Você está na página 1de 2

O poder paralelo das empresas de auditorias

A Governança Corporativa engloba todas as práticas que uma empresa pode


adotar ou divulgar a fim de harmonizar seu relacionamento e interesses com o mercado,
os acionistas, empregados, governos, clientes e fornecedores. No Brasil, a CVM se
aproxima cada vez mais da regulamentação internacional ao expedir suas normas e
procedimentos sobre Governança Corporativa.
Na busca pela Governança nas Demonstrações Financeiras, não somente as
empresas estão sendo obrigadas a divulgar com o máximo de transparência as suas
operações, mas também as auditorias independentes são responsáveis solidariamente por
qualquer distorção que as peças contábeis apresentem e, conseqüentemente, por danos
causados ao mercado de capitais. Essa exigência e, principalmente, o medo da punição
tornaram as auditorias extremamente conservadoras e têm deixado os auditores cada vez
mais receosos de emitir um parecer, sem antes obrigar os administradores a assinar uma
carta de representação que se assemelha a uma confissão de culpa, caso algo seja
questionado.
Esse papel de fiscalizador e guardião das boas práticas de Governança e dos
princípios contábeis está sendo usado de forma exacerbada pelos auditores, e a pena para
quem não cumpre suas decisões é a imposição de ressalvas nos pareceres, o que é um
desastre para as empresas com ações em bolsa. O mercado entende, neste caso, que a
empresa não possui um nível adequado de Governança, prejudicando o desempenho
futuro de suas ações na bolsa.
Com o poder da ressalva, as empresas de auditorias agem como se fossem
“donas” das demonstrações financeiras de seus clientes, decidindo sobre: interpretação,
contabilização e divulgação; e de nada adiantarão argumentações, pareceres técnicos ou
jurídicos; o que prevalecerá será a interpretação do auditor, pois com os prazos para
divulgações das informações cada vez mais exíguos, geralmente não há tempo para que
consultas formais aos órgãos competentes sejam realizadas e as divergências
esclarecidas.
Os auditores agem como verdadeiros juízes sem, entretanto, permitirem o direito
à ampla defesa. Do modo como as regras estão formuladas, não há segunda instância a
recorrer antes que a interpretação dada pelo auditor seja divulgada nas Demonstrações
Financeiras e precificada pelo mercado.
Após a divulgação das Demonstrações Financeiras, os clientes encontram
enormes resistências para reabrir as discussões por parte das auditorias. É como se o
“processo” tivesse tramitado em julgado, sem a possibilidade de interposição de recurso
que mude a sentença e, assim, coloque em risco a reputação dos auditores de bastião da
Governança.

Alexandre Lima, gerente de Controladoria da Rio Polímeros

Você também pode gostar