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A Intervenção Psicanalítica Nas Psicoses Não Decididas Na Infância
A Intervenção Psicanalítica Nas Psicoses Não Decididas Na Infância
RESUMO
ABSTRACT
The childhood is the time of crossing to the infans condition to the desiring subject
status. In this passage serious obstacles could appear and in case of the child is placed in
an object place, a diagnosis of non decided psychosis can be formulized. The psycho-
analytic intervention appear like a kind of treatment in which the transferring
relationship with someone that tolerate to lose can change the evolution of the structure.
Nesse percurso, passar do "ser um corpo" para o "ter um corpo", sendo requisito para
tal que um Outro dele cuide e nele faa inscries desta outra ordem que linguageira.
O desejo deste Outro geralmente o agente materno - fundamental para fazer deste
"pedao de carne" um participante do campo simblico, na medida em que, ao tom-lo
como objeto de seu desejo, a me torna-o parte de si mesma pelo vis da representao,
da substituio, ou seja, o filho passa a ser o que Freud nomeou de falo materno, vindo
restituir para esta mulher o que ficara em aberto na construo de sua feminilidade. O
filhote humano, agora referido ao falo, encontra um primeiro sentido para si, ou seja:
fazer-se de objeto para o gozo do Outro. Ter de passar por a para poder ter acesso a
um lugar.
O desvio que possibilita o distanciamento necessrio para no ser apenas puro rebento
biolgico d-se pela entrada no campo do desejo do Outro que, deste lugar, imprimir
imagem e significantes fundadores deste mais alm que so os registros do Imaginrio e
do Simblico. Operao especular de montagem da imagem corporal, deixando como
herdeiro o eu ideal. Operao de entrada no campo da linguagem, pela via da alienao:
ao gozo do Outro, nas pulses; aos significantes primordiais, no trao unrio.
Trata-se de chegar neste lugar para poder abandon-lo. O desafio ento tornar este
desejo prprio, pela via da separao. Novo nascimento, desta vez subjetivo.
Esta iluso vai aos poucos sendo quebrada pelas alternncias do agente deste Outro
esta me que se alterna em presenas e ausncias e se faz, portanto, faltante. O falo que
o beb se faz para ela j no suficiente para ret-la. Os fonemas que da comeam a
surgir como presenas sonoras substituindo as ausncias reais do objeto do a sada: o
pequeno sujeito se arrisca no campo das palavras. O Fort!Da! disso paradigma: a
criana entra no jogo da linguagem porque o Outro falta e o caminho a substituio do
real pelo significante.
Ainda preciso ir adiante, rumo subjetividade: como dar significados a esta falta e,
mais, como encontrar significado mais alm do falo? A Castrao do Outro encontrada
na novela edpica: o Pai como nome deve ser encontrado tambm como real. Da
inscrio do Nome-do-Pai surgir a possibilidade da identidade prpria.
Verificamos a evoluo que ocorre na relao da criana com o Outro, possibilitada pela
evoluo que as gradativas aquisies desenvolvimentais permitem. disso que resulta
sua mudana de posio: de objeto para o Outro, ela passar a ser sujeito de sua histria.
De externa, a estrutura simblica torna-se o eixo inconsciente a partir do qual ela
posicionar sua enunciao.
Entendemos as formas mais graves destas patologias as psicoses como formas ainda
no organizadas como estrutura, nas quais encontramos o chamado "ncleo
psicopatolgico" formado por um conjunto de sintomas, que constituem, na sua maior
parte, defesas em relao ao Outro-todo caracterstico da Psicose. Entretanto, ser que
poderamos situar esta sintomatologia como demonstrativa, j na infncia, da estrutura
psictica? Sabemos, desde Lacan, que na estrutura psictica impera a foracluso do
Nome-do-Pai, ou seja, a no inscrio definitiva da falta no Outro. O tempo da infncia,
caracterizado por um tempo gerndio, de insero no campo da linguagem, de
inacabamento em relao identidade, poderia abrigar a idia de estrutura? Pois, a
clnica no-lo demonstra, dificilmente, na infncia, estas defesas de aparncia psictica
se apresentam sem, paralelamente, encontrarmos uma possibilidade de abertura para o
Outro, de apelo ao outro, caractersticos do Outro da Neurose.
Entre a certeza de ser objeto para o Outro materno ou das vrias terapias
instrumentalizantes e a incerteza que marca o lugar desejante, est a chance da criana
de se posicionar como sujeito.
Trata-se de um fato de estrutura, como Lacan bem o demonstrou: ao Outro, tesouro dos
significantes, falta significante que d conta do que o sujeito. Esta falta, fonte de todas
as neuroses, justamente a chance, para cada sujeito, de encontrar-se a partir da
construo de um sentido prprio. E o psicanalista, por seu confronto cotidiano com a
castrao, pode acompanhar uma criana que se desencontrou da falta ou nela se
perdeu, na busca por seu lugar de enunciao.