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CONTEÚDO

PROFº: ANDRÉ BELÉM


03 Humanismo - Aspectos Sócio-Culturais nas
Manifestações Dramáticas – O Auto da Índia I.
A Certeza de Vencer GE180208

O TEATRO VICENTINO E O HUMANISMO Castelhano — fanfarrão, discurso marcado por chavões do


discurso amoroso
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O HUMANISMO é uma manifestação artística medieval. Mas Lemos — o preferido de Constança, avarento e tosco.
difere-se do Trovadorismo por ter seu apogeu num período de Marido — homem que possui um discurso marcado pela
transição que vai do final do séc. XV ao início do séc. XVI. É narração de fatos das viagens
constituído por manifestações em prosa, verso e drama, sendo
que apenas este último foi contemplado no programa. O maior ELEMENTOS CONSTITUTIVOS:
representante desse estilo em Portugal foi dramaturgo Gil
Vicente, considerado “o pai do teatro português”. LEXICAL/SINTÁTICO: há várias expressões e provérbios
populares na época, com termos arcaicos e quase
incompreensíveis para nós. Nos diálogos de Castelhano há
Drama Medieval Vicentino: um outro dialeto, o saiaguês.
SONORO: a peça é construída em forma de redondilha,
O teatro feito por Gil Vicente tinha objetivo moralizante, prevalecendo os versos de sete sílabas poéticas
pois procurava retratar o homem em sociedade, criticando-lhe SEMÂNTICO: tem como principal figura de linguagem a
os costumes e tendo em vista reformá-los. São ironia, encontrada principalmente nos diálogos da Ama
características fundamentais desse teatro: Constança e da Moça.

Uso de uma linguagem híbrida que ocorre por meio da O TEMPO -


Mistura do idioma lusitano, na época o português arcaico, Gil Vicente não respeita a regra da unidade, pois o
com o espanhol; tempo que decorre no enredo, não é descrito de maneira
objetiva. Eventualmente se marca o tempo, fato que não nos
Sofre influência das encenações litúrgicas, sobretudo impede de tentar descrevê-lo:
em seu caráter moralizante – pois as peças têm como
objetivo reformar os comportamentos. Cenas Acontecimentos Passagem do
Faz uso da redondilha e de rimas, pois o teatro poético Tempo
vicentino visava facilitar a memorização dos assuntos I a III Partida da Armada Num domingo de
tratados Maio, de
Faz uso de temas que exploram os costumes humanos madrugada
em fatos que buscam a conscientização da degeneração IV a VII Visitas do Primeira Terça-
moral – o homem tomando consciência de seus defeitos Castelhano e feira, após a
morais. Lemos partida
VIII (quadro I) Fala da moça Dois anos após a
Uso de humor, de Ironia, de crítica e de ridicularização
partida
desenvolvendo o lema: ridendo castigat mores – rindo
mudamos os maus hábitos. VIII (quadro II) a Regresso do Três anos após a
XII Marido partida
Teatro feito para agradar aos populares, daí a musicalidade
e o humor, serem elementos importantes. OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:
Ênfase em tipos sociais, pois seus personagens revelam O Auto da Índia revela que o conceito de moral e
comportamentos comuns da sociedade em grupos sociais. de família que se tinha durante a idade média estava
passando por um processo de transição: de um lado, a crença
O auto da índia (1509) é uma farsa que representa bem de que uma família sem a presença do marido está moralmente
esses aspectos do teatro vicentino. Foi apresentada em Almada perdida; de outro lado, a condição de carência afetiva e
perante a rainha D. Leonor. Seu título sugere uma crítica às econômica parece ter dado à mulher bases para refletir sobre
navegações portuguesas, baseada, talvez, no fato de os sua condição perante si mesma e perante a sociedade.
homens saírem em busca de riqueza e poder em terras RESUMO DO ENREDO:
distantes. Ficando suas esposas privadas econômica e, mais Enquanto seu marido parte para uma viagem rumo às Índias,
ainda, emocionalmente, o que as deixava vulneráveis ao Constança (ou a Ama), recebe os galanteios de Lemos e de
adultério. Pode ser lida como uma peça de enfoque moral, uma Castelhano, mas ela é vigiada pela sua criada, a Moça.
vez que aborda, de maneira bem humorada, a prática do
adultério. Pode ser dividido em três momentos:
A expectativa da partida do marido;
Se o tema do adultério é intemporal, as circunstâncias "deste" A sugestão do adultério;
adultério são as da primeira década do século XVI, quando, por Retorno do Marido.
trás da glória e da fachada épica da expansão ultramarina, era
já possível perceber as profundas alterações, nem todas A EXPECTATIVA DA VIAGEM
positivas, que essa expansão estava provocando na sociedade
portuguesa. Corresponde ao primeiro momento da peça, do qual participam
dois personagens, a Ama (Constança) e uma Moça (Criada de
CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS: Constança). Elas descutem a viagem do marido de Constança.
Esse ato é composto de três cenas:
Constança (Ama) — mulher que pode ser caracterizada como
adúltera, amoral e dissimulada; ela não mostra qualquer indício Cena I:
VESTIBULAR – 2009

de consciência ou arrependimento por ter aversão aos afazeres A moça entra na casa de Constança e a encontra chorando.
domésticos e se sentir aliviada ao ver o marido partir, além de Pergunta-lhe o motivo das lágrimas, já sugerindo que seja
se deixar seduzir pelos seus pretendentes. pelo fato do marido estar indo para as Índias.
Moça — Mesmo sendo servil e obediente, tece comentários Constança responde com ironia e estupidez (chama a moça
irônicos de reprovação ao comportamento da Ama. É uma de mal estreada e o marido de corno). Diz que está chorando
espécie de representação da sociedade - moralista. porque alguém havia dito que seu marido não iria mais

FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!!


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viajar. A moça vai procurar saber se é verdade o que Dum diabo Zebedeu
disseram a sua ama. Dormirei, dormirei
Boas novas acharei.
São João no ermo estava,
Cena II: E a passarinha cantava.
Deus me cumpra o que sonhei.
A Ama fica sozinha, rezando para que seu marido tenha Cantando vem ela e leda.
viajado.
Moça Daí-me alvíssaras, senhora,
Cena III: Já vai lá de foz em fora.

A moça volta com a notícia de que o marido já havia viajado, Ama Dou-te cá .a touca de seda.
o que deixa sua ama extremamente feliz.
Segue-se uma discussão, na qual a moça, percebendo a Moça Ou quando ele vier daí-me
malícia de sua ama, a aconselha na manutenção de sua Do que vos trouxer
fidelidade, pois Constança era uma mulher casada.
A ama responde que irá cometer o adultério e dá várias Ama Ali, muitieramá!
justificativas para isso: Agora há-de tornar cá
Que chegada e que prezer!
Rebeldia: Constança recusa-se a cumprir as obrigações
domésticas.
Moça Virtuosa está minha ama!
A necessidade: Diz que o seu marido não lhe deixou
Do triste dele hei dó.
provisões.
Justiça: Fala que não vai se conter, porque os homens Ama E que falas tu lá só?
fazem o que bem entendem.
Moça Falo cá com esta cama.

Ama E essa cama, bem, que há?


Moça Jesu! Jesu! Que ora é isso? Mostra-me essa roca cá:
É porque se parte a armada sequer fiarei um fio.
Deixou-me aquele fastio
Ama Olhade a mal estrada! sem ceitil.
Eu hei-de Chorar por isso?
Moça Ali, eramá!
Moça Por minh’alma que cuidei Todas ficassem assi.
E que sempre imaginei Deixou-lhe para três anos
Que choráveis por noss’ amo. Trigo, azeite, mel,e panos

Ama Por qual demo ou qual gamo Ama Mau pesar veja eu de ti!
Ali má hora chorarei? Tu cuidas que não te entendo?
Como me leixa saudosa!
Toda eu fico amargurada
Moça Que entendeis? Ando dizendo
Que quem assim fica sem nada,
Moça Pois que estais enojada?
Como vós, que é obrigada...
Dize-mo por vossa vida!

Ama Leixe-me ora, eramá Já vós vais entendendo.


Dizem que não vai já Ama Ah! ah! ah! ah! ah! ah!
Moça Quem diz esse desconcerto? Est' era bem graciosa!
Quem se vê moça e formosa
Ama Disseram-m’o por mui certo Esperar pela ira má.
Que é certo que fica cá. Hi se vai ele a pescar
O Concelos me faz isto. Meia légua pelo mar...
S’eles já estão em Restelo Isto bem o sabes tu.
Como pode vir a pêlo? Quanto mais a Calecu!
Quem há tanto de esperar?
Moça Melhor veja eu Jesu Cristo, Melhor, Senhor, sê tu comigo
Isso é quem porcos há menos À hora de minha morte
Que eu faça tão peca sorte!
Ama Certo é que bem pequenos Guarde-me Deus de tal p’rigo.
São meus desejos que fique O certo é dar a prazer.
Para que é envelhecer
Moça A armada está muito a pique. esperando pelo vento?
Quanto eu por mui nécia sento
Ama Arreceio al de menos. a que o contrário fizer.
Andei na má hora e nela Partem em Maio daqui,
A amassar e biscoutar, quando o sangue novo atiça...
Pera o demo o levar Parece-te que é justiça?
À sua negra canela, Melhor vivas tu, amém,
E agora dizem que não e eu contigo também.
Agasta-se-m’ o coração, Quem sobe por essa escada?
Que quero sair de mim

Moça Eu irei saber s’é assim


VESTIBULAR – 2009

Ama Hajas há minha benção

(A moça se vai e a ama fica dizendo)

Ama A Santo Antônio rogo eu


Que nunca mo cá depare:
Não sinto quem não s’ enfare
FAÇO IMPACTO – A CERTEZA DE VENCER!!!

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