você pode distraí-lo por algumas horas?” Pensei e percebi o discreto
aceno de cabeça em troca.

Emmett percebeu nossa conversa silenciosa e me olhou curioso, deixei-o com


Edward e subi para falar com a minha mãe.

“Esme, amanhã é aniversário do Emmett, me ajuda a fazer alguma coisa para


ele?” Tentei ser meiga.

“Claro filha, o que você quiser...” Consegui ver o brilho em seus olhos, essa
seria nossa primeira festinha.

Quando a noite caiu pedi para Edward levar Emmett para caçar bem longe e
enquanto isso eu e Esme organizávamos toda a casa, com bexigas coloridas,
enfeites, serpentinas e tudo o que havia em uma festa infantil, porque Emmett
era uma verdadeira criança, e com seu amor inocente me completava.

Tudo estava organizado, até um urso estava preso – este seria um dos meus
presentes – e havia muitos joguinhos, Emmett adoraria competir com todos.
Ao alvorecer, ele chegou com os olhos vendados e foi guiado por Edward.
A sala estava bem iluminada pelos raios de sol, e quando a venda caiu todos
preenchemos o silêncio com o famoso ‘Parabéns pra você’.

Seu sorriso se alongou, estendendo-se por todo o rosto de menino, e em seus


olhos encontrava-se fascinação, ele estava adorando tudo aquilo. Todos nos
divertimos com seu modo de ser, e todos perdemos nos joguinhos, se bem que
Edward o deixara ganhar em alguns, para não estragar seu dia especial. E eu
não me importava em ser vencedora; o melhor prêmio já era meu: Ele!
Depois de horas, ele concluiu que a festa havia acabado, porém, faltavam
alguns toques finais...

92
“Emmett... Ainda não acabou, faltam os presentes” Informei.

“Presentes?” Ele perguntou com uma carinha de bobo-alegre.

“Filho, este presente é meu e de Esme, esperamos que goste” Carlisle disse
com Esme ao lado sorrindo e entregou um grande embrulho azul.

Emmett abriu agilmente o embrulho e deparou-se com um bastão de beisebol


acompanhado da bola.

“Uou... Valeu pai, valeu mãe” Ele sorria marotamente, estava certa de que ele
aprontaria, pela cara de travesso.

“Sem mais enrolação... Esse é o meu” Edward estendeu uma outra caixa.

Logicamente todos em casa combinariam no presente, Emmett completou seu


conjunto com a luva que recebera de Edward.

“Valeu mano” Ele sorriu e mais uma vez sorriu travesso, imerso em
pensamentos.

“E por fim o meu! Está lá fora” Eu apontei para o quintal dos fundos e ele
correu em direção ao caminho indicado.

O urso era enorme e estava com uma fitinha vermelha ao pescoço com os
dizeres: Feliz Aniversário Emmett.

“Caracas... Isso é... Uau!” Ele gritou e soltou o urso preparando-se para a
perseguição vitoriosa.

Fiquei feliz por poder ter proporcionado um dia como esse para ele, depois de
tudo o que lhe tirei, era incrível que ele não me odiasse por isso; ele sem
dúvida era o melhor pedaço de mim. E eu faria o possível para retribuir na
mesma medida. Era estranho, mas meus sentimentos estavam muito intensos
em relação à ele, como se meu mundo fosse completo apenas com sua
presença. Ele era meu ar, e por ele, apenas ele, eu viveria.

Uma outra coisa que me fazia pensar era a relação de Edward e Emmett,
parecia que Edward não gostava muito do meu... Companheiro! Será que era

93
ciúme? Isso me deixava confusa, mas Emmett apagava esta dúvida quando
ficava ao meu lado.

Após a festinha de aniversário, todos ficaram muito felizes. Esme cantarolava


pela casa, Carlisle sorria sem motivo, e até Edward estava diferente, mesmo
estando tão solitário. Emmett estava um pouco estranho, perguntei-me se era
arrependimento por ter me aceitado. E num dia de esquisitices ele pediu para
caçar sozinho com Edward. Obviamente permiti, mas já me preparava para o
pior quando ele retornasse.

A única coisa que ele poderia querer perguntar ao Edward era como terminar
comigo, eu não iria prendê-lo por toda a eternidade, e se ele quisesse outra
vida, eu o libertaria, contudo, como eu ficaria? Meu coração que se encontrava
regenerado agüentaria outro destroço?
O relógio prosseguia alongando meu sofrimento, eu não queria me martirizar
desse jeito, porém, se ele não me quisesse eu não teria ninguém. Emmett era
minha razão de vida, meu homem-bebê, meu paraíso particular. Será que ele
seria capaz de deixar minha vida seca, meus dias solitários e com um inferno
próprio?

“Você esta bem filha?” Esme percebeu minha aflição e alisava meus cachos
em consolo.

“Estou sim...” Menti.

“Sabe que pode contar comigo para tudo Rosalie” Ela levantou os cantos do
lábio.

“Obrigada...” Eu puxei-a para um abraço bem apertado, do tipo que afasta


pensamentos negativos.

“Não quer mesmo me dizer?” Seus olhos de ouro inflamaram de compaixão.

“Estou me perguntando se Emmett irá me querer para sempre” Me entreguei.

“Há minha filha...” Ela apertou ainda mais o abraço “... Ele ama muito você, e
no amor existem muitos riscos, nós sempre temos que nos contentar com a
melhor parte, mas nem tudo na vida são rosas... Às vezes aparecem espinhos...
Mas acredito que entre vocês existe algo mais sério do que amor; e ele seria
um cego se não visse isso” Ela me confortou.

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“Obrigada mãe... Me ajudou muito” Eu respondi com um fraco sorriso.

“Estou aqui para quando precisar... Melhor eu ir, pois parece que você irá
resolver essa situação agora” Ela apontou para a porta, onde Emmett e Edward
entravam gargalhando.

“Rosalie, Emmett quer falar sério com você” Edward disse friamente.

Isso deixava claro que eu estava totalmente certa, o amor renegado, o coração
destroçado, o vínculo quebrado e o mundo acabado...

Caminhei até meu quarto e fui incapaz de olhar nos olhos de Emmett, ele
ajoelhou-se para me fazer encará-lo, ou assim pensei, e tirou algo do bolso.

“Eu estava pensando e... você sabe que gosto muito de você minha anja, mas
não da pra continuar desse jeito...” Ele se atrapalhava com as palavras.

Na mosca, as palavras que um homem usa para abandonar uma mulher e não
ser responsabilizado pelo ato.

“Eu quero muito mais do que isso...”.

O que? Eu não era boa o bastante para ele também? Ele queria mais do que
isso? Que tipo de pessoa eu pensei que ele fosse? Meu coração já começava a
se fragmentar enquanto ouvia a explicação desleixada que ele dava.

“E sei que você também quer, ou eu acho que quer...”.

Ele pensa que quero outra pessoa? Será que ele pensava que eu queria
Edward?

“Eu só quero você, só você e ninguém mais” Esclareci.

Ele sorriu e prosseguiu “Então acertei, você também quer isso, então... Você,
Rosalie Hale, gostaria de se casar comigo?” Ele abriu uma caixinha aveludada
com uma jóia reluzente num anel de ouro.

O choque percorreu todo meu corpo e a sensação era muito estranha, suas
palavras era confusas, eu não compreendia o que ouvira. Ele era louco? Dizia

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que não me queria e pedia-me em casamento? Tudo parecia pequenas peças e
lentamente fui juntando uma a uma até chegar à conclusão correta: Ele me
amava e eu me enganara em relação ao amor renegado. Tudo isso ocorreu em
questão de segundos, enquanto ele aguardava minha resposta ainda ansioso.

“Você é tudo o que eu quero, sim... SIM!” Ele me levantou e girou-me no ar


algumas vezes antes de nossos lábios se fundirem em um demorado beijo.

A família Cullen estava em êxtase de tanta alegria – exceto Edward que


continuava frio como sempre – O casamento foi organizado no enorme quintal
dos Cullen e Carlisle tomou a posição de poder que era conferido aos
membros da igreja.

Era o casamento dos meus sonhos, rosas por todos os lados, meu vestido era o
mais caro e com detalhes que não eram visíveis para olhos humanos. Era uma
obra de arte feita por algum vampiro. Esme empenhou-se durante dias na
arrumação da cerimônia e tudo estava impecavelmente perfeito.
Depois de muitas horas de encantamento eu me vi casada, me tornara Rosalie
Hale Cullen, isso porque Emmett abandonou o sobrenome McCarty ao tornar-
se membro da família, eu não me importei muito, pois no fundo eu sabia que
queria ser uma Cullen.

O melhor veio a seguir quando Esme, Carlisle e Edward uniram-se para nos
parabenizar.

“Rosalie, esse é um outro presente de todos nós para que sua felicidade seja
completa” Carlisle me entregou um envelope.

Sorri com profunda vontade ao ver duas passagens para Londres, e um cartão
escrito: Para a sua Lua de mel.

O avião saiu algumas horas depois do presente, minhas malas foram


preparadas em minutos; era excelente ter agilidade de vampiro. Emmett usava
lentes de contato para não levantar as suspeitas dos humanos, porém,
precisava trocá-las a cada 30 minutos. Seus olhos ainda eram vermelhos, a
lente era azul, isso o deixava com olhos lilás.
Essa cor atraiu antigos pensamentos de uma vida apagada.

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Emmett conseguia se controlar muito bem perto dos humanos, pensei que ele
causaria problemas, porque o aroma era realmente muito atrativo, e ele de
certo modo ainda era um recém-criado.

Carlisle pensara em cada detalhe. Havia uma casa em Londres para a nossa
noite de núpcias. Um hotel seria uma péssima idéia, contendo humanos
demais. A casa era grande, com muitos móveis antigos e conservava quadros
mais antigos. Era de uma cor clara, bege, ou alguma outra parecida.
E a cama ocupava quase todo o quarto. Percebi tudo isso depois de ser levada
ao quarto através dos braços de Emmett.

“É amorzinho, agora a noite começa” Ele sorriu maliciosamente.

“Pois é...” Foi tudo o que fui capaz de responder.

“Por onde começamos?” Emmett perguntou beijando meu pescoço.

“Podemos pensar nisso depois que eu tomar um banho” Falei nervosa.

“Mas vampiros não precisam de banho amor” Ele arqueou uma sombrancelha
surpreso.

“Eu sei, mas eu quero aproveitar tudo dessa casa” Menti. Eu estava nervosa
demais, e talvez, apenas talvez, a água conseguisse me acalmar.

“Tudo bem, te esperarei daquele jeito” Ele gargalhou e me senti uma virgem
tímida.

A água escorreu pelo meu corpo, mas não foi capaz de me distrair. Eu nunca
havia feito algo – pelo menos não por minha vontade – Fiquei nervosa ao
lembrar de Royce e dos amigos usando meu corpo, o quão ruim foi, o quanto
doeu. Mas eu sabia que desta vez seria diferente, porque eu amava Emmett e
ele me amava.

Desliguei o registro, coloquei uma lingerie provocativa da cor vermelha e sai


do banheiro com os cabelos ainda molhados. Emmett ainda estava
completamente vestido, entretido na programação da tv. Sua atenção mudou
de foco ao ouvir minha aproximação.

97
“Você está perfeita anja, se bem que de anja acho que hoje você não tem
nada... Se é que você me entende” Ele ria com sua piadinha.

“Fica quieto” Coloquei o dedo em seus lábios.

Ele me puxou com força e seus lábios calorosos se encaixaram nos meus. Sua
língua explorava minha boca e dançava junto com a minha com muita
intensidade. O calor dominava e enquanto o beijo esquentava sua mão descia
pelas minhas costas e segurava minhas coxas com uma certa força. Seu desejo
era perceptível.
Ele freou o beijo por alguns instantes e livrou-se da camisa, meus olhos
contornaram seu corpo musculoso e me perdi admirando seu peitoral. Ele
acompanhou meu olhar e sorriu com a dedução. Depois tirou a calça, ficando
apenas com uma Boxer branca e notei suas coxas grossas e seu corpo imenso e
desenvolvido, depois desviei o olhar ao perceber o volume que estava por trás
da Boxer.

Voltamos ao beijo caloroso e suas mãos agora eram mais fogosas. Ele
desenhou meu corpo e soltou as ligas da lingerie com os dentes. Seus lábios
passaram pelo meu pescoço, marcando o local calorosamente, e continuou
descendo, deixando-me com leves tremores onde sua língua tocava. Emmett
parecia saber exatamente o que fazer. Beijou minha barriga e voltou aos lábios
novamente.

“Acho que chegou a hora” Ele falou e retirou o último tecido que seu corpo
mantinha.

Não consegui olhar para seu membro e observei seus olhos desejosos. Ele
chegou mais perto e retirou a parte de cima da minha peça intima, liberando
meus seios. Assim, ele passou a língua lentamente, marcando os mamilos e
dando leves mordidas, ele fazia voltas e voltas me levando à loucura. Gemidos
saíram pela minha boca ao sentir seus dentes em mim, meu corpo voltou-se
para trás e ele me despiu por completa.

Seus lábios continuavam me arrancando suspiros e suas mãos ajudavam os


lábios. Ele parava para sorrir toda vez que um gemido escapava de mim. Sua
língua estava me deixando em êxtase e ele deslizou-a por minha barriga, e
chegou ao ponto que procurava, me fazendo ficar totalmente fora de controle.
O prazer era imenso e seus lábios eram ágeis. Ele endireitou o corpo e me
olhou profundamente apaixonado.

98
“Eu te amo” Ele murmurou.

“E eu amo você” Falei alegre.

Ele me deitou na cama novamente e juntou o corpo ao meu. Quase gritei


quando seu membro forçou um pouco sobre minha intimidade. Ele pausou e
avaliou minha reação. Minhas unhas reagiram nas suas costas e ele deu outra
estocada, penetrou de forma dolorosa. A dor me queimava por dentro, mas o
desejo permitia que ele continuasse.
A cada estocada era um grito e ele penetrava cada vez mais fundo, seu
membro era tão volumoso quanto seus músculos. Seus lábios movimentavam-
se pelo meu corpo e ele acelerou o ritmo, indo mais rápido e mais forte.
Vários estalos vinham da cama, mas nós prosseguimos, enfim toda a dor
transformou-se em prazer. Emmett estava me levando ao céu.
Ele mordeu a ponta da minha orelha e eu ofeguei, nos encaramos por alguns
segundos.

“Você é minha anja” Ele dizia ofegante.

“E você é o meu pedaço da eternidade” Eu gemia.

Permanecemos nesse ritmo por horas seguidas, e bruscamente ele me virou de


costas e continuou o que fazia. Ele acelerava quando me ouvia gemer e isso
fez tudo ficar mais quente.
Ele me pressionava contra a cama e seu membro entrava e saia em intervalos
variados fazendo meus gritos serem aleatórios.
Por fim, ele derramou-se e satisfeito nos encaramos, o céu já estava escuro.
Então devíamos ter levado umas onze horas na cama. Ele sorria de forma
maliciosa e eu devolvia-lhe o mesmo sorriso. Foi o melhor momento. Eu
estava completa. Emmett era definitivamente meu.

Ele continuou brincando com meus seios e sua língua travessa ainda formava
círculos por todo o meu corpo, assim como as suas mãos. Logo ele estava
rígido novamente. E eu usei minhas próprias mãos para lhe proporcionar
prazer. Massageando lentamente seu membro e vendo-o gemer. Aumentei o
ritmo da ‘massagem’ e ele foi ficando sem fôlego.
Eu massageava todo o membro dele, de cima a baixo e em locais diferentes,
isso fez com que ele logo ficasse satisfeito. Senti-me maravilhada por
conseguir fazer isso.

99
Algumas horas depois voltamos com a mesma brincadeira e meu corpo voltou
a ser todo dele, assim como ele tornou-se todo meu...

Ao amanhecer estávamos completamente satisfeitos e paramos para conhecer


um pouco a cidade.

“Anjinha, eu não imaginava que faríamos tudo isso” Emmett gargalhou


apontando para o quarto.

O estado do quarto era deplorável, a cama estava quebrada, as paredes


rachadas e os móveis desmontados, percebi que os estalos apenas alertavam o
resultado desse desastre. Emmett e eu éramos muito fortes, até mesmo na
cama. Fiquei sem reação e ele apenas sorria pelo que fizemos.

Caminhamos horas pela maravilhosa Londres, e seguimos assim durante todo


o mês, Emmett era o tipo de homem insaciável. Começávamos pela manhã e
terminávamos no outro amanhecer; claro que não possuir cansaço e
características fúteis dos humanos ajudava muito para isso. E sempre
admirávamos o local tão amado por todos e tão normal para nós. Na verdade,
Londres era o tipo de lugar simples e monótono, as pessoas eram frias,
contudo, a paisagem era o que prendia a todos, um lugar muito belo, apesar de
muitos pontos negativos. Aproveitamos ao máximo a cidade, e mais ainda a
lua de mel, enfim retornamos à casa da família Cullen, ou melhor, à casa de
minha família. Tudo estava perfeitamente normal, contudo, reparei que um
certo desânimo havia invadido a casa.

“Tudo isso foi saudade de mim? Eu não sabia que fazia tanta falta” Emmett
disse rindo.

“Pois é, você faz!” Edward retrucou ironicamente.

“Qual o motivo de tanta tensão?” Me intrometi.

“As suspeitas começaram, hora de nos mudarmos” Edward revelou.

“Perfeito, já tinha cansado daqui mesmo” Me aliviei com sua resposta.

As malas foram preparadas prontamente e apenas esperávamos por Carlisle


para descobrir nosso novo destino, novo lar e novas identidades...

100
Capítulo 11 – Malditos Lobos

A identidade seria a mesma de antes, já que havíamos obtido sucesso por


muito tempo. Esme e Carlisle seriam o bondoso casal que adotou dois
adolescentes, e a filha havia se casado com um rapaz que morava com a
família. Típico de Edward toda essa história melosa.
Depois de muita discussão, decidimos morar em Hoquaim, um local quase
sem habitantes e muito chuvoso, no estado de Washington. A cidade vizinha
era Forks, uma cidadezinha bem menos povoada.

Emmett adorou o local, o ambiente era espetacular, com uma variedade


imensa de animais, as florestas rodeavam todo o lugar e pelo visto já fazia
meses que o sol não aparecia, seria perfeito, poderíamos sair sem levantar
suspeitas. Tudo estava indo melhor do que o planejado.

Esme começou a organizar a casa da sua maneira e construiu um terceiro


andar para a casa enorme.

“Pra quê um terceiro andar mãe?” A casa já era bem grande.

“O terceiro andar é para mim Rosalie” Edward cantou vitória.

“Um andar só para você?” Quem ele achava que era? Um principezinho?

“Rosalie, não discuta com o seu irmão, ele tem o direito” Esme tentou parar a
discussão.

“Porque Edward pode ter tudo o que quer?” Senti-me uma criança, mas era a
verdade.

“É só um andar Rosalie, não tem pra quê discutirmos” Edward retrucou.

101
“Pra você é só um andar, mas é só isso por hoje, e amanhã? Uma casa nova? E
além do mais você sempre escolhe a ‘história da nossa família’ e o lugar
aonde iremos morar, você sempre quer fazer tudo, você me irrita Edward
Cullen!” Eu estava irritada ao extremo, aquilo havia sido a gota d’água.

Emmett veio me acalmar e envolveu os braços em torno da minha cintura


sussurrando no meu ouvido.

“Amorzinho, deixe ele com o andar, imagine como você se sentiria se ouvisse
vozes durante o dia todo na sua cabeça, pensando coisas malucas e diferentes.
Até você ia querer um andar inteiro para não ficar louca” Ele explicava.

“Tudo bem Edward, hoje você venceu” Retardado, ele só poderia ser louco
mesmo para ser tão débil-mental desse jeito.

“Que bom que todos se entenderam, agora acredito que seja melhor irmos
caçar, pois já faz muito tempo que nenhum de nós caça” Carlisle ressaltou.

Seguimos floresta adentro e notei que era o melhor lugar, comparando-se com
todos em que já estive. A caça era bem fácil e todos conseguimos nos
alimentar bem. Emmett estava com os olhos cor de ônix, não demoraria tanto
e estaria dourado também. Eu me perdi ao encarar seu rosto de bebê.

“Que merda!” Emmett gritou de repente “Que cheiro é esse?”.

Percebi o que ele falava quando um cheiro horrível invadiu o ar, era parecido
com enxofre, carniça e mantimentos apodrecidos.

“Lobisomem” Carlisle sussurrou aterrorizado. O que me deixou nervosa, pois


nada assustava meu pai.

Ouvi um barulho por entre as árvores e observei a silhueta de três lobos


enormes. Eles nos observavam de forma bastante racional. Os lobos se
olhavam e Edward encarava-os de um jeito estranho, quase fascinado.
Os animais pararam numa formação em V, rosnando e exibindo os dentes
pontudos. O lobo da frente possuía um pelo marrom avermelhado e olhos
castanhos e profundos, os outros dois tinham o pelo negro e os mesmos olhos.
Será que precisaríamos lutar? Comecei a bolar um plano mentalmente.

102
O lobo de pelo marrom avermelhado avançou para atacar Edward, meu irmão
estendeu a mão e agarrou seu pescoço, ambos permaneceram por um longo
tempo se encarando, o olhar era intenso e duradouro.

“Eu poderia matá-lo com um estalar de dedos, diga a eles para se afastarem”
Edward falou apertando o animal. Os outros dois lobos pararam de avançar e
ele prosseguiu “Mas eu não vou te matar. Não significamos perigo para
vocês”.

Edward soltou o lobo delicadamente, fazendo-o se unir ao resto da matilha. E


estendeu a mão.

“Nada de problemas agora, Ephraim Black” Ele disse recuando três passos.

Os lobos estavam incrédulos assim como o resto de nossa família, eu não


sabia que Edward também podia ouvir pensamentos de animais.

“Esse é meu pai, e líder da nossa família” Ele informou apontando para
Carlisle.

“Obrigado Edward” Carlisle parou para olhar Edward e acredito que dizer-lhe
algo silenciosamente e continuou “Meu nome é Carlisle Cullen. Entendo que
vocês pensam em nós como inimigos naturais, mas posso garantir que somos
diferentes” Ele anunciava em voz alta.

Os enormes animais trocavam olhares confusos e Carlisle tratou de explicar.

“Minha família e eu não somos como outros vampiros. Nós não bebemos
sangue humano, só nos alimentamos de sangue de animais”.

Outra vez os lobos trocaram olhares e saíram para correr pela floresta.

“Que diabos foi tudo isso?” Emmett perguntou confuso.

“Shh” Edward sussurrava um alerta “Eles voltarão em um momento. Não diga


uma palavra e não faça nenhum movimento brusco, do contrário eles vão
atacar”.

“Você consegue ouvir os pensamentos deles?” Carlisle fez a pergunta que


estava em minha cabeça.

103
“Claramente” Edward gabou-se.

Carlisle analisou o rosto de Edward e percebi que era uma conversa mental.
Edward sorriu e depois fechou a mandíbula, balançando a cabeça.

Três homens surgiram no local de onde os lobos haviam desaparecido. Eles


possuíam a pele morena avermelhada e cabelos lisos e negros, estavam quase
que despidos completamente e eram muito jovens. Pararam de andar e
cruzaram os braços sob o peito musculoso. Eram eles que exalavam o cheiro
horrendo e nos encaravam exibindo ódio.

“Obrigado, agradeço sinceramente seus esforços para conversarem conosco


civilizadamente. Essa é a minha esposa Esme, meus filhos Edward e Emmett,
e minha filha Rosalie” Carlisle apontou para nós enquanto fazia as
apresentações.

“Eu sou Ephraim Black, chefe da tribo e protetor do povo Quileute” O líder
alertou de forma educada.

“Nós não queremos lutar. Nós pedimos à vocês que deixem minha mãe e
minha irmã voltarem para casa em segurança” Edward respondeu aos
pensamentos do líder.

“Emmett, Edward e eu iremos discutir os assuntos com vocês” Carlisle


ofereceu.

Os homens encararam-se demoradamente pensando na questão e por fim o


líder informou a decisão.

“Deixaremos as fêmeas irem com uma condição: Se elas morderem um


humano, então haverá guerra” Ele falou apontando para mim e para Esme.

“De acordo, como eu disse, nós não tocamos em humanos” Carlisle revelou e
virou-se para mim e Esme “Esme, Rosalie, por favor, voltem para casa.
Iremos encontrá-las brevemente”.

Encarei Carlisle abobalhada, ele não poderia me pedir isso, eu precisava ficar
ao lado do meu marido, ele ainda era novo nessa coisa de vampiro, não saberia
existir sem Emmett. Olhei de um para o outro.

104
“Não vou deixá-lo aqui, você não pode esperar que eu...”.

“Rosalie” Carlisle me interrompeu e lançou-me um profundo olhar que me fez


estremecer.

“Vamos” Esme colocou seus braços em minha cintura e foi me arrastando


para longe da floresta.

Se ele se machucar, eu os mato. Informei para Edward em pensamentos.


Assim, Esme e eu continuamos caminhando para casa com a mesma
preocupação pelos maridos e sem saber o que fazer em tamanha aflição.

Chegamos rapidamente em casa e minha aflição deu lugar ao horror, eu estava


definitivamente cheirando à putrefação, enxofre e tudo mais que incluía coisas
podres. Corri escada acima e abri o chuveiro, a água estava fraca e usei a
frágil bucha para tentar arrancar o aroma detestável de minha pele.
Eu me esfregava com tanta força que se fosse humana o sangue estaria
escorrendo aos montes.
Nada foi capaz de apagar o fedor que me inundava, eu estava a ponto de
mergulhar no cloro, ou então em algum ácido.
Ouvi perfeitamente bem a hora em que Emmett, Edward e Carlisle chegaram.

“O tratado está firmado, eles não pisarão em nossas terras se não nos
alimentarmos de humanos, o que jamais acontecerá” Carlisle explicava.

“Onde está Rosalie?” Emmett estava preocupado.

“No banheiro, já faz quase uma hora e ela não sai de lá” Esme contou-lhe.

Emmett subiu as escadas enquanto eu acabava com a miserável bucha. Ele


bateu na porta algumas vezes e esperou por minha resposta, tal que não
recebeu, pois meu nervosismo estava dominando minha mente, eu tinha
certeza que se me aproximasse de alguém iria fazer um estrago horrendo.

“Anjinha? Tudo bem?” Sua voz estava abalada.

“Não Emmett, não estou nada bem, estou cheirando à lobos fedorentos, e não
sairei deste banheiro até meu aroma floral voltar” Revelei.

105
“Ok, estarei lá em baixo se precisar de mim” Disse com uma voz angustiada.

O cheiro estava impregnado na minha pele, litros e litros de água e sais de


banho estavam inválidos na luta contra o aroma infernal. Edward começou a
tocar seu piano no terceiro andar (O andar só dele). Emmett vinha a todo o
tempo tentar me convencer de sair do banheiro, mas eu não me sentiria bem
em seus braços com esse cheiro odioso.

Três dias de água, sabonete, xampu, condicionador, sabão, e outros produtos


não foram capazes de aliviar minha tensão. O cheiro ainda estava presente.
Malditos lobos. Se um deles cruzasse meu caminho eu faria questão de
transformá-los em cachorro-quente.

“Rose! Você cheira bem!” Emmett dizia batendo na porta desesperado.

Eu não lhe dava ouvidos, estava nervosa com aqueles vira-latas inúteis. Ouvi
os passos de Esme ao lado de Emmett, e notei o momento exato em que
Edward parou de tocar o piano e desceu ao nosso andar com passadas duras e
longas.

“Onde você está indo?” Esme perguntou-lhe.

“Caçar” Ele respondeu ríspido e saiu rapidamente.

Emmett continuou batendo na porta, a madeira já estava bastante fragilizada,


então, me dei por vencida.

“Que bom que saiu desse banheiro, tem gente querendo fazer xixi à dias
sabia?” Ele zombou da minha cara e riu com a própria piadinha.

“Emmett...” Rosnei, mas Esme me envolveu num abraço.

“Rose... Queríamos falar com você, mas aconteceram tantas coisas que não
deu muito tempo. Nesses três dias que você ficou ‘ocupada’, Carlisle e eu
preparamos um ouro presente para você e Emmett, fica aqui perto, quer ver?”
Esme sorria reluzente ao contar a novidade.

Presente? O que poderia ser? Ali perto? E ainda por cima levar três dias para
preparar? Outro detalhe: Seria um presente para mim e para Emmett.

106
Carlisle e Esme nos guiaram por um curto trecho na floresta, chegamos a um
local de relva aberta com maior iluminação e percebi que o vento era cortado
naquela parte, o que dizia que alguma estrutura bloqueava sua passagem.
Maravilhei-me ao notar que o presente era uma casa enorme, com uma
discreta chaminé, tinta de cores fortes, entrada sofisticada, janelas
contemporâneas e outros detalhes que apenas enriqueciam a casa, ou melhor, a
pequena mansão.

“E então? O que acharam do presentinho?” Esme cantarolava a pergunta.

“Três andares? Eu A-M-E-I. Obrigada Esme, Obrigada Carlisle” Meus olhos


admiravam minha mansãozinha e até o aroma revoltante havia sido esquecido.

“Que bom que gostou filha, isso é para... Vocês darem continuidade à lua de
mel, nós sabemos que um mês não é realmente suficiente” Carlisle explicou a
utilidade da casa.

“É maravilhosa!” Eu já estava imaginando que eles haviam feito isso por se


cansarem de nós, queriam um tempo só deles, mas percebi que mais uma vez
estava errada. Eles eram os melhores pais do mundo.

“Vamos deixar vocês conhecerem um pouco a casa, mas não demorem muito
para voltar, pois não sabemos se os lobisomens irão se manter fiéis ao tratado”
Esme preocupou-se.

Eu mostrei-lhes meu melhor sorriso e eles voaram pelo caminho que viemos.
Emmett continuava na mesma posição analisando-me da cabeça aos pés. Sem
perder tempo, ele me tomou pelos braços e me levou rapidamente pela casa.

Ao voarmos pela casa de TRÊS andares, percebi que seu interior era múltiplas
vezes melhor do que o exterior. Esme conhecia bem o meu gosto e conseguia
deixá-lo exposto em um imóvel de maneira lisonjeira e provocativa. As mãos
de Emmett tomaram meu foco e seus lábios encaixaram-se nos meus em um
beijo muito mais intenso.

“Por que todo esse fogo?” Quis saber o motivo.

“Três dias sem minha mulher, você acha que é fácil? Olha a situação que você
me deixa” Ele gargalhou e eu acompanhei.

107
Voltamos ao beijo caloroso. Seu hálito soprava por entre o espaço dos meus
lábios e ele distribuía mordidinhas leves depois que sua língua se fundia à
minha. Com minha língua contornei seus lábios e acariciei suas covinhas.
Emmett passou a mão pelos meus cachos e prendeu meu rosto mais próximo
ao seu. Minha excitação aumentou quando mordidas foram dadas no meu
pescoço e minha boca deslizou pelos seus músculos, peitoral, braços, pescoço,
abdômen, e para provocá-lo apertei provocativamente suas coxas.

Ele foi um pouco mais ágil e num momento de distração arrancou minha
roupa e a sua própria. Emmett utilizou os joelhos para abrir um pouco minhas
pernas e ajustou-se para o ato. Olhou-me com uma feição inocente que se
torna maliciosa e após alguns segundos nosso corpos se uniram.
Cada estocada me proporcionava mais prazer, e era quase impossível parar.
Realmente doía como na primeira vez, mas a dor era companheira do prazer.
Meus seios estavam rígidos com o contato do seu peitoral no movimento de
vai e vem. Eu poderia não ser humana, mas certas coisas continuavam no
corpo dos vampiros. Eu estava molhada e ele estava todo arrepiado e em pé.

Era incrível como seu membro volumoso encaixava-se perfeitamente em


mim, apenas vê-lo me causava tremores, já que tudo em Emmett era de
tamanho enorme. Minha cabeça girava quando ele me provocava cada vez
mais. Era difícil pensar em alguma coisa que não fosse o meu marido. O meu
Emmett, o meu pedaço da eternidade.

Depois de aumentar a velocidade, ele me virou de bruços e senti-o outra vez


em mim. Era difícil raciocinar com Emmett desse jeito. Meus pensamentos
eram confusos e giravam em torno dele.

Terminando também este ato, resolvi dar-lhe mais prazer. Era algo diferente,
mas nada me impedia de tentar. Ajoelhei-me frente ao corpo musculoso de
Emmett e delicadamente segurei seu membro. Ele me olhava surpreso.
Iniciei a brincadeirinha que ele fazia comigo, muito devagar comecei a
deslizar a língua por sua glande rosada, segurando firmemente e encarando-o.

“Hum... Anja” Ele gemeu alto.

Contornei todo o órgão perfeitamente com a boca e Emmett delirava de tanto


gemer, eu estava me sentindo no controle, decidindo o ritmo e a intensidade
dos toques. A velocidade variava, mas os gemidos eram em períodos iguais.

108
Antes de chegar ao ponto exato, Emmett me levantou pela cintura, jogou-me
na cama e mordeu minha orelha carinhosamente.

“Agora é a minha vez” Murmurou.

Sem pensar duas vezes, ele abriu minhas pernas e lançou um rastro de prazer
pelo meu corpo enquanto sua língua brincava no caminho. Não segurei meu
grito quando sua boca alcançou o ponto que procurava. Sua língua quente
queimava minha intimidade e eu me agarrava com força nos lençóis.
Ele continuou o processo lentamente fazendo minha cabeça girar, tudo em
minha mente era desconexo. E para provocar ainda mais ele acariciava meus
seios com muita sutileza. Emmett estava fazendo o trabalho melhor do que eu
havia feito.

“Emm... Calma... A... Casa” Conseguia dizer entre os gemidos.

“Minha anja, a casa já está quase destruída, não deve se preocupar agora” Ele
ria e notei os lençóis rasgados e as paredes novamente rachadas.

Não conseguia medir minha força quando estava com Emmett, mas
definitivamente deveríamos aprender a ter controle, ou então, teríamos
arrumar toda a desordem todos os dias. Perdi o fio do pensamento quando
Emmett iniciou outra vez o processo.

Segundos. Minutos. Horas. Fascínio. Prazer. Satisfação. União. Gemidos.


Gritos. Risadas. Suspiros. Palavras doces e brincadeiras não tão-inocentes.

O sol já havia mudado de lado e estava começando a se por resolvemos voltar


para casa antes que nossos pais se preocupassem e viessem nos buscar,
presenciando tal cena. O desejo estava longe de acabar, mas a razão estava
presente para dominar o ambiente.

Esme e Carlisle perceberam nossa mudança de humor e ficaram alegres por


serem os responsáveis. Edward ainda não havia retornado e eles tentavam
esconder a tensão. Emmett e eu subimos para nosso quarto apenas para que
eles tivessem sua privacidade.

Até eu estava começando a me preocupar. Edward não demorava muito nas


caçadas, será que os lobos quebraram o trato recém-estabelecido? Na certa era
isso que nossos pais imaginavam.

109
Depois de mais algumas horas esperando, surgiram as primeiras estrelas e com
elas o Cullen solitário. Era fácil ouvir o que se passava no andar de baixo, pois
nossos ouvidos eram bem sensíveis.

“Oh... O que aconteceu com você?” Esme perguntou em desespero.

“Foi um acidente” Ele murmurou.

Carlisle aumentou a voz “O que aconteceu?”.

“Um acidente” Ele repetiu quando eu e Emmett descemos as escadas.

Edward estava horrível, suas roupas estavam parecendo trapos, ele estava
acabado. Meu irmão sempre saia intacto em uma caçada, ele nunca era
surpreendido por animais, algo acontecera. Será que era o que todos
estipulavam?

“Acidente uma ova, você fede a lobo!” Emmett me fez notar o cheiro de
podridão que Edward exalava.

“Lobos?” Gritei e corri para cima imediatamente.

Outra vez iniciei o banho demorado que levou dias. O cheiro dos lobos era a
pior droga existente, ao se propagar era difícil fazer-se extinguir.

Depois de toda a preocupação Edward explicou que se encontrara com os


lobos e que em um momento de ira eles levantaram uma discussão. Mas
informou que tudo estava bem e o tratado estava fortalecido. Assim, Emmett e
eu íamos para nossa casa toda tarde e voltávamos toda noite. Enfim, já
conseguíamos tomar um certo controle, durante os dias que se passaram o
máximo que acontecia era um móvel quebrado ou um lençol destruído.

Edward estava meio emburrado, coitado, a solidão era algo cruel, na podia
deixá-lo assim, na verdade, eu amava provocá-lo.

“Edward” Chamei sua atenção em pensamentos e automaticamente ele virou-


se para mim. Deixei minha imagem de lingerie em sua mente enquanto ele
subia nervoso para o terceiro andar. E eu sorria abertamente com um Emmett
confuso ao lado.

110
Capítulo 12 – O Clã Denali

Os malditos lobos nos vigiavam freqüentemente, desejando profundamente


que o tratado fosse quebrado por nosso lado, porém, nós não fugíamos à nossa
palavra. Tudo era impecável em nossa fronteira. A mentira era tão certa para
os humanos que se passava por pura verdade.
Carlisle era o excelente médico, Esme a mãe-maravilha e Edward, Emmett e
eu, os filhos-modelo.
Poucos anos haviam se passado desde que chegamos a este local infestado de
bolas peludas e pulguentas, contudo, nada dura para sempre, exceto – talvez –
A imortalidade de nossa espécie.
Os olhos de Emmett transformaram-se em ouro, um ouro tão convidativo no
rosto infantil que me congelava por dentro e me causava pequenos tremores.

Depois de quase 20 anos após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha sentiu-


se humilhada perante as medidas estabelecidas no Tratado de Versalhes pelos
países vencedores, sendo assim, sob liderança de Adolf Hitler, iniciou-se a
Segunda Guerra Mundial.
Era impossível viver num lugar que era freqüentemente bombardeado pelos
conflitos humanos. E para preservar o pouco de humanidade que nos restava,
decidimos viver em uma área isolada de tudo e de todos. Resolvemos viver em
Delta Junction – Alasca – Terra neutra e sem muita habitação. Conseguimos
uma cabana na borda da floresta. Era um toldo minúsculo.

“Teremos mesmo de conviver aqui nesse lugarzinho apertado?” Isso era


humilhante até mesmo para cinco vampiros.

“Terá de se contentar com isso no momento, Rosalie, é tudo o que teremos”


Carlisle finalizou minha queixa.

111
Edward estava mais emburrado do que nunca e sempre caçava sozinho,
Emmett fazia piadas mesmo no clima infernal que se encontrava em nossa
família, enquanto Esme e Carlisle fingiam que nada ocorria; o que me deixava
ainda mais nervosa.

A melhor maneira de extinguir a raiva era caçando, então, na companhia de


Emmett, resolvi conhecer um pouco o local.
Era um festival gelado. Gelo no chão, no céu, no ar, e em todo lugar... Era
uma paisagem cristalizada, porém, cinco vultos brancos se destacavam na
imensidão branca.
Emmett sorriu de lado ao visualizar os ursos polares, apontou para os vultos e
levantou três dedos apontando para si e direcionou dois dedos para mim. O
que significava que ele queria ter mais ação na caçada; concordei e avançamos
alguns passos.
Sem perder tempo ‘brincando com a comida’, resolvi agir rapidamente, e
antes do vento soprar eu já derrubara minha parte do banquete. Sem ter mais o
que fazer, fiquei observando meu companheiro com rostinho de bebê.
Eu me divertia vendo Emmett acabar com três enormes monstros brancos no
gelo. Não era bem uma luta, mas chegava muito perto de ser. E assim foi
sendo os primeiros dias no Alasca.

Estávamos todos na cabana minúscula aguardando Edward voltar de sua


caçada, quando Carlisle levantou-se abruptamente, parecendo transtornado.

“O que houve? É algo com Edward?” Esme precipitou-se.

“Está tudo bem, ele apenas quer falar comigo nos fundos” Carlisle acalmou-a.

Apurei meus ouvidos para distinguir todas as palavras da conversinha


particular.

“Há algum problema?” Carlisle estava preocupado.

“Não tenho certeza... Encontrei outra vampira aqui no Alasca. Ela tem olhos
dourados” Edward respondia em dúvida. Outra vampira? Isso seria uma
disputa? Inimizade? Mas olhos dourados eram resultado de abstinência de
sangue-humano. Então essa vampira era como nós.

“Interessante... Apenas uma?” Carlisle murmurava.

112
“Não, ela disse que o clã dela reside aqui também. Eles virão aqui ao
crepúsculo”. Isso sim era novidade. Encontro entre clãs.

“Você percebe uma ameaça?”.

“Acho que não, pelo menos não nos pensamentos dela...” Edward respondia
aos pensamentos aflitos dele.

“Algo está obviamente te incomodando, Edward. Diga-me o que é”


Exasperou-se Carlisle.

“Quisera eu saber... Algo sobre ela me deixou muito desconfortável” O que?


Desde quando desconforto era coisa de Edward? Essa vampira deveria ter
mexido bem com ele. Será?

“Você sabe o nome dela?”.

“Sim, ela é Irina. Ela disse que eles vivem em Denali”.

Houve uma longa pausa e Edward perguntou algo sobre os pensamentos do


pai.

“Ser o que?” Exigia ele.

“Diga-me... Com era Irina?”.

“Cabelo longo, loiro. Olhos dourados... Nos seus pensamentos, ela se referiu a
mim como um ‘espécime’” Edward esclareceu.

Carlisle riu baixo e ouvi seus passos adentrarem a cabana.

“Sei do Clã Denali, ouvi sobre eles pela primeira vez enquanto estava na
Itália. Não há nada para se preocupar, Edward, tudo ficará bem” Carlisle
informou e voltei a me concentrar em Esme e Emmett ao meu lado.

Carlisle caminhou rapidamente até Esme e bloqueei o caminho de Edward.

“Então, Edward...” Provoquei.

“O que você quer, Rose?” Ele perguntou amargo.

113
Cruzei os braços e sorri sarcasticamente “Ouvi que você conheceu uma
garota” Confessei.

“Não, conheci uma vampira” Ele corrigiu.

“Ei, Emmett...” Gritei para que ele ouvisse “... Edward conheceu uma
garota!”.

Emmett dava risadas e Edward bufou, saindo do meu bloqueio. Parei para
analisar o quadro inteiro, principalmente a visitante inesperada. Ela não deve
ser nada atraente, não pode ser mais bonita do que eu se ele fugiu dela... Eu
pensava abertamente sobre essa nova vampira.

“Eu não fugi... Ela fugiu de mim” Ele gritou ao ouvir meus pensamentos.

“Ooh, grande aterrorizante Edward, assustou a garota” Zombei em


pensamentos.

Edward caminhou nervoso e inesperadamente tacou-me um abajur. O que era


patético já que meus instintos captaram o objeto no mesmo segundo em que
ele se deslocou.

Emmett juntou-se a mim nas gargalhadas e eu apenas escutava Esme e


Edward conversando.

“Edward?” Ela queria saber se o filho estava bem.

“O que foi, Esme?”.

“Você poderia me fazer um favor e cortar um pouco de madeira para a


lareira?”.

“Tudo bem, mas, em um momento, Esme”.

“Por favor, Edward. Gelo se formou por toda uma parede. Estou preocupada
com tentar tirar. Obviamente precisamos de mais calor aqui”.

“Tenho certeza de que isso pode esperar alguns minutos, nesse momento eu
preciso discutir algo com Carlisle...” Ele falava impaciente.

114
“Por favor, Edward?” Pedia Esme.

“Está bem, vou pegar sua madeira” Ouvi-o se render e sair da cabana para
cortar lenha.

Voltei minha atenção à Emmett, ele estava agitado como uma criança,
querendo cortar madeira também, mas obviamente eu o proibi, pois, Emmett
não precisava fazer os serviços alheios, e Edward foi encaminhado por Esme
para executar tal ato. Ele fez um beiço, mas aceitou. E notei que Carlisle
estava indo conversar com Edward.

A conversa não durou muito tempo, logo, escutava-se o som do machado em


contato com a madeira novamente e repetidamente. Isso até Edward entrar
rapidamente, gritando por Carlisle.

“Acabei de encontrar mais um membro do clã Denali, Katrina” Ele


resmungava com uma pilha enorme de madeira nas mãos.

“Nossa, você está popular hoje” Falei com malicia e ele virou-se para me
encarar “Você cortou bastante madeira, Edward. Está se sentindo frustrado?”
Gargalhei para seu rostinho nervoso.

“Isso não é engraçado, Rosalie” Ele rosnou ferozmente.

“Ah, mas é sim” Sorri e prossegui “O insociável Edward continua fugindo de


todas as garotas”.

Sua impaciência cresceu e ele jogou-me toda a lenha, enterrando-me em


madeira. Para sua sorte, Emmett veio me auxiliar e Esme me defendeu.

“Edward” Ela gritava em reprovação.

“Desculpe-me, Esme, mas isso está cada vez mais irritante. Isso é sério. Estas
vampiras não são vampiras normais. Há algo errado” Ele explicava.

“Não há nada de errado, Edward” Carlisle gargalhava e me livrei das


madeiras.

“O que você não está me dizendo?” Edward estava sendo severo.

115
“Aro mencionou as três irmãs enquanto estive na Itália... Elas são as originais
por detrás dos mitos sobre os sucubos” Percebi Esme enrijecer np mesmo
minuto que eu “... Não há preocupações... elas começaram a sentir remorso
por suas presas e desde então adotaram um estilo de vida pacifico” Ele
adicionou rapidamente.

Claro que eu sabia o que elas eram. Sucubos. Segundo a mitologia grega,
eram mulheres maravilhosas que seduziam homens, e depois de satisfazê-los
plenamente, os matavam. Era a troca da vida por prazer. Isso, no entanto, era
algo que para mim não passava de lenda. E agora três irmãs do mesmo
padrão? E mesmo que tivessem mudado, velhos hábitos não morrem...
Emmett com certeza não sairia de perto de mim, enquanto durasse a visita
dessas estranhas.

“Pacifico como?” Esme também estava preocupada em perder o marido para


mulheres sedutoras e estranhas.

“Elas não caçam mais humanos, apenas animais” Carlisle respondeu.

“Mas, elas ainda são...?” Tive de fazer a pergunta e senti os braços de Emmett
em minha cintura. Emmett não seria arrastado por coisas sobrenaturais,

“Nada poderia me separar do meu anjo” Ele murmurou em meu ouvido. E


senti um alivio enorme.

“Elas não se comportam mais como sucubos” Ele pausou e pelo olhar de
Edward, percebi uma conversa mental “Elas realmente vivem bem
pacificamente agora” Ele finalizou e observei outra vez a conversa silenciosa.

“Carlisle, já tivemos essa conversa” Edward respondia aos pensamentos do


pai.

“De acordo, contudo, quero que cada um de vocês mantenha uma mente
aberta quando elas nos visitarem. Independente do seu passado, elas mudaram
seus modos. Elas são mais como nós do que vocês podem imaginar” Carlisle
falava para todos, e encarava somente à mim.

“Mente aberta? Claramente, elas têm tentado me seduzir” Edward respondia


incrédulo.

116
O silêncio reinou e notei Esme olhar o filho cheia de compaixão. Carlisle
estava concentrado, Emmett ria da situação.

“Hmpf, ninguém poderia seduzir Emmett como eu posso” Meus pensamentos


me dominavam.

Edward saiu nervoso da sala e bateu a porta de seu quarto minúsculo na


barraca apertada.

Ao crepúsculo, surgiu na cabana o Clã Denali. E não eram nada comparados


ao que eu imaginava. Eram cinco: Irina – Uma mulher loira, com cabelo curto
até o queixo, corpo escultural, aparentava ser Russa e estava com um vestido
de seda azul. Katrina (Kate) – Com o rosto meio redondo, cabelo loiro cor de
trigo que chegava aos joelhos, com o mesmo corpo da irmã, com um vestido
roxo. Tanya – Uma formosa loira com o cabelo em tom meio avermelhado
também, lembrando morango. Aparentemente tinha 19 anos, seu corpo
também seguia os padrões de família e usava um vestido também de seda da
cor vermelha. Carmen – Uma mulher morena, mas muito bela com um vestido
amarelado na pele bronzeada e Eleazar – Um homem cauteloso e moreno com
cabelos negros e roupa de mesma cor. E em todos se destacava os mesmos
olhos cor de ouro liquido.

A conversa rolou livremente, como se possuíssemos uma amizade por


diversas décadas. O clima estava alegre, contudo, resolvemos conversar fora
da barraca. Sentamos todos no gramado coberto de neve, e alguns deitaram
num cobertor grosso e vermelho que Esme trouxera. Todos nos divertíamos,
exceto Edward que estava isolado em seu quarto, escutando um pouco de
música clássica, Tchaikovsky para ser mais exata.

“O gosto de Edward para música é fantástico. A sinfonia número seis é a


minha favorita...” Tanya dizia ao ouvir a melodia de Edward.

Esme retirou-se do local e em questão de minutos voltou com um Edward


emburrado e de braços cruzados.

“Muito obrigado por se juntar a nós” Carlisle sorriu e apontou para o novo clã
“Você já conheceu Kate e Irina...” Kate acenou a Irina deu um sorriso
dissimulado “... Esses são Carmen e Eleazar. E essa é Tanya” Ele gesticulava
para todos que Edward não conhecia.

117
“Permita-me me desculpar, Edward” Ela sorria maliciosamente “Minhas irmãs
e eu temos velhos hábitos. Gostamos da companhia de homens, mas não
tivemos a menor intenção de deixá-lo desconfortável” Tanya esclarecia.

“Não pudemos evitar admirar sua beleza” Kate ria enquanto falava.

“Você é um homem muito belo, Edward” Irina elogiou.

Edward não sabia como agir, e para cobrir essa parte ‘má’ da família, todos
retomamos a atenção dos Denali.

Discutimos sobre alimentação, história de vida, transformação, perdas e outros


assuntos banais, porém, Edward nem sequer abria a boca e de repente,
levantou-se para sair.

“Indo a algum lugar, Edward?” Tanya perguntava baixo.

“Preciso de um pouco de paz e tranqüilidade” Ele respondeu secamente e foi


embora.

Ela virou-se para Carlisle “Perdão, eu não quis ofendê-lo com a nossa
natureza jovial”.

“Edward muitas vezes necessita de um tipo diferente de paz” Carlisle


comentou.

“Entendo”.

Ouvi Edward correr para a floresta e notei que o céu escurecia com pequenas
estrelas já cintilando. Tanya levantou-se e seguiu o rastro de Edward,
certamente ela estava interessada nele.

“A Tanya já está tentando formar vínculos com a família Cullen pelo visto”
Kate dizia, fazendo todos rir.

“Pois é, já estava na hora de alguém colocar rédeas em Edward, aquele garoto


sabe ser irritante quando está solitário” Respondi.

118
“Pela maneira que você disse, ele deve ser um irmão muito bonzinho para
você, Rosalie” Irina ria.

“Você não faz nem idéia” Gargalhávamos.

Um ano se foi e outro veio na companhia da família Denali, eles realmente


eram excelentes amigos e conseguiram apaziguar o clima de nossa família.
Algo bom no Alasca é que poderíamos ser nós mesmos, sem a intromissão de
humanos e mentiras para manter as aparências.

Até Edward estava mais contente, ele finalmente fizera amizade com alguém:
Tanya. O clima entre eles era encantador, eu me perguntava se ele se
entregaria de corpo e alma desta vez. Ambos faziam tudo juntos, desde caçar
até viradas na noite entretidos em conversas.

Resolvemos caçar: Eu, Emmett, Irina e Kate. Os ursos polares eram muito
ferozes e Emmett queria um pouco mais de ação.
Assim, Kate daria choques nele enquanto ele caçava, isto porque o dom de
Kate era justamente este, ela possuía uma descarga elétrica no corpo.

Tudo estava realmente desafiador para Emmett, e ele sorria com o desafio.
Três ursos vieram em sua direção enquanto Kate torturava-o lentamente, era
doloroso ver meu bebê exposto ao perigo, mas era isso que lhe agradava,
então cedi aos seus caprichos.

Os ursos conseguiram rasgar metade de suas roupas. Irina instigava mais


alguns para atacá-lo e eu apenas assistia aflita o filme horripilante: O massacre
ao vampiro musculoso.
Emmett conseguiu reagir e desviou das irmãs Denali rapidamente,
abocanhando o pescoço de um urso que automaticamente caiu sem forças na
camada de gelo, trincando-o um pouco. O mesmo aconteceu com os outros
dois ursos, e à essa altura só restava mais um – O que Irina havia instigado.

As irmãs empenharam-se ainda mais no ataque, porém, Emmett provou ser o


melhor desvencilhando das atacantes e conquistando com certo esforço seu
objetivo, no entanto, antes de cair desfalecido, o ultimo urso utilizou as unhas
fortes para despir quase que completamente meu grande e ingênuo bebê de
covinhas deslumbrantes.

119
Ele bebeu gananciosamente o sangue do animal sem perceber a situação que
se encontrava. Seus músculos estavam expostos no frio congelante – que não
passava de uma simples brisa para nós – e suas costas largas chamavam a
atenção das irmãs.
Seus olhares eram desejosos. E percebi que elas estavam a ponto de fazer a
justa coisa que eu impedia a mim mesma de pensar: Seduzir Emmett.
Irina e Kate se aproximaram do seu alvo, mas fiz barreira rapidamente.

“Ele é MEU” Esclareci.

Emmett virou-se e me olhou transpirando confusão. Ele levantou-se e notou


que estava praticamente nu na frente de duas sucubos.

“Calma Rosalie, nós não íamos fazer nada com o seu ursinho” Kate mentiu.

“Apenas íamos conferir se ele precisava de ajuda para terminar o alimento,


afinal, ele já tinha muito sangue em seu estomago” Irina inventou uma
desculpa.

“Ainda bem que estamos todas esclarecidas então” Fuzilei ambas com o olhar,
juntei-me à Emmett e voltei para a cabana.

Como pude deixar Emmett tão vulnerável? Qualquer descuido meu e eu


perderia a única coisa que me mantinha viva. Meu pedaço do céu, meu
ursinho. Todos esses pensamentos me fizeram ver que eu ainda não
aproveitara completamente sua companhia como marido e mulher, estava na
hora de prolongar nossa lua-de-mel. Falei com Carlisle a respeito do ocorrido
e da minha decisão repentina, ele concordou com a nossa saída do Alasca e
pediu para que não demorássemos muito, pois, ele não sabia quanto tempo
permaneceria naquelas áreas e certamente seria difícil um reencontro.

Emmett já estava todo saidinho com minha decisão.

“Se eu soubesse que toda vez que uma sucubo me olhasse, você ficasse assim,
veria elas todos os dias” Ele zoava.

“Para o seu bem é melhor ficar quieto” Respondi friamente.

“Você está muito fria, acho que está na hora de esquentarmos um pouco as
coisas” ele disse me envolvendo num beijo demorado e prazeroso.

120
Capítulo 13 – O último fragmento

Decidimos que a Lua-de-Mel seria mesmo na França, apesar da guerra não ter
cessado, isso porque, a força de vampiros era extremamente alta até mesmo
para um acontecimento deste porte. Nenhum dos membros da família Cullen
foi informado sobre o local, pois, Carlisle daria um jeito de manter-nos no
Alasca, o que eu jamais permitiria, já que o trio de irmãs esperavam por um
homem.

Já haviam se passado seis anos desde o começo da segunda guerra mundial, e


a Alemanha, após muitas conquistas e domínios, estava começando a declinar.
Pelo visto, o fim da guerra estava a ponto de ser determinado. De um lado
havia as Potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e do outro as Potências
Aliadas (Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética).

Era o final de maio e o clima de Primavera conseguia acalmar todo o ambiente


que os humanos transformavam em Caus. Havia pouquíssimos animais
naquelas localidades, o que deixava uma abstinência de sangue enorme, no
entanto, tendo Emmett ao meu lado tudo seria maravilhoso.

Desta vez, Carlisle não conseguira uma casa para nós, já que era de extrema
importância o sigilo sobre nossa localização. Sendo assim, Emmett e eu nos
acomodamos em um casarão abandonado e muito bem mobiliado; o que me
fez pensar que os humanos realmente eram frágeis, pois, abandonar uma casa
de tal porte era algo assustador de se fazer. O perigo deveria ser demasiado ali
e Emmett adorou mais ainda o lar ao chegar na mesma conclusão que eu.

Luxo era uma palavra simples e glamour não seria correto para descrever a
estrutura do lugar. Eu me sentia como uma rainha, a casa havia chamado
minha atenção como um enorme imã.

121
Emmett jogou nossas malas na enorme sala e sem perder tempo me levou
para o quarto. O desejo era notável, e percebi que o motivo era a abstinência
também de sexo, porque tendo um Clã desconhecido em casa e uma cabana
minúscula com vários vampiros tornava essa parte um pouco complicada.

Suas mãos másculas deslizaram por mim, percorrendo e desenhando todo o


meu corpo enquanto um intenso beijo esquentava meus lábios. Seus olhos
examinavam casa pedacinho de mim e como resposta aos dele, os meus
também analisavam-no.
Por mais estranho que pareça, a vontade e o desejo deixaram Emmett um
pouco mais sério, e as piadinhas foram trocadas por um contato maior de pele.
E essa era uma faceta ainda desconhecida para mim.

“Temos que tomar muito cuidado” Emmett disse inesperadamente.

“Cuidado com o quê?” Ele me confundiu com o comentário.

“A casa já está em ruínas, imagina como ficará quando terminarmos?” Ele


sorriu e levou toda a seriedade, dando lugar às piadinhas.

Tive que rir do comentário, porque realmente, pelo desejo que ele
demonstrava a casa ficaria apenas em tijolos; ou areia.

“Ainda bem que somos os únicos na localidade, e temos diversas casas para
‘tomar conta’”. Entrei no seu joguinho.

“Sendo assim, será um prazer satisfazê-la Mon Cherry”.

Após o sotaque francês, Emmett beijou meu pescoço com leves mordidas para
me arrepiar e deslizou as mãos pelas minhas costas, suavemente, com carinho
e direcionando ondas de prazer para o meu corpo.
Delicadamente, o que era estranho para Emmett, ele tirou minha blusa e com
meu auxilio a sua própria também.
Mais alguns minutos de carinho e já estávamos quase nus. Ele admirava meu
corpo escultural e eu me deleitava vendo seus inúmeros e definidos músculos.
Nossos corpos eram perfeitos em sintonia, como uma única peça feita que por
algum motivo foi partida e que enfim encontrara sua outra parte e agora podia
ficar unida, unida para sempre, como deveria ser. Era assim que eu me sentia
em relação a ele.

122
Beleza e força. Amor e desejo. Imortalidade. Eternidade. E para sempre
Emmett...

Esses pensamentos giravam em minha mente enquanto ele beijava toda a


extensão do meu corpo. Ele percebeu meu estado de satisfação e preparou-se
para aumentá-lo.
Com as presas afiadas ele arranhou carinhosamente minha barriga e rasgou o
único tecido que estava impedindo-me de estar totalmente nua.
Já sabia que era questão de tempo para começar a expor prazer, pois ele
estava próximo demais do ponto de êxtase. Sua língua iniciou os movimentos
circulares, como que para explorar melhor cada ponto e agarrei suas costas
fortemente. Então, com menos sutileza, sua boca me fez gemer quando
deliciosamente passeou pelos ‘países baixos’.
Ele mostrou um sorriso desconcertante e caminhou sua língua por um longo
trajeto até alcançar novamente meus lábios. Repentinamente, ele abriu um
pouco minhas pernas e colocou seu corpo por cima do meu, e com alguns
movimentos pensados fez contato entre nossos corpos.
Senti-me vulnerável e satisfeita ao mesmo tempo. Emmett se encaixava
perfeitamente, com certo incomodo sim, devido ao seu tamanho, mas de certa
forma, éramos feitos um para o outro.
Ele continuou o ato de penetração lentamente para não me machucar e
agilizava o ato de acordo com os meus gemidos, e gritos por vezes. Suas
estocadas eram mais rápidas e mais fortes e era tão bom senti-lo dessa
maneira. Assim como eu, ele também estava extasiado, o que tornava todo o
clima mais fogoso.
Emmett arfava enquanto seu membro continuava com as estocadas, e suas
mãos contornavam as formas de meus seios, por vezes ele mordia o centro, e
outras me beijava para sentir meus gemidos por entre seus lábios.
As horas passavam, a casa estremecia, as paredes rachavam, e nunca
parávamos. Aquilo era algo inexplicavelmente divino, e eu me sentia viciada
em Emmett para me permitir usar a razão e frear de alguma forma o momento.

Ao todo, decidimos parar depois de três luas e após diversas posições,


concordamos que por hora deveríamos nos preocupar com a alimentação e
outra casa, pois essa já estava com todos os móveis quebrados e as paredes
derrubadas. Idéia de Emmett querer utilizar todos os cômodos da casa para o
ato sexual, ou então, quando já não existiam paredes, utilizar os móveis como
apoio. E esse havia sido o resultado.

“Que pena, eu gostei tanto dessa casa” Revelei.

123
“Eu também, porque você acha que ficou desse jeito?” Ele riu.

Percorremos um longo caminho em busca de animais e encontramos alguns


herbívoros nojentos. Foram necessários muitos deles para atenuar a brasa em
minha garganta.

Mudávamos de região todo o tempo para conhecer todos os cantos da França,


e decidimos nos estabilizar em Normandia. Já fazia uma semana que
estávamos ali, e inúmeras casas haviam sido destruídas nas demais
localidades. Por sorte, os humanos pensariam que tudo não passara do efeito
da guerra.
Estávamos em um casebre desfrutando de momentos íntimos, quando
percebemos um certo movimento quilômetros à distancia. Interrompemos o
ato para verificar do que se tratava.

O cheiro já dizia prontamente o que era, mas queríamos saber o motivo da


aproximação de tantos humanos.
Eram soldados, muitos soldados por sinal, estavam montando um grupo de
ataque. Pelas características físicas de alguns rapazes, notei que eram
Soviéticos, Norte-americanos e ingleses.
Nossa distancia era grande, então não chamaríamos muita atenção. Mas não
poderíamos sair sem sermos notados, assim, Emmett e eu decidimos
permanecer no casebre até que os humanos se retirassem.

Durante os dois dias que passaram, o numero de soldados aumentou


significativamente. Isso dizia que a guerra já estava com um novo lugar
determinado para a matança. Sabíamos que haviam soldados alemães nas
redondezas, então, isso dizia que era uma tropa para ataque.
Sem dúvida, esse dia seria marcado na história humana. Dia 6 de junho de
1944 – Mais tarde conhecido como o ‘Dia D’ (Dia da Decisão).

Normandia começava a ficar pequena já que havia aproximadamente 176 mil


soldados prontos para o ataque contra os nazistas.

Emmett queria participar das lutas; sabendo que venceria, contudo, o lado da
razão teve grande peso na decisão. Porque muito sangue seria derramado, e
sangue humano... Algo que ambos não estaríamos dispostos a ver ou sentir.

124
Cautelosamente, saímos do local e vigiávamos de longe o resultado que teria
o conflito.

O que realmente me surpreendeu foram os soldados nazistas, um número


muito grande de soldados realmente, porém nem todos em condições de lutar.
Havia mulheres, idosos, crianças e outros integrantes da população que
normalmente eram impedidos de participar desses acontecimentos.

Eu analisava de longe os rostinhos infantis, os olhares tristonhos e cansados


de muitos deles. E resolvi por mim mesma permanecer naquele lugar, para
poder auxiliar em alguma coisa. Interceder, porém sem ser notada e eu sabia
que Emmett apoiaria qualquer decisão minha.

O massacre iniciou e os soldados mais hábeis ficaram à frente dos demais.


Era um festival de horror e automaticamente interrompi a circulação de ar pelo
meu sistema. Já seria bem difícil estar apenas vigiando, mito mais, sentindo o
cheiro do liquido proibido. Notei que Emmett fazia o mesmo ao meu lado.

Tiros... Mortes... Bombas... Mortes... Gritos... Mortes... Choro... E mais


mortes. Cadáveres por todos os lados e os soldados começaram a cobrir outras
áreas. Notei que muitas crianças tentavam se esconder com olhares
desesperados. Percebi um grupo de crianças loiras dos olhos claros e pele
pálida, eram muito parecidos e mantinham-se abraçados. O maior voltava o
corpo para proteger os três menores. Irmãos provavelmente. A mais nova
deveria ter no máximo sete anos.

Muitos grupos tentaram se separar para proteção, mas eram aniquilados ao


tentar fugir. Eu não agüentava mais, estava a ponto de partir, seria mais fácil
fingir que nada disso acontecia, pois não havia uma maneira segura de ajudá-
los. Seriamos expostos e os Volturi nos colocariam em uma guerra particular –
também sem escapatória. E alguém que eu jamais poderia perder era Emmett.
Ele era tudo o que eu tinha e tudo o que eu jamais poderia deixar.

Peguei sua mão e dei um leve aperto, ele entendeu que eu queria partir e
analisamos toda a área para identificar um bom ponto de fuga.

Começamos a correr e fomos obrigados a parar depois de certa distância,


porque ali também havia soldados. Um número bem menor, mas ainda assim
estavam em luta.

125
Diversos homens estavam desarmados, porém resistiam duramente. Outros
tentavam proteger aos amigos e acabavam tendo o mesmo fim.
Depois de algum tempo, vendo que estavam em desvantagem, um grupo com
aproximadamente vinte soldados correram em nossa direção, mas foram
perseguidos. Um tiro acertou o braço de Emmett, que retirou a bala sem
esforço algum, como se fosse uma pétala de rosa.

“Melhor sairmos daqui” Ele alertou.

“Com certeza” Respondi e foi um erro.

Ao respondê-lo, liberei oxigênio para os meus pulmões no mesmo instante


em que cinco soldados caiam pela floresta. O cheiro era tentador, voltei meu
corpo para a direção indicada.

“Rose, não!” Emmett notou minha reação e me apertou em seus braços.

“Certo...” Automaticamente relaxei. Eu já havia lidado com esse cheiro muitas


vezes em outras cidades, o fato dele estar tão forte pelas feridas não era nada.
Eu já enfrentara isso com Emmett e superara, não seria agora que eu iria ter
uma recaída.

O fluxo de ar me causava dor, mas me lembrava que humanos também


sofriam e que eu era o mostro deles.
Ouvi mais alguns tiros e gritos daquele pequeno grupo enquanto corria e o
vento trouxe um outro aroma.
Era algo indescritível. O melhor dos cheiros, algo digno dos Deuses. Eu
precisava disso, eu necessitava disso.

Virei meu corpo para a direção do aroma e Emmett não foi capaz de me frear.
Rosnei com sua aproximação. Ele não podia me negar aquilo. Era algo que
nem eu mesma poderia lidar. Menos de um quilometro e eu obteria o aroma
para mim.

Parei no lugar exato em que o cheiro exalava. Era de um homem, um homem


bastante forte, estava de costas para mim e identifiquei o ferimento, ele
segurava a barriga, o local onde as balas haviam passado. O sangue era muito
vermelho e impossivelmente irresistível. Jamais na minha imortalidade havia
desejado tanto um humano – ou o sangue dele.

126
Esse era o sangue mais doce, convidativo, provocante que já sentira.
Emmett tentou me bloquear.

“Rose, não faça isso, você vai se arrepender” Ele estava assustado.

“Se você realmente me ama, me deixe fazer isso” Respondi usando o único
argumento que o faria permitir o ato cruel.

Emmett não tentou me impedir, me aproximei da minha presa sentindo o


veneno encher minha boca, o prazer de ter aquele sangue deslizando por
minha garganta era tudo o que eu me permitia pensar.
Antes de conseguir prender-me ao corpo o homem virou-se, ficando de frente
para mim.

Ele era muito bonito, aparentava ter cerca de vinte sete ou vinte oito anos, era
forte, de pele clara, mas um pouco queimada pelo sol. Seu cabelo era louro-
escuro; quase castanho e seus olhos eram azuis demais, um oceano que
transbordava lágrimas. Ele gemia de dor, seus olhos saiam de foco e voltavam.
Ele ainda não tinha notado minha presença. Eu apreciava minha presa antes de
acabar com seu sofrimento. Ele finalmente captou nossa presença e seus olhos
se prenderam em mim.
Meus instintos ficaram congelados, Emmett gemeu de surpresa.

“Caramba... Ele parece com você” Disse abobado.

Realmente, havia diversos traços semelhantes entre nós. Seu rosto era quase
dez anos mais velho, mas mesmo assim, notava-se a semelhança, as ondas no
rosto, o formato do nariz, e o primordial, o contorno avermelhado nos olhos
cor do céu.
Quem era esse homem? Minha mente tentava trabalhar enquanto minha
garganta queimava.

“Ro-sa-lie?” Perguntou o desconhecido com muita dificuldade.

Ele me conhecia? Quem poderia ser este homem de olhos claros como o céu e
cabelos claros, seu olhar era penetrante e ao mesmo tempo sincero. Usei
minha mente para conseguir a resposta e meus lábios respondiam prontamente
antes do meu cérebro me enviar o relatório completo.

“Philipe?” O nome escapou de minha boca.

127
“Eu sabia que aquela noite não foi apenas um sonho, você realmente estava lá.
Viva! Eu te amo tanto...” Ele tagarelava enquanto tomava fôlego para soltar
mais palavras, sendo interrompido pela dor.

“Você realmente se tornou um soldado! Um ótimo soldado! E o Rich?


Mamãe? Papai?” Sabia que estava me expondo, mas queria saber o Maximo
possível sobre a família que um dia havia sido minha.

“A guerra não têm limites... Todos eles acabaram...” Uma lágrima completou
o que seus lábios não puderam responder.

“Eu sinto muito...” Minha família havia perdido a vida na guerra e agora eu
via meu único pedaço de humanidade morrendo “Eu vou te ajudar”.

“Não! Já não há mais nada que você possa fazer Rose... Apenas saiba que
você sempre foi uma pessoa maravilhosa e sempre será” Ele me lembrava e
Emmett ouvia tudo em silêncio.

“Eu não quero te deixar...” Eu poderia transformá-lo, mas fraco como estava
seria uma atitude inútil, e ainda por cima, com seu sangue doce eu tinha
certeza que não iria conseguir.

Toda a humanidade que um dia eu sonhei reconquistar transformou-se em um


simples sonho impossível. Minha família era um pouco do que um dia eu fui...
Era... Porque tudo o que me restou foi meu irmão. O melhor soldado. Um
bondoso e justo homem.
Meu coração em várias situações havia se fragmentado, partido, quebrado,
porém Emmett conseguira recuperá-lo e deixá-lo saudável; contudo, essa era
uma outra prova que sem dúvida eu não podia enfrentar. Visualizar o meu
último fragmento falecer era matar Rosalie Hale, e o pior de tudo é que
mesmo sendo forte, rápida e bonita eu não podia ajudá-lo de forma alguma.
Eu não podia acabar com a dor e trazer a alegria para uma das pessoas que
mais me proporcionaram o melhor.
Philly era carinhoso, corajoso, dedicado... Eram diversas qualidades para uma
única pessoa. A vida era injusta para os bons...

Senti meu rosto enrijecer e se pudesse, certamente uma chuva de lágrimas


deslizaria pela minha face. Ele passou a mão de leve em meu rosto, senti seu
toque quente e ele tentou apoiar-se em uma árvore. Ajudei-o.

128
Philipe tirou um objeto do bolso que refletia demasiadamente no sol à pino.
Era um simples cubo, e minha visão me permitiu ver o impecável desenho
dentro do cubinho. Uma Rosa Cristalizada.

“Eu nunca me esqueci de você” Ele apontou para o objeto ao qual eu tinha um
igual que era presente dele próprio, feito por suas mãos.

Certamente uma Rosa Cristalizada me representava neste exato momento. Eu


tinha certeza que à partir deste momento não existiria Rosalie Hale, pois não
haveria mais nada que a manteria viva dentro de mim. Eu me despedia dela e
de seu irmão ao mesmo tempo e lamentava profundamente a perda de ambos.
Permiti que ela sobrevivesse por meros minutos para manifestar-se e finalizar
o momento triste que sucedia.

“Você foi e sempre será o anjo mais perfeito que existiu na terra” Revelei para
meu irmãozinho já não tão pequeno.

“Não vale retirar as palavras da minha boca” Ele tentou rir, mas o esforço
estava sendo demasiado.

“Queria poder fazer algo por você, tem alguma coisa que você queira? O que
for?” Sentia meus olhos marejar, o que era impossível, então, era tudo fruto da
minha imaginação. Vampiros não choram, são criaturas frias e sem
sentimentos. Egoístas por natureza, sem amor próprio e sem alma.

“Tudo o que eu mais queria já se realizou... Ou melhor, está se realizando. Eu


estou vendo a única pessoa que me fez falta durante onze anos” Philly
respondeu com lágrimas deslizando por seu rosto de aspecto jovial.

“Eu sempre te amarei... Sempre... Sempre” Falei abraçando-o.

“Eu também... Eu também...” Ele suspirou e senti seu corpo relaxar.

Os minutos voaram e eu permaneci petrificada com meu irmão morto nos


braços. O final da minha vida, o começo oficial da minha imortalidade. O
último fragmento conseguiu extinguir-se por completo, e assim, Rosalie
Lillian Hale foi aniquilada do meu corpo eterno. Todos os seus sentimentos
foram congelados para jamais transparecerem. Tudo o que um dia havia sido

129
sonho, agora se tornava pesadelo. Era o fim de uma vida de menina e o inicio
de uma vida de mostro. Um círculo místico que causava dor.
Dor... Eu jurei pra mim mesma que jamais sentiria isso novamente. Eu
causaria isso. Eu aprendi a lidar com o sofrimento. A felicidade era algo
impossível, então, coloquei uma máscara caso fosse necessário para alguma
companhia próxima a mim. Pois, desse dia em diante Rosalie Cullen seria o
que foi transformada para ser. Uma criatura sem fins e que destruía tudo o que
tocava. Já não havia mais motivo para nada, porém a morte não era uma opção
para alguém imortal.

Levantei-me com meu novo corpo e meu novo rosto, lembrando pela última
vez o momento exato em que o sol atingiu o brilho dos olhos azuis de anéis
avermelhados, e no segundo seguinte desfocados. E um cubo cristalino que foi
enterrado no mesmo local em que seu fabricante descansaria em paz.

Emmett nada disse durante todo o momento, mas ele sabia que nada seria
igual. Ele sabia que os sentimentos bons estavam enterrados junto ao garoto e
que os sentimentos ruins fluiriam livremente. Porém, seu amor jamais
mudaria. Ele envolveu seus braços em volta de minha cintura para demonstrar
que para ele nada importava, se pudesse ter sua anja para sempre.

“Ninguém jamais pode saber do que houve hoje. Evite todos os seus
pensamentos relacionados à esse fato. Enterre tudo e seguiremos em frente,
você é quem eu amo e isso basta” Falei bruscamente.

Realmente, não queria a pena de ninguém, eu aprenderia a viver sozinha, ou


com Emmett. Minha vida sempre dependeu dele, desde o momento em que ele
surgiu, e não seria justo fazer algo contra isso. Ele seria o único que
conheceria tudo sobre mim, e o único em que eu me apoiaria, ou receberia o
verdadeiro amor. Sentimento que agora parecia apenas ilusório.

Como uma bela caçadora, eu queria uma presa difícil, e o desejo de vingança
pelo irmãozinho de Rosalie cresceu em meu peito. Essa guerra finalmente
terminaria e eu queria saciar minha vontade de sangue.
Um soldado morre, uma garota sonhadora morre, e assim, alguém teria que
pagar com a própria vida pelo ocorrido.

Retirei-me do local em que tudo acontecera e direcionei-me ao caminho que


minha mente apontava como certo. Um destino de sangue. Um destino
vermelho.

130
Capítulo 14 – Vingança e Recaída

Com o meu instinto aguçado, não foi difícil encontrar Adolf Hitler, contudo,
uma morte dolorosa seria o melhor a oferecer, e não nos deixava expostos.
Emmett mesmo querendo acabar com o nazista concordou em me dar o gosto
da vingança.
Suicídio seria uma boa maneira de apresentar a morte do homem, o que não
seria difícil.
Segui cada passo seu, interferi nas lutas, confundi soldados, e por fim, depois
de meses deixando-o maluco; decidi agir.
Mostrei minha verdadeira face para o líder nazista e ele ficou horrorizado;
depois me escondi relembrando o momento e o motivo da morte de meu irmão
e de toda minha família.
No dia 30 de abril de 1945 minha vingança seria consumada, Evan Braun
seria a primeira a morrer, nada mais justo; olho-por-olho, dente-por-dente, se
alguém que eu amava morreu por ele, alguém que ele também amava morreria
por mim. A floresta próxima à Berlim me proporcionou boa quantidade de
veneno em suas ervas, e eu esperaria pelo momento oportuno.
Adolf Hitler almoçou com seus dois secretários, ambos homens hostis e com
o cozinheiro, logo o crepúsculo surgiria, Hitler deixou os homens e caminhou
até seu quarto, local onde se encontrava sua esposa, meu marido e sua própria
morte dolorosa.
Vampiros possuem um talento natural para fuga, o armário de Evan era
grande o bastante para que eu e Emmett não fossemos descobertos.
Hitler aproximou-se da esposa, exibia uma farda marrom, o que dizia que ele
era o líder dos arianos. Ele e a esposa sentaram-se no sofá, e pela expressão de
seu rosto, ele pensava em mim.
Evan levou o chá quente e envenenado aos lábios e não percebeu o gosto das
ervas que eu havia adicionado.

131
Escutei atenta o momento que seu coração acelerou, seu corpo ferveu, os
olhos saíram de foco, a respiração falhou, as palavras saíram desconexas e por
fim... Nada... Simplesmente caiu no sofá. O processo em geral foi rápido,
acredito que ela não tenha sentido tanta dor, o veneno era muito eficaz, por
outro lado, Hitler precipitou-se para o corpo de sua esposa e banhou-o com
lágrimas pesadas e sujas.
A vingança era muito doce, sai do armário e pela segunda vez exibi minha
face original.

“Foi você? O que quer de mim?” Sua voz saia trêmula.

“Não quero nada demais, apenas sua aniquilação... E sim, fui eu!” Sorri
abertamente com o olhar fulminante.

Aproximei-me do homem enquanto Emmett se revelava e deixava-o nervoso.


Levantei a cabeça de Evan e encarei-o.

“Você vai deixá-la ou quer se juntar à ela?” Ele podia pensar que tinha
escolha.

“Evan morreu e logo vocês também morrerão, eu tenho um exército inteiro em


minhas mãos” Ameaçou.

“Ok. Chame todos os seus homens, e veja sangue-puro ser derramado para
proteção de um homem imundo” Contra-ataquei.

Hitler precipitou-se para a porta e foi bloqueado por Emmett.

“Podemos fazer isso do modo fácil, ou da maneira mais difícil” Joguei-o


contra a parede com força suficiente para rachar a estrutura do quarto.

Ele caiu e permaneceu no chão durante algum tempo, depois se levantou,


abriu uma gaveta e apontou duas armas em nossa direção.

“Você realmente acredita que irá me machucar?” Peguei um canivete próximo


e passei pelos meus pulsos que continuaram ilesos.

O homem arreganhou os olhos e tentou puxar o gatilho, algo que nunca


poderia acontecer, pois nossa mente e agilidade ultrapassavam seus
movimentos, em um relampejo, Emmett tirou as armas de suas mãos.

132
“É... Você teve sua chance, agora é a minha vez”.

Peguei uma das armas, coloquei em sua mão direita, abracei-o por trás e com
um único movimento fiz com que ele puxasse o gatilho que estava direcionado
à sua boca.
A explosão foi rápida, joguei seu corpo no sofá, ao lado da esposa e voltei
para o armário com Emmett, apenas aguardando enquanto seu criado: Heinz
Linge e Martin Bormann apareciam assustados ao quarto e levavam os corpos
para o jardim da chancelaria.
Enfim, vingança... Doce e pura vingança. Minha dor não diminuiu e acredito
que jamais diminuiria, porém pude fazer algo para tentar liquidar um pouco da
culpa que sentia por não ter sido capaz de transformar meu irmão e por tê-lo
deixado morrer em meus braços.

Emmett jurou que jamais pensaria sobre o assunto novamente, assim como a
Rosalie havia morrido, o assunto também seria enterrado e voltamos para
Delta Junction – Alasca. Para nossa surpresa, os Cullen haviam se mudado,
pois o filho mimadinho ‘Edward’ não gostara mais de fugir de Tanya, e
decidiu deixá-la definitivamente. Os Denali nos informaram de que eles
estavam em algum lugar em New Hampshire, e foi para lá que nos
direcionamos.
O rastro de minha família era perceptível mesma a milhas de distância, por
fim, encontramos o novo lar entre Lebanon e Enfield, estavam morando
próximos à faculdade de Dartmouth, pois o filhinho deles queria fazer
medicina e provar que era alguém.

“Que bom que estão de volta, vocês demoraram tanto que achei que não
voltariam mais” Esme mostrava sua preocupação e nos abraçava fortemente.

“Fico feliz em vê-los novamente filhos, como foi a segunda lua de mel?”
nosso pai perguntava, percebendo meu humor.

“Foi meio...”.

“Diferente” Interrompi Emmett, sorte que Edward estava estudando “Emmett


e eu nos divertimos muito e conhecemos muitos locais”.

“Em que local passaram a lua de mel?” Carlisle sondava para descobrir se o
que ocorrera com o Hitler teve intromissão de um vampiro.

133
“Você sabe: França, Itália, Japão, México, Portugal, e outros lugares;
quisemos aproveitar ao máximo, por isso demoramos tanto” Inventei, pois
Carlisle saberia a verdade se soubesse o local correto.

“E acredito que vocês queiram caçar” Esme falou distraidamente.

“Como sabe mãe?” Emmett surpreendeu-se.

“Os olhos de vocês... Estão ônix, até parece que faz meses que não se
alimentam”.

“Só pensávamos em ‘brincar’, sabe como é...” Emmett respondeu e senti que
minha pele esquentava de vergonha.

“Então vão caçar, queremos vocês saudáveis na região, inclusive, Rosalie e


Emmett, vocês podem fazer como Edward: Se socializar com os jovens da
faculdade” Carlisle incentivou.

“Pensarei no assunto” Falei, me preparando para a caçada.

Edward permanecia na faculdade de medicina apenas para impressionar


nossos pais, pois era obvio que ele tinha aversão à isso, e seu humor tornou-se
pesaroso com tanto sangue humano presente nas aulas de anatomia.
Eu e Emmett não escolhemos não ir para a faculdade, eu por ainda estar frágil
aos recentes acontecimentos e ele para me dar apoio, e também porque estava
sendo mais difícil para ele viver em sociedade após resistir à tanto sangue
exposto na guerra.

Dois anos se passaram nessa monotonia, Edward estava cada vez pior.
Carlisle o incentivara a seguir outra carreira, mas ele queria provar a todos que
conseguiria resistir o mesmo que Carlisle resistiu em séculos.

“Rose, querida, você não ia fazer compras comigo hoje?” Esme me despertou
dos devaneios.

Realmente precisávamos de roupas novas, estávamos evitando a sociedade,


pois logo sairíamos dali, contudo o estoque do guarda-roupa gritou e Esme
queria coisas novas para o lar.

134
“Sim mãe; vamos”.

Edward estava na faculdade, Carlisle no hospital, enquanto Emmett decidira


caçar. Seriamos minha mãe e eu, as mulheres da casa em uma área de
comercio infestada de humanos.

Esme estava com uma roupa simples e eu também, e mesmo assim estávamos
chamando a atenção de todos os homens do local; as mulheres olhavam para
nós exibindo inveja. Demorei a entender o motivo, já fazia muito tempo que
não me socializava com humanos, e para eles nós éramos verdadeiras Deusas
na Terra.
Estava imensamente feliz por ainda ser capaz de despertar tamanho desejo do
sexo oposto. Os olhares masculinos desenhavam nosso corpo e alguns
inventavam desculpas para poder nos acompanhar. Esme parecia
envergonhada e eu estava extasiada com esse momento.
Entramos em muitas lojas, a maioria das roupas que escolhi foram para a
caçada, ou então, sensuais para quando fosse retornar e Esme permanecia em
sua simplicidade – exceto por uma lingerie um tanto ousada que ela escolhera.
Percebi que cometemos um erro ao ver as reações das pessoas nas lojas;
estávamos com muitas sacolas, algo que um humano comum não seria capaz
de carregar. Alguns homens aparentemente solteiros colocaram-se em nossa
disposição com a mercadoria.
Percorremos mais algumas lojas em busca de materiais para casa e por fim,
decidimos que era hora de retornar.

Ao chegar em casa, notamos que estava num profundo silêncio, alguns


soluços irromperam do andar de cima e ouvimos a voz de alguém pedindo
ajuda. No inicio, pensei que fosse algum outro vampiro e me coloquei em
movimento de defesa, porém, notei que era a voz de Emmett, e ele estava
muito amuado com alguma coisa.

“O que você acha que aconteceu?” Esme estava preocupada assim como eu.

“Vamos descobrir” Respondi.

Usei minha agilidade para correr pelas escadas e observei Emmett com os
olhos fechados e as roupas encharcadas sendo consolado por Edward.

“O que está havendo aqui?” Porque Edward iria consolar Emmett?

135
“Esse é um assunto muito delicado, acredito que Emmett não esteja pronto
para falar sobre isso nesse momento” Edward intrometeu-se.

“Eu não me dirigi à sua pessoa, perguntei para o meu marido” Usei o tom de
voz mais gelado que pude alcançar.

“De qualquer modo, devemos esperar Carlisle chegar” Edward respondeu


friamente, assim como eu havia feito.

O que Carlisle tinha haver com toda essa situação? Eu nem sabia o que se
passava, era algo assim tão grave?
Como que para responder minhas perguntas, Emmett abriu os olhos e Esme
impressionou-se tanto quanto eu.

“Emmett... Você...” Ela não conseguiu finalizar a frase.

O ouro já não existia nos olhos de Emmett, agora tudo o que se encontrava
era o vermelho intenso, o vermelho sangue, ou seja, o vermelho-sangue-
humano. Eu não sabia responder o que minha família decidiria em relação à
sua nova dieta, mas eu o acompanharia onde quer que fosse, e me manteria
vegetariana, pois, humanos dentro de mim é algo absolutamente repugnante.

“Me desculpe mãe... Eu não consegui...” Ele soluçava, e podia jurar que
chorava, mas sabia que lágrimas não eram concebidas para seres sombrios,
sem alma e coração.

“Recebi sua mensagem Edward, o que houve de tão grave?” Carlisle surgiu
inesperadamente com a expressão séria.

“Teremos de nos mudar” Edward respondeu às perguntas mentais ao mesmo


tempo.

Carlisle encarou Emmett e pareceu horrorizado.

“Emmett... Se você escolheu essa dieta, peço que siga seu próprio caminho”
Carlisle estava chateado com a ação de Emmett.

“Carlisle, me desculpe, não foi minha intenção. Não consegui resistir, o cheiro
era muito forte...” Ele se explicava.

136
“Emmett encontrou uma mulher com o sangue irresistível, ela estava tirando
os lençóis secos do varal entre as macieiras, e o cheiro das maçãs fundiu-se ao
seu. A brisa tornou toda a situação insuportável, e ele não conseguiu agüentar”
Edward relatava a história que percorria a mente de Emmett.

Foi algo muito difícil para ele, soube exatamente o tipo de cheiro que ele
sentiu, o mesmo que eu sentira anos atrás com meu irmão, entretanto, eu havia
sido forte o suficiente para resistir. Emmett devia estar sofrendo mais do que
aparentava, porque odiava perder, não gostava de ser fraco e frágil.

“Sendo assim, melhor prepararmos as malas... Não se martirize mais,


podemos lidar com isso. Edward irá lhe ensinar mais sobre autocontrole”
Carlisle finalizou a sentença.

Esme correu para Emmett e deu-lhe um abraço de quebras os ossos. “Meu


filhinho, tudo vai ficar bem”.

Emmett ficou me encarando esperando minha reação. Caminhei até que


nossos corpos estivessem extremamente próximos e sussurrei:

“Foi só uma recaída, até os homens mais fortes perdem um dia. E eu te amo,
sempre te amei e sempre te amarei” Tranqüilizei-o.

“Tive tanto medo de te perder” Ele revelou.

“Você jamais me perderá, irá se cansar de mim. Tenho a eternidade para


permanecer ao seu lado” Selei o assunto com um beijo doce e delicado.

Os demais Cullen saíram para organizar as malas e nos deixaram ter um


momento de privacidade.

“Realmente me desculpe por isso, eu...”.

“Se voltar a pedir desculpas, serei obrigada a te matar” comecei a rir e ele
arregalou os olhos “Brincadeirinha... Viu como também sei fazer piada”.

“A sua não é tão boa” Ele gargalhou “Sabe a piada do vampira loira, do leitor
de mentes e do vampiro musculoso?” Ele perguntou.

“Emmett não começa, senão transformo minha brincadeira em realidade”.

137
Ele colocou a mão em minha cintura e começamos a arrumar as coisas para
carregar para a nova casa.
Em questão de segundos estávamos prontos, cinco vampiros, dois carros e
mais de vinte malas.

“Tem certeza que não quer mais se tornar médico, Edward?” Provoquei.

“Absoluta, Rosalie, porque não consegui achar um medicamento que fizesse


vampiros ter filhos” Ele contra-atacou.

Isso sem dúvida, era a pior coisa que ele poderia ter dito. Carlisle e Esme
finalizaram nossa discussão ao perceber o grau dos insultos. Emmett
permanecia calado, pois se sentia culpado pela situação. Segundo ele, tudo
estava acontecendo devido a sua fraqueza.

Permaneci em silêncio durante todo o caminho para Buffalo, Nova York. O


local de nossa nova moradia. Desta vez, a casa era de um senhor que morrera
há pouco tempo e não tinha família. Obviamente, seriamos a família deste
senhor, aquela que ninguém conhecia.

Prontamente, Esme colocou seu material no chão e definiu a nova textura


para as paredes, o novo estilo da porta, o tecido das cortinas, e outras coisas.
Desta vez, eu e Emmett pegamos o terceiro andar e Edward ficou no segundo.

Aos poucos fomos nos habituando e o assunto sobre Emmett foi amenizando.
Edward sempre o acompanhava em uma caçada, Carlisle dava dicas para
resistir ao sangue. Esme dizia sempre se orgulhar dele e quanto a mim,
Emmett sabia que independente do que fizesse, teria meu apoio total.

Com o passar do tempo e com tamanha atenção, Emmett começou a utilizar


isso à seu favor e fazia o possível e o impossível para conseguir companheiros
para disputas. Dava para perceber que Edward já não agüentava mais seus
jogos, e não era para menos – Emmett odiava perder, e se perdesse inventaria
mais mil jogos para contornar a situação.
Também fiquei cansada com tanta disposição para brincadeiras, poderia dizer
agora que Emmett era uma verdadeira criança: Rostinho de bebê com
covinhas e uma incansável vontade de concorrer, o que na pele de vampiro
deixa as coisas mil vezes pior.

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Esme sempre arranjava um jeito para deixá-lo de castigo, para que sua casa
permanecesse intacta. A situação era bastante divertida, um homem de
aparentemente vinte anos sendo castigado pela mãe de vinte e seis.

Depois da experiência de Edward na faculdade e do deslize que Emmett deu,


Carlisle concordou que não precisávamos estudar enquanto permanecêssemos
nesta localidade. Isso era bom, porém, bastante monótono. E essa mesmice
durou quase três anos. Trinta e seis meses de puro tédio.

Com os castigos freqüentes, Emmett arranjou outros afazeres: Investigar


novos jogos e armar estratégias para vencê-los. Carlisle estava em casa quase
todos os dias, já que não havia muita coisa para fazer no hospital.
Os dias se arrastavam lentamente e o céu mudava de cor constantemente, sem
ter mais o que fazer direcionei-me para o meu quarto, deitei em minha enorme
cama – o que era um mero capricho já que não precisava dormir – e fechei os
olhos, tentando recordar o tempo em que fazer tal ato me satisfazia por
completa. Subconscientemente, meus dedos procuraram algum objeto pelas
gavetas e retornaram com um cordão de ouro, um pingente balançava pelo ar e
as letras gravadas deslizavam de um lado para o outro exibindo a frase que
fora dita em um dia muito distante, uma época já esquecida: Para a minha
doce Rosalie Hale.
Lembranças que foram arrancadas de minha mente, mas que eu
inconscientemente pensava sempre, algo que sempre surgia para preencher os
espaços vazios dos meus dias incompletos.
A vozinha na minha cabeça dizia para abrir o fecho do pingente e desfrutar
um pouco do antigo passado, eu tentei me contrapor à ela, disse que ela havia
morrido junto ao irmão e estando enterrada não podia mais me manipular, mas
não, ela estava tão presente em mim quanto o ar estava presente para os
humanos, e assim como eles não percebem isso o tempo todo, eu também não
tinha notado sua presença constante ainda no meu interior.
Obedeci a sua vontade e me deparei com uma foto dupla, de um lado uma
humana muito bonita sorrindo de forma distraída e descontraída, com seu ar
ingênuo e decidido, uma expressão alegre no corpo juvenil e uma aura
iluminada. Do outro lado a mesma garota no centro da foto, cercada por
pessoas que continham traços iguais aos seus, os mesmos olhos azuis com
contornos avermelhados, os mesmos cabelos claros e a mesma pele de
pêssego. Todos pareciam felizes, satisfeitos e acima de tudo: era bastante
notável que se completavam em família.

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Analisar tudo isso me fez pensar o porque de uma garota como ela não ter
sido capaz de visualizar todo esse amor à sua volta. Ela era feliz desde o dia
em que nascera, porque então fora procurar um amor verdadeiro em uma
mentira bem contada?
Então, acredito que tudo o que ocorreu à ela depois dessa escolha foi o
castigo perfeito por negar seu próprio ser, e agora tudo o que estava ao seu
alcance era admirar tudo o que um dia foi através de um simples cordão de
ouro com duas imagens guardadas no tempo.
As lágrimas sufocaram-me por dentro e recoloquei a máscara de força, a qual
me protegia de tudo, a qual não fazia doer nada, pois essa era a Rosalie que
todos veriam: Sempre bela; poderosa e forte.
Desci os degraus lentamente e ouvi a conversa calma que acontecia enquanto
eu entrava em conflito com uma recém-chegada: a antiga ‘eu’.

Esme decidiu mudar um pouco a casa, e todos concordamos em ajudá-la à


ampliar o espaço com mais um andar. A festa estava armada para o meu
crianção: cimento, tijolos, madeira e tinta.
Emmett começou a jogar cimento em Edward, contudo, Edward era o mais
rápido e esquivou-se sem esforço algum, o cabelo de Esme ficou num estado
deplorável e o resultado foi que ele teria que caçar com Edward e retornar
apenas quando o ajuste estivesse terminado para ajudar a remodelar o porão.
Após a saída dos dois, retornamos aos afazeres, éramos muito rápidos, então
tudo não passou de algumas horas.
O brilho nos olhos dourados de Esme foi algo maravilhoso de ver, ela
realmente estava satisfeita e Carlisle sorria ao apreciar sua esposa tão
realizada.
Nós três sentamo-nos no enorme campo que existia próximo à residência e
apreciamos o sol começar a declinar para o horizonte. Se fossemos humanos,
eu poderia dizer que estávamos em um piquenique, mas como vampiros,
éramos apenas três seres encantados com a natureza e com a forma que o
destino uniu diferentes pessoas em um mesmo caminho.
A brisa passava levemente e a tranqüilidade era tudo naquele ambiente,
Emmett não teria sido capaz de permanecer tão quieto. O silêncio foi
interrompido por um Carlisle preocupado.

“Nós não somos os únicos vampiros aqui” Foram suas últimas palavras antes
de se levantar e postar-se frente à nós em modo defensivo.

O vento soprou novamente trazendo aromas de dois seres de nossa espécie.


Ao mesmo tempo duas silhuetas deslizavam rapidamente em nossa direção.

140
Capítulo 15 – A Bailarina e o Soldadinho de Chumbo

O casal era rápido e tinham movimentos harmoniosos, a vampira era baixinha,


com cabelos negros, curtos e espetados em várias direções, o vampiro era
loiro, muito bonito também, e mantinha algo oculto em sua expressão. A
garota caminhava com ar alegre e seus movimentos lembravam muito o Balé,
aliás, ela parecia-se perfeitamente com uma bailarina.
O rapaz andava com passos mais pesados e cautelosos, como um soldado.
Isso me fez lembrar de uma antiga história infantil: A Bailarina e o
Soldadinho de Chumbo.
Carlisle permanecia imóvel em minha frente, pois, era o único homem do clã
e queria defender sua mulher e sua filha.
A vampira-bailarina deu um passo em nossa direção e olhou brevemente para
o seu companheiro, mantendo uma conversa silenciosa; prontamente, todo o
clima ficou calmo, tudo estava pacifico e a presença deles já não incomodava.
Nesse meio-tempo, notei que os olhos da bailarina eram dourados, assim
como o nosso, e que os de seu companheiro eram um vermelho-alaranjado,
diria que quase dourado. Isso só poderia significar uma coisa: Alimentavam-se
de animais, então eram um clã civilizado. Creio que Carlisle chegou à mesma
solução que eu, porque seus ombros relaxaram e ele saiu da forma defensiva.

“Como é bom finalmente ver vocês. Pai você é tão lindo quanto imaginei, e
você mãe é tão meiga e amável...” A baixinha começou a tagarelar.

Foi um momento bastante constrangedor, ninguém sabia o que estava


acontecendo. Carlisle e Esme se olharam interrogativamente. O parceiro da
garota aproximou-se e mais uma onda de calma rodopiou pelo ar.
Um rosnado saiu rasgando por minha garganta com sua proximidade, o
mesmo ocorreu com Carlisle. O vampiro tinha cicatrizes por todo o corpo, e
isso o deixava com um aspecto assustador, apesar da beleza.

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Segundos se passaram e novos sentimentos surgiam em mim, era algo bom,
algo alegre, me esqueci imediatamente do soldado em minha frente.

“Vocês não devem ter entendido nada. Esta é Alice, ela tem visões e viu sua
família caçando animais, estamos desde então seguindo a mesma dieta e
viemos vê-los pessoalmente” O loiro explicava.

“Então você pode ver o futuro?” Carlisle certificou-se.

“Apenas quando uma decisão é tomada, o futuro é incerto, sempre pode


mudar, mas em partes sim, posso!” Ela sorria inocentemente.

“E o que vocês procuram em nossa família?” Carlisle não baixava a guarda.

“Jasper e eu estamos juntos a dois anos, e eu vi seu modo de viver e o


tamanho de sua família, pensei que poderíamos nos juntar à vocês” Ela
confessou determinada.

“Há... Mas é claro minha filha” Esme já abraçava Alice.

“Mãe, você acabou de conhecê-la, ainda nem sabe se eles entrarão para a
família” Senti-me insultada.

“É claro que vai Rosalie, olhe para ela... Tão amável; carinhosa e alegre”.

“Rosalie... Você é mais linda do que eu tinha visto. É realmente a vampira


mais bonita, sei que seremos ótimas irmãs, eu vou cuidar de tudo, das roupas,
cabelo, maquiagem... Vou te transformar numa verdadeira Barbie” Alice
tagarelou e me abraçou fortemente.

“Numa o quê?” Era obvio que ela estava sendo sincera, já poderia aceitá-la
como irmã, uma vez que ela me confortou em relação à minha beleza.

“Numa Barbie... É uma boneca que será criada dia nove de março de 1959 por
Ruth Handler e seu marido Elliot, a idéia está surgindo agora, a filha deles
‘Barbara’ brinca apenas com bonecas criança e logo eles criarão a ‘Barbie’,
uma boneca adolescente para sua filha e será divulgada pela empresa Mattel,
vai fazer muito sucesso durante décadas entre as garotas, é um modelo
perfeito de mulher, e você é assim” Esclareceu Alice, e percebi que as visões
dela eram bastante objetivas.

142
“É, parece que só posso dizer-lhes bem-vindos à família” Carlisle sorriu e foi
acompanhado por mim e Esme.

“Obrigada, eu sabia que iriam nos aceitar” Alice respondeu.

“Imagino que sim” Esme riu com o estranho talento de minha mais nova irmã.

“Aliás,... Onde estão Edward e Emmett?” Sabíamos que ela via o futuro, mas
mesmo assim ainda era estranho.

“Estão caçando, logo voltarão” Respondi.

“E outra coisa... O quarto do Edward fica à esquerda, certo?” Ela perguntou.

“Sim, porque?” Esme questionou.

“Porque é perfeito para mim, vou arrumá-lo agora se vocês não se importam”
Alice sorriu e correu graciosamente até o quarto de Edward.

Essa vampirinha era bastante hilária, se me trataria como uma Deusa e


expulsaria Edward do próprio quarto, isso quer dizer que era muito bem-
vinda, ela era o milagre que esperei por décadas, e sem dúvida, seriamos
ótimas irmãs. Juntas enlouqueceríamos o Cullen solitário.
Todos entramos na casa com Jasper ao lado e observamos enquanto Alice
reformava o quarto para torná-lo mais feminino.
Edward e Emmett já estavam demorando demais, era apenas questão de
segundos para que chegassem.

Jasper, Carlisle e eu, estávamos na sala e o loiro foi o primeiro vampiro que
Edward viu, e assim que o fez agachou-se e rosnou alto para o loiro; Jasper
retribuiu da mesma maneira e ambos entraram em posição de ataque, jogando-
se um ao outro e desviando o tempo todo.
Carlisle não agüentou ver isso e chamou a atenção de Edward tossindo alto.

“Este é Jasper Whitlock, ele e sua companheira chegaram hoje mais cedo. Eles
querem se juntar à nossa família” Carlisle explicava rapidamente a situação.

“Oh... Peço desculpas, eu não tinha percebido...” Edward falava gentilmente.

143
Jasper levantou-se habilmente e respondeu: “Nenhum dano causado. Na
verdade foi muito divertido; talvez em alguma outra hora você possa me
mostrar seus movimentos” Ele sorria.

“Você está me desafiando?” Edward perguntou brincando.

“Qualquer hora em que você estiver pronto” Riu o loiro.

Emmett e Esme apareceram na sala, minha mãe encarava Edward nervosa,


com uma sombrancelha levantada e batendo os pés como os humanos.
Enquanto Emmett permanecia alienado no ambiente.

“Não acontecerá novamente, mãe” Edward se desculpava.

Esme revirou os olhos e subiu para ajudar Alice.

“Ei Emmett, eu acho que temos um novo parceiro de brincadeiras para você”
Edward dizia apontando para Jasper “Ele está desesperado por um novo
oponente de luta” Anunciou.

“Seria um prazer para mim” O loiro sorriu e apertou a mão de Emmett.

“Huh... É um aperto decente que você tem aí. A fim de se juntar a mim no
quintal?” Emmett desafiou.

“Me mostre o caminho” Retribuiu o loiro.

Nesse exato momento, Alice surgiu no topo da escada e desceu como um


raio, estava sorrindo e saltitando de alegria na frente do meu irmão.

“Oh meu Deus, Edward... É tão bom finalmente conhecê-lo” Tagarelava ao


mesmo tempo em que bagunçava os cabelos rebeldes dele “Eu tenho esperado
tanto tempo, eu não posso acreditar que finalmente estamos aqui. Na verdade
eu posso acreditar, mas ainda assim é tão maravilhoso. Não acha? Ah, eu sei
que nós seremos os melhores irmãos que existem!” Alice abraçou Edward
pela cintura e correu de volta para o andar superior dando risadas.

“Uh... Aquela... Hmm...” Edward gaguejava sem saber o que dizer sobre a
mais nova vampira da família.

144
“Aquela era Alice, a companheira de Jasper” Esclarecia Carlisle.

“Ela tem muita energia” Jasper comentou sorrindo.

“Eu percebi” Concordou Edward fazendo todos rir.

“Ouça... Desculpe sobre anteriormente...” Jasper falava da quase luta.

“Está tudo bem, minha culpa, realmente. Eu não deveria ter me precipitado
daquele jeito” O sempre gentil mocinho da historia respondeu.

“Não, a culpa é minha, Eu deixei minhas emoções saírem de controle” Jasper


se defendia e obviamente ninguém entendia seu comentário, Exceto nosso pai.

“Jasper e Alice têm dons especiais, como você. Tenho certeza que você pode
entender isso Edward, como é difícil lidar em ter um dom”. Edward confirmou
com a cabeça.

“Qual é o seu dom?” Perguntou ao soldado cicatrizado.

“Tenho o dom da empatia. Posso sentir e controlar emoções” Jasper explicava


meio envergonhado com o próprio dom.

“Interessante, sua mente parece ser bastante focada em emoções também,


fiquei me perguntando porque sua mente parecia livre de palavras” Edward
comentava e todos observávamos o olhar curioso de Jasper “Eu posso ler
mentes” Edward solucionou o mistério apontando para a cabeça.

“Isso vai ser muito interessante” Jasper riu outra vez.

“Uma luta seria mais interessante” Emmett murmurou impaciente.

“Eu gostaria de assistir, se vocês não se importam” Carlisle comentou.

O riso influenciou o ambiente e nos dirigimos para o quintal, pois seria o


local aonde a luta ocorreria. Esme e Alice permaneciam no andar superior,
organizando o quarto novo.

“Então... Que o mais forte vença” Emmett deu um enorme sorriso.

145
Emmett atirava-se contra Jasper que se esquivava sem esforço, eram os
perfeitos movimentos de um militar, como eu havia observado, eram
exatamente a bailarina e o soldadinho de chumbo.
A luta demorou algumas horas e por fim, Jasper venceu Emmett, provando
que força não é tudo, e assim, encontrou outras disputas.
Edward era mais difícil de acertar, pois ele conseguia ler todos os
movimentos de seu oponente. E depois de muitos movimentos em falso e
impressionantes, Edward venceu.

“Minha vez de novo com você Jasper” Emmett exigia revanche.

“Acredito que por hoje esteja bom meninos” Carlisle alertou.

“Ufa... Vou ficar um pouco no meu quarto se não se importam” Edward


direcionou-se para as escadas.

Bloqueei minha mente, porque não queria que ele soubesse por mim eu Alice
agora estava em seu quarto, e que ele havia se tornado um ambiente bastante
feminino; com direito à closet e tudo. Isso eu precisava ver, e não demorei em
segui-lo. Ele percebeu e me olhou curioso.

“Porque está vindo atrás de mim, Rosalie?”.

“Vou procurar Esme e Alice, sabia que nem tudo aqui depende de você
principezinho Cullen?” Rebati.

Ele parou abruptamente e consegui ver por cima de seus ombros que Alice
estava mexendo em uma pilha enorme de roupas na porta de seu antigo quarto.

“Alice... Errr... Onde estão minhas coisas?” Ele temia a resposta.

“Elas estão na garagem” Disse sorrindo.

Alice era uma ótima bailarina e uma perversa diabinha pequena, era por isso
que já havia ganhado meu coração. Ela voltou sua atenção par as roupas e vez
ou outra examinava o tecido e o corpo de Edward e o meu, aparentemente ela
iria reformar nosso guarda-roupa.

Edward revirou os olhos e direcionou-se à garagem, seu semblante de derrota


foi acompanhado por meu sorriso vitorioso.

146
Carlisle e Jasper conversavam no escritório à respeito das regras de nossa
família, Edward arrumava seus pertences e Esme andava de um lado para o
outro na sala, folheando rapidamente diversas revistas com imagens de casas.

“Porque está tão aflita mãe?” Perguntei inesperadamente.

“Há Rosalie, gostei muito de Jasper e Alice na família, contudo, Edward não
pode ficar na garagem, estou pensando em um quarto para ele” ela revelou.

Pronto. O principezinho Cullen solitário estava vencendo outra vez, ele


sempre tinha tudo, será que ninguém enxergava isso?

“Ele não precisa de um quarto, nós nem sequer dormimos”.

“Eu sei... Mas Edward é bastante... Sensível, com essa coisa de ler mentes, ele
precisa de privacidade” Esme defendia o filhote.

“Não é necessário” Foi apenas o que respondi.

“Há filha, não trate seu irmão assim, me ajude a escolher e poderemos
reformar o seu também” Ela pediu.

Pensando bem, se o meu quarto seria mudado ao meu gosto, eu poderia abrir
uma exceção à favor de Edward. Mas eu tinha que sentir a vitória antes.

“Tudo bem, mas o meu quarto é o primeiro” Contra-ataquei.

Não demoramos muito para reformar, apenas mudamos algumas cortinas, a


tintura, a porta, o vidro das janelas e algumas outras coisas de menos
importância. Entre todas as imagens de casa e quarto, escolhi para Edward a
pior; era uma casa horrorosa com um quarto estranho, sem paredes e com
vidros enormes. Esme como sempre adorou a opinião e nos empenhamos no
trabalho enquanto os garotos disputavam em outra luta.

“Posso ajudar vocês?” Nem precisei virar para saber que Alice estava com um
olhar desejoso para fazer alguma coisa.

“Claro filha, qual você acha melhor?” Esme perguntou mostrando tecidos
diversos para as cortinas.

147
“Edward vai adorar o branco perolado” Ela informou confiante.

“Como tem tanta certeza?” Desafiei.

“Posso ver a reação dele ao entrar no quarto” Ela sorriu.

“Há... Meu filhinho vai adorar o quarto” Esme dizia com brilho nos olhos
“Obrigada filhas... Que houve Alice?” Esme reparou em sua aparência
impaciente, batendo o pé-de-sapatilha no chão amadeirado.

“Posso colocar as roupas de Edward no armário?” Ela perguntou.

“As roupas estão com ele, só pedir e trazer”.

“Não as dele, as que eu fiz pra ele!” Alice disse orgulhosa.

“Oh, claro... Vá buscar filha... Rosalie aguarde aqui enquanto chamo Edward
para ver o quarto novo” Disse Esme correndo pelas escadas ansiosa.

Alice retornou logo e não demorou a encher o guarda-roupa com peças


maravilhosas e elegantes. Segundos depois um Edward abobalhado mirava o
quarto demoradamente, apreciando cada feixe de luz que adentrava o recinto e
iluminava o redor.

“Brilhante... Absolutamente brilhante” Foi sua resposta para o resultado do


quarto. Realmente, era deslumbrante; os vidros deram um ar de alegria para o
solitário Cullen.

“Está lindo, não é?” Esme perguntou rindo e Edward concordou calado “Bom,
tudo o que precisamos é acrescentar os carpetes, e então seu quarto estará
completo” Tagarelava minha mãe.

“Obrigado Esme. Como sempre, você fez um trabalho extraordinário”.

Esme sorriu e saiu para pegar as outras coisas para o quarto novo, fui com ela
porque não agüentaria suportar o olhar de Edward como favorito.

Hoje pela primeira vez em muito tempo, o dia estava seco, sem chuvas e
tranqüilo. Alice estava conversando com Edward enquanto eu aproveitava a
calmaria quase impossível neste clã.

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Passaram-se cerca de duas horas e todos se juntaram na sala, com Alice
sorrindo de orelha a orelha e balançando o corpo para frente e para trás num
sinal de impaciência.

“Amanhã vai chover” Edward comentou.

“Sério? Que novidade, nem percebi que chovia por aqui” Ironizei.

“Edward quer dizer que amanhã será um excelente dia para jogarmos
Beisebol” Alice concluiu ainda esperançosa; aguardando a decisão de cada
membro da família para poder enxergar com clareza.

“Adoro beisebol, aposto que ninguém ganha de mim” Emmett dizia.

“Será uma ótima atividade em grupo para nós” Carlisle deduziu.

“Ficarei no time contrário a Edward” Esclareci.

“Ótimo, preparem as roupas que iremos assim que o dia clarear” Sorriu a
nova Cullen, usando seus típicos passos de balé para ir ao quarto.

A noite passou rapidamente, seu véu azul-escuro tornou-se cinza com leves
nevoeiros. As gotas começaram a cair lentamente e pude visualizar cada
partícula de H2O que caia na terra macia.
O campo que escolheram para o jogo permanecia seco, apenas os trovões
rompiam o silêncio.

“Esme será a juíza, o time inicial será Emmett, Alice e Rosalie contra Jasper,
Edward e eu” Carlisle informava rapidamente.

Alice iniciou os arremessos, o que era uma vantagem para o nosso time
quando Edward não era o rebatedor, pois ela esperava o batedor escolher o
lado de defesa e jogava a bola para a outra extremidade. Isso nos rendia
pontos, porém, o jogo se equilibrava quando Edward usava suas habilidades
para também tirar vantagem.
Emmett gritava que Edward estava roubando e tentava convencer Esme a nos
dar pontos extras por isso; ela rebatia dizendo que nossa arma era Alice.
E assim foi passando lentamente a melhor tarde que já tivera em uma família
de sete vampiros. Os trovões acompanhavam cada rebatida que os jogadores

149
davam, e Edward além da capacidade de ler pensamentos, mantinha outra
vantagem: era o mais rápido.

“Não acredito... Vamos perder por cinco pontos” Alice falou depois de
algumas partidas.

“Eu poderia viver sem saber disso” Emmett irritou-se “Hora de atacar”.

Alice apenas arremessava, eu corria de uma base para outra, assim poderia
enfrentar Edward adequadamente. Emmett era o melhor rebatedor de nosso
time, com sua força a bola parava do outro lado do campo. Aliás, um campo
humano seria apenas um pedaço dessa enorme campina que jogávamos, isso
tornava toda a brincadeira mais interessante. O desafio era um esplendoroso
atrativo. Esme era uma juíza justa e tentava ao máximo não gerar brigas.
O jogo estava quase no fim, perdíamos por dois pontos. Era óbvio que a visão
de Alice estava certa, pois Edward estava mais presente agora e não deixaria
de se exibir como o melhor.
Jasper esperou Edward rebater a bola traiçoeira enviada por Alice e disparou
para a base seguinte, trombando com a própria. O clima de amor entre eles era
pouco notável, mas não chegava a parecer inexistente. Eles mantinham um
relacionamento místico, algo diferenciado. A bailarina e o soldadinho de
chumbo estavam juntos, caídos no chão e todos riamos por Alice não ter sido
capaz de prever tal situação; eu diria que ela viu, apenas não quis evitar.
Edward chegou à base e marcou os outros três pontos que simbolizavam a
vitória do time dele. Emmett gritava querendo revanche e eu tentava freá-lo.
Sem saber mais o que fazer para tomar a atenção de Emmett; agarrei-o pela
cintura, envolvi meus braços no seu pescoço e fiz com que meus lábios
roçassem levemente com os dele, deixando-o com uma vontade explicita por
mais. E permanecemos nesse beijo caloroso por algum tempo, até perceber os
discretos, ou melhor, indiscretos risos ao nosso redor.
Virei-me sem demonstrar vergonha, mesmo sabendo que parecíamos dois
jovens apaixonados e iludidos com o amor. Eu sabia em meu interior que o
que sentia por Emmett era bem mais que amor, era mais forte do que qualquer
sentimento humano, e apenas por esse inominável sentimento é que eu vivia e
fazia de tudo para que permanecesse eternamente.
A beleza e a força apaixonaram-se dando origem ao amor irremediável e
incondicional, Carlisle dizia que os vampiros sentiam tudo com mais
complexidade, mas minha teoria é que Emmett era o homem emoldurado
especialmente para mim e seria assim até nosso ultimo dia em Terra.

150
Capítulo 16 – Jasper Whitlock, Jasper Hale

A monotonia tornou-se nossa companheira depois de muitos jogos e


brincadeiras, a vida voltou a ficar repetitiva e Carlisle decidira que já era hora
de entrarmos na escola para que a sociedade não levantasse suspeitas sobre
nossa diferente identidade.

“Há... Estou até vendo a felicidade de vocês... Quero estar junto quando
receberem a noticia” Alice dizia enigmática.

“Do que está falando Alice?” Perguntei impaciente.

“Você vai descobrir dentro de 10... 9... 8... 7... 6... 5... 4... 3... 2... 1... Agora!”
Ela informou quando Carlisle retornou do hospital.

“Rosalie, Edward, Emmett, Alice, Jasper, Esme...” Carlisle chamava. Apenas


segundos passaram-se e todos estavam na sala. “Tenho alguns presentinhos...
Está com o nome de cada um” Ele indicou a porta e nos direcionamos para
fora.

Meu queixo caiu ao deparar-me com as máquinas mais formosas e


exuberantes que já havia visto. Eram apenas três, mas luziam de forma
inigualável: uma Mercedes-Benz 56 da cor vermelha, um Jipe enorme e um
maravilhoso Volvo prateado; havia também diversos tecidos coloridos e
estrangeiros e alguns outros instrumentos de guerra.
A Mercedes mantinha uma placa com uma caligrafia perfeita onde se lia
“Rosalie”, o Jipe era para Emmett, o Volvo para Edward, os tecidos eram para
Esme arrumar a casa e para Alice estilizar roupas e os outros instrumentos de
guerra eram para Jasper.
Todos ficamos sem palavras para demonstrar a surpresa e Edward pronunciou
as palavras que todos pensavam:

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“É maravilhoso pai, todos, realmente adoramos...”.

Emmett queria apostar corrida em uma área bastante rupestre, assim seu Jipe
levaria vantagem; concordamos e em questão de minutos alcançávamos o
limite da quilometragem.
O resultado dessa corrida foi um Emmett triunfante e um Edward nervoso
pela pintura prateada destruída.

“Deixe que eu irei arrumar o mais rápido possível” Informei-lhe.

Alice amava arrumar e fazer roupas e eu venerava carros, era uma paixão
recente, mas fortíssima. Decorei cada detalhe das maquinas potentes e
combinei de comprar tinta prata para restaurar o carro de Edward, tamanha era
minha felicidade.
Procurei a tinta por várias cidades e encontrei apenas uma lata, iniciei
prontamente o processo de pintura e faltou o acabamento, sendo assim,
teríamos de ir para a escola na minha Mercedes.

“Deixe que Edward dirija, Rosalie. Não podemos nos expor. E seu carro é
bastante chamativo para os humanos” Carlisle explicava.

O único problema era Jasper. Estávamos prontos para iniciar a vida


acadêmica nesta região, mas Jasper ainda tinhas dificuldades para lidar com
sangue humano. Sua dieta era bastante diferente antes de Alice ‘ver’ nossa
família. Minha irmã acreditava que Jasper era bastante forte para agüentar o
que fosse, mas Edward achava que tudo não passava de uma péssima idéia.
Depois de muita luta, Alice saiu vencedora e Edward iria supervisionar o
novo membro Cullen. Seriamos uma família perfeita, todos jovens
problemáticos adotados pelo Doutor e senhora Cullen. Alice sabia que esse
disfarce seria o exato. Carlisle trabalhava num hospital próximo a escola e
concordou em nos acompanhar em nosso primeiro dia de aula.

Edward foi ao volante do meu carro com um sorriso torto horroroso de


satisfação, levamos muito tempo para chegar na escola porque Carlisle não
permitia que usássemos a velocidade máxima com tantos humanos presentes.
O estacionamento da escola estava muito cheio e a Mercedes acomodou-se
facilmente em uma vaga próxima. Ao estacionar Edward dirigiu-me outro
sorriso torto de deboche.

152
‘Sim, é um carro muito bom. Mas ainda assim é o meu carro’ Deixei falar
meus pensamentos para apenas ele notar o que eu dizia.

“Carlisle só concordou em deixar você trazer esse carro para a escola se eu


dirigisse” Ele retrucou rancoroso.

“Da próxima vez, dirija seu próprio carro” Respondi nervosa abrindo a porta
do carro e saindo para encarar os ridículos humanos.

“Eu teria dirigido o meu próprio carro, se você tivesse terminado o trabalho de
pintura noite passada” Ele murmurou enquanto os outros saiam do carro.

“Tinta prata não é fácil de encontrar, sabia?” Contra-ataquei e me virei para


Emmett buscando apoio “O que ele tá pensando?”.

Emmett deu de ombros e beijou-me na bochecha levemente e me manteve ao


seu lado pela cintura.

“Agora crianças, estamos na escola. Além do mais, temos uma platéia”


Carlisle encerrava a discussão.

Percorri os olhos na direção da ‘platéia’. Toda a multidão estava de camisa


xadrez, calças jeans e as garotas de saias rodadas, a última tendência de moda.
Todos os humanos nos encaravam boquiabertos e notei que Edward se
concentrava para saber o que se passava pela mente de cada individuo.

“Eles acham que Jasper e Rosalie são gêmeos” cochichou ele rapidamente
para um Carlisle ansioso.

“Interessante, é um bom disfarce. Rosalie?” Ele queria saber minha opinião.

“Eu manterei meu sobrenome” Whitlock era na certa um nome horrendo para
alguém como eu, e já que teria de passar por irmã gêmea de um vampiro todo
cicatrizado era o mínimo que poderia possuir.

“Não importa para mim” Jasper moveu os ombros sem se importar comigo.

“Então é Rosalie e Jasper Hale” Carlisle observou balançando a cabeça.

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“Jasper Hale. Você é o cara mais bacana da escola” Alice imitou uma colegial
apaixonada movendo os cílios teatralmente, rindo e induzindo um riso geral,
fazendo Edward revirar os olhos.

“Vamos” Carlisle apontou para a secretaria.

Os papéis com horários foram agilmente preparados e Carlisle conseguiu com


que cada um de nós permanecesse pelo menos uma aula ao lado de Jasper para
o papel de supervisor.

Além de ser considerada ‘irmã gêmea’ do cicatrizado eu teria de passar pelo


menos uma aula sendo babá, isso sem dúvida era o pior que poderia me
acontecer. Enquanto minha mente reclamava da situação atual, percebi que
inúmeros humanos me encaravam com olhar de adoração, aproveitei o
momento para expor um pouco da minha beleza.

Caminhei lentamente, balançando meus cachos de ouro de um lado para o


outro, fazendo com que eles combinassem com o ritmo dos meus passos.
Apenas para ter certeza de que eles me cobiçavam, pisquei para o garoto que
parecia ser o líder dos patéticos humanos e o efeito foi simplesmente hilário, o
garoto acompanhou meus passos de perto, porém seu instinto humano o
alertou para ficar distante do que eu era. O cheiro de seu sangue era apetitoso,
e seu coração acelerou-se ao receber minha atenção. O resultado foi que o
pobre e infeliz humano não viu a lata de lixo no seu caminho e acabou caindo
dentro dela, mostrando-se envergonhado e ‘perdendo’ minha atenção, e sua
expressão foi ainda mais hilária quando Emmett agarrou minha cintura
novamente exibindo seus tão definidos músculos e selando os lábios aos meus.

“Algum problema gata?” Ele sorriu.

“Nenhum senhor, estou tomando conta da situação” Ele percebeu meu tom de
voz e alargou um sorriso infantil com covinhas perfeitas.

“Minha aula é de História e a sua?” Emmett mudou de assunto quando os


patetas desapareceram de vista.

“Filosofia, junto com Jasper...” Mostrei meu desânimo.

“Nos vemos na próxima aula anjinha” Emmett deu-me outro beijo e caminhou
para sua aula.

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“Hã... Rosalie? Minha aula é com você...” Jasper alertava-me retraído.

“Já estou indo... Consegue se controlar?” Seu tom de voz me assustou.

“Consigo...” Seu rosto dizia o contrário “Acontece que o cheiro é muito


entonteante e chamativo” Ele justificava.

“Porque você decidiu seguir esse caminho se é tão difícil pra você?” Essa era
a dúvida que pairava pela minha mente sempre que me lembrava da questão
de que Jasper era um vampiro real que se alimentava de sangue humano.

“Decidi isso por Alice, não quero perdê-la, já presenciei muita coisa nessa
vida e Alice foi o melhor que me ocorreu, e sei exatamente como ela pensa...
Quero poder ficar ao seu lado sempre, mesmo que para isso eu tenha que
superar alguns desafios irresistíveis” Explicou.

Até então Jasper jamais tinha demonstrado tão claramente seu amor, ou
melhor, nenhum deles havia sido tão profundo e objetivo em seus sentimentos,
notei que o elo de amor entre meus irmãos era o mesmo que eu possuía por
Emmett, a única diferença era que a relação mística de ambos era visível para
quem quisesse enxergar, para um observador atraído, ou atento, e eu só
pensava em mim mesma, na minha relação... Senti que era meu dever tentar
mudar um pouco minha imagem, mas não expressá-la. Eu ajudaria Jasper, só
não deixaria que os outros percebessem minha solidariedade, e Alice merece o
melhor, ela merece seu eterno e único companheiro.

“Compreendo... Você vai conseguir, é difícil apenas no começo...” Falei as


primeiras palavras que transitavam em minha mente para que meu novo irmão
não se sentisse tão culpado.

Caminhamos rapidamente para nossa aula de filosofia e a professora já se


encontrava na sala. Sua expressão era severa, rígida, seus óculos eram grandes
para os olhos tão pequenos, sua face era dura e alguns fios grisalhos eram
perceptíveis. Sua roupa também combinava com seu aspecto, impecável e
sombria, nossa sorte continha dois aspetos – primeiro, éramos alunos novos e
tendo encaminhamento do diretor poderíamos chegar atrasados e segundo,
vampiros conseguem realizar seus objetivos naturalmente, já que nenhum
humano é estúpido o suficiente para se opor a nós.

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“Oh... Os gêmeos Hale, Senhorita Rosalie e Senhor Jasper suponho” Ao ouvir
essas palavras, todos os alunos saíram do transe da explicação e examinaram
as novidades do colégio: Nós.

“Sim, somos nós. Desculpe pela demora Senhora Tranvool” Jasper exibia sua
estupenda educação e foi audível o salto que o coração da professora de
filosofia deu ao perceber o charme do rapaz louro.

“Tudo bem, sentem-se nas carteiras vagas, estávamos discutindo à respeito da


teoria de Aristóteles sobre o homem ser um animal político” Ressaltou a
professora para deixar-nos cientes.

“O homem é o único animal que pode ser considerado político, já que é o


único que possui o dom da fala e, portanto o único que pode organizar-se
socialmente através do que acredita ser justo ou injusto, segundo ele ‘O
homem que é incapaz de viver em comunidade ou que disso não tem
necessidade porque basta-se a si próprio, não faz parte de uma cidade e deve
ser, portanto, um bruto ou um Deus’. Era nisso que consistia sua teoria, não?”
Jasper argumentava e deixava a todos interessados, observei que um leve
sorriso surgiu no rosto da professora ao ouvir o relato de seu novo aluno sobre
o tema levantado em sua aula.

“Muito bem Senhor Hale... Estou fascinada... Se todos os alunos mantivessem


esse amor pela filosofia seria uma era mais consciente” Ela exibia sua
admiração.

E assim a aula prosseguiu, mantendo o aluno novo no centro das discussões


filosóficas, perguntei-me quanto tempo ele havia estudado filosofia para saber
de todas as teorias, mas lembrei que uma vez que não temos de dormir e nem
fazer nenhuma atividade humana, poderíamos ser os melhores em qualquer
função que nos despertasse interesse.

A aula teve seu término depois de um longo período de debates, e Jasper foi
para sua aula de Espanhol junto com Edward. Minha segunda aula foi sobre
Língua Inglesa, uma matéria simples e gramatical, algo fútil para ensinar aos
inescrupulosos humanos.

Tudo ocorreu bem, até mais do que o planejado, pois Jasper ainda não havia
se alterado e Alice estava radiante... Isso até a terceira aula, quando notei que
Edward estava correndo para a sala de geometria, que se localizava próxima à

156
minha, e saiu segurando Jasper pelos braços junto com Emmett, mantendo
uma expressão apavorante.

Pedi ao professor que me deixasse ir ao banheiro e aproveitei para segui-los,


tendo o cuidado de deixar a mente vazia para poder averiguar a situação sem a
interrupção de Edward. Pelo visto, Jasper estava quase perdendo o controle e
Edward identificou isso por seus pensamentos. Emmett acenava para ambos
no estacionamento e me encontrou ao regressar para a escola.

“O que houve com Jasper?” Tentei parecer calma, mas não queria me mudar
tão cedo, estava começando a gostar deste lugar.

“Jasper quase atacou uma garota de saia rodada cor-de-rosa, uma tal de
Melany, na aula de geometria e Edward percebeu antes de mim” Emmett
sentia-se culpado, mas ele não poderia prever a decisão de Jasper, apenas
Alice poderia, o que me fez lembrar que ela ainda não havia aparecido.

“Vocês se preocupam muito com Jasper, ele não ia atacar ninguém, ou então
eu teria visto, dêem um crédito a ele, ele está tentando” Alice parecia
aborrecida ao nos encontrar sussurrando nos corredores.

“Temos de manter a segurança da nossa família acima de tudo, até mesmo dos
caprichos de Jasper” Comentei.

Estávamos ainda num tempo de caça aos vampiros, ou melhor, de matança à


tudo que era considerado não-humano, tudo o que importava era nossa
segurança, e Jasper mantinha-se próximo aos humanos apenas por Alice,
portanto, não era algo necessário.

“Concordo, podemos nos mudar, ou então esperar para que ele esteja mais
preparado” Emmett pela primeira vez demonstrava sensatez.

“Assim ele nunca vai conseguir superar essa fase... Mas tudo bem, ele precisa
de um pouco mais de tempo, e mesmo assim, ele foi brilhante hoje, foi uma
prova muito difícil para Jasper, vocês têm que compreender isso” Alice
defendia o amado.

“Nós compreendemos, e só estamos visando o bem de todos, desculpe Alice,


mas realmente é o melhor a ser feito por hora, e Carlisle irá decidir o mesmo,
sei que pode ‘ver’ isso melhor do que todos nós”. Expliquei.

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“Já disse que vocês venceram” Ela fez um beicinho infantil e cruzou os
braços como uma menininha contrariada.

Após essa catástrofe voltamos para casa, e assim como eu previra, Carlisle
ponderou sobre o assunto até decidir que o melhor era mudarmos de região.
Sendo assim, decidimos nos estabelecer em locais antes conhecidos por nós e
Jasper exalava desânimo por sentir-se culpado por nossa nova moradia.
Apenas Alice era capaz de lidar com seu humor estanho, que parecia contagiar
qualquer pessoa que se aproximasse.

Alice e Jasper moldavam-se perfeitamente, imaginei qual seria a história de


ambos, será que Jasper, o valente soldado havia salvado Alice e depois a
transformado como eu fizera com Emmett, ou então, Alice teve uma visão de
sua morte como humano e decidira mudá-lo para possuir um amor eterno?
Porém, a única maneira de esclarecer essa dúvida seria certamente
perguntando para a fonte, e nesse aspecto havia dois lados: Jasper e Alice.
Decidi que Jasper seria mais fácil e ao mesmo tempo poderia livrá-lo um
pouco da culpa.

Era um dia nebuloso, o que tornava tudo mais fácil, já que todos os outros
haviam ido caçar e Jasper estava isolado em um canto da enorme casa que
após a morte de um poderoso empreendedor, tornou-se nossa.

“Her... Não fique assim Jasper, não foi sua culpa, todos passamos por
dificuldades quando se trata de humanos” Iniciei o assunto de forma direta.

“Sei disso, mas vocês conseguem evitar e isso para mim parece algo
inevitável, é forte demais, atrativo demais” Ele explicava.

“Isso porque você já provou sangue humano” Justifiquei.

“Você nunca provou sangue humano?” A surpresa era enorme para ele ao
descobrir esse fato.

“Nunca. Mas isso depende muito da história de vida de cada um, nunca achei
necessidade de fazer isso, pra falar a verdade eu nunca quis ser isso” Nem
conseguia pronunciar a palavra de forma sadia, porque as lembranças ainda
me faziam estremecer. “Aliás, como é sua história? Você salvou Alice ou ela
te salvou?” Minha curiosidade venceu.

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“De certa forma foi ela quem me salvou e continua salvando” Acrescentou
sorrindo. Ele percebeu a confusão em minha expressão e prosseguiu de forma
direta.

“Nasci no ano de 1844 em Houston, no Texas. Mantinha uma vida normal,


contudo, sempre tive ganas de me tornar um soldado e todos diziam que eu
aparentava ter 20 anos quando na verdade tinha 17, alegando essa falsa idade
consegui realizar meu sonho de entrar para o exército confederado e por ser
eficaz e esperto, além de possuir o ‘dom da influência’, por assim dizer, ainda
humano consegui me tornar Major na guerra civil. Basicamente, eu tinha que
evacuar mulheres e crianças da cidade durante a guerra, e levei os civis para
minha cidade natal, depois de deixá-los seguros peguei meu cavalo e
direcionei-me para voltar à Galveston, aonde encontrei as três vampiras que
mudaram meu ser; enquanto as duas vampiras louras ‘Nettie e Lucy’ caçavam
próximo ao local, a morena ‘Maria’ me transformou e cuidou de mim
enquanto eu queimava” Ele estremeceu com a lembrança e eu fiz o mesmo ao
lembrar do fogo insuportável que penetrou meu corpo durante dias. Ele se
recompôs e prosseguiu “Fui transformado com 20 anos, Maria estava criando
um exército dee recém-criados – que são os vampiros mais fortes – para se
vingar das terras que havia perdido durante as batalhas. Após muito treino e
depois de muitos recém-criados, conseguimos dominar inúmeros territórios,
porém Maria era muito esperta, eu era designado a destruir todos os vampiros
depois que seu período de força suprema acabava. Ao longo do tempo, um
recém-criado bastante civilizado ‘Peter’ me ajudou na execução, mesmo não
gostando disso, ao deparar-se com nossa próxima vitima, a vampira
‘Charlotte’, seus sentimentos ampliaram-se significativamente e ele fugiu com
ela, e eu decidi não intervir na sua decisão o que deixou Maria furiosa. Depois
de cinco anos encontrei novamente Peter e Charlotte que me convenceram a
juntar-me a eles, assim, abandonei Maria, e apesar disso, continuei infeliz,
pois sentia o pânico das minhas vitimas ao virarem refeição e me sentia o pior
monstro do mundo, fato que me fez seguir meu próprio caminho, isolado e
perdido dentro de mim mesmo, isso até me mudar para Filadélfia e entrar num
bar humano e deparar-me com minha única esperança e eterna salvação:
Alice” Ele sorriu exuberante.

“E como ela te salvou? Como vocês se apaixonaram?” Queria saber a história


completa, mesmo que não tivesse muitos detalhes.

“Alice estava me esperando desde o momento em que teve a visão de que eu


entraria naquele bar, percebi seus sentimentos por mim e fui contagiado por

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seu espírito alegre, ela me contou sobre sua família e o modo com que vocês
se alimentavam, e disse que testava isso há algum tempo – o que percebi
através de seus olhos dourados – e disse-me também que conseguia ‘ver’ que
seriamos aceitos aqui. Ela me guia desde então e faz com que eu seja uma
pessoa melhor, ou melhor, com que eu me torne um monstro menos pior,
porque ainda não posso ser considerado bom depois do que eu quase fiz com
aquela garota de sai cor-de-rosa rodada”.

“Alice realmente é apavorante às vezes” Revelei ao ter o relato completo.

“É mesmo, e é justamente isso que me atrai nela, ela é única, e por mais
‘apavorante’ que seja, ela tem o melhor coração que já vi, seja em humanos ou
em vampiros. Alice é tudo o que eu quero e por esse motivo tento ser forte”.

“Você é forte e ela sabe disso” Tranqüilizei-o.

“Bom, essa é a minha história... Guerras, recém-criados, uma vidente


apavorante e uma família de vampiros que caça animais que me
transformaram em Jasper Hale, um vampiro vegetariano que tem uma irmã
gêmea ‘Rosalie Hale’ o que nos leva de volta a você” Concluiu.

“Como assim? O que foi que eu fiz?” Questionei.

“Acabo de te contar minha vida, você deve no mínimo me explicar sua


história, não acha?” Ele sorriu e certamente influenciou meus sentimentos, me
fazendo sorrir de volta.

Meu olhar rodou a casa, buscando apoio para poder relatar minha linda
tragédia, acabei me fixando em um cubo cristalino que exibia uma formosa
rosa, o meu ultimo presente de aniversário quando humana dada pela ultima
pessoa que passou por minha vida, que acreditava que eu tinha uma verdadeira
e maravilhosa alma e me denominava ‘Rosa Cristalizada’.

“Minha história de vida certamente daria um livro, e diria que esse livro
poderia ser narrado com um capítulo apenas seu, já que você está presente em
minha vida” Sorri para Jasper, meu ‘irmão mais novo’ e comecei a contar-lhe
tudo pelo que passei enquanto aguardávamos o retorno dos outros Cullen.

Sem dúvida, se fosse existir um livro sobre mim, esse capítulo relataria a
mudança de um homem chamado Jasper Whitlock para um vampiro: Jasper
Hale, o nobre vampiro que acredita na esperança de tornar-se um bom homem.

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Capítulo 17 – Anos 60, 70 e 80 com o Cullen Solitário
A história de Jasper era realmente interessante, porém, isso apenas serviu para
atiçar minha curiosidade sobre Alice, qual seria a história de vida dela? Pelo
que meu novo irmão havia falado, ela deveria ser uma ótima vidente cheia de
contos fascinantes.

Aguardei por um dia simples de caça para poder perguntar sobre seu passado.
Alice caçava melhor do que os outros, seu corpo pequeno e aparentemente
frágil era rápido e bastante flexível – o que fez com que minha teoria sobre o
balé soasse verdadeira.

“Alice eu gostaria de saber uma coisa...” Iniciei a conversa temerosa por sua
resposta.

“Eu não me lembro de absolutamente nada sobre o meu passado se é isso o


que você quer saber Rosalie” Ela foi direto ao ponto, o que a fez ter uma
semelhança imensa com Edward.

“Nossa, às vezes você apavora mesmo com essa de prever o futuro” Respondi.

“Só a partir do momento que a pessoa toma a decisão, e percebi há dias o que
você queria” Ela mostrou um sorriso enorme de orgulho.

“Mas como assim você não se lembra de nada?” Era algo fora de comum,
assim como ela podia ver o futuro, será que não poderia vasculhar o próprio
passado?

“Acordei sozinha numa rua deserta e comecei a ter visões, foi através delas
que descobri que era uma vampira e o que fazer para me alimentar, e vi
nitidamente Jasper entrando num bar e me encontrando, e sabia que esse era o
meu futuro e que seriamos um do outro eternamente, após realizar essa visão,

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vi sua família e nos juntamos à vocês... Fim!” Ela narrou rapidamente sua vida
e percebi a dor em sua voz por não saber nada sobre quem ela era antes.

“Sinto muito” Foi tudo o que consegui responder-lhe, não queria que ela se
sentisse pior.

“Não é nada. Meu passado não me faz tanta falta assim, ouvi dizer que a dor
da transformação é algo inesquecível, então, acho que é até legal não recordar
alguns pontos, e seria decepcionante se eu descobrisse coisas ruins sobre mim.
Prefiro pensar em mim mesma como uma pessoa boa...” Percebi que há muito
tempo ela guardava esses pensamentos e queria compartilhar com alguém de
confiança.

“Hora de ir pra casa” Informei-a e começamos a correr.

“Hora de fazer as malas outra vez... Os humanos começaram a suspeitar


novamente...” Ela me alertou com uma expressão de aborrecimento.

Nossa nova moradia foi determinada por Esme desta vez, ela optou por uma
pequena cidade perto do rio Sioux, em Upham, Dakota do Norte. Segundo
Esme; era um lugar calmo e com ótima estrutura para obras.

“Rosalie, Rosalie, Rosalie...” Alice gritava agitada em minha direção.

“O que aconteceu?” Ela me pegou de surpresa.

“A moda mudou, e graças à mim, os humanos não irão suspeitar de nós. Usei
minhas belas mãos pra preparar as melhores roupas...” Ela dizia numa
velocidade impressionante enquanto me entregava algumas peças estranhas.

“E como uso isso?” Apontei para os tecidos diferentes que ela me entregou.

“Esse é para usar no cabelo” Ela dizia colocando uma faixa na minha cabeça.
“Essa é uma camiseta tye-dye e obviamente, essa é uma mini-saia, você com
certeza será a mulher mais bonita no colégio novo”. Alice me contava
enquanto seus olhos saiam de foco, vasculhando o futuro próximo.

Se ela me tornaria o motivo de delírio do novo colégio, certamente eu


aceitaria de bom grado. Emmett radiou-se ao me ver com as novas roupas.

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“Você está perfeita anja” Ele disse ao mostrar um sorriso bobo cheio de
covinhas e disparar um beijo caloroso em meus lábios.

Nesse local, foi mais fácil para Jasper lidar com os humanos. Talvez fosse
porque o sangue deles estivesse com um cheiro pior devido às drogas tóxicas
que também estavam na moda, mas que jamais atrairia um vampiro. Essas
substâncias deixavam os humanos mais calmos e lúcidos, portanto,
poderíamos permanecer mais tempo nesse local.

Nessa nova escola, não éramos considerados estranhos e Alice estava certa,
mesmo parecendo humana eu ainda me destacava.

Nos mudamos apenas duas vezes durante a década de 60, aproximadamente


no ano de 1967, durante o verão do amor é que nos estabelecemos em outra
localidade de Dakota do Norte.

Desta vez eu não fui a única aluna a receber destaque na escola. A presidenta
da turma ‘Kelly Anders’, uma loura, alta e com um cérebro minúsculo tentou
aproximar-se de Edward, o que decididamente acabou em uma decepção
amorosa, o que a garota nem deve ter percebido, devido à quantidade de
drogas. Muito menos Edward deprimiu-se, pois ele era fã da solidão, era um
mero vampiro sem coração e indigno de amar.

Outra pessoa que despertou interesse por Edward, foi ‘Judy Valance’, filha de
uma repórter, e fofoqueira digna de prêmio Nobel. Segundo sua mãe, ela
deveria sair com um garoto com as características de Edward para poder
receber destaque na escola e tornar-se popular. Meu irmãozinho sentiu seu
orgulho ferido, não queria ser comparado à um troféu, então não sentiu-se mal
por dar um fora na garota.

Alice mostrou-me novas roupas de sua coleção, ela gostava muito dessa
mudança de moda repentina, pois assim poderia ocupar-se desenhando e
costurando estilos próprios e exuberantes. O que mais a deixou contente foi
brincar com as cores, algo que definitivamente estava em alta nos anos em que
estávamos. Ela pediu para que Emmett usasse seu colete de couro por cima da
camisa listrada e usar a nova calça boca de sino colorida, com uma fita na
testa. E para mim, uma roupa bem chamativa, também colorida e cheia de
flores, além de óculos enormes.

Edward entrou nesse momento e encarou-nos boquiaberto.

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“O que... É isso?” Ele lançou um olhar repugnante para as roupas novas e
diretamente para a que eu usava.

“É um mini vestido” Comentei rindo.

“Não acho que seja permitido legalmente você se agachar nesse vestido” Ele
falou encarando minhas coxas, e mostrando raiva. De certa forma, ele era um
irmão protetor e não queria que eu me exibisse.

“Ei, cara, relaxe. Paz e amor, baby” Emmett disse sorrindo e levantando os
dedos em forma de ‘v’.

“Nunca... Mais... Me chame de ‘baby’” Edward grunhiu.

Edward subiu as escadas velozmente e pelo novo grunhido pude constatar que
ele acabara de ver os cabelos de Jasper cobertos por margaridas – Obra de
Alice. Esse era o melhor ano da vida dela.

Edward jamais concordava com as roupas feitas por Alice, e fugiu dela
novamente quando esta ofereceu um poliéster branco para que nos
familiarizássemos com a moda dos anos 70, toda peça recusada por Edward
era acrescentada ao guarda-roupa de Jasper.

Por causa dessa obsessão de Alice com a moda é que estávamos morando em
Glen Arbor, uma cidade minúscula, aonde todos se conheciam. Edward
pensara que a moda por lá não seria fundamental, mas ele se enganara
redondamente, o visual hippie dominava toda a escola, assim como o restante.

Uma das piores horas em fingir ser humano em uma escola é a hora do
intervalo, em que tínhamos que nos obrigar a comer alguma coisa que
certamente seria posta para fora.

Edward e Alice estavam inquietos na refeição e mantendo uma conversa


particular e bastante estranha, quase toda por telepatia, porém Edward
respondia em murmúrios o que não ajudava muito.

“Holly Austin está pensando de novo” Ele dizia para Alice aguardando a
resposta e sussurrando “Sim”. Mais uma pausa “Culpe George A. Romero”. O
que o diretor de filmes de terror tinha haver com a garota de macacão jeans
azul? “Claro que não” Ele respondeu novamente os pensamentos de Alice.

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Todos encaramos Edward e Alice com expressões de desagrado, fazendo com
que eles explicassem a conversa telepática.

“Uma garota humana está ficando muito desconfiada” Explicou Edward.

“Merda... Os ursos são tão bons nessa região... Não é justo” Emmett xingava.

“Não pode ser nada que eu fiz” Defendi-me, desta vez eu havia sido a garota
mais normal e ‘humana’ possível.

Um momento passou-se em silêncio e foi rompido com o grito de Edward e


Alice “Não” para os pensamentos de Jasper.

“Venham” Edward apontou para o corredor e seguimos sua direção. A garota


levantou-se e Edward irritou-se.

“Eu cuido disso” Ele disse parando para falar com Holly e indicou o caminho
para que continuássemos, mas não lhe demos atenção. A garota nos alcançou e
Edward dirigiu-se para ela “Holly... Bom te ver novamente. No entanto, nosso
pai está com problemas no hospital... Sinto muito, precisamos falar com ele
imediatamente, aproveite sua tarde” Edward falou numa voz encantadora.

Viramos a direita para a saída e a garota perguntou em voz alta:

“Por que vocês não tem presas?”.

Todos parecíamos exatamente como estátuas, petrificados. Muitos humanos


ouviram sua pergunta e eu não tinha respostas rápidas para esse tipo de
pergunta. Alice foi veloz e respondeu antes de todos.

“Porque não combinavam com as fantasias. Então decidimos não nos


incomodar com as presas esse ano”.

Alice era a salvação na vida de vampiros sem ação... Faltava apenas uma
semana para o baile de Dia das Bruxas e sua resposta foi perfeita.

“Ah...” Holly franziu as sombrancelhas e preparou-se para falar novamente.

“Vamos embora agora!” Edward sussurrou e andamos para a saída numa


velocidade espantosa.

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Carlisle ficou impressionado com a rapidez dessa nova descoberta e Esme
chateou-se ao saber que haveria uma nova mudança. Isso era a coisa mais
chata em nossa espécie, nunca ficar muito tempo em um único lugar.

“É uma pena... Eu estava começando a gostar mesmo da região” Carlisle


murmurou olhando para o horizonte.

Nos retiramos da região com Emmett reclamando sobre os ursos, pois ele
acreditava que eram os melhores do planeta.

Nossa nova moradia era em uma localidade tranqüila, lembrava muito Forks,
mas não era; era Wyoming. Vivemos por lá apenas cinco anos, e esse período
marcou a vida de todos, menos do rabugento Edward que odiava músicas dos
anos 80. Não sabia nem mesmo apreciar uma banda humana que era o maior
sucesso: U2. Emmett adorava irritá-lo colocando Michael Jackson no último
volume. Tentando ser um pouco dócil decidi chamá-lo para clarear as idéias.

“Vamos caçar?” Perguntei na porta de seu quarto.

“Você vai caçar nisso?” Ele perguntou erguendo uma sombrancelha e


apontando para minha jaqueta de couro branca com babados, mais uma peça
decorada por Alice.

“Claro que vou me trocar. Você vem conosco?” Questionei revirando os olhos
e vendo-o suspirar.

“Não, obrigado”.

Edward já estava me irritando demais, essa era a hora certa pra ele arranjar
uma garota, ou ele simplesmente se tornaria mais louco. Viver com ele era
algo que exigia muito esforço e sacrifício, nada era bom, tudo deveria ser
perfeito e qualquer coisa era motivo pra outra horrorosa mudança. Apenas
Alice conseguia aturá-lo, e mesmo assim, apenas telepáticamente. Porém, esse
lado obscuro de Edward tinha um ponto positivo, na falta de um amor ele não
largava o piano. Edward tocava divinamente bem e todos ficávamos
confortados com a ‘Favorita de Esme’.

O melhor desses anos, para mim e para Alice era indiscutivelmente a


maquiagem. Meus lábios permaneciam sempre num vermelho intenso e com
bastante brilho, assim como as nossas roupas cheias de glítter e transparentes.

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A escola era outro aspecto insuportável, agora que as drogas não eram mais
presentes, Jasper estava sendo acompanhado de perto, perto demais eu diria.
Edward e Alice não deixavam-no dar um passo sem ter um deles como
sombra. Coitado do meu irmão, após ganhar tantas batalhas, acabou perdendo
a mais simples, contra uma baixinha irritante e um ranzinza solitário.

Enquanto estávamos no refeitório, notei que Alice e Edward discutiam


mentalmente sobre Jasper. Em um movimento inesperado, Edward chutou a
cadeira do nosso irmão, que retribuiu com um olhar venenoso.

“Talvez seja um bom dia para matar aula” Edward murmurou.

“Com licença?” Me intrometi, eu deveria opinar a respeito.

“Mantenha sua voz baixa” Edward alertou.

‘Cale a boca, Edward. Já estou cheia de todo mundo ficar adulando o pobre
Jasper’ Gritei em pensamentos.

“Sinto terrivelmente que o mundo não gire ao seu redor” Ele contra-atacou
com um olhar de repulsa.

Nesse momento uma garoa fraca caiu acompanhada de um trovão.

“Vai chover, perfeito para baseball” Emmett sorriu e levantou-se para sair.

O baseball foi horrível, Alice roubou, Edward discutiu, Emmett alegava que a
quadra era pequena e minha roupa ficou num estado deplorável, isso tudo
junto com o olhar severo de Esme por estarmos brigando.

Carlisle resolveu amenizar a briga “Acho que precisamos de umas férias


prolongadas com a família. Estamos indo para o Alaska”.

Edward obviamente resmungou, mas adorei a idéia, a neve era perfeita e


Emmett gostava também de ursos polares. Alice e Jasper iriam pra lá pela
primeira vez. Tudo seria no mínimo inesquecível.

“O que tem lá além de neve?” Alice questionou.

“Vampiros... O Clã Denali... São pacíficos como nós e realmente legais, mas
se quer um conselho: Mantenha Jasper longe das garotas” Falei rindo ao
lembrar de Tanya, Katie e Irina.

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Carlisle achou que uma viagem de carro era mais propicia, então na minha
Mercedes-Benz 56 vermelha, fomos eu, Emmett e Esme e no Volvo prata de
Edward foram os outros.

Isso foi um alivio, pois Carlisle queria que eu fosse no mesmo carro de
Edward, porém um belo biquinho e uma birra simples me deixaram no volante
da minha máquina...

Depois de mais de 24 horas dirigindo, uma placa indicou que estávamos em


Anchorange, ou seja, mais algumas horas e chegaríamos ao Alaska. Eu dirigia
mais rápido do que Carlisle – Edward estava proibido de ficar ao volante –
Então meu carro estava na frente, pude vê-los ao longe pelo retrovisor e meu
rosto exibia o mesmo bico que usei para convencer Carlisle. Eu deveria
trabalhar melhor nesse biquinho.

Descemos do carro e nos dirigimos à porta dos Denali com Alice saltitando
de entusiasmo e Jasper sendo contagiado por suas emoções.

“Querido Carlisle, é tão maravilhoso vê-lo novamente” Tanya nos recebeu.

“Esme, você está gloriosa como de hábito” Irina revelou.

“Oh... Esses são os membros mais novos da sua família?” Kate perguntou
pegando nas mãos de Alice e Jasper e conduzindo-os para dentro “É um
prazer conhecê-los, por favor, entrem”.

Entramos para o ambiente aquecido e amadeirado e a atenção permaneceu em


Alice e Jasper, desta vez Tanya falava.

“Então me digam... Como vocês encontraram os maravilhosos Cullen?”.

“Tive uma visão” Alice respondeu num tom de timidez.

“Uma visão? Que dom fenomenal de se ter” Tanya respondeu olhando para
Edward significativamente, avaliando-o da cabeça aos pés.

“Tem estado comigo desde a minha transformação... Vi os Cullen e Jasper


também” Alice moveu os ombros.

“Ah, sim. Jasper” Ela repetiu admirando Jasper dessa vez. Isso começou a me
irritar, talvez não fosse uma boa idéia vir para o Alaska.

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“Oh, Deus... Estou sendo tão rude. Naturalmente a mais encantadora de todos
é Rosalie. Como vai?” Tanya perguntou beijando levemente minhas
bochechas.

“Estou bem, Emmett e eu já tivemos várias luas de mel por enquanto”


Informei rapidamente, antes que ela pensasse que poderia se engraçar com o
meu ursinho. Todos riram com o meu comentário, mas não me envergonhei.

“Emmett, querido, o quarto no segundo andar servirá para uma lua-de-mel


temporária” Tanya disse sorrindo.

Emmett alargou um sorriso em resposta, pegou-me no colo e voou por cima


das escadas.

O frio pouco foi perceptível comparando-se ao calor que exalava do corpo de


Emmett... Horas e horas foram meros pretextos para o que queríamos
realmente. Emmett era do tipo incansável e eu era no mínimo parecida.

Não fazia nem uma semana que estávamos lá e Tanya investia mais do que
nunca num romance com Edward. Causa perdida, ele era incapaz de amar.
Encarei-a após receber outro fora e resolvi dizê-la para desistir.

“Tanya... Edward jamais gostou de alguém além de si mesmo, seu orgulho é


algo inabalável, não perca sua eternidade com um vampiro que nem sabe o
que significa a palavra ‘amor’. Procure alguém que realmente lhe queira”.

“Pra você é fácil dizer isso, Rosalie, pois Emmett lhe ama cegamente. Será
que é pedir demais uma pequena porcentagem de atenção de troco, comparado
a tudo o que já fiz a ele, isso não é nada...” Ela parecia desmoronada.

“Você nem imagina como é horrível viver em companhia de Edward. Posso


dizer isso porque estou na família há quase 60 anos. E o pior sem dúvida foi
passar os anos 60,70 e 80 com o Cullen Solitário. Ele não quer amar, é
satisfeito consigo mesmo”.

“Ele têm sido tão grosseiro comigo... Acho que você está certa... Vou procurar
Alice apenas para ter certeza de que seu futuro não será comigo” ela sorriu e
retirou-se.

Definitivamente o Cullen solitário era reconhecido por sua arte em destroçar


corações e não absolver emoções.

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Emmett me pediu em casamento outra vez, e nossa lua-de-mel novamente foi
em Paris, o lugar mais maravilhoso para um casal apaixonado, um lugar que
certamente provocaria alergia em Edward.

Permanecemos em Paris quase toda a década de 90. Meu francês já estava


maravilhoso, mas decidi que era hora de voltar para a família. Todos eles
faziam muita falta.

Esme parecia emocionado ao nos rever, imagino que ela pensasse que não
mais voltaríamos. E Carlisle estava contente em nos ver bem. Edward era o
único que permanecia impassível e não me abalei por sua falta de compaixão.

O clima estava bastante pesado em Denali, e Tanya estava desolada e


mantendo-se o mais afastada possível de Edward.

“Vamos morar em Forks, Washington” Alice dizia energicamente “Iremos nos


divertir muito, segundo Carlisle, quase não faz sol lá” Ela pulava de um lado
para o outro.

Esqueci-me que Alice e Jasper ainda não conheciam Forks, o resto de nós já
esteve nas redondezas da cidadezinha, onde encontramos os fedorentos cães.
Arrepiei-me apenas com a recordação. Todos já estávamos com as malas
prontas. Carlisle agradeceu ao Clã Denali pela hospitalidade e convidou-os
para aparecerem em Forks quando quisessem. Tanya despediu-se de todos,
exceto Edward e retirou-se rapidamente do nosso campo de vista.

“Desta vez eu dirijo” Edward grunhiu.

“Bem longe de mim” Grunhi de volta.

“Já tenho a eternidade para ficar próximo à você, isso já é tortura demais,
ficarei feliz em ficar dois dias fora do seu alcance, você nem devia ter voltado
de Paris” Ele contra-atacou.

“Você é o ser mais repugnante que já conheci em minha vida Edward Cullen”
Gritei e Emmett me abraçou para acalmar meus nervos.

Entrei no carro com Alice e Emmett, abandonando o solitário vampiro sem


coração e fiquei feliz ao pensar que pelo menos eu tinha alguém para amar e
ser amada, algo que ele jamais teria...

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